domingo, 21 de agosto de 2022

UMA HIPOCRISIA REVELADA - Lucas 11.37-54

Por Pr Silas Figueira

Texto base: Lucas 11.37-54

INTRODUÇÃO

Jesus mais uma vez foi convidado a fazer uma refeição na casa de um fariseu. Não era a primeira vez que tal coisa acontecia. Em outra ocasião o Senhor havia sido convidado também (Lc 7.36-49). Wiersbe destaca que a essa altura do ministério de Cristo, quando os líderes religiosos já haviam decidido matá-lo, o que levou um fariseu a convidá-lo para uma refeição em sua casa? Se estivesse buscando a verdade de coração, teria conversado com Jesus em particular. Ao que parece, procurava uma oportunidade de acusar Jesus e pensou tê-la encontrado, quando Jesus não realizou a lavagem cerimonial antes de comer (Mc 7.2,3) [1]. Jesus aproveita o momento para mostrar a insensatez desse fariseu e condenar os pecados do farisaísmo (11.42- 52) [2].

Parece que o contato de Jesus com os fariseus, até mesmo quando era um convidado deles, jamais produziu resultados favoráveis, pois se via forçado a pronunciar alguma reprimenda negativa [3]. Jesus não poderia evitar o conflito com o pecado e o erro, mesmo que tivesse que confrontá-lo à mesa no momento de uma refeição. Jesus era paciente e amoroso com os pecadores, mas era severo e até, para alguns, rude com os hipócritas. Estamos vivenciando uma época em que a promoção da tolerância e da diversidade está sendo visto como as mais altas virtudes, devido a isso, muitas pessoas são incapazes de distinguir a verdade do erro. Por isso que o engano tem dominado as mentes das pessoas. Mesmo aqueles que se dizem cristãos defendem tolerar falsos mestres em nome do amor, aceitação, paz e unidade. Coisa que Jesus nunca fez.

Muitas das declarações de Jesus relativas aos fariseus e doutores da lei nesta passagem são muito parecidas com suas acusações a esses mesmos grupos em Mateus 23. Estas não são, no entanto, duas versões do mesmo discurso, mas dois discursos proferidos pelo Mestre em duas ocasiões diferentes. Os eventos e ensinos registrados em Mateus 23 ocorreram em Jerusalém durante a Semana da Paixão; o episódio que estamos considerando em Lucas aconteceu enquanto Jesus estava na Peréia, a caminho de Jerusalém [4].

Quais as lições que esse texto tem para nós hoje?

1 – JESUS DISCERNE O PENSAMENTO DO FARISEU (Lc 11.37-38).

Quando Jesus entrou, o fariseu admirou-se que Jesus não se lavara (o verbo é baptizõ) antes da refeição. Isto nada tinha a ver com a higiene, mas, sim, era uma regra feita visando a pureza cerimonial. Antes de comer alguma coisa, os judeus escrupulosos mandavam derramar água sobre suas mãos para remover a contaminação contraída pelo seu contato com um mundo pecaminoso [5]. As abluções rituais, observadas antes das refeições, não foram prescritas por qualquer regulamento de lei mosaica, mas eram elaboradamente observadas pelos fariseus, em obediência à legislação oral criada pelos escribas (Mc 7.3,4) [6]. Por Jesus não ter agido segundo as suas tradições, este fariseu ficou admirado da Sua conduta.

Com isso em mente podemos destacar duas coisas:

1º - Jesus não tem compromisso com tradições humanas. Esses hábitos inventados pela tradição oral dos escribas não tinha nenhum respaldo bíblico, por isso Jesus não tinha nenhum compromisso em observá-la como eles observavam.

Muitas pessoas inventam usos e costumes, coisas até mesmo absurdas em nome de Deus. Aplicam proibições em coisas que a Bíblia não proíbe e liberam o que a Bíblia proíbe. E, geralmente, o peso recai muito mais sobre as mulheres.

2º - As tradições humanas afastam as pessoas de Deus. Muitas pessoas são tão presas às tradições e a usos e costumes que se afastam de Deus. Tradições são práticas, ensinamentos e costumes transmitidos de outras pessoas, muitas vezes, de uma geração para outra. Os religiosos da época de Jesus guardavam longas listas de regras inventadas e transmitidas por homens, princípios que não vieram da Lei revelada pelo Senhor. Tudo isso não passava de idolatria, pois eles colocavam em pé de igualdade as suas tradições com a Lei de Moisés.

2 – AS ACUSAÇÕES DE JESUS CONTRA OS FARISEUS (Lc 11.39-44).

Tudo indica que Jesus propositadamente não lavou as mãos antes do jantar. Se a ação de Jesus foi de fato deliberada, Ele deve ter tido dois motivos: a) Ele estava expressando sua reprovação a uma regra que, além de não ter significado, obscurecia um importante princípio e ocasionava um pretexto hipócrita; b) Ele, provavelmente, estava tentando provocar uma discussão com os fariseus exatamente sobre esses assuntos. Assim, Jesus e o fariseu (ou fariseus, se outros estivessem trabalhando por meio deste) estariam tentando precipitar o conflito verbal. Com certeza, Jesus não estava sendo vingativo; Ele estava tentando ajudar os fariseus a verem a verdade e, ao mesmo tempo, estava tentando salvar outros da influência corruptora do farisaísmo [7].

Jesus condena os fariseus pela hipocrisia da sua religião de aparência.

1º - Primeiro, os fariseus eram superficiais na conduta de fé. Embora o fariseu não dissesse nada, o Senhor sabia o que se passava em sua mente e entendeu que ele estava perturbado porque Jesus tinha ignorado a lavagem ritual. Imediatamente, sem pedir desculpas e sem deferência, Jesus confrontou a superficialidade do fariseu e lhe disse: “E o Senhor lhe disse: Agora vós, os fariseus, limpais o exterior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade” (Lc 11.39).

2º - Segundo, os fariseus não se preocupavam em ter um coração puro (Lc 11.39-41). Jesus expõe a hipocrisia dos fariseus que são zelosos na purificação cerimonial e descuidados com a santificação do coração. Denuncia a espiritualidade das aparências farisaicas sem o concurso de uma vida piedosa. Do que vale seguir à risca os rituais cerimoniais sem observar a purificação do coração? Jesus declarou que lavar o corpo enquanto o coração permanece impuro é tão absurdo quanto lavar por fora um prato sujo por dentro [8]. Os fariseus falham em não purificar o coração “de rapina e perversidade”. Essa purificação interior é infinitamente mais importante do que a observação de seus preceitos exteriores de purificação [9].

Jesus mostra que o interior deve refletir no exterior, pois somos o que demonstramos ser interiormente e não o contrário (Lc 11.40,41). Jesus chama a atenção que os fariseus deveriam dar, generosa e amorosamente, de sua natureza mais íntima – seu amor, sua compaixão, sua devoção, seu próprio ser. O versículo 39 implica que esses fariseus estavam roubando os pobres [10].

Observe que Jesus chamam esses homens de “loucos” (v. 40). Loucos! Aphrones – grego (tolos, sem juízo, bobos) descreve aqueles que são ignorantes, que não têm bom senso e pensam superficialmente. Jesus então pergunta: “Quem fez o exterior fez também o interior?”, era uma repreensão inconfundível. É pensar que Deus santo só estaria preocupado com a sua observância de rituais externos e não sobre seus corações era o cúmulo da loucura.

Essa denúncia de Jesus em relação aos fariseus continua hoje. Não é incomum vermos cristãos preocupados em demasia com os usos e costumes, mas não vigia a língua, o mau testemunho na sociedade. Muitos, infelizmente, são maus pagadores. Péssimos pais de família. Guardam ódio no coração.

Bem disse Jesus em Mateus 5.8: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus”.

- A partir do versículo 42 começa os “ais” de Jesus. “Ai” é uma expressão de pesar, não de índole vindicativa, e tem um significado como “Que pena!” [11]. Os primeiros três “ais” são dirigidos especificamente aos fariseus por suas prioridades erradas; os últimos três, aos escribas, especialistas na lei, ou “advogados”. Doutores da Lei.

3º - Os fariseus dizimavam do supérfluo e deixavam de dizimar do que era essencial (Lc 11.42). O que provocou esse primeiro “ai” era a devoção dos fariseus ao que era de importância secundária. Era costume entre eles, até se excediam, dando ao Senhor a décima parte de todas as pequenas ervas aromáticas que cultivavam em suas hortas, e exigiam de seus seguidores que fizessem o mesmo. Segundo eles o viam, a hortelã de “aroma adocicado”, a arruda de aroma forte, de fato toda erva de hortaliça, devia ser dizimada sem falta! Mas, na lei de Moisés não se diz uma palavra sequer acerca do dízimo dessas coisas [12].

No entanto, eles haviam Deixado completamente de lado o cerne da lei, de julgar com justiça e com o amor a Deus. Jesus ordena que a essência da lei seja cumprida; já as coisas secundárias, como o dízimo das ervas da horta, tampouco devem ser deixadas de lado!

4º - Os fariseus prezavam a reputação acima do caráter (Lc 11.43). Acreditavam que se tomariam mais espirituais ao se assentar nos lugares certos e ao ser reconhecidos pelas pessoas certas. Reputação é aquilo que as pessoas pensam que somos; caráter é aquilo que Deus sabe que somos [13]. Os fariseus eram hipócritas, orgulhosos e desprezavam as pessoas comuns (Jo 7.49), e deixavam de fazer justiça aos mais necessitados. Não obstante, queriam ser amados, admirados, reverenciados, respeitados, e se colocavam em uma posição elevada, acima de todos os outros.

5º - Os fariseus contaminavam o ambiente que viviam (Lc 11.44). Segundo um costume judaico, pouco antes da chegada das grandes caravanas de pessoas que viajavam para Jerusalém com o fim de assistir à Páscoa, os sepulcros eram caiados. Isso era feito para que ficassem bem visíveis, de modo que ninguém se contaminasse cerimonialmente ao andar inadvertidamente sobre um sepulcro (Nm 19.11-22) [14].

No entanto, os fariseus eram como sepulturas sem qualquer identificação (invisíveis); sua aparência não correspondia, de maneira alguma, à realidade! Isso significa que, inconscientemente, contaminavam os outros quando, na verdade, pensavam estar ajudando-os a se tornar mais santos! Ao invés de ajudar as pessoas, os fariseus as prejudicavam [15]. Os homens que passavam por sepulturas não marcadas tornavam-se cerimonialmente impuros. E os homens que andavam no ensino e nos caminhos dos fariseus tornavam-se moralmente impuros [16].

Como nos fala o autor de Hebreus 12.14,15: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor; tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem”.

3 – AS ACUSAÇÕES DE JESUS CONTRA OS DOUTORES DA LEI (Lc 11.45-52).

Uma objeção feita por um professor da Lei levou o discurso de Jesus em outra direção, pois um dos especialistas na lei não pôde conter-se por mais tempo e reagiu ao discurso de Jesus. Esse homem pergunta a Jesus se ele não percebe que ao atacar os fariseus está também “insultando” os especialistas na lei. Diante desse argumento Jesus então se volta para os doutores da lei. Os intérpretes da lei eram homens que se entregavam ao estudo da Lei do Antigo Testamento.

Jesus então profere três “ais” contra eles também.

1º - Os escribas colocavam fardos pesados sobre as pessoas que eles mesmos não carregavam (Lc 11.46). Esta é uma acusação brutal aos escribas (doutores da lei) por suas interpretações mesquinhas da lei escrita em seus ensinamentos orais (posteriormente, registradas por escrito como Mishna e depois como Gemara). Esta terrível carga, os doutores da lei não pretendiam carregar, nem mesmo “com um de seus dedos tocar” para ajudar as pessoas [17]. A Mishna determina que é mais importante observar as interpretações escribais do que a própria Lei. Os intérpretes da lei deveriam fazer uma tal exposição da Lei de Deus que ajudasse e inspirasse aos homens. Pelo contrário, fizeram dela um fardo cansativo [18].

2º - Os escribas seguiam as mesmas pegadas de seus pais, que foram assassinos de profetas (Lc 11.47-51). O primeiro martírio registrado no Antigo Testamento foi o de Abel, e o último, o de Zacarias (ver Gn 4.1-15; 2Cr 24.20-27, lembrando que 2Cr é o último livro da Bíblia hebraica) [19]. A segunda crítica foi o tratamento que os intérpretes da lei tinham dado aos profetas. Sustentavam que estavam honrando os heróis da fé ao edificar túmulos esplêndidos para eles. Mas realmente, nada mais faziam senão completar a obra daqueles que os mataram. O mesmo espírito operava em ambos os grupos. Sua ação dava assentimento inconsciente aos assassinos. É sempre mais fácil honrar santos mortos do que santos vivos. As vidas dos edificadores dos túmulos dos profetas mostravam por demais claramente que eram do mesmo espírito dos assassinos [20].  

3º - Os escribas não entravam no Reino e impediam os outros de entrarem (Lc 11.52). O terceiro “ai” contra os professores da lei diz que a Escritura Sagrada é um livro fechado para eles mesmos e para o povo [21]. Jesus diz que os intérpretes da lei tomam a chave do conhecimento e a escondem, não entrando no reino nem deixando que as pessoas entrem. Os escribas eram culpados de privar as pessoas comuns do conhecimento da Palavra de Deus. Em vez de abrir as Escrituras para o povo e explicá-las fielmente, eles impediam as pessoas de entenderem a Palavra [22]. Wiersbe diz que Jesus é a chave para o entendimento das Escrituras (Lc 24.44-48). Quando se remove a chave, não é possível entender o que Deus escreveu [23].

4 – JESUS SUSCITA A IRA DOS FARISEUS E DOUTORES DA LEI (Lc 11.53,54).

Infelizmente, os fariseus e os escribas não conseguiram dar ouvidos às advertências de Jesus. Em vez de se arrependerem de seus pecados, repudiando seu falso sistema de religião, e pedindo misericórdia divina, eles se tornaram ainda mais agressivos e hostis com Jesus. Enechō em grego (hostil) poderia ser traduzido como “guardar rancor”. Eles não apenas não concordavam com Jesus teologicamente, a animosidade contra Jesus era pessoal devido expô-los publicamente como falsos mestres.

Os escribas e os fariseus tentavam fazer Jesus errar em suas palavras (Lc 11.53,54). A última coisa que os hipócritas querem é ver seus pecados revelados, pois isso prejudica sua reputação. Em vez de se oporem ao Senhor, esses homens deveriam buscar sua misericórdia. Começaram a atacá-lo deliberadamente com perguntas capciosas, na esperança de pegá-lo em alguma heresia e de mandar prendê-lo. Que maneira vergonhosa de tratar o Filho de Deus! [24].

Diante do que Jesus falou esses homens se sentiram humilhados e resolveram confrontar Jesus ao invés de se arrependerem de seus pecados. E a ira deles se tornou ainda maior porque Jesus não fez isso em oculto, em uma conversa particular, mas à vista de muitas pessoas. Veja o capítulo 12.1: “Ajuntando-se entretanto muitos milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros, começou a dizer aos seus discípulos: Acautelai-vos primeiramente do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia”.

CONCLUSÃO

A igreja de Jesus Cristo deve, em qualquer tempo e lugar, estar sempre vigilante contra os falsos mestres que fingem serem morais, finge que amam a Deus, e que ensinam a verdade, mas, na realidade, são pecaminosos, tolos egoístas, desprovido de poder espiritual, de vida espiritual e da verdade espiritual. Porque eles são culpados de “falarem coisas perversas, para atraírem os discípulos após si” (At 20.30), eles não devem ser recebidos em nome da tolerância, mas devem ser rejeitados, pois, “promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles” (Rm 16.17). Esses tais devem ser confrontados em nome da sã doutrina e por amor a Deus!

Pense nisso!

Bibliografia:

1 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 282.

2 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 373.

3 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 120.

4 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 420.

5 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 191.

6 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 120.

7 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 421.  

8 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 374.

9 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 172.

10 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 421. 

11 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 192.

12 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 149.

13 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 282.

14 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 151.

15 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 282.

16 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 193.

17 – A. T. Robertson. Comentário de Lucas, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2013, p. 225.

18 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 193.

19 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 283.

20 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 194.

21 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 174.

22 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 376.

23 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 283.

24 – Ibidem, p. 283.

sábado, 6 de agosto de 2022

JESUS LAVOU OS PÉS DOS DISCÍPULOS DELE

Esta é uma leitura errada das Escrituras de acordo com os ideais humanistas pós-modernos.

É verdade que Jesus lavou os pés de seus discípulos, mas a palavra-chave operativa aqui é "d'Ele". Em outras palavras, ele não lavou os pés de todo e qualquer um, mas apenas os daqueles que o Pai lhe deu. De fato, depois de lavar os pés de seus discípulos, ele fez esta oração por eles:

"Eu revelei o teu Nome àqueles que do mundo me deste. Eles eram teus; Tu os confiaste a mim, e eles têm obedecido à tua Palavra. Agora, eles entendem que tudo o que me deste vem de Ti. Pois Eu compartilhei com eles as palavras que me deste, e eles as aceitaram. Eles reconheceram, de fato, que vim de Ti e creram que me enviaste. Eu rogo por eles. Não estou orando pelo mundo, mas por aqueles que me deste, pois são teus. Tudo o que tenho é teu, e tudo o que tens é meu; e neles Eu Sou glorificado. Agora, não ficarei muito mais no mundo, mas estes ainda estão no mundo, e Eu vou para Ti. Pai santo, protege-os em Teu Nome, o Nome que me deste, para que sejam um, assim como somos um. Enquanto Eu estava com eles, protegi-os e os defendi em teu Nome. E nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura."

(João 17:6-12 - KJA)

Claramente, então, nosso Senhor Jesus Cristo — o verdadeiro Senhor das Escrituras, não a imaginação vã e hippie de uma cultura sem Deus — intercede e ora em favor apenas dos que são d'Ele. Em outras palavras, Ele não saiu aleatoriamente lavando pés, como se estivesse desesperado pela atenção de todos, mas apenas daqueles que o Pai em Sua soberana graça lhe deu.

Não, Jesus não lavou os pés de Pôncio Pilatos, ou Herodes, ou Caifás, etc., mas somente aqueles que o Pai escolheu.

Qualquer coisa menos do que isso ou fingir que Jesus sai lavando os pés de alguém sem nenhum chamado real à salvação e santificação, bem… não passa de uma completa degradação e corrupção do verdadeiro Evangelho de nosso Senhor que reduz Cristo a um “mendigo por amor”: quem faz isso é o falso Gezuz hippie da cultura hollywoodiana que predomina em nosso tempo.

(Tradução adaptada a partir de publicação de Cristiano Conservador)

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

NÃO DESPERDICE AS OPORTUNIDADES - Lucas 11.29-36

Por Pr Silas Figueira

Texto base: Lucas 11.29-36

INTRODUÇÃO

Durante todo o Seu ministério, o Senhor Jesus Cristo enfrentou a hostilidade e oposição, principalmente dos líderes da seita religiosa judaica; os escribas, fariseus e saduceus. Em Mateus 12.38 nos diz que os escribas e os fariseus tentaram colocar Jesus em dificuldades, pedindo que Ele lhes mostrasse algum sinal. O Mestre tinha acabado de lhes dar um maravilhoso sinal, ao libertar o endemoninhado cego e mudo. Mas eles procuravam alguma coisa ainda mais sensacional e espetacular. O texto de Lucas 11.16 indica que eles estavam pedindo “um sinal do céu” que provasse que Ele era o Messias [1]. Eles queriam um sinal do céu, algo como a chuva de maná no deserto (Êx 16.4s) ou a parada do sol e da lua (Js 10.13) ou a chuva de fogo do céu em Elias (1Rs 18.38). A exigência do sinal era tão-somente um pretexto para justificar sua incredulidade [2].

Jesus já tinha curado enfermos, purificado leprosos e ressuscitado mortos, e eles ainda se mantinham reféns de seu coração endurecido. Até mesmo quando Jesus estava dependurado no madeiro, disseram-lhe: Desce da cruz e creremos em ti. O problema deles, entretanto, não era evidência suficiente, mas cegueira incorrigível [3].

No relato de Marcos, Jesus diz simplesmente: “a esta geração não se lhe dará sinal algum” (Mc 8.12). Eles estavam tão cegos em seu ódio contra Jesus, que eles não perceberam as oportunidades espirituais que estavam perdendo.

Vejamos quais as lições que podemos aprender com esse texto.

1 – JESUS NÃO SE SURPREENDEU COM A INCREDULIDADE DAQUELA GERAÇÃO (Lc 11.29).

Jesus não se surpreendeu com a incredulidade daquelas pessoas, principalmente dos líderes judeus. Não era por falta de sinais e prodígios que eles desacreditavam de Jesus, era porque Jesus não fazia o que lhes agradava. Jesus colocava em xeque a autoridade deles (Mt 7.28,29), e isso gerou no coração deles um ódio profundo por Jesus.

Podemos destacar duas lições aqui:

1º - Em primeiro lugar, o problema dos líderes religiosos não era a falta de luz, mas a falta de visão. Eles estavam cegos de ira e de inveja de Jesus. A luz estava em todos os lugares. Ela brilhou de forma extraordinária nos milagres realizados por Jesus (Jo 15.24; cf. Jo 5.36; 10.25,38; 14.11) e no ensino incomparável que Ele deu (cf. Mt 7.28; Jo 7.46). Nada revela mais profundamente a maldade dos que o rejeitaram do que a realidade de que a luz estava em toda parte, mas eles recusaram-se a vê-la.

Há um velho ditado que diz que “o pior cego é aquele que não quer ver”. Assim eram essas pessoas que pediam um sinal a Jesus. E se Jesus lhes desse mais algum sinal eles continuariam na incredulidade.

2º - Em segundo lugar, aquela geração era maligna (Lc 11.29). Outro grande problema que temos aqui é que aquela geração era maligna. Era uma geração de incrédulos. Como lemos em Jo 12.37-40: E, ainda que tinha feito tantos sinais diante deles, não criam nele; para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? E a quem foi revelado o braço do Senhor? Por isso não podiam crer, então Isaías disse outra vez: Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, A fim de que não vejam com os olhos, e compreendam no coração, E se convertam, E eu os cure”. O Senhor permitiu que eles permanecessem em sua incredulidade.

O uso da palavra genea (geração) indica que Jesus estava se referindo à maioria das pessoas em Israel naquela época; tanto de galileus (cf. Lc 9.41), quanto também dos judeus. A forma como Jesus caracteriza o povo de Israel como ímpio é chocante. Afinal, Ele não estava falando dos pagãos que adoravam ídolos ou ateus. A geração que Ele se referia era, pelos padrões humanos normais, extremamente morais, religiosos e conscientes de Deus. O povo judeu foi fanaticamente devotado a manter a lei de Deus e observar suas tradições religiosas, como a vida de Paulo antes de sua conversão ilustra (cf. Atos 22.3; Gl 1.14). Mas embora exteriormente parecesse ser justas, interiormente, estavam cheios de maldade (Lc 11.39; Mt 23.25-28).

Algo que não podemos deixar de observar nos dias de hoje. Vivemos um tempo de muita apostasia, de muita incredulidade e de pouca fé. Uma geração de cristãos que espera muito de Deus, mas que não quer lhe dar a devida adoração. Uma geração mimada que pisam no sagrado e profanam o nome do Senhor. E não precisamos ir longe para vermos o que está acontecendo, basta olharmos as redes sociais.

2 – JESUS DÁ TRÊS SINAIS AOS SEUS OPONENTES (Lc 11.31-36).

Jesus não se sujeita em realizar o que seus adversários desejavam.  Eles queriam que Jesus realizasse algum sinal (milagre) extraordinário, mas Jesus diz que lhes dará três sinais, não sinais miraculosos, mas sinais de condenação, pois aquela geração cega havia rejeitado a luz do mundo (João 8.12; 9.5). Estes versículos revelam a realidade do julgamento, e a razão para o julgamento.

1º - Primeiro, o sinal do profeta Jonas (Lc 11.29,30,32). Quando Jonas foi chamado a pregar em Nínive, ele tentou escapar do Deus de Israel abandonando a terra de Israel: “Mas Jonas fugiu da presença do Senhor, dirigindo-se para Társis” (Jn 1.3a). A história demonstra que Deus não só está presente no templo de Israel, mas também onipresente em todas as nações [4].  

a) Os ninivitas se arrependeram com a mensagem de Jonas (Lc 11.32). Pessoas menos iluminadas obedeceram a uma pregação menos iluminada; porém pessoas muito mais iluminadas se negaram a obedecer à Luz do Mundo [5]. Ambos proclamaram julgamento e chamado para o arrependimento.

Jesus diz que, no dia do juízo, os ninivitas se levantarão para condenar essa geração, pois ouviram a pregação de Jonas e se arrependeram; no entanto, Jesus, sendo maior do que Jonas, não foi ouvido por sua geração, que permaneceu incrédula e perversa [6].

b) Jonas simboliza a ressurreição de Jesus (Mt 12.40). “Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra”. Para os ninivitas, “o sinal” era claramente a reaparição miraculosa do homem que se cria estar morto. Jonas tinha estado dentro da baleia (Jn 1.17) antes de voltar à vida, por assim dizer. Para os ninivitas o sinal foi o reaparecimento de um homem que aparentemente estivera morto durante três dias. Para os homens dos dias de Jesus, o sinal seria o reaparecimento do Filho do homem no terceiro dia após a Sua morte [7].

A mensagem de Jonas impactou os ninivitas porque o profeta era um milagre de alguém que estivera morto por três dias e havia voltado à vida. Assim a mensagem de Jesus tem impacto sobre nossas vidas, pois Ele ressuscitou ao terceiro dia (Jo 2.18,19), mas diferente de Jonas, Ele vive eternamente.

2º - Segundo, o sinal de Salomão (Lc 11.31). A rainha do sul, conhecido no Antigo Testamento como a Rainha de Sabá (1Rs 10.1-13), vai subir com os homens desta geração no dia do julgamento e irá condená-los por rejeitarem a mensagem de salvação.

Esta rainha fez uma árdua jornada de várias semanas desde os confins da terra (Seba foi localizado no sudoeste da Arábia, mais de mil quilômetros de Jerusalém), seu propósito era ouvir a sabedoria de Salomão, enquanto a sabedoria de Jesus era de fácil acesso para as pessoas de sua geração. Ela era uma idólatra pagã, sem o conhecimento do verdadeiro Deus, enquanto eles estavam mergulhados no Antigo Testamento. Eles foram convidados a vir a Jesus (Mt 11.28-30), enquanto que não há nenhuma indicação de que ela tenha sido convidada para visitar Salomão. No entanto, ela foi salva do seu pecado depois de crer no que Salomão disse a ela sobre o Deus verdadeiro, enquanto que aquela geração rejeitou salvação do verdadeiro Rei, infinitamente mais sábio e maior que Salomão. Essa é uma acusação grave sobre aquela geração perversa.

Quando Jonas pregou aos gentios de Nínive, eles se arrependeram e foram poupados. Quando uma rainha gentia ouviu as palavras do rei Salomão, maravilhou-se e creu. Se, com todos os seus privilégios, os judeus não se arrependessem, o povo de Nínive e a rainha de Sabá testemunhariam contra eles no julgamento final. O Senhor deu a Israel inúmeras oportunidades, mas ainda assim se recusaram a crer (Lc 13.34, 35; Jo 12.35-41) [8].

Quantos hoje têm tido a oportunidade de ouvir o Evangelho, mas o rejeitam ou dizem que em outra ocasião tomarão a decisão por Cristo. As oportunidades têm sido dadas, mas muitas pessoas continuam descrentes da mensagem de salvação que lhes tem sido pregadas. No entanto, chegará um tempo em será tarde demais para decidirem.

3º - O terceiro sinal, a luz (Lc 11.33-36). A experiência universal da luz e da escuridão no mundo físico fornece uma porta para a compreensão do conceito de luz e escuridão no mundo espiritual. Aqui a luz é uma metáfora para compreender a verdade revelada por Deus, já que a luz revela (Ef 5.13), enquanto que as trevas escondem (1Co 4.5). A Palavra de Deus é uma luz que brilha neste mundo escuro (SI 119.105; Pv 6.23). Mas não basta a luz brilhar externamente, também deve penetrar em nossa vida, a fim de surtimos os seus efeitos. “A entrada das tuas palavras dá luz, dá entendimento aos simples” (SI 119.130) [9]

Jesus ilustra esse assunto com três exemplos:

1) O perigo de esconder a luz (Lc 11.33). Seria inútil para alguém, depois de acender uma lâmpada colocá-la em um porão ou escondê-la debaixo do alqueire (cesta para medir grãos). Ninguém acende uma candeia e depois a coloca em lugar onde não pode ser vista. Pelo contrário, é colocada onde sua luz pode ser vista com o melhor proveito. No entanto, era exatamente o que os líderes judeus estavam fazendo na esfera espiritual. Em vez de permitir que luz de Jesus iluminasse os seus corações eles a estavam a obscurecendo.

2 – O perigo dos olhos maus (Lc 11.34,35). Sabendo que eles eram cegos, o Senhor emitiu este aviso “vê pois” (gr. Skopeo) poderia ser traduzido “manter um olhar atento sobre”, “nota com cuidado”, “prestar atenção a” ou “estar preocupado com”. Este aviso forte era uma chamada para o autoexame cuidadoso. O perigo de que o que eles pensavam que era luz neles, na verdade era escuridão. Esse autoengano marca cada falso sistema de crença para além do evangelho de Jesus Cristo.

Há dois tipos de escuridão: (a) a da ignorância; e (b) a da incredulidade obstinada. O segundo tipo, o que aqui está pauta, é muitíssimo mais perigoso. Foi esse tipo de escuridão que reinou no coração dos que odiavam a Jesus [9].

3 – A luz ilumina a todos que ouvem Jesus (Lc 11.36). Quando o coração tem uma configuração correta, isto é, quando ele pertence à verdade e intenta a verdade, ele se apropria da revelação da verdade divina e comunica essa luz com toda a capacidade da alma [10]. Quando cremos em Jesus Cristo, nossos olhos são abertos, a luz penetra nosso ser e nos tornamos filhos da luz (Jo 8.12; 2Co 4.3-6; Ef 5.8-14). É importante usar a luz e fixarmos nosso olhar na fé [11].

CONCLUSÃO

Quero concluir com as palavras de Wiersbe que diz que cada um de nós é controlado pela luz ou pela escuridão. O mais assustador é que algumas pessoas se endurecem de tal modo contra o Senhor que não conseguem fazer distinção entre uma coisa e outra! Acreditam que estão seguindo a luz quando, na verdade, seguem a escuridão. Os escribas e fariseus afirmavam “ver a luz” ao estudar a Lei, mas na verdade estavam vivendo em trevas (ver Jo 12.35-50) [12].

Pense nisso!

Bibliografia:

1 – Earle, Ralph.  Comentário Bíblico Beacon, Mateus, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 95.

2 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 170.

3 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 368.

4 – Neale, David A. Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ, 2015, p. 105.

5 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 137.

6 – Lopes, Hernandes Dias. Mateus, Jesus, o Rei dos reis, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2019, p. 369.

7 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 189.

8 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 281.

9 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 142.

10 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 170.

11 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 281.

12 – Ibidem, p. 282.