sexta-feira, 29 de novembro de 2013

PROCURA-SE A FIDELIDADE



Por Fabio Campos

Texto base: “Já não há quem seja fiel; já não se confia em ninguém entre os homens”. – Salmos 12.1 NVI

A Palavra de Deus diz que “todos pensam que são bons e fiéis, mas tente achar alguém que realmente seja” (Pr 20.6). Alguém já disse que a rainha das virtudes é a perseverança. Eu corroboro este pensamento dizendo que a fidelidade é a princesa. Só saberemos de fato quem realmente é fiel no último suspiro de vida. Por quê? Imagine alguém que foi fiel por 99 anos, mas que aos 100, foi infiel. Não poderá ser mais chamado de fiel e sua vida virtuosa levada nestes 99 anos não valerá de nada devido a este ato falho. Por isso que a “fidelidade verdadeira” é escondida de nossa vista, mas Deus conhece cada pensamento e intenção do coração. É uma virtude para poucos. Haja vista as traições e as fraudes vivenciadas nos relacionamentos que contemplamos diariamente.

A fidelidade constitui no respeito aos compromissos assumidos ou ao vínculo com alguém ou com alguma coisa. Ela depende de você e não dos outros. Nós é que decidimos ser fieis ou infiéis. É algo determinado de acordo com o caráter e firmemente cumprido, não dependendo do que o outro faça ou deixe de fazer. Quem deu a palavra e prometeu cumpri-la fomos nós.

Essa semana aconteceu um fato inusitado que me levou a arrazoar neste tema. Estava na academia e uma senhora me disse para ser constante na frequência com os exercícios e também na dieta alimentar. Até aí tudo dentro do script. A questão foi quando ela disse que isso ajudaria minha esposa a não procurar os “malhados” fora de casa. Olha o pensamento mundano e demoníaco. Para não a constranger desviei a conversa para outro rumo, mas pensei comigo no mesmo instante: “Eu conheço minha esposa”-, e antes dela ser fiel a mim, ela é fiel e temente a Deus. Olha só o pensamento da nossa cultura: “A minha fidelidade depende do desempenho do outro”.

Ao ministro e despenseiro de Deus é necessário que seja encontrado fiel (1 Co 4.2). O Senhor se deleita na fidelidade, pois Ele é fiel. A todos estes [os fiéis] Ele os protege (Sl 31.23) e confia suas riquezas espirituais (Nn 12.7). Não há nada mais seguro para nós do que lidarmos com pessoas sinceras, dignas e fieis - de caráter irrepreensível - que julga bem as coisas e que não se vendem a fraude para ajuntar riquezas que só lhe trarão desgraças e tormentas. Como é bom se relacionar com gente decidida em si - que não anda conforme o ditado do momento e nem abandonam suas convicções -, pois sabem que a credibilidade é mais cara do que todo o dinheiro e status do mundo.

A Escritura nos ensina a termos fidelidade em tudo e para com todos (3 Jo 1.3). Precisamos ser fieis aos nossos cônjuges, líderes espirituais, irmãos, familiares e patrões. A empresa que você trabalha precisa da sua confiança; ou você é daqueles que é facilmente levado a mudar por apenas trinta moedas? É preciso levar as coisas com mais seriedade. Se as pessoas forem infiéis a você [e isso será inevitável], permaneça fiel; não por ela, mas por você, pois não será virtude se rebaixar ao nível desta “coitada criatura” que ainda não entendeu o que o homem semear isto também colherá.

Ser fiel a Deus é o principal para ser fiel em tudo, pois o temor ao Senhor é o principio da sabedoria. O fofoqueiro nunca será fiel. Mas a pessoa séria é discreta (Pr 11.13). Precisamos estar mais atentos nos relacionamentos, naquilo que confidenciamos e a quem estamos colocando dentro de nossos lares. O Senhor é eternamente fiel e isto constitui toda nossa segurança (Sl 117.2), pois está escrito: “se formos infiéis, Ele pode até nos negar, mas permanece fiel, pois não pode negar a si mesmo”.

Fica a reflexão para nós: “Você passa segurança as pessoas nos seus relacionamentos e nos seus afazeres”? Muitos ainda não sabem os motivos pelo qual as coisas não caminham como deveriam. “Os impostores vão de mal a pior – enganando e sendo enganados”. É simples, seja fiel no pouco e tenha certeza que no muito será colocado. Tudo é uma questão de escolha independentemente das situações.

“Meus olhos aprovam os fiéis da terra, e eles habitarão comigo. Somente quem tem vida íntegra me servirá. Quem pratica a fraude não habitará no meu santuário; o mentiroso não permanecerá na minha presença”. – Salmos 101. 6-7 NVI

Pense nisso!

Fonte: Fabio Campos

Culpa!



Por John Owen (1616 - 1683)

Esforce-se por encher sua mente e sua consciência com uma percepção clara e constante da culpa, do perigo e do mal do desejo pecaminoso que está perturbando você.

1. A culpa do seu desejo pecaminoso

O cristão precisa se recusar a ser enganado pelos argumentos enganosos da sua natureza pecaminosa. Ela sempre procurará apresentar desculpas para diminuir a gravidade da sua culpa. Está sempre pronta a raciocinar da seguinte maneira:

"Talvez isto seja mal, mas há coisas que são piores! Outros santos não apenas têm pensado nessas coisas como as têm praticado..."

Mediante centenas de maneiras diferentes o pecado procurará impedir que a mente elabore uma compreensão correta da sua culpa. Como os profetas nos disseram: "A sensualidade, o vinho e o mosto tiram o entendimento" (Os. 4:11).

Da mesma maneira como estes desejos pecaminosos têm pleno êxito em produzir isso nos não-cristãos, assim também, até certo ponto, terão sucesso ao agirem nos cristãos.

Em Provérbios, encontramos um quadro triste de um jovem que foi seduzido por uma prostituta. Este jovem carecia de "juízo" (Prov. 7:7). Qual era exatamente o "juízo" de que carecia? A resposta é que não sabia que entregar-se a sua lascívia iria lhe "custar a vida" (Prov. 7:23) - não levou em conta a culpa do mal no qual estava envolvido.

Se quisermos mortificar o pecado, precisamos perceber plenamente que ele procurará prejudicar nossa percepção da culpa envolvida nele. Precisaremos, então, fixar uma compreensão correta dessa culpa em nossas mentes. Há duas coisas que devemos ter em mente que nos ajudarão nesse sentido:

a) O pecado de um cristão é muito mais grave que o de um incrédulo.

A graça de Deus que está agindo no cristão enfraquecerá o poder do pecado que não é mais seu mestre como, infelizmente, continua sendo dos incrédulos (veja Rom. 6:14,16). Ao mesmo tempo, contudo, a culpa do pecado num cristão é pior pelo fato de que o cristão peca contra a graça!

"Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum. Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?" (Rom. 6:1,2).

Neste texto a ênfase está na palavra "nós" (subentendida). Como é que nós faremos isso? Sem dúvida somos piores do que qualquer outro se praticarmos o pecado. Pecamos contra o amor de Deus. Pecamos contra a misericórdia de Deus. Pecamos a despeito da promessa de ajuda para derrotarmos o pecado. Muito mais poderia ser dito, todavia deixem que essa consideração final fique gravada nas suas mentes.

No coração de cada cristão há muito mais mal e culpa no pecado que permanece lá, do que haveria em uma igual medida de pecado num coração que não tem a graça de Deus.

b) Pense em como é que Deus vê o seu pecado

Quando Deus contempla as aspirações por santidade que a graça tem produzido no coração de qualquer um dos Seus servos, Ele vê mais beleza e excelência nelas do que vê nas mais gloriosas obras dos homens destituídos da graça. Sim, Deus até mesmo vê mais beleza e excelência nestas aspirações internas, do que vê na maioria dos seus atos externos. Isso é porque há quase sempre uma maior mistura de pecado nas nossas ações exteriores do que nas aspirações e desejos por santidade de um coração com a graça de Deus.

Por outro lado, Deus vê grande mal no desejo pecaminoso de um cristão. Ele vê maior mal nesse desejo pecaminoso, do que vê nos atos visíveis e notórios dos ímpios. Ele vê ainda maior mal nele do que vê em muitos pecados externos nos quais os santos possam cair. Por quê? E porque Deus vê que há mais disposição interna contra o pecado propriamente dito, e geralmente há mais humilhação pelo pecado. É por isso que Cristo trata da decadência espiritual nos Seus filhos, indo à raiz e expondo seu verdadeiro estado. "Eu conheço..." (Apoc. 3:15).

Leitor, você precisa deixar que estas e outras considera¬ções semelhantes o levem a uma clara consciência da culpa pelo desejo pecaminoso que habita em você. Não subestime nem procure desvencilhar-se da sua culpa nisto, ou seu desejo pecaminoso se fortalecerá e prevalecerá sem que você o perceba.

2. O perigo do seu desejo pecaminoso

Há muitos perigos a serem considerados, mas nós nos limitaremos a quatro deles:

a) O perigo de sermos endurecidos

Considere as advertências de Hebreus 3:12,13. Nestas palavras o escritor solenemente admoesta seus leitores a que façam tudo que estiver ao seu alcance para evitar que sejam "endurecidos pelo engano do pecado". O endurecimento mencionado aqui é a apostasia total, um endurecimento que "afasta do Deus vivo". Qualquer desejo pecaminoso que se deixe sem mortificar opera tal endurecimento e consegue fazer pelo menos algum progresso nessa direção. A pessoa que está lendo estas palavras pode ter sido certa vez muito terna para com Deus e freqüentemente percebido o mover--se do seu coração pela Sua Palavra. Agora, no entanto, eis que as coisas mudaram e ela pode negligenciar os deveres de orar, de ler e de ouvir a Palavra de Deus, com pouca preocu¬pação. Não é suficiente que seu coração trema ao pensar em se endurecer, a tal ponto que você pense levianamente do pecado, da maravilha da graça de Deus, da misericórdia de Deus, do precioso sangue de Cristo, da lei de Deus, do céu e do inferno. Leitor, tome cuidado. Isso é o que um desejo pecaminoso que não foi mortificado fará, se for deixado sem ser examinado.

b) O perigo de alguma grande punição temporal

Embora Deus nunca vá abandonar completamente os Seus filhos por deixarem de mortificar seus desejos pecaminosos, talvez Ele os castigue, causando-lhes dor e tristeza (veja Sal. 89:30-33). Pense em Davi e em todas as tribulações que teve porque deixou de mortificar os desejos pecaminosos por Bate-Seba. Não significaria nada para você que seu fracasso em mortificar os desejos pecaminosos na sua vida possa trazer sobre você castigos dolorosos que podem continuar com você até o túmulo? Se não tem receio de tal coisa, então há uma boa razão para temer que seu coração já esteja endurecido.

c) O perigo de perder a paz e a força pelo resto da vida

A paz com Deus e a força para andar diante de Deus são essenciais para a vida espiritual da alma. Sem gozar destas coisas em certa medida, viver é morrer. Quando uma pessoa persiste em deixar de mortificar os seus desejos pecaminosos, mais cedo ou mais tarde será privada de ambas essas bênçãos. Que paz ou que força pode desfrutar uma alma quando Deus diz: "Por causa da indignidade da sua cobiça eu me indignei e feri o povo; escondi a face, e indignei-me..." (como Ele fez em Is. 57:17)? Ainda noutra ocasião Deus diz: "Irei, e voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados" (Os. 5:15). E, quando Deus age assim, o que será da paz deles e de sua força?

Pense, leitor, seria o caso de que em breve, talvez, você não mais veja a face de Deus com paz? Talvez amanhã você não seja capaz de orar, de ler, de ouvir ou de realizar quaisquer deveres com pelo menos um pouco de gozo, vida ou vigor. Talvez Deus lance suas setas em você, e o encha de angústia, de temores e de perplexidades. Considere isto um pouco, que embora Deus não o destrua totalmente, Ele poderá lançá--lo em um estado no qual você sinta que isto é o que acontecerá com você. Não deixe de lado esta consideração até que sua alma trema dentro de você.

d) O perigo da destruição eterna

Há tal conexão entre a persistência no pecado e a destruição eterna que enquanto uma pessoa estiver sob o poder do pecado, ela precisa ser advertida sobre a destruição e a separação eterna de Deus. O fato de Deus ter resolvido livrar alguns da permanência no pecado (a fim de salvá-los da destruição) não muda o outro fato (igualmente verdadeiro) de que Deus não livrará da destruição quem permanecer no pecado. A regra de Deus é muito clara. "Aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção..." (Gál. 6:7,8). Quanto mais claramente reconhecermos a realidade de que os desejos pecaminosos que não foram mortificados levarão a destruição eterna, mais claramente veremos o perigo de permitir que qualquer desejo pecaminoso na nossa vida permaneça sem ser mortificado. O desejo pecaminoso é um inimigo que nos destruirá se antes não o destruirmos. Que isso penetre fundo na sua alma. Não se contente com a suposição de que já foi suficientemente fundo enquanto não tremer ao pensar em ter um inimigo vivendo dentro de você, que o destruirá se antes você não o destruir.

3. Os males da sua lascívia

O perigo se preocupa com futuras possibilidades mas o mal com as atuais. Há muitos males relacionados com um desejo pecaminoso que não tenha sido mortificado, porém focalizaremos nossa atenção apenas em três deles:

a) Entristece o santo e bendito Espírito de Deus

O grande privilégio dos cristãos é que o Espírito de Deus vive dentro deles. Por causa disso, os cristãos são especial-mente exortados em Efésios 4:25-29 a se absterem de uma variedade de desejos pecaminosos e motivados a fazer isso com as seguintes palavras:

"E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção" (Ef. 4:30).

Assim como uma pessoa terna e amorosa se entristece com a falta de bondade de um amigo, assim também o Espírito Santo é entristecido quando um cristão permite que desejos pecaminosos que não foram mortificados vivam no seu coração. O Espírito Santo escolheu nossos corações como Sua habitação. Ele veio fazer por nós todo o bem que desejamos. O Espírito Santo Se entristece muito quando um cristão compartilha seu coração, que Ele veio possuir, com seus inimigos (nossos desejos pecaminosos), os próprios inimigos que Ele veio ajudar a destruir.

Ó, cristão, considere quem e o que você é; considere quem é o Espírito que você está entristecendo, o que Ele fez por você e o que Ele pretende fazer por você. Envergonhe--se de cada desejo pecaminoso que não mortificou e que dessa maneira permitiu que maculasse o Seu templo.

b) O Senhor Jesus Cristo é ferido novamente pelo desejo pecaminoso que não foi mortificado.

Quando o desejo pecaminoso permanece sem ser mortificado no coração de um cristão, a nova criação de Cristo naquele coração é ferida, Seu amor é frustrado, Seu inimigo gratificado. Assim como um abandono total de Cristo pelo engano do pecado é estar "crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à ignomínia" (Heb. 6:6), do mesmo modo, abrigarmos pecados que Ele veio para destruir O fere e O entristece.

c) Rouba a utilidade de um cristão

Desejos pecaminosos que não tenham sido mortificados geralmente produzem uma doença espiritual na vida da pessoa. Seu testemunho raramente recebe a bênção de Deus. Muitos cristãos permitem que desejos pecaminosos que destroem a alma vivam nos seus corações. Esses jazem como vermes à raiz da sua obediência, e a corroem e a enfraquecem dia após dia. Todas as graças, todas as maneiras e todos os meios pelos quais as graças possam ser exercidas e aperfeiçoadas, são impedidos desta maneira; e Deus mesmo nega a este homem qualquer sucesso.

Conclusão

Nunca se esqueça da culpa, do perigo e da malignidade do pecado. Pense muito nestas coisas. Permita que elas encham sua mente até que levem seu coração a tremer.

Fonte: Josemar Bessa

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Justificados, pois, pela fé


Por Thomas Watson

a. O que quer dizer justificação?

É uma palavra forense. Refere-se a uma pessoa acusada que é declarada justa e publicamente absolvida. Quando Deus justifica uma pessoa, declara a pessoa justa e olha para ela como se não tivesse pecado.

b. Qual a fonte da justificação?

A causa, ou o motivo interior que a estimula ou a base da justificação é a livre graça de Deus: “Sendo justificados livremente por sua graça”. Ambrósio, expondo sobre a justificação, diz que ela não é “da graça produzida internamente por nós, mas da livre graça de Deus”. A primeira engrenagem que põe todo o restante em funcionamento é o amor e o favor de Deus, assim como um rei livremente perdoa um delinquente. A justificação é uma misericórdia provinda das entranhas da livre graça. Deus não nos justifica porque temos valor, mas ao nos justificar nos faz de grande valor.

c. Qual é o fundamento pelo qual o pecador é justificado?

O fundamento de nossa justificação é a satisfação que Cristo proporciona às exigências de Deus Pai. Pode-se perguntar: “Como se relacionam a justiça e a santidade de Deus quando ele nos declara inocentes visto que somos culpados?” A resposta é: “Quando Cristo satisfez nossas faltas, Deus pôde, em equidade e em justiça, declarar-nos justos”. É uma coisa justa um credor perdoar alguém que deve uma grande quantia quando ela é paga por um fiador.

d. A satisfação obtida por Cristo tem mérito suficiente para justificar?

Sim, plenamente na natureza divina de Cristo. Como homem, Cristo sofreu, como Deus, satisfez. Pela morte e pelos méritos de Cristo, a justiça de Deus foi mais abundantemente satisfeita do que se tivéssemos sofrido as dores do inferno para sempre.

e. Qual é o método de nossa justificação?

Pela imputação da justiça de Cristo em nós: “Será este o seu nome, com que será chamado: SENHOR, Justiça Nossa” (Jr 23.6). “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça” (1 Co 1.30). Essa justiça de Cristo, que nos justifica, é melhor que a dos anjos, pois a justiça deles é das criaturas e essa é de Deus.

f. Qual é o meio ou instrumento de nossa justificação?

O instrumento é a fé. “Justificados… mediante a fé” (Rm 5.1). A dignidade não está na fé como uma graça, mas de modo relativo, na medida em que se apega aos méritos de Cristo.

g. Qual é a causa eficiente de nossa justificação?

Toda a Trindade, visto que todas as pessoas da bendita Trindade participam da justificação de um pecador: Deus, o Pai, justifica: “É Deus quem os justifica” (Rm 8.33). Deus, o Filho, justifica: “E, por meio dele, todo o que crê é justificado” (At 13.39). Deus, o Santo Espírito, justifica: “Mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1 Co 6.11). Deus, o Pai, justifica ao nos declarar retos; Deus, o Filho, justifica ao impor sobre nós sua justiça; e Deus, o Espírito Santo, justifica ao esclarecer nossa justificação e nos selar até o dia da redenção.

h. Qual é o propósito de nossa justificação?

i. A glorificação eterna de Deus

A finalidade é que Deus receba louvores: “Para louvor da glória de sua graça” (Ef 1.6). Pela justificação, Deus levanta os eternos troféus de sua própria honra. Como o pecador justificado proclamará o amor de Deus e fará os céus a ressoarem com os louvores ao nome do Senhor!

ii. A glorificação eterna do justificado.

O fim de nossa justificação é que a pessoa justificada receba a glória. “Aos que chamou, a esses também justificou” (Rm 8.30). Deus, quando justifica, não somente absolve a alma culpada, mas dignifica. Como José, que não foi somente solto da prisão, mas feito senhor do reino, a justificação é coroada com a glorificação.

Traduzido por André Lima Original aqui

Fonte: Reforma 21

E quando Deus não atende nossa oração?

Ora1

Por Maurício Zágari

O que devemos fazer quando estamos enfrentando um problema; oramos, oramos e oramos a Deus… mas não recebemos o que pedimos? Isso ocorre muitas vezes em nossa vida: simplesmente nossa oração não é atendida. A sensação que temos, nesses casos, é que Deus ou não nos ouviu ou nos virou as costas. Bem, na verdade não é isso o que ocorre. Há um acontecimento na vida de Paulo que pode nos conduzir a uma reflexão bem interessante sobre orações não atendidas.

Para pensarmos sobre essa questão, precisamos ler a famosa passagem do espinho na carne. “Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos [...] foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir. [...] E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co 12.2-9).

Pense bem: o que diferencia essa experiência de Paulo da sua experiência pessoal? Vejamos: Paulo tem um problema. Você tem um problema. Paulo ora a Deus pedindo uma solução. Você ora a Deus pedindo uma solução. Paulo não vê sua oração ser respondida da primeira vez. Você não vê sua oração ser respondida da primeira vez. Paulo persiste na oração, orando uma segunda vez. Você persiste na oração, orando uma segunda vez. Paulo não é atendido. Você não é atendido. Paulo ora sem cessar, clamando uma terceira vez. Você ora sem cessar, clamando uma terceira vez. Paulo não é atendido. Você não é atendido. Tudo igualzinho, reparou? A experiência do apóstolo em nada difere da sua. Só que, no caso dele, aconteceu um fenômeno que com você não acontece. É um detalhe nessa passagem que, a meu ver, é de suma importância.

Deus explicou.

Estas palavras de Paulo fazem toda a diferença: “Então, ele me disse…”. Sim, o Senhor verbalizou ao apóstolo, deu a ele uma explicação audível para o fato de não ter atendido seu clamor. E isso tirou do coração de Paulo toda a angústia que sente a pessoa que ora mas não é atendida. Havia uma explicação. Havia uma motivo cognoscível para aquilo. Mesmo que seu desejo não tivesse sido satisfeito, Paulo agora sabia a razão. E podia seguir em paz, pois tomou conhecimento do que levou Deus a não lhe conceder o que queria. E essa é a grande diferença da experiência de Paulo para a sua: ele recebeu uma justificativa. Com você e comigo isso não acontece. Ninguém nos diz por que nosso pedido ao Todo-poderoso foi negado.

Faça um exercício de imaginação. Suponha que Deus tivesse ficado quieto e simplesmente não explicasse a Paulo o porquê de não ter atendido aos seus pedidos. O apóstolo permaneceria ali, clamando, em angústia de alma, cheio de perguntas na cabeça. “Será que Deus não me ouviu?”. “Será que Deus só me atenderá daqui a muitos anos?”. “Será ao menos que Deus atenderá ao meu clamor algum dia, mesmo que demore?”. “Será que os céus se fecharam a mim?”. “Será que os meus pecados impedem Deus de atender minha oração?”. Será que o Diabo está impedindo Deus de atender meu clamor?”. Será, será, será, será, será…?

Paulo poderia ter feito isso, e não seria nenhuma novidade. Afinal… não é exatamente o que nós fazemos?

Deus decidiu em sua soberania que simplesmente não iria atender a oração de Paulo. Não teve nada a ver com falta de fé, ação do Diabo, pecado não confessado, nada disso. Simplesmente o Senhor disse “não” à oração do apóstolo porque queria proteger seu filho amado de pecar pela soberba. E é precisamente o que ele faz conosco em muitas e muitas situações semelhantes. Nós oramos, clamamos, nos esgoelamos, mas não somos atendidos. E aí os “será” invadem nossa mente e ficamos angustiados, cheios de conjecturas, sofrendo, questionando até mesmo a onisciência de Deus: “Será que ele não ouviu minha oração?”.

Claro que ouviu. Deus ouve todas as orações. E antes mesmo de orarmos ele já sabe o que vamos falar: “Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, SENHOR, já a conheces toda” (Sl 139.4)“. Essa ideia de que “Deus não ouve a oração” não é bíblica. O que acontece é que ele decide não nos dar o que pedimos. Ouve, pondera e responde com um grande “não”. Ponto. Não há fé no mundo que altere a vontade soberana do Criador do universo. Paulo não tinha fé? Possivelmente a maior do mundo. Mas Deus quis não atender seus pedidos, porque, por saber tudo, entendia que, no grande plano de causas e consequências do universo e da eternidade… não atendê-los era o melhor. Inclusive, era o melhor para o próprio apóstolo, embora ele não soubesse, visto que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). A grande vantagem de Paulo é que o Senhor disse de forma inequívoca que tinha escutado a oração mas não a atenderia. Conosco ele não faz isso. Temos de nos contentar com o silêncio. Não vem resposta. O que pedimos não acontece. Ficamos impacientes, como se o Pai tivesse a obrigação de nos atender só porque oramos com fé. E não entendemos nada.

Em vez de ficar imerso em “será”, talvez Paulo partisse para a ação se Deus não tivesse afirmado explicitamente a ele que sua oração não seria atendida. É possível que orasse uma quarta vez, uma quinta, uma sexta, uma sétima. Talvez ficasse anos orando. E ficaria a ver navios, porque, apesar de sua inequívoca grande fé, Paulo estava debaixo da soberana vontade de Deus – e, para aquela oração, a resposta da soberania divina era “não”. Se Paulo fosse um crente temperamental ou imaturo, ele poderia “ficar de mal” com o Senhor ou até mesmo se desviar da fé. Não é o que muitos de nós fazemos? Como não recebemos de Deus o que pedimos o largamos para lá? Ou então tomamos as rédeas da situação e agimos pela força da nossa mão? Quero a cura, mas, como não fui curado, vou procurar um pai de santo. Quero prosperidade, mas, como não tive um aumento de salário, vou atrás de facilidades. Quero que liberem o meu processo na Prefeitura, mas, como não liberaram, vou dar propina. Quero me casar, mas, como não encontrei ainda a pessoa ideal, vou buscar no mundo. E coisas do gênero.

Deus é muito sábio. O silêncio dele é uma maravilhosa maneira de ver que tipo de crentes somos nós. Se o Senhor explicasse suas decisões e seus “não” a cada um de nós… aí seria fácil. Mas o fato de ele decidir não atender e – também – não responder nossa oração mostra o alcance de nossa fé, estimula nossa perseverança e nos testa, para ver até onde estamos dispostos a segui-lo e servi-lo tendo somente a graça divina em nossa vida. A graça dele nos basta. Ele sabe disso; nós é que não nós contentamos com ela, queremos porque queremos também as bênçãos. O silêncio de Deus ante uma oração não atendida é a maneira de o Senhor nos mostrar quem nós somos: se perseverantes, servis, fiéis, homens e mulheres de fé, murmuradores, interesseiros, compromissados… ou não.

Tenho visto que o problema maior entre nós, cristãos, não é Deus não atender nossas orações, mas ele não respondê-las. Como o silêncio divino é a regra (o que ele fez com Paulo é a exceção), isso nos tira do sério. O caminho para permanecermos inabaláveis na nossa fé e no relacionamento com o Senhor é sabermos que ele está agindo por trás do véu do silêncio. E, se não temos uma resposta, isso absolutamente não significa que ele não nos ouviu. Devemos abandonar essa ideia infantil. Deus é onisciente, ele ouve tudo, ele sabe tudo. Mas muitas vezes decide que atender nossos pedidos não é o melhor. Se confiarmos nele, isso nos conformará e confortará.“Entrega o teu caminho ao SENHOR, confia nele, e o mais ele fará” (Sl 37.5). Se não confiarmos… é hora de repensarmos todo o nosso relacionamento com o Senhor, porque estamos muito longe de entendê-lo.

Deus vai negar muitos dos teus pedidos. Mas tenha esta certeza: isso não significa que ele não ouviu tua oração. Foi exatamente o que aconteceu com Paulo. É o que acontece conosco. Num caso raro, o apóstolo foi presenteado com uma explicação da boca de Deus. Nós não somos. Diante disso, nosso papel é orar, perseverar em oração e esperar com paciência. E se, depois de tudo isso, não formos atendidos, que tenhamos sempre em nossos lábios as palavras de Jó: “O SENHOR o deu, o SENHOR o levou; louvado seja o nome do SENHOR ” (Jó 1.21). Como escreveu o mesmo Paulo: “Orem continuamente. Deem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus” (1Ts 5.17-18). Orou mas não recebeu o que pediu? Dê graças. Em todas as circunstâncias dê graças. Ou seja: agradeça. Pois, se não recebeu, é porque não receber é o melhor. Não receber é pão e peixe. “Qual de vocês, se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou se pedir peixe, lhe dará uma cobra? Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!” (Mt 7.9-11).

Obrigado, Pai, porque minha oração não foi atendida. Agradeço por isso, pois sei que, se o Senhor decidiu não atendê-la… o teu “não” é o melhor para mim.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício

Fonte: Apenas

sábado, 23 de novembro de 2013

A supremacia das Escrituras e a primazia da pregação


Por Rev. Hernandes Dias Lopes

O apóstolo Paulo, o maior bandeirante do Cristianismo, fechando as cortinas da vida, na antessala de seu martírio, ordenou a Timóteo: “Prega a palavra…” (2Tm 4.2). Uma coisa é pregar a palavra, outra coisa é pregar sobre a palavra. A palavra é o conteúdo da pregação e a autoridade do pregador. O pregador não é a fonte da mensagem, mas seu instrumento. O pregador não produz a mensagem, transmite-a. O pregador é um arauto; a mensagem não é sua, mas daquele que o enviou. Seu papel não é tornar a mensagem mais palatável aos ouvidos das pessoas, mas transmiti-la com fidelidade. Duas verdades devem ser destacadas no texto de 2Timóteo 4.2.

Em primeiro lugar, a supremacia das Escrituras. Paulo escreve: “Prega a palavra”. Paulo não ordena a Timóteo a pregar suas próprias ideias nem o autoriza a pregar a mensagem mais popular da época. Timóteo deveria pregar a palavra. Não temos outra mensagem a transmitir a não ser a palavra de Deus. O pregador não pode criar a mensagem; é sua incumbência transmiti-la. Não tem o direito de sonegar parte da mensagem que recebe; deve comunicá-la com inteireza. Hoje, muitos pregadores pregam outro evangelho. Um evangelho que não tem boas novas de salvação. Um evangelho fabricado no laboratório do enganoso coração humano. Um evangelho que atrai multidões, mas não tem poder para transformá-las. Um evangelho humanista, centrado no homem, e não o evangelho da graça, centrado em Cristo e na sua obra redentora. Floresce hoje o espúrio evangelho da prosperidade, prometendo aos homens as riquezas e glórias deste mundo, mas sonegando a eles a palavra da salvação eterna. Recrudesce um evangelho místico, sincrético, com fortes laivos de paganismo, desviando os incautos da cruz de Cristo, para sua própria ruína e destruição. Ah, é tempo da igreja voltar-se para o lema da Reforma: “Sola Scriptura”! É preciso interromper essa marcha inglória de uma pregação cheia do homem e vazia de Deus; uma pregação que promete curas, milagres e prosperidade, mas não oferece aos perdidos a vida eterna em Cristo Jesus. É preciso colocar em relevo a mensagem da graça e erguer o estandarte da cruz onde os pregadores infiéis drapejam a bandeira de perigosas heresias. Precisamos de uma volta ao Cristianismo apostólico, onde a igreja reconheça a supremacia das Escrituras e coloque a palavra de Deus no centro do culto, da pregação e da vida.

Em segundo lugar, a primazia da pregação. Paulo escreve: “Prega a palavra”. Uma vez que temos a palavra de Deus, inspirada pelo Espírito de Deus, inerrante, infalível e suficiente não podemos guardá-la apenas para nós. A palavra que nos foi confiada precisa ser transmitida. A mensagem que recebemos deve ser proclamada com fidelidade, entusiasmo e urgência. Não basta reconhecer a supremacia das Escrituras; é preciso estar comprometido com a primazia da pregação. Sonegar a palavra é privar as pessoas de conhecer a graça de Deus. Reter a mensagem da salvação é uma atitude cruel com os perdidos, uma vez que a fé vem pelo ouvir a palavra. Deus chama os seus escolhidos por meio da palavra. A palavra de Deus é poderosa. Tem vida em si mesma. É a divina semente, que semeada em boa terra produz a trinta, a sessenta e a cento por um. Nunca volta para Deus vazia. Sempre cumpre o propósito para o qual foi designada. Cabe à igreja levantar-se, no poder do Espírito Santo, e pregar a tempo e a fora de tempo essa palavra da vida. Cabe à igreja instar com os pecadores para que se voltem para Deus em arrependimento e fé. É responsabilidade da igreja corrigir, repreender e exortar a todos, com toda a longanimidade e doutrina, pois multiplicam-se os falsos mestres, movidos por sórdida ganância, atraindo para si aqueles que sentem coceira nos ouvidos, entregando-se a fábulas, em vez de ouvir a mensagem da graça. Que Deus traga sobre nós um poderoso reavivamento espiritual, colocando a igreja de volta nos trilhos da verdade, a fim de que ela entenda a supremacia das Escrituras e se comprometa com a primazia da pregação.

Um recado aos desigrejados



Por Marcos Botelho 

Cada vez cresce mais o número de crentes sem igrejas, são simpatizantes de Jesus, o Cristo, mas não suportam a ideia de participar de uma igreja.

Como tenho muitos amigos desigrejados conheço vários argumentos e até mesmo me identifico com alguns deles.

Todos eles perceberam em algum momento de suas vidas a singularidade da mensagem de Jesus, ou lendo a bíblia, ou através de uma experiência marcante na juventude.

Todos são unânimes em declarar que Jesus é único caminho e que sua proposta de vida é incomparável com qualquer outra proposta entre outras religiões.

Mas também todos sentem tremenda dificuldade de se envolver em uma igreja local, uns por terem vivenciado a terrível experiência de serem julgados ou descriminados por alguns religiosos na igreja; outros por se indignarem ao verem tantos líderes, principalmente na TV, com esse discurso da prosperidade, com uma santidade que não passa de marketing para enganar o povo; e ainda tem alguns que simplesmente não sentem a necessidade de ir na igreja toda a semana, sentem que é apenas uma rotina religiosa que faz pouca diferença no dia a dia, alegam que conseguem se “recarregar” sozinhos em casa lendo a bíblia e conversando com alguns amigos.

Eu entendo os desigrejados, até porque todos esses sentimentos rondam a minha alma, e já cheguei a pensar seriamente em deixar de ir na igreja por esses três motivos.

Mas acredito que viver desigrejado não seja bom para ninguém.

Poderia usar o simples argumento de que não é projeto de Deus para ninguém viver a vida sozinho, nem o próprio cristo fez isso, nem nenhum dos seus primeiros discípulos.

Mas não é apenas uma ideia bíblica, na pratica vejo que a fuga dos religiosos julgadores não gera uma vida sem julgamentos, pois fora da igreja temos muitas cobranças e muitos dedos apontados. Com um agravante, com menos pessoas ao lado para compartilhar as fraquezas e decepções. Sem contar com a nossa consciência que é a acusadora principal por não cumprirmos o que é certo.

Caímos também no terrível erro de generalizar todos os líderes religiosos como oportunistas e falsos, esquecendo que o líder (pastor) que é correto e vive a proposta do evangelho não fica fazendo auto marketing do tanto que é santo, pois aprendeu direto com Jesus que quando se faz uma boa coisa, que seja em secreto.

Esse tipo de líder, seguidor de Jesus, está em toda parte, menos na mídia, por isso você só o encontra indo passar um tempo ao seu lado, nas igrejas onde eles estão servindo. Os desigrejados acabam cometendo o erro que sempre condenaram nos outros, o de julgar e colocar injustamente todos no mesmo “saco”, e pior, vivem com essa culpa sozinhos.

E aos que além disso tudo vivem bem sem a rotina de participar toda semana de uma igreja local, acabam sendo enganados por eles mesmos, por não perceberem que não conseguem ter sozinhos a disciplina de procurar o Jesus que eles admiram, e vão se afastando lentamente de uma comunhão saudável e proveitosa com Deus.

Amam a proposta de Cristo, mas não suportam o seu corpo. Enxergam a incapacidade da igreja em ser boa, mas não enxergam a sua própria incapacidade de fazer o bem. Condenam a igreja por uma parte que é intolerante, mas não se condenam por não perceberem a intolerância do seus próprios corações.

Viver em comunidade não é uma proposta apenas para nos sentirmos melhor, mas para enxergarmos no outro que não somos quem gostaríamos de ser. Nessa experiência semanal de frustração o Espírito de Cristo nos transforma em pessoas melhores, mais parecidas com Ele.

Entendo os motivos dos desigrejados, mas não acredito que seja a melhor opção. Deus os abençoe.

Assista ao vídeo:



Fonte: Ultimato

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O FRUTO DO COMPROMETIMENTO


Por Pr. Silas Figueira

“Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou em quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”. (Gl 2.19,20) 

PAULO UM EXEMPLO DE COMPROMETIMENTO   

“Ele era um homem de pequena estatura”, afirmam os Atos de Paulo, escrito apócrifo do segundo século, “parcialmente calvo, pernas arqueadas, de compleição robusta, olhos próximos um do outro, e nariz um tanto curvo.”

O nome judaico de Paulo é Shaul (Saul ou Saulo). O apóstolo fora assim chamado provavelmente por pertencer à tribo de Benjamim, a qual historicamente teve o rei Saul como seu integrante mais famoso. O cidadão romano Paulo (seu nome latino) nascera em Tarso, antiga capital da Cilícia, situada junto ao rio Cidno. A cidade fora helenizada e se tornara um centro de cultura grega, chegando a contar com cerca de quinhentos mil habitantes.

Paulo cresceu em meio à tradição judaica religiosa, muito bem instruído na Torá hebraica (At 26.4-8), e aprendeu o grego, o hebraico e aramaico (língua comum entre os judeus na época). Adquiriu o ofício de fazedor de tendas (At 18.3). Ainda muito jovem, Paulo foi estudar com o famoso rabino Gamaliel, neto de Hilel (At 22.3). Como fariseu, Paulo tornou-se um estrito seguidor da lei e da tradição judaicas (Fl 3.5).

Depois de tornar-se um dos principais perseguidores da igreja cristã primitiva como diz Atos 8.3:“Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere” , Paulo converteu-se a Cristo, de forma extraordinária, na famosa estrada de Damasco (At 9.1-19). Junto com a conversão, Paulo recebeu o chamado apostólico para pregar o evangelho de Cristo ao mundo gentílico (At 9.15).

A conversão de Paulo ocorreu provavelmente entre os anos 32-35, sendo seguida por uma viagem à Arábia e depois foi para Damasco. Durante três anos Paulo esteve recebendo do Senhor as revelações a respeito do Evangelho:

“Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue, nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco”.

Assim como o profeta Jeremias, o apostolo Paulo também foi separado para uma grande obra antes do seu nascimento. Nós encontramos aqui a soberania de Deus em relação às pessoas que Ele chama e para qual propósito Ele chama. Temos na Bíblia outros exemplos claros de que é o Senhor que nos escolhe, e alguns com um propósito específico; por exemplo: Sansão, chamado para ser juiz (Jz 16.17), Jeremias, chamado para ser profeta (Jr 1.5), João Batista, chamado para ser o último profeta e anunciar a vinda do Messias Jesus  (Lc 1.13-17) e todos os salvos (Ef 1.3-7).

PAULO UMA VIDA DEDICADA A DEUS

Quando o apóstolo Paulo disse que estava crucificado com Cristo, ele estava dizendo do seu comprometimento que ele tinha com Deus, da sua vida entregue para um único propósito que era a glória de Deus. Comprometimento é diferente de envolvimento. Observe o exemplo abaixo:

Todos já ouvimos falar da ilustração do “X BACON”, que relaciona muito bem o envolvimento e o comprometimento. Para que o “X Bacon” seja realidade, dois produtores precisam agir: a galinha e o porco. A galinha entrega o seu serviço em dia (o ovo) e se despede; o porco entrega a vida para que haja o bacon e só assim é possível ter um produto completo (o X Bacon). Esta história ilustra os colaboradores envolvidos no processo e os comprometidos com o processo.

O apóstolo Paulo foi um homem comprometido e não somente envolvido na causa do evangelho, notamos isso através do seu trabalho em prol do Evangelho. O volume de produção de epístolas é tremenda, só ele escreveu 13 epístolas ao todo, e sua abrangência vai do campo teológico, ético, social, político até o econômico. A sua biografia revela o quanto ele se envolvia intensamente no que fazia. Sua conversão e os momentos que a ela se seguem comprovam tal afirmativa. Depois dos acontecimentos na estrada de Damasco (At 9.1-30), Paulo alterou radicalmente e surpreendentemente seu rumo de vida. A experiência foi tão profunda que o levou a isolar-se no deserto por algum tempo, a fim de ajustar seus ideais e princípios ao projeto de vida que esse no rumo exigia (Gl 1. 17,18).

Em Paulo, o chamado de Cristo reflete-se tanto no ato de entregar a vida no altar (Rm 12.1) como na autonegação descrita em Gálatas 2.20: “Estou crucificado com cristo”. Em suma, a salvação de acordo com Paulo não está apenas em conquistar a isenção das penas do inferno, mas, antes disso, em recolocar-se no estado de total dependência incondicional e total de Deus:

“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”. (2Cr 5.17).

Em outras palavras, o cerne do evangelho não é meramente a salvação da alma do indivíduo, nem a concessão de uma apólice de seguro contra o fogo do inferno e dos efeitos escatológicos. Esse conceito de salvação, que se baseia mais na cruz que na ressurreição de Jesus Cristo, está fundamentada numa cosmovisão antropocêntrica, já que busca apenas os interesses humanos.

Considerando, portanto, que a queda do homem teve fortes traços éticos e não apenas teológicos, a essência do evangelho consiste em colocar aquele que está em Cristo na posição originalmente perdida na queda, ou seja, de dependência de Deus. Por isso a ressurreição de Cristo é o tema prioritário da agenda de Paulo (1Co 15.2-58). Para Paulo o viver é Cristo e Cristo foi um exemplo de entrega e de total dependência do Pai.

RENOVAÇÃO DA MENTE PARA VIVER NA DEPENDÊNCIA DE DEUS

“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. (Rm 12.2).

A palavra “transformar” no grego é “metamorfose”, o processo da lagarta para a borboleta. Mas aqui o texto vai muito mais além. A palavra traduzida por “transformai-vos”, é a mesma empregada em Mt 17.2, onde a cena da transfiguração do Senhor Jesus é descrita. A passagem de 2Co 3.18 também contém esse vocábulo, onde lemos que “... com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Essa transformação, pois, visa a natureza espiritual e não a aparência externa. Essa transformação é segundo os moldes da imagem de Cristo, o que se processa de glória em glória, ou seja, de um estado glorioso para outro.

Essa metamorfose que Paulo se refere em Romanos 12.2 só é obtida pela renovação da mente, daí a incapacidade humana de chegar a ela por si mesmo. No entanto, Paulo mostra que o homem espiritual tem a mente de Cristo, por isso é capazes de compreender as coisas do Evangelho (1Co 2.15,16) e uma vez compreendidas, a ação do evangelho na vida da pessoa permite que os olhos do coração se iluminem. Renovar a mente requer alteração dos padrões de conduta e opções de escolhas já presentes na estrutura mental e emocional da pessoa. Como isso é possível? O próprio apóstolo explica ao jovem Timóteo o papel das escrituras na renovação da mente:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3.16,17).
    
A renovação da mente vem pelo meditar nas Escrituras. Meditação, e não apenas leitura, para que a pessoa esteja preparada para conhecer “a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2b). Com a mente de Cristo, as coisas espirituais não lhe parecerão loucura.

COMPROMETIMENTO NÃO NOS ISENTA DAS PERSEGUIÇÕES

Paulo começou, na sinagoga de Damasco, a dar testemunho de sua fé recém-encontrada. O tema de sua mensagem concernente a Jesus era: “Este é o Filho de Deus” (At 9:20). Mas Paulo tinha de aprender amargas lições antes que pudesse apresentar-se como líder cristão confiável e eficiente. Descobriu que as pessoas não se esquecem com facilidade; os erros do homem podem persegui-lo por um longo tempo, mesmo depois que ele os tenha abandonado. Muitos dos discípulos suspeitavam de Paulo, e seus ex-companheiros de perseguições o odiavam. Ele pregou por breve tempo em Damasco, foi-se para a Arábia e depois voltou para Damasco.

A segunda tentativa de Paulo de pregar em Damasco igualmente não teve bom resultado. Um ano ou dois haviam decorrido desde a sua conversão, mas os judeus se lembravam de como ele havia desertado de sua primeira missão em Damasco. O ódio contra ele inflamou-se de novo e “deliberaram entre si tirar-lhe a vida” (At 9:23). A dramática história da fuga de Paulo por sobre a muralha, num cesto, tem prendido a imaginação de muitos.

Os dias de preparação de Paulo não estavam terminados. O relato que ele faz aos gálatas continua, dizendo: “Decorridos três anos, então subi a Jerusalém. . .“ (Gl 1:18). Ali ele encontrou a mesma hostil recepção que teve em Damasco. Uma vez mais foi obrigado a fugir.

Paulo desapareceu por alguns anos. Esses anos que ele passou escondido deram-lhe convicções amadurecidas e estatura espiritual de que ele necessitaria em seu ministério.

Estava se cumprindo na vida de Paulo aquilo que o senhor havia falado para Ananias quando este foi orar pelo apostolo: “pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome”. (At 9.16).

Através do ministério de Paulo nós aprendemos que a nossa alegria não está baseada nas coisas ao nosso redor, mas no Deus maravilhoso que servimos e que está dentro de nós na pessoa do Espirito Santo. Por isso que o apóstolo nos ensina está verdade dizendo: “porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (Fl 4.11).

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A beira de um colapso!


Por Josemar Bessa

Como você caracterizaria todos os teus problemas, todas as tuas aflições, todas as tuas perdas, todas as tuas decepções? Por mais esmagadoras que elas sejam... como você as caracterizaria? Temos a tendência de ver essas coisas em nossas vidas com um peso muito maior do que em qualquer outro lugar.

O grande drama dos que se hoje se dizem cristãos é a perspectiva. A perspectiva cristã de nossos dias não difere quase nada de todas as pessoas a nossa volta que nada sabem sobre regeneração, novo nascimento, morte expiatória, graça... A perspectiva demonstrada por Paulo é verdadeiramente estarrecedora. Ele considera aflições terríveis, sofrimentos incríveis, tanto em quantidade quanto em profundidade, como “leve e momentânea tribulação” (2Co 4.17). É essa perspectiva que todos a nossa volta estão vendo em nós? Lembre que as tribulações que Paulo estava experimentando tanto física quanto na alma, eram aflições tiranas e constantes. Sob aflições bem menores a grande maioria se torna completamente inútil para todo o propósito para o qual Deus nos chamou e nos deixa estar na terra – a Glória do Seu Nome!

Paulo chama as sua grandes aflições de “leve e momentânea” – nós podemos vê-las como tiranas e constantes – Mas vemos assim por causa de nossa perspectiva terrena. Uma perspectiva tão terrena que nos leva a ver o evangelho como algo que deve e que existe para nos livrar dessas aflições simplesmente. Não é por isso que as multidões estão nos cultos? Não é com base nisso que a pregação hoje está centrada? Perspectiva terrena, não é diferente de perspectiva diabólica, pois a glória de Deus não é o objetivo, não é a alegria, não é o deleite desejado.

Paulo via todas as aflições com a perspectiva de como devemos ver a vida – e então ele considerava elas nesse nível – elas eram momentâneas como o vapor que a vida é: “Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.” - Tiago 4:14 – Paulo então chama, por causa de uma perspectiva celestial da vida, aflições tiranas e constantes, vinda de todos os lados de “leve” – leve como uma pena – elaphros – a palavra no grego significa “ninharia sem importância!”

Perspectiva! Qual é a tua – Paulo diz: “Mas em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira, e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus.” - Atos 20:24 – Essa perspectiva de vida fez Paulo dizer que todas as aflições eram “ninharias sem importância” – Essa não tem sido a ênfase hoje, portanto, Deus não pode ser glorificado na vida da igreja espalhada no mundo!

“Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” - 2 Coríntios 4:17 – Por um lado Paulo define todos os problemas presentes em sua vida presente, e por outro lado a perspectiva da glória futura e ele as relaciona. É como se estivesse colocando em uma balança. Em primeiro lugar ele pões todas as aflições, tratamento brutal, flagelações, anos nas prisões romanas terríveis, apedrejamento, espancamento público, horas de fome e sede, vestido em trapos, sendo amaldiçoado por sua geração, tornando-se, como ele define: “a escória do mundo!”. Naufrágios, ou seja acidentes, perigos em rios, perigos no mar, perigos nas estradas, perigos de assaltantes, perigos nas cidades... enfermidades, pressão da sentença de morte... junto a isso as pressões e preocupações, diz ele, com as igrejas – que lhe davam grandes tristezas muitas vezes – Corinto, Galácia...

Na verdade, basta carregar um homem com problemas, e em nossa geração ele logo estará a beira de um colapso. Mas Paulo usa para tudo isso as palavras de Cristo: “Meu fardo é leve” – elaphros – Paulo chamou tudo isso de “Leve e momentânea tribulação” – Isso é Cristianismo – Esse é o resultado do “tudo se fez novo” – Como ele mesmo diz em 2 Coríntios 5.17: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” Meu “fardo é leve” – diz Paulo, é leve como Cristo diz que seria! Leve por causa da perspectiva. Um levantador de peso numa competição não se queixa. Ele é, afinal de contas, um levantador de peso e não levantador de flocos de neve. Portanto ele não espera nada do tipo: “amanhã vou levantar flocos de neve!” – Não! Ele é um levantador de peso – num arranque o levanta acima da cabeça, mantém lá por oito segundos e fim. É um fardo momentâneo. Mas isso só é possível se estivermos na mesma perspectiva de Cristo e na de Paulo. Sem ela, não será leve, mas um peso tirano e que nos leva ao colapso.

Cristo tinha levado o peso da culpa e da vergonha do apóstolo Paulo, ( como de todos os que de fato estão em Cristo, foram regenerados...) e ele chamou Paulo, e todos nós se somos chamados, para tomar a sua cruz e segui-lo. Paulo não esperava uma mochila agradável e acolchoada cheia de espuma quando Cristo foi esmagado debaixo daquele santo julgamento de Deus!

Perspectiva! Paulo está dizendo que viver para a glória de Deus neste mundo não te livra de sofrimento algum e torna a perseguição inevitável... Sofrimento real! Mas diz que quando comparados ao que nos espera no futuro, eles são, na pior das hipóteses, leves e triviais. Só o sofrimento é “redimido” – quando vemos o quanto este coopera para a nossa glória eterna – “...nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” - 2 Coríntios 4:17 – Todos os apóstolos reforçam constantemente essa perspectiva: “Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações, Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo; Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso” -1 Pedro 1:6-8 - O efeito desse sofrimento não é meritório, mas é produtivo: “...produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” - 2 Coríntios 4:17

O mundo está vendo em nós um crer alegre, cheio de gozo, inefável... como Pedro disse: “Uma alegria indizível e cheia de glória?” Terríveis aflições são agora "leves e momentâneas?"– A questão toda está sobre a perspectiva – terrena ou celestial? “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas.” - 2 Coríntios 4:18

Quando a perspectiva oposta reina, a perspectiva terrena, o evangelho não é mais O evangelho, mas uma farsa!

Fonte: Josemar Bessa

A heresia da heresia



Quinzenalmente, participo de um encontro chamado Confiteri*. Este é um grupo formado por oito estudantes de teologia que oriento, e que se reúnem para trocar ideias, compartilhar a fé, estudar as Escrituras, tomar café, degustar bons vinhos e, principalmente, discutir temas da teologia.

Com o passar do tempo, percebi que nenhum deles tinha uma definição sólida do conceito de heresia. Resultado: Todo pensamento que não estivesse de acordo com a visão teológica majoritária do grupo era imediatamente rotulado como “heresia”. Não foram poucas as vezes que ouvi expressões como “fulano é um arminiano herege”, “siclano é pós-milenista, não defende uma escatologia ortodoxa”, “aquele beltrano, pastor daquela igreja pentecostal famosa em São Paulo, só prega heresia”.

Aquilo que observei neste grupo de orientandos, não é nada diferente do cenário geral. É fácil encontrar aqueles que chamo de “Tertulianos de Facebook”, “Covers de John Piper”, “Reforma-bitolados”, “Dispen-sensacionalistas”, chamando as pessoas por aí de hereges, perturbadores de Israel, inimigos da fé, e etc, sem ter a menor ideia do que o conceito de “heresia” significa de fato.

Segundo o célebre The Oxford Dictionary of the Christian Church (editado por F. L. Cross e E. A. Livingstone), heresia é a negação de qualquer dogma essencial da fé cristã universal. Tendo isso em vista, a pergunta que se levanta é: Se heresia é negar os dogmas essenciais do cristianismo, então, quais são estes dogmas? A resposta é simples: São os dogmas afirmados nos credos históricos (Credo Apostólico, Credo Niceno-constantinopolitano e Credo de Atanásio). McGrath nos diz que os credos históricos são as declarações de fé que sintetizam os principais pontos da fé cristã – os elementos doutrinários que são compartilhados por todos os cristãos (Alister McGrath, Teologia Sistemática, História e Filosófica, p. 54-63).

É exatamente por isso que afirmamos que na teologia cristã há doutrinas essenciais e doutrinas periféricas. As doutrinas essenciais são aquelas que caracterizam o cristianismo. Ou seja, só é cristão quem afirma esses dogmas. Já as doutrinas periféricas, como o próprio nome sugere, não são essenciais, negá-las não nos faz anti-cristãos, hereges.
Assim, a doutrina da salvação monergística, a inerrância, a teologia do pacto, o batismo por imersão, a incondicionalidade da aliança abraâmica e demais doutrinas não pertencem ao corpo de doutrinas essenciais do cristianismo. Desta forma, questioná-las e até negá-las não é uma heresia.

Teologicamente, o cessacionista não tem o direito de dizer que aquele teólogo pentecostal é herege, simplesmente porque afirma a doutrina da segunda bênção ou a realidade dos dons espirituais na presente era. O calvinista não tem o direito de dizer que o arminiano é um herege. O amilenista não tem razão ou base teológica alguma para dizer que o pré-milenismo é heresia. Todas essas doutrinas são periféricas.

Portanto, o herege é o que nega a doutrina da trindade, o nascimento virginal, a deidade e retorno de Cristo, e os demais dogmas afirmados e sintetizados nos credos. Usar o termo “herege” ou “heresia” para qualquer outro caso, especialmente no caso de divergência quanto às doutrinas periféricas da teologia cristã, demonstra uma completa falta de maturidade teológica. É a heresia da heresia.

* Confiteri é o verbo latino que quer dizer “confessar”.

Fonte: NAPEC

A carta perdida de Paulo a Smallville


Por Clint Archer 

“Se o Super-homem fosse real, como ele nasceu em Krypton e não seria descendente de Adão, ele teria uma natureza pecaminosa?”

Já me perguntaram várias vezes esse tipo de pergunta enquanto tentava ter uma conversa séria com um não crente a respeito do evangelho. Alguns dos ateus que eu conheço são muito versados em teologia e na Escritura e repudiaram o evangelho após, dizem, pensarem bastante a respeito. Alguns expressam seu desdém pelo evangelho por meio de enigmas elaborados para expor a inadequação do evangelho, ou alguma aparente inconsistência em minha teologia.

Enquanto estou realmente absorto na tarefa de apresentar o evangelho, tendo a me perder. Eu realmente desejo que a pessoa creia e se arrependa e, por um momento, esqueço que sua salvação não depende de mim, mas do Espírito Santo. Assim, caio em uma armadilha que a maioria dos calvinistas equilibrados não cairiam. Eu tento responder a charada proposta para mostrar o quão consistente é a teologia cristã e como a Bíblia é suficiente para responder cada questão metafísica.

O problema é que ela não é. A Bíblia não pode responder todas as questões relacionadas à vida e à piedade – apenas aquelas que, de fato, tem respostas.

C. S. Lewis, com seu intelecto apologético colossal, também não poderia responder questões que eram feitas a ele por seus pares acadêmicos, tais como “Deus pode fazer um círculo quadrado?”. Em Anatomia de uma dor, Lewis escreve com uma franqueza libertadora:

Pode um mortal levantar questões que Deus é incapaz de responder? Facilmente, creio eu. Qualquer questão absurda é irrespondível. Quantas horas cabem em uma milha? Amarelo é quadrado ou redondo? Provavelmente, metade das perguntas que fazemos – metade de nossos grandes problemas teológicos e metafísicos – são assim.

Em O problema do sofrimento, ele simplesmente diz:

O absurdo continua sendo absurdo, mesmo quando estamos falando sobre Deus

A maioria dos evangelistas em sã consciência diriam “como o Super-homem não é real, isso não importa, então vamos voltar a falar de você, do seu pecado e de como Jesus morreu para que você seja salvo”.

E eu faço isso agora. Mas na primeira vez em que fui encurralado entre a cruz de ter que desistir de uma conversa e a espada de ter de admitir em voz alta que eu não sabia de algo, eu instintivamente tentei manobrar nesse caminho tortuoso por meio da lógica. Sim, se o super-homem fosse real e não tivesse um pai humano, ele não teria herdado uma natureza pecaminosa. A razão que me leva a afirmar isso é que Jesus não teve um progenitor humano e nasceu sem herdar a natureza pecaminosa de Adão.

Incidentalmente, eu ainda penso que o Super-homem seria vulnerável à krptonita porque quando Deus amaldiçoou o mundo, essa maldição abrangeu toda a criação (Romanos 8.22; veja tambémBuracos Negros, Universos-Bebês e outros Ensaios, de Stephen Hawking, que explica como a entropia e outras coisas ruins acontecem para estrelas boas).

Mas Paulo nunca escreveu uma epístola a Smallville, no caso de alienígenas humanoides superpoderosos aparecerem. Na verdade, ele instruiu o pastor Timóteo a admoestar “a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina, nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé” (1 Tm 1.3-4) e a rejeitar “as fábulas profanas e de velhas caducas” (1 Tm 4.7).

Fique atento, entretanto, porque a questão boba do Super-homem também aparece de formas mais razoáveis ou inócuas. Você já afirmou que ninguém pode ser salvo a não ser por acreditar em Jesus e logo em seguida foi confrontado com essa pérola: “E os nativos do interior da Amazônia/África que nunca ouviram o evangelho? É justo que Deus os mande para o inferno se eles não tiveram a chance de crer?”. Isso pode soar mais sincero que perguntar sobre alienígenas superpoderosos; mas no fim das contas, ambas são tentativas de reconciliar a aparente incongruência entre o evangelho e uma situação que o contesta.

Antecipar esse tipo de resposta pode fazer com que cristão se sintam intimidados ao evangelizar. Você talvez sinta que apenas aqueles com mestrado no seminário ou conhecimento heurístico da apologética pressuposicional de Van Til estão equipados para compartilharem sua fé.

Mas há uma solução muito simples para essa ansiedade. Eu tenho visto isso funcionar em 8 a cada 10 vezes. Você simplesmente responde: “essa é uma pergunta muito boa, e há uma resposta para ela, mas agora eu estou falando do que Jesus fez pelo meu e pelo seu pecado”.

E então o Espírito de Deus faz o resto e você pode botar a cabeça no travesseiro e dormir como um calvinista, sabendo que não há nenhuma carta perdida de Paulo a Smallville.

Fonte: Reforma 21