Por Pr. Silas Figueira
Texto Base 2Co 12.1-10
INTRODUÇÃO
Esta segunda carta de Paulo aos Coríntios tem como finalidade, em primeiro lugar, defender o seu apostolado (2Co 11.16-33), pois haviam se infiltrado na igreja de Corinto algumas pessoas que estavam tentando minar a sua autoridade como apóstolo.
Para combater os esforços daqueles que procuravam desmoralizar o seu ministério, Paulo apresenta as suas credenciais. Credencial é "aquilo que atribui crédito" e isso não faltava ao apóstolo.
As credenciais esperadas pelos coríntios eram apenas boa aparência e eloquência – que não é diferente dos dias atuais. Tais fatores não são negativos em si mesmos. São até desejáveis. Porém, podem constituir meios facilitadores do engano. Portanto, a beleza e a boa comunicação não serve como parâmetro para se julgar um servo de Deus. Jesus disse: "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Pelos seus frutos os conhecereis..." (Mt 7.15,16). Alguns queriam também que Paulo mostrasse cartas de apresentação (2Co 3.1), talvez emitidas pelos apóstolos de Jerusalém, isso sendo o apóstolo Paulo o fundador desta igreja (At 18.1-8).
Paulo não tinha tais cartas, nem beleza, nem eloquência. Então, quais seriam suas credenciais?
As credenciais do servo de Deus são, primeiramente, espirituais e ele as tinha. É o selo do Espírito Santo, a vocação e aprovação divina, os dons para o ministério (At 9.15-17). Contudo, isso só serve como testemunho no mundo espiritual. Diante dos homens, precisamos apresentar credenciais visíveis, e o apóstolo Paulo as apresentou também aos Coríntios (2Co 12.12). Em outras palavras, os falsos apóstolos não tinham de que acusar o apóstolo Paulo, pois ele tinha todas as credenciais necessárias dadas por Deus.
Para concluir sua defesa, o apóstolo Paulo descreve uma experiência pessoal e real que lhe ocorrera há quatorze anos (2Co 12.2). Esse fato ocorreu por volta do ano 43 d.C., antes da sua primeira viagem missionária. Ele conta essa experiência porque os falsos apóstolos diziam que ele não tinha experiências tão arrebatadoras quanto eles, nem credenciais suficientes para o apostolado. Esse texto é uma resposta do apóstolo a essas levianas acusações.
Paulo se sente um tolo em ter que se utilizar desse fato para defender o seu apostolado (2Co 12.11). Algo completamente diferente dos “apóstolos” atuais que fazem das suas “experiências espirituais” o carro chefe de seus ministérios.
Warren W. Wiersbe diz que “os rabinos judeus costumavam referir-se a si mesmos na terceira pessoa do singular, e Paulo adota essa mesma abordagem ao expor esse acontecimento aos seus amigos e inimigos de Corinto”.
Enquanto esses falsos apóstolos faziam de tudo para receber a honra dos homens, o apóstolo Paulo recebia a honra do Senhor, pois somente essa honra lhe era importante, apesar dessa honra vir acompanhada de muitas tribulações.
Que lições nós podemos tirar dessa experiência de Paulo e as consequências ocorridas após ela? É sobre isso que eu quero pensar com você.
A PRIMEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE AS VISÕES DE PAULO SEMPRE TIVERAM UM PROPÓSITO.
Num mundo “gospel” em que vivemos onde as pessoas têm tantas visões e revelações, devemos entender que tais experiências se não vem acompanhada de um propósito, creio que seja sem sentido – só gostaria de esclarecer que eu não duvido de revelações e visões nos dias de hoje; mas não para trazer novas revelações que contradiga a Bíblia (Dt 13).
Paulo foi arrebatado ao terceiro céu. Essa expressão significa o céu mais elevado, onde está a presença de Deus. Este céu é o que a Bíblia chama de Paraíso (Lc 23.43; Ap 2.7; 12.4). O primeiro céu é o das nuvens, o segundo o das estrelas e o terceiro céu à morada de Deus.
O Rev. Hernandes Dias Lopes diz que “os crentes de Corinto tinham constrangido Paulo a usar um método que ele mesmo desaprovava: o método de gloriar-se, de contar vantagens (2Co 12.1,11)”. A humildade de Paulo é um grande exemplo para todos nós e, principalmente, para aquelas pessoas que vivem de visões e testemunhos dessas tais visões.
1º - O Senhor nunca deu visões ao apóstolo Paulo sem um motivo específico. Paulo teve várias visões ao longo do seu ministério.
1ª – No caminho de Damasco, no dia da sua conversão, ele viu o Senhor glorificado e o comissionando para o ministério apostólico (At 9.3; 22.13-20).
2ª – Teve a visão de Ananias ministrando-lhe a cura da cegueira (At 9.11,12).
3ª – Quando Deus o chamou para pregar aos gentios (At 22.17-21).
4ª – O seu chamado para ir à Macedônia (At 16.9).
5ª – Em meio às dificuldades em Corinto, Deus também encorajou Paulo com uma visão (At 18.9,10).
6ª – Depois de ser preso em Jerusalém, o apóstolo voltou a ser encorajado por uma visão, pois ele iria testemunhar do Evangelho em Roma (At 23.11).
7ª – No naufrágio indo para a Itália o Senhor envia-lhe um anjo para encorajá-lo e garantir que todos iriam sobreviver (At 27.23,24).
8ª – Além dessas visões específicas relacionadas a seu chamado e ministério, o apóstolo também recebeu do Senhor certas verdades divinas (Ef 3.1-6). Até a ceia foi revelação do Senhor a ele (1Co 11.23-25).
9ª – E esta visão de que ele foi levado ao terceiro céu logo no início de sua conversão foi para encorajá-lo diante das muitas lutas e perseguições que iria enfrentar (2Co 12.7-10).
2º - Devemos entender a procedência das visões (2Co 12.1). Paulo sabia que havia recebido do Senhor cada revelação, mas o que vemos hoje são pessoas que dizem ter visto isso e aquilo, mas que se quer sabe a procedência. Não sabem se é fruto da imaginação ou se procede de Deus ou do diabo – ou algum mal súbito.
Uma vez uma mulher me procurou muito preocupada, pois havia sonhado com sete cachorros; e me perguntou o que significava o sonho. Se eu jogasse no “Bicho” eu lhe diria a revelação, mas como não jogo não soube lhe responder.
Por favor, entenda uma coisa: Deus nos fala através de sonhos e visões, disso eu não duvido por experiência própria. Mas Deus não nos fala a torto que é direito e sempre vem acompanhada de um propósito. Veja o exemplo de Paulo; de Pedro (At 10); de João na ilha de Patmos (Ap).
3º - Não devemos nos gloriar em visões, mas na vida cotidiana com Cristo (2Co 12.5,6). Uma honra como essa teria enchido a maioria das pessoas de orgulho. Em vez disso o apóstolo Paulo se calou por quatorze anos e quando conta o ocorrido só fala para defender o seu apostolado, fora disso, os coríntios nunca ficariam sabendo desse episódio. Mas Paulo não se orgulhou, pois sua grande preocupação era que ninguém roubasse de Deus a glória que lhe era devida a fim de dá-la ao apóstolo.
Ah! Quanta diferença nós temos visto hoje. Temos visto hoje gente contanto cada revelação, cada visão que até Deus duvida, e que tem levado muita gente ao delírio. E há muitas pessoas idolatrando essa gente como se elas fossem melhores que as outras. São livros e mais livros nas livrarias evangélicas narrando tais coisas. É a divina revelação disso é a divina revelação daquilo, isso sem contar os vídeos na internet.
Falo sem medo de errar: muitas dessas visões ou são pura fantasia ou a pessoa sofre de esquizofrenia.
Observe os versículos 5 e 6: “De tal coisa me gloriarei; não, porém, de mim mesmo, salvo nas minhas fraquezas. Pois, se eu vier a gloriar-me, não serei néscio, porque direi a verdade; mas abstenho-me para que ninguém se preocupe comigo mais do que em mim vê ou de mim ouve”.
O Rev. Hernandes Dias Lopes diz que “os falsos apóstolos estavam cheios de orgulho por causa de suas experiências, mas Paulo, de forma radicalmente diferente, não aplaude a si mesmo [...] Ele gloria-se nas suas fraquezas, e não em suas experiências arrebatadoras. Paulo não está construindo monumentos ao seu próprio nome. Não está recrutando fãs para si mesmo”.
Eram as fraquezas de Paulo que mostravam a presença do Senhor em sua vida e não os êxtases arrebatadores. Meu irmão é nisso que constitui a vida cristã, saber que o Senhor está conosco todos os dias e não em visões e sonhos. É no momento de grande angústia que o Senhor nos assiste e nos consola (2Tm 4.16-18). Visões passam, mas a presença do Senhor conosco não.
SEGUNDA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE NO SOFRIMENTO DE PAULO DEUS O TORNA HUMILDE (2Co 12.7,8).
Warren W. Wiersbe diz que “Deus sabe como equilibrar nossa vida. Se tivermos apenas bênçãos, poderemos nos tornar orgulhos; assim, permite que também tenhamos fardos. A experiência maravilhosa de Paulo no céu poderia ter arruinado seu ministério na Terra; em sua bondade, Deus permitiu que Satanás esbofeteasse Paulo, a fim de evitar que se tornasse orgulhoso”.
Para atingir essa maturidade de Paulo em relação ao sofrimento leva algum tempo, não acontece da noite para o dia; não se alcança esse patamar espiritual sem buscar a Deus em oração e com perseverança.
O sofrimento foi para seu crescimento espiritual e não para o seu inchaço. Paulo dá seu testemunho sem nenhum constrangimento. Ele não se importa em mostrar o que realmente aconteceu com ele.
1º - Para não torna-lo orgulhoso, soberbo – O sofrimento nos coloca em nosso devido lugar. Ele quebra nossa altivez e esvazia toda nossa pretensão de glória pessoal. Foi isso que o Senhor fez com Paulo. Como diz o Rev. Hernandes Dias Lopes: “É o próprio Deus quem nos matricula na escola do sofrimento”.
2º - A origem do sofrimento – A origem desse mal que ocorreu com Paulo foi o próprio Deus, assim como Ele permitiu que ocorresse com Jó. Isso não ocorreu para destruí-lo, mas para fortalecê-lo. Para que a glória do Senhor prevalecesse e não a humana. Para que ele fosse qualificado para o ministério que lhe estava proposto.
3º - O espinho na carne – muitas são as especulações, mas ninguém chegou a um denominador comum. A palavra skolops, espinho, só aparece aqui em todo o Novo Testamento. Trata-se de qualquer objeto pontiagudo. Pode significar ferrão, farpa ou espinho e até ponta de anzol.
Esse espinho poderia ser de ordem física ou espiritual. Mas a maioria dos intérpretes concorda que esse termo skolops deve ser interpretado literalmente; isto é, Paulo suportava dor física. Talvez as severas surras que havia levado e apedrejamento tenham deixado severas consequências em seu corpo. Por ter contraído alguma doença e tenha ficado com sequelas, mas uma coisa é certa: aquilo procedia de Satanás pela vontade permissiva de Deus.
4º - Mensageiro de Satanás para esbofeteá-lo – Esbofetear no grego é colaphizo, que significa “bater com o punho”, “espancar”. Isso nos dá a ideia de que esse sofrimento era muito doloroso. Por exemplo: Calvino tinha cálculo renal; Spurgeon sofria de depressão; Timóteo tinha problemas estomacais. O sofrimento faz parte da vida e enquanto nós estivermos neste corpo sofreremos sempre. Sejam problemas físicos, mentais ou espirituais.
5º - A oração não atendida – Assim como o Pai não atendeu a Jesus no Getsêmani, o apostolo Paulo teve a sua oração não respondida também. No entanto o Senhor lhe deu forças para suportar esse espinho em sua carne. Aqui que está a diferença.
Rev. Hernandes Dias Lopes diz que “o sofrimento nos mantém de joelhos diante de Deus para nos pôr de pé diante dos homens”.
Algumas pessoas pensam que um cristão aflito envergonha o nome do Senhor. De acordo com essas pessoas, se você obedece a Deus e se apropria de tudo que tem direito em Cristo, nunca ficará doente. Esse era o pensamento de Kenneth Hagin e de muitos pregadores de hoje, mas isso é um ledo engano.
Warren W. Wiersbe diz que “o mistério do sofrimento não será inteiramente resolvido nesta vida. Por vezes, sofremos pelo simples fato de sermos humanos. Nosso corpo muda à medida que envelhecemos e que nos tornamos mais suscetíveis aos problemas normais da vida. O mesmo corpo que nos dá prazer também nos causa dores. Os mesmos membros da família e amigos que nos alegram também magoam nosso coração”.
TERCEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE GRAÇA DO SENHOR É MAIOR QUE TODO SOFRIMENTO (2Co 12.9,10).
A resposta de Deus à oração de Paulo foi uma resposta que o satisfez por completo, mas que não tem trazido a mesma satisfação para muitos crentes hoje, principalmente por ouvirem certas mensagens de triunfo e conquista. Para muitos hoje, o apóstolo Paulo foi um derrotado, pois afinal de contas ele orou e se quer teve a sua oração respondida de acordo com a sua vontade. No entanto, Paulo entendia que era a vontade de Deus que deveria se realizar na terra e não a sua vontade que deveria de realizar no céu.
1º - Paulo aprendeu que a graça do Senhor é suficiente. O que é graça? É a provisão de Deus para tudo de que precisamos, quando precisamos. Por isso que a graça de Deus é melhor que a vida, pois é essa graça maravilhosa de Deus que nos ajuda a enfrentar vitoriosamente o sofrimento.
Warren W. Wiersbe diz que “na vida cristã, muitas das bênçãos vêm por meio da transformação e não da substituição. Ao orar três vezes rogando que seu sofrimento fosse removido, Paulo pediu uma substituição: ‘dá-me saúde em vez de enfermidade; livramento em vez de dor e fraqueza’. Por vezes, Deus supre a necessidade pela substituição; em outras ocasiões, supre pela transformação. Ele não remove a aflição, mas dá sua graça, de modo que a aflição trabalhe em nosso favor, não contra nós”.
A graça de Deus derramada no coração de Paulo o fez compreender de forma profunda de como o Senhor estava agindo em sua vida. Paulo descobriu que o espinho na carne era uma dádiva de Deus. Alguém poderá dizer: “Que presente mais estranho!” Mas, através desse espinho Deus estava trabalhando na vida de Paulo de forma que ele se tornasse uma pessoa ainda melhor. Deus o estava livrando dos laços de Satanás e o mantendo em Sua presença.
2º - Paulo aprendeu que a graça de Deus traz fortalecimento e poder. O poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza. A graça do Senhor nos traz aperfeiçoamento enquanto somos fracos, não quando nos sentimos fortes.
Rev. Hernandes Dias Lopes diz que “o poder de Deus é suficiente para o cansaço físico. Paulo suportou toda sorte de privações físicas: fome, sede e nudez. Suportou todo tipo de perseguição: foi açoitado, apedrejado, fustigado com varas e preso. Enfrentou todo tipo de perigo: de rios, de mares, de desertos, no campo, na cidade, entre estrangeiros, entre patrícios e até no meio de falsos irmãos. Enfrentou toda sorte de pressões emocionais: preocupava-se dia e noite com as igrejas. Mas o poder de Deus o sustentou em todas as circunstâncias”.
Por isso Paulo disse: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo”. A palavra repousar nesse texto dá a ideia de “abrir uma tenda sobre algo”. Paulo considerava seu corpo uma tenda frágil, mas a glória de Deus havia entrado nessa tenda e a transformara num santo tabernáculo. Apesar de todo sofrimento, seu corpo era como se fosse o Santo dos Santos.
3º - Paulo aprendeu que a graça de Deus traz alegria independente das circunstâncias (v. 10). A graça de Deus é pedagógica, ela nos ensina que o sofrimento não afasta o Senhor de nós, pelo contrário, o Senhor não nos deixa em momento algum. Embora muitas vezes pareça estar ausente.
O que determina a vida de um indivíduo não é o que lhe acontece, mas como ele reage ao que lhe acontece. Paulo aprendeu a reagir de forma positiva diante das circunstâncias da vida (Fl 4.10-13). A graça nos capacita a esse entendimento. Só através dela que conseguimos suportar toda e qualquer adversidade em nossas vidas.
4º - Paulo aprendeu que a graça manifesta no sofrimento nos faz ver o amor de Cristo. Sinto prazer – no grego é “eudokeo”, que significa “considerar bom, deleitar-se, aprovar”. Paulo não gostava do desprazer e da dor por si mesmo, como fazem os masoquistas, que sofrem de uma enfermidade psicológica. Por ver que tais circunstâncias acompanhavam a vida cristã, Paulo não se lamentava delas. Jesus disse que isso iria ocorrer com os seus discípulos (Jo 15.18; 16.33; 2 Tm 3.12). Isso se chama maturidade espiritual.
CONCLUSÃO
Warren W. Wiersbe diz que Paulo apropriou-se da promessa de Deus e se valeu da graça que lhe foi oferecida; esse passo transformou em triunfo o que antes, havia parecido uma tragédia. Deus não mudou a situação removendo a aflição; mudou-a acrescentando um ingrediente novo: a graça. Nosso Deus é “o Deus de toda graça” (1Pe 5.10) e está assentado no “trono da graça” (Hb 4.16). A Palavra de Deus é a “palavra da graça” (At 20.32) e, de acordo com sua promessa, Ele “dá maior graça” (Tg 4.6). Sob qualquer ponto de vista, a graça de Deus é suficiente para todas as nossas necessidades.
Pense nisso!