segunda-feira, 28 de abril de 2014

O CRISTIANISMO NÃO É MORAL, MAS ONTOLÓGICO!


Por Fabio Campos

Texto base: “A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. – João 3.3 ARA

Alguém já disse que “a diferença entre Deus e o homem não é moral, mas ontológica, pois pecado não é o que faço, mas o que eu sou”. Quando estudamos a história da igreja percebemos o quanto, aos poucos, a eclésia foi dando mais ênfase na “tradição elaborada por homens”, através de um rigor ascético, do que propriamente no ensino dos Profetas e Apóstolo, os quais trataram a conversão com base no “novo nascimento” e do “novo coração”.

Impor compulsoriamente as regras morais foi um artifício muito usado no decorrer dos séculos. Longas listas do que “pode” ou “não pode”; purificação através de ritos; purgação de pecados através da negação dos prazeres legítimos; tudo era utilizado para avaliar quem de fato era salvo ou não. A teologia cristã foi rarefeita por diversas vezes por conta disso. Alguns ensinos tinham por objetivo coagir as pessoas a não pecarem. Esta era a forma utilizada pela liderança eclesiástica para refrear os impulsos pecaminosos. Com isso muitos foram se distanciando do ensino escriturístico do “novo nascimento”, enveredando-se para os “preceitos e doutrinas de homens”. Como bem disse o Apóstolo: “Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor nenhum contra a sensualidade” (Cl 2.23 ARA). Infelizmente muitas denominações têm afastado as pessoas por conta dos “usos e costumes” a qual erradamente se referem por “doutrina”.

Quando analisamos o Ensino bíblico [a verdadeira e única Doutrina] a respeito do pecado e da salvação pela graça em Jesus Cristo, não é difícil de entender que Deus se compraz “em um coração contrito e quebrantando” ao invés de “sacrifícios feitos pelas mãos dos homens” (Sl 51.16-17). Muito mais importante do que sacrificar é obedecer, pois não é o exterior quem contamina o homem. É do coração que procede todo tipo de pecado. Somente um novo coração pode obedecer, pois a carne não está sujeita a lei de Deus, nem mesmo pode estar (Rm 8.7). O cristianismo não se trata de um sistema moral, mas de um novo nascimento. Não é aquilo que é ou deixa de ser lícito; mas do que convém. Não é algo tangível a ensinar: “não toque nisso”; “não proves aquilo”; “não toques aquiloutro”. Transcende isto tudo! O Reino é Paz e Alegria no Espírito Santo.

Mesmo correndo grandes riscos prefiro não usar da persuasão humana na pregação para coagir pessoas no que devem ou não fazer. Apenas exponho a Palavra e deixo a tarefa de convencer para o Espírito Santo. A pregação não é a exposição moral do que pode ou não pode. A pregação é luz nas trevas, simples e exclusivamente para conduzir o homem a examinar-se a si mesmo, e descobrir pelo crivo da Verdade, as intenções reais do seu coração enganoso e perverso. Não vai adiantar abrigar “vinho novo” em “odres velhos”. Ambos se perderão. O vinho novo precisa ser posto em odres novos. O Cristianismo é a mudança daquilo em que você se alegra. Posso me alegrar no meu moralismo e estar na condição de hipócrita - honrando a Deus apenas com os lábios - mas com um coração longe dEle. 

Nossa ministração será mais eficaz no dia que ousarmos abrir mão de ensinos morais tentando guiar as pessoas através de cabrestos. A verdadeira conversão passa pelo teste da liberdade. Tenho a oportunidade de fazer algo, mas conheci algo muito melhor e que traz mais satisfação ao meu coração: a saber, “a comunhão com Deus”. A confissão de todo Cristão genuíno: “Para onde iremos nós se só Tu tens palavras de vida eterna”. O contrário também é verdade com o sujeito que ainda nasceu de novo. Ele se reprime e não peca a princípio por temor aos homens e para cumprir o check-list de “santarrão”. Certamente, hora menos horas, a carne vai ceder!, e a demanda reprimida de pecados que havia naquele coração tornará seu estado muito pior do que o primeiro.

Ser bom moralmente para o cristão não é algo que exige esforço. É como os ramos de uma árvore; produz os frutos sem perceber. Todavia, é a raiz que sustenta os ramos. A figueira não pode produzir azeitonas e a videira produzir figos. Um “cristão” mau-caráter não é um cristão. Somos salvos pela graça, mediante a fé. A fé se evidencia pelas obras. Logo pelos frutos seremos conhecidos.

Não escaparemos do que disse Jesus: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus”. Os “usos e costumes” e a santidade que teve o crivo elaborado pela tradição humana é válida para o julgamento dos homens, mas diante de Deus, é “trapo de imundícia”. Pois o Senhor não vê como o homem vê. O homem analisa o exterior; o Senhor prova o coração. O reino de Deus não abriga gente de boa conduta, mas apenas aqueles que nasceram da água e do Espírito através de Jesus Cristo. Como bem disse John Wesley:

“Uma pessoa pode ir à igreja duas vezes por dia, participar da ceia do Senhor, orar em particular o máximo que puder, assistir a todos os cultos e ouvir muitos sermões, ler todos os livros que existem sobre Cristo. Mas ainda assim tem que nascer de novo”.

Soli Deo Gloria!

Fonte: Fabio Campos

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Moralismo não é o evangelho



Por Albert Mohler Jr

…mas muitos pensam que é

Uma das afirmações mais espantosas do apóstolo Paulo é sua acusação aos gálatas por terem abandonado o evangelho: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho”. Como foi afirmado tão enfaticamente, os gálatas haviam falhado no teste crucial de discernir o evangelho autêntico de suas imitações.

Suas palavras não poderiam ser mais claras: “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema.” (Gálatas 1.8-9)

Esse alerta do apóstolo Paulo, expressado por meio de choque e pesar, é direcionado não apenas à igreja na Galácia, mas a toda congregação de qualquer era. Em nossos dias – e em nossas igrejas – precisamos desesperadamente ouvir e atentar a esse alerta. Em nossos dias, enfrentamos falsos evangelhos não menos subversivos e sedutores que aqueles encontrados e abraçados pelos gálatas.

Em nosso contexto, um dos falsos evangelhos mais sedutores é o moralismo. Esse falso evangelho pode tomar muitas formas e pode emergir de vários impulsos culturais e políticos. Ainda assim, a estrutura básica do moralismo se resume a isso – a crença de que o Evangelho pode ser resumido à melhorias de comportamento.

Infelizmente, esse falso evangelho é particularmente atrativo àqueles que acreditam serem evangélicos motivados por impulsos bíblicos. Crentes além da conta, e suas igrejas, sucumbem à logica do moralismo e reduzem o Evangelho à mensagem do desenvolvimento moral. Em outras palavras, nós comunicamos aos perdidos a mensagem de que o que Deus deseja para eles e requer deles é que eles vivam suas vidas corretamente, na linha.

Em certo sentido, nós nascemos para sermos moralistas. Criados à imagem de Deus, nos foi dada a capacidade moral da consciência. Desde nossos primeiros dias, nossa consciência já manifesta nosso conhecimento de culpa, de falhas e de maus comportamentos. Em outras palavras, nossa consciência acusa nossa pecaminosidade.

Adicione a isso o fato de que o processo de educação infantil tende a inculcar o moralismo desde cedo. Nós rapidamente aprendemos que nossos pais estão preocupados com nosso comportamento. Crianças bem comportadas são recompensadas com a aprovação dos pais, enquanto a malcriação traz seus castigos. Essa mensagem é reforçada por outras autoridades sobre os mais novos e permeia toda a cultura em geral.

Escrevendo sobre sua própria infância no interior rural da Georgia, o romancista Ferrol Sams descreveu a tradição enraizada de ser “bem educado”. Conforme ele explicou, a criança “bem educada” agrada seus pais e outros adultos ao aderirem a certas convenções morais e à etiqueta social. Um jovem “bem educado” se torna um adulto que obedece a lei, respeita seu próximo, se compromete, pelo menos verbalmente, às expectativas religiosas e se mantém longe do escândalo. O argumento é claro – isso é o que os pais esperam, a cultura afirma e muitas igrejas celebram. Mas nossas comunidades estão cheias de pessoas “bem educadas” que estão destinadas ao inferno.

A sedução do moralismo é a essência de seu poder. Somos facilmente levados a acreditar que realmente podemos conquistar toda a aprovação que precisamos por meio de nosso comportamento. É claro, para fazer parte dessa sedução, precisamos negociar um código moral que define o comportamento aceitável com inúmeras brechas. A maioria dos moralistas não diria que não tem pecado, mas sim que estão longe do escândalo. Isso é considerado suficiente.

Moralistas podem ser categorizados tanto como liberais quanto como conservadores. Em cada caso, um conjunto específico de obrigações morais constrói a expectativa moral. Generalizando, normalmente é verdade que os liberais focam em um conjunto de expectativas morais relacionadas à ética social, enquanto os conservadores tendem a focar na ética pessoal. A essência do moralismo é aparente em ambos – a crença de que podemos alcançar justiça por meio de bom comportamento.

A tentação teológica do moralismo é tal que muitos cristãos e igrejas tem dificuldade de resistir. O perigo é de que a igreja comunique tanto direta quanto indiretamente que o que Deus espera da humanidade caída é desenvolvimento moral. Ao fazê-lo, a igreja subverte o Evangelho e comunica um falso evangelho para o mundo caído.

A igreja de Cristo não tem outra opção além de pregar a Palavra de Deus, e a Bíblia revela fielmente a lei de Deus e um código moral abrangente. Os cristãos entendem que Deus revelou a si mesmo por meio da criação de tal forma que deu à humanidade o poder restritivo da lei. Mais ainda, ele nos comunicou por meio de sua palavra mandamentos específicos e instruções morais abrangentes. A igreja do Senhor Jesus Cristo que é fiel precisa batalhar pela retidão desses mandamentos e a graça que nos foi dada de conhecer o que é bom e o que é mau. Também temos a responsabilidade de testemunhar esse conhecido do bem e do mal aos nossos próximos. O poder restritivo da lei é essencial à comunidade e à civilização humana.

Assim como pais corretamente ensinam seus filhos a obedecerem instruções morais, a igreja tem a responsabilidade de ensinar aos seus os mandamentos morais de Deus e de testemunhar à sociedade ao redor o que Deus declarou ser justo e correto para suas criaturas humanas.

Mas esses impulsos, por mais corretos e necessários que sejam, não são o Evangelho. De fato, um dos evangelhos falsos mais insidiosos é o moralismo que promete o favor de Deus e a satisfação de sua justiça aos pecadores se eles simplesmente se comportarem bem e se comprometerem com a melhoria moral.

O impulso moralista na igreja reduz a Bíblia a um livro de regras para o comportamento humano e substitui o Evangelho de Jesus cristo por instrução moral. Púlpitos evangélicos além da conta são a fonte de mensagens moralistas, ao invés da pregação do Evangelho.

O corretivo para o moralismo vem diretamente do apóstolo Paulo quando ele insiste que “o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus”. A salvação vem para aqueles que são “justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado” (Gálatas 2.16).

Nós pecamos contra Cristo e distorcemos o Evangelho quando sugerimos aos pecadores que o que Deus demanda deles é o desenvolvimento moral de acordo com a Leu. O moralismo faz sentido para pecadores, pois é uma expansão daquilo que aprendemos desde nossos primeiros passos. Mas o moralismo não é o Evangelho, e ele não salva. O único evangelho que salva é o Evangelho de Cristo. Como Paulo lembrou os gálatas, “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.” (Gálatas 4.4-5)

Nós somos justificados somente pela fé, salvos somente pela graça e redimidos de nossos pecadossomente por Cristo. O moralismo produz pecadores que são mais bem comportados (em potencial). O Evangelho de Cristo transforma pecadores em filhos adotivos de Deus.

A igreja nunca deve desviar, acomodar, revisar ou esconder a lei de Deus. De fato, é a lei que nos mostra nosso pecado e deixa clara a nossa inadequação e nossa total falta de justiça. A Lei não pode dar vida mas, como Paulo insiste, “nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé.” (Gálatas 3.24).

O perigo mortal do moralismo tem sido uma tentação constante à igreja e um substituto muito conveniente para o Evangelho. Claramente, milhões de nossos próximos creem que o moralismo é a nossa mensagem. Nada menos que a pregação audaciosa do Evangelho será o suficiente para corrigir essa impressão e levar pecadores à salvação em Cristo.

O inferno será amplamente povoado por aqueles “bem educados”. Os cidadãos do céu serão aqueles que, pela pura graça e misericórdia de Deus, estarão lá apenas pela justiça imputada de Jesus Cristo.

Moralismo não é o evangelho.

Fonte: Reforma 21

sábado, 19 de abril de 2014

O grande "pecado" pregado hoje é a falta de estima por si mesmo!


Por Josemar Bessa

A essência do pecado é “Brincar de Deus” – viver não para Deus, mas para si mesmo, vendo Deus como parte do todo no qual estamos no centro e para qual mesmo Deus se inclina. O mundo está mergulhado em auto-absorção.

Que imagem é essa senão a do diabo, já que seu pecado, orgulho auto-exaltado, foi o pecado dele muita antes de existirmos? Qual é o espírito do culto de nosso geração? Em torno do que ele está? O grande pecado pregado hoje, espelhando nosso mundo, não é a falha de em tudo honrar a Deus e lhe ser grato em todas as circunstâncias da vida, mas a falta de estima por si mesmo.

A geração que “cultua” a Deus em nossos dias ( cultua a si mesma) achando que a ideia de auto-humilhação (Lc 9.23, 1Pe 5.6) é um mal supremo, prefere então não se ofender com a atitude oposta, o que podemos chamar de Deus-humilhação, ou seja, o rebaixamento de Deus em favor do ego e estima humana. É de novo e de novo cair da tentação do Éden de “ser como Deus”(Gn 3.5). Um culto que repudia a auto-humilhação e nossa indignidade, expressa a mente descrita por Paulo em Romanos 8.7: “o pendor da carne é inimizade contra Deus” – é o retrato da mente do homem não regenerado. Esse pendor manifesta o profundo descontentamento do coração humano com o governo de Deus, ressentimento contra suas reivindicações e hostilidade para com a Sua Palavra. De tal forma isso se tornou comum que é só a Palavra ser proclamada que logo vozes se levantam: “mas isso é muito duro...” – Por causa disso o grito de libertação de nossos dias – ecoando o mundo, não é mais, “miserável homem que sou... quem me livrará...” – mas: “Que homem digno eu sou, quem me ajudará a ver melhor a minha dignidade?”

E onde entram as águas de Kheled-zâram nisso tudo? Na obra de Tolkien, O Senhor dos Anéis, já perto do fim da primeira parte – A Sociedade do Anel – depois que a companhia atravessa as perigosas minas de Moria, com muito custo chegam do outro lado, tendo “perdido” Gandalf na atravessia, o grupo está arrasado. Há um grande lamento, Gandalf é o líder... como ficarão sem ele? Há grande sofrimento e incredulidade, ele era o mais poderoso entre eles.

No meio desse grande lamento por Gandalf e ainda temendo por suas vidas, Gimli ( o representante dos anões na sociedade ), insiste para que Frodo ( o portador do Anel ) e o inseparável amigo, Sam, se juntem a ele enquanto olha as águas de Kheled-zâram.

A principal maravilha do Lago-espelho é que ele reflete apenas as montanhas e as estrelas: “Das sombras dos próprios corpos inclinados não se via nada” – Ele tira, em seu reflexo, a pessoa do centro, ela não se vê, ela pode ver tudo sem ter ela no centro, sem ter ela como perspectiva central da cena. Ela então pode ver coisas que jamais poderia ver com ela no centro. Coisas fundamentais que parecem periféricas quando vistas ao redor apenas. Coisas maiores que nossas alegrias, triunfos ou tragédias aqui. Coisas que sobreviverão quando nenhum de nós estiver mais neste planeta. ( Ver coisas que durarão para sempre, como diz Paulo).

Não é essa nossa grande necessidade? As “águas de Kheled-zâram”, o lago espelho que nos tira totalmente da perspectiva central nas alegrias, triunfos e tragédias, e nos faz enxergar coisas eternas?

Sem a libertação da grande característica do pecado que os Reformadores chamaram de homo incurvatus in si, estamos presos em nossos egos, em auto-absorção, e todo culto, e todo nosso cristianismo não passa de farsa, pois ainda estamos brincando de deus.

Hoje, o primeiro grande mandamento de nossa geração, o primeiro mandamento que tem moldado nosso cultos é “amarás a ti mesmo” – explicamos todos os problemas com base na baixa auto-estima. Não gostamos de nada na Palavra de Deus que julguemos que provocará isso. Décadas de sermões, livros... inculcando isso na mente de uma geração fez um estrago enorme. Temos de fato o culto do Eu. O culto para o mundo, o culto relevante, o culto para o jovem, o culto para os casamentos, o culto... O foco é o homem e não Deus, e sequer nos envergonhamos mais de tão grande distorção. Não há oposição quase nenhuma a tão grande afronta a Deus. Não cultuamos Deus, cultuamos nossa auto-estima.

A atitude corrente é a de autodeificação, dela só poderia brotar atos de autodeterminação contra Deus, Sua Palavra... tendo que o que é eterno e imutável, se “moldar” ao que é mortal, finito e mutável. Já não conseguimos olhar mais nada sem ver nossa face no centro da perspectiva. Era exatamente isso que as águas de “Kheled-zâram”, o lago espelho, fazia, tirava o homem da perspectiva.

Sem esse “milagre” de Kheled-zâram, o homem não pode sequer esbarrar nas doutrinas fundamentais sobre ele, pois, por não estarem indo na direção do culto a auto-estima, serão descartadas como absurdas, não porque a Bíblia não as ensina, mas porque ofende a sensibilidade do ego adorado. Por exemplo, todo homem além do trabalho regenerador de Deus é totalmente depravado, ou seja, ele não é capaz de nenhum ato ou pensamento sagrado, santo, aceitável... diante de Deus. Paulo diz que “tudo que não é por fé é pecado” (Romanos 14.23) – Portanto, tudo que um homem irregenerado faz é pecado, mesmo que ele dê todos os seus bens para alimentar o pobre ou o seu corpo para ser queimado (1 Coríntios 13.3) – O motivo verdadeiro para qualquer ato só pode ser definido devidamente com referência a honra de Deus, sua santidade, sujeição a Ele, sua honra... qualquer coisa feita sem essa referência e que não confia tão somente em sua misericórdia e em nada de bom no homem, não são boas, portanto: "Não há ninguém que faça o bem nem um sequer" -Romanos 3:12. É óbvio que isso é uma pedra de tropeço intransponível para o coração irregenerado.

Vida cristã é uma vida que consiste em seguir a Jesus, e segui-lo está no estremo oposto ao culto da auto-estima: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me!” – Hoje vivemos numa geração que quer seguir a Cristo com muito do mundo e de si mesmo e muito pouco de Cristo em suas vidas, porque culto a auto-estima e cruz são antagônicos.

Ele diz que primeiro negue-se e só depois siga-me.

Primeiro – Renuncie a si mesmo.
Segundo – Tome a sua cruz.
Terceiro – Siga-me.

Essa é a ordem das coisas. Mas o Ego está no caminho juntamente com o mundo e suas milhares de atrações. O culto a auto-estima e o “para mim o viver é Cristo... e não mais vivo eu mais Cristo vive em mim”, são incompatíveis. O que Paulo está dizendo é que “para mim o viver é obedecer a Cristo, é servir a Cristo, é honrar a Cristo...” – é isso que significa. Tomar a cruz significa obediência, consagração, rendição... uma vida colocada à disposição de Deus para Sua glória – significa morrer para o Ego. “Segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte” – Filipenses 1.20 – Fomos mandados para o mundo para viver com a cruz estampada em nós, não há outra forma para que de fato a vida de Cristo seja mostrada em nós:“Trazendo sempre em nosso corpo o morrer de Jesus, para que a vida de Jesus também seja revelada em nosso corpo” – 2 Coríntios 4.10.

Tudo isso é fábula sem as “águas de Kheled-zâram”, ou seja, sermos levados a uma visão da vida em que não estamos mais no centro, podendo ver então tudo que é eterno, tudo que em nossos triunfos e tragédias aqui, glorifiquem a Deus: “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.” 2 Coríntios 4:18 – Ele não põe ele mesmo no centro da perspectiva, mas o plano eterno de Deus – ao não estar centrado em si, tudo que era eterno tomava um lugar que não podia ser visto antes. Era o que as águas de Kheled-zâram faziam.

Nós não desanimamos porque os nossos olhos estão fixos no que é invisível e eterno.

Podíamos ver tantos exemplos na vida de Paulo, mas encerremos com um apenas. Paulo podia ver as correntes que o prendiam aos soldados romanos dia e noite. Mas seus olhos não estavam sobre elas e eles. Cada corrente foi forjada por Cristo e seria usada para Cristo. Se o ego estivesse no centro da perspectiva, isso seria impensável, mas Paulo pensava: “como posso usar essa cela de prisão e essas correntes para a glória de Cristo? Como honrar aqui, nesta situação o Senhor do Céu!”

Ele nunca fez das coisas deste mundo o alvo do seu olhar, ele podia ver longe, ele não se via no centro da perspectiva. Se ele fosse adepto do culto da auto-estima de nossa geração, teria ficado oprimido ali, paralisado por sua própria mortalidade, obcecado pelos triunfos aparentes dos inimigos, ou desestabilizado pelo pequeno apoio das igrejas. Mas ao não se ver no centro da perspectiva, ele pode fixar os olhos sobre o que era invisível.

Como dissemos antes, a principal maravilha do Lago-espelho, Kheled-zâram - era que refletia tudo, a obra das mãos de Deus, sem mostrar a face de quem estava olhando: “Das sombras dos próprios corpos inclinados não se via nada!” – Naquele momento de tragédia e dor, onde parecia que tudo iria perecer, não havia lugar melhor para Frodo e Sam olhar, e foi isso que Gimli os incentivou fazer.

Fonte: Josemar Bessa

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Como identificar falsos mestres


Por Denny Burk

O apóstolo Paulo escreveu a Tito que pastores não devem apenas pregar fielmente, mas também “convencer os que o contradizem” (Tito 1.9). A ideia é muito simples. O ministério pastoral não é meramente de edificar, mas também de derrubar. Como Paulo disse em outro lugar, envolve derrubar toda especulação e altivez que se levante contra o conhecimento de Deus (2 Coríntios 10.5). Falhar em fazer isso é má-prática ministerial e algo perigoso para o povo de Deus.

Dada essa obrigação, se torna imperativo ser capaz de identificar falsos mestres quando eles aparecem. Às vezes o falso ensinamento surge de fora da igreja. Às vezes, de dentro. O Novo Testamento ensina que uma reposta mais rigorosa é devida quando ele surge de dentro. Assim, pastores fiéis precisam aprender a identificar e lidar com falsos mestres. Mas como fazemos isso?

A Bíblia sugere pelo menos seis características que normalmente identificam os falsos mestres. Nem todo falso mestre exibe todas essas características ao mesmo tempo, mas muitas vezes apresentam uma combinação de alguns desses traços.

1. Falsos mestres contradizem a sã doutrina

Mesmo no primeiro século, durante a vida dos apóstolos, havia um corpo doutrinário autoritativo que funcionava como regra de fé e prática. Judas chama isso de “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas 3). Paulo chama de “sã doutrina segundo o evangelho da glória do Deus bendito” (1 Timóteo 1.10-11). Em outro lugar, é o “padrão das sãs palavras” e de “bom depósito” (2 Timóteo 1.13-14), as “palavras da fé” e “boa doutrina” (1 Timóteo 4.6). João chama de “a doutrina de Cristo” (2 João 9).

No primeiro século, a sã doutrina consistia no Antigo Testamento, além das palavras apostólicas que Cristo atribuiu aos apóstolos. A autoridade apostólica eventualmente era escrita, conforme os apóstolos começaram a morrer. Para nós, o padrão da sã doutrina – a fé que uma vez por todas foi entregue aos santos – é a escritura, o Antigo e o Novo Testamento. O falso ensinamento, portanto, é qualquer ensinamento que foge dessa norma. Um falso mestre é qualquer um de dentro da igreja que se oponha ao que a Bíblia ensina (1 Timóteo 6.3; 2 João 9).

2. Falsos mestres promovem imoralidade

Judas nos mostra que falsos mestres muitas vezes se esgueiram na igreja e “transformam em libertinagem a graça de nosso Deus” (Judas 4). Libertinagem significa falta de restrição moral, especialmente na questão da conduta sexual. É uma total supressão das normas morais da escritura. É uma vida que permite comportamentos que a Bíblia condena. Pedro diz que tais mestres negam o Senhor Jesus ao perseguirem “suas práticas libertinas” (2 Pedro 2.2). Uma pessoa que não é dominada pela palavra de Deus é muitas vezes dominada por suas próprias paixões. Não há poucos charlatões que se infiltram nas igrejas com seu carisma apenas para se mostrarem aproveitadores sexuais do rebanho.

Alguns deles tentarão justificar sua própria imoralidade sexual ou a imoralidade dos outros. Mas muitas vezes não irão enfrentar com força os assaltos às normas morais da escritura. Isso é muito óbvio. Pelo contrário, eles irão redefinir os termos da Bíblia para que não mais os acusem de suas ações perversas. Aqueles que redefinem o ensinamento bíblico a respeito de casamento e sexualidade caem nessa categoria.

3. Falsos mestres diminuem a importância do pecado e do juízo

Esse é o traço dos falsos mestres que compartilham em comum com os antigos falsos profetas. Jeremias os descreve dessa forma:

porque desde o menor deles até ao maior, cada um se dá à ganância, e tanto o profeta como o sacerdote usam de falsidade. Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz. (Jeremias 6.13-14)

Falsos mestres caracteristicamente diminuem o pecado. Ao invés de chamar “as falhas” de pecado, eles simplesmente dizem “não há nada para ver, prossigam”. Os falsos mestres dizem aos pecadores, a quem Deus irá julgar, que eles não são tão ruins assim e que não há necessidade de temer o julgamento de Deus. Eles separam o amor e a graça de Deus de sua santidade. Eles dizem ao povo, que deveria ter toda a razão para temer o julgamento de Deus, que eles realmente não tem nada a temer. Eles fogem do confronto que a verdade traz e dizem aos pecadores qualquer coisa que seus ouvidos queiram ouvir (2 Timóteo 4.3-4).

4. Falsos mestres são motivados por ganância e ganho egoísta

Pedro diz que, em sua “avareza”, falsos mestres se aproveitam do povo de Deus com “palavras fictícias” (2 Pedro 2.3). De fato, o coração deles é “exercitado na avareza” (2 Pedro 2.14). Paulo diz que os falsos mestres supõe “que a piedade é fonte de lucro” (1 Timóteo 6.5). Pregadores que amam dinheiro e ganho material muitas vezes dirão o que for necessário para aumentar seu piso salarial. São mercenários, não seguindo o chamado de Deus, mas aquele que pagar mais. Irão abraçar qualquer novidade. Irão coçar onde quer que os pecadores desejem. Transformam o ministério em fonte de lucro porque são motivados por ganância. Tome cuidado com pastores que parecem ter apetite por ganho material. Essa é uma grande marca de um falso mestre.

5. Falsos mestres causam divisão

Falsos mestres irão tentar convencer o rebanho que a sã doutrina causa divisão. Mas isso é uma mentira. Esse é, na verdade, o falso ensinamento que busca dividir e conquistar o povo de Deus. Judas nos alerta a respeito deles dessa forma:

No último tempo, haverá escarnecedores, andando segundo as suas ímpias paixões. São estes os que promovem divisões, sensuais, que não têm o Espírito. Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, orando no Espírito Santo, guardai-vos no amor de Deus (Judas 18-21)

Quem causa dissensão no meio do povo? Não aqueles que ensinam a sã doutrina. O povo de Cristo se une ao redor da verdade e se dividem por conta do erro. Falsos mestres são aqueles que levam o povo para longe do padrão da verdade divina em direção ao erro.

6. Falsos mestres enganam o rebanho

Jesus nos diz para nos acautelarmos “dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas” (Mateus 7.15). O falso mestre nunca aparece a nós com uma placa pendurada no pescoço onde se lê “sou um falso mestre”. O falso mestre aparece disfarçado de cristianismo. Ele possui a forma da piedade mas nega seu poder (2 Timóteo 3.5). Se o falso mestre aparenta e soa como cristão, então como saberemos se ele é um falso mestre? Jesus nos diz como podemos saber: “pelos seus frutos os conhecereis” (Mateus 7.16). Em outras palavras, o que eles fazem muitas vezes diz mais sobre quem eles são do que o que dizem.

Fonte: Reforma 21

SALVO!, MAS CARNAL!


Por Fabio Campos

Texto base: “... porque ainda sois carnais...” – I Co 3.3a

Uma breve nota precisa ser dita antes de discorrer o assunto proposta no título: “Salvo!, mas carnal”! Não estou tratando de incrédulos, mas de irmãos e irmãs salvos em Jesus Cristo e que sem dúvida alguma herdarão o reino dos céus. Por isso que os refiro como “salvos!, contudo, carnais.

Posto isto, entendo que a maturidade cristã é construída paulatinamente. Ser maduro é ser “experimentado” nas coisas de Deus. Muitos do que são “maduros” na fé também precisa examinar-se para identificar seus pontos fracos e poder trata-los pela graça de Cristo para chegar a “estatura do varão perfeito” (Ef 4.13). Temos nossas áreas de imaturidade! Todavia, é importante salientar que tempo de igreja e de conversão não pode ser o crivo para analisar tal estágio. Muitos crentes com mais de quarenta anos de vida cristã ainda são imaturos na fé. Conhecem as Escrituras, mas não conseguem pratica-las no convívio social e na igreja local. São como crianças que decoram versículos, mas não compreende o significado para poder aplica-lo na sua vida cristã.

Dentro das comunidades cristãs, grande parte dos irmãos, é imatura. É aquilo que Paulo diz: “carnais, meninos em Cristo” (1 Co 3.1). Vejamos então a luz das Escrituras à postura de um “crente carnal”.

1. Invejoso: Paulo diz que os meninos na fé são invejosos (1 Co 3.3). Até choram com os que choram, mas não consegue se alegrar com os que se alegram. Quanta disputa por cargo tem dividido nossas igrejas. A impressão que tenho é que trata de pessoas frustradas na vida secular - que pelo dom dispensado por Deus, enxergam uma oportunidade no evangelho de ser apreciado pelas pessoas.

2. Contenciosos: Esse tipo de irmão gosta de jogar uns contra os outros. É sectário! Faz seu próprio partido e pelo litígio dividem a igreja entre “direita” e “esquerda”. Arrazoe no seu coração e peça discernimento a Deus quando você estiver próximo deles. A Bíblia nos ensina para não “aplicarmos o nosso coração a todas as palavras que se diz, porque logo mais presenciará tal pessoa falando mal de você” (Ec 7.21).

O capítulo 3 [13-18] da Carta de Tiago trata justamente deste tipo de comportamento. O qual ele denomina como “animal e demoníaca”. É importante frisar que Tiago alerta aqueles que diziam ser sábios e inteligentes (v.13). Isto nos mostra que o nosso conhecimento teológico e bíblico não nos faz maduros e cristãos espirituais. Ajuda! Mas o comportamento, diante disso, através de um espírito manso e tranquilo -, é o que mais vale perante de Deus (1 Pe 3.4). Muitos têm uma aparente maturidade – uma excelente teologia – são persuasivos e habilidosos nas articulações dos argumentos – mas diante de Deus, são carnais.

Tiago convoca um debate com estes irmãos para provar quem é o mais sábio. Porém, sua refutação não é teológica nem apologética, mas comportamental: “Quem é sábio e tem entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria” (Tg 3.13 NVI).

Partindo deste pressuposto Tiago começa expor sua refutação diante daqueles que se entendia por “sábio” e “inteligente”. Ele começa a denunciar os “frutos da árvore”, pois assim disse o Senhor: “pelos frutos os conhecereis”. Estes “sábios” e “entendidos” abrigavam no seu coração “inveja e amargurada”. Tinham sede por “discussões tolas”. Este é o ponto mais forte do debate - quando Tiago diz: este tipo de sabedoria é “terrena”, “animal” e “demoníaca” (Tg 3.15).

O grande teólogo norte-americano, Benjamin Breckinridge Warfield, disse: “Antes de ser erudito o ministro [posso acrescentar aqui os irmãos] deve ser devotado a Deus, [e o] mas grave erro é colocar estas coisas em contradição” ¹. Paulo exortar aqueles que estão mais maduros na fé a não “agradar a si mesmos”, antes, suportar as “debilidades dos fracos” (Rm 15.1). Repare que não se trata de uma algo fácil. O próprio apóstolo pede uma força tarefa: “não agradar a si próprio”. Este tipo de atitude só pode ser praticado por alguém que realmente possui um coração devotado a Deus.

O maior erudito que o cristianismo já teve – Paulo de Tarso -, diz que “o conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica. Quem pensa conhecer alguma coisa, ainda não conhece como deveria. Mas quem ama a Deus, este é conhecido por Deus” (1 Co 8. 1-3 NVI). Paulo diz neste trecho que “o saber nos faz conhecidos aos homens” e o “amor nos faz conhecidos de Deus”. Fica em nosso “colo” a decisão de quem queremos ser conhecidos.

Tiago continua a expor sua refutação confrontando à “sabedoria” daqueles que diziam ser sábios. Desafiando estes irmãos, Tiago diz: “se você é sábio, então mostre isso em mansidão mediante um proceder digno através das suas obras” (v. 13). “Segundo a Bíblia de estudo Palavras Chaves”, a “mansidão” que Tiago diz, trata do “resultado da decisão de um homem forte de controlar as suas reações, em submissão a Deus” (p. 2368). Você tem argumento – conhece do assunto – mas assim como o homem forte que sabe controlar suas reações, controla seus impulsos pecaminosos falando o que é certo da forma certa, mesmo que contrariado - tudo por amor a Deus.

“A Bíblia de estudo Palavras Chaves” diz que a “sabedoria” que Tiago usa em seu argumento “representa a sabedoria divina, [que é] a capacidade de regular o relacionamento da pessoa com Deus” (p. 2398). Trata do temor ao Senhor que é o princípio de toda sabedoria. É o ato de você olhar para o “débil” na fé com temor e tremor por ser ele alguém salvo e remido pelo Senhor Jesus Cristo (Rm 14.1). Esta sabedoria não compara a si mesmo com os homens da sua volta, mas olha para a luz e entende que a“Palavra de Deus esclarece e dá entendimento ao simples” (Sl 130.130). Como disse o apologista C. S. Lewis: “Quem está no processo de se aperfeiçoar, cada vez mais compreende com maior clareza o mal que existe em si”. Ele [o maduro na fé] percebe que nada é, quando entende que somente em Cristo há “todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl 2.3).

Dentro da ortodoxia cristã o termo “verdade” é muito defendido. De fato tem que ser! Só que Tiago diz que se procedermos com a “sabedoria terrena”, estaremos “mentindo contra a verdade” (v. 14). Pode ter certeza, quando há “confusão e toda espécie de coisas ruins”, tal atitude provém do “Maligno” (v 15-16). Paulo diz também que o “ciúme” e a “contenda” são sentimentos de homens que ainda não cresceram na fé e que seu comportamento é o mesmo das pessoas do mundo (1 Co 3.3).

Irmãos, como apreciador da teologia ortodoxa reformada - por ter alguns artigos escritos com teor apologético - confesso que muitas das vezes sou tentando, após ter feito algo com excelência, a me gloriar do que fiz comparando-me com os irmãos de menos “instrução”. Preciso lutar contra minha natureza pecaminosa! Que Deus tenha misericórdia da minha vida! Joshua Harris eEric Stanford diz que “se você estiver segurando alguma coisa que, ao cair, possa explodir e machucar outras pessoas, você a manejará com todo cuidado” ². Para mim é muito mais fácil defender a fé – articular os argumentos – fazer teologia e apologética – do quê dominar o meu espírito (Pr 16.32) e guardar o meu coração (Pr 4.23). A verdadeira sabedoria não destrói pessoas, mas edifica. É justamente isso que Tiago e Paulo através do Espírito Santo nos ensinam. Uma sabedoria que brota do “novo nascimento”, da água e do Espírito, e não somente da mente. Como disse Jonathan Edwards: “precisamos ter luz na mente e fogo no coração”. Creio ser este o maior desafio: “produzir” os frutos e receber os dons em humildade usando-os somente para a Glória de Deus.

Precisamos crescer em “graça” junto do conhecimento. Se formos “ortodoxos na teologia”, mas os atributos [abaixo] listados por Tiago não tiver em nós, seremos os mais hipócritas - ostentado uma sabedoria mundana “travestida de piedade”. Seremos os piores hereges e por Deus seremos refutados:

“Mas a sabedoria que vem do alto é antes de tudo pura; depois, pacífica, amável, compreensiva, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial e sincera. O fruto da justiça semeia-se em paz para os pacificadores”. – Tg 3. 17-18 NVI

Em temor, pense nisso!

Soli Deo Gloria!

Fonte: Fabio Campos

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Separado dos pecadores ou comilão e glutão?



Por Josemar Bessa

“Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado,separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus” - Hebreus 7:26 - Apenas parte da verdade nos leva ao completo erro.

Muitas vezes o homem vai até as Escrituras não para ser transformado por ela, mas para tentar encontrar uma justificação para o seu estilo de vida, estilo de vida que não flui da prioridade de ver Deus glorificado na sua vida, mas centrado em si e em seus deleites.

Esse tipo de motivação fecha os olhos do entendimento das Escrituras. Muitos justificam seu estilo de vida (muitas vezes até dizem estarem sendo apenas missionais) baseado num texto de Mateus 11.19 que diz: “...e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores” -Mateus 11:19

É assim que Cristo se descreveu? É assim que Mateus descreveu Jesus? É assim que o Pai descreveu o Filho. Jesus foi referido por seus inimigos como“glutão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores” – Esses mesmos inimigos disseram: “Mas alguns deles diziam: Ele expulsa os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios” Lucas 11:15 – Esses mesmos homens disseram que João Batista tinha demônio: “Porquanto veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio” - Mateus 11:18

Jesus não era nenhuma das coisas que a expressão quer mostrar, nem ele procurou tal reputação. Essa era a maneira de os Fariseus... difamarem o Filho de Deus, João Batista...

Ele era um “amigo de publicanos e pecadores”, apenas no sentido de que os levantou e salvou ( como Zaqueu, por exemplo, ou o próprio Mateus ) – os tirou para fora do lamaçal do pecado e colocou seus pés sobre a rocha. Tentar usar a difamação dos Fariseus como desculpa para o mundanismo, mostra a mesma hostilidade, por fim, a quem Cristo de fato era – O Deus santo, o santo Filho de Deus: “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus” - Hebreus 7:26 – Separado dos pecadores. Essa não é uma definição que flui dos fariseus – mas de Deus.

Ele era um “amigo de publicanos e pecadores”, apenas no sentido de que os levantou e salvou, mas não em adotar ou incentivar a sua vida e seu estilo de vida de amor ao pecado, usando seu linguajar chulo, obsceno... por abraçar seus valores moldados pelo pecado, por abraçar o pecado como entretenimento... abraçando essas coisas a fim de ganhar sua admiração ou ganhar a adesão deles como discípulos... Isso é simplesmente cometer a mesma blasfêmia dos fariseus – Ele era “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores...” – Ele confrontou a maldade e repreendeu seus pecados tão corajosamente como ele pregou contra os erros dos fariseus: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem! Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o, e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida coxo, ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno”. - Mateus 18:7-8

Cristo também comeu e bebeu com fariseus - “E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele; e, entrando em casa do fariseu, assentou-se à mesa” -Lucas 7:36 – tão facilmente como Ele comeu com publicamos. Nenhum dos dois – publicanos ou fariseus – moldaram a vida dEle. A vida dos dois grupos era uma vida que desonrava a Deus, digna de Seu desprazer e juízo – e os dois grupos de homens foram chamados ao arrependimento e a mudança radical operada pelo Espírito Santo que leva o homem a viver como Paulo descreveu: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus -.Romanos 12:1-2

A diferença significativa entre o cobrador de imposto típico, não é que sua vida não mudou e ele continuou com o mesma visão e estilo de vida, mas achou Jesus legal. A diferença é exatamente que eles estiveram mais dispostos a confessar seu pecado, seu estilo de vida ofensivo a Deus e confessar sua própria necessidade desesperada de perdão e transformação de sua vida que os fariseus. A diferença foi exatamente não continuarem sendo os mesmos. É o que aconteceu com Mateus. Ele foi chamado ao arrependimento e foi completamente transformado: “E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na recebedoria um homem, chamado Mateus, e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu”. Mateus 9:9 – Ou seja, ninguém pode usar o cobrador, publicano Mateus, para justificar sua falta de transformação que afeta toda a sua vida, valores... do mundo para Deus, do pecado para a santidade...

A Bíblia não faz a menor sugestão que Jesus assumiu a aparência e o estilo de vida de um publicano, seus prazeres pecaminosos... tenha se tornado um glutão... (par dizer pouco)... a fim de ganhar a aceitação de uma subcultura sem Deus. Ele não o fez. Ele mesmo era e é o Deus santo, “separado dos pecadores!”.

Enaltecer símbolos de indulgência carnal, como se fossem válidos como emblemas da identidade espiritual, não passa de desculpa de um coração mundano. Nenhuma indulgência carnal pode promover a glória e a causa do reino de Deus.

Quando disfarçamos o estilo de vida do homem sem Deus e em seus pecados como estratégias... isto não altera a sua verdadeira natureza. O homem que faz isso na verdade se assemelha a Ló, que armou sua tenda na direção de Sodoma, e não com Cristo, que é “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores...”

A descrição e visão que os fariseus tinham de Filho de Deus: “...e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores” -Mateus 11:19 - “Mas alguns deles diziam: Ele expulsa os demônios por Belzebu, príncipe dos demônios” Lucas 11:15.

A descrição de Deus: “Porque nos convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, e feito mais sublime do que os céus...” - Hebreus 7:26

Que descrição encontra a alegria do teu coração e molda sua vida?

Fonte: Josemar Bessa

Usos e costumes, tradições e a cruz de Cristo

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Por Maurício Zágari

A cruz é o centro da nossa fé. Tudo o que tem a ver com a crença cristã se baseia na subida do Cordeiro à cruz, para se oferecer como sacrifício pelo perdão dos pecados. Sem o madeiro, não há cristianismo. Assim, podemos dizer que esse objeto é o mais importante da nossa religião. Mas… onde está a cruz? Por que ela não foi preservada? Que fim levou? Bem, eu acredito que sei onde está a cruz de Cristo.

O tempo de decomposição da madeira varia muito. Em uma floresta úmida, um galho de árvore caído ao chão leva cerca se seis meses para desaparecer. Madeira pintada, por sua vez, demora 13 anos. Se houver cupins por perto e nenhum produto químico que a preserve, a decomposição é acelerada. Imersa em água, por vezes ela dura mais (como antigos navios naufragados). Mas raríssimas vezes vai durar séculos – e, ainda assim, se constantemente tratada.

A cruz de Cristo, da mesma maneira que as cruzes em geral daquela época, ficava exposta à influência do clima. Chuva, vento, cupins, fluidos corporais e o constante contato com carne morta cheia de bactérias que causam decomposição. Ela certamente não foi usada somente por Jesus, mas, provavelmente, foi reaproveitada em dezenas, talvez centenas, de crucificações. Isso significa muito uso, muita exposição, degradação, decomposição facilitada por uma enorme gama de fatores ambientais.

Então, em minha opinião, ela apodreceu. Se fragmentou. Foi decomposta. Virou comida de cupins e outros seres que agem no apodrecimento de matéria orgânica. E suas moléculas estão espalhadas por aí. Talvez o café que você tomou está manhã tenha átomos de carbono que estiveram na cruz de Cristo dois mil anos atrás. Talvez aquele filé do almoço. Ou mesmo a camisa de algodão que está vestindo.

Que tragédia! A cruz que nos deu acesso ao céu possivelmente apodreceu! Bem, na verdade… não é uma tragédia tão grande assim. Atrevo-me a dizer que nem tragédia é. Porque aquela cruz, embora tenha desempenhado um papel superior ao de qualquer outro objeto na face da terra para a salvação da humanidade de seus pecados, não carrega em si nenhum valor espiritual. Ela foi importante para o ato da morte do Cordeiro, mas, depois disso, não servia para mais nada. Assim que Jesus expirou, a utilidade espiritual dela acabou. Estava consumado. Que apodreça em paz.

Na Idade Média, houve uma febre na Europa de pessoas ganhando dinheiro por vender a ricos ignorantes o que seriam “lascas da cruz de Cristo” (foto). Tudo falsificação, mas a falta de entendimento do papel de cada coisa no plano de salvação levou muita gente a valorizar o que não possuía valor algum. Pagavam fortunas para adquirir de espertalhões pedaços de um objeto que não tinha mais importância – isso se fossem de fato da cruz, mas não eram. Em vez de olhar para Jesus, esses cristãos sinceros, mas ignorantes, fixavam-se num acessório.

O ser humano não mudou. Continuamos, em nossos dias, dando valor ao que já teve sua função no passado mas hoje não tem mais. Nos agarramos a relíquias que cumpriram seu papel em algum momento de nossa fé e não percebemos que podemos deixá-las apodrecer sem que isso influencie em nada nossa relação com Cristo. Mantemos usos e costumes de uma era passada que absolutamente não têm mais nenhuma razão de ser e os consideramos o centro de nossa devoção.

Todos conhecemos a história do uso de instrumentos musicais nas igrejas. Quando chegaram as guitarras, os contrabaixos elétricos e as baterias, logo foram associados a musicas pagãs e, consequentemente, demonizados. Só o órgão era visto como um santo instrumento. Os cristãos de então estavam tão agarrados a suas tradições que não conseguiam enxergar que a cruz tinha apodrecido e perdera a importância. Outro exemplo é a chegada do retroprojetor. Quando o hinário começou a ser substituído por esse equipamento – um recurso para que as pessoas pudessem ter as mãos livres e levantá-las durante o louvor – houve gritaria. Como pode não usarmos mais os sacrossantos hinários?! Houve indignação. Hoje ninguém mais pensa nisso.

Os louvores, aliás, foram e ainda são alvo de intenso debate. A ponto de termos inventado uma separação entre “hinos” e “corinhos” que não faz nenhum sentido. Ambos são música cristã, mas os cânticos mais antigos acabaram sendo diferenciados para agradar os irmãos que não gostavam dos estilos musicais contemporâneos. Mas não há diferença na essência desses dois grupos de músicas: sua finalidade enquanto louvor é precisamente a mesma. Até porque aquilo que hoje chamamos de “hinos” foi considerado música contemporânea na época de sua composição. Daqui a 50 anos, tudo o que cantamos hoje serão velhas canções, dignas de serem entoadas por um coração sincero e contrito diante de Deus. Se a música for boa e bíblica, sobreviverá ao teste do tempo e permanecerá; se não, deixará de ser entoada. E só consegue enxergar isso com discernimento quem entende que o que importa é quem esteve na cruz e não a cruz em si.

Quando vou ao culto, leio a Bíblia em formato eletrônico, no meu iPhone. A mensagem é exatamente a mesma de qualquer outra Bíblia. As verdades sagradas estão todas ali. Mas já ouvi muitas vezes críticas a isso, como se só bíblias de papel fossem dignas de ser usadas na igreja. Nos agarramos a pedaços em decomposição de nossa vida e não percebemos que daqui a 50 anos possivelmente a maioria dos irmãos usará as Escrituras em formato de e-book, sem que isso traga qualquer prejuízo à nossa espiritualidade.

Nem vou entrar pela discussão acerca de roupas, uso de saia, proibição de maquiagem, adoção de cabelos compridos, exclusão da barba e outras práticas similares, pois tudo o que tinha de ser dito a esse respeito já foi. Infelizmente, muitos irmãos extremamente bem-intencionados e que amam a Jesus de toda sua alma dão muita importância à madeira e com isso deixam de olhar para aquele que nela esteve pregada. Não devemos condenar ou discriminar quem abraça uso e costumes como se fossem questões centrais na fé, mas precisamos instrui-los. Mostrar que tais práticas não levam ninguém para o céu: a graça de Cristo leva. E que discriminar e oprimir filhos de Deus por causa delas é como dizer a Jesus: “Dá licença, Senhor, saia da frente, pois está atrapalhando a visão da cruz”. Olhe sempre para o crucificado, que é eterno. Não para o que vai se decompor.

Recentemente, uma irmã deixou um comentário no APENAS, profundamente agoniada. Ela escreveu: “Sr.Maurício Sou casada há 20 anos. meu esposo é maravilhoso, porém me obriga a pertencer a uma Igreja em que não acredito muito em suas doutrinas, diz que só aquela Igreja é a certa e que salva, que devo usar apenas saia e ter o cabelo nos pés. Faz acepção de pessoas, já não estou indo mais na Igreja, porém meu esposo tem me tratado muito mal e diz que tem vergonha de mim por eu usar calça. Ele não conversa mais comigo é como se eu não existisse dentro de casa, virei um “objeto” lá dentro. Por favor me ajude.“. Fiquei triste. Vi nesse e em tantos casos semelhantes a graça de Cristo ser substituída por algo que não terá nenhuma influência sobre a vida eterna.

Que fique claro que respeito profundamente os hábitos e a cultura de cada denominação, jamais vou me levantar para criticar, a troco de nada, algo que é importante para um determinado grupo e que não configura heresia, mas fico profundamente tocado quando lascas da cruz se tornam instrumento para oprimir, deprimir e impor um jugo desnecessário a irmãos e irmãs em Cristo. Todo e qualquer uso e costume que substitui a graça salvadora de Jesus pela prática de um hábito cultural olha para a cruz e não para o crucificado. E machuca pessoas, o que fere o primeiro e maior mandamento.

Tenho um carinho enorme por irmãos de todas as denominações. Todas. Respeito profundamente os membros de qualquer igreja que professe o verdadeiro Cristo. Batistas, presbiterianos, metodistas, assembleianos, Deus é amor… se quem está ali é sincero diante do Altíssimo e tem Jesus como Senhor e Salvador, é meu irmão. Não discrimino ninguém. Não ouso dizer que sou “mais cristão do que fulano e beltrano” só porque são adeptos de usos e costumes diferentes dos meus, só porque cantam hinos ou corinhos, só porque são verdes ou azuis. O que é heresia é heresia e devemos combater, mas o que não é não remove ninguém da família de fé. “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Sl 51.17). Se Deus não despreza, como poderia eu? Não me atrevo a ter tamanha arrogância.

Eu não sou melhor do que o irmão do reteté. Eu não sou melhor do que quem proíbe bater palmas ou só canta hinos medievais no culto. Tenho um desejo profundo de que todos alcancem a maturidade espiritual, que abandonem práticas sem sentido e fixem o olhar tão somente no Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Mas, enquanto isso não ocorre, abraçarei todos os que são filhos do meu Pai. Não farei (como já fiz no passado) piadinhas maldosas com quem é diferente de mim em detalhes de sua vida devocional. Não oprimirei quem presta adoração sincera a Deus enquanto adota usos e costumes sem sentido. Não tenho esse direito. Você tem?

Infelizmente, por falta de instrução bíblica correta, muitos se agarram a práticas e usos que não fazem sentido e a tradições decompostas. Naquilo que está ao meu alcance, farei o que puder para levar a eles conhecimento da sã doutrina, que os afaste dessas puerilidades espirituais. Mas, enquanto isso, vou abraçar e estender meu amor fraternal a todos os que fazem tais coisas de coração puro e em adoração sincera ao verdadeiro e único Salvador do mundo. Pois, se eu discriminasse um cristão bom e fiel por qualquer questão relacionada a usos e costumes, não estaria olhando para a cruz e muito menos para o crucificado, estaria cuspindo e esmurrando aquele que mandou amar, até mesmo, meus inimigos – quanto mais meus irmãos.

A cruz apodreceu. Mas o amor que devemos ter por todos precisa permanecer incorruptível – pois Jesus ressuscitou, seu corpo está vivo e seu coração pulsa eternamente por cada filho de Deus, sem exceção.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Fonte: Apenas

segunda-feira, 7 de abril de 2014

CULTO RACIONAL



Por Neto Curvina

“ROGO-VOS, POIS, IRMÃOS, PELAS MISERICÓRDIAS DE DEUS, QUE APRESENTEIS O VOSSO CORPO POR SACRIFÍCIO VIVO, SANTO E AGRADÁVEL A DEUS, QUE É O VOSSO CULTO RACIONAL” (ROMANOS 12:1)

O termo ‘racional’ remete a raciocínio. Parece bastante óbvio. Assim como também, por associação, se entende que somente os seres humanos podem apresentar tal culto, visto que somente eles possuem raciocínio. Os anjos também possuem raciocínio, porém, por natureza não possuem corpo, visto que são espíritos (Hebreus 1:14). Paulo está falando aqui exclusivamente à igreja.

O vocábulo correspondente na versão original o grego “logikên latreian”, ou seja, ‘culto racional’, também pode ser entendido, sem prejuízo, como ‘culto lógico’. De fato, há lógica na racionalidade e vice-versa. Quem acha que essas coisas trazem prejuízo à fé, precisa rever seus conceitos.

O que Paulo está querendo dizer à igreja de Cristo?

Por suas colocações vemos que há uma preocupação do apóstolo em mostrar aos irmãos a necessidade de que se realmente entenda a natureza de tudo isso, no caso, a igreja.

Por que estou aqui? Quem me trouxe aqui? O que vim fazer aqui? O que estão me ensinando é verdade? São questionamento que todos os crentes deveriam se fazer até que encontrassem respostas racionais para todos eles.

O contrário de culto racional é culto irracional. Ou seja, algo que é feito instintivamente, sem critérios ou razões que justifiquem os procedimentos adotados. Em um culto assim é praticamente impossível se seguir o que está escrito: “Tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (I Coríntios 14:40) . É impossível que haja qualquer um dos dois componentes pedidos sem que se entenda a natureza de cada um. E é preciso racionalidade para que isso aconteça. Por isso Deus nos fez diferentes das demais criaturas, ou seja, nos criou à sua imagem e semelhança: para que o adorássemos em espírito e em verdade, conscientes de nosso ato e de nossa missão de adoradores.

O reino de Deus é um reino de decência e ordem. Não há espaço para improvisos de última hora. A construção da arca e do tabernáculo comprovam a mensagem de organização que Deus quer nos ensinar. Até na salvação haverá ordem (I Coríntios 15:23).

Esse é o padrão que deve ser perseguido pela igreja de Cristo. Deus se agrada de uma obra organizada.

Em dias atuais podemos identificar como grande adversário desse padrão, o excesso de emocionalismo que tem se alastrado no meio cristão. A busca incessante pelo êxtase e pela experiência sobrenatural extrabíblica, a incorporação de ‘anexos’ doutrinários à Palavra de Deus, como se esta não fosse suficiente e os modismos importados recheados de técnicas mirabolantes de quebra de maldições e encontros obscuros são os componentes deste fim de séc. XX e início de séc. XXI. O que não é uma surpresa, Paulo já alertava que essas coisas fatalmente aconteceriam (I Timóteo 4:1).

Nesse caldeirão doutrinário sem consistência – já que não se sustentam biblicamente – as pessoas estão se dirigindo às igrejas sem saber exatamente o que vão fazer por sua espiritualidade. Vão dançar, cantar, aplaudir, gritar, enfim, sem entrar no mérito dessas questões, quase sempre falta o elemento principal: a Palavra de Deus. Entram e saem alegres e exaustas. O problema é: entenderam a mensagem? A palavra que foi pregada edificou suas vidas? Deus falou com elas através de seu evangelho? Se à maioria dessas perguntas as respostas forem algo como “acho que sim”, algo está fora do lugar.

Cultos de estudo são sempre vistos como ‘enfadonhos’ e ‘entendiantes’. Já pensou, passar quase uma hora apenas consultando referências na Bíblia? Que chato, não? Agora observe Neemias 8:3 “E leu no livro, diante da praça, que está fronteira à Porta das Águas, desde a alva até ao meio-dia, perante homens e mulheres e os que podiam entender; e todo o povo tinha os ouvidos atentos ao Livro da Lei.” Estudo bíblico das seis da manhã até o meio-dia. Após isso, inclinaram-se, e adoraram o Senhor com o rosto em terra. Que lindo, não?

Uma proposta dessas nos dias de hoje seria impensável. Mas se o trabalho for uma celebração com um nome da moda, aí somente um dia inteiro é pouco.

A questão é que não há culto racional sem o entendimento da Palavra. Os ‘avivalistas’ de plantão trocam a bíblia por apostilas preparadas especialmente para direcionar as pessoas para a conclusão que lhes interessa. Seguem o exemplo das testemunhas de Jeová. Alguém já viu um deles evangelizando com uma bíblia em punho? Não, só vão às ruas com exemplares de ‘sentinela’ e ‘despertai’ ou, quando muito, com seus livretos particulares.

Por isso Paulo fala em ‘sacrifício vivo’. Ou seja, sacrifício da vontade da carne para fazer a vontade de Deus. E isso requer dedicação à sua Palavra e não somente àquilo que dá prazer, como por exemplo, ir para um retiro. Requer decência e ordem. Compromisso e organização.

O ateísmo moderno e o analfabetismo teológico


Por Alex Belmonte

A palavra ateísmo em seus vários campos é de difícil definição, porém na sua etimologia a palavra vem do grego a, “não” e theos, “deus”, ou seja, é a descrença em deuses ou Deus, e também a descrença ou negação de qualquer realidade sobrenatural. Desde a Renascença, o termo passou a indicar a atitude de quem não admite a existência de uma divindade. Chamam-se ateus os que não admitem a existência de um ser Absoluto, dotado de individualidade e personalidade reais, livre e inteligente.

No Dicionário Teológico do teólogo Claudionor Corrêa de Andrade, temos a seguinte declaração mais ampla e direta acerca do ateísmo:

…O ateísmo é ainda a condição do homem que descarta a realidade do Único e Verdadeiro Deus (Rm. 1.28). No Antigo Testamento, temos uma referência a um ateísmo pragmático: não se preocupa com a essência, nem com a não existência do Todo-Poderoso; ensina que, na vida do ser humano, o Criador é perfeitamente prescindível (Sl. 10.4; 14.1). Os ateus, segundo os gregos, eram: 1) os ímpios; 2) os que não contavam com o concurso das forças sobrenaturais; 3) e os que manifestavam crença alguma nos deuses. (pág. 66 – 17ª Edição, 2008 – Ed. Cpad).

O ateísmo também fez raízes. O agnosticismo e o ceticismo, por exemplo, de certa forma entram no âmbito do ateísmo, porque o agnóstico é alguém que crê e propaga a doutrina que defende a incognoscibilidade de qualquer ordem de realidade desprovida de evidência lógica satisfatória. O termo foi criado por T.H. Huxley (1825 – 1895), para expressar o seu desprezo em face da atitude de certeza dogmática simbolizada pelas crenças dos antigos gnósticos. Nega a possibilidade de um conhecimento racional e certo de qualquer realidade transcendente. Para o agnosticismo a razão humana não pode adquirir uma ciência certa, a não ser das realidades apreendidas pela experiência sensível; apenas afirma que isso não se pode conhecer com certeza por meio da razão. Como sistema teológico foi condenado pelos apóstolos e pela Igreja. Sob qualquer forma que se apresente, o agnosticismo deve ser considerado segundo o sistema científico a que se amolda e também os pressupostos da teoria do conhecimento que adota.

Quanto ao termo “analfabetismo teológico” sugerido no título deste artigo, se trata de um resultado por meio do uso do método analítico e interpretativo, dentro do argumento e exposição teológica de grupos e pessoas atéias, cujo final é a clara evidência da falta de conhecimento e incapacidade da visão ateísta em sua tentativa de rejeitar a pura Verdade bíblica. O que restou disso foi a certeza de uma mera falácia por parte desses.

Partindo desse princípio a primeira coisa que encontramos é de fato a existência de seis tipos de ateísmo. Esses diferentes tipos revelam sua expansão de pensamento e atitude, além da não unidade de pensamento. São esses: O Ateísmo Tradicional, Mitológico, Dialético, Semântico, Conceitual e Prático.

Vamos explorar aqui apenas os tipos Mitológico e Dialético, desejando a abordagem dos demais num próximo e possível artigo.

O Ateísmo Mitológico. Os que defendem essa corrente acreditam que o mito “Deus” jamais foi um Ser, mas o modelo vivo pelo qual as pessoas viviam. Esse mito foi morto pelo avanço do entendimento e da cultura do homem. O mais destacado ateu dessa linha é Friedrich Nietzsche, nascido em Röcken (Alemanha) em 15 de outubro de 1844. Ele Faleceu em Weimar no dia 25 de agosto de 1900.

Nietzsche nasceu numa família luterana, filho de Karl Ludwig, seus dois avós eram pastores protestantes. O próprio Nietzsche pensou em seguir a carreira de pastor, entretanto, rejeita a fé durante sua adolescência, e prefere os estudos de filosofia afastando-se do estudo teológico. Ingressou no semestre de Inverno de 1864-1865 na Universidade de Bonn em Filologia Clássica.

Nietzsche baseou sua crença de que Deus jamais existiu em vários pontos fundamentais (Além do bem e do mal, pág. 23). Ele argumentou que o mal no mundo eliminaria ainda mais o Criador benevolente. Nietzsche julgou que a base para a crença em Deus era puramente psicológica, e exortou:

Rogo-vos, meus irmãos, permanecei fiéis à terra, e não creiais naqueles que vos falam de esperanças de outros mundos!”. Acrescentou: “No passado o pecado contra Deus era o maior pecado; mas Deus morreu, e esses pecadores morreram com ele. Agora pecar contra a terra é a coisa mais terrível. (Assim falava Zaratustra, pág. 125).

O Analfabetismo Teológico de Nietzsche. Analisando os principais pontos dentro do argumento de Nietzsche entendemos que sua apresentação acerca da não existência de Deus está totalmente equivocada (teológica e filosoficamente falando) e falha para o assunto em questão. Se Friedrich Nietzsche seguisse a linha de raciocínio coerente e sana, a raiz de sua ideia partiria justamente do detalhamento da morte psicológica de Deus. Para isso responderia as seguintes perguntas: 1. Se Deus de fato existiu de forma puramente psicológica (como afirmou) em que período isso ocorreu na mente humana? 2. Por que Deus morreu e seus efeitos psicológicos não morreram com Ele (se isso também era Deus)? 3. Quando Deus morreu? E como morreu? 4. Por que um Ser tão “insignificante e morto” ainda é lembrado até mesmo pelo ateísmo? (isso também é psicológico?) e 5. Como uma divindade que existiu apenas na psique humana pode permanecer influente de forma coletiva em pleno século XXI?

Infelizmente Nietzsche não pode nos responder a esses pontos, pois sua linha de raciocínio é deficiente e repugnante, e ficou mais particularizada do que compartilhada. Mas, contudo, chegamos à seguinte conclusão: Nietzsche como filósofo destacado, definiu erroneamente o termo “psicologia” quando procurou assim argumentar a não existência de Deus por esse caminho.

A Psicologia (do grego psykhologuía, de “psique, “alma”, “mente” e lógos, “palavra”, “razão” ou “estudo”) é a ciência que estuda o comportamento (tudo o que um organismo faz) e os processos mentais através do comportamento. O principal foco da psicologia se encontra no indivíduo, em geral humano. Nietzsche ignorou ou talvez não alcançou o conhecimento de que paralela à psicologia científica aqui tratada existe também uma psicologia do senso comum ou quotidiana, que é o sistema de convicções transmitido culturalmente que cada indivíduo possui a respeito de como as pessoas funcionam, se comportam, sentem e pensam. A psicologia usa em parte o mesmo vocabulário, que adquire assim significados diversos de acordo com o contexto em que é usado. Assim, termos como “personalidade” ou “depressão” têm significados diferentes na linguagem psicológica e na linguagem quotidiana. A própria palavra “psicologia” é muitas vezes usada na linguagem comum como sinônimo de psicoterapia e, como esta, é muitas vezes confundida com a psicanálise.

O bem da verdade é a história da Psicologia se confunde com a Filosofia até meados do século XIX. Sócrates, Platão e Aristóteles deram o pontapé inicial na investigação da alma humana. Para Sócrates (469/399 a C.) a principal característica do ser humano era a razão – aspecto que permitiria ao homem deixar de ser um animal irracional. Platão (427/347 a C.) – discípulo de Sócrates, conclui que o lugar da razão no corpo humano era a cabeça, representando fisicamente a psique. Já Aristóteles (387/322 a C.) – discípulo de Platão – entendia corpo e mente de forma integrada, e percebia a psique como o princípio ativo da vida.

Dessa forma, se alguém como Nietzsche afirma que a base para a crença em Deus era puramente psicológica, está na verdade afirmando a existência real de Deus como parte da própria existência humana. O uso do pensamento filosófico para argumentar a inexistência de Deus com base no argumento psicológico só poderia resultar numa única verdade: Deus sempre existiu e ainda existe no coração, na mente e na experiência humana.

O Ateísmo Dialético. Norman L. Geisler em sua Enciclopédia de Apologética (Ed. Vida) diz que houve uma forma passageira de ateísmo Dialético defendido por Thomas Altizer que propôs que o Deus transcendente do passado morreu na encarnação e crucificação de Cristo, e essa morte foi posteriormente realizada nos tempos modernos.

Na década de 1960 Thomas J. J. Altizer propagou a “morte de Deus” em nossa Era (correspondendo ao século XX da recente época). Para isso ele criou a “morte divina” em três estágios:

1º. A morte na encarnação, onde, de acordo com Altizer, o próprio Deus morreu quando se encarnou em Cristo. Segundo acredita, o céu ficou vazio, e esse Deus ao se tornar carne, ao que parece, cometeu suicídio. 2º. A morte na cruz. Sendo Cristo o próprio Deus acabou morrendo quando foi crucificado na cruz. Altizer acreditava que Cristo se limitou aos poderes divinos e não conseguiu se livrar da morte. 3º. A morte nos tempos modernos. Finalmente Deus morreu nos tempos modernos na teologia de Thomas Altizer. Ele morreu na consciência humana, na nossa época.

O Analfabetismo Teológico de Thomas Altizer. O argumento ateísta de Altizer é muito mais vexatório que o anterior exposto, tamanha é a evidencia de seu flácido conhecimento teológico, já que o mesmo afirmou que “só o cristão sabe que Deus está morto” (O evangelho do ateísmo cristão – Altizer, p. 25) se comparando assim com os cristãos.

Não é difícil identificar o limite no conhecimento de Altizer, pois de início percebe-se que lhe falta uma exegese correta da visão trinitariana, causando assim uma interpretação errônea de quem realmente é o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Altizer não alcançou o conhecimento de que quando a Bíblia menciona a palavra “Deus” está se referindo á natureza, essência e substancia divina das três Pessoas distintas na trindade, e não um limite ás mesmas. Com isso é fácil o entendimento de que quando o Verbo se fez carne, o que aconteceu não foi a subtração da divindade, mas a adição da humanidade.

Outro erro argumentativo de Altizer é a criação dos estágios da morte de Deus. Se Deus morreu logo na encarnação como pode morrer novamente na crucificação? Logo, inconscientemente, Altizer mostra a sua fé em dois princípios doutrinários da Bíblia: 1º. Que houve uma encarnação. Sendo a encarnação de Cristo um milagre na esfera espiritual, Thomas Altizer acreditou nesse milagre (sem ele mesmo perceber), de acordo com seu relato. 2º. Que houve um dia uma crucificação, o que naturalmente vai gerar a ressurreição. Nenhum ateu pode acreditar na crucificação como realidade cristã sem aceitar a ressurreição como fato. O mínimo que poderia dizer é que “alguém um dia foi crucificado, não necessariamente o Cristo”.

Conclusão: O Rev. Dr. Alderi Souza de Matos, do Instituto Presbiteriano Mackenzie, em uma de suas contribuições literárias apresenta uma resenha traduzida, na argumentação de Lee Strobel, intitulada “Em defesa da fé” (Ed. Vida, 2002, p.363) onde inicia dizendo que um dos maiores desafios enfrentados pelos cristãos é a existência de certas questões espinhosas levantadas pelos céticos que parecem pôr em cheque algumas afirmações centrais da fé cristã. Isto vem acontecendo desde os primeiros tempos da igreja, como comprovam tanto os documentos do Novo Testamento quanto os escritos dos apologistas e polemistas, os defensores intelectuais do cristianismo no 2º e no 3º séculos.

Para Dr. Alderi o mundo contemporâneo, secularizado e pluralista, herdeiro do iluminismo e do racionalismo, continua a fazer formidáveis questionamentos à fé cristã, questionamentos esses que são um obstáculo para muitos descrentes e uma fonte de incertezas para um grande número de cristãos. Essas objeções concentram-se em torno de questões como a fidedignidade da Bíblia, a veracidade das alegações cristãs, bem como a natureza e o caráter de Deus.

O que propomos para o crente fiel à Palavra de Deus e o leitor da Bíblia é fazer uma análise a partir dos argumentos apresentados pelos céticos. Um estudo bíblico sistemático nos principais temas da fé revelará a falta de harmonia no argumento contrário às Verdades espirituais, e levará você ao crescimento e edificação. Busque interpretar a Bíblia respeitando os princípios e regradas da hermenêutica teológica. E para se manter na correta linha de análise, comece orando à Deus.

Fonte: NAPEC