quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Deus faz as regras tanto no céu como no inferno.



Por Jesemar Bessa

O inferno não é nem a AUSÊNCIA eterna de Deus, nem a SEPARAÇÃO eterna de Deus. De fato Deus é muito presente no inferno, mas presente na totalidade de sua IRA.

Ninguém ficará eternamente deixado aos seus próprios termos. Isso mostra o contrário da opinião tão difundida de que Satanás governa o inferno. Deus faz as regras tanto no céu como no inferno. Ele é o Deus do céu e do inferno, ele é o Deus da luz, mas também é o Deus das trevas, de fato, só Ele é Deus.

Davi disse confessou que não importava onde ele fosse, não poderia escapar da presença de Deus: “Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá. Se disser: Decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim. Nem ainda as trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa” - Salmos 139:7-12

Deus é inevitável para suas criaturas! Deus é soberano sobre todas as coisas - Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. O inferno não é uma “festa” onde Satanás é o anfitrião. O inferno é o lugar onde Deus derrama Sua ira implacável sobre o homem não justificado em Cristo.

Jesus apaga a névoa que repousava sobre os autores do Antigo Testamento, nos dando uma visão clara sobre a eternidade: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” - Mateus 10:28

Na cruz, Jesus não suportou a AUSÊNCIA do Pai. Ele suportou a PLENITUDE de Sua ira. Vemos isso na imagem do “cálice” que Jesus bebeu. Falando com Tiago e João, Jesus diz: “Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber...” - Mateus 20:22 - Já no Velho Testamento há a linguagem presente do cálice da ira de Deus (Is 51.15; Jr 25.15; Is 51.22...) – Eis a oração de Jesus momentos antes de enfrentar a Cruz: “E, indo um pouco mais para diante, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se é possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres”. Mateus 26:39

A realidade do abandono do Pai a Jesus não era apenas que Jesus foi separado do Pai. Ele foi abandonado no sentido em que foi colocado sobe Jesus tudo o que o Pai despreza, odeia e amaldiçoa. Ele não foi abandonado no sentido em que foi deixado sozinho, mas que ele ficou desprovido de TODA MISERICÓRDIA e sujeito a TODA IRA. Ele bebeu o cálice da ira de Deus. A face do Pai que brilhou tão radiante no batismo do Filho, tornou-se uma carranca escura quando o Filho foi feito pecado por nós, seu povo.

O inferno é o lugar de tormento tanto para Satanás quanto para os homens. É onde Deus serve a taça da ira ( Que Jesus bebeu na cruz por todos os redimidos ) por toda a eternidade. Satanás não comanda tormentos do inferno, ele próprio estará sofrendo o tormento a partir da mão do próprio Deus. Satanás não está no comando do inferno, Deus está. O inferno é o inferno de Deus.

Separação eterna de Deus seria um alívio para o pecador diante de um Deus irado.. Mas não é esse o caso quando se fala do inferno. O inferno não é a separação eterna de Deus. Na verdade, é exatamente o oposto. É o sofrimento eterno vindo mão de Deus. É o abandono e separação de toda misericórdia de Deus e o eterno beber do cálice que Jesus tomou na cruz: “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” - Hebreus 10:3

Devemos pregar sobre o inferno, Satanás e os demônios?

Sata2 
Por Maurício Zágari

A proclamação do Evangelho deve ter como centro Jesus. A cruz. As boas-novas da salvação. Sempre. Sempre. Sempre. Podemos pregar sobre qualquer assunto correlato, desde que tenha ligação com o epicentro de nossa fé: Cristo. Pregações sobre dízimo devem ter foco em Jesus. Pregações sobre casamento devem ter foco em Jesus. Pregações sobre vida sexual devem ter foco em Jesus. Pregações sobre arrependimento devem ter foco em Jesus. Por isso, existe uma grande resistência em alguns setores da Igreja a se pregar sobre o inferno, o diabo e os demônios. Em grande parte, isso ocorre como reação à ênfase despropositada que certas denominações dão à chamada “libertação”, em todas as suas variáveis – “descarrego”, “batalha espiritual”, expulsão de demônios etc. -,  o que leva muitos a tomar uma postura contrária, eliminando totalmente do púlpito mensagens que tenham a ver com as hostes espirituais da maldade. Essa postura acaba se refletindo em todas as esferas da vida cristã dos que assim procedem, como a rejeição por livros que falem do assunto ou mesmo nas orações que fazem e nas músicas que cantam. Por muito tempo compartilhei desse pensamento. Falar sobre isso era como jogar uma barata dentro de uma refeição refinada num restaurante chique. Mas tenho revisto essa posição. Hoje estou convencido de que devemos sim pregar sobre o inferno e os perigos das forças espirituais do mal – desde que as pregações sobre o assunto tenham foco em Jesus.

A primeira razão que me fez rever essa posição foi a releitura do Novo Testamento. Lendo as Escrituras e alguns bons livros descobri, espantado, que Jesus de Nazaré falou mais nos Evangelhos sobre o inferno do que sobre o Céu – sabia? Ou seja: o próprio Senhor abriu o precedente. Afirmar que não se pode pregar sermões que tratem do mundo espiritual maligno – com foco em Cristo, sempre – seria dizer que Jesus não poderia ter falado o que falou. E repreender Deus é, no mínimo, complicado. Se por um lado, o Senhor nos disse para não ficarmos eufóricos com esse assunto (“Contudo, alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus” – Lc 10.20), por outro nos instrui muitas vezes sobre ele (como em “Jesus repreendeu o demônio; este saiu do menino [...]  Então os discípulos aproximaram-se de Jesus em particular e perguntaram: “Por que não conseguimos expulsá-lo? “  Ele respondeu: [...] esta espécie só sai pela oração e pelo jejum” -  Mt 17.18-22).

Sata3
Trabalho como editor de livros cristãos. Meu último projeto – sobre o qual não posso falar muito, por enquanto, por questões éticas – é uma obra de um importante pastor presbiteriano brasileiro e chanceler de uma universidades  cristã. Tradicional. Histórico. E brilhante. Surpreendeu-me, portanto, quando li em seu texto o seguinte:  “Alguém já disse que pregar sobre o inferno não é um caminho muito bom para levar pecadores ao arrependimento, porque, nesse caso, as pessoas se converteriam por medo da perdição eterna. Pessoalmente, entendo que é preferível que seja assim ao fato de o indivíduo não se converter de maneira nenhuma. Se alguém se converteu porque tem medo de ir para o inferno, isso é ótimo, mas se a conversão ocorreu por amor a Jesus é melhor ainda. Não faz mal o crente se assustar com a realidade da justiça divina”.

Cada vez mais tenho percebido a importância de alertar a Igreja, como fez o próprio apóstolo Pedro, de que “o diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge, procurando a quem possa tragar” (1 Pe 5.8). Forças do mal estão se infiltrando nas igrejas. Nas empresas cristãs. Ensinamentos diabólicos estão conquistando espaço nos corações e nas mentes dos jovens e adolescentes evangélicos. Temos guardado os portões da frente de nossas vidas pela proclamação indispensável do Evangelho de Cristo, mas, ao fecharmos os lábios contra “as ciladas do diabo” (Ef 6.11), deixamos a porta dos fundos escancarada para a entrada dos sabotadores de nossa espiritualidade.

Sata4Deus é infinitamente mais poderoso que o diabo. A velha ideia de que Satanás e Jeová disputam as almas humanas como num cabo-de-guerra, em igualdade de condições, é um erro de proporções (anti)bíblicas. O Deus criador é tão superior ao diabo criatura que, com um piscar de olhos, Ele poderia, se quisesse, eliminar todos os demônios, todo o inferno, tudo, tudo, tudo. Então, imaginar que o diabo é inimigo direto do Todo-poderoso chega a ser engraçado, pois o querubim caído não pode absolutamente nada contra o criador do universo. Na-da. Ele é inimigo, isso sim, dos homens, a quem consegue astutamente enganar. Em especial aqueles que não estão alertas contra esse engano  e que se julgam imunes à tentação maligna.

Portanto, é por isso que Paulo, o apóstolo, prega à igreja de Éfeso: “A nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12). E deixar de fora das nossas preocupações, do nosso discurso e da nossa pregação essa realidade seria ignorar um assunto tratado extensamente por Jesus e por seus discípulos nos evangelhos, nas epístolas e em Apocalipse. Seria uma irresponsabilidade.

Sata5A literatura cristã está repleta de livros sérios que alertam para o tema, seja de forma direta ou por meio da ficção. Um exemplo que imediatamente me vem à mente é o do grande C.S.Lewis, que escreveu as obras ficcionais “Cartas de um diabo a seu aprendiz”, “O Grande Abismo”, “Cartas do Inferno” e “As crônicas de Nárnia”, que mostram explicita ou implicitamente a ação de demônios e – graças a Deus – despertam o fascínio sobre o tema. Aliás, dedicar tempo e tinta para alertar a Igreja contra o inferno, o diabo e seus ardis fez parte da preocupação de grandes homens de Deus desde o princípio. Além do próprio Jesus e dos autores canônicos, os primeiros escritos da época patrística trazem textos sobre o assunto de alguns pais da Igreja, como Orígenes (“De principiis”), Gregório de Nissa e outros. Assim foi e prosseguiu pelo período da escolástica (com Erasmo) e da Reforma (com Lutero e Zuínglio), seguindo por John Wesley, John Bunyan e outros (a série do website Voltemos ao Evangelho sobre “A História do Inferno” fornece uma boa bibliografia sobre o assunto). A conclusão é que sempre houve na Igreja cristã saudável a preocupação de pregar e escrever sobre Satanás, os demônios e o inferno – de Jesus a John Piper e Paul Washer. Basta procurar.

Em nossos dias, livros e relatos de ficção apresentados como verídicos, como as histórias de Rebecca Brown e similares, prestaram um desserviço à Igreja, por dois ângulos: de um lado houve quem cresse em seus contos como se fossem realidade e passasse a viver segundo suas ficções. Do outro, quem percebeu que se tratava de uma farsa passou a ter um preconceito refratário a qualquer coisa do gênero, qualquer livro que toque no assunto, qualquer música que mencione o diabo ou o inferno. O satanismo, uma realidade tão presente e infiltrada nas igrejas, ministérios e outros ambientes cristãos, tornou-se um assunto sobre o qual não se deveria falar. Com isso, saiu perdendo a importância bíblica e histórica de se tratar e de pregar sobre a questão. E quem saiu ganhando? Preciso responder?

Até mesmo na música. O tradicional hino “Castelo Forte”, composto pelo reformador Martinho Lutero,  dedica quase metade de suas linhas ao diabo e os demônios (depois que ele afirmou, veja você: “Não pretendo deixar para o Diabo as melhores melodias!”):

“Castelo forte é nosso Deus,
Amparo e fortaleza:
Com seu poder defende os seus
Na luta e na fraqueza.
Nos tenta Satanás, Com fúria pertinaz, Com artimanhas tais E astúcias tão cruéis, Que iguais não há na Terra.

A nossa força nada faz:
Estamos, sim, perdidos.
Mas nosso Deus socorro traz
E somos protegidos.
Defende-nos Jesus,
O que venceu na cruz
O Senhor dos altos céus.
E sendo também Deus,
Triunfa na batalha.


Se nos quisessem devorar Demônios não contados, Não nos podiam assustar, Nem somos derrotados. O grande acusador Dos servos do Senhor Já condenado está: Vencido cairá Por uma só palavra.

Que Deus a luta vencerá, Sabemos com certeza,
E nada nos assustará
Com Cristo por defesa.
Se temos de perder
Família, bens, poder,
E, embora a vida vá,
Por nós Jesus está,
E dar-nos-á seu reino.”


Sata6O inferno existe e é um assunto sério. Bíblico. Jesus falou e pregou sobre ele – e muito. Devemos fazer o mesmo. Satanás e os demônios são um assunto sério. Bíblico. Jesus lidou pessoalmente, expulsou constantemente e falou sobre eles – e muito. Devemos fazer o mesmo. Se for preciso despertar o fascínio sobre o assunto, que assim seja. Pois, no pesar da balança, é melhor pecar pelo excesso do que pela omissão. Pois o que está em jogo aqui são almas humanas. Precisamos saber lidar de forma bíblica e correta com as hostes espirituais da maldade, que tanto dano provocam no seio da Igreja. E isso só vai acontecer se nossos líderes nos ensinarem a fazê-lo biblicamente. Enquanto acreditarem na inverdade que “não se prega falando sobre o inferno, Satanás e os demônios”, estarão na contramão do que fez Jesus, os escritores canônicos, os pais da Igreja, os escolásticos, os reformadores, os expoentes dos grandes despertamentos e importantes pregadores reformados de nossos dias. E, com isso, só quem lucra é o diabo, que pode usar e abusar dos cristãos que não sabem lidar com o mal porque nunca lhes ensinaram a fazer isso de forma sadia.

É ingenuidade acreditar que basta pregar sobre Cristo sem falar nada sobre o diabo e estaremos isentos das artimanhas e dos ataques do maligno. Já ouvi o bom argumento de que para aprender a identificar a nota falsa basta conhecer bem a verdadeira – só que, se a tinta da nota falsa gera prurido e alergia em nossa pele, somente conhecer a verdadeira não vai adiantar muito, depois que já manuseamos a falsificada. A luz espanta as trevas, é verdade, mas me diga um cristão com Jesus no coração que não peca porque aqui e ali se deixou enganar pelas forças do mal. Como vigiaremos se não sabemos como é o inimigo? Como estaremos alertas às “ciladas do diabo” se não temos conhecimento de como ele age, o que faz, como se combate? Muitas tecnologias fajutas de “batalha espiritual” ganham notoriedade em nossos dias justamente porque houve muitos que ensinaram errado enquanto os que poderiam ensinar certo deram as costas ao assunto.

Sata7Pregar sobre Jesus é o centro, o foco e a essência. Mas o que muitos lamentavelmente não enxergam é que pregar mensagens de alerta sobre o inferno, Satanás, o satanismo, as hostes espirituais da maldade – de forma bíblica! – também é fazer exatamente isso: ressaltar a altura da montanha pela profundidade do vale. Mostrar a luz pela contraposição com as trevas. Posicionar o bem a partir de um referencial maligno. Exilar o mal de nossa proclamação do Evangelho é remover o diabo da tentação de Jesus no deserto; é tirar a história do rico e Lázaro da Bíblia; é contar a parábola do semeador pela metade; é amputar os primeiros capítulos do livro de Jó; é rasgar páginas e mais páginas das epístolas; é anular todo o sentido de Apocalipse; é jogar no lixo trechos como Lc 11.14, Mc 7.29, Jo 8.49, Mt 9.33, Mt 17.18, Mc 7.26, Lc 4.33 e muitos outros. Mais importante ainda: é arrancar da história da salvação o relato da Queda. E, sem o que a serpente fez no Éden, por que mesmo precisaríamos da cruz?

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Fonte: Apenas

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Simba e Mufasa - O rugido Soberano!



Por Josemar Bessa

A. W. Tozer certa vez disse: “Tudo que podemos tocar não é eterno”. Palavras sábias e verdadeiras. Como então podemos viver uma vida com a perspectiva da eternidade se tudo que tocamos com nossos sentidos, se tudo que sentimos e tocamos com nossas faculdades naturais não expressam a eternidade?

Ninguém por natureza, nenhum homem natural, pode se encantar com o caráter totalmente santo de Deus ( que é oposto ao do homem ) para que sinta fome do verdadeiro Deus. Naturalmente o que somos? Filhos da ira! – “Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.” - Efésios 2:3 – Só podemos falar sobre nosso coração com verdade ao falarmos como Davi – “Eis que em iniquidade e em pecado me concebeu minha mãe” – Tudo em nós grita por independência de Deus e amar o mundo dos sentidos naturais. Alguma coisa tem que acontecer nas profundezas do nosso ser se tivermos que ser salvos da ira de Deus – “...seu Filho, a quem ressuscitou dentre os mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura.” - 1 Tessalonicenses 1:10

O que faz alguns homens, que estão mortos como todos os outros, ouvirem o chamado geral por vozes humanas débeis se encherem do verdadeiro temor e amor a Deus? O que os cura da cegueira? – “Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus.” - 2 Coríntios 4:3-4 – O que os diferencia dos demais se eles ouvem a mesma mensagem vinda de homens comuns proclamando o evangelho? O chamado! Eles são chamados de uma forma especial e interna – não um chamado geral – “Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos. Mas para os que são chamados... - 1 Coríntios 1:23-24 – é este chamado especial. Eles ouvem muito mais do que a voz de um homem.

Um bom exemplo disso está no filme O Rei Leão. Nele há uma cena em que as hienas cercam o pequeno filhote de leão chamado Simba numa caverna. Simba tenta um rugido ( como nossas débeis vozes ao proclamar o evangelho ao homem natural e a hostilidade do seu coração a Deus ) – mas o som que sai não faz as hienas sentirem nenhum temor. Como as hienas continuam se movendo para matar, Simba tenta rugir novamente com sua “voz” débil. Mas sem que ele ou as hienas soubessem, Mufasa, o Rei dos Leões, entrou na caverna. Simba enche seus pequenos pulmões de filhote... e Mufasa enche os seus pulmões enormes juntos com ele, mas sem ser visto por ninguém. Quando Simba ruge novamente, a caverna se enche com um rugido terrível e completamente assustador. As hienas só veem o movimento da boca de Simba, mas o que ouvem é o barulho estarrecedor da voz do Rei dos Leões.

É assim que os que são chamados ouvem – não ouvem mais o chamado geral, a voz débil do homem pregando a verdade, mas o ressoar totalmente aterrador sobre o seu pecado e o poder transformador da voz soberana que muda e conquista o coração.

O Espírito toma as palavras da Escrituras proclamadas por um homem comum, e nos permite ouvir o rugido do rei. Ele nos faz ouvir seu estrondo no mais profundo recanto de nosso coração. Essa voz cria nova vida – “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo.” - 2 Coríntios 4:6 – Até ouvir o rugido certo, achamos a voz de Moisés, de Paulo... loucura... mas quando por trás da voz comum do homem proclamando as Escrituras, ouvimos o rugido... a ordem é dada para a iluminação do conhecimento de Deus, na face de Cristo!

O que tinha que acontecer em nossa morte espiritual era grande demais para que o chamado geral pudesse operar - A Bíblia fala dessa mudança de muitas maneiras diferentes – Deixar de ser escravo pecado para ser feito servo de Deus - Romanos 6.17-23. Morrer com Cristo e ressuscitar em novidade de vida – Romanos 6.3,4; Gálatas 2.20; Colossenses 2.12. O homem velho ser trocado pelo novo homem que é criado a imagem de Deus – Efésios 4.22-24; Colossenses 3.9,10. Devemos experimentar uma mudança de espírito que nos leva de homens que confiam em si, em sua suposta “liberdade”... para homens que dependam tão somente da misericórdia de Deus – Atos 2.38; Lucas 3.3,8. Ter um coração novo de acordo com a profecia de Ezequiel:

“E lhes darei um só coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e lhes darei um coração de carne” - Ezequiel 11:19 – “E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne.” - Ezequiel 36:26

Temos de nos tornar na verdade uma nova criação – “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” - 2 Coríntios 5:17 – Temos que nos torna como crianças – “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus.” - Mateus 18:3 – Nascer de novo: “Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” - João 3:3

A voz, mesmo do maior pregador que já existiu, como Paulo, não passa de um “rugido” fraco e incapaz como o de Simba. O chamado geral atinge um coração duro e um homem morto espiritualmente. É um chamado, mas não é eficaz. Porque o “que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” – Mas quando a voz ( o “rugido” é ouvido por trás da voz débil ) do Espírito atinge soberanamente o homem – ele nasce do Espírito, o que cria nele, dando-lhe nova vida, novos amores, novas inclinações, numa Nova Aliança. Uma nova pessoa nasce. Antes, como Paulo chama, havia apenas um “homem natural”, mas agora há o “homem espiritual”. E o homem natural, diz Paulo, “não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhes parecem loucura”.

Eis a razão porque toda estratégias humana é uma tolice – Ela sempre será o rugido débil de Simba. Eis porque também não precisamos temer pregar a loucura e o escândalo da cruz, mesmo ela sendo vista assim pelo homem natural. A voz débil e fraca de Simba deve rugir a verdade das Escrituras, e quando soberanamente o “rugido de Mufasa” se fizer ouvir através dela, o homem ouvirá a voz que o ressuscita os mortos.

O “rugido” que faz o homem nascer de novo é soberano. Jesus o explicita com a analogia do vento: “O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” - João 3:8 – Assim é TODO aquele que é nascido do Espírito!!! Cristo proclama em alta voz a liberdade soberana do Espírito Santo na regeneração. “O vento” – o Espírito Santo – “sopra onde ele quer!” – A vontade humana é impotente. Tanto do que fala como do que ouve. Como poderíamos iniciar ou fazer o vento soprar? Ele sopra onde quer, “não do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” – Assim é todo aquele que é nascido de Deus.

Nossa voz – a voz ineficaz e débil dos “Simbas” deve ser ouvida, na espera do grande rugido de “Mufasa!”
 
Fonte: Josemar Bessa

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

“Quero diversão!”


SAMSUNG

Por Anderson Paz 

“e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da palavra” (Atos 6:4).
 
O livro de Atos relata um momento em que os apóstolos escolheram uma equipe para servir às viúvas necessitadas da Igreja. Tal decisão foi tomada a fim de que o serviço às viúvas não afastasse os apóstolos da oração e do ministério da Palavra. Afinal, eles aprenderam com o Mestre que a oração é de singular importância e indispensável na vida cristã.

Eles conheceram de perto o Jesus que se retirava para lugares solitários a fim de orar (Lc. 5:16;), que se levantava de madrugada para orar antes de decidir para que cidade ir (Mc. 1:35-38), que orou uma noite inteira para de escolher os apóstolos (Lc. 6:12,13), que intercedia ao Pai em favor deles (Jo. 17; Lc. 22:31,32). Com certeza experimentaram o resultado da intercessão de Jesus por suas vidas. Por isso sabiam que nada, por mais nobre que fosse, poderia afastá-los da oração. Nem mesmo o nobre e necessário serviço às viúvas. Oração é algo prioritário, e a melhor coisa que eles poderiam fazer pela Igreja era orar e servir-lhes a Palavra. Eles também se tornaram modelos para a Igreja na prática dessas coisas, uma vez que orar é dever de todos os que seguem a Jesus (I Tm. 2:1). Pela vida de oração expressamos o quanto dependemos de Jesus, e sem Ele nada podemos fazer.

Quando olho para o exemplo dos apóstolos, fico a avaliar minha vida de oração e quais são as causas que me fazem deixar de orar. Será que o que me afasta da oração é algo tão nobre e justo como servir as viúvas? Será que é o serviço aos meus irmãos? Ou será que meus motivos não são tão nobres assim? Ou nem mesmo tenham alguma nobreza?

Muitas vezes o que nos afasta da oração não passa de mero entretenimento, de busca por diversão e lazer. Em si mesmo, o entretenimento não tem nada de errado, mas ao considerar que os apóstolos não deixaram que nem mesmo o serviço aos necessitados os afastassem da oração, eu deveria avaliar o espaço que o entretenimento ocupa na minha vida. Afinal, o entretenimento pode ser algo que, ao me afastar da oração, me desvie da verdadeira alegria, pois, segundo Jesus nossa alegria é completa quando temos orações respondidas (João 16:24).

Quero a cada dia avançar na vida de oração, pois sei que isso expressa o quanto eu dependo de Deus, e com certeza alegra o coração do Pai.

A impotência da vontade humana

Por A. W. Pink 

Será que encontramos na vontade do homem, competência para aceitar ou rejeitar o Senhor Jesus como Salvador? 

Admitindo-se que o Evangelho é pregado ao pecador, que o Espírito Santo o convence de sua condição perdida, não é, em última análise, encontrar poder dentro de sua própria vontade para resistir ou se entregar a Deus? 

A resposta a essa pergunta define nossa concepção da depravação humana. 

Todo cristão professo dirá que o homem é uma criatura caída, mas o que o termo “caído” quer dizer a muito deles, isso será difícil de determinar. 

A impressão geral é de que o homem é agora mortal, que ele não está mais no estado em que estava nas mãos do criador, que ele tem tendências más, mas que, se ele empregar seus poderes para o melhor de si, de alguma forma ele vai ser feliz depois. 

Ó, quão longe e triste da verdade! Enfermidades, doenças, até mesmo a morte corporal, são ninharias em comparação aos efeitos morais e espirituais da Queda! É somente através da consulta das Sagradas Escrituras que somos capazes de obter alguma concepção da extensão dessa terrível calamidade. 

Quando dizemos que o homem é totalmente depravado, queremos dizer que a entrada do pecado na constituição humana afetou toda parte facultativa do homem, todo seu ser. 

Depravação total significa que o homem é, em espírito, alma e corpo, escravo do pecado e cativos ao pé do diabo, “...nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência;” Efésios 2.2. 

O homem é incapaz de realizar suas próprias aspirações e concretizar seus próprios ideais. Há uma incapacidade moral que o paralisa. Não é um homem livre, mas em vez disso, escravo do pecado e de Satanás: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” João 8.44. 

O pecado é mais que um ato ou uma série de atos, é um homem de maquiagem. O pecado cega o entendimento, corrompe o coração e aliena a mente para ir a Deus. A vontade não tem como escapar. A vontade está sob o domínio do pecado e de Satanás. Portanto a vontade não é livre. Em suma, as escolhas amorosas e afetivas que fazem, fazem por causa do estado do coração, e o coração é enganoso acima de todas as coisas, e perverso: ”não há quem entenda, não há quem busque a Deus;” Romanos 3.11. 

Traduzido e adaptado por Carlos Reghine  Reformando-me Via: Juliano Fabrício

O Evangelho de Paulo

Por Cornelis Venema


A pregação do Evangelho feita por Paulo, parte da convicção de que Jesus de Nazaré é o Messias prometido e o Filho que Deus enviou a este mundo “na consumação dos tempos” para cumprir Suas promessas ao Seu povo, Israel (2ª Coríntios 1:18-22; 6:2; Gálatas 4:4). A grande mensagem da pregação de Paulo é o “mistério” do Evangelho de Jesus Cristo (Colossenses 1:26; Romanos 16:26; 2ª Timóteo 1:10). Ainda que previamente oculto, esse mistério foi agora confiado a Paulo e aos demais apóstolos como “despenseiros dos mistérios de Deus” (1ª Coríntios 4:1; Efésios 3:22-ss).

Essa convicção paulina ajuda a esclarecer a relação entre seu ensino a respeito da salvação e o ensino de Jesus Cristo nos Evangelhos. Como Cristo enfatizou a vinda do reino de Deus, o qual introduz as bênçãos da “era vindoura” nesta “era”, assim também Paulo enfatiza a vinda de Jesus Cristo como Aquele por quem as bênçãos de Deus são agora concedidas ao Seu povo. O ensino de Jesus nos Evangelhos é similar à abertura musical que anuncia o tema de todo o Novo Testamento: o reino de Deus “é chegado”. A pregação de Paulo desenvolve esse tema oferecendo uma explanação abrangente das bênçãos salvíficas do reino.

Mas, como explica Paulo a salvação que Cristo traz? Que realizou Cristo por Sua morte e ressurreição, que provê redenção para aqueles que Lhe pertencem?

Paulo resume sua resposta a essa questão em 1ª Coríntios 15:3-4: “Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.” Esse sumário é semelhante a outros nas epístolas de Paulo (veja 1ª Coríntios 2:2 e Gálatas 6:14). Nessas passagens, Paulo declara que o Evangelho que ele prega, está focado na morte redentora e na ressurreição de Jesus Cristo.

Nas epístolas de Paulo, diversos temas bíblicos são usados para designar os distintos aspectos da salvação que Cristo obteve para os crentes. Os temas principais, que Paulo usa para descrever a obra redentora de Cristo, incluem: primeiro, “sacrifício para” ou “expiação da” culpa do pecado do homem; segundo, “propiciação” para aplacar a ira de Deus contra suas criaturas pecadoras; terceiro, “reconciliação” ou paz com Deus; quarto, “redenção” da maldição e da condenação da Lei; e quinto, “vitória” sobre o pecado, sobre a morte e sobre todos os poderes que se opõem ao reino de Deus.

O fato de que Paulo entendeu a morte de Cristo como um sacrifício pelo pecado é inquestionável. Em 1ª Coríntios 15:3, Paulo declara que Cristo morreu “por nossos pecados”. Em outra passagem, ele diz que Deus enviou o Seu próprio Filho “em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado” (Romanos 8:3). Paulo, ademais, ensina que a morte de Cristo foi uma propiciação da ira de Deus. Em Sua santidade, Deus, em relação ao pecado, somente o pode odiar. Porém, o maravilhoso do Evangelho é que Deus amorosamente propiciou Sua ira através da morte de Seu próprio Filho (Romanos 3:25; 5:9-10; 2ª Coríntios 5:21). A obra vicária de Cristo é, ainda, uma obra de reconciliação. Por Sua morte, Cristo removeu todo impedimento à paz do pecador com Deus.

Essa obra de reconciliação inclui aspectos em relação a Deus e ao homem. Não somente remove o obstáculo da ira de Deus (Romanos 5:9-10), mas também intima o pecador a “reconciliar-se” com Deus (2ª Coríntios 5:20). O tema da redenção também figura proeminentemente no entendimento de Paulo quanto ao sacrifício de Cristo. A ideia bíblica de redenção enfatiza o pagamento de um preço que assegura a libertação do pecador da servidão (1ª Timóteo 2:5-6). Em uma das mais claras afirmações do sacrifício de Cristo como uma obra redentora, o apóstolo Paulo declara que “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se Ele próprio maldição em nosso lugar” (Gálatas 3:13). Finalmente, uma característica pouco vista da obra redentora de Cristo é a vitória que conquista sobre o poder do pecado, da morte e, ainda, de toda forma de oposição ao governo reinante de Deus (1ª Coríntios 15:54-57). Por Sua morte e ressurreição, Cristo desarmou os poderes que se opõem ao reino de Deus (Colossenses 2:13-15).

Indubitavelmente, a mensagem central da pregação de Paulo é a de que Deus se tem introduzido na história na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo, cuja morte sacrificial e ressurreição, trouxe a salvação. Entretanto, o Evangelho conforme Paulo inclui, também, a aplicação da salvação em Cristo aos crentes que são unidos a Ele pelo ministério de Seu Espírito. Ainda que Paulo não articule explicitamente uma ordem de salvação (ordo salutes), os rudimentos de tal ordem estão evidentes em suas epístolas (veja Romanos 8:30; 1ª Coríntios 1:30 e 6:11).

A maneira mais inclusiva pela qual Paulo descreve a aplicação da salvação é em termos da união do crente com Cristo. Quando os crentes são unidos a Cristo através do ministério do Seu Espírito, eles vêm a participar, totalmente, de todos os benefícios de Sua obra vicária a favor deles (Romanos 8:2,11; 1ª Coríntios 6:11; Efésios 4:30).

Para o propósito de nossa breve sinopse, três benefícios da união com Cristo são de particular importância para o entendimento de Paulo na aplicação da salvação: justificação gratuita, santificação pelo Espírito e glorificação.

Justificação gratuita. Observamos em nossa introdução que, em alguns círculos, se tem tornado popular opor-se a ênfases de Paulo sobre a união com Cristo aos seus ensinos sobre justificação forense. Este é, entretanto, um profundo engano. A Reforma estava certamente correta em afirmar que a principal característica dos ensinos de Paulo era a doutrina da justificação pela graça somente, através da fé somente. Ademais, contrário às mais recentes reivindicações dos autores da “nova perspectiva”, Paulo vê claramente a justificação como um tema “soteriológico”. Justificação não responde simplesmente à questão de se os gentios, bem como os judeus, pertencem à aliança do povo de Deus, como muitos dos ditos autores mantêm. A justificação responde, primariamente, a questão de como qualquer pecador, judeu ou gentio, pode encontrar aceitação em Deus, a despeito do seu pecado e culpa.

De acordo com Paulo, justificação é um ato gracioso de Deus pelo qual Ele perdoa os pecados dos crentes e os declara justos, na base da imputação da justiça de Cristo (Romanos 4:1-5; 5:15-17; 10:3; 2ª Coríntios 5:21; Filipenses 3:9). Ainda que todos pecaram, Cristo foi posto à morte pelos pecados do Seu povo e ressuscitado para sua justificação (Romanos 4:25). À parte de qualquer “obra” cumprida em obediência à Lei, Deus justifica aquele que recebe a Cristo pela fé (Romanos 3:28; Gálatas 2:16). Esse benefício da justificação é, totalmente, uma bênção escatológica da salvação, a qual declara que “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos 8:1).

Santificação pelo Espírito. Todo aquele que está unido a Cristo é morada do Seu Espírito vivificador (Romanos 8:4-11). Os crentes não somente são declarados justos na justificação gratuita, mas estão também sendo renovados segundo a imagem de Cristo (2ª Coríntios 3:17-18). O poder e o domínio do pecado são desfeitos. Através de sua união com Cristo, em Sua morte e ressurreição, os crentes devem, agora, se considerar mortos para o pecado e vivos para a justiça (Romanos 6:12-14). O novo status que os crentes desfrutam, (justificação), é sempre acompanhado por uma vida renovada de obediência a qual é neles realizada pelo Espírito de Cristo (santificação).

Glorificação. Ainda que seja costumeiro pensar-se na glorificação como a futura consumação da salvação do crente, Paulo fala sobre a glorificação como uma realidade presente e futura (Romanos 8:18-ss, 30). Devido à íntima união dos crentes com Cristo, a glorificação de Cristo em Sua ressurreição e ascensão é, de igual maneira, a glorificação dos crentes. Já, agora, os crentes estão sentados com Cristo nos lugares celestiais (Efésios 2:6). Resta, porém, a expectação da glorificação ainda futura dos crentes (2ª Tessalonicenses 1:10). Enquanto vivam neste mundo, os crentes, ansiosos, esperam pelo dia em que seus “corpos de humilhação” serão transformados para serem à semelhança do corpo glorioso de Cristo (Filipenses 3:21).

O Evangelho, de acordo com Paulo, pode ser sumarizado como a gloriosa mensagem de Deus quanto ao cumprimento de Suas promessas de salvação para o Seu povo em Cristo. A mensagem central da pregação de Paulo é a salvação através do Cristo crucificado e ressurreto. Cristo tem provido um sacrifício pelos pecados do Seu povo, que responde a cada aspecto de sua condição pecadora. Através da fé e união com Cristo, os crentes desfrutam de todos os benefícios dessa obra sacrificial. Nas extraordinárias palavras de 2ª Coríntios 5:17, “se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” Aqueles que estão em Cristo desfrutam um novo status diante de Deus, de livre aceitação, a despeito de sua indignidade como pecadores. Eles, ademais, experimentam a graça de uma nova vida de obediência à “lei de Cristo” pela instrumentalização do Espírito Santo. E conhecem a graça da presente e da futura glorificação, quando as “primícias” da salvação em Cristo aparecerem na ceifa escatológica da completa participação na vitória da ressurreição de Cristo.

Fonte: Teologando

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Não somos vírus!


Por Josemar Bessa

Tudo que ouvimos sobre missão hoje aponta na direção de alcançar mais pessoas para treiná-las para alcançar mais pessoas e treinar essas pessoas para alcançar mais pessoas... Parece a “ideia” que os vírus tem. Invadir uma célula, se multiplicar até ela explodir e então invadir outras células e repetir o processo, e repetir o processo... até a morte. Certamente esse é um objetivo bizarro. A ideia central do vírus é se multiplicar e multiplicar...

Jesus disse: “Fazei discípulos... Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” - Mateus 28:20 – Isso é diferente! Foi o que Paulo fez.

Paulo não só trabalhou para evangelizar os perdidos, mas se concentrou para mover os regenerados para sua conclusão do propósito redentivo em Cristo: “Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; a quem anunciamos, admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo; e para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que opera em mim poderosamente” - Colossenses 1:27-29 – A igreja apresenta o evangelho em todos os seus termos e deseja o cumprimento nos santos dos propósitos pelos quais o homem é salvo. Pois a igreja não é sinônimo de “cruzada-evangelística”, mas na missiolatria é, mesmo quando negado.

Se a missão e o sucesso nela é o foco central, irá haver crescimento, mas de fato, ele é irrelevante. A falta de ênfase na santificação (pois essa certamente não é uma boa estratégia “missional”) – está produzindo uma imatura ênfase na liberdade cultural, o que torna todo “sucesso” em algo bobo e irrelevante, já que a cultura molda a “igreja” e não a igreja muda a cultura. Os ídolos do coração e da cultura não podem ser combatidos e mortos, mas acabam apenas “cristianizados”.

A vida e missão mais eficaz não é elaborar culturalmente a mais “relevante” técnica de extensão, mas sim quando os que agora são igreja, de fato tenham sido transformados em luz e sal - esses se tornam relevantes para o mundo. É a santificação que transforma um povo (pois isso é ser luz e sal) e os equipa melhor para evangelização e não a metodologia cultural para atrair o mundo. Pois o mundo não necessita de estratégias culturais interessantes, mais de luz para suas trevas, e sal para sua podridão. Sem isso, tudo que chamamos conversão é mera superficialidade – o mundo inteiro estará exatamente como sempre foi, mas se dirá “convertido”.

As cartas de Paulo a Timóteo (um jovem pastor) – descrevem a vontade de Deus para o ministério. Certamente Paulo aponta a Tímóteo em direção a proclamação do evangelho ao mundo, a missão (1 Tm 2.1-8 ) – “Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.” - 2 Timóteo 4:5 – mas a maior parte do encargo pastoral indicado por ele a Timóteo é:

Defender a sã doutrina – ( 1 Timóteo 1:3-5 , 18-19 ; 4 :1-6 ).

Formar líderes que façam o mesmo - ( 1 Timóteo 3:1-13 , 5:17-22 , 2 Timóteo 2:2 ).

A devoção rigorosa à santidade pessoal e a resistência numa sociedade e cultura consagrada a mentira e ao engano do pecado - ( 1 Timóteo 1:18-19 , 4: 6-12 , 15-16 , 6:11-16 , 2 Timóteo 1:06 , 2:01 , 3-13 , 20-22 , 04:05 ).

O cuidado com o rebanho de Deus - ( 1 Tm 5:1-16 ).

Um trabalho árduo em ensinar fielmente a Verdade tão ofensiva ao homem natural ( 1 Tm 4:11 , 13-14 , 2 Tm 2:15 , 24-26 , 4:1-2)...

Equipando a igreja para a maratona de resistência na vida centrada em Deus e na Verdade, que não é negociável para a igreja.

Pastores não irão dar conta do mundo a Deus, mas hão de dar conta das almas que estão sob o seu cuidado, o rebanho de Deus: “Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil.” - Hebreus 13:17 – O rebanho é a prioridade de um pastor.

Muito do “fervor missional” está fixado no mesmo DNA de Charles Finney e no pragmatismo reinante no coração natural. Por isso ele está disposto a sacrificar coisas centrais no altar da “missão” – Um zelo por mais pessoas que é fruto de um orgulhoso e indomável desejo de ser um sucesso, da admiração dos outros e da auto-admiração pelos bancos cada vez mais cheios. Esse “zelo”na verdade muitas vezes é apenas uma capa que encobre a missiolatria: a adoração de mais e mais, de números crescendo... uma maneira secreta de auto-afirmação. Mas o que devia ser nossa afirmação é a obra completa de Cristo. Ele é o centro, ele deve ser o objetivo da vida, da igreja, do ministério...

“Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus. Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo.” - 2 Coríntios 4:4-6

Fonte: Josemar Bessa

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Algumas vezes o Senhor mata seus amados

 
Por John Piper

Algumas pessoas são, por natureza, fortes, duras, práticas, não sentimentais. Outras são afetuosas, calorosas, de fala mansa, emocionalmente sensíveis. Algumas, surpreendentemente, são uma mistura. Em geral, aquilo que faz essas diferentes pessoas se sentirem amadas é bem diferente.

Ser avaliado por essas diferentes pessoas pode ser desanimador. As reações delas a um sermão ou a um comentário em uma conversa pode ficar em polos opostos – uma se sente profundamente amada, outra se sente desencorajada pela dureza áspera.

O que devemos fazer? Acho que devemos investir nossas vidas mergulhando nas Escrituras de forma que nos tornemos o tipo de pessoa que se sente amada por aquilo que a Bíblia descreve como amoroso.

Parece-me que a maioria de nós tem mais dificuldade em se sentir amada através de uma dura disciplina do que através de afeto e palavras de afirmação. Assim sendo, para me guardar de atribuir motivos não amorosos a Deus ou às pessoas, presto especial atenção àqueles lugares na Bíblia onde coisas duras são amorosas.

Por exemplo, Paulo faz uma afirmação surpreendente sobre o Senhor nos julgando para que não sejamos condenados. É impressionante porque isso inclui nos matar. Eu poderia usar uma palavra mais agressiva (nos destruir) ou uma palavra mais leve (tirar nossa vida). Aqui está o que ele diz sobre cristãos nascidos de novo que estavam desonrando a Ceia do Senhor:
Pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. 30 Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem. 31 Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. 32 Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo (1 Coríntios 11.29-32).
Então, alguns morreram¹ por causa do abuso na Ceia do Senhor. Isso é chamado de “disciplina”. “Somos disciplinados para que não sejamos condenados”. Isso é chamado de ser “julgado pelo Senhor”. “Quando somos julgados pelo Senhor…”.

E por que isso que o Senhor faz é amoroso? Porque o objetivo do Senhor ao matar seus próprios amados é para que “não sejam condenados com o mundo”.

Pense nas implicações disso. Uma implicação parece ser que Deus prevê a trajetória natural da vida de uma pessoa em direção ao pecado que é incompatível com a regeneração. Ele interrompe a vida deles antes que eles cheguem lá, garantindo assim sua salvação eterna.

Duas coisas parecem estranhas (como muitas vezes acontece com os caminhos de Deus!):

1) Uma vez que Deus inclina o coração (Provérbios 21.1; 2 Tessalonicenses 3.5), por que não proteger seu povo de tal pecado futuro colocando o temor de Deus no coração deles, de maneira que eles não se afastem dele (Jeremias 32.40)? Por que matá-los para protegê-los?

Resposta: Ele não nos diz. Uma possibilidade é que Deus tem a intenção de nos mostrar quão sério nossa desobediência é. Uma maneira de mostrar nossa necessidade de um Salvador por causa do nosso pecado é Deus trabalhando em nós o que é agradável aos seus olhos (Hebreus 13.21). Outra maneira, talvez mais chocante, é a disciplina definitiva da morte. Deus tem mais caminhos na bolsa da inescrutabilidade do que percebemos (Romanos 11.33).

2) Se aqueles que são nascidos de novo e eternamente seguros (1 João 2.19; Filipenses 1.6) são mortos para evitar que eles sejam condenados com o mundo, isso significa que os eleitos podem perder a salvação?

Resposta: Não. Mas isso confirma que há padrões de pecados que são absolutamente incompatíveis com a salvação. E Deus levará nossas vidas ao invés de nos deixar sucumbir a esses padrões.

Portanto, mergulhemos nossas mentes em tais passagens das Escrituras para que nos tornemos o tipo de pessoa que se sente amada quando nossas vidas (ou a vida daqueles que amamos) são levadas por um todo-sábio, todo-amoroso Salvador.

¹ N. do T.: Na tradução utilizada pelo autor, a ESV, é utilizado o verbo “morrer”. As principais traduções em Português usam “dormir”. A ESV optou por traduzir de forma menos literal e já colocar o sentido do verbo no original.
Traduzido por Alex Daher 

Fonte: Ipródigo

João Calvino e a teologia missionária

 
Por Timóteo Carriker
 
Fora da igreja e entre estudiosos, para a surpresa de muitos que estão dentro da igreja, João Calvino frequentemente é visto com bons olhos. O gênio marxista, Leon Trotsky, que ajudou Lenin a criar a União Soviética a partir da Revolução Russa de 1917, afirmou que Karl Marx e João Calvino eram os dois maiores revolucionários em toda a história do Ocidente. Mas popularmente é comum depreciar a contribuição de Calvino, inclusive dentro da igreja, especialmente no que se trata da obra missionária. Não é raro pensar que João Calvino e o movimento que ele gerou não se interessaram pela obra missionária e pouco contribuiram para a reflexão missiológica hoje.
 
No início do século, o historiador da missão da igreja, o alemão Gustav Werneck, por exemplo, afirmou: “nós perdemos com os Reformadores não apenas a ação missionária, mas mesmo a ideia de missões… [em parte] porque perspectivas teológicas fundamentais deles evitaram que dessem a suas atividades, e mesmo a seus pensamentos, uma direção missionária”1.
 
Entretanto, muito pelo contrário e mesmo com toda a preocupação pela reforma da igreja na Europa, João Calvino contribuiu não só para o movimento missionário em si como também para a reflexão missionária que nutre o bom empenho missionário até os dias de hoje. Ele enviou centenas de missionários por toda a Europa e até ao Brasil. Não é um exagero atribuir-lhe o título de “pai da pensamento missionário protestante”.
 
Hoje queremos considerar a contribuição de João Calvino para a teologia de missão. No próximo artigo veremos a sua contribuição à ação missionária.
 
A teologia de missão
João Calvino não escreveu nenhuma “teologia de missão” ou reflexão a respeito da “missão” de Deus ou a “missão” da igreja. E nem podia. Afinal de contas até o século 16, a palavra “missão” era reservada para se referir à relação da trindade: a missão do Filho como o enviado do Pai e a missão do Espírito Santo como o enviado do Filho e do Pai2. Mas muito mais importante que isto, Calvino estabeleceu as bases bíblicas e teológicas para falar do papel da igreja na transformação da sociedade, e não apenas em termos locais, mas também em termos globais.
 
1.  “Missio Dei et missio Christi”. Fundamentalmente Calvino estabeleceu a base cristocêntrica e teocêntrica da missão. E deu forte apoio à evangelização através dos seus comentários. Calvino entendeu que, por meio de Cristo, Deus está atualmente reinando no nosso mundo. Veja, por exemplo, alguns dos seus comentários da Bíblia:
 
a) acerca de Isaías 2.4:
“a diferença entre o Reino de Davi, que era apenas uma sombra, e este outro Reino ... [é que] ... pela vinda de Cristo, [Deus] começou a reinar … na pessoa de seu Filho unigênito”.
 
b) acerca de Isaías 12.4-5:
“Esta exortação, pela qual os judeus testemunharam a sua gratidão, deve ser considerada o percursor da proclamação do evangelho, que depois seguiu na ordem certa. Como os judeus proclamaram entre os medos e os persas, e as outras nações vizinhas, o favor que era demonstrado para eles, assim, quando Cristo se manifestou, eles deveriam ter sido arautos para ressoar em alta voz o nome de Deus através de cada país do mundo. Portanto, é evidente qual seja o desejo que deve ser o tesouro de todos os piedosos. É que a bondade de Deus seja conhecida por todo e que todos se reunam no mesmo culto a Deus. Nós devemos ser especialmente possuídos deste desejo, depois de sermos libertos de algum perigo alarmante, e acima de tudo, depois de ter sido libertos da tirania do diabo e da morte eterna”.
 
c) acerca do Salmo 22.8:
“esta passagem, não tenho dúvidas, concorda com muitas outras profecias que representam o trono de Deus erguido, no qual Cristo pode assentar-se para comandar e governar o mundo”.
 
d) acerca de Miqueias 2.1-4:
“O reino de Cristo somente se iniciou no mundo quando Deus mandou que o evangelho fosse proclamado em todo lugar e... hoje o seu curso ainda não se completou”.
 
e) acerca de Ezequiel 18.23:
“Deus certamente nada mais deseja, para aqueles que estão perecendo e correndo para a morte, que retornem para o caminho da segurança. Por isso o evangelho é proclamado hoje por todo o mundo, porque Deus quis testemunhar por todas as épocas que ele se inclina grandemente para a misericórdia”.
 
f) e acerca de 1 Timóteo 2.4:
“Não há  nenhum povo e nenhuma classe no mundo que seja excluída da salvação; porque Deus deseja que o evangelho seja proclamado para todos sem exceção”.
 
O reino de Deus, por meio de Cristo, é a base nos escritos de Calvino para a sua missiologia implícita. Acerca de Isaías 2.2, Calvino comentou que haverá “progresso ininterrupto” na expansão do reino de Cristo “até que Ele apareça uma segunda vez para nossa salvação”. Uma das implicações deste reino presente é a destruição da distinção entre judeus e gentios e a necessidade consequente da proclamação dos Evangelhos entre todos os gentios do mundo. Isto também decorre da sua noção de eleição. Diante do governo de Cristo sobre toda a terra, há duas respostas: os repróbos negam o domínio de Cristo e até o atacam e os eleitos são “trazidos para prestar uma disposta obediência a Ele”. Nada poderá barrar o avanço do governo de Cristo. E a tarefa da igreja é pregar a Palavra de Deus porque “não existe outra forma de edificar a igreja de Deus senão pela luz da Palavra, em que o próprio Deus, por sua própria voz, aponta o caminho da salvação. Até que a verdade brilhe, os homens não podem se unir juntos, na forma de uma verdadeira igreja”3. Deus escolheu usar as pessoas como seu instrumento para pregar o Evangelho para todas as pessoas. O que motiva as pessoas a pregar o Evangelho é o zelo pela glória de Deus, a finalidade principal de toda a humanidade. Conforme Charles Chaney, “o fato de que a glória de Deus era o motivo primordial nas primeiras missões protestantes e isto ter se tornado, mais tarde, uma parte vital do pensamento e atividade missionárias, pode ser traçado diretamente em direção à teologia de Calvino”4. Assim, vemos a reflexão do Calvino que contribui significantemente para a teologia de missão hoje.
 
Algumas pessoas, entretanto, objetam, alegando que a teologia de Calvino levou obstáculos teológicos para o desenvolvimento posterior da missão da igreja. Apontam principalmente para a sua doutrina da predestinação e um suposto mau entendimento a respeito da Grande Comissão.
 
2. Predestinação. Alega-se, por exemplo, que a doutrina calvinista da predestinação faz a obra missionária irrelevante. Mas esta não é a lógica de Calvino que argumentava que o principal instrumento que Deus usava para salvar as pessoas era a pregação da Palavra de Deus:
 
“Embora ele seja capaz de realizar a obra secreta de seu Santo Espírito sem qualquer meio ou assistência, ele também ordenou a pregação externa, para ser usada como um meio. Mas para torná-la um meio efetivo e frutífero, ele escreve com seu próprio dedo em nossos corações aquelas palavras que ele fala em nossos ouvidos pela boca de um ser humano”5.
 
 “Deus não pode ser invocado por ninguém, exceto por aqueles que conheceram sua misericórdia por meio do Evangelho”6.
 
Porque o número dos eleitos é  desconhecido, cabe à Igreja pregar o Evangelho livre e irrestritamente a todos7. Logo a doutrina da predestinação em nada impede a tarefa missionária. Antes, a encoraja como dever da igreja em prol dos eleitos.
 
3. A Grande Comissão. É verdade que Calvino interpretou a Grande Comissão  como se referindo ao ministério apostólico do primeiro século. Mas não é verdade que Calvino entendeu que os apóstolos completaram a tarefa para fazer desnececessária a tarefa da evangelização contemporânea. Entendeu que os apóstolos completaram apenas o início da tarefa e que a evangelização do mundo continua uma tarefa para a igreja. Calvino, como os outros reformadores, era apenas contra a doutrina católica da sucessão apostólica e assim argumentava que o apostolado era um “munus extraordinarium” temporário que cessou com os doze. A Grande Comissão fazia parte deste argumento contra o catolicismo, mas não contra a evangelização mundial em si.
 
4. Missão integral. A dicotomia entre a espiritualidade e o engajamento social não é herança de Calvino, e sim de alguns dos seus seguidores em séculos posteriores.  Para Calvino, o discípulo de Cristo deveria seguir o evangelho no seu pensamento e por ações sociais e políticas8. Esta integralidade de pensamento missiológica é descrita pelo bispo anglicano, Robinson Cavalcanti, da seguinte forma:
 
“Do ponto de vista reformado, ou calvinista, o homem é um ser integralmente unificado. Deve-se evitar dicotomias. Tudo é esfera sagrada, e deve-se aplicar a Palavra de Deus a todas as áreas da vida. Toda a criação caiu com o pecado e está agora sob a ação redentora de Cristo, que é o Senhor tanto da Igreja quanto da sociedade. Os cristãos devem lutar hoje para manifestar a presença do reino de Deus, embora a sua plenitude somente se alcançará com o retorno de Cristo. Somos salvos para servir. Os cristãos devem se infiltrar em todas as esferas da sociedade para chamá-la ao arrependimento e à conformação às normas do reino. A Igreja é um centro de arregimentação e treinamento de pessoas que se reformam para reformar”9.
 
Para Calvino, o evangelho toca todas as áreas da vida humana e a igreja deve também exercer a sua missão em prol da transformação de pessoas e das suas instituições sociais, econômicas, políticas, etc. Justamente porque Cristo é Senhor sobre toda a vida, a Palavra de Deus desafia toda a vida humana. Ricardo Quadros Gouvêa afirma: “Calvino não visava em sua obra meramente uma reforma doutrinária e uma reforma da vida da igreja, mas também a transformação de toda cultura humana em nome de Jesus e para a glória de Deus.10” Não nos surpreende, então, que nos seus comentários, sermões, cartas e na sua obra-prima de teologia, “As Institutas”, encontramos a preocupação de Calvino com uma teologia que hoje denominaríamos de “integral”, isto é, com as implicações sociais do Evangelho na transformação completa de pessoas e do ambiente que as cerca11.
 
5. “Missão” na liturgia. Finalmente notamos a preocupação pela evangelização mundial repetidamente nas orações de Calvino. Segue um exemplo de uma oração assim escrita para o uso no culto dominical:
 
“Finalmente, oferecemos orações a ti, Ó Deus cheio de graça e Pai de todas as pessoas em geral, cheio de misericórdia, enquanto se agrada em ser reconhecido como Salvador de toda a raça humana pela redenção realizada por Jesus Cristo, teu Filho, para que aqueles que ainda são estranhos ao conhecimento dele, e mergulhados na escuridão, e são levados para o cativeiro pela ignorância e erro, possam, pelo teu Espírito Santo brilhando neles, e pelo teu evangelho ressoando nos seus ouvidos, ser trazidos de volta para o caminho certo da salvação que consiste no conhecimento de ti, o verdadeiro Deus e Jesus Cristo que tu enviaste12”.
 
Conclusão
Tudo isto mostra o quanto Calvino se preocupava com a missão da igreja e como ela fez parte importante da sua teologia e prática cúltica. Como veremos no próximo artigo, Calvino também se empenhava de modo prático e intenso na evangelização com muito êxito na Europa e dentro dos seus limites externos e internos no Novo Mundo.
 
Notas:
1. History of Protestant Missions, p. 9.
2. A terminologia de “missão” para se referir à evangelização dos povos (no caso, não-católicos) veio a ser usada somente no século XVI pelos jesuítas e carmelitas que começaram a enviar missionários ao Novo Mundo.
3. Comentário sobre Miquéias 4:1-2, citado em CHANEY, Charles. “The Missionary Dynamic in the Theology of John Calvin,” Reformed Review 17 (Mar. 1964): 28.
4. CHANEY, Charles Ibid., 36-37.
5. CALVIN, João. The Bondage and Liberation of the Will: A Defence of the Orthodox Doctrine of Human Choice against Pighius. Grand Rapids: Baker, 1996, 215.
6. CALVIN, João. Institutas da Religião Cristã, 3.20.12. Veja também 3:20.1; 3.20.11.
7. CALVIN, João. Institutas da Religião Cristã, 3.23.14.
8. BARTH, K. apud BIÉLER, A. O Pensamento Econômico e Social de Calvino,. trad. Waldyr Carvalho Luz. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1990. p. 29.
10. GOUVÊA, R. Q. A importância de João Calvino na teologia e no pensamento cristão. In: CALVINO, J. A Verdadeira Vida Cristã, p. 5.
11. BIÉLER, André, op cit. SOUZA DE MATOS, Alderi, “Amando a Deus e ao Próximo: João Calvino e o Diaconato em Genebra,” Fides Reformata 2:2 (Jul-Dez 1997), 69-88.
12. CALVINO, João. Tracts and Treatises Vol. 2:  The Doctrine and Worship of the Church. Grand Rapids: Eerdmans, 1958, 102.

Fonte: Ultimato