Por Pr. Silas Figueira
Texto Base: Atos 2.42-47; 4.32-37
INTRODUÇÃO
O
livro de Atos não é um livro doutrinário, mas é um livro repleto de informações
doutrinárias. As ênfases sobre a doutrina da Igreja são feitas a partir da
história, e consequentemente pela prática, e através das epístolas. Lucas não
intenciona em seu relato julgar se a prática da Igreja de Deus é correta ou
não, mas coloca a prática da igreja primitiva como padrão a ser seguido.
A
leitura de Atos 2.42-47 e 4.32-37 nos proporciona um relato completo e
apaixonado da experiência da gênese da igreja [...]. Diante desses textos, não
há como não ficarmos emocionados e, ao mesmo tempo, perturbados. Nessas
passagens, e em outros capítulos de Atos, vemos o cristianismo real em ação
pela primeira vez na história humana [1]. Isso não quer dizer que não havia
problema dentro dela, muito pelo contrário, onde há gente sempre haverá
problemas. Vemos isso em Atos 5.1-11 quando nos fala da hipocrisia de Ananias e
Safira. Em seu livro A Mensagem de Atos,
John Stott, falando a respeito da Igreja Primitiva, nos chama a atenção à forma
como temos olhado para aquela Igreja. Ele diz que “existe o perigo de romantizarmos a igreja primitiva, falando dela em
tom solene, como se não tivesse falhas. Isso significa fechar os olhos diante
das rivalidades, hipocrisias, imoralidades e heresias que atormentavam a
igreja, como acontece ainda agora” [2]. Quantos de nós temos visto a Igreja
Primitiva como o maior exemplo a ser seguido, mas não devemos fechar os olhos
para suas crises que eram reais dentro dela assim como hoje ocorre.
A
impressão que alguns teólogos nos passam é que não havia problemas entre eles,
principalmente quando lemos Atos 2.42-47, mas estudando mais a fundo o livro de
Atos, as cartas Paulinas tanto quanto as cartas universais, encontramos uma
igreja lutando contra o pecado (Cl 3.5-11), contra falsos mestres (Gl 3.1-3; Tt
1.10,11), heresias das mais diversas (1Tm 6.3-5), lutas internas (1Co 1.11-13),
apostasia (1Tm 4.1) e por fim as cartas que foram dirigidas as sete igrejas da
Ásia em Apocalipse 2 e 3.
Creio
que assim como a Igreja Primitiva enfrentou os seus problemas, e não eram
poucos, nós também enfrentamos os mesmos hoje. Isso porque dentro de nossos
arraiais há pessoas não convertidas. Não quero dizer com isso que cristão
convertido não crie problemas, seria muita ingenuidade de minha parte falar
isso. O Reverendo Augustus Nicodemos diz que determinados problemas que aflige a igreja é porque há muitas
pessoas – no púlpito e nos bancos – que não nasceram de novo, essa é a grande
questão a ser observada. Veja o que ele diz: “considero difícil compreender como uma pessoa supostamente iluminada
pelo Espírito, conhecedora da graça de Deus em Cristo, que tenha experimentado
o perdão de pecados e chegado ao trono da graça mediante Jesus seja capaz de
espalhar mentiras, agredir irmãos, levantar calúnias, falsear a verdade,
espalhar a discórdia, viver na prática da imoralidade, deixar-se mover pelo
ódio e pelo amor ao dinheiro e ao poder, tudo isso sem jamais demonstrar o
mínimo de arrependimento ou mesmo tristeza por seus atos. E mais: ser capaz de
manter esse comportamento por anos a fio [...] Infelizmente, tenho a impressão
de que os bancos e, também, os púlpitos de nossas igrejas acolhem mais gente
não convertida do que imaginamos” [3].
Essa
é a dura realidade da igreja local, não há como fingir que isso não exista. Franklin
Ferreira disse que “vale a pena refletir sobre o fato importante de que Jesus
enviou o Espírito para chamar pecadores a viver em santa comunidade. No entanto,
existem pessoas que não gostam da igreja e se acham boas demais para ela. Essa
postura é lamentável, pois mesmo com todas as dificuldades encontradas na
igreja, é muito pior estar fora dela. Como dizia um manuscrito medieval: a Igreja é como a arca de Noé; se fosse não
fosse a tempestade lá fora, não seria possível suportar o cheiro dentro dela”
[4].
Porém,
uma coisa nós devemos entender e admitir: A Igreja – Corpo de Cristo – esta age
de forma diferente por ser cheia do Espírito Santo. O texto que lemos nos
mostra pessoas cheias do Espírito Santo agindo de forma diferente porque a
graça do Senhor repousava sobre elas; e é sobre está Igreja que eu quero pensar
com você. Uma Igreja Cheia do Espírito Santo.
EM PRIMEIRO LUGAR, UMA IGREJA CHEIA DO ESPÍRITO SANTO
TEM UMA TEOLOGIA SADIA (At 2.42a).
O
primeiro ponto a ser ressaltado é a Doutrina dos Apóstolos. O que Lucas quer
dizer com “perseveravam na doutrina dos
apóstolos” é que a Igreja Primitiva mantinha-se firmada na instrução dos
apóstolos. A ideia expressa pelo verbete “perseverar”
é dar constante atenção a alguma coisa. Ou seja, a Igreja Primitiva mantinha-se
constantemente alicerçada pelo ensino apostólico. É importante ressaltar que
até este ponto da história a doutrina da igreja primitiva podia ser resumida
pelo v.36 do mesmo capítulo:
“Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de
Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”.
Em
favor desta ideia vamos nos lembrar daquilo que Paulo nos informa em 1Co15.3,4:
“Antes de tudo, vos entreguei o que também
recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que
foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”.
A
intenção de Paulo era de deixar aos Coríntios aquilo que é essencial para sua
vida. Essa é a doutrina deixada que deve ser ensinada na Igreja hoje. Tudo o
que não é concernente a doutrina dos apóstolos deve ser deixada de lado [5].
A
doutrina dos apóstolos estava levando a igreja a abandonar a Lei de Moisés e se
apoderando das doutrinas da graça (Rm 6.14), e se afastando também das
doutrinas dos fariseus e dos doutores da lei, que na verdade não eram
observadores da Lei, mas do Talmude.
O que seria essa doutrina da graça?
É
bom destacar que havia duas correntes antibíblicas no período apostólico que
procuravam contestar a doutrina da graça: o
legalismo e o antinomismo.
1 – Legalismo.
Segundo este, só se adquire a salvação e a excelência moral mediante a lei
mosaica. Este sistema, defendido por certos judeus cristãos em Roma, ensinava
que a justificação era decorrente das obras da lei. Paulo os exorta: “Nenhuma carne será justificada diante dele
pelas obras da lei” (Rm 3.20).
2 – Antinomismo.
O termo significa “contrário à lei”.
Os antinomianos acreditavam que podiam viver no pecado e, ainda assim, estarem
livres da condenação eterna. Segundo os adeptos dessa teoria, uma vez que o
homem foi justificado pela fé em Cristo, nenhuma obrigação moral é necessária
agora. O apóstolo os persuade: “Porque
vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para
dar ocasião à carne” (Gl 5.13).
OS RELACIONAMENTOS DA GRAÇA
1 – Graça e justificação (Rm 3.24; 5.18). A graça de Deus garante
gratuitamente a justificação em Cristo Jesus. Através da morte expiatória de
Cristo, a graça manifestou-se aos homens, garantindo-lhes a justificação e a
vida eterna.
2 – Graça e redenção (Tt 2.11,14; Ef 1.7). Segundo as Escrituras: “A graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os
homens”. Cristo trouxe-nos completa redenção: comprou a todos com o seu
sangue (Ap 5.9); redimiu-nos da maldição da lei e de nossos pecados (Cl 1.14);
e, por meio do Espírito, selou-nos para o dia da redenção, segundo as riquezas
da graça.
3 – Graça e purificação (Tt 2.11-14). A graça salvadora não apenas ensina os
homens a renunciarem a vil concupiscência, a impiedade e as mazelas morais da
sociedade rebelada contra Deus, mas também capacita o crente a viver sóbria,
justa e piamente, no presente século. Vejamos o que se deve esperar de alguém
cheio da graça de Deus.
a) Evitar a impiedade. A impiedade é uma categoria de pecado que se opõe à
piedade (Jd v4). Logo, inclui tudo o que a pessoa faz sem considerar a Deus a
as suas leis morais (Rm1.18). O ímpio não reconhece nem admite sua dependência
de Deus. Os pecados de impiedade incluem: a blasfêmia contra Deus(Sl 10.13); a
malícia (Sl 34.21); a violência (Sl 140.4) e as iniquidades (Pv 5.22). O
cristão deve rejeitar a impiedade, pois os que negligenciam a piedade serão
condenados (Jd vv. 14,16).
b) Evitar as paixões mundanas. Ser ímpio constitui não apenas uma maneira de
pensar, mas um estilo de vida específico. Os ímpios são materialistas e
sensuais (2 Pe 2.12-14) e buscam as coisas que conduzem aos apetites carnais.
Em lugar do Reino e da justiça de Deus, procuram tudo o que satisfaça seus
desejos pecaminosos desregrados.
c) Viver vida sensata. A palavra sensata, no original (sophronco), quer dizer “de mente sã”, “mente sóbria” ou
“temperante”. Este termo se refere à prudência e ao autocontrole proveniente de
uma reflexão criteriosa. O temperante é alguém que não se deixa dominar pela
ansiedade; é alguém que pondera seus atos e suas respectivas consequências de acordo
com a Palavra de Deus (1Tm 3.2).
d) Viver justa e piedosamente. A graça de Deus possibilita ao crente uma vida justa
e piedosa diante de Deus e dos homens. O termo “piedoso” refere-se ao cristão
que é reverente a Deus e pratica o bem em todos os seus relacionamentos. Uma
pessoa piedosa tem como centro a vontade de Deus em todos os seus caminhos (Pv
3.5,6; 1Co 10.31).
Ao
longo da história houve muitos desvios da verdade: as heresias da Idade Média;
a ortodoxia sem piedade; o Pietismo – piedade sem ortodoxia; os quacres – o
importante é a luz interior; o movimento liberal – a razão acima da revelação;
e o neopentecostalismo – a experiência acima da revelação. Deus tem um
compromisso com a Palavra. Ele tem zelo pela palavra. Uma igreja fiel não pode
mercadejar a Palavra [6].
Atualmente
em muitos púlpitos há uma heresia que tem se tornado muito popular nos lábios
de alguns líderes. É a heresia do UNIVERSALISMO.
O
universalismo é um erro teológico grave, é uma perigosa heresia. Além de não
pertencer ao mundo teológico dos autores do Antigo e do Novo Testamento, a
ideia da salvação universal implica diversos riscos.
Em
primeiro, enfraquece e, finalmente, extingue todo espírito missionário e
evangelístico. Os universalistas transformam o chamado ao arrependimento da
Igreja num simples anúncio auspicioso de que todos já estão salvos em Cristo, e
transvestem sua missão em mera ação social.
Em
segundo lugar, essa doutrina é falsa, quando levada às últimas consequências,
implica necessariamente o ecumenismo. Se todos serão salvos, as religiões que
professam não podem mais ser consideradas certas ou erradas, e se tornam uma
questão indiferente.
Por
fim, o universalismo é um forte incentivo a uma vida imoral. A tendência
natural do pecador que está seguro de que não sofrerá as consequências de seus
pecados é mergulhar ainda mais neles. Assim, o universalismo retira os freios
da consciência e abre as portas para uma vida sem preocupações com Deus [7].
A
Igreja Primitiva perseverava na
Doutrina dos Apóstolos e nós devemos fazer o mesmo hoje.
EM SEGUNDO LUGAR, UMA IGREJA CHEIA DO ESPÍRITO SANTO
TEM UMA PROFUNDA COMUNHÃO (At 2.42, 44-46).
A
palavra Comunhão no grego é koinonia,
que significa um “compartilhar de amizade” e uma permanência no convívio dos
outros (At 2.42; 2Co 6.14). É muito interessante notar que essa amizade é
baseada num conhecimento cristão mútuo (1Jo 1.3). Somente aqueles que têm
amizade com Cristo pode ser verdadeiros amigos uns dos outros [8].
Tal
verdade é bem colocada por João em sua primeira epístola, observe: “Se, porém, andarmos na luz, como ele está
na luz, mantemos comunhão uns com os outros” (1Jo.1.7a). Aqui está o
segredo da Comunhão entre os participantes da Igreja de Cristo. Não há
separação entre os que estão na Luz, como Deus é: “Deus é luz e nele não existe trevas nenhuma” (1Jo.1.5). Todo o que
participa de uma vida de intimidade com Deus, desfruta da intimidade dos que
procuram intimidade com Deus. Quanto mais perto de Deus os participantes da
igreja estão, mas próximos uns dos outros.
Koinonia,
em seu uso comum na vida diária do século I, não se refere apenas a um
sentimento bom ou irmandade entre amigos. Ela também tinha o sentido de
“corporação”, “empreendimento comum”, ou “companhia”, semelhante à forma como
hoje podemos dizer que Pedro e João possuíam uma “companhia”, são “sócios” ou
têm uma “corporação”. Sem dúvida, essa koinonia
é comunhão, mas também é solidariedade e o compartilhamento de sentimentos, de
bens e de atos. Assim, os versículos 44 e 45 são uma explicação dessa koinonia [9].
Em
Atos 4.32-37 vemos outro exemplo fantástico e marcante de comunhão:
“Da multidão dos que creram era um o coração e a alma.
Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo,
porém, lhes era comum...”.
Os
cristãos estavam tão próximos uns dos outros que não ousavam considerar seu o
que possuía, mas estava pronto a dividir com seus irmãos conforme havia
necessidade. Isto é a demonstração da Comunhão que a Igreja deveria ter hoje.
Isso se chama auxílio social. Eles tinham desapego dos bens e apego às pessoas.
Eles tinham prazer na distribuição, no auxílio aos mais carentes. Socorriam os
irmãos em Cristo. Quanta diferença dos dias de hoje onde muitos pastores não
quer o bem das ovelhas, mas os bens das
ovelhas.
A
comunhão tem papel fundamental na vitalidade da Igreja, e isso é claramente
percebido na experiência da Igreja Primitiva. Esta é a ideia é exposta pelo
termo “estavam juntos” que
literalmente significa “eram próximos uns
dos outros”. Ou seja, vivia uma vida comunitária em unidade. Veja essa
descrição: “Diariamente perseveravam
unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com
alegria e singeleza de coração”.
Mas
é importante dizer que a Igreja Primitiva vivia em unidade e não em
uniformidade.
EM TERCEIRO LUGAR, UMA IGREJA CHEIA DO ESPÍRITO SANTO
TEM PRAZER NA ORAÇÃO E NA ADORAÇÃO (At 2.42,46).
“E perseveravam... no partir do pão e nas orações”.
A
perseverança não era somente em aprender a doutrina apostólica e ter comunhão,
mas também tinham prazer em estarem juntos no partir do pão e nas orações. A
igreja tinha prazer em adorar juntos e orar juntos.
John
Stott diz que há dois aspectos do culto da igreja primitiva que exemplificam
seu equilíbrio.
Em
primeiro lugar, era formal e informal, pois era realizado tanto no templo como
de casa em casa (v. 46), o que é uma combinação interessante.
O
segundo exemplo de equilíbrio no culto da igreja primitiva está no fato de ele
ser alegre e reverente. Não se pode duvidar da alegria deles; está escrito que
tinham alegria e singeleza de coração (v. 46), que significa literalmente “em
exultação e sinceridade de coração”. Deus havia enviado Seu Filho ao mundo, e
agora lhes enviava o Seu Espírito. Eles tinham muitos motivos para se
alegrarem. Além disso, “o fruto do Espírito é... alegria” (Gl 5.22). O culto
público pode ser majestoso, mas é imperdoável que seja enfadonho [10].
Partir do pão
– Este termo que Lucas emprega para aquilo que Paulo chama de “Ceia do Senhor”
(1Co 11.23-33). Refere-se ao ato de que dava início a uma refeição judaica, e
que passara a ter significado especial para os cristãos, tendo em vista a ação
de Jesus na Última Ceia [11]. É perfeitamente possível que a observância da
Ceia de Senhor tivesse lugar todas as noites, juntamente com as refeições da
tarde (v. 46), pois isso é um tipo de partir do pão, provavelmente envolvia as
memórias sobre como Jesus partira o pão em companhia de seus discípulos,
relembrando-lhes que Cristo é o Pão da Vida, que haverá de retornar para buscar
a Sua Igreja [12].
E nas orações
– Uma igreja cheia do Espírito Santo ora com fervor e constância. A Igreja
Primitiva vivia em constante oração quer comunitária como individual. As
orações tinham um papel fundamental na vida da Igreja Primitiva. Isso pode ser
claramente percebido pelo relado deixado por Lucas, que diversas vezes
considera as orações dos primeiros cristãos.
Em Atos podemos ver que a oração foi:
●
a atitude dos cristãos diante das decisões a serem tomadas (1.14);
●
a atitude da liderança da igreja em situação de crescimento (6.4);
●
a prática da igreja quando os apóstolos foram libertos da prisão (4.24-30);
●
a prática da igreja quando estava em situação de perigo e perseguição (12.5).
Como
podemos notar, a Igreja orava junto diante de situações positivas e negativas.
Lucas nos mostra que em situações diferentes das habituais, “havia incessante”
oração por parte da Igreja. A prática do Corpo de Cristo exige a oração, ela é
a respiração de sua fé. A oração deve ser a genuína expressão do nosso coração
e reflexo de nossa autêntica fé. A comunidade que se isenta dessa prática
pública pode deixar de participar efetivamente. Apenas um ponto merece nosso
destaque aqui: “quanto a nós, nos
consagraremos à oração e ao ministério da palavra” (At 6.5). O ministério
do líder da Igreja deve ser cheio de oração. Sua vida deve ser uma vida de
oração (cf. O exemplo de Paulo nos seguintes versos: Rm 1.10; Ef 1.16; Cl 4.12;
1Ts 1.2; Fm 14), e nas tribulações, sua oração deve ser perseverante (Rm 12.12;
Cl 4.2) [13].
EM QUARTO LUGAR, UMA IGREJA CHEIA DO ESPÍRITO SANTO
TEM TEMOR DIANTE DE DEUS E SINAIS ACONTECEM (At 2.43).
Uma
igreja cheia do Espírito Santo é formada por um povo cheio de reverência. Ela
tem compreensão da santidade de Deus. Ela se curva diante da majestade de Deus.
Hoje as pessoas estão acostumadas com o sagrado. Há uma saturação, comercialização
e paganização das coisas de Deus. Quem conhece a santidade de Deus não brinca
com as coisas dEle [14]. O melhor sinônimo para temor a Deus é entusiasmo, que
significa literalmente ser tomado por Deus. Temer a Deus é estar cheio de Deus.
Quando estamos cheios de Deus, nós experimentamos a sua graça, e as pessoas
veem em nós essa mesma graça.
Na
Igreja Primitiva os líderes não eram os “milagreiros”,
mas homens que nas mãos de Deus eram instrumentos de sua graça. Na Igreja
Primitiva os milagres eram reais e não inventados como temos visto muitos por aí.
Vemos na Igreja Primitiva desde coxos andando (At 3), a ressurreição (At
9.26-33). Vemos Pedro sendo liberto da prisão (At 12) e Saulo de Tarso sendo
liberto da prisão da ignorância em relação a Jesus (At 9). Pelas mãos de Paulo
milagres ocorriam, prisões tremiam, vidas eram alcançadas (At 16).
John
Stott diz que “o Deus revelado na Bíblia
não é um mágico nem um curandeiro que só realiza milagres. Ele normalmente
trabalha de acordo com a ordem natural que ele mesmo estabeleceu. Ao mesmo
tempo, ele não está limitado pela natureza e suas leis. Seria ridículo imaginar
que a criação agora controla o criador” [15]. O Jesus que operou no passado
é o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb 13.8). Como disse Stott: “seria
ridículo imaginar que a criação agora controla o criador”, mas bem sabemos que
infelizmente há hoje dois extremos na igreja: aqueles que negam os milagres e
aqueles que os inventam [16].
EM QUINTO LUGAR, UMA IGREJA CHEIA DO ESPÍRITO SANTO
LOUVA A DEUS COM ALEGRIA (At 2.46a).
Esta
é uma das poucas referências encontradas em Atos que descreve essa atitude dos
cristãos. Isso, no entanto, não quer dizer que os primeiros cristãos não
adoravam a Deus, mas que suas reuniões estavam mais voltadas para a instrução,
a oração e a comunhão. Contudo, devemos notar que todos os outros fatos
ocorriam enquanto os cristãos louvavam a Deus. Ou seja, embora sejam poucas as
referências era uma atividade que estava intimamente ligada a expressão de
adoração da igreja.
Uma
igreja cheia do Espírito Santo canta com fervor e louva a Deus com entusiasmo. O
culto é um deleite. Uma igreja viva tem alegria de estar na casa de Deus para
adorar. Os muçulmanos têm mais de um bilhão de adeptos no mundo, mas eles não
cantam. Uma igreja viva tem um louvor fervoroso, contagiante, restaurador,
sincero, verdadeiro [17].
David
Martyn Lloud-Jones comentando esse texto nos dá três razões porque as pessoas
que faziam parte da Igreja Primitiva louvavam a Deus:
A primeira razão que encontro é está: elas louvavam a Deus por causa da grande mudança
que tinha sido operada nelas. Ali estavam pessoas que bem podiam estar tendo um
tipo desesperado de vida, de qualquer forma uma vida miserável. Tinham procurado
tirar algum proveito de alguns dos prazeres do mundo, mas sempre estavam em
desassossego, inquietas e inseguras. No entanto, depois passaram a encontrar-se
dia após dia num grupo cujo centro era o Filho de Deus. Essas pessoas estavam
louvando a Deus porque tinham sido salvas.
Em segundo lugar, eles louvavam ainda mais conforme percebiam, crescentemente, que esta
mudança maravilhosa neles constatada devia-se inteiramente à graça e à
misericórdia de Deus. Esta é a prova crucial entre religião e cristianismo,
entre um pseudocristianismo e o cristianismo real. As pessoas que acreditam que
são cristãs porque vivem vida moralmente boa, não louvam a Deus, louvam a si
mesmas [...] Assim estes primeiros cristãos louvavam a Deus pela mesma razão
pela qual todo cristão verdadeiro louva a Deus. Os cristãos se dão conta da verdade sobre si mesmos. São pobres de espírito. Têm fome e sede de
justiça. São pecadores, e não há neles nenhum bem. Não somente isso, eles se
dão conta de que não podem fazer nada quanto salvar-se. Isso é básico em
referência a toda a posição cristã.
E em terceiro lugar, eles louvavam a Deus por causa da estupenda maneira pela qual Ele providenciou esta grandiosa salvação para
eles. Eles tinham ouvido isso da pregação do apóstolo Pedro e dos outros, que
eles tinham ouvido falar em suas respectivas línguas. Eles discerniram o
caráter maravilhoso das obras de Deus [18].
Creio
que esta é a base que todo cristão verdadeiro está firmado hoje também. Sem esse
reconhecimento de que o Senhor fez em nós, sem esse reconhecimento de como o
Senhor providenciou a nossa salvação é impossível ser um verdadeiro cristão.
EM SEXTO LUGAR, UMA IGREJA CHEIA DO ESPÍRITO SANTO TEM
A SIMPATIA DAS PESSOAS DE FORA E TEM CRESCIMENTO NUMÉRICO POR PARTE DE DEUS (At
2.47).
O
texto nos diz que a Igreja caia na simpatia de todo o povo. Era uma igreja que
atraia as pessoas através da pregação da Palavra, mas também pela simpatia dos
cristãos. As pessoas que compunham a igreja eram pessoas que davam bom
testemunho dentro (comunhão) e também do lado de fora (caia na simpatia do
povo).
A
alegria da salvação transbordava na vida da igreja. Eram pessoas transformadas
pelo poder do Evangelho e não se envergonhavam disso (Rm 1.16).
John
Stott nos diz que podemos aprender três lições vitais sobre evangelização da
igreja local com esses primeiros crentes de Jerusalém.
Primeiro,
foi o Senhor (ou seja, Jesus) quem fez: acrescentava-lhes
o Senhor. Sem dúvida, ele o fez através da pregação dos apóstolos, do
testemunho dos membros da igreja, do amor impressionante na vida comunitária
deles e do exemplo de todos, pois estavam louvando
a Deus e contando com a simpatia de todo o povo (v. 47).
Segundo,
Jesus fez duas coisas ao mesmo tempo: Ele acrescentava...
os que iam sendo salvos. Ele não os acrescentou à igreja sem salvá-los (no
começo, não havia cristãos nominais), nem os salvos sem acrescentá-los à igreja
(também não havia cristãos solitários). Salvação e participação na igreja
andavam juntas; e continuam andando.
Terceiro,
o Senhor acrescentava pessoas dia a dia.
O verbo está no imperfeito (“continuava acrescentando”), e o advérbio (“diariamente”)
não deixa nenhuma dúvida. A evangelização não era uma atividade ocasional ou
esporádica da Igreja Primitiva. O culto deles era diário, e assim também o
testemunho. O louvor e a proclamação eram o transbordamento natural de corações
cheiros do Espírito Santo [19].
CONCLUSÃO
Como
vimos, uma igreja cheia do Espírito Santo faz toda a diferença na sociedade. Ela
não só tem uma maravilhosa comunhão entre si como também é canal de bênção na
vida das pessoas fora dela. Primeiro porque ela tem uma teologia sadia, e isso
faz com que a vida cristã seja segundo a vontade de Deus e não segundo os
achismos que temos visto por aí. Ela também tem comunhão, adoração e vida de
oração. Diante disso, o Senhor opera sinais e maravilhas, não como um
milagreiro, mas como aquele que tem poder e domínio sobre a sua criação. Uma igreja
cheia do Espírito Santo adora o Senhor com alegria contagiante e há crescimento
sadio dado pelo Senhor, e não um inchaço numérico como temos visto em muitos
lugares por aí.
Que
o Senhor nos abençoe para sermos uma igreja assim. Uma igreja segundo a Sua
vontade, cheia do Espírito Santo para fazermos a diferença na sociedade que
vivemos.
Pense
nisso!
Notas
1
– Azevedo, Israel Belo de. A Igreja Acabou? Editora Hagnos. São Paulo, SP,
2011: p. 17.
2 – Stott, John R. W. A Mensagem de Atos. ABU
Editora. São Paulo, SP, 2º-reimpressão 2010: p. 10.
3 – Nicodemus, Augustus.
Polêmicas na Igreja. Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP, 2015: p. 87, 90.
4 – Ferreira, Franklin.
Avivamento Para a Igreja. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2015: p. 44.
5 – Berti, Marcelo. A vida
da Igreja de Cristo em Atos (At.2.42-47). https://marceloberti.wordpress.com/2009/02/10/a-vida-da-igreja-de-cristo-em-atos-at242-47/,
acessado em 22/07/2016.
6 – Lopes, Hernandes Dias.
Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos, São Paulo,
SP, 2012: p. 66.
7 – Nicodemus, Augustus.
Polêmicas na Igreja. Editora Mundo Cristão, São Paulo, SP, 2015: p. 66.
8 – Barclay, William.
Palavras Chaves do Novo Testamento. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1985: p.
123.
9 – González, Justo L. Atos,
o evangelho do Espírito Santo. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2014: p. 71.
10 – Stott, John R. W. A
Mensagem de Atos. ABU Editora. São Paulo, SP, 2º-reimpressão 2010: p. 90.
11 – Marshall, I. Howard.
Atos, introdução e comentário. Edições Vida Nova e Editora Mundo Cristão, São
Paulo, SP, 1988: p. 83.
12 – Champlin, R. N. O Novo
Testamento Interpretado, versículo por versículo. Editora Candeia, São Paulo,
SP, 1995: p. 71.
13 – Berti, Marcelo. A vida
da Igreja de Cristo em Atos (At.2.42-47). https://marceloberti.wordpress.com/2009/02/10/a-vida-da-igreja-de-cristo-em-atos-at242-47/,
acessado em 22/07/2016.
14 – Lopes, Hernandes Dias.
Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos, São Paulo,
SP, 2012: p. 68.
15 – Stott, John. As
Controvérsias de Jesus. Editora Ultimato, Viçosa, MG, 2015: p. 52.
16 – Lopes, Hernandes Dias.
Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos, São Paulo,
SP, 2012: p. 69.
17 – Lopes, Hernandes Dias.
Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos, São Paulo,
SP, 2012: p. 68.
18 – Loyde-Jones, D. Martyn. Cristianismo
Autêntico. Editora PES, São Paulo, SP, 2005: p. 276,81.
19 – Stott, John R. W. A
Mensagem de Atos. ABU Editora. São Paulo, SP, 2º-reimpressão 2010: p. 91, 92.