sexta-feira, 31 de julho de 2009

TODA NUDEZ SERÁ CASTIGADA: A SÍNDROME DA FIGUEIRA SEM FRUTO!


Um dos filmes mais badalados da década de 70 foi o “Toda Nudez Será Castigada”. Um filme digno das culpas criadas pela religião dos fariseus cristãos.

Isto porque, contrariamente ao tema do filme, o Evangelho ensina que é melhor andar nu diante de Deus do que tecer para si mesmo as vestimentas da falsa moral e das virtudes autojactantes.
O espírito do Evangelho ensina que Jesus ama a verdade de cada estação da vida humana! Foi por isso que Ele amaldiçoou a figueira que, de modo anômalo, tentava dar aparência de fruto três meses antes da estação própria. Todas as demais figueiras de Israel estavam peladas de folhas. Isto porque a figueira é uma árvore que primeiro apresenta os frutos, e só depois a folhagem. A oferta de folhagem era a promessa da certeza de haver fruto. Mas não havia, era só camuflagem! Foi também por essa razão que nenhuma figueira nua de folhas foi amaldiçoada no monte das Oliveiras; mas tão somente aquela representante vegetal do espírito da religião.

Sim, aquela figueira carrega o valor simbólico de algo primordial: a tentativa humana de se cobrir com folhas de figueiras (desde o Éden), ao invés de se deixar cobrir pelo próprio Deus, e, assim, viver em verdade.

Somente Deus pode vestir o homem aos Seus próprios olhos! De fato, as folhagens da figueira expressavam a realidade espiritual de Israel: cheio de religião; cultuando mais o Templo que no Templo; amando mais a Lei que o Criador; crendo mais nas mecânicas rituais do que na Graça de Deus.

Por isso, mesmo sem qualquer “fruto digno de arrependimento” a oferecer a Deus e aos homens. No grego arrependimento é metanóia; ou mudança de mente. A lição da figueira é forte porque por meio de tal ato Jesus deixa dito que Deus respeita todas as estações da vida, mesmo quando aparentemente não há fruto. Fruto nenhum na estação que não é de fruto, é verdade. Deus ama a verdade! A ausência de fruto numa árvore que não está na estação da frutificação não é uma anomalia, nem tampouco uma declaração de infrutuosidade. Ao contrário: não dar fruto na estação que não é de fruto é o anúncio de que o fruto está em gestação.

Nesse caso, não há fruto aparente, embora a árvore já o tenha, posto que está grávida dele. Assim, mesmo quando não há fruto visível, ainda assim sempre há fruto, pois o fruto pré-existe à sua manifestação visível. Todavia, quando se tenta dar aparência de frutuosidade, não havendo verdade — pois o fruto do ser é verdade e amor —, a própria tentativa de produzir o que não é verdade já é, em si, a maldição. Tal ser seca como aquela figueira secou!

A verdade é verdade quando é estação de fruto e também quando não é estação de fruto, posto que a verdade é o que é. E Deus ama a todo aquele que não teme ser verdadeiro para com Ele.
Caio

Fonte: caio fabio

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Autoridade para manipular crentes!


Fiquei feliz em receber o convite para estar escrevendo ao blog dos 30. Com certeza este espaço será ótimo para a nossa reflexão profunda, pois o nível dos artigos estão excelentes. Espero contribuir de alguma forma também.

Hoje gostaria de abordar sobre um assunto que tem me causado inquietações constantes, tamanha gravidade dos fatos.

É notório que, atualmente vivemos em uma crise no meio eclesiástico Brasileiro. Muitas pessoas estão deixando de frequentar à igreja, desiludidas, feridas e desanimadas com o ambiente eclesiástico. Alguns podem afirmar o contrário, tendo em vista as últimas pesquisas que apontam um crescimento na população evangélica Brasileira, ou até mesmo por causa das diversas igrejas existentes em nosso país que possuem suas "super lotações" (MIR, Renascer, Sara Nossa Terra, IURD, igreja Mundial, Fonte da Vida, Luz para os Povos, etc.), porém não podemos esquecer que - no mínimo, na mesma proporção - ocorre também a saída de pessoas de tais igrejas por diversos motivos, tais como: decepções, abusos autoritários, manipulações, distorções bíblicas, ênfase no dinheiro, etc.

Tenho lido muitos artigos na internet que vem sendo divulgados sobre o tema, também existem diversos livros que estão sendo lançados pelo mundo com o objetivo de encontrar explicações para esta crise eclesiástica, tentando apontar algumas soluções para contornar a situação. Atualmente estou lendo o livro "Porque você não quer mais ir à igreja" - de Wayne Jacobsen e Dave Coleman - que trata exatamente sobre este tema.

Creio que é chegado o momento de abordarmos este assunto, com responsabilidade e temor, e começar a analisar alguns aspectos críticos e preocupantes desta problemática.

Em síntese, na minha opinião, o "ponto nefráugico" está exatamente na questão teológica. Os ensinamentos Bíblicos de muitas igrejas são superficiais, indutivos, interesseiros, fragmentados e místicos.

Superficiais, porque falta um preparo teológico hermeneuticamente correto, falta dedicação, falta zelo pela palavra de Deus e falta pregações expositivas, pois é repassado um ensino bíblico "enlatado" e fragmentado em detrimento de uma interpretação exegeticamente honesta e correta. Indutivos e interesseiros, porque visa exclusivamente os interesses particulares de seus líderes. Fragmentados e místicos, porque é pregado passagens fora de seus devidos contextos para que as mesmas sejam alegoricamente colocadas de uma forma mística.

Tudo isso, ao meu ver, se torna o ponto de partida para os "absurdos" que vemos hoje em dia.

Um desses "absurdos" que mais influenciam na saída de pessoas dessas denominações é exatamente o que vou colocar a seguir. Trata-se de um assunto delicado, pois toca diretamente na parte estrutural das denominações. Falarei sobre "autoridades eclesiásticas".

Para quem se afastou da igreja, ou para quem está congregando em alguma, quando escutam esta frase, logo vem em mente à figura da liderança principal da igreja, aquela pessoa eloquente e "ungida" que é supostamente "bem preparada" teologicamente, aquele que foi escolhido por Deus para ser o líder da igreja, a voz que decide tudo sobre a congregação, a palavra final e absoluta - a "cobertura espiritual" da igreja, a “autoridade eclesiástica” de todos os membros da mesma.

É impressionante e assustador a quantidade de casos que já presenciei de líderes que usam e abusam desta suposta "autoridade".

Um exemplo posso citar logo abaixo. Veja o que um conhecido Bispo de uma igreja neopentecostal colocou a respeito de sua "autoridade" perante os demais membros:

Quando você estuda a Bíblia percebe, entre outras coisas, a importância da cobertura espiritual sobre nossas vidas. Cobertura esta manifestada através da Igreja e de suas autoridades delegadas. A cobertura espiritual é o condutor do que a Igreja pode nos oferecer. Como a Igreja é o Corpo do nosso Senhor Jesus, tudo o que o Senhor Jesus pode fazer em nós e através de nós acontece quando estamos sujeitos à cobertura espiritual. [...] Foi Deus que instituiu a cobertura espiritual em nossas vidas, e segundo o Apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos, ela foi constituída para o nosso bem. Ela é importante para nossa vida, pois demarca limites em nossas vidas. [...] O nosso Deus é um pai bondoso e atencioso. Como bom Pai que é Ele estabelece limites para crescermos saudáveis e através da autoridade espiritual por Ele constituído é que somos edificados para este crescimento. Reconheça a cobertura espiritual de Deus para a sua vida. A cobertura da Igreja, pois com ela você poderá declarar que “nenhuma arma forjada contra você prosperará”, pois este é seu direito como membro coberto da Igreja de Jesus.

Autor: Bispo Fábio Sousa


Vejam o quão oportunista é este discurso acima. Posso afirmar com conhecimento de causa - conheço bem esta denominação - que tal colocação é ensinada e repassada à todos os membros desta igreja, os pastores ensinam aos seus discípulos o mesmo conteúdo que aprenderam de sua "cobertura espiritual", e assim por diante. Para todos que começam a frequentar os cultos desta denominação, recebem tais ensinamentos.

A “autoridade” é colocada diretamente nos líderes da denominação, para que ninguém ouse a se levantar com alguma coisa dita, ensinada ou praticada por tais líderes. O famoso discurso de "não toqueis nos ungidos de Deus".

O primeiro argumento que podemos analisar é que, o ensino de cobertura espiritual carece de sustentação exegética.

Frank Viola, em seu livro "Quem é tua cobertura?", com muita propriedade disserta sobre o tema, veja abaixo:

- É surpreendente que a palavra “cobertura” apareça apenas uma vez em todo o NT. É usada referindo-se à cabeça coberta da mulher (1 Cor. 11:15). Ao passo que o Antigo Testamento (AT) utiliza pouco este termo, sempre o emprega referindo-se a uma peça do vestuário natural. Nunca é utilizado de maneira espiritual ligando-o a autoridade e submissão.

Portanto, a primeira coisa que podemos dizer acerca da “cobertura” é que há escassa evidencia Bíblica para construir-se uma doutrina. Não obstante, incontáveis cristãos repetem como papagaios à pergunta “quem-é-tua-cobertura?” e insistem nela como se fosse a prova do ácido que mede a autenticidade de uma igreja ou ministério.

Se a Bíblia silencia com respeito à idéia da “cobertura” o que é que se pretende dizer com a pergunta, “Quem é tua cobertura”? A maioria (se insistíssemos) formularia esta mesma pergunta em outras palavras: “A quem você presta contas?”.

Mas isso suscita outro ponto difícil. A Bíblia nunca remete a prestação de contas a seres humanos, mas exclusivamente a Deus! (Mat. 12:36; 18:23; Luc. 16:2; Rom. 3:19; 14:12; 1 Cor. 4:5; Heb. 4:13; 13:17; 1 Ped. 4:5).

Por conseguinte, a sadia resposta Bíblica à pergunta “a quem prestas contas?” É bem simples: “presto contas à mesma pessoa que você, a Deus”. Assim, pois, é estranho que tal resposta provoque tantos mal entendidos e falsas acusações.

Deste modo, embora o tom e o timbre do “prestar contas” difira apenas da “cobertura”, a cantilena é essencialmente a mesma, e sem dúvida não harmoniza com o inconfundível canto da Escritura.

Trazendo à Luz a Verdadeira Pergunta que se Esconde Atrás da Cobertura Ampliemos um pouco mais a pergunta. Que é que se pretende realmente dizer na pergunta acerca da “cobertura”? Permito-me destacar que a verdadeira pergunta é, “Quem te controla?”.

O (maléfico) ensino comum acerca da “cobertura” realmente se reduz a questões acerca de quem controla quem. De fato, a moderna igreja institucional está construída sobre este controle.Consequentemente, a gente raras vezes reconhece que é isto que está na base da questão, pois se supõe que este ensino esteja bem ancorado nas Escrituras. São muitos os cristãos que crêem que a “cobertura” é apenas um mecanismo protetor.

Assim, pois, se examinarmos o ensino da “cobertura”, descobriremos que está baseado em um estilo de liderança do tipo cadeia de comando hierárquico. Neste estilo de liderança, os que estão em posições eclesiásticas mais altas exercem um domínio tenaz sobre os que estão debaixo deles. É absurdo que por meio deste controle de direção hierárquica de cima para baixo se afirme que os crentes estejam protegidos do erro.

O conceito é mais ou menos o seguinte: todos devem responder a alguém que está em uma posição eclesiástica mais elevada. Na grande variedade das igrejas evangélicas de pós guerra, isto se traduz em: os “leigos” devem prestar contas ao pastor. Que por sua vez deve prestar contas a uma pessoa que tem mais autoridade.O pastor, tipicamente, presta contas à sede denominacional, a outra igreja (muitas vezes chamada de “igreja mãe”), ou a um obreiro cristão influente a quem considera ter um posto mais elevado na pirâmide eclesiástica.

De modo que o “leigo” está “coberto” pelo pastor, e este, por sua vez, está “coberto” pela denominação, a igreja mãe, ou o obreiro cristão. Na medida que cada um presta contas a uma autoridade eclesiástica mais elevada, cada um está protegido (“coberto”) por essa autoridade. Esta é a idéia.Este padrão de “cobertura-responsabilidade em prestar contas” se estende a todas as relações espirituais da igreja. E cada relação é modelada artificialmente para que encaixe neste padrão. É vedada qualquer relação fora disto – especialmente dos “leigos” com respeito aos “líderes”.

Mas esta maneira de pensar gera as seguintes perguntas: Quem cobre a igreja mãe? Quem cobre a sede denominacional? Quem cobre o obreiro cristão?

Alguns oferecem a fácil resposta de que Deus é quem cobre estas autoridades “mais elevadas”.

Mas esta resposta enlatada demanda outra questão: O que impede que Deus seja diretamente a “cobertura” dos “leigos”, ou mesmo do pastor?

Sem dúvida, o problema real com o modelo “Deus-denominação-clero-leigos” vai bem além da lógica incoerente e danosa a que esta conduz. O problema maior é que este modelo viola o espírito do Novo Testamento, porque por trás da retórica piedosa de “prover da responsabilidade de prestar contas” e de “ter uma cobertura”, surge ameaçador um sistema de governo que carece de sustento bíblico e que é impulsionado por um espírito de controle.

***

O ensino da cobertura espiritual se encaixa exatamente neste sentido que Frank Viola explicou acima. Seria uma espécie de "proteção espiritual" de líderes para com seus "controlados" membros da igreja. Quem estiver debaixo da cobertura, supostamente estará protegido de ataques do maligno, de doenças, de crises financeiras, etc. Ao contrário, quem ousará ir contra sua própria “cobertura espiritual”, aquele que é “autoridade espiritual” sobre sua própria vida? Vejam só a gravidade do problema, é aí que começa a manipulação eclesiástica que (também) tem contribuído para desistências congregacionais de pessoas.

O referido Bispo erra em afirmar que o crente tem que estar debaixo de uma cobertura para se proteger, pois com isso ele nega a responsabilidade individual de cada um perante seus atos (Rm 14:12), e o pior, condiciona um poder de proteção espiritual para ele próprio, proteção esta que só Jesus pode nos dar. O Bispo afirma que "o agir de Jesus" no crente está condicionado ao mesmo estar debaixo da cobertura deles. Um absurdo! Onde está isso na Bíblia?

Se alguém pecar, não vai ser uma "cobertura" que vai livrar esta pessoa das consequências de seu pecado. E também não vai ser uma "cobertura eclesiástica" que vai livrar o Cristão da "contaminação do mundo". A santificação do Cristão agora depende de cobertura espiritual? Absolutamente não!

Este ensino escraviza e acomoda o Cristão a uma falsa proteção de líderes que, na verdade estão interessados em somente controlar e manipular os membros de suas mega-congregações. É Deus quem nos guarda e protege e não um líder eclesiástico com sua falsa doutrina de "cobertura de controle".

O referido Bispo, abusando de sua teologia distorcida, erra também na afirmação de que nas igrejas existem "autoridades delegadas" que seriam os líderes eclesiásticos. O mesmo cita Romanos 13 para averbar sua colocação de que o Cristão deve se submeter as "autoridades delegadas por Deus".

Claro que temos obrigação de nos submeter às autoridades, conforme esta passagem nos mostra, porém estas autoridades citadas em Romanos de maneira alguma são os líderes eclesiásticos!

Romanos 13, pelo contexto, é direcionado especificamente as “autoridades governamentais e jurídicas”. Não há evidência, nem margem exegética nenhuma para afirmar que “também” é direcionada a “autoridade eclesiástica”. Quem afirmar o contrário estará torcendo o texto sem seguir o contexto, desrespeitando assim as regras de exegese e hermenêutica!

Para se ter uma idéia desta tamanha distorção, Jesus foi bem categórico quando falou sobre este mesmo assunto:

"Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” Mt 20:25-28 (Grifo meu).

Nesta passagem, a Bíblia nos narra quando a mulher de Zebedeu - mãe de Tiago e João - veio até Jesus com seus filhos para pedir que colocasse em seu reino os mesmos em posição de honra e autoridade ao lado direito e esquerdo de Cristo(vs 21). Porém, Jesus foi categórico com eles, como podemos constatar nos versos seguintes.

Será que Paulo em Romanos estaria se contradizendo com JESUS sobre o tema? Será que realmente existem crentes que são “autoridades superiores” perante outros crentes na igreja? Com certeza não! Quem se contradiz são aqueles que afirmam que Rm 13 é direcionado também para a autoridade eclesiástica. Não existe base bíblica neotestamentária para que um crente tenha autoridade espiritual sobre outro crente. Isso é invenção de líderes dominadores que querem manipular e controlar o rebanho da Igreja de Cristo.

A única “autoridade espiritual” que existe na igreja perante os crentes é JESUS. A Bíblia diz em Mt 28:18 Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra”. (grifo meu)

Jesus é o cabeça do corpo de Cristo, nós todos somos os membros. Nenhum membro do corpo pode exercer superioridade através de autoridade espiritual a outro membro, somente o cabeça (que é Cristo) é que controla todo o corpo. É assim na igreja. Jesus tem autoridade sobre toda a igreja. Todo crente que estiver em Cristo tem a mesma autoridade espiritual que é concedida através de Jesus (1Pe 2:9). O véu foi rasgado, todos nós temos acesso. A unção é a mesma, a autoridade é a mesma, o acesso ao Pai é igual para todos! (Veja 1 Co 12).

A igreja com certeza é uma instituição organizada que foi estabelecida por Cristo, pois sabemos que existem dons e ministérios necessários para a edificação e organização da congregação. Sabemos também que algumas funções têm como objetivo de liderar e coordenar a igreja. Se não fosse assim, teríamos uma verdadeira baderna, e o culto ao a Deus com decência e ordem, não seria possível. Porém, nenhum desses dons autentica o direito de ser “autoridade espiritual” sobre os demais crentes.

É importante colocar que não devemos confundir a “autoridade” de Romanos 13 com a “obediência e submissão” de Hebreus 13:17, vejamos:

Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros”. Hb 13:17 (grifo meu)

Analisando esta passagem:

Obedecei = deixar-se guiar / submeter-se

Submisso (vocábulo "submeter") = grego: hupotaso = sujeição voluntária / obediente / respeitoso / sujeito.

Repare agora na diferença etimológica comparando-se à palavra “autoridade” citada em Rm 13:

Autoridade = poder de mandar / domínio / poder público. (dicionário Aurélio).

Termo grego para autoridade: Exousia = deriva da palavra exestin, que significa uma ação possível e legítima que pode ser levada a cabo sem obstáculo.

Frank Viola comentou sobre esta questão também:

- A autoridade (exousia) relaciona-se com manifestação e comunicação de poder. Mais especificamente, a autoridade é o direito de realizar uma ação particular. A Escritura ensina que Deus é a fonte única de toda autoridade (Rom. 13.1), e esta autoridade foi conferida à Seu Filho (Mat. 28:18; João 3:30-36; 17:2).

Apenas Jesus Cristo tem autoridade. O Senhor Jesus disse claramente, “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra”. Ao mesmo tempo, Deus delegou Sua autoridade aos homens e mulheres deste mundo para propósitos específicos.

Por exemplo, na ordem natural, Deus instituiu diversas esferas onde Sua autoridade deve ser exercida (Efésios 5:22-6:18; Col. 3:18-25). Estabeleceu certas “autoridades oficiais” com o propósito da preservação da ordem sob o sol. Aos oficiais governamentais, como reis, magistrados e juízes, foi dada esta autoridade (João 19:10, 11; Rom. 13:1 ss.; 1 Tim. 2:2; 1 Ped. 2:13-14).

A autoridade oficial é autoridade conferida a um oficio estático. Funciona independente das ações da pessoa que a ocupa. A autoridade oficial é autoridade posicional e fixa. Enquanto a pessoa ocupar o cargo, tem autoridade.Quando alguém exerce as funções de autoridade, o recipiente chega a ser “uma autoridade” por seu próprio direito. É por esta razão que se exorta aos cristãos que se sujeitem aos líderes governamentais – não importando seu caráter (Rom. 13:1; 1 Ped. 2:13-19).Nosso Senhor Jesus, assim como Paulo, mostraram espírito de sujeição quando compareceram ante a autoridade oficial (Mat. 26:63-64; Atos 23:2-5). De maneira similar, devemos sempre nos sujeitar a esta autoridade. A ausência de lei e o desprezo pela autoridade são sinais de uma natureza pecadora (2 Ped. 2:10; Judas 8). Ao mesmo tempo, a sujeição e a obediência são duas coisas bem diferentes, e é um erro fatal confundi-las.

Sujeição Versus Obediência.

Em que difere a sujeição da obediência? A sujeição é uma atitude. A obediência é uma ação. A sujeição é absoluta. A obediência é relativa. A sujeição é incondicional. A obediência é condicional. A sujeição é um assunto interior. A obediência é um assunto exterior.

Deus nos convoca a ter um espírito de humilde sujeição diante daqueles que Ele colocou em autoridade sobre nós na ordem natural. Contudo, não podemos obedecer-los se nos mandam fazer o que viola Sua vontade, porque a autoridade de Deus é maior que qualquer autoridade terrena.

Não obstante, você pode desobedecer enquanto se submete. Pode desobedecer a uma autoridade terrena mantendo um espírito de humilde sujeição. Pode desobedecer e ao mesmo tempo manter uma atitude de respeito e reverencia distinto do espírito de rebelião, injuria e subversão (1 Tim. 2:1-2; 2 Ped. 2:10; Judas 8).

A desobediência das parteiras hebréias (Ex. 1:17), os três jovens hebreus (Dn. 3:17-18), Daniel (Dn. 6:8-10), e os apóstolos (Atos 4:18-20; 5:27-29) exemplificam o principio de estar sujeito a uma autoridade oficial ao mesmo tempo em que desobedece quando esta se choca com a vontade de Deus.

Se Deus estabelece autoridade oficial para operar na ordem natural, ele não instituiu este tipo de autoridade na igreja. É por essa razão que os líderes eclesiásticos silenciam diante dos argumentos de Paulo na esfera da autoridade em Efésios 5-6 e Colossenses 3.

Deus dá autoridade (exousia) aos crentes para exercer certos direitos. Entre eles está a autoridade (exousia) de serem feitos filhos de Deus (João 1:12), possuir propriedades (Atos 5:4), decidir casar-se ou não (1 Cor. 7:37), decidir o que comer ou beber (1 Cor. 8:9), curar enfermidades (Mar. 3:15), expulsar demônios (Mat. 10:1; Mar. 6:7; Luc. 9:1; 10:19), edificar a igreja (2 Cor. 10:8; 13:10), receber bênçãos especiais associadas a certos ministérios (1 Cor. 9:4-18; 2 Tes. 3:8-9), ter autoridade sobre as nações e comer da árvore da vida no reino futuro (Ap. 2:26; 22:14).

Mas em nenhuma parte a Bíblia ensina que Deus deu autoridade (exousia) aos crentes sobre outros crentes!

Recordemos a palavra de nosso Senhor em Mateus 20:25-26 e Lucas 22:25-26 onde condena as formas de autoridade tipo exousia entre seus seguidores. Este fato deve ser motivo para uma séria reflexão.

Portanto, sugerir que os líderes na igreja devem exercer o mesmo tipo de autoridade que os dignitários representa logicamente um salto e uma excessiva generalização. Uma vez mais, o NT nunca vincula a exousia aos líderes da igreja, nem estabelece que alguns crentes tenham exousia sobre outros crentes.

Sem dúvida, o AT descreve os profetas, sacerdotes, reis e juízes, como autoridades oficiais. Isto se deve ao fato destes “ofícios” serem sombras da autoridade ministerial do próprio Jesus Cristo. Cristo é o verdadeiro Profeta, Sacerdote, Rei e Juiz. Mas no NT nunca encontramos qualquer passagem que descreva ou represente algum líder enquanto autoridade oficial. Isto inclui os guardiões locais, assim como aos obreiros de fora.

Para ser franco, a noção de que os cristãos têm autoridade sobre outros cristãos é um exemplo de exegese forçada e, como tal, é biblicamente insustentável. Quando os líderes da igreja exercem o mesmo tipo de autoridade que desempenham os oficiais governamentais, tornam-se usurpadores!

Certamente, a autoridade funciona na igreja, mas esta autoridade que funciona na ekklesia é notavelmente diferente da que se exerce na ordem natural. Isto faz sentido na medida em que a igreja não é uma organização humana, mas um organismo espiritual. A autoridade que opera na igreja não é oficial. É orgânica!

***
Nós devemos ter os nossos líderes e pastores de uma maneira respeitosa e submissa, no sentido de “deixar os mesmos nos guiar na Palavra e no ensino de Deus”. Devemos confiar com segurança que os mesmos são servos de Deus para cuidar, apascentar e ensinar a Igreja de Cristo e também para coordenar a igreja em sua forma funcional e organizacional. O Pastor merece honra, reconhecimento e respeito de todos da Igreja. Porém o líder também é humano, sujeito a erros e a pecados, bem como a exortação e repreensão.

Mas, jamais devemos ter nossos pastores ou líderes como se fossem superiores aos demais irmãos da igreja, como se os mesmos possuíssem “unção diferenciada” ou “poderes especiais”. Somos co-herdeiros em Cristo, o véu foi rasgado e temos acesso à vida através de Jesus, bem como a unção procede diretamente de Deus para todo o Corpo de Cristo. Temos todos a mesma unção e os mesmos direitos, não precisamos de nenhum “homem mediador” para ter acesso ao pai. O único mediador entre Deus e os homens é JESUS CRISTO!

Após refletir nesse artigo, chego a seguinte conclusão preliminar: porque as pessoas não querem mais ir à igreja? Um dos motivos é por causa dos líderes manipuladores que pregam distorções Bíblicas em benefício próprio.

No próximo artigo, darei continuidade sobre este assunto.

Soli Deo Gloria!

Ruy MarinhoBlog Bereianos

Biografia:

- Bíblia de estudo de Genebra

- Quem é a tua cobertura? - Frank Viola

- O Novo comentário da Bíblia

– F.Davidson- Romanos, Introdução e Comentário - F. F. Bruce

Fonte: bereianos

O pastor chamado e o chamado pastor


Por Geraldo Magela, Pr.

O pastor chamado ama gente, o chamado pastor ama dinheiro e fama.
O pastor chamado prega com paixão, o chamado pastor prega.
O pastor chamado é feliz, o chamado pastor vive mau-humorado.
O pastor chamado tem visão, o chamado pastor imita as muitas visões.
O pastor chamado cuida das ovelhas, o chamado pastor abusa das ovelhas.
O pastor chamado tem casa, o chamado pastor tem mansão.
O pastor chamado liberta, o chamado pastor tiraniza.
O pastor chamado é acessível, o chamado pastor é inalcançável.
O pastor chamado prega de graça, o chamado pastor cobra para pregar.
O pastor chamado tem ovelhas, o chamado pastor tem fãs.
O pastor chamado chama para Cristo, o chamado pastor atrai para si.
O pastor chamado ensina, o chamado pastor exibi-se.
O pastor chamado erra, o chamado pastor é perfeito.
O pastor chamado tem medo, o chamado pastor mete medo.
O pastor chamado chora, o chamado pastor se vinga.
O pastor chamado é inconformado, o chamado pastor é alienado.

***
Enviado por Daniel Grubba, editor do Soli Deo Glória e colaborador do Púlpito Cristão

terça-feira, 28 de julho de 2009

Sofismas da Auto-ajuda


Pr. João A. de Souza Filho

“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Co 10.4-5).

Este texto é um dos mais utilizados quando se fala da luta do cristão, e com razão, porque Paulo está apresentando a estratégia de guerra para o confronto espiritual – porque, embora andando na carne não militamos segundo a carne – diz ele, e a luta é feita com armas espirituais. As “armas” desta batalha são a palavra da verdade, que é a espada do Espírito, a palavra de Deus. Lutas contra o que? Paulo aborda três obstáculos de luta: fortalezas, que precisam ser destruídas; sofismas, que precisam ser anulados e altivez.

Uma fortaleza pode ser lugar de abrigo, de ataque ou de defesa. Nas mãos do inimigo se torna uma barreira contra o avanço do evangelho. Nas mãos da igreja um baluarte contra o mal. Para o Talmude esta fortaleza é o pecado. Altivez é uma barreira de conhecimento e de orgulho humano que lança sombra e escurece a razão e o conhecimento das pessoas impedindo que sejam alcançadas pela luz do evangelho. E o sentido de altivez é exatamente este: Um muro alto de conhecimento humano que impede a penetração da luz do conhecimento divino. Enquanto esses dois constituem-se fortalezas, o terceiro, sofismas é o mais sutil de todos. A versão Corrigida traduz a palavra como “conselho”.

Um sofisma é uma “verdade” que não é verdade e pode ser melhor definida como uma mentira com aparência de verdade. Mas, continua sendo mentira. Os sofismas alteram a essência da mensagem do evangelho e “implantam” no conhecimento humano uma mentira, que de tanto ser repetida é aceita como verdade. Enquanto as fortalezas e as barreiras ou altivez precisam ser destruídas, o sofisma tem de ser anulado. E uma mentira só é anulada com a verdade. Exemplo disso é a teoria da evolução, uma mentira ensinada nas escolas como uma grande verdade, mas é mentira.

Os sofismas, geralmente são artimanhas lingüísticas, teorias, suposições e idéias que se opõem à mensagem do evangelho. Isto sempre existiu ao longo dos séculos, mas nessas últimas décadas da igreja cristã os sofismas passaram a ser apresentados com rótulos coloridos e mais atraentes. O evangelho pregado nos dias de hoje não é apresentado com sua essência e substância, corrompido que está pela ação dos sofismas, ou de mentiras aparentemente verdadeiras. Apesar do curto espaço disponível, é possível, num breve artigo como este, detectar alguns dos muitos sofismas que entraram na mensagem do evangelho.

Por exemplo, fé tornou-se sinônimo de pensamento positivo e uma pessoa é curada se tiver fé. Se bem que a fé ajuda a pessoa a pensar positivamente, a se erguer e a vencer, a fé que se ouve pregar hoje não é a fé mencionada nas escrituras. No texto de Habacuque em que “o justo viverá pela sua fé” (Hc 2.4) o sentido é de que a pessoa sobrevirá à invasão do mal – do ataque dos caldeus – se permanecer agarrada ou “colada” em Deus. Fé tem o sentido de viver-se agarrado, preso (a Deus). Não importa o que acontecer, o cristão permanece firme. Doente, mas firme. Sem dinheiro, mas forte. O sofisma inverte a ordem. Se alguém está doente, não tem fé; se está sem dinheiro algo de errado aconteceu.

Mas fé, pela ação dos sofismas tornou-se algo a ser conquistado. Assim, quem tem fé é curado, quem não tem continua doente. A corrupção da mensagem do evangelho produz manchetes do tipo: “Centenas de pessoas curadas pelo poder da fé”. O sofisma ou a mentira é que a fé cura, quando na realidade a cura é realizada pela autoridade e ação do Nome de Jesus Cristo, às vezes independentemente da fé de uma pessoa, da fé do pregador e da fé da audiência, e sim como uma operação da expressa vontade de Deus.

Ligada aos sofismas sobre a fé aparece a mensagem de auto-ajuda. E há que diferenciar aqui a auto-estima da auto-ajuda. Deus sempre “levanta” a estima de uma pessoa que pensa negativamente sobre si mesma. Ao medroso ele diz: “Não temas, homem valente”. “Esforça-te, tem bom ânimo”. “Eu sou contigo”, porque a fonte da auto-estima é o próprio Deus, e não a fé ou o pensamento positivo. A expressão de Paulo “tudo posso naquele que me fortalece” resume a capacitação humana que vem diretamente de Deus.

Na mensagem de auto-ajuda o foco tem sido sempre o homem, e o que este pode fazer por si mesmo, por seu potencial, basta para tanto repetir frases, ler os passos práticos para uma vida de vitória, conhecer o “segredo” e, neste sentido a mensagem de auto-ajuda tornou-se um canal de prosperidade aos autores de livros, cds, pregadores e conferencistas que despertam o potencial que existe em cada pessoa. O sofisma reside no fato de que o “potencial” passa a ser o próprio homem e não o fruto de sua dependência de Deus. Aliás, o sofisma da capacitação humana descarta toda ajuda divina. Elogia-se o humanismo porque o homem realiza feitos independentes da ação direta e da interferência de Deus.

Neste sentido, a mensagem do evangelho que se ouve todos os dias está impregnada e corrompida com filosofias, humanismo e via de regra com símbolos, idéias e práticas de movimentos orientais que se assemelham aos métodos e filosofias da Nova Era.

Analisando-se o conteúdo de algumas mensagens televisivas e dos livros recentemente publicados percebe-se que muitos pregadores, evangelistas, pastores ou apóstolos já não abordam mais a essência do evangelho como faziam os primeiros apóstolos, e pincelam o tema bíblico com cores e sofismas que atraem; sim, porque um sofisma bem apresentado atrai mais seguidores do que a radicalidade do evangelho. O sofisma alterou o chamamento de se seguir a Cristo incondicionalmente – às vezes perdendo-se tudo – para uma mensagem de prosperidade. As pessoas vêm a Cristo porque querem se sentir bem, enriquecer e ter vida farta. Exatamente o oposto do que pregavam nossos pais.

Os jovens são desafiados a serem prósperos, ricos, milionários, enquanto a verdadeira mensagem do evangelho consigna a que se abandone tudo pela causa do evangelho, mesmo que para seguir a Cristo viva-se em pobreza. O desapego aos bens materiais foi um dos fatores que permitiu que o evangelho fosse pregado por todo o mundo greco-romano. Os bens deixados pelos irmãos da igreja primitiva aos pés dos apóstolos eram distribuídos entre os pobres e necessitados de Jerusalém; o sofisma consegue arrecadar os bens para enriquecer os pregadores, apóstolos e a instituição. A lei da semeadura é apresentada com cores atraentes de possibilidades de riquezas e de bem-estar social; quando na realidade Paulo, ao tratar do tema tinha em mente os recursos para evangelizar as nações e ajudar os pobres e necessitados.

É certo que existe uma prosperidade na vida cristã como resultado do evangelho, mas é algo intrínseco à mensagem, faz parte de seu conteúdo e os que progrediram financeiramente na vida não aceitaram o evangelho por ambição de riquezas, mas pela obra de Cristo e seu senhorio.

Jesus já não é mais apresentado como o Salvador da humanidade, que morreu para perdoar os homens de seus pecados, mas como exemplo de sucesso de quem se pode extrair passos significativos de sucesso empresarial, e o sofisma consegue encobrir o verdadeiro Jesus e sua missão redentora. Livros e mais livros vêm sendo escritos sobre Jesus como fórmula de sucesso, deixando uma caligem sobre a verdadeira missão de Jesus entre os homens.

Combate-se os sofismas com a palavra da verdade. Conforme Hebreus 4.12 a palavra de Deus é a única arma capaz e eficaz de fazer a separação entre o que é humano e o que é de Deus; ela separa a filosofia arguta e humana dos homens infiéis permitindo que realce apenas a verdade de Deus.

Paulo por pouco não caiu na cilada dos filósofos e humanistas da época que o convidavam para os debates. Num deles, em Atenas filosofou muito bem, mas o embate empírico não resultou em manifestação do poder de Deus nem deixou igreja estabelecida na cidade. Sempre que confrontou os sofismas com a verdade Paulo deixou igrejas estabelecidas, porque sua mensagem não constava de palavras apenas, mas em demonstração de poder (1 Ts 1.5). A partir do insucesso de Atenas, Paulo aprendeu a delimitar o sofisma de uma verdade, e por isso orienta aos cristãos que anulem os sofismas com a palavra de Deus!

Então, para anular sofismas, deve-se conhecer o que diz a palavra de Deus sobre cada esfera da vida humana. O verdadeiro “segredo” consiste em desvendar os mistérios da palavra de Deus.

Se isso é a Igreja, sou mais o meu quarto


“Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo.” – At 9.31

“E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos.” – Ef 1.22-23

“A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor, no qual temos ousadia e acesso com confiança, pela nossa fé nele. ” – Ef 3.8-12

Já ouvi muitas fábulas em relação à permanência dos crentes numa igreja. Uma delas diz que a igreja é igual à arca de Noé, um lugar cheio de bichos e suas necessidades fisiológicas, e que cheira mal, porém é melhor estar lá dentro do que lá fora em meio ao dilúvio. Outra diz que crente é igual uma abelha: num enxame (ou igreja), vence qualquer inimigo; sozinho, morre num tapa só. Daí a se pensar que a igreja é um organismo super-poderoso, e deve ser mesmo, afinal é nada mais, nada menos que o Corpo de Cristo, Daquele que venceu a morte e o inferno ao levar sobre Si todos as maldições e enfermidades da raça humana. Mas será que a Igreja de Cristo é isso que vemos?

É muito fácil abrir uma igreja. Aluga-se uma garagem e já dá para iniciar uma congregação. Pensa-se num nome pomposo (que tal Igreja Transcontinental da Majestade do Alto? – está muito difícil achar um nome de igreja que não exista), convida-se os vizinhos e amigos e pronto: temos uma Igreja! Se fosse só isso estaria ótimo, o problema é o que é ensinado e vivido por lá.
Já percebeu como sempre há a mesma desculpa para a abertura de uma nova denominação (corrupção da antiga, envolvimento com maçonaria, erros doutrinários, etc), porém na nova se repetem os mesmos, ou até piores, erros da anterior? Ou seja, não há a intenção real de se fazer uma Igreja segundo a Palavra, apenas a de se criar mais um papado.

Sim, papado. A Igreja evangélica brasileira é próspera em papas. Há o Bento XVI e há o papa de cada denominação. Cada fundador se torna um papa, infalível e insubstituível. A permanência no poder é eterna, e os estatutos asseguram que a igreja não sairá de suas rédeas curtas. Quem ousa se levantar contra o “papa” é logo taxado como em rebelião, e expulso ou convencido sutilmente a deixar a denominação. E assim uma nova igreja é criada, e o círculo se repete indefinidamente, causando estranheza principalmente em quem não é cristão, pela quantidade absurda de placas diferentes.

Fico imaginando se Lutero vivesse nos dias de hoje… em seu tempo, precisou se opor a apenas um papa. Hoje, teria que imprimir milhares de teses, uma para cada papa evangélico. Um Lutero só não conseguiria fazer isso não!

O absurdo das várias denominações é tão escancarado que basta andar pelas ruas das cidades para o verificar. Aqui em São Paulo, na Av. Águia de Haia (zona leste da capital), há 6 anos atrás havia três denominações na mesma quadra. O pior: três casas (ou templos) grudados, um depois do outro, porta com porta. Sinceramente, a intenção nesse lugar é evangelizar ou apenas demonstrar o poder da sua denominação que, claro, precisa gritar mais do que as outras vizinhas caso os cultos sejam no mesmo horário? E isso não acontece só nessa rua, acontece em todos os lugares: se as igrejas não são vizinhas de porta, são de quadra, de rua. Mas o lugar permanece ruim e violento do mesmo jeito.

Nós somos chamados para ser sal e luz. Como sal e luz mantém um lugar insosso e escuro? Como, em meio a tantas igrejas, ainda há pessoas morando nas ruas, pessoas se drogando, se prostituindo, roubando e matando? Pessoas mentindo, enganando, chantageando, manipulando? Por que, com tantas igrejas, o Brasil está a cada dia pior? Não deveria ocorrer o contrário?

O que vou dizer agora poderá escandalizar muita gente, mas é o que penso: muitas que se dizem igrejas não o são, espiritualmente falando, não passando de um “clubinho de eleitos”. Você chega, entra no clube, paga a mensalidade, ouve as assembléias, se diverte (canta, dança, ri, chora, extravasa) e vai embora mais feliz, entretido momentaneamente. Aí chega em casa, a criança continua gritando, o marido bebendo, a vizinha atrapalhando, o chefe atormentando; afinal a instituição que se autodenomina igreja, apesar de citar a Deus, não Lhe dá espaço para atuação, preferindo a manifestação de espíritos dançarinos, saltadores, giratórios, que promovam bastante carnaval no recinto. Assim, enganados muitas vezes por “fogo estranho”, não deixamos o Espírito Santo agir em nós, nos transformando, e por isso continuamos vendo todos os defeitos nos outros e na droga de vida que temos.

Note bem, sou pentecostal, acredito nos dons espirituais, mas atribui-se ao Espírito Santo algumas coisas nas igrejas que só por Deus!!!

Se a igreja não consegue transformar quem está dentro, imagine transformar a realidade ao seu redor… E se a igreja não transforma vidas, apenas as “transtorna”, já não é igreja, não é congregação, comunhão, é apenas distração e sacrifício para almejar as bênçãos divinas.

É estranho, mas quanto mais aprendemos a Verdade da Palavra, mais distantes nos tornamos de uma igreja. Não deveria ser o contrário? Não deveríamos nos lançar com maior amor à congregação, sabendo que lá estaremos proclamando o amor ao próximo e a Deus?

O problema é que a igreja não nos transmite amor. Tudo é aparência. Os pastores não têm amor pelas ovelhas, e sim por tosquia-las. As ovelhas, por sua vez, querem estar mais próximas de seus pastores, e para isso não medem esforços, mesmo que seja necessário pisotear outras ovelhas que estejam em seu caminho. É cada um por si e Deus por todos. A igreja se tornou o reino do diz-que-me-diz, onde uns apontam os erros dos outros e todos se acham santos. Só que os erros são apontados não com amor, mas com juízo. Adulterar ou engravidar antes do casamento? Aparte-se de mim!!! Mas mentir e roubar um pouquinho poooooooode!

Mas não pára por aqui. É cada dia mais difícil ouvir uma pregação até o fim. São palavras previsíveis, de exaltação (quase nunca exortação), bom ânimo, esperança, revelações e revelamentos que nunca se realizam (essa noite Deus está curando suas feridas! – as feridas não são curadas, e no culto seguinte: essa noite Deus está completando a obra em sua vida! – e a obra não é completa, aí no culto seguinte a mesma coisa sempre). Não ouvimos pastores, ouvimos doutores em auto-ajuda: todas as bênçãos nos pertencem, somos cabeça e não cauda, o diabo está debaixo dos nossos pés, mas no dia seguinte ainda temos dívidas, problemas, doenças, vazio.
Será que Deus deixou de agir? Ou a instituição que se diz “igreja” é que fala por Ele com engano, a fim, mesmo que inconscientemente, de desacredita-Lo?

Não consigo mais ouvir sermões de auto-ajuda e falsas promessas. Não consigo mais sentar num banco de uma igreja, sabendo que a principal hora não é a da pregação, mas a da coleta. Não aguento mais uma hora de louvor, com bandas desafinadas e cantores “se achando”, provocando o choro fácil não por unção, mas porque, na assembléia dos santos, todos temos motivos para chorar. Simplesmente não aguento mais isso, e peço perdão a Deus se isso O desagrada, mas não quero ir numa igreja por falsidade e ficar vendo defeito em tudo, como foi das últimas vezes.

Eu queria frequentar A Igreja. Não a imagino um mega-templo, com poltronas acolchoadas, ar-condicionado, altar gigante. Eu a imagino uma casa simples, com pessoas simples independente de sua situação financeira. Eu a imagino um lugar onde a acolhida é com amor sincero, não com um risinho forçado e o “seja-bem-vinda-amada” de praxe. Eu a imagino com pessoas que contribuem voluntariamente e com alegria, e que se importam com o irmão ao lado, suprindo-o de acordo com suas necessidades. Sinceramente não consigo frequentar um local onde, em nome de Deus, são lançados gafanhotos devoradores sobre quem não paga a mensalidade. A Igreja que eu quero frequentar tem problemas, pois tem pessoas com problemas, mas lá é possível discordar, perguntar, até duvidar, sabendo que ninguém levará nada para o pessoal, continuando a haver amor apesar das diferenças. A Igreja que eu quero frequentar é uma em Deus, reflete Sua Graça e Misericórdia, Sua Alegria e Beleza, mesmo que, aos olhos humanos, possa não passar de um casebre. Na Igreja que eu quero frequentar mal dá para definir seus líderes, pois o maior se faz de menor, o serve e não busca ser servido. A Igreja que eu quero frequentar traz os ensinamentos de Deus, segue a sã doutrina, não as doutrinas temporárias de homens. A Igreja que eu quero frequentar transforma não só os que lá estão, mas toda a realidade à sua volta, pois se importa com os famintos, os drogados, os excluídos de toda a sorte.

Você conhece essa Igreja? Se conhecer, por favor, me passe com urgência seu endereço ou telefone. Se não a conhecer, infelizmente continuarei a congregar no meu quarto, pois não vou esquentar um banco qualquer apenas para aparentar santidade.

Fonte: Uma estrangeira no mundo

quinta-feira, 23 de julho de 2009

A ESSÊNCIA DEVE ESTÁ ACIMA DA PRÁTICA RELIGIOSA


Por: Matias Borba:

Hoje, durante minha análise diária das Escrituras, um assunto surgio em minha mente e me trouxe uma reflexão sobre nossos dias aqui com Deus. Lendo o texto de Lc. 17. 11-18, onde relata-nos às Escrituras, um grande milagre, uma grande cura realizada por Jesus á dez leprosos.

A príncipio, minha primeira pergunta a mim mesmo foi: Seria possível vivermos na casa de Deus sem termos essência de Deus em nossa vida? Sem termos conteúdo? Sim! Todos nós sabemos que sim, mas quero discorrer aqui, não só sobre o ato da ingratidão que é tão visível nesta passagem Bíblica, quero tratar principalmente sobre o engano que às pessoas vivem em muitas igrejas, achando que vivem de fato o Reino de Deus.

No texto de Lc. 17. 11-18, vemos que dos dez leprosos que foram curados, apenas um retornou para louvar à Deus agradecendo à Jesus pela grande mudança de vida que Jesus havia feito ao leproso, e com um detalhe, Ele era samaritano!Sabemos que os samaritanos não se davam com os judeus, e vice-versa, por conta de divergências teológicas muito relacionadas a forma e lugar correto de se adorar à Deus naquela época.

Lendo o texto, percebi que aquele homem que voltará para agradecer ao Mestre por sua cura, possúia algo que talvez os outros não possuiam, ele tinha essência na alma.

Os Judeus da época, orgulhavam-se por serem uma nação escolhida por Deus, e por isso, achavam-se superiores aos outros povos da época, e talvez por agirem assim, os nove ex-leprosos achavam que a cura para eles, era uma obrigação divina em suas vidas, e assim não retornaram até Jesus.

Muitas vezes, estamos tão institucionalizados, tão tradicionalizados em nossas igrejas que perdemos a essência de Cristo em nossa vida, perdemos a sensíbilidade de sabermos o que de fato é servir à Deus nesta vida. Vivemos cheios de aparências e religiosidade, mas vazios por dentro, e muitas vezes, como supulcros podres por dentro. Quando perdemos a essência de Cristo em nós, passamos a viver uma vida de engano, não aos outros, mas a nós mesmos, ficamos cegos sem ter a quem nos guiar.

Em muitos casos, nós Cristãos, aprendemos de tudo um pouco na casa do Senhor, aprendemos a liturgia do culto, (que muitas vezes é mecanizada), aprendemos teologia, recebemos anéis de formaturas, aprendemos a cantar sobre Deus, à falar sobre Deus e até a orar à Deus, aprendemos de tudo, mas, pouco aprendemos sobre a prática da justiça, a amar ao próximo como a nós mesmos, a amar à Deus sobre todas as coisas, a termos um relacionamento íntimo com Deus e seu Filho, e tantas outras benção que deveriamos priorizar em nossas vidas.

A Bíblia Diz, Aprendei a fazer o bem; Praticai o que é reto; Ajudai o oprimido; Fazei justiça ao orfão; Tratai a causa das viúvas. (Is. 1. 17). Termos a essência de Cristo em nós, é antes de fazermos qualquer sacrifício religioso, priorizar o caráter de Deus em nós. O cuidado com pessoas sempre será uma prioridade de Deus, e essa deve ser a nossa também. Os judeus da época se "isolavam" em seu "mundo" de superioridade, e hoje não é diferente, quantos de nós não julgando-se "o povo de Deus", desprezam os não cristãos, achando que a graça de Deus é excusividade para os salvos e não para os pecadores?

Quantos que diferentemente de Jesus, que sabia conviver com pecadores, não sabem desenvolver um bom relacionamento amigável de respeito com os não crentes? Isso resumi-se a falta de essência, conteúdo de Cristo em nossas vidas, em nossas almas. Jesus quando aqui na terra, falava e relacionava-se com todos, pecadores, impuros da época, crentes ou não crentes, o diferencial é que ele conhecia a lei do Pai, e assim, não se enveredava nos caminhos, pensamentos dos ímpios, não se dobrava a suas filosofias de vida.

À semelhança daquele samaritano, e agora ex-leproso, precisamos servir a Cristo com essência, com conteúdo na alma, com um coração grato, com o coração voltado a glorificar à Deus e não servi-lo apenas com sacrifícios de práticas religiosas, segui-lo com a alma, deixando de lado as práticas religiosas em segundo plano, pois algumas práticas religiosas são importantes, mas jamais devem estas, ocuparem a primazia em nossas vidas.

Que possamos entender que no Reino de Deus, a embalagem jamais será mais importante que o conteúdo, pois é com um conteúdo puramente Cristão que agradaremos à Deus, e só assim poderemos ter de fato um relacionamento com Cristo.Cristianismo sem relacionamento com Cristo, nada mais é que apenas mais uma religião entre as muitas já existentes.

A relação entre Kierkegaard e apologética


Meus primeiros contatos com o pensamento de Kierkegaard (1813-1855) foram através de leituras apologéticas ortodoxas (Geisler, Turek, Craig, Schaeffer e outros). Via de regra, Kierkegaard é sempre rotulado como alguém que prestou um desserviço ao cristianismo. E em quase todos textos que li, salvo o livro de W.L. Craig, ele é acusado de ser fideísta e irracionalista.

No entanto, quando comecei a ler os textos de Kierkegaard em primeira mão, não segundo os pressupostos dos apologistas, minha visão sobre este apaixonado cristão mudou muito. Há de se entender o contexto de sua época, e suas angustiosas relações com a vida, com a igreja e consigo mesmo, para entender seu pensamento.

Sua repulsa contundente em relação a apologética estava intimamente associada ao seu conceito sobre a igreja luterana estatal dinamarquesa, onde quase se tornou pastor. De acordo com Kierkegaard, a igreja luterana de sua época, tinha transformado a fé cristã em uma religiosidade estática, burocratizada, fria e sem vida. Um de seus biógrafos nos revela que "toda sua vida constitui uma intensa experiência da contraposição entre aquilo que considerava ser o cristianismo em seu significado mais profundo e as roupagens exteriores com as quais se revestia a igreja luterana de seu tempo. Para Kierkegaard, a vivência mais profunda do cristianismo é a vivência e a certeza da fé" (CIVITA, Coleção Pensadores, 1974). O que pensava Kierkegaard sobre a defesa da fé?

"Vê-se agora que extraordinária tolice se comete defendendo o cristianismo, como se trai assim o restrito conhecimento do homem, e como essa tática, ainda que inconsciente, tem, sub-repticiamente, partida ligada com o escândalo, fazendo do cristianismo uma coisa tão lamentável, que por fim é necessário advogar sua causa para o salvar [...] Advogar desacredita sempre [...] Declaro incrédulo aquele que o defenda. Se crê, o entusiasmo de sua fé, nunca é uma defesa, é sempre um ataque, uma vitória: um crente é um vendedor [...] Como admirar-se que a nossa gente, depois disto - por não sentir defensável a própria atitude - sinta necessidade de defender o cristianismo [...] quase como o pastor quando prova em três pontos a eficácia das orações, tanto elas tem baixado o preço que tem necessidade de três pontos para recuperar um pouquinho de prestigio". O que kierkegaard quer dizer?

Ele quer dizer que a maior evidência que se pode dar aos não cristãos, não são os argumentos (ainda que eles sejam importantes a posteriori), mas uma vida absolutamente apaixonada e mergulhada em amor. Kierkegaard ironicamente diz que jamais passará pela cabeça de um verdadeiro apaixonado provar ou defender seu amor em três pontos, visto que alguma coisa vale mais mais que todos os pontos juntos e que qualquer defesa: ele ama. Não diga que amas, ame de verdade e todos saberão!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Falando de Inveja


Por ESTHER CARRENHO

A inveja é um dos sentimentos mais difíceis de serem identificados e reconhecidos. Ignoramos que não há ninguém que respire que seja tão bem resolvido na vida a ponto de nunca desejar, pelo menos um pouco, daquilo que se admira no outro. O sentimento da inveja é filho da admiração – o que não significa que não exista admiração sem inveja. Mas onde existir a inveja, com certeza, houve a admiração antes. A inveja, enquanto sentimento, não é boa nem má. É apenas o desejo de possuir ou ser o que o outro tem ou é. O que pode ser mau ou bom é o comportamento que adotarmos diante desse sentimento. Traçado o limite entre a admiração e a inveja, o que importa é cada um identificar no próprio coração qual é a reação que aflora e que poderá determinar seu comportamento.

Podemos reagir de três formas quando identificamos e aceitamos em nós mesmos o sentimento de inveja. A primeira forma é reconhecer que se quer o que o outro é ou tem, avaliando as possibilidades reais de ser ou possuir o que admiramos no próximo. Posso desejar ter um carro de luxo caro, mas quando faço as contas descubro que, com o salário que ganho, é impossível adquirir um. Diante disso, há quem abra mão de outras coisas, esforça-se mais e se sacrifique para conquistar aquele objetivo. Neste caso, o sentimento de inveja foi positivo: um estímulo para o uso dos próprios recursos no empenho de conseguir o que se deseja.

A segunda reação é quando admiramos e desejamos o que outro tem, mas diante da impossibilidade de tê-lo passamos a desvalorizar e criticar aquilo que não temos condições de adquirir. No caso do carro, o invejoso diria: “Este carro não presta. Consome muito combustível, sua manutenção é caríssima e ocupa muito espaço.” Às vezes, esse tipo de comportamento até começa com um elogio, mas logo em seguida vem a crítica, o menosprezo. E a terceira maneira de reagir diante da inveja é quando, diante da impossibilidade de conseguir o que desejamos, adotamos um comportamento destrutivo em relação à pessoa e ou aos bens que são alvo dos nossos desejos. É o caso da pessoa, que muitas vezes, até sem perceber, assume uma postura de: “Já que não posso ter, você também não terá.”

O lado bom da história é que podemos tirar proveito quando detectamos os sentimentos de inveja no nosso coração. Eles apontam para uma deficiência na capacidade de reconhecer o nosso próprio valor, o nosso potencial, e desenvolvê-lo de tal forma que se tornem uma fonte de contentamento e realização. Enquanto simplesmente invejamos o próximo, tiramos o foco do que somos e temos, e gastamos inutilmente uma energia que poderia ser canalizada para o desenvolvimento das nossas habilidades e talentos. Tentamos a todo custo ter a vida do outro. E nessa tentativa perdemos a oportunidade de sermos nós mesmos.

Um dos provérbios do rei Salomão já nos adverte que a inveja é a podridão dos ossos. A Bíblia tem também um bom exemplo disso. Quando o filho pródigo da parábola – aquele que saiu de casa à revelia do pai e consumiu toda sua herança – voltou para casa, ganhou um banquete de recepção. Seu irmão mais velho, que sempre ficou ao lado do pai, sentiu-se injustiçado – afinal, embora tivesse permanecido sempre em casa, seguindo fielmente as ordens paternas, nunca tivera uma festa daquelas. A resposta do pai esclarece que o filho mais velho é que não sabia desfrutar do que tinha: “Meu filho, tudo que é meu é seu”.

O que na realidade aconteceu foi que o irmão mais velho não conseguiu tomar posse do que tinha conquistado por direito. E este é o pior castigo para quem é dominado pelo sentimento de inveja – ele não usa e nem desfruta do que tem por direito, e também não consegue festejar e se alegrar com o que o outro tem. E ainda coloca a culpa em terceiros. Não sabemos qual foi a resposta deste jovem para o pai. Seria muito bom se ele tivesse reconhecido que tinha inveja do presente dado ao irmão e dificuldade em usufruir o que já lhe pertencia. É claro que o pai desta parábola contada por Jesus representa Deus, que sempre nos acolhe e nos restaura diante de nosso arrependimento.

Não há duas pessoas iguais no mundo. Cada um tem personalidade e habilidades que são únicas, mas que esperam ser reconhecidas e desenvolvidas. O ideal seria que o jeito de ser de cada um, bem como suas habilidades, recebessem um olhar de aprovação desde o nascimento. É assim que aprendemos desde cedo a nos alegrar com o que somos. Mas nem sempre é isso que acontece. No desejo de agradar, deixamos de lado o que naturalmente somos e nos esforçamos para sermos iguais àqueles que são apontados como modelos, seja pelo que são ou pelo que têm. A solução, depois do estrago feito, é cada um se reencontrar no próprio espaço, onde possa ser ele mesmo, com todas suas características e talentos – tanto os natos como os aprendidos.

Sempre é possível resgatar quem de verdade se é. E esta é uma busca que o indivíduo deve fazer para dentro de si mesmo, para, a partir daí, se doar e ser um caminho de bondade e amor para com aqueles que vivem à sua volta. Assim, faremos para nós mesmos nossas próprias festas e teremos recursos para nos alegrarmos e celebrarmos a alegria dos outros.

Como conhecer um homem de Deus?


Pr Marcello de Oliveira

O que é um homem de Deus? Como podemos conhecê-lo? Quais são as suas marcas?

Em primeiro lugar, o homem de Deus não é conhecido por realizar milagres extraordinários. Jesus advertiu claramente que muitos naquele dirão: “Senhor, não temos profetizado em teu nome, no teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres”? Então, Jesus dirá: Apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade (Mt 7.22,23). O que dizer de João, o Batista que não fez nenhum milagre, mas tudo o que ele disse era verdade (Jo 10.41). Será que tudo que falamos é a verdade?

Em segundo lugar, o homem de Deus não é conhecido pela sua erudição. Muitos pensam que, por terem uma excelente oratória capaz de arrebatar as multidões, faz dele um homem de Deus. Lembre-se que o Anticristo será um orador inigualável.

Em terceiro lugar, o homem de Deus não é conhecido pela sua riqueza, fama e prestígio. Não, não. Paremos com esta falácia! O homem de Deus não é conhecido pelo seu carro importado, por seu anel de ouro, por sua magnífica casa. É tempo de discernimento. Pergunto aos nobres leitores: O que Jesus deixou ao partir deste mundo? O que Paulo deixou quando decapitado por Nero? Deixaram casas, riquezas, bens? Oh não senhores. Pelo contrário morreram pobres! Todavia até hoje falamos em seus nomes. Jesus, o Rei dos Reis, nosso Senhor e Salvador. Paulo nos legou 13 cartas que hoje são lidas, estudadas em todos os cantos do mundo.

O apóstolo Paulo, em sua primeira carta a Timóteo 6.11-16 nos mostra quatro marcas de um homem de Deus. O homem de Deus é conhecido por aquilo de que ele foge, segue, combate e guarda. Vamos dissecar estes quatro verbos.

1) O homem de Deus é conhecido por aquilo de que ele foge (I Tm 6.11)

Paulo diz: “Mas tu, ó homem de Deus, foge dessas coisas....”. De que coisas um homem de Deus deve fugir? Deve fugir da fama, das calúnias, das contendas e brigas que não levam a nada, da aparência do mal, das suspeitas maliciosas e, sobretudo, da ganância, ou seja, do amor ao dinheiro, que é a raiz de todos os males (I Tm 6.3-10). Quantos homens de Deus que profissionalizaram seu ministério? Começaram bem e, infelizmente estão terminado mal. Um homem de Deus não é apegado às coisas materiais. Ele não ama o dinheiro, mas o Senhor. Ele busca uma vida santa e sabe que a piedade, com contentamento, é grande fonte de lucro. Muitos homens e mulheres são escravos de Mamon. Prostram-se diante desse ídolo e naufragam no ministério. Alguém já disse: “Aquele que serve a Deus por dinheiro, servirá ao Diabo por salário melhor”.

2) O homem de Deus é conhecido por aquilo que ele segue (I Tm 6.11)

O apóstolo continua: “.... segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância e a mansidão”. Um homem de Deus foge do pecado e segue a virtude. Sabe qual foi a pressa de José? Não foi ver seus sonhos realizados. Não. Foi fugir da mulher de Potifar! Ele foge da injustiça, mas busca o que é justo mais que o ouro e a prata. Ele foge da vida promíscua e impura e segue a piedade. Seu prazer não está no dinheiro, mas em Deus. Ele foge da incredulidade e segue a fé. Deleita-se na Palavra. Ele foge do estilo de vida inconstante daqueles que correm atrás do vento e segue a constância. Foge do destempero emocional e segue a mansidão.

3) O homem de Deus é conhecido por aquilo que ele combate (I Tm 6.12)

O apóstolo ainda escreve: “combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna”. O que estamos combatendo? Alguns ministros estão se digladiando e tentando derrubar o próximo. Vejam estas reuniões de obreiros. É um querendo “puxar o tapete” do outro. A quem estamos combatendo? Será que nunca lemos, que a nossa guerra não é contra carne e sangue? (Ef 6.12). Por que tanta disputa por cargos e mais cargos que não levam a nada? Onde está a urgência da evangelização? Por que não combatemos as mais diversas heresias que percorrem em nossas igrejas?

O ministério não é uma colônia de férias, é um campo de batalhas. Neste combate não há soldado na reserva. Todos devem combater! Timóteo deveria entender que o ministério cristão é uma luta sem trégua e sem pausa contra o erro e em prol da verdade. Ele deveria, como soldado de Cristo, engajar-se no combate certo, com a motivação certa. Há muitos obreiros que entram na luta errada, com as armas erradas e com a motivação errada. Timóteo não deveria brigar por causa de dinheiro, mas combater em defesa da fé verdadeira. Essa deve ser a nossa luta. O avanço do reino de Deus.

4) O homem de Deus é conhecido por aquilo que ele guarda (I Tm 6.14)

Finalmente, Paulo diz: “sem mácula e irrepreensível, guarda este mandamento até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo”. Muitos obreiros haviam se desviado no caminho, como Demas. Outros haviam se intoxicado pelo orgulho, como Diótrefes. Outros haviam sido seduzidos pelos falsos mestres. Outros se corromperam com a ganância pelo dinheiro. Todavia, o homem de Deus deve guardar o mandamento, a Palavra de Deus, vivendo de maneira irrepreensível até a volta do Senhor Jesus.

Um homem de Deus não negocia a verdade nem transige com seus absolutos. Um homem de Deus não se rende a tentação do lucro em nome da fé nem abastece seu coração com as ilusões de doutrinas estranhas às Escrituras. Um homem de Deus ama a Palavra, guarda a Palavra, vive a Palavra e prega a Palavra. Que o Deus Eterno levante homens de Deus com essas características; dispostos a fugir do pecado, a seguir a justiça, a combater o bom combate e a guardar a Palavra, vivendo uma vida exemplar e digna de ser imitada. Deus nos conceda essa graça. Amém!
Fonte: davarelohim

terça-feira, 21 de julho de 2009

Que P... Evangelho é Esse?

A prova de que o cristão não anda muito interessado em aprender sobre Cristo é o fato de que nesse momento muitos cristãos conhecem maravilhosamente bem o significado de porra mas nunca se interessaram em ler ao menos os evangelhos. Cai como uma luva sobre a igreja brasileira a já tão conhecida frase do Tony Campolo: “Enquanto você dormia ontem, 30000 crianças morreram de fome ou de doenças relacionadas a má nutrição. E mais, a maioria de vocês nunca ajudaram em merda nenhuma. E o que é pior: você está mais perturbado com o fato de eu ter dito “merda” do que com a notícia de que 30000 crianças morreram de fome na última noite.”

Qualquer um que vai à igreja se depara com uma deturpação da lei da semeadura que apresenta-se de maneira tão clara:

Gal 6:7 Não vos enganeis; Deus não se deixa escarnecer; pois tudo o que o homem semear, isso também ceifará.

Gal 6:8 Porque quem semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas quem semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.

Como não poderia deixar de ser em um momento que a alienação atinge altíssimos níveis na igreja cristã - a batida contínua na mesma tecla ocorre somente porque é o que se pode ver diariamente desde igrejas de fundo de quintal a templos enormes portanto, calar-me ao meu ver é ser conivente - interpreta-se um versículo que fala de recompensa pós-vida para alimentar um povo fanático com falsas esperanças de vitórias.

O primeiro erro está em pensar que semear é cumprir ritos considerados sagrados por humanos. Sim, é difícil de acreditar mas, ainda existem pessoas que acreditam que não fumar, beber ou xingar é mais importante do que coisas extremamente piegas como amar e perdoar. A constatação do motivo é fácil e simples: o cristianismo não é simples, ele é conciso. Quando nos utilizamos da famosa e clássica definição de empatia:

Mat 7:12 Portanto, tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas.

Não estamos dizendo que o evangelho é simples ou de fácil entendimento prático, observa-se que Cristo definiu a prática das boas-novas de forma concisa, até porque se o cristianismo fosse de fácil compreensão a prática, mesmo por aqueles que dizem não viver uma religião, seria bastante palpável.

Na realidade o que se prega em quase todo culto o qual você tenha o desprazer de ir não passa de uma imitação barata do tão afamado Karma. Faça uma coisa boa e algo bom acontecerá e o mesmo ocorre com o oposto, essa é a definição mais simples de karma. Ou, quem sabe, pregadores, no afã de agradar o lado científico, tentam aplicar a Terceira Lei de Newton conhecida como Lei da Ação e Reação a uma mensagem totalmente metafísica.

Bastante clichê o discurso de crítica à igreja, no entanto a putaria que estão transformando a interpretação bíblica é tão absurda que falar palavras consideradas de baixo calão não chega nem perto da enganação e do prejuízo que os evangélicos trazem a sociedade. Fazem uma orgia de significações com um único, simples e absoluto objetivo: agradar seus próprios egos. Quem terá coragem de dizer que nenhuma personagem bíblica da Nova Aliança se deu bem em vida? Que os mais fieis tiveram mortes terríveis? Que o cristianismo não é uma vitória em vida? Que porra de Evangelho é esse que dizem pregar?

P.S.: O objetivo do uso de palavrões é causar impacto no sentido de que é isso, em linguagem clara e simples, que os não-cristãos perguntam quando vêem escândalos e mais escândalos, incoerências e fanatismo. A mensagem de Cristo é clara, apesar de João 13:35 não se fazer presente nunca.

P.S.: Peço desculpas aos que não gostam de ler tais palavras, me apoio na licença poética apesar da falta de poesia.

Fonte: rapensando

QUANDO JESUS VOLTARÁ?

A Unção da Bicharada


Renato Vargens

Por acaso você já percebeu que vivemos numa época onde se tem unção para todo tipo de gosto? Pois é, os adeptos da "zooteologia" acreditam que pessoas em estados alterados de consciência recebem da parte de Deus a mais variada unção de animais.
Diante disto sou obrigado a confessar que a unção da bicharada é algo que me deixa extremamente intrigado, até porque, não vejo em nenhum momento da Bíblia os apóstolos usufruindo de tais manifestações espirituais. Por acaso existem relatos nas Escrituras de Paulo latindo? Ou de Pedro uivando? Ou Timóteo rugindo? Claro que não. Entretanto, os adeptos da "zooteologia" acreditam que algumas pessoas recebem da parte de Deus a unção de animais, o que as faz latir como cães, pular como macacos, rastejar como cobras.
Lembro que há pouco tempo a Ana Paula Valadão e o ministério Diante do Trono protagonizaram uma das piores cenas já vistas. Movidos por aquilo que denominam de unção dos quatros seres viventes, os integrantes deste famoso grupo rugiam como leões, batiam os braços imitando as asas de uma águia, além de rolarem como bichos palco abaixo.
Caro leitor, sinceramente confesso que não sei aonde vamos parar. O que fizeram com o evangelho de Cristo? O que fizeram da sã doutrina? Diante disto tudo lhe pergunto: Que Cristianismo é esse? Que Evangelho é esse? Que doutrinas são estas? Ora, esse não é e nunca foi o evangelho anunciado pelos apóstolos. Antes pelo contrário, este é o evangelho que alguns dos evangélicos fabricaram! Infelizmente, a Igreja deixou de ser a comunidade da palavra de Deus cuja fé se fundamenta nas Escrituras Sagradas, para ser a comunidade da pseudo-experiência, do dualismo, do misticismo e do neomaniqueismo!
Como cristão repudio veementemente essa zooteologia esdrúxula que só serve para confudir o povo de Deus além obviamente de levar aos incautos deste século a blasfemarem contra o Senhor. Além disso, rogo ao Deus Todo-Poderoso que nos livre e guarde das loucuras e aberrações deste tempo!

Maranata!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

ESTOU CANSADO


Por Ricardo Gondim

Cansei! Entendo que o mundo evangélico não admite que um pastor confesse o seu cansaço. Conheço as várias passagens da Bíblia que prometem restaurar os trôpegos. Compreendo que o profeta Isaías ensina que Deus restaura as forças do que não tem nenhum vigor. Também estou informado de que Jesus dá alívio para os cansados. Por isso, já me preparo para as censuras dos que se escandalizarem com a minha confissão e me considerarem um derrotista. Contudo, não consigo dissimular: eu me acho exausto.

Não, não me afadiguei com Deus ou com minha vocação. Continuo entusiasmado pelo que faço; amo o meu Deus, bem como minha família e amigos. Permaneço esperançoso. Minha fadiga nasce de outras fontes.

Canso com o discurso repetitivo e absurdo dos que mercadejam a Palavra de Deus. Já não agüento mais que se usem versículos tirados do Antigo Testamento e que se aplicavam a Israel para vender ilusões aos que lotam as igrejas em busca de alívio. Essa possibilidade mágica de reverter uma realidade cruel me deixa arrasado porque sei que é uma propaganda enganosa. Cansei com os programas de rádio em que os pastores não anunciam mais os conteúdos do evangelho; gastam o tempo alardeando as virtudes de suas próprias instituições. Causa tédio tomar conhecimento das infinitas campanhas e correntes de oração; todas visando exclusivamente encher os seus templos. Considero os amuletos evangélicos horríveis. Cansei de ter de explicar que há uma diferença brutal entre a fé bíblica e as crendices supersticiosas.
Canso com a leitura simplista que algumas correntes evangélicas fazem da realidade. Sinto-me triste quando percebo que a injustiça social é vista como uma conspiração satânica, e não como fruto de uma construção social perversa. Não consideram os séculos de preconceitos nem que existe uma economia perversa privilegiando as elites há séculos. Não agüento mais cultos de amarrar demônios ou de desfazer as maldições que pairam sobre o Brasil e o mundo.

Canso com a repetição enfadonha das teologias sem criatividade nem riqueza poética. Sinto pena dos teólogos que se contentam em reproduzir o que outros escreveram há séculos. Presos às molduras de suas escolas teológicas, não conseguem admitir que haja outros ângulos de leitura das Escrituras. Convivem com uma teologia pronta. Não enxergam sua pobreza porque acreditam que basta aprofundarem um conhecimento “científico” da Bíblia e desvendarão os mistérios de Deus. A aridez fundamentalista exaure as minhas forças.

Canso com os estereótipos pentecostais. Como é doloroso observá-los: sem uma visitação nova do Espírito Santo, buscam criar ambientes espirituais com gritos e manifestações emocionais. Não há nada mais desolador que um culto pentecostal com uma coreografia preservada, mas sem vitalidade espiritual. Cansei, inclusive, de ouvir piadas contadas pelos próprios pentecostais sobre os dons espirituais.

Cansei de ouvir relatos sobre evangelistas estrangeiros que vêm ao Brasil para soprar sobre as multidões. Fico abatido com eles porque sei que provocam que as pessoas “caiam sob o poder de Deus” para tirar fotografias ou gravar os acontecimentos e depois levantar fortunas em seus países de origem.

Canso com as perguntas que me fazem sobre a conduta cristã e o legalismo. Recebo todos os dias várias mensagens eletrônicas de gente me perguntando se pode beber vinho, usar “piercing”, fazer tatuagem, se tratar com acupuntura etc., etc. A lista é enorme e parece inexaurível. Canso com essa mentalidade pequena, que não sai das questiúnculas, que não concebe um exercício religioso mais nobre; que não pensa em grandes temas. Canso com gente que precisa de cabrestos, que não sabe ser livre e não consegue caminhar com princípios. Acho intolerável conviver com aqueles que se acomodam com uma existência sob o domínio da lei e não do amor.

Canso com os livros evangélicos traduzidos para o português. Não tanto pelas traduções mal feitas, tampouco pelos exemplos tirados do golfe ou do basebol, que nada têm a ver com a nossa realidade. Canso com os pacotes prontos e com o pragmatismo. Já não agüento mais livros com dez leis ou vinte e um passos para qualquer coisa. Não consigo entender como uma igreja tão vibrante como a brasileira precisa copiar os exemplos lá do norte, onde a abundância é tanta que os profetas denunciam o pecado da complacência entre os crentes. Cansei de ter de opinar se concordo ou não com um novo modelo de crescimento de igreja copiado e que vem sendo adotado no Brasil.

Canso com a falta de beleza artística dos evangélicos. Há pouco compareci a um show de música evangélica só para sair arrasado. A musicalidade era medíocre, a poesia sofrível e, pior, percebia-se o interesse comercial por trás do evento. Quão diferente do dia em que me sentei na Sala São Paulo para ouvir a música que Johann Sebastian Bach (1685-1750) compôs sobre os últimos capítulos do Evangelho de São João. Sob a batuta do maestro, subimos o Gólgota. A sala se encheu de um encanto mágico já nos primeiros acordes; fechei os olhos e me senti em um templo. O maestro era um sacerdote e nós, a platéia, uma assembléia de adoradores. Não consegui conter minhas lágrimas nos movimentos dos violinos, dos oboés e das trompas. Aquela beleza não era deste mundo. Envoltos em mistério, transcendíamos a mecânica da vida e nos transportávamos para onde Deus habita. Minhas lágrimas naquele momento também vinham com pesar pelo distanciamento estético da atual cultura evangélica, contente com tão pouca beleza.

Canso de explicar que nem todos os pastores são gananciosos e que as igrejas não existem para enriquecer sua liderança. Cansei de ter de dar satisfações todas as vezes que faço qualquer negócio em nome da igreja. Tenho de provar que nossa igreja não tem título protestado em cartório, que não é rica, e que vivemos com um orçamento apertado. Não há nada mais desgastante do que ser obrigado a explanar para parentes ou amigos não evangélicos que aquele último escândalo do jornal não representa a grande maioria dos pastores que vivem dignamente.
Canso com as vaidades religiosas. É fatigante observar os líderes que adoram cargos, posições e títulos. Desdenho os conchavos políticos que possibilitam eleições para os altos escalões denominacionais. Cansei com as vaidades acadêmicas e com os mestrados e doutorados que apenas enriquecem os currículos e geram uma soberba tola. Não suporto ouvir que mais um se auto-intitulou apóstolo.

Sei que estou cansado, entretanto, não permitirei que o meu cansaço me torne um cínico. Decidi lutar para não atrofiar o meu coração.

Por isso, opto por não participar de uma máquina religiosa que fabrica ícones. Não brigarei pelos primeiros lugares nas festas solenes patrocinadas por gente importante. Jamais oferecerei meu nome para compor a lista dos preletores de qualquer conferência. Abro mão de querer adornar meu nome com títulos de qualquer espécie. Não desejo ganhar aplausos de auditórios famosos.
Buscarei o convívio dos pequenos grupos, priorizarei fazer minhas refeições com os amigos mais queridos. Meu refúgio será ao lado de pessoas simples, pois quero aprender a valorizar os momentos despretensiosos da vida. Lerei mais poesia para entender a alma humana, mais romances para continuar sonhando e muita boa música para tornar a vida mais bonita. Desejo meditar outras vezes diante do pôr-do-sol para, em silêncio, agradecer a Deus por sua fidelidade. Quero voltar a orar no secreto do meu quarto e a ler as Escrituras como uma carta de amor de meu Pai.

Pode ser que outros estejam tão cansados quanto eu. Se é o seu caso, convido-o então a mudar a sua agenda; romper com as estruturas religiosas que sugam suas energias; voltar ao primeiro amor. Jesus afirmou que não adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma. Ainda há tempo de salvar a nossa.

Soli Deo Gloria.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

MAIS UM SELO


Este é um presente que ganhei do irmão Rodrigo Magalhães do Pensamentos sobre a vida!

As regras do selo:

1 - Exiba a imagem do selo, que você acabou de ganhar

2 - Poste o link do blog que te indicou (muito importante)

3 - Indique 10 blogs de sua preferência. Avise seus indicados(não esquecer) publique as regras

4 - Confira se os blogs indicados repassaram o selo e as regras
O meus blogs indicados são:

1- Matias Borba do ENCONTRO COM A BÍBLIA

2- Roberto Falbo do Amigo de CRISTO

3- Éverton Vidal do Lion Of Zion

4- Paulo Machado do A Boa Milícia da Fé

5- Rev. Ronaldo do SOLUS CHRISTUS

6- Vicente Natividade do ADONAINEWS Notícias do meu Senhor


8- Danilo Miguel do Sem forma!

9- Muller do palavra_nova


Eu tenho mais um monte de gente para indicar, mas nos foi dada somente essa opção. Aos outros recebam o selo no coração.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Erva venenosa


“Amantíssimos irmãos que escolheram a Catedral Evangélica para buscar as benesses do nosso Deus excelso, vamos receber com uma calorosa salva de palmas o reverendo Silas Malafaia. Ele será o portador da mensagem que o Pai celeste deseja nos transmitir nesta noite de encerramento da campanha “As 7 chaves da vitória”. Após o culto, o ínclito servo do Deus Altíssimo estará no átrio autografando a “Bíblia da Prosperidade e Batalha Espiritual”, quintessência exegética que traz comentários do Doutor em Divindade Morris Cerullo.”

Trágica ou hilária (dependendo do ponto de vista), a cena acima (ainda) não ocorreu. No entanto, inúmeros elementos característicos da práxis neopentecostal hoje fazem parte da liturgia de igrejas que, num passado recente, lutaram para manter coerência e base bíblica inclusive na área musical.

O zelo com a Palavra não mais se estende ao chamado “período de louvor”, numa espécie de “licença poética”, naturalmente sem nenhuma poesia. “Se formos rigorosos, perderemos os poucos jovens que ainda temos”, raciocinam os pastores. Após inúmeros embates, preferiram jogar a toalha (e o nível), optando por engolir semanalmente batráquios que crescem em lagoas de tamanhos variados.

Gênesis

Nascido na década de 60, o neopentecostalismo abandonou os usos e costumes característicos das igrejas pentecostais. Ao mesmo tempo em que saias e cabelos foram encurtados, a liturgia também sofreu transformação. Os tradicionais hinários foram deixados de lado e substituídos pelo retroprojetor.

Em lugar do engessamento litúrgico que circunscrevia a música a períodos de nomes pomposos como contrição e ofertório, as canções passaram a ser usadas para ajudar as pessoas a “abrir o coração”. O conteúdo do que seria cantado era questão de somenos. Importava mais a atmosfera alcançada por meio das canções. Palmas e frases exclamativas sempre ajudaram a proporcionar o clima desejado. Como a estratégia foi bem-sucedida, Maquiavel já pode ser ungido apóstolo.

Êxodo

Habituada a longos e irrelevantes debates, a ala tradicional desperdiçou ao menos as duas décadas seguintes gastando munição em especial contra guitarras e baterias. Assestaram contra alvos errados e perderam milhares de musicistas, o que ajuda a explicar a produção pífia e quase inexistente do segmento na atualidade. Alguém é capaz de enumerar grupos musicais influentes abrigados hoje nas fileiras batistas e presbiterianas, por exemplo?

Do outro lado do espectro teológico, as perdas também foram expressivas. Na década de 80 em particular, igrejas pentecostais forneceram metaleiras completas para bandas do florescente movimento gospel. O cardápio musical evangélico ganhou opções variadas, intensificando o trânsito interdenominacional. Como ouvir nos cultos o provecto órgão eletrônico com tantas igrejas oferecendo estilos musicais mais contemporâneos e atraentes?

Números

Acostumados na seara musical no máximo a avisar a congregação que só deveria entoar as estrofes 1 e 2 do hino, pastores tiveram de ceder espaço para os “ministros” de louvor. O modus operandi varia um pouco, mas normalmente tratam-se de caras bem-intencionados que, na falta do que dizer, pedem coisas estranhas como olhar para o lado e profetizar para alguém. Seria interessante publicar no boletim da semana seguinte os resultados da saraivada profética.

Um lencinho é sempre necessário se a ministração for conduzida pela ala feminina. Segundo o modelo vigente, chorar é sinônimo de consagração ou, em muitos casos, tristeza por ter de suportar um discursinho repleto de expressões vazias. Enquanto isso, outros continuam trazendo a arca (de Noé?) e outros elementos vetero-testamentários tão úteis para as celebrações quanto retalhos do véu rasgado. Preces para mexer com a estrutura mostram-se inúteis quando as musiquinhas são mera trilha sonora para buscar milagres e bênçãos. Ensina-me a ter paciência...

Atos

Bons de briga e ruins de teologia e prosódia, muitos líderes resistiram e tentaram alterar trechos de músicas considerados impróprios. Alheios ao imprimatur pastoral, compositores produziam pérolas do tipo “deixe seu complexo interior”. Aliás, no documentário do João Moreira Salles há um trecho dessa música em que a galera canta a expressão “inexpremíveis”. Certamente o ato falho remete à impossibilidade de se extrair conteúdo desse tipo de músicas, mesmo “espremendo” bastante...

Palmas deixaram de ser exclusivas para marcar o ritmo. Aludindo ao jargão de um televangelista, aplaude-se Jesus, a música especial e até a piadinha do pastor no meio da mensagem. Entre uma música e outra, as palmas efusivas ajudam a manter a atmosfera de “unção”, não permitindo que o clima de adoração diminua. Como ninguém pensou nisso em tantos séculos de igreja?

Apocalipse não

Paracelso, um famoso cientista suíço do passado, ajuda a clarificar minha indignação: “Não há nada na natureza que não seja venenoso. A diferença entre remédio e veneno está na dose de prescrição”. Mesmo que pretensamente purificadora, a água pode ser tóxica. Os afogamentos são causados por excesso de água, além de ela ser um elemento de considerável importância em casos de edema cerebral e pulmonar. Por estranho que pareça, o veneno mais perigoso do mundo, a toxina botulínica, é usada hoje com efeitos terapêuticos e estéticos no botox. Como acontece na igreja contemporânea, o veneno ajuda a manter a boa aparência, quesito importante para manter o grau de atração em alta.

O problema é que os efeitos do botox duram apenas alguns meses, enquanto as doses musicais venenosas (ad)ministradas nos cultos não têm prazo para terminar. “Parece uma rosa, de longe é formosa...” Infelizmente, há consonância entre a “teologia” macediana de controlar Deus por meio de ofertas e o bonifrate divino movido pelos cordéis das declarações egoístas das músicas que embalam ovelhas subnutridas.

Da mesma forma que não se pode colher uvas dos espinheiros e figos dos abrolhos, boas intenções não são antígenos eficientes para aniquilar o potencial de letalidade existente. Se na canção da Rita Lee a erva venenosa apenas “achata bem a boca”, os trojans musicais têm poder de destruição bem maior.

É hora de atualizar o antivírus e de buscar expressões de louvor cuja qualidade remeta à excelência daquele que nos chamou para lhe prestar culto racional. Castelos fortes nunca resistirão se construídos na areia. Povo de Deus, declare isto.

Sérgio Pavarini é blogueiro, jornalista e marqueteiro Via: Tomei a pílula vermelha