domingo, 27 de outubro de 2019

JOÃO BATISTA, UM PROFETA PROMETIDO



Por Pr. Silas Figueira

Texto Base: Lucas 1.15-17

INTRODUÇÃO

Após o anjo Gabriel dar as boas novas a Zacarias lhe informando que o Senhor havia ouvido suas orações e que ele seria pai, o anjo agora lhe diz qual será a missão específica desse menino que está para vir ao mundo. Este menino não seria sacerdote como era seu pai. Este menino seria usado por Deus para um ofício que a muito tempo não havia. Este seu filho seria profeta. Assim como Jeremias, que era filho de sacerdote e foi separado por Deus para ser profeta, da mesma forma seria João:

Palavras de Jeremias, filho de Hilquias, um dos sacerdotes que estavam em Anatote, na terra de Benjamim; ao qual veio a palavra do Senhor, nos dias de Josias, filho de Amom, rei de Judá, no décimo terceiro ano do seu reinado. Assim veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta” (Jeremias 1.1,3-5).

Existe uma diferença real e notória entre um servo de Deus e um profeta de Deus, pois enquanto todos os seus profetas são servos, nem todos os seus servos são profetas.

O Senhor havia parado de se comunicar com o Seu povo através de profetas. As profecias haviam cessado há mais de quatrocentos anos. O povo de Israel não recebia nenhuma palavra profética de Deus desde que o profeta Malaquias prometera a vinda do precursor do Messias, na força e no poder de Elias (Ml 4.5,6). João Batista, quatrocentos anos depois, surge como o último profeta do Antigo Testamento. João fecha o ciclo dos profetas do Antigo Testamento que profetizaram sobre Jesus, mas não tiveram o privilegio que João teve de conhecer o Salvador. João não apenas profetizou sobre Jesus, mas também preparou o caminho para o ministério de Jesus, viu Jesus e o batizou. Isso faz de João Batista um dos maiores profetas. João fez o elo entre a Antiga Aliança (lei) com a Nova Aliança (graça), por isso ele é tanto último profeta do Antigo Testamento como o primeiro do Novo Testamento anunciando o Evangelho da Graça (Lc 16.16).

Quais as lições podemos tirar desse texto? O que ele tem a nos ensinar?

1 – PRIMEIRAMENTE VAMOS DEFINIR O QUE É O MINISTÉRIO PROFÉTICO.

Antes de mais nada, devemos deixar bem claro que o verdadeiro ministério profético hoje é a pregação da Bíblia com precisão e clareza. O dom da profecia hoje é a proclamação da Palavra escrita, não a transmissão de novas revelações do céu. A Bíblia já está completa, ela é suficiente para seguirmos fielmente o Senhor. O apóstolo Paulo escrevendo sua segunda carta a Timóteo é claro sobre isso (2Tm 3.16,17), assim como o autor de Hebreus também escreveu (Hb 1.1-2).

Vamos analisar algumas características fundamentais de um ministério profético, e porque o Senhor levantou profetas.

1o – O ministério profético sempre pressupôs fracasso e pecado. Deus só enviava um dos seus profetas quando, em tempo de grande declínio e afastamento, o povo se afastava do Senhor. Como nos fala Pedro em sua segunda carta: “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso” (2Pe 1.19).

O mesmo princípio se confirma por todo o Novo Testamento. O primeiro pregador que nos é apresentado ali é João Batista. E qual era a notável característica do seu ministério? Não era o de evangelista nem o de mestre, mas o de profeta – “E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado” (Lc 1.17). João foi um protesto divino contra a podridão dos fariseus, saduceus e herodianos. Embora fosse filho de um sacerdote, João nunca ministrou no templo, nem jamais se ouviu a sua voz em Jerusalém. Em vez disso, a sua voz foi ouvida clamando no deserto, fora de toda a religião organizada. Ele foi um verdadeiro profeta, conclamando o povo que se arrependesse e fugisse da ira vindoura.

2o – Profetas sempre andam “a sós” com Deus, separados da apostasia religiosa que os cerca. Foi assim com Enoque: ele “andou com Deus” (Gn 5.24) – mostrando o seu desinteresse pelo mal que o cercava. Foi assim com os patriarcas: “Pela fé, (Abraão) peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa” (Hb 11.9). Igualmente “sozinho” estava o profeta Samuel que, quando Saul o procurou, precisou se informar a respeito do lugar onde morava (1Sm 9.11,12). O mesmo aconteceu com João Batista: ele estava claramente separado da religião organizada dos seus dias. Dessa forma, agora, aos servos de Deus é ordenado que fujam daqueles que, “tendo forma de piedade”, negam-lhe, “entretanto, o poder” (2Tm 3.5).

3o – Não foram aprovados por parte dos sistemas religiosos dos seus dias. Como seria moralmente possível que João Batista exercesse o seu ministério nos arredores do templo degenerado de Jerusalém? Em consequência da sua separação dos sistemas que desonravam a Deus na época em que viviam, eles foram desprezados, odiados e perseguidos pelos líderes religiosos e, aos olhos dos seus seguidores, eram muito malvistos (Jo 2.12-17). O mesmo princípio vigora ainda hoje. Só se pode permanecer membro de uma denominação que repudiou a verdade (em doutrina ou prática) quem estiver disposto a pagar o preço da infidelidade para com Deus: “E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; antes, porém, reprovai-as” (Ef 5.11). Charles Spurgeon, por exemplo, retirou sua igreja da convenção que faziam parte, pois tal convenção estava aceitando certas coisas que contrariavam as Escrituras.

4o – Os profetas de Deus nunca receberam a atenção de mais do que um insignificante e pequeno remanescente. A grande massa dos religiosos professos a rejeitou, pois não era agradável a seu paladar depravado. Não houve jamais alguma reparação coletiva! A natureza humana de então não era diferente do que é agora: pregar sobre a excessiva pecaminosidade do pecado e sobre a certeza do juízo vindouro nunca foi algo aceitável. São sempre os falsos profetas os que clamam: “Paz, paz, quando não há paz”. Eles são os oradores populares. “[…] dizei-nos coisas aprazíveis, profetizai-nos ilusões” (Is 30.10) é sempre o desejo da multidão, e aqueles que se recusam a atender a esse clamor e, em vez disso, pregam fielmente a verdade, são tachados de “pessimistas” e “desmancha-prazeres”.

Ainda hoje, quando se aplica a Palavra de Deus de forma coerente dentro dos princípios bíblicos, muitas pessoas nos chamam de conservadores, fundamentalistas, retrógrados. Que devemos fazer uma releitura das Escrituras. Fazer uma releitura das Escrituras quer dizer: “Deixar de pregar fielmente a Palavra para agradar os ouvintes”. “Pregar um Evangelho a gosto do freguês”.

Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus” (2 Co 2.17).

2 – DEFININDO O MINISTÉRIO DE JOÃO BATISTA (Lc 1.15-17).

O anjo fala para Zacarias que esta criança que eles teriam seria motivo de grande alegria para eles e para muitas outras pessoas, por três razões: primeiro – era uma resposta a oração de seus pais e, segundo – seria um propósito nacional. E terceiro – seria um propósito universal, pois, os muitos que se alegrarão ante o nascimento de João, sem dúvida nenhuma são os homens, de todos os lugares que finalmente participarão dos benefícios do ministério do Messias, que João, na qualidade de precursor, veio anunciar.

No entanto, no tempo de Zacarias não eram tempos fáceis. Israel estava debaixo do tacão de Roma. Herodes, o Grande, era um grande tirano. Tinha nove (ou, de acordo com alguns, dez) esposas, sendo que uma delas, a Mariana, havia sido executada sem qualquer motivo, aparente. Mandou matar vários membros da própria família, sua sogra Alexandra e seus três filhos Alexandre, Aristóbulo e Antípatro, e mandou matar as crianças de Belém de dois anos para baixo, intentando com isso eliminar o menino Jesus, que tinha nascido para ser rei dos judeus. Por sua vez, os líderes religiosos de Israel estavam presos à tradição e, em alguns casos, também eram corruptos.

Quando João Batista começa o seu ministério quem estava no poder era o filho de Herodes o Grande, Herodes Antipas, ou simplesmente Antipas. Ele foi tetrarca da Galileia e da Pereia. É mais conhecido através dos relatos do Novo Testamento por seu papel nos eventos que levaram às execuções de João Batista e Jesus de Nazaré.

Diante disso, podemos dizer que o profeta é aquele que discerne o seu tempo. Ele discerne o cronos e o kairós, ele vê o seu tempo dentro da perspectiva de Deus. Ele vê o que Deus vê e fala o que Deus quer que ele fale. Ele é boca de Deus dentro da história retratando o seu estado atual e chamando o povo as mudanças necessárias dentro do contexto histórico atual.

Vejamos o caráter pessoal de João retratado pelo Senhor:

1o – Ele será grande aos olhos de Deus (Lc 1.15). Observe que o texto diz que João será grande diante do Senhor. Na versão King James Fiel traz à vista do Senhor. O padrão de grandeza do mundo, entre os homens, não corresponde ao padrão de grandeza do céu. Isso quer dizer que João será grande dentro perspectiva Divina. Na perspectiva do homem, ser grande é ser uma pessoa de sucesso, ser bem-sucedida financeiramente, ser uma pessoa influente. Na perspectiva de Deus João era grande porque tinha a Sua aprovação.

O próprio Senhor Jesus dá testemunho de João em relação a isso: “Eu vos afirmo que dentre os nascidos de mulher não há um ser humano maior do que João” (Lc 7.28; Mt 11.11). Entre todos os grandes homens da antiga dispensação, João Batista foi maior que todos eles. Esse elogio surpreendente significa que João era maior do que todos os homens notáveis do Antigo Testamento, ou qualquer um dos outros heróis da fé mencionado em Hebreus 11. Todos os profetas e patriarcas apontavam para Cristo, João Batista viu o Senhor, o batizou e preparou o caminho para o Seu ministério. Ele teve a honra de apontar para o Senhor Jesus e dizer: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).

Em Mateus 11.9-11 o Senhor Jesus testifica de João Batista:“Mas, então que fostes ver? Um profeta? Sim, vos digo eu, e muito mais do que profeta; porque é este de quem está escrito: Eis que diante da tua face envio o meu anjo, que preparará diante de ti o teu caminho. Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele”.

João Batista se destaca como primeiro entre todos os profetas por sua posição única no reino de Deus. Ele encerrou a antiga aliança e iniciou a nova. João merece ser chamado o maior entre todos os profetas, porque ele foi o enviado de quem falou Malaquias. No entanto, Jesus eleva o menor de seus discípulos acima do maior dos profetas. Por quê? É porque, pela dádiva de poder experimentar a força redentora, o discípulo de Jesus alcançou uma percepção mais profunda da natureza, do desenvolvimento e das bênçãos do reino dos céus do que a percepção concedida a João. Se já foi essa a situação daqueles que naquele tempo acreditavam em Jesus, quanto mais valerá para nós, para quem pela história dos séculos a grandeza e glória de Jesus foi revelada de maneira mais maravilhosa ainda.

2o – Ele será consagrado ao Senhor (Lc 1.15). João Batista foi consagrado ao Senhor desde o ventre materno. Essas pessoas eram chamadas de nazireus, isto é, pessoas “consagradas a Deus”, “noivas de Deus” (Nm 6.1-12). A única outra pessoa descrita dessa forma na Bíblia é Sansão (Jz 13-16). Só que há uma diferença tremenda entre João e Sansão. Apesar de ambos serem consagrados a Deus desde o ventre materno, ambos serem fruto de um milagre, ambos serem instrumento de Deus em suas épocas. Sansão foi juiz e João o precursor de Jesus. Há uma diferença gritante entre eles.

A diferença entre eles:

Sansão foi levantado por Deus num tempo de opressão. Sua força era colossal. Era um jovem prodígio, um verdadeiro gigante, homem imbatível. Seu único problema é que não conseguia dominar seus impulsos carnais. Um dia viu uma jovem filisteia e disse a seu pai: “Vi uma mulher em Timna, das filhas dos filisteus; tomai-ma, pois por esposa […] porque só desta me agrado” (Jz 14.2,3). Seu pai tentou demovê-lo, mas Sansão não o ouviu. Casamento de jugo desigual.

Certa feita, caminhando pelas vinhas de Timna, um leão novo, bramando, saiu ao seu encontro, mas Sansão rasgou esse leão como se rasga um cabrito. Depois de alguns dias passou pelo mesmo local e foi dar uma olhada no corpo do leão morto. Estava ali, na caveira do leão, um enxame de abelhas. Sansão pegou um favo de mel nas mãos e se foi andando e comendo dele (Jz 14.8,9). Sansão era nazireu e não podia tocar em cadáver. Ele quebrou, ali, o primeiro voto de sua consagração a Deus. Ele procurou doçura na podridão. Ele comeu mel da caveira de um leão morto. Muitos ainda hoje buscam prazer no pecado e procuram doçura naquilo que é impuro. Por isso, perdem a unção, a paz e a intimidade com Deus.

A Bíblia diz que um abismo chama outro abismo. Porque Sansão quebrou o primeiro voto do nazireado, abriu a porta para outras quedas. Na festa de casamento Sansão fez ali um banquete; porque assim o costumavam fazer os moços (Jz 14.10). Sansão preferiu imitar os moços de sua época a posicionar-se como um ungido de Deus. Além de não tocar em cadáver, um nazireu não podia beber vinho. Mas, Sansão quebrou mais esse voto de consagração por não ter peito para ser diferente e fazer diferença. Daí para frente, sua vida foi de queda em queda. Coabitou com a prostituta Dalila (Jz 16.1). Essa mulher astuta o seduziu e arrancou dele a confissão acerca da origem de sua força. Um nazireu não podia cortar o cabelo, mas a cabeça de Sansão foi raspada. Esse jovem prodígio perdeu sua força. O Espírito Santo retirou-se dele. Caiu nas mãos dos filisteus. Estes, lhe vazaram os olhos e escarneceram dele num templo pagão.

Sansão brincou com o pecado e o pecado o arruinou. Sansão não escutou conselhos e fez manobras erradas na vida. Sansão fez pouco-caso de seus votos de consagração e perdeu o vigor de seu testemunho. Perdeu sua força e sua visão. Perdeu sua dignidade e sua própria vida. Vocacionado para ser o libertador do seu povo, tornou-se cativo. Porque desprezou os princípios de Deus, o nome de Deus foi insultado num templo pagão por sua causa. Ele que deveria ser uma águia não passou de um inhambu.

A vida de Sansão é um brado de alerta para a nossa geração. Há muitos jovens, que à semelhança de Sansão, não escutam seus pais. Muitos jovens, mesmo sendo consagrados a Deus, filhos da promessa, vivem flertando com o mundo, amando o mundo, sendo amigos do mundo e conformando-se com o mundo, procurando mel na caveira de leão morto. Muitos crentes têm perdido a coragem de ser diferentes. Imitam o mundo em vez de serem luz nas trevas. Fazem suas festas como o costumam fazer aqueles que não conhecem a Deus. Transigem com os absolutos de Deus e entregam-se às aventuras, buscando uma satisfação imediata de seus desejos. Esse caminho, embora cheio de aventuras e prazeres, é um caminho de escuridão, escravidão e morte. O pecado é um embuste. Promete prazer e traz tormento. Promete liberdade e escraviza. Promete vida e mata. O pecado levará você mais longe do que gostaria de ir; reterá você mais tempo do que gostaria de ficar e, custará a você um preço mais do alto do que gostaria de pagar.

João Batista: Não tinha a força física de Sansão, mas tinha força na conduta perante o Senhor. Foi consagrado a Deus e não se desviou do seu caminho. Em Mateus 3.4 diz: “E este João tinha a sua veste de pelos de camelo e um cinto de couro em torno de seus lombos e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre”.

João era um sacerdote, porém um sacerdote que não concordava com a religiosidade dos sacerdotes de então. João certamente podia se valer de boas roupas e de boa comida, pois pela lei mosaica ele deveria se vestir com vestes sacerdotais (Êx 28.4), e se alimentar de flor de farinha (Lv 2.1-3). No entanto, usava destes recursos (veste de pelos de camelo e um cinto de couro em torno de seus lombos e alimentava-se de gafanhotos e de mel silvestre) para expor a hipocrisia dos corações e a pobreza dos homens daquela época.

A roupa feita da pele de camelo (animal considerado imundo pela lei, Lv11.4) causava um escândalo na mente religiosa daqueles dias, assim como alimentar-se de gafanhotos era algo chocante. No entanto, o objetivo de João era revelar aos religiosos da época como eles realmente eram ou estavam. Mostrava o quão hostis eram os homens que se diziam servos de Deus, o camelo é reconhecido pelo seu temperamento hostil, além de ter a característica de não precisar beber água de contínuo. Ao camelo basta beber água uma vez pelo período de 40 a 50 dias. Quando os homens olhavam para João enxergavam em suas vestes o que eles mesmos eram. João bem como o Evangelho de Cristo têm por objetivo revelar como somos diante de Deus.

Cinto de couro – Usado em torno dos lombos, fazia aos homens lembrar a opressão que o jugo causava nos bois que serviam como animais de carga. Não havia como não se constranger olhando João daquela forma paramentado. Eles se enxergavam rebeldes em função das vestes de camelo, e se enxergavam também subjugados pelo pecado através do cinto de couro que João usava em torno dos seus lombos.

Gafanhotos e mel silvestre – O gafanhoto era tido como inseto símbolo da destruição (Jl 1.4), alimentar-se de gafanhotos era mostrar que o devorador é devorado pelo Senhor, isto salienta o poder do Senhor (Lm 2.2). O mel silvestre como alimento é o símbolo de Cristo como alimento, veja Êxodo 16.31 onde o maná é descrito como tendo o sabor de mel.

Enquanto Sansão foi uma afronta a Deus, João Batista foi uma afronta aos religiosos de sua época.

3o – Ele será cheio do Espírito Santo (Lc 1.15). João foi cheio do Espírito Santo já no ventre materno. Lucas 1.41 ilustra essa realidade, observando que “quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o bebê (João) saltou no seu ventre; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo” (enchimento do Espírito de João no útero indica claramente que o feto é uma pessoa e que a vida começa na concepção. Isso é um forte argumento para a santidade da vida e contra o aborto (cf. Ex 21.22-25; Sl 139.13-16).

Ele não foi cheio do Espírito por um momento como aconteceu com alguns, mas durante toda a sua vida. Ele não era um homem embriagado pelo vinho, mas embriagado de Deus (Ef 5.18). Devido a isso, o seu ministério foi impactante. Sua vida foi um exemplo. Ele preparou o caminho para o Senhor Jesus chamando o povo ao arrependimento e que Jesus era o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

4o – Ele será um homem usado por Deus (Lc 1.16). João veio com a finalidade de preparar o caminho para o ministério de Jesus. João veio despertar no coração das pessoas o peso do pecado (Mt 3.1-12). Aquilo que durante muitos anos ninguém mais ouvia foi colocado na boca de João: “Arrependei-vos!”. Essa é uma mensagem que hoje está em falta em muitos púlpitos. Para muitos líderes essa mensagem ofende, constrange e afasta as pessoas das igrejas. Literalmente muitos líderes hoje não são pastores, são empreendedores. Eles querem manter a igreja cheia de pessoas, ainda que suas vidas estejam vazias de Deus.

5o – Ele será um homem ousado em Deus (Lc 1.17). João Batista veio no poder de Elias (Ml 4.5,6), o profeta que confrontou, em nome do Senhor, a nação de Israel, o rei Acabe e os profetas de Baal. Essa mesma ousadia de Elias, João Batista demonstrou ao confrontar os líderes e o povo, chamando-os ao arrependimento (Lc 3.7-14). Até mesmo Herodes foi confrontado (Mc 6.17,18).

Ele não veio porque ele era mais santo do que todos os outros, mas porque ele tinha uma vocação mais nobre do que qualquer outra pessoa, para ser o precursor do Messias, a tarefa mais privilegiada que qualquer homem poderia receber. João era um “homem enviado de Deus” (João 1.6), que “testemunharam sobre Jesus e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu disse. O que vem depois de mim tem um posto mais alto do que eu, pois Ele existia antes de mim” (1.15).

Em seu papel como precursor, João iria antes de Jesus Cristo no espírito e poder de Elias. Essa declaração é significativa porque os judeus acreditavam que Deus enviaria um mensageiro antes do dia do julgamento Senhor e da vinda do Messias para estabelecer o Seu reino (Ml. 3.1). A promessa de encerramento do Antigo Testamento identificou que viria um profeta como Elias: “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor; e ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição” (Ml 4.5-6).

CONCLUSÃO

Vimos que o ministério de João foi muito semelhante ao de Sansão, com uma pequena diferença, enquanto Sansão envergonhou a Deus, seus pais e a nação, João Batista recebeu do Senhor elogios. João é um exemplo de servo que está pronto a abrir mão de seus “privilégios” para honrar ao Senhor. No entanto, temos visto nos nossos dias pessoas que estão na igreja, dizem ter um chamado para o ministério, mas que andam na contramão da vontade de Deus.

Infelizmente hoje muitas pessoas se identificam mais com Sansão do que com João Batista. Que o Senhor nos ajude a termos uma vida exemplar dentro dos padrões estabelecidos por Deus em Sua Palavra.

Pense Nisso!

Bibliografia:

1 – Barclay, William. Comentário do Novo Testamento, Lucas.

2 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, volume 2, Lucas e João. Editora Candeia, São Paulo, SP, 1995.

3 – Davidson, F. O Novo Comentário da Bíblia, volume 2. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1987.

4 – Fee, Gordon D. e Stuart, Douglas. Entendes o Que Lês? Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986.

5 – Keener, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2017.

6 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus, o homem perfeito. Comentário Expositivo Hagnos. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017.

7 – Lopes, Hernandes Dias. Mel na caveira de um leão morto. http://hernandesdiaslopes.com.br/mel-na-caveira-de-um-leao-morto/, acessado em 26/10/2019.

8 – MacArthur, John. Comentário do Novo Testamento, Lucas.

9 – Manual Bíblico SBB. Barueri, SP, 3a edição, 2018.

10 – Mears, Henriqueta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. Editora Vida, São Paulo, SP, 15a impressão, 2003.

11 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1986.

12 – Pink, Arthur W. A Vida do Profeta Elias. Editora Os Puritanos, São Paulo, SP, 2019.

13 – Rienecker, Fritz. Evangelho de Lucas, Comentário Esperança. Editora Esperança, Curitiba, PR, 2005.

14 – Rienecker, Fritz. Evangelho de Mateus, Comentário Esperança. Editora Esperança, Curitiba, PR, 2017.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

DEUS SE LEMBROU DE ZACARIAS E ISABEL



Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Lucas 1.5-14

INTRODUÇÃO

Se há algo que aprendemos nesse texto é que Deus não está preso ao tempo. Não está limitado as consequências naturais de nossas vidas. Aquilo que para nós se tornou impossível, para Deus não é e nunca será. A prova está aqui na vida de Zacarias e Isabel. Ambos justos, da descendência de Arão, mas que não tinham filhos. Os anos foram se passando e por fim os sonhos morreram também, mas Deus tinha algo a realizar na vida deles.

Zacarias era um sacerdote da descendência de Abias (1Cr 24.10). Todo descendente direto do Arão era automaticamente sacerdote. Eles estavam divididos em vinte e quatro seções (1Cr 24.1-6). Só na Páscoa, no Pentecostes, e na Festa dos Tabernáculos serviam todos. Durante o resto do ano cada grupo servia duas semanas. Os sacerdotes que amavam seu trabalho esperavam ansiosos essa semana de serviço; era a tarefa suprema de suas vidas. Havia cerca de vinte mil sacerdotes e portanto havia quase mil em cada seção. De modo que dentro delas as tarefas se realizavam em grupos.

Era muito possível que muitos sacerdotes não tiveram o privilégio de queimar incenso em toda sua vida; mas se a qualquer um deles lhes tocasse a sorte fazê-lo, esse dia seria o mais grandioso de todos, o dia tão desejado e sonhado. Havia muitos sacerdotes, mas um só templo, por isso esses turnos de trabalho eram necessários para que todos os sacerdotes pudessem ter o privilégio de queimar incenso no templo, ou pelo menos, ter a oportunidade de ser sorteado para esse fim.

Zacarias estava em Jerusalém para seu período anual de duas semanas de serviço como sacerdote. Naquele ano, recebeu a maior de todas as honras: foi escolhido para oferecer o incenso, sozinho no Templo. Foi nesse dia que o anjo Gabriel aparece a Zacarias com um recado do céu para ele e sua esposa Isabel.

Quais as lições que podemos tirar desse texto que estamos analisando?

1 – A PIEDADE DELES NÃO OS ISENTARAM DAS ADVERSIDADES (Lc 1.5-7).

Zacarias (o Senhor se lembrou) e Isabel (Deus é meu juramento) eram um casal piedoso. Ambos pertenciam a linhagem sacerdotal, no entanto, não tinham filhos. Isso só revela uma verdade que muitos tentam não ver ou discordam: “Que ninguém está livre de passar por lutas e provações nesta terra, ainda que seja uma pessoa boa”. O céu não é aqui. Só lá teremos a eterna paz. Só lá será enxugada as nossas lágrimas para sempre. Só no céu a morte será vencida para todo o sempre (Ap 21.4).

E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas”

Em outras palavras, além de nós não estarmos blindados contra as adversidades, elas virão em maior ou menor proporção para cada um de nós sempre. Mas a palavra de Deus nos diz que “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar” (1 Co 10.13).

Um sacerdote só podia casar-se com uma mulher de linhagem judaica absolutamente pura, não necessariamente da tribo de Levi. Considerava-se um mérito especial o casar-se com uma mulher que também era descendente de Arão, como o era Isabel, a mulher de Zacarias. A Bíblia nos fala que tanto Zacarias como Isabel eram pessoas boas (piedosas), de famílias sacerdotais, mas que sofriam a muito tempo com a dor e o estigma de não terem filhos, apesar de suas orações. E havia outro agravante sobre a vida de Zacarias, os rabinos judeus diziam que havia sete pessoas que não podiam comunicar-se com Deus, e a lista começava assim: “um judeu que não tem esposa, ou um judeu que tem esposa, mas não tem filhos”.

Podemos tirar duas lições aqui:

1o – Zacarias foi um exemplo de marido. A esterilidade era uma causa válida de divórcio, mas Zacarias não abandonou a sua esposa e nem se casou com outra como era costume da época. Não ter filhos era um grande infortúnio para um casal em idade avançada, e até mesmo era percebido, com extremo sofrimento, como um sinal do desfavor divino e como vergonha perante as pessoas, como um sinal da destituição da bênção prometida em Gn 1.28. Veja Lc 1.25. Os filhos eram responsáveis por cuidar de seus pais na velhice, e um casal sem filhos corriam o risco de sofrerem grandes dificuldades quando a idade avançada chegasse.

Durante os anos de casamento de Zacarias e Isabel quantas vezes eles devem ter ouvido palavras que julgavam a conduta deles ainda que de forma velada. Quantas pessoas os olhavam e os julgavam como se eles não tivessem nenhuma vida com Deus. Principalmente numa época em que a esterilidade era considerada como um sinal de reprovação e juízo de Deus. Era uma vergonha para a família quando isso acontecia. O pesadelo da esterilidade era tão grande que Raquel disse a Jacó, seu marido: “Dá-me filhos, se não morrerei” (Gn 30.1). No entanto, o próprio Deus testifica da vida piedosa desses irmãos. Isso serve de grande exemplo para todos nós.

Apesar de a esterilidade ser uma causa válida de divórcio, Zacarias não abandonou sua esposa. Zacarias é um exemplo para todos nós maridos, este homem, apesar de poder deixar a sua esposa por não gerar filhos ele não fez isso. Por muito menos os casais de hoje estão se divorciando e, no entanto, Zacarias não fez tal loucura. Zacarias seguiu o exemplo de Elcana, esposo de Ana, mãe de Samuel, que a amava e não a deixou, apesar dela não gerar filhos também.

2o – Apesar das adversidades que enfrentavam eram pessoas justas e serviam ao Senhor (Lc 1.6,7). Lucas dá a entender que a causa da ausência de filhos se deve a Isabel, a qual chama de “justa”. Não se trata de coincidência, mas de sabedoria do educador celestial permitir que justamente aquelas pessoas que ele honra com graças especiais passem por graves provações. Ambos andavam (viviam), isto é, não apenas conduziam temporariamente uma vida agradável a Deus, mas se empenhavam em praticar continuamente, com santa seriedade, aquilo que era correto perante Deus. Ninguém podia acusá-los de nada.

Apesar de todo esse opróbrio, eles não se revoltaram contra Deus por não terem seus sonhos realizados. Não quero dizer com isso que não estivessem tristes por não terem alcançado o sonho desejado. O que vemos através desse texto é que eles continuavam servindo ao Senhor com a vida no altar, com o coração rendido a Deus apesar de não terem sido atendidos em suas orações. Diferentemente de muitos hoje que abandonam as suas igrejas porque não tiveram seus desejos alcançados, como se quisessem fazer greve de culto contra Deus.

O que temos visto em muitos lugares são crentes que servem ao Senhor só se forem beneficiados, com a realização de seus desejos; não O servem pelo prazer de estar em Sua companhia. Creio que essas pessoas deveriam meditar melhor em 2 Co 11.23-33 a 12.1-10.

2 – O TEMPO DA RESPOSTA AS SUAS ORAÇÕES CHEGOU (Lc 1.8-14).

A ordem mais repetida em toda a Bíblia é: “Não temas”. O Senhor sempre vem para acalmar o nosso coração temeroso. Zacarias antes de receber a resposta de Deus as suas orações, o Senhor se manifestou a ele para lhe acalmar o coração. Afinal, a sua causa, humanamente falando, era perdida. Orou por longos anos e o Senhor não lhe atendeu, não vai ser agora que responderá. Ledo engano! O Senhor não mudou em poder e graça!

Quando Zacarias e Isabel haviam desistido da realização de seu sonho foi que veio a resposta de Deus para os seus servos. Gabriel diz para Zacarias que Deus nunca havia deixado de ouvi-los, mas que ainda não havia chegado o tempo de Deus agir. Que o Senhor se importava com os seus sonhos e que iria realizá-los pois era algo que edificaria muitas outras pessoas, não só a deles.

Gabriel não só anuncia que Zacarias e Isabel seriam pais, mas que eles seriam pais de um menino e que iria se chamar João a forma grega do nome hebraico “Joanã” (Deus é gracioso). A escolha desse nome para o precursor do Messias simbolizava o ponto de mudança na história da redenção. Deus estava prestes a derramar sua graça, mediante o dom de Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo (cf. Jo 1.14,17).

Podemos tirar três lições nessa passagem:

1o – O Senhor tem o controle do tempo e de nossos destinos (Lc 1.8-10). Como já falamos, havia cerca de vinte mil sacerdotes e portanto havia quase mil em cada seção, que eram divididos em vinte e quatro seções. De modo que dentro delas as tarefas se realizavam em grupos. Era muito possível que muitos sacerdotes não tiveram o privilégio de queimar incenso em toda sua vida; mas se a qualquer um deles lhes tocasse a sorte fazê-lo, esse dia seria o mais grandioso de todos, o dia tão desejado e sonhado. Havia muitos sacerdotes, mas um só templo, por isso esses turnos de trabalho eram necessários para que todos os sacerdotes pudessem ter o privilégio de queimar incenso no templo, ou pelo menos, ter a oportunidade de ser sorteado para esse fim.

Durante esse tempo, toda a multidão do povo permanecia da parte de fora, orando. Depois de Zacarias ter derramado o incenso sobre as brasas incandescentes do altar, ele se prostrara, conforme prescrito, para a adoração. Nessa hora da queima do incenso, em todo o país os rostos do povo se voltavam para Jerusalém, e as pessoas oravam. No instante em que o sacerdote se posta diante de Deus, ele resume, como representante do povo, as orações de todos, trazendo-as à face de Deus. Nessa hora ele também pode expressar sua intenção mais íntima e sagrada diante de Deus. A subida do incenso é uma imagem da ascensão da oração, agradável a Deus. Veja Sl 141.2 e Ap 5.8; 8.3,4.

Era natural então que Zacarias, em seu grande dia, pensasse e orasse a respeito de sua tragédia pessoal e doméstica. Então apareceu a assombrosa visão com sua alegre mensagem de que, apesar de suas esperanças estarem mortas, nascer-lhe-ia um filho, pois assim o Senhor o determinou. Como nos fala Jesus em Lucas: “Porventura Deus não fará plena justiça aos seus escolhidos, que a Ele clamam de dia e de noite, ainda que lhes pareça demorado em atendê-los?” (Lc 18.7).

Naquele dia, naquela hora e dentro do templo o Senhor envia Gabriel para dar um recado para o seu servo Zacarias. Deus tem o controle da história. Da minha história e da sua história. Ele controla o tempo e as estações, mas também controla as nossas vidas de acordo com a Sua vontade. Assim como aconteceu com Zacarias, o Senhor também nos envia respostas as nossas orações. O Senhor não mudou. Mas essas respostas virão no tempo dele, na hora dele e do jeito dele.

2o – O tempo de Deus contradiz o nosso tempo (Lc 1.11-13). “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu” (Ec 3.1).“Tudo tem o seu Chronos determinado, e há um Kairós para todo propósito debaixo do céu” – existe um tempo cronológico dentro do qual vivemos, e dentro dele um momento oportuno para que se cumpram propósitos de Deus.

Chronos – “Tempo”, “período de tempo”, “espaço de tempo, longo ou breve”. Chronos serve, inicialmente, para a designação formal de um espaço de tempo, ou ponto de tempo, refere-se ao tempo cronológico ou sequencial que pode ser medido.

Kairós – “Tempo”, especialmente um “ponto no tempo”, “momento”, “tempo oportuno”. Na teologia passou a ser usado para descrever a forma qualitativa do tempo ou “o tempo de Deus”, o tempo que não pode ser medido, é o tempo da oportunidade (Lc 19.41-44 – “…POIS QUE NÃO CONHECESTE O TEMPO DA TUA VISITAÇÃO”.

Aion – Indicava o tempo de longo prazo, na verdade, de longuíssimo prazo, que o apóstolo usa quando diz que Jesus é Senhor não apenas neste século, ou era, isto é, aion, como também no vindouro (Gl 1.5).

O tempo de Deus é completamente o oposto do nosso tempo. Deus não está preso a ele como nós estamos. Ele age com poder e graça no tempo determinado por Ele (Gl 4.4,5). O anjo Gabriel vai visitar Zacarias e Maria levando uma mensagem do céu a um velho e a uma jovem virgem. O que temos aqui são tempos opostos. Cada um em uma extremidade.

O anjo parece chegar atrasado para um e adiantado para outro. Na perspectiva humana, Gabriel chegou atrasado à vida de Zacarias e Isabel, pois já eram avançados em idade e Isabel ainda era estéril e chegou adiantado à vida de Maria, pois ela era ainda jovem, virgem e noiva de um carpinteiro. No entanto, o Senhor enviou o seu anjo na plenitude dos tempos na vida de todos eles.

Observe a vida de algumas mulheres na Bíblia e você verá que o tempo, apesar de longo, foi um tempo de amadurecimento e de bênção para todos ao redor. Veja a vida de Sara, Rebeca, Raquel, Ana. Sara gerou Isaque, Rebeca gerou Esaú e Jacó, Raquel gerou José e Ana gerou Samuel. Não estamos fazendo dessas histórias uma doutrina. Estamos tentando lhes mostrar que o tempo para Deus não existe e quando ele age em nossas vidas, ainda que pareça tardio em agir, Ele age no tempo certo e nos abençoa.

3o – Para recebermos a resposta de Deus, no tempo de Deus, devemos estar na presença de Deus (Lc 1.10,11). Quando Deus começa uma nova obra ele não joga fora a antiga, mas estabelece uma conexão com ela! No seio de Israel, em Jerusalém, no templo (o centro da vida cultual de Israel), Deus engendra o surgimento da nova aliança. Observe que no templo começa a história narrada pelo evangelista Lucas a cerca do nascimento de João. A vida religiosa do povo de Israel estava centrada no templo.

Observe que Lucas começa o seu Evangelho nos mostrando que Zacarias tem uma visão de um anjo dentro do templo. Veja como essas frases no começo do evangelho relacionam-se com as últimas frases do seu evangelho:“Então, eles, adorando-o, voltaram para Jerusalém, tomados de grande júbilo; e estavam sempre no templo, louvando a Deus” (Lc 24.52,53). É “no templo” de Jerusalém, que é a continuação do tabernáculo, que Deus estabelece a conexão com o novo. Somente depois que Jerusalém rejeitou definitivamente ao Salvador que o templo também foi entregue à destruição (cf. Lc 13.35; 19.46 e 21.6).

O templo era o ponto central da adoração para os judeus. Agora no período da graça, o templo continua sendo o ponto central da adoração para cristão, só que o templo somos nós, como nos fala Paulo escrevendo aos Coríntios: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (1 Co 3.16,17).

Em outras palavras, as pessoas querem ter respostas de Deus em suas vidas mas não estão na presença de Deus para obter as respostas dele. O Templo que somos nós hoje não tem sido lugar de adoração ao Senhor. Na hora da crise, infelizmente, muitas pessoas preferem se afastar de Deus do que se aproximar dele. Zacarias por ser um homem justo permaneceu na presença do Senhor e foi no templo, no seu turno, no momento da oração que o Senhor se revelou a ele. Meu irmão você só encontrará as respostas de Deus para sua vida na presença de Deus e não longe dele. Temos que ser iguais a Jacó: “Não te deixarei ir, a não ser que me abençoes!” (Gn 32.26).

Podemos resumir este ponto da seguinte forma: “A extrema incapacidade do homem é a oportunidade de Deus”, pois Ele é o Senhor do tempo.

CONCLUSÃO

Assim como o Senhor se manifestou de forma graciosa perante o seu servo Zacarias, o Senhor também tem feito o mesmo com cada um de nós hoje. Talvez nós estejamos nos questionando o porque da demora das respostas das nossas orações, mas saiba que todas elas têm chegado aos seus ouvidos.

No entanto, o tempo de Deus para respondê-las é diferente do nosso tempo. E pode ser que Ele não responderá de forma positiva ao que temos pedido a Ele. Mas independentemente de termos as nossas orações respondidas ou não, de forma alguma devemos nos afastar dele como crianças pirracentas. Devemos olhar para a vida de Zacarias e Isabel e tomar como exemplo de fidelidade ao Senhor ainda que as nossas orações não sejam atendidas.

Pense nisso!

Bibliografia:

1 – Barclay, William. Comentário do Novo Testamento, Lucas.

2 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, volume 2, Lucas e João. Editora Candeia, São Paulo, SP, 1995.

3 – Davidson, F. O Novo Comentário da Bíblia, volume 2. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1987.

4 – Fee, Gordon D. e Stuart, Douglas. Entendes o Que Lês? Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986.

5 – Keener, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2017.

6 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus, o homem perfeito. Comentário Expositivo Hagnos. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017.

7 – MacArthur, John. Comentário do Novo Testamento, Lucas.

8 – Manual Bíblico SBB. Barueri, SP, 3a edição, 2018.

9 – Mears, Henriqueta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. Editora Vida, São Paulo, SP, 15a impressão, 2003.

10 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1986.

11 – Rienecker, Fritz. Evangelho de Lucas, Comentário Esperança. Editora Esperança, Curitiba, PR, 2005.

sábado, 12 de outubro de 2019

LUCAS UM JORNALISTA ÉTICO E IMPARCIAL























Por Pr. Silas Figueira

Texto Base: Lucas 1.1-4

INTRODUÇÃO

Quantos leem jornais ou assistem os noticiários na TV para manterem-se bem informados. Que é muito válido. Mas, há um detalhe que muitas vezes nós não nos damos conta: nem todas as notícias que ouvimos são verdadeiras. Por que estamos falando isso? Porque, infelizmente, muitos jornais não divulgam as notícias de forma imparcial, mas geralmente, tentam esconder, ou manipulam a verdade. E quando são processados por calúnia, eles se retratam colocando uma pequena nota no jornal quase invisível.

Talvez você pergunte: “O que isso tem a ver com o texto que estamos abordando?” E eu lhe respondo: Tudo!

Lucas quando escreveu seu Evangelho proporcionou um registro completo e exato de “todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar até ao dia em que, depois de haver dado mandamentos por intermédio do Espírito Santo aos apóstolos que escolhera, foi elevado às alturas” (At 1b-2).

Escrevendo sob a inspiração do Espírito Santo, a sua intenção foi transmitir a Teófilo e a outros interessados a plena verdade sobre o que já tinham sido oralmente inteirados (Lc 1.3-4). O evangelho de Lucas é o mais longo, o mais profundo e o mais completo dos quatro Evangelhos. Os escritos Lucas (Evangelho e Atos) se estende por mais de 60 anos. Ele começa com o nascimento de João Batista, e termina com a primeira prisão do apóstolo Paulo e do ministério do evangelho em Roma. Ao todo, os escritos de Lucas representam mais de um quarto do Novo Testamento.

Lucas, para escrever o seu Evangelho, fez uma “acurada investigação de tudo desde a sua origem” (Lc 1.3), ou seja, Lucas agiu como um jornalista sério e ético procurando narrar os fatos ocorridos de forma imparcial. Como companheiro de Paulo, Lucas provavelmente aproveitou os dois anos em que este ficou preso em Cesareia, sob a égide dos governadores Félix e Festo (At 23-26), para viajar pela Palestina e entrevistar muitos informantes que foram testemunhas oculares no ministério de Jesus. A data mais provável seja entre 58-60 d.C.

O jornalista Thomas Froese, numa entrevista a revista Ultimato, disse que “os jornalistas são chamados a ser profetas, não para prever o futuro, mas para dizer a verdade… Toda verdade é verdade de Deus, e acredito que Deus sorri quando sabe que jornalistas estão fazendo seu trabalho com integridade”. Foi exatamente isso que Lucas fez, narrou os fatos a respeito de Jesus com integridade. O termo íntegro quer dizer: reto, exemplar, completo, inatacável.

Lucas foi o único autor gentio de toda a Bíblia. Lucas era Sírio, natural da Antioquia, segundo os pais da igreja Jerônimo e Eusébio. Foi autor do evangelho que leva o seu nome e também do livro de Atos. Em Colossenses 4.14 nos diz que ele era médico. Ele uniu-se ao ministério de Paulo em Trôade (At 16.10, 20.5). Lucas era historiador, médico e cooperador de Paulo na obra missionária. Ele acompanhou Paulo até o seu martírio (2Tm 4.11). Ele serviu ao Senhor sem distração, sem esposa e sem filhos. Morreu com a idade de 84 anos, em Tebas, capital da Beócia, cheio do Espírito Santo.

Mas apesar de seu importante papel narrando a história e disseminação das boas novas de salvação, Lucas permanece praticamente desconhecido. Em nenhum lugar de seus escritos inspirados ele se refere a si mesmo pelo nome, nem mesmo em Atos, onde foi um dos companheiros de viagem de Paulo. De acordo com a humilde anonimato de Lucas, o resto do Novo Testamento menciona o seu nome apenas três vezes (Col. 4.14; 2 Tm 4.11; Filemon 24). Ele estava contente em permanecer no fundo e permitir que a majestade de Cristo, que permeia a sua escrita, devia ser o foco. A história registrada com precisão por Lucas e sua teologia estabelecem a compreensão dos seus leitores da vida do Senhor Jesus e Seu ministério.

Mas quais as lições que podemos extrair desse texto inicial? Creio que podemos destacar três pontos básicos:

1 – A MENSAGEM DO EVANGELHO É UM FATO COMPROVADO (Lc 1.1,2).

Quando Lucas diz a expressão “empreenderam” mostra que os autores anteriores não registram todos os ocorridos a respeito de Jesus. Por essa razão Lucas não envia simplesmente um dos escritos mais antigos a Teófilo, mas empenha-se pessoalmente em anotar a trajetória de vida de Jesus, a fim de proporcionar a seu eminente amigo um conhecimento plenamente autêntico (confiável) daqueles episódios históricos e de fatos não registrados ou de detalhes que ele observou que faltaram.

Uma grande parte do Evangelho de Lucas é único no gênero. Sua história relacionada com os acontecimentos em torno do nascimento de Cristo difere de Mateus no ponto de vista e em alguns detalhes. Ele seleciona mais parábolas de Jesus do que Mateus e Marcos, e destaca mais a personalidade dos caracteres de sua narrativa. Na história da Ressurreição ele introduz a caminhada a Emaús, que nenhum dos outros Evangelhos dão de maneira completa.

A palavra “entre nós” é a mesma de João 1.14 (E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade), com a única diferença de que lá João fala como testemunha ocular, ao passo que aqui Lucas fala como alguém que recebeu das testemunhas oculares e originárias a notícia dos acontecimentos ocorridos.

Quando Lucas resolveu escrever o seu Evangelho ele deixou claro duas coisas:

1o – Lucas não estava escrevendo algo inédito (Lc.1.1). O Evangelho de Marcos e, provavelmente o de Mateus, já existiam quando Lucas fez a sua “acurada investigação de tudo desde a sua origem”. É muito significativo que Lucas não se conformasse com as outras histórias de Cristo. Teve que escrever a própria. A verdadeira religião não é uma coisa de segunda mão, uma história repetida, é um descobrimento pessoal.

Lucas, assim como os crentes da cidade de Bereia, queriam saber se o que estava sendo falado era de fato assim. Outra coisa, o Evangelho de Marcos era um evangelho que não entrava nos pormenores do nascimento de Jesus, assim como Mateus também não escreveu outras histórias que circulavam em sua época, e para um historiador era algo que provavelmente o incomodava. Em outras palavras, Lucas queria enxergar mais longe para ter um discernimento mais apurado dos fatos.

Esse exemplo serve para todos nós hoje. Não podemos ficar no campo raso do conhecimento. Se há possibilidade de crescermos no conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo devemos buscar isto com afinco. Como nos fala Pedro: “Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo” (2 Pedro 3.18).

2o – Lucas procurou as fontes primárias para escrever seu Evangelho (Lc 1.2). Os que… foram deles testemunhas ocularese ministros da palavra. Os que… foram deles testemunhas oculares, implica em que os informantes de Lucas viram Jesus em pessoa e por causa de seu compromisso com Ele tornaram-se ministros da palavra.

Lucas procura as fontes primárias para confirmar o que estavam falando a respeito de Jesus. Havia essa possibilidade e ele a buscou. Isso é uma grande lição para nós também, quantas pessoas falam do que ouviram sem procurar se informar dos fatos. Quantas crentes estão pregando heresias das mais variadas simplesmente porque repetem o que outros falam, mas não vão até a Bíblia para confirmar se o que se está se falando tem base bíblica. Muitos fazem “teologia” em cima de um texto sem analisar o seu contexto e outros textos paralelos.

Há muitos pregadores que não fazem uma exegese (tirar do texto o que o texto diz), mas fazem uma eisegese (colocam no texto o que o texto não diz). Com isso, os eisegetas falam das suas ideias e não a verdade revelada. Vou lhe dar dois exemplos:

Primeiro exemplo: Quantos pregadores dizem que não se deve tocar no ungido do Senhor e nem nos seus profetas. Quando eles falam isso eles estão se referindo aos pastores e líderes eclesiásticos. Eles tiram essa expressão da Bíblia, mas a utilizam fora de contexto. Pois o texto não fala a respeito disso. Observe o texto em Salmos 105.8-15. Ali o texto está fazendo referência a aliança que o Senhor fez com Abraão, Isaque e Jacó. O Senhor os chama de Seus ungidos e de Seus profetas. No entanto, muitos líderes aplicam esse texto para si mesmos.

Segundo exemplo: Em Mateus 19.23; Marcos 10.23 e Lucas 18.24, no término da história do jovem rico, Jesus diz: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!”. Passa acrescentar: “É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus”. Frequentemente se diz que havia uma porta em Jerusalém chamada “Fundo de Agulha”, pela qual os camelos somente poderiam atravessar de joelhos, e com muita dificuldade. O problema desta exegese, no entanto, é que simplesmente não é verdadeira. Nunca houve semelhante porta em Jerusalém, em qualquer período da sua história. No entanto, quantas pessoas repetem essa história sem procurar se informar dos fatos! E outro detalhe, se era possível um camelo passar por essa tal porta, então o que Jesus estava falando era falso, ou seja, quem conta essa história está fazendo uma eisegese do texto!

2 – ESSAS VERDADES FORAM REGISTRADAS ATRAVÉS DE MUITA PESQUISA (Lc 1.3).

Esse versículo 3 forma a frase principal. Por meio da expressão em bom grego “igualmente a mim me pareceu bem”, Lucas aponta para a resolução de tornar-se um historiógrafo da história de Jesus! Na expressão “desde sua origem” (anothen = de cima para baixo) Lucas parece comparar-se com um peregrino que tenta avançar até a nascente do rio para depois percorrer todo o curso posterior do rio.

O Evangelho de Lucas foi escrito para um homem chamado Teófilo (Amigo de Deus). Ele é chamado de “excelentíssimo Teófilo”, tratamento que geralmente se dava aos altos funcionários do governo romano (At 23.26, 24.3 e 26.25). Sem dúvida Lucas o escreveu para contar mais a respeito de Jesus a uma pessoa muito interessada; e teve êxito em dar a Teófilo um quadro que deve ter aproximado seu coração ainda mais ao Jesus do qual tinha ouvido.

Através desse texto podemos destacar alguns pontos importantes:

1o A inspiração divina não anula a ação humana. Como nos fala Pedro em sua segunda carta: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo” (2Pe 1.20,21).

Aí surge a pegunta: qual livro é o mais inspirado, o Evangelho de Lucas ou o Apocalipse? Um foi fruto de pesquisa e o outro foi recebido diretamente de Deus.

Ninguém pode negar que o Evangelho de Lucas é um documento inspirado, entretanto, Lucas começa afirmando que é o produto da mais cuidadosa investigação histórica (havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio). A inspiração de Deus não chega ao homem que espera sentado, de braços cruzados, com a mente ociosa, e sim à mente que pensa, busca e investiga. A verdadeira inspiração chega quando a mente que busca se encontra com o Espírito revelador de Deus. A palavra de Deus é dada, mas ao homem que a busca. “Procurem e acharão”.

Lucas foi assistido pelo Espírito Santo para escrever o seu Evangelho. Evangelho este que mostra a perfeita humanidade de Cristo. Seu Evangelho é o mais abrangente sobre a vida e o ministério de Jesus.

Muitas pessoas para justificarem que não há necessidade de se estudar, principalmente a Palavra de Deus, repetem esse texto: “porque a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Co 3.6).

Isso não significa que o estudo das Sagradas Escrituras mata o espírito do estudante e nem que pelo estudo se diminui a ação do Espírito de Deus nele. Alguns ousam afirmar que esse verso indique que devemos agir na “liberdade” total, sem estudos mais sistemáticos da Bíblia, pois estudar a “letra” equivaleria a matar o espírito. Isso vai totalmente contra o que disse Jesus e Paulo, que mandaram examinar as Escrituras com zelo (João 5.39; Atos 17.11).

A letra é uma referência clara de Paulo a Lei de Moisés. Em 2 Coríntios 3.6 Paulo chama a Lei de Moisés de “letra”, no verso 7, chama de “ministério da morte” e no verso 9 de “ministério da condenação”. Com todos esses adjetivos Paulo estava demonstrando em seu argumento que a Lei (Antigo Testamento) tem seu valor (observe que Paulo fala também da glória da Lei – v.7 – ainda que seja uma glória que já não resplandece – v.10), mas não era a prática dos preceitos [desta Lei] que traria a vida eterna as pessoas. Algo muito defendido pelos judeus que não aceitavam a Cristo e impunham a obediência a Lei como uma forma de salvação.

Texto fora de contexto é pretexto para heresia, ou melhor, para não se estudar as Escrituras!

2o – Lucas escreveu seu Evangelho aos gentios: Teófilo era um gentio, assim como Lucas, e Lucas escreveu de tal forma que não há no seu Evangelho nada que um gentio não possa captar ou compreender. Observe alguns detalhes interessantes:

(a) Lucas começa situar os fatos dando a data do reinado do imperador romano e do governador. A data romana aparece em primeiro lugar (Lc 3.1,2). (b) Diferente de Mateus, ele não está interessado na vida de Cristo como cumprimento da profecia judaica. (c) Muito poucas vezes cita o Antigo Testamento. (d) Costuma dar o equivalente grego de palavras hebraicas, para que um grego possa entendê-las. Simão o cananeu se converte em Simão o zelote (comp. Lucas 6.15 e Mateus 10.4). Em Lucas o Calvário não é designado por seu nome hebreu, Gólgota, mas sim pelo grego Kranion. Ambos significam lugar da caveira. Nunca utiliza o termo Rabi para Jesus, e sim o grego Mestre. (e) Quando traça a ascendência de Jesus, não se remonta a Abraão, o fundador da raça judaica, como o faz Mateus, e sim a Adão, o fundador da raça humana (comp. Mateus 1.2 e Lucas 3.38). Justamente por esta razão o Evangelho de Lucas é o mais fácil de ler. Ele escreveu não para os judeus, e sim para gente muito parecida conosco.

Com isso aprendemos que devemos contextualizar a Palavra de Deus de tal forma que as pessoas entendam o que está sendo pregado. Se estamos entre eruditos podemos usar palavras mais rebuscadas que lhe não serão complicadas, mas quando estamos lidando com pessoas mais humildes devemos mudar o linguajar para que eles alcancem o que se está dizendo. Jesus quando estava com pescadores usava ilustrações que retratavam as suas realidades. Ele falava em rede, pesca, peixe, mar. Quando estava entre pessoas que plantavam ou cuidavam de rebanhos Ele falava em semente, semeador, ovelha, lobo, pastor e mercenário. Jesus sempre contextualizou a Sua mensagem.

3 – A FÉ CRISTÃ PROCEDE DO VERDADEIRO CONHECIMENTO (Lc 1.4).

Teófilo já havia sido instruído a respeito de algumas coisas sobre Jesus. Mas alguns acham que o ensino tinha sido pouco claro ou incompleto e Lucas queria que ele soubesse exatamente a verdade. A palavra traduzida tenhas plena certeza” significa ter conhecimento perfeito. Lucas apresentou a Teófilo e a todos os outros que iriam ler seu relato uma compreensão precisa, exata e completa do Evangelho e da vida de Cristo. Se Teófilo era um incrédulo interessado ou um novo crente não sabemos. Em ambos os casos, Lucas usa de intensa pesquisa e escrita detalhada revelando a imensidão do seu coração de pastor. Ele se importava o suficiente sobre a alma de Teófilo.

Com isso em mente, podemos destacar duas coisas:

1o – A fé cristã precisa estar firmada em plena certeza. No tempo de Lucas muitas histórias a respeito de Jesus estavam sendo contadas, no entanto, nem todas elas eram verdadeiras. Devido a isso que Lucas pesquisa de forma minuciosa a respeito da vida e ministério de Jesus para deixar Teófilo bem informado a respeito do que havia ouvido sobre Jesus.

A única base para a fé cristã encontra-se nos fatos acontecidos e revelados a nós na Bíblia. Para nós cristãos não há outro livro. Ela é a fonte da nossa fé e prática. Nós não podemos ser levados por vento de doutrinas que torcem a verdade das Escrituras, como nos fala Paulo:

Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios”. (1 Timóteo 4.1)

Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas”. (2 Timóteo 4.1-4)

Devemos estar vigilantes para não sermos levados por fontes secundárias que dizem estar no mesmo pé de igualdade da Bíblia. Como vemos nas revelações de Ellen White, Joseph Smith, Charles Taze Russell, e tantos outros.

2o A fé cristã precisa estar firmada em plena instrução. Jesus antes de ser recebido aos céus deu essa ordem aos seus discípulos: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém”. (Mt 28.19,20)

Teófilo havia sido instruído por alguém. A ordem de Jesus estava sendo cumprida e havia chegado até Teófilo. Ele havia sido instruído (katecheo) em grego. De onde procede a palavra catequese, catequizar. Que é um termo católico que quer dizer “instruir nos princípios de matéria religiosa”.

Nós como cristãos não podemos de deixar de instruir os novos convertidos e muito menos deixar de aprender as verdades eternas. A Bíblia é um poço sem fim. Quanto mais estudamos, mais descobrimos que temos mais a aprender. Existem verdades básicas, mas até mesmo estas precisam ser repassadas em nossas mentes sempre.

CONCLUSÃO

Lucas, para escrever o seu Evangelho, fez uma “acurada investigação de tudo desde a sua origem” (Lc 1.3), isso nos serve de exemplo para que sejamos também zelosos ao anunciarmos o Evangelho. Nós não podemos falar do que achamos que seja o Evangelho, ou do que gostaríamos que ele fosse, mas devemos falar o que ele é de verdade. Pois, assim como Paulo, pesa sobre nós essa mesma responsabilidade (1Co 9.16).

Em meio a tanta relatividade em nossos púlpitos devemos pregar a verdade que liberta; a verdade que transforma; a verdade gera vida, para que se cumpra na vida dos nossos ouvintes o que aconteceu na casa de Zaqueu e possamos falar como Jesus falou: “Hoje veio salvação a esta casa” (Lc 19.9). Mas para que isso ocorra não podemos negociar a mensagem que nos foi imposta.

Por isso devemos ser como Lucas fazer uma “acurada investigação de tudo desde a sua origem”, para falarmos com intrepidez o que nos é revelado nas Escrituras. O Evangelho revelado é a palavra de Deus lida, estudada e vivida e, acima de tudo, aplicada aos nossos corações pelo Espírito Santo.

Pense nisso!

Bibliografia:

1 – Barclay, William. Comentário do Novo Testamento, Lucas.

2 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, volume 2, Lucas e João. Editora Candeia, São Paulo, SP, 1995.

3 – Davidson, F. O Novo Comentário da Bíblia, volume 2. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1987.

4 – Fee, Gordon D. e Stuart, Douglas. Entendes o Que Lês? Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986.

5 – Keener, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2017.

6 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus, o homem perfeito. Comentário Expositivo Hagnos. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017.

7 – MacArthur, John. Comentário do Novo Testamento, Lucas.

8 – Manual Bíblico SBB. Barueri, SP, 3a edição, 2018.

9 – Mears, Henriqueta C. Estudo Panorâmico da Bíblia. Editora Vida, São Paulo, SP, 15a impressão, 2003.

10 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1986.

11 – Rienecker, Fritz. Evangelho de Lucas, Comentário Esperança. Editora Esperança, Curitiba, PR, 2005.