Por Maurício Zágari
Mudar de opinião, mudar de país, mudar de time, mudar de casa, até mesmo mudar de noivo... tudo isso faz parte da vida. Vivemos em constante mutação. É um fato inexorável da existência humana. Às vezes não deveria acontecer. Mas o grande problema ocorre quando mudamos... para pior. A História da Igreja tem sido marcada por mudanças: da primitiva perseguida para a imperial, dela para a feudal trevosa, daí para a escolástica, enfim a reformada, chegando aos nossos dias com pelo menos três grandes vertentes: católica, ortodoxa e evangélica. E, dentro de cada uma dessas, houve dezenas de mutações que geraram ainda mais subdivisões: carismática, Opus Dei, ortodoxa russa, ortodoxa grega, pentecostal, quaker, batista, metodista, renovada, tradicional... Meu Deus, que mosaico incrível de expressões do cristianismo! Cada pedaço desse mosaico com suas cores e suas características, umas silenciosas, outras barulhentas, umas veneram santos, outras creem em dons milagrosos, há os cessacionistas, os retetés que sobem monte... enfim, tem de tudo. No meio desse turbilhão, o que todas têm em comum? Atrever-me-ia a dizer: a (tentativa, pelo menos) da centralidade de Cristo.
E as mutações não param. Em nossos dias, além de tudo o já mencionado há Missão Integral, Igreja emergente, igreja dos sem-igreja (ou adenominacionais, como preferem ser chamados), igrejas em células, igrejas em lares, igrejas que só querem ser chamadas de "comunidades" etc etc etc. E acaba de nascer não a terceira ou a quarta via de cristianismo no Brasil, mas a enésima via: um pastor que inventou que Deus abriu mão de sua soberania em casos de tragédia (uma heresia das mais cabeludas, diga-se de passagem) declarou em seu blog o rompimento com a Igreja evangélica. Pronto. Nasce maaaaais um grupo entre tantos. A história se repete e temos um novo capítulo - que é só mais do mesmo. Nada revolucionário, só mais um que prefere eleger-se a si mesmo como a via que mais lhe agrada. Parei para ler o manifesto de desligamento desse senhor e o que vi foram questões pertinentes e outras terrivelmente ingênuas no que tange à Igreja evangélica brasileira de nossos dias.
Faço questão de dizer - e que fique muito claro: este texto não é sobre esse cavalheiro, sobre um indivíduo. É sobre o fenômeno embutido na sua decisão de romper com os evangélicos. Usarei seu manifesto apenas como gancho para refletirmos sobre o estado das coisas na Igreja evangélica e na cabeça de multidões que se consideram cristãs.
O referido pastor reclama que "não cessam os rótulos e os diagnósticos sobre minha saúde espiritual". Achei interessante alguém que subverte o que se diz desde Gênesis 1.1 sobre Deus considerar a reação a suas ideias como algo extraordinário. Não seria óbvio que alguém que cria uma nova teologia estivesse sujeito a isso? Qual seria exatamente a surpresa? Mas esses diagnósticos parecem surpreendê-lo - o que me surpreende - uma vez que ele próprio rotula: em post recente chamou os calvinistas de "malditos". Isso não é um rótulo? Somos assim: falamos algo, cremos em algo e agimos exatamente do modo oposto. Bem-vindo ao mundo maravilhoso dos cristãos em processo de santificação.
Veja, por exemplo: em seu post, o referido pastor expõe uma certa chateação com o que seria uma incompreensão alheia e comenta que "várias pessoas avisam que intercedem a Deus para que Ele me acuda". O que deveria ser motivo de alegria para qualquer cristão, aliás: eu, por exemplo, peço sempre que orem ao Senhor por mim. Se acharem que estou pecando, que orem mais ainda, pois... eu posso estar mesmo! Às vezes sem perceber, mas posso. Que orem! Isso é um mal?
Será, me pergunto, que haja qualquer um que esteja acima do erro e da crítica e por isso entenda que as pessoas não devem interceder pelo socorro de Deus em sua vida? E, como ele, será que muitos líderes não estão fazendo o mesmo? "Soli Deo Gloria": será que isso tem sido uma realidade de vida ou apenas uma frase feita? Será que no nosso país a vaidade de muitos líderes não os tem feito até mesmo se sentirem acima da necessidade de intercessão? Isso fala de ego, soberba e vanglória. Temo que sejam pessoas que desprezam a intercessão as que conduzem grande parte do rebanho do Senhor soberano.
Em seguida o referido pastor diz que sua peregrinação cristã está, há muito, marcada por rompimentos, e os descreve. Isso fala muito. Romper então é uma prática corrente na vida desse senhor e mais um rompimento... é apenas mais um. Afinal, todos devem estar errados e é preciso pular de galho em galho até achar um lugar que seja digno de sua espiritualidade. Há muitos cristãos que agem assim: gostam da pregação da igreja A, do louvor da igreja B, dos amigos da igreja C e assim vão até a igreja Z. Somos cristãos "tarzans", que pulam de árvore em árvore porque nenhuma é boa o bastante para a maravilha que somos nós. E olha que somos tão maravilhosos como Adão.
Depois, o pastor descreve como tornou-se um ativista numa igreja presbiteriana e as decepções que teve por conta de desavenças com a liderança. Foi para a Assembleia de Deus e lá encontrou algo que não é raro na denominação (perdoem-me, irmãos assembleianos, mas eu mesmo, convertido que fui nessa amada denominação, tenho que concordar que isso ocorre): legalismo, politicagem interna e ânsia de poder temporal. "
Não custou e notei a instituição acorrentada por uma tradição farisaica. Pior, iludia-se com sua grandeza numérica". Isso acontece. E tenho de reconhecer que nesse ponto ele acertou no alvo. Nós, cristãos, amamos números! Igrejas são julgadas pelo números de membros. Cantores gospel são avaliados pelo número de CDs vendidos. Pregadores são avaliados pelo número de "glórias" e "aleluias" que o povo grita durante suas berrações, digo, pregações. Números, números, números. E isso quando a Bíblia chama os salvos de "pequeno rebanho". E "pequeno" significa "de tamanho reduzido".
Aí o pastor rompe de novo: "Agora sinto necessidade de distanciar-me do Movimento Evangélico". A pergunta que me faço não é com relação a ele, porque, honestamente e sem querer mal a esse senhor, penso que o Movimento Evangélico não perde absolutamente nada com sua saída. Minha pergunta é: esse exemplo levará aqueles que não têm fundamentos bem postos na Rocha a quê? Os que o idolatram (e são muitos) seguirão seu exemplo? Onde isso vai parar? A que isso levará o Corpo de Cristo? Vamos esquartejar esse Corpo até quando? Os líderes, que são exemplo, estão ensinando o quê às ovelhas? Que a ruptura é o caminho? Se seu cônjuge tem defeito rompa com ele/ela? Se seu pai e sua mãe são difíceis rompa com eles? Se seu amigo te chateia de algum modo rompa com ele? Rompa, rompa, rompa?! Meu Deus... E pensar que Jesus encarnou para que a ruptura, o rompimento que havia entre a humanidade e Deus acabasse e que a comunhão fosse restabelecida. Mas nós cismamos em fazer o contrário do Mestre. Cismamos em fazer o que Jesus quis desfazer.
É então que o pastor diz algo importantíssimo: "
Não cesso de procurar mentores. Estou aberto a amigos que me inspirem a alma". Isso mostra o risco das amizades que escolhemos. Eu não quero amigos que me levem a romper, romper, romper. Não é isso que significa "igreja reformada, sempre reformando" - uma das máximas da Reforma Protestante. Reformar não é demolir. É restaurar. Imagine se em 2 mil anos de Cristianismo todos tivessem mentores e amigos cujas conversas e conselhos levassem à ruptura. Pergunto novamente: aonde isso nos levaria além de a um esfacelamento total? Será que inspirar a alma significa isso? Inspirar a uma independência
ad aeternum? Cuidado, querido, querida, com quem você elege como seus mentores, seus amigos e discipuladores. Eles farão a diferença na sua vida. Fizeram na minha. E se você se cerca de bajuladores, que te dizem só o que você quer ouvir e não o que precisa ouvir; ou ainda, de pessoas que lhe ajudam a inventar teologias heréticas, que roubam de Deus sua soberania ou coisa do gênero... melhor não tê-los. Fuja desses amigos e mentores - que, aos olhos da sã doutrina, são, na verdade, "amigos da onça".
Após seus prolegômenos, o referido pastor chega enfim em seu manifesto ao ponto nevrálgico: as razões de seu rompimento com a Igreja evangélica: "
Então por que uma ruptura radical? Meus movimentos visam preservar (sic)
a minha alma da intolerância. Saio para não tornar-me um casmurro rabugento. Não desejo acabar um crítico que nunca celebra e jamais se encaixa onde a vida pulsa". Aqui meu coração se entristece. Pois enxergo nessa atitude uma incoerência brutal, que nada mais é do que o fato de que o cristão comum, como ele diz ser, tem se tornado intolerante. Sim, nós somos intolerantes. (leia mais no post "
A pecaminosa intolerância dos evangélicos"). Mas... tolerar tão pouco o "Movimento Evangélico" a ponto de promover uma "ruptura radical" não é exatamente... Intolerância?! Ou seja: para preservar a alma da intolerância adota-se uma atitude intolerante?! Alguém me explica?! Bem, eu mesmo explico: somos incoerentes. Somos pecadores. Isso que faz intolerantes criticarem a intolerância. Mentirosos criticarem a mentira. Canalhas criticarem a canalhice. Acusadores criticarem quem acusa. Críticos criticarem críticos. É a natureza pecaminosa do coração humano. E pronto.
E ao dizer que não se encaixa onde "a vida pulsa", o que esse senhor está fazendo é o grande erro que uma gigantesca parcela dos cristãos comete: o da generalização. Então a vida não pulsa em nenhum rincão da Igreja evangélica?? Essa afirmação me assombra. Será que não há seiva do Espirito de Deus em nenhum dos ramos evangélicos?! É claro que há! Mas a atitude do pastor reflete o sectarismo que há em muitos de nós. Façamos o mea culpa. Arminianos pensam que calvinistas não pulsam no Espírito e vice-versa. Tradicionais pensam que pentecostais não pulsam no Espírito e vice-versa. Missão Integral sente falta do pulsar entre conservadores, que sentem falta do pulsar entre emergentes, que... por aí vai.
Ele vai adiante: "
Não nego: sou incapaz de viver tudo o que prego – a mensagem que anuncio é muito mais excelente do que eu". Eis aí uma atitude cristã. Isso faz parte de ser cristão: reconhecer-se nada. Reconhecer-se mísero diante de Cristo. Saber-se imperfeito. Isso mostra que mesmo entre os que se recusam a publicar comentários discordantes em seu blog há humildade de reconhecer-se um nada. Isso me dá esperança. Esperança de que os soberbos e as celebridades que demonstram egolatria no dia seguinte tenham lucidez cristã. Jesus... que doce esperança!
O cavalheiro em questão lista por fim quatro pontos que são a síntese dos motivos que o levaram a romper com a Igreja evangélica. Em resumo (destaquei as frases que considero as mais explicativas):
1. "
O movimento evangélico nacional se apequenou. Não consegue vencer a tentação de lucrar como empresa." - Concordo que isso ocorre em muitos lugares. Mas dizer que isso é a tônica da Igreja evangélica no Brasil é conhecer muito pouco dela. É ligar a TV, ler twitter e duas ou três revistas evangélicas e achar que aquilo é a igreja como um todo. Tenho visitado igrejas onde encontro amor, caridade, solidariedade e vejo instituições e pessoas que fazem o que fazem na igreja sem visar ao lucro. Então não, a Igreja evangélica não é isso o que esse senhor descreve. Ele vê parte e a toma pelo todo. Pura miopia. Muitos fazem isso. Veem aqueles três ou quatro da Teologia da Prosperidade e enxergam ali a Igreja. Se magoam com um pastor e se tornam desigrejados raivosos anti-igreja institucional. É a generalização que toma como um câncer muitos cristãos. Repare: esse pastor não está errado em sua crítica. Mas peca ao generalizar e extrapolar para o todo. E muitos fazem isso. Meu irmão, minha irmã... tenha critério.
2. "
Não consigo admirar a enorme maioria dos formadores de opinião do movimento evangélico" - Eu também não, em especial os hereges. Mas admiro muitos, pois são sérios, homens de Deus, tementes. Assim como o pastor descreve, já vi coisas horrorosas. Já vi pastores que inventam teologias em que defendem que Deus abriu mão de Sua soberania em caso de tragédias. Já traduzi um livro de uma editora que foi sucesso de vendas e tomei calote no pagamento. Minha esposa foi falsamente acusada de roubo por ciúme de sua chefe evangélica numa enorme empresa evangélica. Eu mesmo fui acusado de atitudes antiéticas que feriram minha honra por um departamento inteiro de jornalismo de uma editora evangélica. Já vi, como o pastor, mil coisas erradas no meio evangélico. Mas também já vi nos bancos dos templos de paredes de pedras feitos por mãos humanas mas onde habita o Espírito Santo e o Cristo salvador milhões de salvos do inferno. Chorei em batismos. Me emocionei ao ver irmãos doarem de si pelo próximo. Vi amor. E me recuso a acreditar que, porque havia Judas, nenhum apóstolo prestava. Há os 7 mil que não dobraram seus joelhos a Baal. E aí vem a pergunta de Abraão a Deus em Gênesis 18: Se houver dez justos em Sodoma destruirás a cidade? E o Senhor afirma: "Não destruirei". Ao que pergunto: não haverá dez justos na Igreja evangélica? E quem sou eu para desabonar o que Deus não desabonou? Ai de mim se assim o fizer, pois serei anátema! E ai de você se assim o fizer! E ai de qualquer um, sacerdote ou não, se romper com o que Deus não rompeu. Ai... pois a queda é iminente.
3. "
Não desejo me sentir parte de uma igreja que perde credibilidade por priorizar a mensagem que promete prosperidade. Como conviver com uma religião que busca especializar-se na mecânica das "preces poderosas"?.
O que dizer de homens e mulheres que ensinam a virtude como degrau para o sucesso? Não suporto conviver em ambientes onde se geram culpa e paranoia como pretexto de ajudar as pessoas a reconhecerem a necessidade de Deus." - O que me entristece nesse comentário é novamente a generalização. Nada disso faz parte do meu cardápio teológico nem do de dezenas de irmãos que conheço. Torna-se, logo, um comentário generalista e leviano. Somos generalistas e levianos. E, por isso mesmo, precisamos estar na igreja e ouvir a exortação para sermos menos generalistas e levianos. Ponto. Parágrafo.
4. O quarto ponto é o que me mata. Leia com calma: "
Eu, porém, preciso de lateralidade. Quero dialogar com as ciências sociais. Preciso variar meus ângulos de percepção. Não gosto de cabrestos. Patrulhamento e cenho franzido me irritam. Senti na carne a intolerância e como o ódio está atrelado ao conformismo teológico". - Bem, aí eu penso: lateralidade? Como buscar lateralidade dentro de uma fé cujo alicerce fala de si mesmo usando o artigo definido singular:
O caminho,
A verdade,
A vida? Não se encontra isso na filosofia, na psicologia, na sociologia e em nenhuma outra ciência social. Nem nas artes, muito menos na poesia (que amo). Ouço criticas a "cenhos franzidos" mas é o que vejo no rancor das palavras azedas tuitadas e blogadas pelos mesmos líderes que repudiam... o cenho franzido. O pastor em questão está isento disso? Grande parte da igreja está de cenho franzido. Pois não buscamos a resposta no manso Cordeiro. Sobre a intolerância já falamos, e atrela-se ao ódio ao romper com quem não se tolera. Romper é intolerância. Romper é ódio.
E desde quando inconformismo é virtude? Onde na Bíblia diz que ser inconformado é o padrão do Céu? Jesus se inconformou com certas coisas? Sim. Mas também se conformou com muito! "Seja feita a Tua vontade" é conformar-se à vontade do Pai. Comportar-se segundo a liturgia judaica na sinagoga na hora de ler Isaías é conformar-se. Pois conformismo tem a ver com obediência. Quando Jesus pede ao Pai que afaste de si o cálice mas o Pai não afasta, Jesus... se conforma. Lindo exemplo. Não, inconformismo não é necessariamente virtude. Inconformados não são necessariamente o futuro. Nem o exemplo. Muito menos os que apontam o caminho estreito da Cruz.
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Mas o referido pastor termina seu manifesto dizendo "
Desejo desfrutar (curtir) uma espiritualidade sem a canga pesada do legalismo, sem o hermético fundamentalismo, sem os dogmas estreitos dos saudosistas e sem a estupidez dos que não dialogam sem rotular". Minha pergunta é: não é o que todos nós queremos? Esse hedonismo cristão positivo de curtir a espiritualidade sem legalismos? O problema é que muitos na igreja têm confundido mandamentos com legalismo. A palavra "legalismo" virou coringa para tudo aquilo que Deus determina e nós não queremos fazer. De novo - e desta vez preste atenção: a palavra "legalismo" virou coringa para tudo aquilo que Deus determina e nós não queremos fazer. Não tou a fim? Ah, isso é legalismo! Mas a verdade é que talvez 1 % do que chamamos de legalismo seja de fato legalismo. Os outros 99% são nosso beicinho para aquilo que não queremos realizar. Bem-vindo ao mundo maravilhoso da semântica. Só para lembrar o que um certo carpinteiro disse: "Quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me".
E... uma fé sem dogmas? Jesus, muitos querem isso! Mas uma fé sem dogmas não é uma fé! É um pensamento relativista. Para alguém que usurpou a soberania de Deus, ser relativista é fácil, mas para quem segue o Deus da Bíblia, é incompreensível. "Dogma" é sinônimo de "verdade absoluta e incontestável". Não é isso a divindade de Jesus? O nascimento virginal? O sacrifício vicário? Isso é fundamentalismo? O que muitos têm chamado (repetindo como papagaios o discurso de uns e outros) de "dogma" e "fundamentalismo" não sao dogma e fundamentalismo. Não sabemos usar os termos, pois misturamos Vinicius de Moraes e Fernando Pessoa com Mateus, Marcos, Lucas e João.
Impressionou-me em especial o trecho "...sem a estupidez dos que não dialogam sem rotular". Novamente, incoerência. Meu Deus, como nós, cristãos, somos incoerentes e não percebemos nossa incoerência! Pois, afinal, em seu post "O Eleito" o referido pastor rotulou os calvinistas de "malditos". Sinto vontade de rir de espanto. Afinal, esse mesmo cavalheiro, ao inventar que Deus não era soberano, com sua Teologia Relacional, rotulou... o próprio Deus! Ele escreveu no twitter: "Um deus q tem propósito pra tudo, inclusive pra o mal, é réu confesso! E a pena deveria ser a morte!". Isso não é um rótulo? Pois esse é apenas um exemplo do que grande parte da Igreja tem feito: reclama quando fazem algo contra si mas faz o mesmo com os outros. Assim como o referido pastor, eu e você metemos o dedo na cara dos outros, quando o Espirito de Deus está com o dedo na nossa cara.
Isto é: nós, Igreja, muitas vezes cometemos os mesmos erros que os hereges. Assustador, não? Quando falamos de alguém "estamos exortando", mas quando falam de nós dizemos que "estão nos julgando". Somos rotulados e reclamamos, mas também rotulamos. Pecamos tanto quanto os que roubam a soberania de Deus. Nossos pecados são diferentes e podem não ser heréticos (existe pecado não-herético?) , mas pecamos, pecamos, pecamos. Deus tenha misericórdia de nós.
Por fim, em seu manifesto, esse pastor conclui: "
Posso ainda não saber para onde vou, mas estou certo dos caminhos por onde não devo seguir". Nesse ponto concordamos profundamente e creio que a Igreja tem muito a aprender com essa afirmação. Sei por onde não devo seguir. Não devo seguir o caminho fácil da ruptura, mas sim o árduo da permanência, para ajudar a mudar o que está errado. Não devo seguir o das heresias, pois sei que elas levam ao inferno. Não devo seguir o da Teologia Relacional, pois ela rouba de Deus sua inrroubável soberania e faz muitos crerem num Senhor que não é senhor. Não devo seguir o caminho do pula-pula de galho em galho, mas o de buscar que minhas raízes sejam cada vez mais profundas. Não devo seguir o caminho de me eleger como o padrão de todas as coisas, deixando os discordantes orbitarem, distantes, ao meu redor. Não devo chamar irmãos por quem Cristo morreu de "malditos" só porque discordam da minha teologia.
E, acima de tudo, não devo apostatar. A esmagadora maioria dos cristãos acha que "apostatar" significa abandonar Cristo e seguir outros deuses. Só que não é isso o que diz o dicionário: "Abandono público da fé da igreja a que se pertence; abjuração; abandono de um partido ou instituição". Então sim, ao declarar publicamente o abandono da fé evangélica, ao abandonar a instituição que ele chama de "Movimento Evangélico", esse pastor-poeta tornou-se, pelo dicionário, um apóstata. Reafirma sua fé em Cristo mas nega a soberania divina e declara-se de mal com a instituição a que pertenceu. Apostasia. Que poesia triste.
Termino com as palavras de John MacArthur em seu livro "Ministério Pastoral" sobre a importância da igreja, para a sua reflexão:
1. A igreja é a única instituição que nosso Senhor prometeu edificar e abençoar (Mt. 16.18).
2. A igreja é o lugar de reunião dos verdadeiros adoradores (Fp 3.3).
3. A igreja é a assembleia mais preciosa sobre a terra, uma vez que Cristo a adquiriu com seu próprio sangue (At 20.28; l Co 6.19; Ef 5.25; Cl 1.20; l Pe 1.18; Ap 1.5).
4. A igreja é a expressão terrena da realidade celestial (Mt 6.10; 18.18).
5. A igreja por fim triunfará, tanto no âmbito universal como no local (Mt 16.18; Fp 1.6).
6. A igreja é a esfera de comunhão espiritual (Hb 10.22-25; IJo 1.3; 6,7).
7. A igreja é quem proclama e protege a verdade divina (l Tm 3.15; Tt 2.1,15).
8. A igreja é o lugar principal de edificação e crescimento espiritual (At 20.32; Ef 4.11-16; 2 Tm 3.16,17; l Pé 2.1,2; 2 Pe 3.18).
9. A igreja é a plataforma de lançamento para a evangelização do mundo (Mc16.15; Tt 2.11).
10. A igreja é o ambiente em que se desenvolve e amadurece uma liderança espiritual forte (2 Tm 2.2).
Que nós, apesar de todos os defeitos que vemos na igreja evangélica de nossos dias, nunca sejamos egoístas a ponto de escever a triste poesia da ruptura, visando ao nosso bem-estar, mas que permaneçamos. Sim, permaneçamos firmes em meio a tanta coisa errada, mesmo que isso nos custe estresse e ansiedade, para que possamos ajudar a escrever a linda poesia da construção de uma igreja que se torne cada vez melhor.
Paz a todos vocês que estão em Cristo. E Soli Deo Gloria.
Fonte: Apenas