quinta-feira, 2 de março de 2023

ENTRAI PELA PORTA ESTREITA - Lucas 13.22-30

Por Pr Silas Figueira

Texto base: Lucas 13.22-30

INTRODUÇÃO 

O início dessa viagem para Jerusalém foi indicado em 9.51 e vai até 19.27. É ao viajar por Samaria, indo da Galileia para Jerusalém, que Jesus separa um tempo para contar histórias que preparam seus seguidores a trazer o comum da vida a uma percepção consciente e a uma participação nessa vida do reino.[1] Parecia que Jesus não tinha pressa. Ele se detinha nas cidades e vilas que ficavam em seu caminho. Aliás, ele permaneceu tempo suficiente nesses lugares para poder ensinar neles.[2] E foi durante esse percurso que uma pessoa lhe pergunta “Senhor, são poucos os que se salvam?”. A vaga referência de Lucas a esta pessoa, com a indicação no contexto seguinte de que ele está fora do Reino, indica que não se tratava de um dos apóstolos, mas alguém dentre a multidão que seguia Jesus.[3]

Wiersbe destaca que os escribas costumavam discutir a questão do número de pessoas que seriam salvas, e alguém pediu a Jesus para dar sua opinião sobre o assunto. Da mesma forma que havia feito com a questão a respeito de Pilatos, Jesus passou a discussão imediatamente para o nível pessoal.[4] Jesus não falou com esta pessoa de forma genérica a respeito da salvação, mas tratou a questão de forma muito pessoal, de foro íntimo. Isso mostra que o Senhor não salva por atacado, mas de forma pessoal.

Com isso em mente, podemos destacar algumas lições importantes aqui:

1 – VEMOS AQUI UMA PERGUNTA EXTRAORDINÁRIA (Lc 13.23).

Essa pergunta deveria ser a pergunta de todo cristão, pois ser cristão não nos dá garantia de salvação. A religião cristã envolve Catolicismo Romano, Catolicismo Ortodoxo, Testemunhas de Jeová, Adventistas, Mórmons, Evangélicos. O quadro é um pouco mais amplo, mas por aqui já temos uma ideia. Diante disso já sabemos que religião nenhuma tem o poder de salvar ninguém. Que a salvação é por meio de Jesus Cristo e de uma vida totalmente consagrada a Ele.  

Wiersbe destaca que “a pergunta não é quantos serão salvos, mas se você será salvo ou não! Primeiro resolva isso, depois conversaremos sobre o que fazer para ajudar outros a serem salvos”. [5]

Hendriksen destaca que segundo uma opinião amplamente difundida entre os judeus, endossada pelos rabinos, Israel como um todo seria salvo. Em contrapartida, segundo o ensino de Jesus, a linha de demarcação entre salvos e não-salvos não era de cunho nacionalista, mas distintamente espiritual. Veja Lucas 4.25-27; 6.20-38, 46-49; 7.9; 8.4-15; 11.29-52. Não surpreende que alguém perguntasse a Jesus se os salvos seriam poucos em número. Não é verdade que sempre que Jesus proclamava que somente aqueles cujo coração eram comparáveis à boa terra, somente os que estavam dispostos a negar-se a si mesmos, somente os que não só ouviam seu ensino, mas também o punham em prática, seriam salvos? Isso deixava fora a muitos. [6]

Matthews Henry destaca quatro coisas em relação a pergunta desta pessoa:

1º - Em primeiro lugar, talvez esta fosse uma pergunta capciosa. Alguém lhe fez a pergunta, tentando-o, com o propósito de apanhá-lo em uma armadilha e assim diminuir a sua reputação.

2º - Em segundo lugar, talvez a pergunta tenha sido feita por curiosidade, ou como uma boa especulação. As pessoas geralmente perguntam: “Será que este e aquele podem ser salvos?” Mas é melhor que possamos ser salvos sem saber detalhes a respeito da vida dos outros, detalhes que realmente não nos interessam.

3º - Em terceiro lugar, talvez fosse uma pergunta ocasionada pela admiração. Ele havia notado como a lei de Cristo era rigorosa, e como o mundo era mau. Assim, comparando-as, ele exclama, “Quão poucos serão salvos!” Note que temos motivos para nos admirar por causa de um fato curioso: a palavra de salvação é enviada a muitos, porém ela só é realmente uma palavra salvadora para poucos.

4º - Em quarto lugar, talvez fosse uma pergunta investigadora: “Se há poucos que são salvos, e então? Que influência isto deveria ter sobre mim?” Note que todos nós temos a responsabilidade de entender seriamente a grande verdade de que poucos serão salvos.[7]

É possível que essa pergunta tenha sido feita por um verdadeiro seguidor de Cristo. Mas depois de quase três anos de ministério, inúmeros milagres, ensino incomparável, e multidões segui-lo, no entanto, havia apenas um decepcionante e pequeno número de verdadeiros crentes que criam nele como Salvador. Poucos, em número, foram alcançados pela fé salvadora, tanto que Jesus mesmo se referiu a eles como um “pequeno rebanho” (Lc 12.32).

Apesar de tudo que Jesus realizava os líderes religiosos da nação o haviam rejeitado dizendo que Ele era habilitado por Satanás. Muitas pessoas também viram o poder sobrenatural de Jesus como satânico. Outros o rejeitaram porque Ele não cumpria a expectativa messiânica. Quando uma grande multidão tentou forçá-lo a ser um messias político-militar Jesus recusou-se (Jo 6.14,15). A realidade de ontem é a mesma realidade de hoje, são muito poucos os crentes genuínos que seguem a Cristo. Isso ocorre porque as pessoas querem um Jesus segundo o seu bel-prazer e não o Jesus que se revela nas Escrituras.

Por isso, essa pergunta é de suma importância para todos nós hoje.

2 – NÃO SE ENTRA PELA PORTA ESTREITA DE QUALQUER MANEIRA (Lc 13.24-30).

O fato da resposta de Jesus não ter abordado a questão diretamente, mostra que não é importante quantas pessoas estão sendo salvas; o que importa para cada pessoa é que ela seja uma delas. Em vez de responder à questão de quantidade, Jesus foca na qualidade de fé dos verdadeiros crentes e fez um convite pessoal para um dos presentes para receber a salvação que Ele oferece.

Cinco aspectos desse convite podem ser discernidos: Jesus falou a respeito do esforço espiritual, da oportunidade da porta aberta, da falta de relacionamento com Ele, a rejeição eterna e por fim, a escolha dos gentios.

Vejamos cada um deles:

1º - Em primeiro lugar, um esforço espiritual (Lc 13.24). A palavra grega aqui traduzida como esforçai-vos (porfiai) é a nossa palavra “agonizar” (um termo que vem do grego agonizesthai). A palavra estreita denota aperto. Com uma porta estreita restringindo a entrada, forçando aquele que entra a se livrar de qualquer peso ou bagagem, e com forças opostas bloqueando a sua entrada, as pessoas deverão se esforçar ardentemente (agonizar) para entrar. [8] Por isso que Jesus falou que aquele que “não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lc 14.26), ou seja, não pode entrar pela porta estreita.

Champlin destaca que o versículo 24 diz que o número dos eleitos será pequeno. Assim será porque participarão da natureza divina (2Pe 1.4), possuidores da imagem e da natureza de Cristo (Cl 2.10), transformados em sua imagem pelo poder do Espirito (2 Co 3.18; Ro 8.29). Trata-se de algo elevadíssimo, e a maioria dos homens jamais chegará lá. Os eleitos participarão da mesma forma de vida que Deus tem (Jo 5.25,26). Tudo isso transcende infinitamente ao anúncio normal do evangelho, que fala apenas de perdão e de mudança futura para os céus. Essas bênçãos são apenas o início da inquirição eterna em busca da perfeição, da perfeição divina, que é infinita.[9]

2º - Em segundo lugar, uma oportunidade ainda possível (Lc 13.25a). Não é só estreita a porta para o reino, mas também pode ser fechada. Uma vez que Cristo, o chefe da casa, levantar-se e fechar a porta, não haverá admissão; a oportunidade de entrar no reino será permanentemente impossível para os que ficaram do lado de fora (ex. a arca de Noé – Gn 7.16c). Há um sentimento de desespero e urgência neste quadro; pecadores, com um tempo limitado para responder ao convite do evangelho, deixam essa oportunidade passar, e ela será fechada permanentemente.

A porta do reino é estreita, mas é bastante ampla para admitir o principal dos pecadores. A porta do reino é estreita, mas não estará aberta para sempre. O tempo de entrar no reino é agora. Postergar essa decisão é cometer a maior de todas as loucuras. Amanhã pode ser tarde demais. [10]

Dois pecados são provavelmente responsáveis pela chegada dos atrasados: rebeldia e presunção. O amor ao pecado os seguraria, e uma falsa esperança de que o amor e a bondade do Mestre o levariam a abrir uma exceção para eles, os impediriam de agir conforme uma boa consciência.[11]

Usando as mesmas imagens como na parábola das virgens onde encontramos cinco prudentes e cinco insensatas (Mt 25.1-13), Jesus advertiu que aqueles que perdem a oportunidade de salvação vão ficar do lado de fora, e ao baterem à porta dizendo: “Senhor, abre-nos a porta!”, terão a expressa surpresa e horror ao ver fechada permanentemente a porta do reino de Deus. Afinal, eles eram pessoas religiosas, muitos dos quais afirmavam ter ministrado em nome de Jesus (Mt 7.22). Claramente, o inferno será preenchido não só pelos que rejeitam a Deus abertamente, mas também por aqueles que exteriormente foram religiosos e “reverentemente” falavam em nome de Jesus, mas sem nenhum compromisso com Ele.

3º - Em terceiro lugar, a falta de relacionamento com Jesus (Lc 13.25b-27). Os que tinham comido e bebido com ele achavam, erradamente, que isso garantia a sua entrada no banquete messiânico. Mas Ele só reconhece os obedientes,[12] por isso o Senhor responderá: “Não sei donde sois” (cf. Mt 7.23); isso revela aqueles que desperdiçaram sua oportunidade e ficarão de fora do reino. Apesar de sua fachada religiosa externa, eles não tinham nenhuma relação ou união de vida com Cristo.

Como disse Hendriksen “Onde estavam eles quando a porta estava ainda aberta? Estavam sempre ‘em algum lugar’, não onde teriam de estar”. E possível que algumas dessas pessoas tenham comido do pão multiplicado! Como se a presença e o ensino de Jesus em suas ruas fossem suficientes para salvação! Nem ainda se afastaram de seu caminho para ouvir Jesus? Mas se o fizeram, pelo menos não creram nem agiram conforme sua mensagem. O mero contato externo com Jesus nunca salvou alguém. Demanda-se uma mudança interior.[13]

4º - Em quarto lugar, a rejeição eterna (Lc 13.28). Como consequência, serão totalmente rejeitados. O dono da casa diz que não sabe donde são, e os marca como os que praticais iniquidades (cf. Sl 6.8). Eles chorarão (expressando, assim, sua grande aflição) e rangerão os dentes (na sua fúria). Estas expressões marcam o máximo da frustração e da decepção. Mas estes homens não sentirão menos do que isto quando virem os grandes heróis da fé no reino que sempre pensavam que seria deles também, e se acham lançados fora.[14] No inferno não há nenhum arrependido, mas haverá aflição e ódio eterno.

Ali haverá choro e ranger de dentes, o grau máximo de dor e indignação. E aquilo que é a sua causa, e que contribui com ela, é uma visão da felicidade daqueles que são salvos: Quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas no Reino de Deus; e vós lançados fora. Observe que os santos do Antigo Testamento estão no Reino de Deus; estes foram beneficiados pelo Messias que morreu e ressuscitou, porque eles viram o seu dia à distância e isto refletiu a consolação sobre eles. A visão da glória dos santos será um grande agravo da infelicidade do pecador; eles então verão o Reino de Deus de longe, e nele contemplarão os profetas a quem odiaram e desprezaram, e eles mesmos, embora estivessem certos de entrarem no reino, serão lançados fora. Esta é a principal razão pela qual rangerão os dentes, Salmos 112.10.[15]

5º - Em quinto lugar, a escolha dos gentios (Lc 13.29,30). Jesus fala sobre aqueles que virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul e tomarão lugares à mesa no reino de Deus. Esses são os gentios que vêm de todas as raças, tribos, línguas e nações (Ap 5.9). Sendo eles os últimos, virão a ser primeiros, e os judeus com todos os privilégios que desfrutaram, por terem rejeitado o seu Messias, virão a ser os últimos. A pirâmide está de ponta-cabeça. A ordem está invertida. Jesus está golpeando de morte a presunção dos judeus, especialmente a presunção dos escribas e fariseus![16]

Jesus conclui a resposta que lhe fizeram dizendo: “E eis que derradeiros há que serão os primeiros; e primeiros há que serão derradeiros”. Essa expressão intensifica ainda mais o choque que esses judeus perdidos irão sentir. Não só os gentios estarão no reino, mas também serão iguais com os judeus que estarão lá. No reino da salvação “não há judeu nem grego, não há escravo nem homem livre, não há homem nem mulher; para [os redimidos] todos são um em Cristo Jesus” (Gl 3.28; cf. Ef 2.11-16).

CONCLUSÃO

A lição a ser aprendida com o convite de Cristo para a salvação é dupla. Em primeiro lugar, a verdadeira Igreja de Jesus Cristo deve pregar a mensagem certa; pois uma mensagem corrompida, alterada e falsa é um convite a um evangelho distorcido, fácil e impotente para salvar os pecadores perdidos. Além disso, o falso evangelismo deixa as pessoas não convertidas e, posteriormente, céticos do verdadeiro evangelho e, portanto, mais abertos a um maior engano. O Senhor Jesus Cristo nunca diluiu Sua mensagem para evitar ofender as pessoas; Ele os fez, ou se sentir mal o suficiente para se arrepender, ou furioso o suficiente para rejeitar.

E em segundo lugar, a mensagem para os não-redimidos é que Deus não salva ninguém além do arrependimento genuíno. A batalha para negar a si mesmo e seguir a Cristo é intenso, o tempo é curto e o destino eterno está em jogo.

Pense nisso!

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Bibliografia:

1 – Peterson, Eugene H. A Linguagem de Deus, Ed. Mundo Cristão, São Paulo, SP, 2011, p. 23.

2 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 237.

3 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 441.

4 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 294.

5 – Ibidem, p. 294.

6 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 237.

7 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 637.

8 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 442.

9 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 140.

10 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 433.

11 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 442.

12 – Ash, Anthony Lee. O Evangelho Segundo Lucas, Ed. Vida Cristã, São Paulo, SP, 1980, p. 226.

13 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 239.

14 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 213.

15 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 639.

16 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 434.