Por Pr. Silas Figueira
“Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver
para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou em quem vive, mas
Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no
Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim”. (Gl 2.19,20)
PAULO UM
EXEMPLO DE COMPROMETIMENTO
“Ele era um homem de pequena estatura”, afirmam os Atos de Paulo, escrito
apócrifo do segundo século, “parcialmente calvo, pernas arqueadas, de
compleição robusta, olhos próximos um do outro, e nariz um tanto curvo.”
O nome judaico de Paulo é Shaul (Saul ou Saulo). O apóstolo fora
assim chamado provavelmente por pertencer à tribo de Benjamim, a qual
historicamente teve o rei Saul como seu integrante mais famoso. O cidadão
romano Paulo (seu nome latino) nascera em Tarso, antiga capital da Cilícia,
situada junto ao rio Cidno. A cidade fora helenizada e se tornara um centro de
cultura grega, chegando a contar com cerca de quinhentos mil habitantes.
Paulo cresceu em meio à tradição
judaica religiosa, muito bem instruído na Torá hebraica (At 26.4-8), e aprendeu
o grego, o hebraico e aramaico (língua comum entre os judeus na época).
Adquiriu o ofício de fazedor de tendas (At 18.3). Ainda muito jovem, Paulo foi
estudar com o famoso rabino Gamaliel, neto de Hilel (At 22.3). Como fariseu,
Paulo tornou-se um estrito seguidor da lei e da tradição judaicas (Fl 3.5).
Depois de tornar-se um dos
principais perseguidores da igreja cristã primitiva como diz Atos 8.3:“Saulo, porém, assolava a igreja, entrando
pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere” , Paulo converteu-se a
Cristo, de forma extraordinária, na famosa estrada de Damasco (At 9.1-19).
Junto com a conversão, Paulo recebeu o chamado apostólico para pregar o
evangelho de Cristo ao mundo gentílico (At 9.15).
A conversão de Paulo ocorreu
provavelmente entre os anos 32-35, sendo seguida por uma viagem à Arábia e
depois foi para Damasco. Durante três anos Paulo esteve recebendo do Senhor as
revelações a respeito do Evangelho:
“Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela
sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os
gentios, sem detença, não consultei carne e sangue, nem subi a Jerusalém para
os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia e
voltei, outra vez, para Damasco”.
Assim como o profeta Jeremias, o
apostolo Paulo também foi separado para uma grande obra antes do seu
nascimento. Nós encontramos aqui a soberania de Deus em relação às pessoas que
Ele chama e para qual propósito Ele chama. Temos na Bíblia outros exemplos
claros de que é o Senhor que nos escolhe, e alguns com um propósito específico;
por exemplo: Sansão, chamado para ser juiz (Jz 16.17), Jeremias, chamado para
ser profeta (Jr 1.5), João Batista, chamado para ser o último profeta e
anunciar a vinda do Messias Jesus (Lc
1.13-17) e todos os salvos (Ef 1.3-7).
PAULO UMA
VIDA DEDICADA A DEUS
Quando o apóstolo Paulo disse que
estava crucificado com Cristo, ele estava dizendo do seu comprometimento que
ele tinha com Deus, da sua vida entregue para um único propósito que era a
glória de Deus. Comprometimento é diferente de envolvimento. Observe o exemplo abaixo:
Todos já ouvimos falar da ilustração do “X BACON”, que relaciona muito
bem o envolvimento e o comprometimento. Para que o “X Bacon” seja realidade,
dois produtores precisam agir: a galinha e o porco. A galinha entrega o seu
serviço em dia (o ovo) e se despede; o porco entrega a vida para que haja o
bacon e só assim é possível ter um produto completo (o X Bacon). Esta história
ilustra os colaboradores envolvidos no processo e os comprometidos com o
processo.
O apóstolo Paulo foi um homem
comprometido e não somente envolvido na causa do evangelho, notamos isso
através do seu trabalho em prol do Evangelho. O volume de produção de epístolas
é tremenda, só ele escreveu 13 epístolas ao todo, e sua abrangência vai do
campo teológico, ético, social, político até o econômico. A sua biografia
revela o quanto ele se envolvia intensamente no que fazia. Sua conversão e os
momentos que a ela se seguem comprovam tal afirmativa. Depois dos
acontecimentos na estrada de Damasco (At 9.1-30), Paulo alterou radicalmente e
surpreendentemente seu rumo de vida. A experiência foi tão profunda que o levou
a isolar-se no deserto por algum tempo, a fim de ajustar seus ideais e
princípios ao projeto de vida que esse no rumo exigia (Gl 1. 17,18).
Em Paulo, o chamado de Cristo
reflete-se tanto no ato de entregar a vida no altar (Rm 12.1) como na
autonegação descrita em Gálatas 2.20: “Estou
crucificado com cristo”. Em suma, a salvação de acordo com Paulo não está
apenas em conquistar a isenção das penas do inferno, mas, antes disso, em
recolocar-se no estado de total dependência incondicional e total de Deus:
“E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas
já passaram; eis que se fizeram novas”. (2Cr 5.17).
Em outras palavras, o cerne do
evangelho não é meramente a salvação da alma do indivíduo, nem a concessão de
uma apólice de seguro contra o fogo do inferno e dos efeitos escatológicos.
Esse conceito de salvação, que se baseia mais na cruz que na ressurreição de
Jesus Cristo, está fundamentada numa cosmovisão antropocêntrica, já que busca
apenas os interesses humanos.
Considerando, portanto, que a
queda do homem teve fortes traços éticos e não apenas teológicos, a essência do
evangelho consiste em colocar aquele que está em Cristo na posição
originalmente perdida na queda, ou seja, de dependência de Deus. Por isso a
ressurreição de Cristo é o tema prioritário da agenda de Paulo (1Co 15.2-58).
Para Paulo o viver é Cristo e Cristo foi um exemplo de entrega e de total
dependência do Pai.
RENOVAÇÃO DA MENTE PARA VIVER NA
DEPENDÊNCIA DE DEUS
“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela
renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus”. (Rm 12.2).
A palavra “transformar” no grego é “metamorfose”, o processo da lagarta para a borboleta. Mas aqui o texto vai muito mais
além. A palavra traduzida por “transformai-vos”,
é a mesma empregada em Mt 17.2, onde a cena da transfiguração do Senhor Jesus é
descrita. A passagem de 2Co 3.18 também contém esse vocábulo, onde lemos que “... com o rosto desvendado, contemplando,
como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória,
na sua imagem, como pelo Senhor, o Espírito”. Essa transformação, pois,
visa a natureza espiritual e não a aparência externa. Essa transformação é
segundo os moldes da imagem de Cristo, o que se processa de glória em glória,
ou seja, de um estado glorioso para outro.
Essa metamorfose que Paulo se
refere em Romanos 12.2 só é obtida pela renovação da mente, daí a incapacidade
humana de chegar a ela por si mesmo. No entanto, Paulo mostra que o homem
espiritual tem a mente de Cristo, por isso é capazes de compreender as coisas
do Evangelho (1Co 2.15,16) e uma vez compreendidas, a ação do evangelho na vida
da pessoa permite que os olhos do coração se iluminem. Renovar a mente requer
alteração dos padrões de conduta e opções de escolhas já presentes na estrutura
mental e emocional da pessoa. Como isso é possível? O próprio apóstolo explica
ao jovem Timóteo o papel das escrituras na renovação da mente:
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a
repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de
Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3.16,17).
A renovação da mente vem pelo
meditar nas Escrituras. Meditação, e não apenas leitura, para que a pessoa
esteja preparada para conhecer “a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2b). Com a mente de Cristo, as
coisas espirituais não lhe parecerão loucura.
COMPROMETIMENTO
NÃO NOS ISENTA DAS PERSEGUIÇÕES
Paulo começou, na sinagoga de Damasco, a
dar testemunho de sua fé recém-encontrada. O tema de sua mensagem concernente a
Jesus era: “Este é o Filho de Deus” (At 9:20). Mas Paulo tinha de aprender
amargas lições antes que pudesse apresentar-se como líder cristão confiável e
eficiente. Descobriu que as pessoas não se esquecem com facilidade; os erros do
homem podem persegui-lo por um longo tempo, mesmo depois que ele os tenha
abandonado. Muitos dos discípulos suspeitavam de Paulo, e seus ex-companheiros
de perseguições o odiavam. Ele pregou por breve tempo em Damasco, foi-se para a
Arábia e depois voltou para Damasco.
A segunda tentativa de Paulo de pregar em
Damasco igualmente não teve bom resultado. Um ano ou dois haviam decorrido
desde a sua conversão, mas os judeus se lembravam de como ele havia desertado
de sua primeira missão em
Damasco. O ódio contra ele inflamou-se de novo e “deliberaram
entre si tirar-lhe a vida” (At 9:23). A dramática história da fuga de Paulo por
sobre a muralha, num cesto, tem prendido a imaginação de muitos.
Os dias de preparação de Paulo não estavam
terminados. O relato que ele faz aos gálatas continua, dizendo: “Decorridos
três anos, então subi a Jerusalém. . .“ (Gl 1:18). Ali ele encontrou a mesma hostil recepção que teve em Damasco. Uma vez mais
foi obrigado a fugir.
Paulo desapareceu por alguns anos. Esses
anos que ele passou escondido deram-lhe convicções amadurecidas e estatura
espiritual de que ele necessitaria em seu ministério.
Estava se cumprindo na vida de Paulo
aquilo que o senhor havia falado para Ananias quando este foi orar pelo
apostolo: “pois eu lhe mostrarei quanto
lhe importa sofrer pelo meu nome”. (At 9.16).
Através do ministério de Paulo nós
aprendemos que a nossa alegria não está baseada nas coisas ao nosso redor, mas
no Deus maravilhoso que servimos e que está dentro de nós na pessoa do Espirito
Santo. Por isso que o apóstolo nos ensina está verdade dizendo: “porque aprendi a viver contente em toda e
qualquer situação” (Fl 4.11).