Por Silas A. Figueira
Texto base: Lucas 19.1-10
INTRODUÇÃO
James R. Edwards diz que o chamado de Levi
(Mateus) e as parábolas dos perdidos e achados, por conseguinte, preparam os
leitores para o encontro de Jesus com Zaqueu. O encontro de Jesus e o chefe dos
publicanos é um ponto temático culminante não só das duas unidades precedentes,
mas da associação de Jesus com os proscritos ao longo do terceiro evangelho.1
A conexão entre o parágrafo final do
capítulo 18 e o parágrafo inicial do capítulo 19 é quase inesquecível; porque
(a) ambos os eventos ocorreram em Jericó; e (b) no primeiro caso, um homem
pobre tomou-se seguidor de Jesus; no segundo, um homem rico fez isso.2
No episódio precedente vimos o toque de
cura de Jesus que restaurou a visão e a fé de um desprezado do ponto de vista
religioso e social, em Israel, diz Evans. No episódio a seguir temos outro
exemplo da restauração de alguém que também era desprezado, não por causa de problemas
de ordem física, nada que se julgasse ser causado pelo pecado, mas desprezado
por causa de sua profissão.3
Leon Morris destaca que a história de
Zaqueu fica em contraste marcante com a do jovem rico. Vindo tão cedo depois da
declaração enfática acerca da dificuldade da salvação dos ricos (Lc 18.24-25),
este incidente deve ser visto como uma manifestação notável da graça de Deus (Lc
18.27).4
Jericó era uma cidade muito rica e
importante. Estava localizada no vale do Jordão e dominava o caminho de
Jerusalém e o cruzamento do rio que dava acesso às terras do leste do Jordão.
Contava com um grande bosque de palmeiras e abetos balsâmicos famosos no mundo
que perfumavam o ar por vários quilômetros quadrados. Seus jardins de rosas
eram bem conhecidos. Era chamada “A cidade das Palmas”. Os
romanos deram fama mundial a suas tâmaras e seu bálsamo. Tudo isto fazia com
que fosse um dos maiores centros impositivos de toda a Palestina.5
Por ser uma cidade fronteiriça, em
Jericó havia uma alfândega. Como era também uma das cidades mais ricas da
Palestina, situada em uma das regiões mais férteis da Judeia, com um belo
palácio herodiano e residência de muitas famílias sacerdotais abastadas, o
valor do recolhimento de impostos era volumoso ali.6 Champlin também
chama a atenção para o fato de que Jericó era usada por Herodes como sua
capital de inverno, tendo sido ornamentada por estruturas tipicamente gregas ou
romanas (helenísticas), por Herodes e por seu filho, Arquelau, de tal modo que
não tinha a aparência típica das cidades da Palestina.7
Jesus estava passando pela última vez por
Jericó. Ele estava indo para a cruz. Naquela semana, ele seria morto. Aquele
era o dia da oportunidade de Jericó. Era o céu aberto sobre Jericó. Era a
salvação oferecida a Jericó. Era o dia mais importante na agenda da cidade de
Jericó.8 MacArthur nessa mesma linha de pensamento destaca que Deus
procura os pecadores, porque “não há ninguém que busque a Deus” (Rm 3.11), a
não ser que Ele graciosamente os chame, eles jamais virão (cf. Rm 1.6,7; 8.28;
11.29; 1Co 1.9, 23,24, 26; Gl 1.6; Ef 4.
1,4). Depois que Adão e Eva pecaram e tentaram se esconder do Senhor,
Deus chamou-lhes: “Onde estás?” (Gn 3.8,9). Ao longo da história Deus tem
continuado a procurar o perdido (cf. Ez 34.11,16; Lc. 15.4-32). Não haveria
reconciliação, salvação, perdão, ou esperança do céu se o Senhor não o fizesse.9
Como disse Matthew Henry: “Esta cidade
tinha sido construída sob uma maldição, ainda assim Cristo a honrou com
sua presença, pois o Evangelho remove a maldição”.10
Uma multidão se acotovelava para ver
Jesus, mas só dois homens foram salvos: um rico e outro pobre. Um à beira do
caminho e o outro empoleirado em uma árvore. Para se encontrar com Cristo, um
precisou se levantar, e o outro precisou descer. Um era esquecido, e o outro
era odiado. Um era aristocrata e o outro era mendigo, mostrando que Deus não
faz acepção de pessoas. Não importa a sua posição política, financeira, a cor
da sua pele ou a sua religião, Jesus veio aqui para salvar você. Esta pode ser
também a sua última oportunidade. O tempo é agora para o encontro da salvação.11
Vejamos quais as lições que esse texto tem a nos ensinar.
1 – AS BARREIRAS QUE IMPEDIAM ZAQUEU DE VER JESUS (Lc 19.1-4).
Este é o único lugar no Novo Testamento
onde se menciona um “líder de coletores”.12 Zaqueu não era
simplesmente um publicano como os demais, mas, sim, maioral dos publicanos (architelones).
De modo que seu significado exato é desconhecido, mas parece indicar o chefe da
repartição local de impostos. Zaqueu empregaria outros para fazer a coleta
propriamente dita dos impostos, ao passo que ele pagaria aos romanos a parte
exigida por eles. Não é surpreendente que Zaqueu era rico. [13] Zaqueu estava
no topo da pirâmide.
O nome Zaqueu é de origem hebraica e
significa “puro”, “justo”. [14] Era um nome judeu, uma variante do qual no
Antigo Testamento aparece como “Zacai” (Ed 2.9; Ne 7.14). [15] Zacai era um
nome comum entre os judeus. Havia um famoso rabino, aproximadamente nesta
época, com este nome. [16] Outro cobrador de impostos conhecido pelo seu nome
foi Mateus ou Levi (Mt 9.9).
John MacArthur destaca que os cobradores de impostos eram os párias mais odiados e desprezados em Israel.
Não era
um crime a ser um cobrador de impostos, uma vez que a tributação é uma
instituição divina. O reino teocrático de Israel no Antigo Testamento foi
financiado por um sistema de tributação detalhado no qual cada pessoa pagava
essencialmente 23,3 por cento de sua renda para apoiar o governo. Quando alguns
cobradores de impostos arrependidos perguntaram a João Batista: “Mestre, o que
devemos fazer?” (Lc 3.12), ele não lhes disse para parar seus trabalhos como
cobradores de impostos, mas sim ordenou-lhes, “Recolham não mais do que aquilo
que você foi ordenado” (v. 13). Jesus ordenou que os impostos deveriam ser
pagos quando disse: “Dai a César o que é de César” (Lc 20.25; cf. Rm 13.7), e
Ele mesmo pagou os impostos necessários (Mt 17.24-27).
O que Deus condenava eram os impostos abusivos ou ilegítimos, extorsão, desonestidade, e tirar dinheiro de pessoas por uso de violência física, intimidação e crueldade, como os cobradores de impostos no mundo antigo faziam.17
Hernandes Dias Lopes enfatiza que Zaqueu era maioral ou o chefe dos publicanos.
Embora seu nome signifique “puro”, ele era considerado um homem repugnante pelo povo. Zaqueu era a antítese do seu nome. Seu nome significa justo, mas ele enriquecera por meios fraudulentos. Ele era o cabeça daquele odiado esquema de corrupção. Era um homem inteligente e esperto que usava o trabalho de outros para se fortalecer. Mas, a despeito da sua posição, ele procurou ver a Jesus (19.3). Espiritualmente, era um homem infeliz, necessitado, insatisfeito, perdido e incompleto. Sua vida era marcada por um vazio que nem a fama, nem o dinheiro, nem o sucesso podia preencher. Ele tinha dinheiro, mas não tinha paz. Era rico, mas não feliz. “Melhor é o pouco havendo temor do Senhor, do que grande tesouro onde há inquietação” (Pv 15.16).18
Apesar de Zaqueu ser um homem de grande
influência na cidade de Jericó, ele encontrou alguns obstáculos para ver Jesus.
Primeiro, o obstáculo da multidão (Lc
19.3b). A cena não é uma aldeia quieta da Galileia, mas uma cena bem
pública às portas de Jerusalém. Os que estavam ali não eram os poucos que
estiveram com Jesus em Seus primeiros dias, mas uma multidão tão grande que um
homem pequeno como Zaqueu nem conseguia vê-lo. [19] Havia tantas pessoas que
Zaqueu estava encontrando dificuldades, não só para ver Jesus, mas também de
identificá-lo.
A mesma multidão quis calar o cego Bartimeu
em Jericó. A multidão apertava Zaqueu e não o deixava ver Jesus. Cuidado com a
multidão, que pode ser um estorvo na sua vida. Não deixe que a multidão sufoque
o seu grito de socorro nem que ela impeça você de ter um encontro com Cristo.
Quantas vezes um indivíduo se sente constrangido de ir ao Salvador por causa de
parentes, amigos, opinião pública e do povo. Zaqueu não se intimidou por causa
da multidão. Seu desejo de ver Jesus foi maior do que o obstáculo da multidão.
[20]
Segundo, o obstáculo de sua condição
física (Lc 19.3c). A altura de Zaqueu não permitia que ele olhasse por cima
da multidão. Não sabemos qual era a altura exata de Zaqueu, mas para Lucas
destacar que ele era uma pessoa de pequena estatura, tudo indica que ele
deveria sofrer de nanismo. Ele, para falar com as pessoas, tinha que erguer a
cabeça. É bem provável que isso era um fator de chacota em sua vida desde novo.
É bem provável que Zaqueu trouxesse em sua alma traumas profundos devido a
isso.
Muitas pessoas trazem tantos traumas em suas vidas que dificilmente conseguem ver Jesus devido a baixeza de suas condições emocionais. Se veem impuras demais para se aproximarem de Jesus. Pessoas tão machucadas em suas almas que acham que não são importantes para o Senhor. No entanto, o apóstolo Paulo escrevendo aos Coríntios disse:
“Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele” (1Co 1.27-29).
2 – AS BARREIRAS QUE ZAQUEU SUPEROU PARA VER JESUS (Lc 1.4,7).
Zaqueu não se conformou em ficar sem ver
Jesus. Talvez por ter passado por tantas coisas ruins e ter que enfrentar
tantas coisas para superá-las, que ele não mediu esforços para ver Aquele que
pela última vez passaria em Jericó. Como dizem: “Se a vida lhe der um limão,
faça uma limonada”.
Vejamos quais as barreiras que Zaqueu superou
para ver o Senhor.
Primeiro, ele correu à frente da
multidão. Ele deixou de lado sua posição social e correu pelo meio da rua,
passando à frente de todos para poder achar um lugar que facilitasse ver o
Mestre. É provável que durante toda sua vida ele vivesse correndo das chacotas
devido a sua pouca altura. Corresse dos outros meninos para não apanhar.
Corresse dos bullyings constantes que sofria na cidade. Ele já estava
acostumado a correr para poder se defender, mas desta vez, estava correndo para
ver Jesus.
Segundo, ele não se importou com a
profissão que exercia (Lc 19.2). Ele não era uma pessoa do povo, uma pessoa
comum. Ele era o chefe dos cobradores de impostos da cidade mais importante da
região. Ele ocupava um lugar de destaque na cidade. Mas nada disso o impediu de
correr pelas ruas da cidade para poder ver Jesus.
Wiersbe destaca que no Oriente, não era
comum um homem adulto correr, especialmente um funcionário público de posses.
Zaqueu, no entanto, correu pela rua como um garotinho seguindo um desfile e até
subiu numa árvore! Sem dúvida, a curiosidade é uma das características da
maioria das crianças e, nesse dia, Zaqueu deixou-se levar por sua curiosidade.
[21]
Uma das coisas que mais impedem as pessoas
de verem Jesus é o orgulho. Muitos até abraçam a religião, mas não abraçam a fé
genuína, com vergonha de serem taxados de fanáticos. Medo de não serem mais
aceitos pelos amigos, e para não ficarem de lado na sociedade, acabam abraçando
um Cristo gnóstico. Um Cristo placebo. Um Cristo ao gosto do freguês.
Terceiro, ele sobe em um sicômoro (Lc
19.4b). Sendo ele de pequena estatura, não podia ver Jesus. Não obstante, tão
profundo era seu interesse pelo Mestre que estava disposto a fazer quase
qualquer coisa para vê-lo. Portanto, sabendo para onde Jesus ia, célere correu
adiante da multidão e, sem se importar com sua posição social, subiu em um
sicômoro, um dos que haviam sido ali plantados à margem da via. É também
chamado figueira sicômoro, e é altamente apreciado pela sombra que proporciona.
[22]
A figueira brava (ou sicômoro) em que ele
subiu era o fícus-sycomorus. Seu tronco horizontal e baixo facilitava a
subida, e sua folhagem era suficiente para escondê-lo da multidão. [23]
Existem hoje muitas pessoas iguais a Zaqueu,
que são muito curiosas e estão desejosas de ver Jesus. Devido a isso, elas
acabam fazendo coisas que foge à normalidade do que é o cristianismo bíblico. Muitas
pessoas se envolvem em vários tipos de religiões acreditando que Jesus esteja
ali, ou que passará por ali. No entanto, o Jesus bíblico se revela nas
Escrituras, através da ação do Espírito Santo, o revelando em nossos corações.
Qualquer outro “Cristo” fora das Escrituras é um falso Cristo. E qualquer
pessoa que o apresenta ao mundo é um falso profeta.
Zaqueu encontrou o Jesus verdadeiro, pois
Ele estava passando exatamente onde Zaqueu se encontrava. Mas observe que não
foi Zaqueu que viu Jesus, mas Jesus que o viu e o chamou.
Quarto, ele não dá ouvidos aos murmuradores (Lc 19.7). Quem são os murmuradores? São aqueles que se enxergam como justos e únicos merecedores da salvação. São aqueles que chegam aos ouvidos de Jesus para dizer: Esse Zaqueu é lalau; ele é sujo, ele é indigno. Os murmuradores são aqueles que acham que são melhores do que os outros. [24]
3 – O ENCONTRO DE JESUS COM ZAQUEU (Lc 19.5,6).
Zaqueu sobe em uma árvore para ver
Jesus, mas ele foi surpreendido por Jesus. Ele que queria ver Jesus, foi visto antes
pelo Senhor Jesus e abordado pelo Mestre.
Com isso em mente, podemos tirar
algumas lições fundamentais aqui.
Primeiro, Jesus
buscou Zaqueu antes de Zaqueu buscá-lo (Lc 19.5).
Quando Jesus chegou àquele lugar onde Zaqueu estava, sentado na “sala de estar”
da árvore. Jesus agiu de maneira que deve tê-lo deixado chocado. Primeiro, o
Senhor parou, então olhou para cima e fez contato visual com Zaqueu, e chamou-o
pelo nome, embora eles nunca tivessem se encontrado (cf. Sua interação com
Natanael em Jo 1.45-48). E o mais impressionante de tudo, o Senhor ordenou
Zaqueu para levá-lo para sua casa! [25]
William Hendriksen nessa mesma linha
de pensamento diz que é especialmente significativo notar que mesmo que Zaqueu
certamente estivesse muito ansioso para ver Jesus, foi este e não o líder dos coletores
quem tomou a iniciativa de estabelecer um contato pessoal entre ambos. Era
Jesus quem estava buscando e salvando (veja v. 10). [26]
Hernandes Dias Lopes citando Walter Liefeld diz que o desejo de Zaqueu de ver Jesus foi suplantado pelo desejo de Jesus de vê-lo. [27] Wiersbe destaca que Zaqueu pensou que estava procurando Jesus (Lc 19.3), mas, na verdade, era Jesus quem o procurava (Lc 19.10)! Não é próprio da natureza do pecador perdido buscar o Salvador (Rm 3.11). [28]
Segundo, foi um chamado eficaz (Lc 19.5). Charles H. Spurgeon diz que o chamado eficaz significa que o Espírito Santo de Deus age no coração de um homem de tal maneira que quando ele recebe o chamado de Deus, não pode fazer nada senão obedecer a ordem e vir até Deus. [29] Foi isso que ocorreu com Zaqueu quando Jesus o chamou.
Terceiro, o chamado de Jesus foi pessoal (Lc 19.4a). Jesus encontrou aquele que subira na árvore, chamou-o pelo nome, olhou para dentro de seu coração e convidou-se para ser hóspede na casa dele. Cumpre notar bem cada traço da história. Jesus chama Zaqueu pelo nome, assim como o próprio Deus também chama seus redimidos pelo nome (cf. Is 43.1). [30]
Jesus chamou por Zaqueu, embora, é bem
provável que houvesse outras pessoas na árvore. Há diferentes tipos de chamados
na Bíblia. Lemos... “...porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt
20.16). Este é um exemplo de chamado geral de Deus para todos os que estiverem
ouvindo o evangelho. Os homens não têm em si mesmos o poder para responder a
esse chamado. O chamado pessoal é o eficaz. Deus está operando no coração da
pessoa que Ele chamou pelo nome. Ela responderá. Ela seguirá o chamado de Deus.
[31] O evangelho é anunciado aos pecadores e aos alienados de Deus, diz
Champlin, e não há exceções na operação da graça de Deus. [32]
Quarto, foi um chamado urgente (Lc
19.5b). Desce depressa. Essa foi a ordem de Jesus para Zaqueu. A salvação é
algo urgente. E hoje. E agora. Não é possível adiar mais. Aquele era o último
dia. Aquela era a última hora. Jesus nunca mais passaria por Jericó. Jesus tem
pressa para salvar você. Hoje é o dia da visitação de Deus à sua vida. Não
perca o dia da sua oportunidade. Não endureça o seu coração. Busque o Senhor
enquanto se pode achar. A eternidade jaz à porta. [33]
Os verbos traduzidos por “descer e
pressa” são imperativos, e requerem uma ação imediata. O Senhor sabe que não só
Ele salvará, mas onde e quando que a salvação terá lugar (cf. Jo 3.8). [34]
Quinto, foi um chamado à humildade
(Lc 19.5b). Descer é uma experiência dolorosa. Primeiro, devemos descer do
pensamento de que nossas próprias obras podem nos salvar. Temos que descer
ainda mais, até reconhecermos que somos pecadores desobedientes. Então, temos
que ir ainda mais baixo, até clamarmos por Deus em desespero, dizendo-lhe que
não podemos fazer nada para nos salvar. Quando Deus nos trouxe para baixo,
então Ele nos levantará. “Ele derrubou dos seus tronos os poderosos e exaltou
os humildes” (Lc 1.52). [35]
Matthew Henry
nessa mesma linha de pensamento destaca que aqueles a quem Cristo chama devem
descer, devem humilhar-se, e não pensar em subir ao céu por qualquer justiça
própria; e devem apressar-se em descer, pois os atrasos são perigosos. [36]
Sexto, foi um chamado à comunhão
(Lc 19.5c). Jericó, naquela ocasião, era uma das cidades preferidas pelos
sacerdotes. Nosso Senhor passou adiante de suas casas, bem como das moradias
dos fariseus, a fim de passar a noite hospedado na casa de um publicano. Ali,
conforme podemos crer, Jesus viu uma entrada para uma atuação especial, que não
pôde encontrar em nenhum outro lugar. [37]
James R. Edwards destaca que esta é a
única ocasião nos evangelhos em que Jesus se convida para ficar na presença ou
dependência de outra pessoa. [38]
Hernandes Dias Lopes nessa mesma linha
de pensamento também destaca que Ele nunca entrou numa casa sem ser chamado e
nunca ficou sem ser acolhido. Jesus disse: [...] me convém ficar em sua casa,
ou seja, “eu preciso ficar em sua casa”. Estava na agenda de Cristo salvar
Zaqueu, como estava na agenda de Cristo passar em Samaria e salvar a mulher
samaritana (Jo 4.1,2). [39]
Concordo com
John C. Ryle quando diz que nunca podemos desprezar o “dia dos humildes
começos” (Zc 4.10). Não devemos reputar insignificante qualquer coisa que se
refere à alma. Os caminhos pelo quais o Espírito Santo leva homens e mulheres a
Cristo são maravilhosos e misteriosos. Com frequência, Ele inicia em
determinado coração uma obra que permanecerá por toda a eternidade, quando
aqueles que a observam não percebem nada admirável. Em cada obra, precisa haver
um começo; e na obra espiritual o começo em geral é muito insignificante. [40]
4 – JESUS VAI À CASA DE ZAQUEU (LC 19.6,7).
O pedido no v. 5 deve ter surpreendido tanto Zaqueu como a multidão. Da mesma forma que o cego tinha sido escolhido, aqui também aconteceu agora a mesma coisa. A alegria de Zaqueu superou seu senso de dignidade, e ele desceu a toda a pressa da árvore. [41]
Fritz Rienecker destaca que com pressa
maior do que ele jamais usara para recolher o mais palpável rendimento, Zaqueu
abriu a casa para o importante viajante, ao qual seu coração se sentira tão
extraordinariamente atraído. – O Senhor Jesus havia dito “depressa”, e
rapidamente Zaqueu organizara tudo. [42]
Com isso em mente, podemos destacar duas
lições.
Primeiro, Zaqueu recebe Jesus com
alegria (Lc 19.6). O coração de Zaqueu explodiu de júbilo com o desejo de
Jesus de estar em sua casa. De todas as casas da cidade de Jericó, a casa mais
improvável seria a de Zaqueu para o Senhor pernoitar. É provável que teria sido
a primeira vez que uma pessoa honrada, cerimonialmente limpa e respeitada tivesse
ido a sua casa. Como o pai recebeu o filho pródigo (Lc 15.11-32), Jesus abraçou
o chefe dos publicanos odiado por todos da cidade. [43]
Segundo, a cidade murmurou da
atitude de Jesus (Lc 19.7). A multidão deve ter sido quase unânime na
reprovação da escolha de Jesus. Sentiram que a sua atitude era uma afronta aos
sacerdotes e a outros líderes religiosos dos locais por onde Ele passara. Sua
escolha era uma aprovação visível deste homem chamado tão rotineiramente de
“pecador”. Duas coisas os impediram de reconhecer o verdadeiro motivo de Jesus.
Uma era o exclusivismo cego deles, que se recusava a enxergar qualquer coisa
boa em um publicano. A outra era a incapacidade de entender como Jesus poderia
se associar com pecadores sem se contaminar. [44]
Isso prova o amor de Jesus e o propósito
urgente de Jesus em salvar Zaqueu. O prazer de Deus é perdoar os seus pecados.
Jesus revela que o seu amor é desprovido de preconceitos. A cidade inteira
murmurou ao ver Jesus se hospedando com Zaqueu (19.7). Eles sabiam que Zaqueu
era um grande pecador. Mas Jesus é o amigo dos publicanos e pecadores. Ele não
veio buscar aqueles que se acham justos e bons. Como médico, ele veio curar os
que se consideram doentes. [45]
AS EVIDÊNCIAS DA SALVAÇÃO DE ZAQUEU (Lc 6,8-10).
Um testemunho não tem nenhum valor a não ser que esteja respaldado por obras que garantam sua sinceridade. Jesus Cristo não pede uma mudança nas palavras, e sim na vida. [46]
Com isso em mente, podemos destacar
algumas lições.
Primeiro, a prontidão de Zaqueu em
obedecer ao chamado de Jesus (Lc 19.6). A conversão de Zaqueu se deu quando o
Senhor o chama e ele o recebe com alegria em sua casa e em seu coração. Zaqueu
desceu depressa. Ele obedeceu sem questionar e sem adiar. Abriu sua vida, seu
coração, sua consciência e seu cofre e deixou que Jesus entrasse em cada área
da sua vida. [47]
Segundo, Zaqueu tomou uma decisão
voluntariamente (Lc 19.8). Aqui vemos tanto um
verdadeiro espírito generoso como o desejo genuíno de reparar qualquer erro do
passado. As duas atitudes refletem uma mudança de coração. O discurso de Zaqueu
não foi dirigido à multidão, mas a Jesus. Não era um esforço para convencer as
pessoas de que ele era sincero. Ao invés disso, era uma resposta não premeditada,
espontânea, de um coração que se tornara limpo, e de um espírito que se tornara
novo e que havia recebido a vida eterna. [48]
O rico cobrador de impostos enxergou o
erro de seu modo de viver (dado ao materialismo, à desonestidade, à cobiça) e
agora vê-se arrependido; e, como evidência de seu arrependimento, promete dar
metade de suas riquezas aos pobres e grande parte do que sobraria devolveria às
pessoas a quem extorquira. [49] Como disse John C. Ryle: “Quando um crente
rico
começa a distribuir sua riqueza e um extorquidor começa a fazer restituições, certamente
podemos crer que as coisas velhas já passaram e tudo se fez novo (2Co 5.17)”.
[50]
John MacArthur diz que a salvação do homem é evidente a partir da transformação de sua vida na parte de sua vida em que o seu pecado se manifestou mais abertamente. [51]
Vemos isto em duas atitudes de Zaqueu:
O primeiro sinal de conversão na vida de Zaqueu foi o amor, a generosidade, a disposição de dar. “Eu resolvo dar”. Até então, sua vida era marcada por receber e tomar o que era dos outros. Ele, que sempre tomou, agora quer dar.
O segundo sinal foi a prontidão para corrigir as faltas do passado. Zaqueu desviou muita coisa de gente inocente. Pisou nos menos favorecidos. Ganhou muita propina pelos cambalachos que fazia para os ricos. Ao encontrar-se com Jesus, ele se dispôs a corrigir as faltas do seu passado. Uma pessoa convertida torna-se honesta. Zaqueu quer agora reparar os erros do passado. Quer restituir às pessoas a quem tinha lesado. Quer limpar o seu nome. Quer uma vida certa. [52]
Sua restituição foi além do que era
legalmente necessário. Somente se fosse um roubo deliberado e violento com fins
de destruição era necessário restituir o quádruplo (Êx 22.1). Se fosse um roubo
comum, e os bens originais não podiam ser devolvidos, devia-se pagar o dobro de
seu valor (Êx 22.4,7). Se mediava confissão voluntária, e se oferecia uma
restituição voluntária, devia-se pagar o valar original mais um quinto do mesmo
(Lv 6.5; Nm 5.7). Zaqueu estava decidido a fazer mais do que a lei pedia.
Mostrou por suas obras que tinha mudado. [53]
Terceiro, o testemunho de Jesus a
respeito da conversão de Zaqueu (Lc 19.9,10). Um pecador em busca do
Salvador se encontra com o Salvador que está em busca do pecador. Com
verdadeiro arrependimento, o homem encontrou a salvação pessoal. Estas palavras
graciosas do Mestre eram uma garantia da salvação de Zaqueu, uma proclamação em
sua defesa diante da multidão, e uma promessa a todos os homens, em todos os
lugares, e em todas as épocas, de que Jesus Cristo salva os pecadores. [54]
John MacArthur destaca que foi tão
completa a transformação de Zaqueu que ele instantaneamente deixou de ser um
ladrão para ser um benfeitor; deixou de ser egoísta e se tornou altruísta, deixou
de ser um tomador e passou a ser um doador. Ele se tornou um verdadeiro judeu,
parte do Israel de Deus (Gl 6.16), um verdadeiro judeu interiormente (Rm 2.28,29).
Ele já não era apenas um filho de Abraão por raça, mas um filho de Abraão pela
fé. Naquele mesmo dia, ele foi justificado pela fé. O que tinha sido perdido
foi salvo e liberto do pecado, da morte e do inferno. O Senhor deu-lhe vida e
luz para crer e se arrepender e sua conduta foi transformada. [55]
E Jesus conclui dizendo: “Hoje veio
a salvação a esta casa, pois também este é filho de Abraão. Porque o Filho do
Homem veio buscar e salvar o perdido” (Lc 19.9, 10). Com essas palavras,
este incidente se torna, em microcosmo, a reprodução do ministério de Jesus
(cf. 15.3-10; 1Tm 1.15). Esta é uma importante declaração do propósito de
Jesus. Hoje confirma a conclusão de que as decisões financeiras de Zaqueu
tinham acabado de ser feitas. Filho de Abraão pode ter sido uma repreensão aos
judeus que criticavam Zaqueu e queriam exclui-lo dos plenos privilégios judeus.
Salvação aqui equivale à vida eterna (Lc 18.18) e ao reino de Deus (Lc 18.17).
[56]
CONCLUSÃO
Quando um dia começa, nunca sabemos como terminará. Para Zaqueu, aquele diaterminou em alegre comunhão com o Filho de Deus, pois o publicano havia sidotransformado e tinha diante de si uma nova vida. Jesus ainda procura os perdidose deseja ardentemente salvá-los. Você já foi encontrado? [57]
Pense nisso!
Bibliografia:
1 – Edwards, James R. O Comentário de
Lucas, Ed. Shedd, Sto Amaro, SP, 2019, p. 665.
2 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed.
Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 423.
3 – Evans, Craig A. O Novo Comentário
Bíblico Contemporâneo, Lucas, Ed. Vida, São Paulo, SP, 1996, p. 316.
4 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e
Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 255.
5 – Barclay, William. Comentário do Novo
Testamento, Lucas, p. 203.
6 – Keener, Craig S. Comentário
Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento, Edições Vida Nova, São Paulo,
SP, 2017, p. 269.
7 – Champlin, R. N. O Novo Testamento
Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo,
SP, 2005, p. 182.
8 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem
perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 546.
9 – MacArthur,
John. Comentário do Novo Testamento, Mateus a Apocalipse, Lucas, p. 2883.
10 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico
Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 687.
11 – Lopes,
Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP,
2017, p. 546.
12 – Hendriksen,
William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 424.
13 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e
Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 255.
15 – Edwards, James R. O Comentário de
Lucas, Ed. Shedd, Sto Amaro, SP, 2019, p. 665.
16 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico
Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 687.
17 – MacArthur, John. Comentário do Novo
Testamento, Mateus a Apocalipse, Lucas, p. 2885.
18 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o
homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 548.
19 – Neale, David A. Lucas, 9 – 24, Novo
Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ, 2015, p. 220.
20 – Lopes,
Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP,
2017, p. 550.
22 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2,
Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 426.
23 – Childers, Charles L. Comentário
Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 470.
24 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o
homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 550.
25 – MacArthur, John. Comentário do Novo
Testamento, Mateus a Apocalipse, Lucas, p. 2887.
26 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed.
Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 426.
27 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o
homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 550.
28 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo
Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP,
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29 – Spurgeon, Charles H. Sermões Sobre a
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31 – Spurgeon, Charles H. Sermões Sobre a
Salvação, Ed. PES, São Paulo, SP, 1992, p. 18.
32 – Champlin, R. N. O Novo Testamento
Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo,
SP, 2005, p. 183.
33 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o
homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 550.
34 – MacArthur, John. Comentário do Novo
Testamento, Mateus a Apocalipse, Lucas, p. 2887.
35 – Spurgeon, Charles H. Sermões Sobre a
Salvação, Ed. PES, São Paulo, SP, 1992, p. 19.
36 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico
Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janei-ro, RJ, 2008, p. 688.
37 – Champlin, R. N. O Novo Testamento
Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo,
SP, 2005, p. 183.
38 – Edwards, James R. O Comentário de
Lucas, Ed. Shedd, Sto Amaro, SP, 2019, p. 667.
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homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 551.
40 – Ryle, J. C.
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41 – Ash, Anthony Lee. O Evangelho Segundo
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42 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de
Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 383.
43 – MacArthur, John. Comentário do Novo
Testamento, Mateus a Apocalipse, Lucas, p. 2887.
45 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o
homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 551.
46 – Barclay, William. Comentário do Novo
Testamento, Lucas, p. 205.
47 – Lopes,
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2017, p. 552.
48 – Childers, Charles L. Comentário
Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 470.
49 – Evans, Craig A. O Novo Comentário
Bíblico Contemporâneo, Lucas, Ed. Vida, São Paulo, SP, 1996, p. 316.
50 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de
Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 305.
51 – MacArthur, John. Comentário do Novo
Testamento, Mateus a Apocalipse, Lucas, p. 2888.
52 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o
homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 553.
53 – Barclay, William. Comentário do Novo
Testamento, Lucas, p. 205.
54 – Childers, Charles L. Comentário
Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 471.
55 – MacArthur, John. Comentário do Novo
Testamento, Mateus a Apocalipse, Lucas, p. 2888.
56 – Ash, Anthony Lee. O Evangelho Segundo
Lucas, Ed. Vida Cristã, São Paulo, SP, 1980, p. 270.
57 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo
Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP,
2007, p. 327.