Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Lucas 2.21.24
INTRODUÇÃO
A primeira coisa que gostaria de
destacar a nível de introdução é em relação ao termo Lei que é
usado cinco vezes em Lucas 2.21-40. Apesar de ter vindo para livrar o
mundo do jugo da Lei, Jesus nasceu “sob a lei” e obedeceu a seus
preceitos (Gl 4.1-7). Ele não veio para destruir a Lei, mas para
cumpri-la (Mt 5.17,18). Aliás, é bom destacar que Jesus foi o único
que a cumpriu cabalmente. Tudo isso Ele fez para nos resgatar da
maldição da Lei (Gl 3.13).
Em segundo lugar, nada é
relatado da primeira infância de João Batista, porém no caso de
Jesus três importantes acontecimentos são narrados.
1) Primeiro acontecimento: quando
o bebê tinha 8 dias de idade, ele é circuncidado em casa, em Belém,
e recebe seu nome. É isso que relata o v. 21.
2) Segundo acontecimento: quando
o bebê está com 40 dias de idade, acontece o sacrifício de
purificação de Maria no templo de Jerusalém. Ao mesmo tempo é
oferecido também o sacrifício da apresentação pelo menino Jesus.
Disso nos falam os v. 22-24.
3) Terceiro acontecimento:
imediatamente após o sacrifício de purificação e apresentação
acontecem os louvores de Simeão e de Ana. Sobre isso informam os v.
25-38.
Todos os três acontecimentos têm
em comum o aspecto de revelar o menino Jesus em sua humildade e
glória.
Diante desse quadro, quais as
lições que podemos tirar dos versículos 21-24 do capítulo 2 de
Lucas?
1 – VEMOS AQUI UM
COMPROMISSO COM A PALAVRA DE DEUS NA CIRCUNCISÃO (Lc 2.21).
José e Maria são mais que
pessoas religiosas, são pessoas compromissadas com Deus e com Sua
Palavra. Eles procuram observar todos os preceitos da Lei segundo o
Senhor lhes havia ordenado que guardassem. Como nos diz Tiago
1.22-25:
“Sejam praticantes da
palavra e não somente ouvintes, enganando a vocês mesmos. Porque,
se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se
àquele que contempla o seu rosto natural num espelho; pois contempla
a si mesmo, se retira e logo esquece como era a sua aparência. Mas
aquele que atenta bem para a lei perfeita, lei da liberdade, e nela
persevera, não sendo ouvinte que logo se esquece, mas operoso
praticante, esse será bem-aventurado no que realizar”
(NAA).
Podemos destacar três coisas
aqui:
1o
– Os oito dias prescritos pela lei para a circuncisão são
rigorosamente observados (Gn 1710-12; Lv 12.3; Lc 2.21).
Quem realizava a circuncisão era o pai. Ela aconteceu na casa em
Belém. Precisamos supor que logo depois do recenseamento, tendo
cumprido seu dever, as pessoas retornaram novamente às suas terras.
Com a partida desses numerosos viajantes havia novamente lugares
disponíveis nos albergues.
O que significa a circuncisão?
1) Ela é uma confissão:
Sou um pecador. Sou culpado de morte.
2) A circuncisão significa
acolhida no povo eleito.
Embora eu seja culpado de morte, Deus me permite viver e até mesmo
me acolhe em seu povo escolhido, Israel. Estabelece uma aliança
comigo. Ele o faz retardando a punição pelos pecados do povo até o
dia em que colocará a punição pelos pecados sobre aquele que nunca
cometeu um pecado, Jesus Cristo. Leia Rm 3.25.
3) A circuncisão representa
um compromisso. O
israelita se desprende da vontade própria, separa-se da vida
autônoma e passam a servir somente a Deus.
A circuncisão simboliza pureza,
compromisso com Deus, com Sua Palavra e o reconhecimento de pecado,
tudo o que a atual igreja atual anda despregando.
Muitas pessoas alegam que não há
mais necessidade de circuncisão como prescrito na Lei, uma vez que
Jesus já cumpriu toda a Lei por nós (At 15.22-29, Rm 4.9-12, 1Co
7.7, Gl 5.6), no entanto, isso não nos isenta de termos uma vida
santa e irrepreensível, que é a circuncisão do coração como diz
Paulo (Rm 2.28,29). Para a santidade foi que Cristo nos chamou, como
está escrito em 1Pe 1.15,16:“Mas,
como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda
a vossa maneira de viver; porquanto está escrito: Sede santos,
porque eu sou santo”.
Hoje, infelizmente, a igreja está
tão parecida com o mundo que não conseguimos mais diferenciá-la
do mundo. Como nos fala uma antiga frase: “Procurei
a igreja e encontrei-a no mundo; procurei o mundo e encontrei-o na
igreja”.
A sociedade humana, sua cultura,
o mundo e o poder por trás dele, nunca nos indicará o caminho que
nos leva a Deus e a santidade. O grande Puritano Thomas Brooks dizia:
“Seria mais fácil
fazer os dois polos se encontrarem do que unir o amor a Cristo e o
amor ao mundo”. Como
nos fala João em sua primeira epístola:
“Não ameis o mundo, nem o
que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está
nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do
mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a
vontade de Deus permanece para sempre”
(1 João 2.15-17).
O mundo nunca será parceiro
da verdadeira igreja, pois o mundo é incircunciso (1Sm 17.26).
O mundo está em luta contra a igreja pois está em luta contra Deus.
Isso porque santidade é exatamente o oposto da direção que esse
mundo se lança com avidez. Por isso não pode haver acordo da igreja
com o mundo. No entanto, o que mais temos visto é a igreja se
mundanizando para atrair as pessoas do mundo. A igreja que age assim
perdeu sua identidade do que deve ser a Igreja do Senhor.
Como disse Paul Washer: “Se
utilizarmos métodos carnais para atrair pessoas carnais, teremos de
continuar a usar meios carnais para mantê-los. Não conseguiremos,
como alguns supõem, mudar o cardápio para uma dieta mais espiritual
na metade da refeição. Sem uma obra sobrenatural do Espírito,
mediate uma pregação correta do Evangelho, as pessoas jamais terão
gosto pelo Pão que desceu do céu”.
Infelizmente, há muitas igrejas
servindo comida requentada de Satanás em vez de servirem o Pão da
Vida. Deixam de seguirem os preceitos da Palavra de Deus e aplicam
métodos mundanos. Bem diferente de José e Maria que obedeceram a
Palavra que o Senhor havia lhes confiado. Eles foram um grande
exemplo de consagração e obediência à Palavra.
Eles foram com o menino Jesus
cumprir o que ordenava nas Escrituras. Em momento algum eles agiram
contrários a ela, mas em tudo foram obedientes. Hoje o que mais
vemos é a frase: “Temos
que fazer uma releitura da Bíblia”,
ou, “Temos que
aplicar a Bíblia na visão da sociedade atual”.
Tudo isso não passa do desejo de muitos líderes “cristãos”
implantar outro evangelho (Gl 1.8) na igreja atual.
2o
– Para Jesus, a circuncisão foi o começo de Sua trajetória de
sacrifício rumo ao Calvário.
Em tudo o Senhor Jesus se identificou com o pecador. Como disse o
apóstolo Paulo: “Aquele
que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que, nele,
fôssemos feitos justiça de Deus”
(2Co 5.21 – NAA).
1) Jesus sendo sem pecado é
declarado aqui culpado de morte culminando no Calvário.
2) Jesus, desde a eternidade
passada se propôs a sofrer a punição do nosso pecado.
3) O compromisso contido na
circuncisão, a saber, abrir mão da vontade própria, foi cumprido
de modo perfeito pelo santo Filho de Deus, como lemos em Jo 5.19: “Em
verdade, em verdade lhes digo que o Filho nada pode fazer por si
mesmo, senão somente aquilo que vê o Pai fazer; porque tudo o que
este fizer, o Filho também faz” (João
5:19). E 1Pe
1.18-22 relata a paixão e morte de um cordeiro inocente.
Jesus não só se identifica com
o pecador, mas Ele pagou pelos nossos pecados morrendo em nosso lugar
na cruz. No entanto, a Bíblia nos diz que devemos ser imitadores de
Cristo, não morrendo na cruz novamente, mas nos identificando em sua
obediência ao Pai (1Jo 2.3-6).
3o
– A circuncisão estava ligada à atribuição do nome.
Lemos: “deram-lhe o
nome Jesus, que fora citado pelo anjo”.
O nome de Jesus é o equivalente grego do nome hebraico “Josué”
que significa, “Yahweh
salva”. É um nome
apropriado para aquele que nasceu para “salvar
o seu povo dos seus pecados”
(Ma 1.21). A escolha do Pai do nome “Jesus”
para o Seu Filho é apropriado, refletindo a realidade que Ele é “um
Deus justo e Salvador” (Is.
45.21).
O nome Jesus, portanto, lhe foi
dado por Deus, por meio do anjo. Isso é importante. Quando pessoas
dão nomes, este nome expressa um desejo. Por exemplo, quem dá ao
filho o nome Frederico deseja que este se torne uma pessoa pacífica
(literalmente: rica em paz). Quando Deus concede um nome, ele não
contém meramente um desejo, mas a realidade. O nome Jesus expressa
uma realidade: Deus ajuda poderosamente, no tempo e na eternidade.
No entanto, devemos tomar cuidado
para não acharmos que, de acordo com o nome que a pessoa tem, esta
será bem ou mal sucedida na vida. Já vem de longe a superstição
de que o nome pode exercer influência no caráter e no destino da
pessoa, ou seja, do seu portador. Segundo os apologistas dessa
“superstição”, existem nomes próprios que trazem prognósticos
negativos pelo fato de estarem carregados de maldição. Nomes como
Jacó, Mara, Cláudia e Adriana são comumente citados pelos
supersticiosos como sinônimo de mau presságio. Creem que os mesmos
trazem consigo um prognóstico negativo para o seu portador, por
conta da carga de maldição que carregam. Jacó, justificam,
significa “enganador”; Mara, “amarga, amargura”; Cláudia,
“coxa, manca”; e Adriana, “deusa das trevas”.
Essas declarações iniciais são
bastante significativas para conhecermos melhor essa prática
antibíblica, cujas raízes estão nos cultos e crenças do
paganismo. É bem verdade que existem alguns nomes que, por causa de
sua conotação ridícula, devem ser evitados, a fim de que o seu
portador não seja exposto a situações vexatórias, irônicas,
depreciativas. Mas evitar um nome por atribuir-lhe um poder
misterioso, que lhe anda anexo, capaz de prever o futuro do seu
portador, é cair no engano da superstição e mergulhar num mar de
conceitos antibíblicos.
2 – VEMOS AQUI UM
COMPROMISSO COM A PALAVRA DE DEUS NA PURIFICAÇÃO DE MARIA E NA
CONSAGRAÇÃO DE JESUS (Lc 2.22-24).
A lei previa a realização de
dois atos: primeiramente o sacrifício de purificação, que devia
ser ofertado em prol da mãe, v. 22 e v. 24, depois a apresentação
da criança como primogênito, v. 23.
Com isso em mente, podemos
destacar duas coisas aqui:
1o
– Maria reconhece que é pecadora.
Durante sua
peregrinação para a purificação, Maria poderia ter pensado: “Será
que de fato fiquei impura quando aconteceu o milagre do nascimento de
Jesus?” Contudo,
cremos que Maria não acalentou esse tipo de pensamento. Como serva
do Senhor, ela percorre com modéstia e obediência o caminho
prescrito a toda parturiente: o caminho até o ofertório de
purificação.
De
acordo com a lei, uma mãe que desse à luz um menino, era
considerada impura por 40 dias depois do parto se fosse menina seria
por oitenta dias (Lv 12.1-8). Durante esse tempo ela precisava
permanecer em casa e não podia entrar no templo. Essa impureza
ritual testemunhava que todas as pessoas são nascidas em pecado.
Visava manter viva a consciência da pecaminosidade (Gn 3.10,16).
A oferenda dos pobres era um par
de pombas, uma para a oferta queimada e outra como sacrifício pelos
pecados. Os ricos deviam acrescentar um cordeiro ao holocausto pela
purificação, sendo que a pomba era suficiente para o sacrifício
pelos pecados mesmo para os ricos (Lv 12.8).
Maria se via pecadora, quem
enalteceu Maria a condição de corredentora foram os homens, tal
coisa não partiu dela, nem da igreja primitiva e muito menos do
próprio Jesus (Lc 11.27,28). Deus não divide a Sua glória com
ninguém. Quem quer glória dividida é Satanás e os homens,
influenciados por ele.
Jesus era santo, Maria era
pecadora. Jesus foi gerado pelo Espírito Santo no ventre de Maria,
no entanto, o ventre de Maria era de uma mulher pecadora.
2o
– A consagração de Jesus (Lc 2.22b,23).
O Senhor demandava a santificação dos meninos nascidos em Israel
como gratidão pelo fato de que ele os havia poupado quando feriu os
primogênitos dos egípcios. Através da morte dos primogênitos
todos os egípcios foram golpeados, e Israel fora poupado (embora
também fosse culpado de morte). Israel deveria permanecer consciente
de que era povo de Deus unicamente em virtude da soberana graça. Por
essa razão os primogênitos deviam ser consagrados ao Senhor e, nos
primogênitos, Israel se consagrava a ele como povo. Essa consagração
era chamada de “apresentação” e indicava que o menino fora
consagrado ao Senhor e entregue para servir ao templo.
Mas o primogênito era eximido
desse serviço no templo porque o Senhor havia aceitado os levitas
para que exercessem o serviço sacerdotal em lugar dos primogênitos
(Nm 3.12,13,41-45). Contudo, a fim de manter viva no coração do
povo a consciência do direito de Deus sobre a primogenitura, Deus
instituíra o pagamento de um resgate para cada primogênito. O preço
do resgate era 5 siclos de prata que equivale a 12 gramas de prata
ou ouro (Nm 3.47 e 18.16). Uma pessoa pobre como José tinha de
trabalhar cerca de quarenta dias para juntar esse valor.
Embora aqui Jesus fosse
resgatado de seu serviço sacerdotal como qualquer menino israelita,
na verdade ele se apresentava a Deus como se não tivesse sido
eximido.
CONCLUSÃO
O exemplo de José e Maria em
seguir a Palavra é muito importante para nós, principalmente em
nossos dias onde ela tem sido negligenciada e quando lida, mal
interpretada gerando assim em nosso meio cristãos sem compromisso
com a verdade, pois não a conhecem. E aqueles que vivem o verdadeiro
Evangelho são vistos como fundamentalistas, retrógrados, fanáticos
e outros adjetivos similares.
Devido ao analfabetismo bíblico
essa geração está alienada da verdade que liberta. Por isso, temos
visto tantos crentes sem compromisso com Deus. Tem até compromisso
com a igreja que frequentam, com o líder que seguem, com o manual
que estudam, mas estão longe de Deus e dos ensinos da Palavra. Hoje,
a maioria dos que se dizem cristãos vivem um evangelho sem cruz,
doutrina bíblica sem Bíblia e são zelosos fora da doutrina. Creio
que essa geração está igual a Davi que quis levar a arca da
aliança para Jerusalém num carro novo; teve até muita festa e
muita alegria, mas totalmente fora dos princípios da Palavra. Com
isso gerou a morte de Uzá.
José e Maria seguiram o que a
Lei determinava, não porque era lei, mas porque era a Palavra de
Deus. Esse exemplo que eles nos deixaram precisa ser seguido de
perto.
Pense nisso!
Bibliografia:
1 – Barclay, William.
Comentário do Novo Testamento, Lucas.
2 – Champlin, R. N. O Novo
Testamento Interpretado, versículo por versículo, volume 2, Lucas e
João. Editora Candeia, São Paulo, SP, 1995.
3 – Davidson, F. O Novo
Comentário da Bíblia, volume 2. Edições Vida Nova, São Paulo,
SP, 1987.
4 – Hale, Broadus David.
Introdução ao Estudo do Novo Testamento, Editora Juerp, Rio de
Janeiro, RJ, 1986.
5 – Keener, Craig S. Comentário
Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento. Edições Vida Nova,
São Paulo, SP, 2017.
6 – Lopes, Hernandes Dias.
Lucas, Jesus, o homem perfeito. Comentário Expositivo Hagnos.
Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017.
7 – MacArthur, John. Comentário
do Novo Testamento, Lucas.
8 – Manual Bíblico SBB.
Barueri, SP, 3a edição, 2018.
9 – Morris, Leon L. Lucas,
Introdução e Comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São
Paulo, SP, 1986.
10 – Rienecker, Fritz.
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança. Editora Esperança,
Curitiba, PR, 2005.
11 – Washer, Paul. O Chamado ao
Evangelho e a Verdadeira Conversão. Editora FIEL, São José dos
Campos, SP, 1a
Reimpressão 2017.
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