- Se Deus não existe, valores morais objetivos não existem;
- Valores morais objetivos existem;
- Então, Deus existe.
quarta-feira, 31 de março de 2010
A Matança dos cananitas
Deus e o mal em Agostinho
Este artigo tem um duplo objetivo. Primeiro, ele é um resumo do livro A relação entre Deus e o mal segundo Santo Agostinho, de Joel Gracioso[1]. Na realidade, é um resumo da introdução, que em si já é um resumo do livro. Seu conteúdo é fruto da tese de mestrado do autor, e esta versa sobre o livro VII das Confissões. Depois é também uma nota, bem mais pessoal, de acordo com certas conversas alhures, sobre a afirmação de que o mal é a ausência de bem como se o mal não fosse real.
[1] GRACIOSO, Joel. A relação entre Deus e o mal segundo Santo Agostinho. São Paulo: Palavra e Prece, 2006.
[2] Como respondido a um amigo: “Sim, no sentido metafísico que Agostinho dá, tendo a aceitar esta afirmação de que o mal é ausência de bem. Porém, eu tendo também a acatar Dooyeweerd aqui, pelo menos em parte, e extrapolando Agostinho, ao falar de essência como ‘significado’”.
Acorda, igreja! Acorda!
Pelo que diz: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará (Ef 5.14).
Em artigos anteriores escrevi uma análise a respeito da igreja e tomei coragem para afirmar que, ao que parece, Deus largou a igreja brasileira de lado e deixou-a seguir seu próprio caminho. É que Deus agiu da mesma maneira com a nação de Israel no passado e falou com o profeta Isaías a respeito. No mesmo capítulo em que Isaías descreve a glória de Deus e se vê confrontado com seu pecado, a mensagem que Deus lhe dá é a mesma que diria hoje a igreja:
“O Senhor Deus me disse: — Vá e diga ao povo o seguinte: “Vocês podem escutar o quanto quiserem, mas não vão entender nada; podem olhar bem, mas não enxergarão nada.” Isaías, faça com que esse povo fique com a mente fechada, com os ouvidos surdos e com os olhos cegos, a fim de que não possam ver, nem ouvir, nem entender. Pois, se pudessem, eles voltariam para mim e seriam curados” (Is 6.910 – NTLH).
Esta palavra de Isaías é tão verdadeira que foi repetida por Jesus, e anos mais tarde por Paulo. Tanto Jesus quanto Paulo usaram o mesmo texto de Isaías para falar a respeito dos israelitas que endureceram seu coração para não ouvir a Deus. Isaías estava falando para os judeus, povo que adorava a Deus e que tinha ritos religiosos e observava os mandamentos e a lei.
Em Mateus 13 os discípulos perguntaram a Jesus: Por que lhes fala por parábolas? E Jesus citou este texto de Isaías. Quando os judeus em Roma rejeitaram a palavra que Paulo lhes pregava ele também citou esta mesma palavra. Isto é, que os israelitas estavam surdos e cegos e Deus os deixara assim para sua própria perdição.
“Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem. De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías: Ouvireis com os ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os olhos e de nenhum modo percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados” (Mt 13.13-15).
Assim como a nação de Israel perdera o foco de sua missão que era a de ser luz para as nações, a igreja brasileira perdeu o foco de sua missão. Os líderes da igreja endureceram seu coração e seus líderes hoje têm olhos que não veem e ouvidos que não ouvem, por isso não entendem a mensagem que Deus tem pra ela.
Confesso que o que vemos hoje no Brasil não espelha a verdadeira igreja de Cristo. Por que digo isto? Porque a igreja atual não preenche os requisitos de uma igreja que diz ser o corpo de Cristo. A igreja se casou com o sistema do mundo. Incorporou em sua mensagem e prática de vida elementos de filosofias humanistas e positivistas, e vem deturpando sistematicamente os ensinamentos de Jesus Cristo.
Décadas atrás culpávamos os católicos por serem uma igreja casada com o sistema, mas, ultimamente os evangélicos se casaram com o sistema do mundo, e seus líderes apreciam a vida palaciana, dividem os púlpitos com políticos sórdidos e abandonaram os pobres e os necessitados. Haja vista que hoje no Brasil muitos pastores e líderes apóiam este governo que tem em sua agenda um programa comunista que vai de encontro, em choque frontal com a mensagem do reino de Deus. Pastores e líderes perderam sua voz profética e a igreja se tornou meramente palanque de políticos que atentam contra a própria igreja!
Que Deus largou a igreja brasileira de lado não resta dúvidas. Isaías afirmou que o Espírito Santo se entristecera e que se tornara inimigo do povo de Israel. O mesmo está acontecendo nos dias de hoje. O Espírito Santo se tornou o maior inimigo da igreja. Não sou advogado de Deus, mas com base nas escrituras posso afirmar que Deus entregou seu próprio povo à matança! Isto é, os que se dizem povo de Deus e não são, porque Deus sempre conserva um povo remanescente que não dobra seus joelhos diante de Baal.
“Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo, pelo que se lhes tornou em inimigo e ele mesmo pelejou contra eles” (Is 63.10). A igreja hoje tem um grande inimigo que não é o diabo. Seu maior inimigo é o Espírito Santo, porque a igreja não tem ouvidos para ouvir nem olhos para ver. A igreja abandonou sua missão na terra e se encantou com seus amantes.
Todos os dias recebo e-mails dos meus pares pastores pedindo que oremos para que as leis que tramitam no congresso nacional e que limitarão a ação da igreja não sejam aprovadas. E que diferença fará a aprovação de tais leis para a Igreja? As leis vigentes no império romano eram ainda mais absurdas, porque era obrigatório que se queimasse incenso ao Imperador, como atesta um documento de Plínio, o menor ao imperador Trajano. Não se podia fazer reuniões à porta fechadas (por isso Lucas descreve em Atos 20.8 que havia muitas lâmpadas na sala onde estavam reunidos os irmãos). Os irmãos se reuniam de madrugada para tomar a ceia e eram perseguidos pelo sistema e até acusados de serem um povo que roubava e que causava mal à sociedade. E, apesar de tudo a igreja cresceu. Nero pôs fogo em Roma e colocou nos cristãos a culpa, e o povo acreditou!
Não me preocupam essas leis. Quem sabe – sem querer ser um profeta apocalíptico – essas leis farão a igreja se despertar para sua verdadeira missão e farão que a mensagem simples e poderosa do evangelho volte a ser pregada integralmente.
Chegará o dia em que a igreja orará como Isaias perguntando: “Ó Senhor, por que nos fazes desviar dos teus caminhos? Por que endureces o nosso coração, para que te não temamos? Volta, por amor dos teus servos e das tribos da tua herança” (Is 63.17).
Mas, para os que temem o Nome do Senhor brilhará o Sol da justiça! Existe uma parcela da igreja que não se dobrou diante de Baal, diante do sistema do mundo e que permanece fiel a Deus. Onde está essa gente? Está no meio da igreja! Assim como na Babilônia havia os fieis que não se dobravam diante dos ídolos, na grande Babilônia de hoje existem fieis que temem ao Senhor e não dobram seus joelhos nem cedem diante dos apelos governistas.
As palavras de Deus dadas a Jeremias são bastante atuais em nossos dias. Jeremias dizia que “a palavra do Senhor é para eles coisa vergonhosa; não gostam dela” (Jr 6.10). E, de fato, os pregadores de hoje têm deixado a palavra de Deus de lado. Jeremias também afirma que “tanto o profeta como o sacerdote usam de falsidade” (6.13). Preciso ser mais claro? Diz ainda o profeta que os pregadores “curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz” (v 14).
E finalmente o Senhor diz: “Eis que ponho tropeços a este povo” (v 21).
E a igreja brasileira tropeça e tropeça, culpando o diabo. Mas é Deus que está colocando tropeços no meio do seu povo. Prestem atenção! Deus está no comando! Só assim Deus terá um povo santo e nação santa que é seu grande anelo e propósito.
Como proceder? Que reação devemos ter? Confessar, como Habacuque: Diante da negativa de Deus de que as coisas haveriam de piorar, podemos confessar que continuaremos a esperar no “Deus da minha salvação”!
O poeta Castro Alves gritou desesperadamente diante de Deus diante das injustiças cometidas em seus dias: Deus, onde estás? “Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus, se eu deliro... ou se é verdade tanto horror perante os céus?!”.Fonte: João Antonio de Souza Filho
terça-feira, 30 de março de 2010
Orações Imprecatórias
Por David Chilton
Há uma classe de orações “imprecatórias” (que amaldiçoam) na Bíblia, e esse fato ocasionalmente incomoda as pessoas: isso não parece concordar com o que lemos em outros lugares na Bíblia sobre amar nossos inimigos (Mt 5.44). Deveria existir tais orações, especialmente no Novo Testamento? Qual deveria ser o seu lugar no culto? Em certa extensão, no mínimo, parece claro que as imprecações são apropriadas no culto: elas são usadas na Bíblia. Grande parte do Livro dos Salmos lida com isso. Não existe na verdade uma categoria separada de “Salmos Imprecatórios” como tal (embora os Salmos 10, 83 e 94 sejam quase completamente imprecatórios). Praticamente todo Salmo tem passagens imprecatórias, e todo salmo é implicitamente imprecatório. Pedir a bênção de Deus sobre o justo é, por implicação, pedir que ele não abençoe o ímpio. Martinho Lutero observou: “Não posso orar sem amaldiçoar”; toda bênção implica uma maldição.
Sendo mais específico, a Bíblia contém maldições explícitas contra o ímpio. Moisés amaldiçoou Faraó (Ex 9.16). Samuel amaldiçoou Saul (1Sm 13.13-14; 15.28). Elias e Miquéias amaldiçoaram Acabe (1Rs 21.17-24; 22.19-23). Amós amaldiçoou Israel (Amós 9.9-10). Jesus amaldiçoou os fariseus (Mt 23). Paulo amaldiçoou Himeneu e Alexandre (1Tm 1.20; 2Tm 4.14). Mesmo os santos perfeitamente puros e justos no céu amaldiçoam seus perseguidores, pedindo a vingança de Deus contra eles (Ap 6.9-11). Não existe nenhuma razão bíblica pela qual isso não deveria continuar em nossas mentes em pelo menos cinco perspectivas:
1. Perspectiva Cristológica. Primeiro, todo o Saltério é Jesus Cristo orando ao Pai: mesmo as passagens onde ele confessa “seus” pecados, mostram belamente quão completamente ele se “fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5.21). Segundo, as maldições da lei foram cumpridas sobre Cristo, quando a vingança pactual terrível de Deus foi descarregada sobre ele. As orações imprecatórias da Escritura foram aplicadas a Jesus, para que não fossem aplicadas ao seu povo. Isso deveria ser deixado claro em nossa apresentação de tais orações a uma congregação. O melhor livro que já li é o de James Adams: Psalms of the Prince of Peace: Lessons from the Imprecatory Psalms. Outro bom livro sobre os Salmos em geral é o de Calvin Beisner: Psalms of Promise: Exploring the Majesty and Faithfulness of God; este tem uma seção de 20 páginas chamada “Maldições sobre os Violadores do Pacto”.
2. Perspectiva Soteriológica. Na oração, não pedimos simplesmente pela derrota dos inimigos de Deus, mas pela sua salvação também. Mesmo inimigos terríveis da Fé (tais como Saulo) têm sido gloriosamente convertidos. O ponto é a glória de Deus e o bem da igreja, e sempre deveríamos desejar a conversão deles. Sem dúvida, não deveríamos ficar cegos para o fato que alguns inimigos simplesmente não serão convertidos, e devem ser removidos de alguma outra forma.
3. Perspectiva Eclesiástica. Não deveríamos fazer orações imprecatórias contra as pessoas simplesmente porque não gostamos delas, nem mesmo contra aquelas que nos odeiam e perseguem; devemos “abençoar, e não amaldiçoar” (Rm 12.14; cf. Mt 5.43-48). As maldições deveriam ser pronunciadas oficialmente, sob a autoridade da igreja, e contra aqueles que procuram destruir a igreja. Oficialmente, podemos achar necessário pronunciar o julgamento divino contra os ímpios; pessoalmente, devemos mostrar amor e compaixão a todos os homens, mesmo nossos inimigos. Oramos para que nossos inimigos sejam removidos, não primariamente para evitar dificuldade e sofrimento, mas para que a igreja possa realizar sua tarefa.
4. Perspectiva Escatológica. Nem todas as coisas serão resolvidas nesta vida. Devemos confiar no julgamento final de Deus no Último Dia. Deus não manifestou sua ira imediatamente contra todos os perseguidores dos apóstolos, e nem o fará em nossos dias. Esperamos pela vindicação final no final da história.
5. Perspectiva Sociológica. Nosso propósito primário é adorar a Deus. Tanto quanto possível, portanto, deveríamos buscar edificar os adoradores. Alguns são tentados a adotar uma atitude “profética” e impensada, agindo como se todos que discordam deles fosse um inimigo cruel de Deus. Particularmente num dia quando o Cristianismo é igualado com sentimentalismo pegajoso e xarope, uma fé vigorosamente bíblica pode encontrar muito choque cultural com os crentes fracos. Mas o povo de Deus deve ser tratado com respeito e sensibilidade; eles devem ser cuidadosamente conduzidos (não empurrados) a uma cosmovisão centrada em Deus. Se tivermos uma escolha, então deixemos Deus cuidar de explodir os lobos; os pastores devem cuidar das ovelhas.
Uma apresentação honesta e justa dos Salmos imprecatórios tentará demonstrar a justiça e santidade de Deus de uma forma que seu amor e misericórdia brilhem também. Isso pode ser feito apenas mostrando como tais coisas estão relacionadas a Jesus Cristo, em quem “a misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Sl 85.10).
Fonte: por David Chilton- Chalcedon Report, Março de 1997.
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Uma Espiritualidade Extramundana
A Maldição do Homem Moderno
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Fonte: Revista Fé Para Hoje, número 28, ano 2006.
Via: Blog dos Eleitos
O Adão Caído... Antes da Queda
Por Jorge Fernandes Isah
Trocando em miúdos: Lúcifer e os anjos maus, Adão e Eva, eu e você, somos pecadores miseráveis, e impossíveis de ter o conhecimento de Deus seja por qual método for, seja por qual esforço for, seja por qualquer ação ou decisão que tomemos. Apenas o próprio Deus pode se revelar, e o fará exclusivamente a quem quiser. As impressões de Deus existem como sensações inexatas, muito distante do Absoluto, e a prova está nas várias religiões que tentam inutilmente conhecê-lo a partir de suas próprias corrupções. O que se tem são tentativas frustradas na ilusão de se obter êxito. Por mais que o homem natural queira buscar a Deus [hipoteticamente, visto o homem não querê-lo, ainda que sinta a necessidade de tê-lo], o que deseja encontrar é qualquer coisa chamada "deus", não o Deus único, vivo e bíblico.
Neste aspecto, sem a queda, o homem jamais teria o entendimento adequado e verdadeiro do Deus santo e do homem transgressor. Sem a queda, seríamos criaturas "fora da realidade", vivendo em um mundo de esquizofrênia e ilusão quanto ao que somos e ao que o Senhor é. Por isso, ela foi inevitável, tinha de acontecer; sem a qual jamais os eleitos seriam cheios do amor divino, e Deus não poderia se manifestar plenamente ao Seu povo. O que nos remete à perfeição divina, à perfeição do decreto eterno, e tudo o que nele está determinado, inclusive o mal, o pecado e a queda.
Sem a revelação divina, a revelação especial [a Escritura inspirada, autoritativa, inerrante e infalível], não existe o conhecimento dEle; e todas as respostas serão tão-somente um esforço de se obtê-las no próprio homem, quando estão unicamente em Deus; restringindo-os, dando-os, a quem quer, segundo a Sua vontade; não sendo realizáveis pelo homem, incapaz de gerá-las por si e em si mesmo.
Apenas a revelação especial, as sagradas e santas Escrituras, a partir do novo homem, da nova natureza dada por Deus, resultará na transformação e regeneração da mente humana, tornando-a cativa a Cristo; ao ponto de, no glorioso dia do Senhor, estar completamente imune ao pecado e o mal, para que o eleito seja apresentado perfeito em Jesus Cristo [Cl 1.28].
"Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus" [1Co 2.11] , e os que receberam o Espírito que provém de Deus, para que pudessem conhecer o que lhes é dado gratuitamente por Ele [1Co 2.12].
sábado, 27 de março de 2010
Espírito de Escravidão
Por D. Martyn Lloyd-Jones
O que ele quer dizer com "espírito de escravidão"? Ele está falando do perigo de ter um "espírito de servo", um espírito e uma atitude de escravo. A atitude de escravo em geral surge de uma tendência de tornar a vida cristã, ou o viver a vida cristã, numa nova lei, numa lei mais alta, superior. Estou pensando em pessoas que estão bem esclarecidas em seu relacionamento com a lei — os Dez Mandamentos, ou a lei moral — como um caminho de salvação. Viram claramente que Cristo as libertou disso, e que somente Ele poderia fazer isso; sabem que seus próprios esforços jamais as capacitaram a cumprir a lei. Entendem que Cristo nos libertou da maldição da lei; não têm qualquer dúvida quanto à sua justificação. Entretanto, agora começam a olhar positivamente para a vida cristã, e de uma forma muito sutil — sem ter qualquer consciência disso — tornam-na num novo tipo de lei, e como resultado caem num espírito de escravidão e de cativeiro. Pensam na vida crista como uma grande tarefa a que têm que se empenhar, e à qual devem se dedicar. Leram o Sermão do Monte e compreendem que é um retrato da vida cristã, a vida que desejam viver.
Voltam-se para outros ensinamentos do Senhor registrados nos Evangelhos, e vêem a mesma coisa. Então examinam as Epístolas, e lêem aquelas instruções minuciosas dadas pelos apóstolos, e dizem: "Essa é a vida cristã". E tendo chegado a essa conclusão, consideram-na algo que deve ser assumido e colocado em prática em suas vidas diárias. Em outras palavras, santidade se torna uma pesada tarefa para elas, e começam a planejar e organizar suas vidas e a incluir certas disciplinas que as capacitem a prosseguir. Esta atitude pode ser vista, de forma clássica, na igreja católica romana e em seus ensinos, em toda a idéia do monasticismo, que é nada mais do que uma grande expressão disto que estamos considerando.
Vemos ali homens e mulheres que, sendo confrontados pela verdade cristã, dizem: "Obviamente, a vida cristã é uma vida nobre e sublime, e se alguém vai vivê-la com sucesso, deve se dedicar integralmente a isso". Indo ainda mais longe, dizem: "Não se pode fazer isso, e ainda continuar exercendo uma profissão, ou mesmo continuar vivendo no mundo. É preciso segregar-se do mundo, abandoná-lo completamente". E fazem isso. Essa é a forma extrema dessa idéia de santidade, de que cultivar santidade e a vida espiritual é uma ocupação de tempo integral, e que é necessário devotar-se a ela exclusivamente, e ter regulamentos e outras coisas para ser capaz de vivê-la.
Observem como ele o expressa no fim do segundo capítulo: "Portanto ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo. Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão, e não ligado à cabeça, da qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo em aumento de Deus. Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies?
As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne" (Colossenses 2:16-23). Isso nos dá uma idéia do que estava acontecendo na Igreja primitiva. Uma espécie de monasticismo estava surgindo de forma muito insidiosa. Já não é mais encontrado entre nós dessa forma particular, mas a tendência, a tentação, ainda está presente. Novamente, Paulo escrevendo a Timóteo, tem de advertí-lo contra a mesma coisa. Observem o que ele diz na Primeira Epístola a Timóteo, capítulo 4. "Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência; proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos manjares que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças". Isso certamente é algo que ainda é muito comum. Lembro-me muito bem do caso de uma senhora, uma cristã evangélica, que tinha parado de comer carne. Ela acreditava poder demonstrar claramente que o cristão não devia comer carne porque o animal teve que ser morto, e isso era uma violação do espírito de amor. Essa senhora havia imposto sobre si mesma uma lei. Qual era seu objetivo? Era, como ela pensava, verdadeiramente viver a vida cristã. Ela levava o cristianismo muito a sério, era uma cristã evangélica, não tinha dúvidas quanto à justificação pela fé, mas inconscientemente estava tornando a vida cristã numa nova lei que tinha imposto sobre si mesma. Essa passagem que eu acabei de citar, sobre espíritos enganadores que proíbem o casamento e proíbem comer carne, devia ser suficiente e para mostrar o que o apóstolo queria dizer com "espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor".
CRISTIANISMO, CAPITALISMO E CONTRACULTURA
Por Ed René Kivitz
Uma de nossas grandes necessidades é nos sentirmos valorizados: "eu sou alguém" em vez de "eu sou um zé ninguém". Jung Mo Sung diz que esse "sentimento de ser", que todos buscamos, depende em grande parte do reconhecimento de outras pessoas. É o olhar do outro que me faz sentir que sou alguém. Todo mundo quer ser admirado, amado, desejado. Para atrair os olhares dos outros precisamos ostentar os objetos que as outras pessoas valorizam e desejam. Frei Betto resumiu bem essa idéia: "a mercadoria, intermediária na relação entre seres humanos (pessoa-mercadoria-pessoa), passou a ocupar os pólos (mercadoria-pessoa-mercadoria). Se chego à casa de um amigo de ônibus, meu valor é inferior ao de quem chega de BMW. Isso vale para a camisa que visto ou o relógio que trago no pulso. Não sou eu, pessoa humana, que faço uso do objeto. É o produto, revestido de fetiche, que me imprime valor, aumentando a minha cotação no mercado das relações sociais. O que faria um Descartes neoliberal proclamar: "Consumo, logo existo". Mas o dinheiro não é capaz de imprimir no fundo da alma humana o senso de dignidade e de pertencimento. O "vazio de ser" que existe em cada coração humano somente pode ser preenchido pela voz de Deus que nos chama para a vida e nos confere dignidade: "você é meu filho amado, minha filha amada, em quem tenho prazer", é capaz de preencher o vazio que o dinheiro pretende.
Finalmente, guardar dinheiro é uma forma de combater uma das grandes preocupações humanas. Diz respeito às contingências da vida e ao medo do futuro: como será o amanhã? será que o futuro me convidará a rir ou chorar? o que, de mal ou bem, está destinado a mim? Para responder a essa inquietação, muitas pessoas acreditam que se tiverem uma boa poupança poderão descansar em relação ao futuro. Você lembra da "Promoção Pé-de-Meia MasterCard®", que prometia garantir seu futuro durante dez anos? Esse é um grande apelo: antecipar, prevenir e prover para remediar os infortúnios da vida. Esta é a promessa sutil embutida no dinheiro. Mas é uma promessa falsa. O dinheiro não é capaz de nos blindar contra os eventuais sofrimentos futuros. Não importa quanto você tenha na poupança, o dinheiro nunca lhe trará a paz. Guardar não é uma boa resposta à insegurança e ansiedade quanto ao futuro. A poupança é útil como previdência, e nos supre em momentos de emergências, mas não "garante nosso futuro".
Paulo, apóstolo, resume a contracultura cristã com as seguintes recomendações: "Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação. Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos a repartir. Dessa forma, eles acumularão um tesouro para si mesmos, um firme fundamento para a era que há de vir, e assim alcançarão a verdadeira vida". A cultura de mercado diz que devemos acumular, ostentar e guardar. A contracultura cristã diz que devemos ser gratos e dependentes de Deus, desfrutar das coisas boas que Ele nos dá e repartir generosamente as riquezas que recebemos de Deus. Cada um avalie seu coração para concluir se vive como angustiado filho de sua cultura ou amado filho de Deus.
Autor & Fonte: © 2007 Ed René Kivitz Via: Emeurgência