segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023
domingo, 5 de fevereiro de 2023
DUAS PARÁBOLAS SOBRE O REINO DE DEUS - Lucas 13.18-21
Por Pr Silas Figueira
Texto base: Lucas 13.18-21
INTRODUÇÃO
Estas parábolas estão
ligadas ao incidente na seção anterior (Lc 13.10-17). O Senhor tinha
interrompido seu ensino em uma sinagoga (v. 10) para curar uma mulher que tinha
um espírito de enfermidade e estava cativa de Satanás por 18 anos, ou seja, ela
tinha uma enfermidade causada pelo maligno (v. 16). Essa demonstração de Seu
poder sobre o reino de Satanás, revelou a presença do Reino de Deus (cf. Lc 11.20).
O Senhor, então, continuou seu ensino com estas duas parábolas, que ilustram a
verdade que o reino de Deus, tanto de forma externa quanto de forma interna, iria
expandir a partir de seus pequenos começos.
Jesus havia usado essas
parábolas anteriormente, e os discípulos sabiam do que se tratava (Mt 13.31-33,
51). Há quem veja nessas histórias uma imagem do crescimento exterior e visível
do reino (a semente de mostarda) bem como de sua influência interior e
invisível (o fermento). Ao usar essas parábolas, Jesus estava dizendo: “Vocês,
líderes religiosos judeus, podem apegar-se a tradições mortas e se opor à verdade,
mas o reino vivo de Deus continuará a crescer. Satanás será derrotado!” [1]
Charles L. Childers
destaca que Jesus buscava na natureza analogias para ilustrar a verdade
espiritual. As coisas espirituais nunca podem ser totalmente compreendidas e
descritas pelo homem nesta vida. A única linguagem que conhecemos é terrena e,
como tal, tem seus significados fundamentais no mundo material. Tal linguagem
terrena só pode aproximar a verdade espiritual. Por causa da falta de uma linguagem
espiritual, as analogias são usadas para ajudar a descrever o indescritível.[2]
Com isso em mente,
podemos destacar algumas lições:
1 – O CRESCIMENTO EXTERNO E VISÍVEL DO REINO DE DEUS (Lc 13.18,19).
O que temos no versículo
18 é uma pergunta retórica. Era um artifício para aguçar o interesse do povo. Dessa
forma Jesus chamava a atenção dos ouvintes para os seus ensinamentos.
Podemos destacar duas
coisas aqui:
1º - Em primeiro lugar, o
Reino de Deus começou de forma imperceptível (Lc 13.19).
A parábola de Jesus revela o processo de crescimento do reino de Deus. Assim
como o semeador deita apenas um minúsculo grão de mostarda em sua horta, assim
o reino de Deus também apresenta, pela atuação fundamental de Jesus na terra,
uma configuração extremamente insignificante e modesta.[3] Parta muitos o Reino
de Deus é insignificante, seu agir não prevalecerá, no entanto, assim como o
grão de mostarda (as sementes têm cerca de 2 mm de diâmetro), apesar de sua humilde
aparência, ele cresce e aninha pássaros em seus galhos.
A igreja, agente do
reino, começou pequena e fraca em seu berço. A semente da mostarda é um símbolo
proverbial daquilo que é pequeno e insignificante. Era a menor semente das
hortaliças (Mc 4.31). Foi usada para representar uma fé pequena e fraca (Lc 17.6).
O reino chegou com um bebê deitado numa manjedoura. Jesus nasceu em uma família
pobre, numa cidade pobre, e cresceu como filho de um carpinteiro pobre. Ele não
tinha onde reclinar a cabeça. Seus apóstolos eram homens iletrados. O
Messias foi entregue nas mãos dos homens, preso, torturado e crucificado entre
dois criminosos. Seus próprios discípulos o abandonaram. A mensagem da cruz era
escândalo para os judeus e loucura para os gentios. Em todas as coisas do
reino, o mundo vê as marcas da fraqueza. Aos olhos do mundo, o começo da igreja
reveste-se de consumada fraqueza.[4] Mas, ao lermos Apocalipse, o quadro que
nos é apresentado de Jesus e da Igreja é algo que nos surpreende (Ap 1.9-20).
2º - Em segundo lugar, pequenos
começos produzem grandes resultados (Lc 13.19).
Embora a mostarda era a menor das sementes, contudo, crescia e se
transformava em arbusto tão grande que aves podiam “abrigar-se” sob ele... Assim,
Jesus diz-nos aqui que a semente do reino, nele e em seus primeiros seguidores,
é plantio de Deus, e que ninguém pode destruí-la.[5]
A árvore da mostarda
podia alcançar de três a sete metros de altura, dependendo do tipo e das
circunstâncias.[6] Quando Jesus disse que as aves que se aninham nos seus ramos
frequentemente são um símbolo para as nações da terra (Ez 17.23;31; Dn 4.12).
O
reino será universal. Homens de todas as nações se acharão dentro dele. [7] O
reino de Deus é como tal semente: seu tamanho atual e sua aparente insignificância
não são, de modo algum, indicadores de sua consumação, a qual abrangerá todo o
universo.[8]
A Igreja não só nasceu
pequena e insignificante, mas ela desde o seu nascimento tem sido perseguida. No
entanto, quanto mais a perseguiam mais ela crescia, pois os discípulos se
espalhavam para todos os lugares pregando as Boas Novas (At 8.1-4).
Quando os cristãos ao
redor do mundo têm os direitos negados, por escolherem seguir a Jesus, eles se
tornam vulneráveis a hostilidades em diferentes esferas da vida: na vida
privada, na família, comunidade, na nação e na igreja. De acordo com os dados
da Lista Mundial da Perseguição 2022, mais de 360 milhões de cristãos no mundo
enfrentam algum tipo de oposição como resultado da identificação com Cristo.[9]
Mas a Igreja está viva e ativa, pois o Pai é o agricultor que tem preservado e
cultivado a Sua vinha (Jo 15.1).
A igreja continua
crescendo em todo o mundo. De todos os continentes, aqueles que confessam o
Senhor Jesus vão se juntando a essa grande família, a esse imenso rebanho, a
essa incontável hoste de santos. Nas palavras do profeta Daniel, o reino de
Deus é como uma pedra que quebra todos os outros reinos (Dn 2.44,45), e enche
toda a terra como as águas cobrem o mar (Hc 2.14).[10]
2 – O CRESCIMENTO INTERNO
E INVISÍVEL DO REINO DE DEUS (Lc 13.20,21).
Se a parábola da semente
da mostarda fala sobre a expansão externa do reino, a parábola do fermento fala
sobre sua influência invasiva, secreta e interna no coração do crente.
Aqui o fermento não é
símbolo do mal, conforme é normal na literatura bíblica (Lc 12.1; Ex 12.14- 20;
1Co 5.7). Seu poder de “crescimento” e “expansão” é que é frisado. Em sua
aplicação original, provavelmente ilustrava a mesma verdade que sua gêmea a
parábola da semente de mostarda; Deus já está impondo seu senhorio, e as
poderosíssimas consequências de tal fato logo se tornarão evidentes. [11]
Com isso em mente podemos
destacar duas verdades que o texto nos ensina:
1º - Em primeiro lugar, o
progresso do Evangelho no coração do homem crente (Lc 13.21).
Uma vez que a obra da graça iniciou-se no coração, ela jamais permanecerá quieta.
Crescerá gradualmente, “até ficar levedada”. A semelhança do fermento colocado na
massa, a obra da graça não pode ser separada daquilo com que ela foi misturada.
Pouco a pouco, ela influenciará a consciência, as afeições, a mente e a
vontade, até que todo o homem seja afetado pelo seu poder e ocorra uma completa
conversão a Deus. [12]
Como disse Paulo
escrevendo à Timóteo em sua primeira carta:
“E dou graças ao que me
tem confortado, a Cristo Jesus Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me
no ministério; a mim, que dantes fui blasfemo, e perseguidor, e injurioso; mas
alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade. E a graça
de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que há em Jesus Cristo” (1Tm
1.12-14).
2º - Em segundo lugar, assim
como o fermento age de forma invisível na massa, o Reino de Deus age na vida do
crente (Lc 13.21). A lição é que uma quantidade pequena de
fermento faz sua presença ser sentida na totalidade de uma massa muito maior.
Assim acontece com o reino. O fermento trabalha de modo quieto e invisível, e o
reino opera através da influência de Cristo sobre os corações humanos, e não em
qualquer coisa meramente externa e visível. Talvez valha a pena notar, também,
que o fermento trabalha de dentro: não pode transformar a massa enquanto fica
do lado de fora. Mas também é importante que o poder para fazer a transformação
vem de fora, pois a massa não se transforma a si mesma. [13]
William Hendriksen
reforça que o ponto que Jesus está enfatizando nessa parábola é este: o reino
de Deus, introduzido nos corações e nas vidas humanos de fora, uma vez dentro
exerce uma influência sã, completa e penetrante dentro e de dentro
para fora, nos corações e nas vidas. Conduz os homens para diante, para o
alvo da perfeição que Deus lhes propôs. Ao agir assim, afeta favoravelmente cada
esfera da vida na qual se movem.[14]
Foi pela influência do
evangelho que as grandes causas sociais foram promovidas: a libertação da
escravidão, a valorização das crianças e das mulheres, o amparo aos idosos, o
alívio à pobreza, a valorização do conhecimento, das ciências e das belas
artes, a promoção do crescimento econômico e social da sociedade. O evangelho
não aliena os seres humanos. Ao contrário, transforma-os e faz deles agentes de
transformação.[15]
CONCLUSÃO
Vimos nessas duas
parábolas que a ação de Deus no coração do homem é, aos olhos de muitas pessoas,
algo insignificante. No entanto, assim como a semente de mostarda que é a menor
das sementes, cresce ao ponto de aninhar pássaros em seus ramos, assim é a
Igreja, aparentemente pequena em seu começo, mas cresceu aninhou em seus “ramos”
pessoas de toadas as tribos, povos, línguas e nações. Do mesmo modo o fermento.
Ele age na massa a fazendo crescer, assim é o Reino de Deus, cresce de forma
invisível, sem que se perceba, mas quando se nota, já atingiu grande
crescimento.
A vida do cristão precisa
estar pautada nessas duas analogias, somos, aos olhos do mundo, insignificantes,
mas estamos espalhados por todo o mundo influenciando e acolhendo pessoa de
todas as nações. E naquele grande dia, seremos uma multidão incontável que João
viu na revelação do livro de Apocalipse (Ap 7.9-17).
Pense nisso!
Bibliografia:
1 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 2007, p. 293.
2 – Childers, Charles L.
Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006,
p. 440.
3 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 295.
4 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 430.
6 – Ash, Anthony Lee. O
Evangelho Segundo Lucas, Ed. Vida Cristã, São Paulo, SP, 1980, p. 223.
8 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p.
430.
9 – A Igreja Perseguida. https://portasabertas.org.br/cristaos-perseguidos/igreja-perseguida,
acessado em 31/01/2023.
10 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 431.
11 – Champlin, R. N. O
Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed.
Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 139.
12 – Ryle, J. C.
Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 241.
13 – Morris, Leon L.
Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São
Paulo, SP, 1986, p. 212.
14 – Hendriksen, William.
Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 235.
15 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p.
431.