quarta-feira, 28 de dezembro de 2022
sábado, 17 de dezembro de 2022
A PARÁBOLA DA FIGUEIRA INFRUTÍFERA - Lucas 13.6-9
Por Pr Silas Figueira
Texto base: Lucas 13.9-6
INTRODUÇÂO
Matthew Henry diz que esta
parábola tem o propósito de reforçar aquela palavra de advertência que veio
imediatamente antes: “Se vos não arrependerdes, todos de igual modo
perecereis; a não ser que mudeis o vosso comportamento, sereis destruídos, como
uma figueira estéril; a não ser que gereis frutos, sereis cortados”. [1] Podemos
dizer que Jesus está concluindo o seu sermão a respeito do arrependimento com
esta ilustração. Esta parábola começa com um plantio e termina com uma ameaça
de arrancar o que fora plantado. [2] Uma parábola simples, mas que não deixou dúvidas
do que Jesus estava falando.
Quais as lições que
podemos tirar dessa parábola para as nossas vidas.
1 – A FIGUEIRA SIMBLOLIZA
ISRAEL (Lc 13.6,7).
Era um costume na
Palestina antiga, assim como hoje, plantar figueiras e outras árvores nas
vinhas. Era um meio de utilizar cada pedaço disponível de boa terra. A figueira
aqui, como em todo o simbolismo bíblico, refere-se a Israel. [3] Havia em
Israel árvores que eram comuns (figueiras e figos são mencionados mais de cinquenta
vezes nas Escrituras), em condições favoráveis as figueiras podem atingir uma
altura de quase sete metros. Além de fornecer frutas, figueiras foram uma
excelente fonte de sombra (cf. Jo 1.48).
Diante desse quadro,
podemos tirar três lições aqui:
1º - Em primeiro lugar,
Israel recebeu privilégios especiais de Deus. John C. Ryle diz
que do coração ao qual Deus outorgou privilégios espirituais Ele espera receber
retorno proporcional [4]. Foi o que ocorreu com a nação de Isael. A nação
recebeu de Deus o mais alto privilégio entre todas as nações. O
comentário de que Deus plantou Israel como “figueira” em sua vinha expressa que
Israel não se tornou povo de Deus por via natural, mas que, como uma árvore
plantada de maneira especial, foi chamado para um relacionamento extraordinário
com Deus por meio de atos singulares de Deus (Dt 7.6-8; Sl 80.9,15). Quando,
pois, a figueira foi plantada na vinha de seu proprietário, ela obteve um
privilégio especial. Israel desfrutou do privilégio de ser povo de Deus durante
todo o curso de sua história.[5] Eles haviam sido
separados das outras nações pela lei e ordenanças de Moisés, bem como pela
situação de sua própria terra. Haviam recebido revelações que Deus não
concedera a nenhum outro povo. É razoável pensar que que haveria em Israel mais
fé, arrependimento, devoção e santidade do que entre os pagãos [6]. No entanto,
não foi isso que ocorreu. Jesus enfrentou da parte dos líderes judeus a mais dura
incredulidade, além de, no fim do seu ministério, a morte por parte deles.
2º - Em segundo lugar, Israel
tornou-se uma nação estéril. A figueira na Palestina dá fruto
dez meses em cada ano, de forma que quase em qualquer tempo o dono pode encontrar
fruto nela [7], no entanto essa figueira da parábola estava estéril. Jesus
coloca o cenário com uma figueira numa vinha (e, portanto, em solo fértil). Faz
três anos que o dono vem procurando fruto, o que parece indicar uma árvore
bem-estabelecida. A falta de dar frutos em três anos parece um mal sinal. Seria
improvável que tal árvore desse fruto no futuro. Destarte, o dono dá a ordem:
pode cortá-la. Além de não dar frutos, estava ocupando terreno que doutra forma
poderia ser produtivo. [8]
3º - Em terceiro lugar, o
dono da figueira veio procurar fruto. Embora a figueira estivesse na vinha, ela não
tinha outro propósito a não ser dar fruto. Da mesma forma, Israel só tinha uma razão
para ocupar o primeiro ou qualquer outro lugar: cumprir a missão que lhe fora dada
por Deus. Visto que a figueira era infrutífera, não teria o direito de existir;
e visto que Israel se recusava a cumprir sua missão determinada por Deus, não
tinha o direito de continuar.[9] Esta árvore também nos traz à memória a
bondade especial de Deus para com Israel (Is 5.1-7; Rm 9.1-5) e sua paciência
com eles. Deus esperou três anos durante o ministério de Jesus aqui na Terra,
mas a nação não produziu frutos. Assim, esperou mais cerca de quarenta anos
antes de permitir que os exércitos romanos destruíssem Jerusalém e o templo; e,
durante esses anos, a Igreja testemunhou com poder a mensagem do evangelho. Por
fim, a árvore foi cortada. [10]
Da mesma forma que Israel
era a videira de Deus, plantada por Deus, cuidada por Deus, assim nós somos a
figueira de Deus, plantada e cultivada por ele. Ocupamos uma posição
especialmente favorecida. Deus separou Israel dentre as nações. Protegeu,
abençoou e deu sua lei, suas promessas, seus milagres e seus profetas. De igual
modo, a nós, ele nos deu sua Palavra, o evangelho, o seu Espírito, a sua
presença, o seu poder. Ele espera de nós frutos espirituais. Ele não se
contenta com folhas. Ele quer frutos.[11]
A igreja atual não é
estéril, muito pelo contrário, alguns ministérios têm dado muito fruto, mas o
grande problema que tenho visto é que o fruto que está sendo produzindo é um
fruto que não serve para consumo, pelo menos, não para Deus. A figueira
(igreja) não está sendo adubada com a Palavra de Deus, mas com outras coisas.
Quando olhamos para a igreja vemos que ela tem sido adubada com teologia
liberal, teologia inclusiva, teologia da missão integral, evangelho da
prosperidade, com o relativismo teológico... adubos esses que fazem com que a
igreja gere frutos impróprio para o consumo. São frutos venenosos. São frutos
amargos cheio de pecado. Que não servem para Deus e nem para os que amam ao
Senhor, mas tem servido de alimento para os que não querem um relacionamento de
santidade com Deus e observam com afinco a Sua Palavra. Em muitos ministérios o
alimento não tem sido pastagens verdejantes, mas lavagem para porcos.
2 – A INTERCESSÃO DO
VINHATEIRO (Lc 13.7-9).
Para entendermos melhor a
profundidade dessa intercessão precisamos conhecer o contexto histórico. No livro
de Levítico 19.23-25 lemos: “E, quando tiverdes entrado na terra, e
plantardes toda a árvore de comer, ser-vos-á incircunciso o seu fruto; três
anos vos será incircunciso; dele não se comerá. Porém no quarto ano todo o seu
fruto será santo para dar louvores ao Senhor. E no quinto ano comereis o seu
fruto, para que vos faça aumentar a sua produção. Eu sou o Senhor vosso Deus”.
Leis da Árvore Frutífera
Incircuncisa. Por três anos, o fruto de uma árvore
frutífera não podia ser consumido pelos filhos de Israel. Portanto, não podia
ser vendido. Se alguém comesse de tal fruto, seria açoitado com quarenta
açoites menos um (nos dias do segundo templo). No quarto ano, o fruto era
colhido e dedicado a Yahweh, como oferta pacífica (de agradecimento). Somente
no quinto ano seu fruto podia ser colhido e comido. Nesse ano, a árvore era
desnudada de seu fruto, ficando assim completa a circuncisão da árvore. Dali
por diante, o fruto daquela árvore pertencia ao proprietário, para uso próprio
ou para comercialização. [12]
O dono da vinha não viria
procurar do fruto impuro para consumo, mas provavelmente veio buscar no quarto
ano para oferecer a oferta ao Senhor, no entanto, em ano nenhum ela havia
produzido fruto. Pelos cálculos já haviam se passado entre sete a oito anos e a
figueira continuava improdutiva.
Com isso em mente,
podemos destacar algumas lições importantes para nós.
1º - Em primeiro lugar, a
figueira aqui um é símbolo de julgamento (Lc 13.7).
Os profetas do Antigo Testamento usavam com frequência a figueira como símbolo
de julgamento (Is 34.4; Jr 29.17; Os 2.12, 9.10; Jl 1.7; Mq 7.1). A figueira
funciona de forma semelhante nessa parábola, na verdade funciona enfaticamente assim,
pois Lucas a coloca de forma proeminente no ponto mais importante da sentença e
fala três vezes se sua falta de produtividade (vv. 6,7,9). [13]
A sentença que lhe foi
dada: Corta-a. Note que nenhuma outra coisa deve ser esperada com
relação a árvores estéreis além de serem cortadas. Assim como a vinha
infrutífera é derribada, e transformada em pasto (Is 5.5,6), as árvores
infrutíferas na vinha são retiradas e se secam, João 15.6. [14] O dono da vinha
na parábola simboliza Deus Pai; o vinhateiro simboliza Cristo ou o Espírito
Santo – Ele é o homem que poda as videiras e cuida da vinha. [15]
2º - Em segundo lugar a
interseção do vinhateiro (Lc 13.8,9). Os pronunciamentos de
julgamento são, geralmente, acompanhados de uma segunda chance. [16] Cristo é o
grande Intercessor; Ele vive sempre intercedendo. Os ministros são intercessores;
aqueles que cuidam da vinha devem interceder por ela. Devemos orar pelas
pessoas para as quais pregamos, porque devemos nos entregar à Palavra de Deus e
à oração.[17] Por causa da intercessão de Cristo, Deus nos trata com
misericórdia e não nos julga consoante os nossos pecados. Ele nos dá mais uma
chance. Oferece-nos mais uma oportunidade. Pedro e João Marcos poderiam
testemunhar como Deus lhes concedeu uma segunda chance![18]
3º - Em segundo lugar, a paciência
do dono da vinha tem um limite (Lc 13.9). Deus é muito paciente.
Entretanto, sua paciência não dura para sempre. Um dia – somente Deus sabe
quando esse dia chegará – a oportunidade de salvação será tirada. O
procrastinador morrerá em seus pecados e se perderá para sempre. [19] Onde
falta arrependimento, o juízo é inevitável. Depois do investimento, se a
figueira ainda não der frutos, o machado do juízo decepará
seu tronco e arrancará suas raízes. Sua morte será inevitável; sua condenação,
inexorável. Sua ruína será total. Qual é a nossa condição? Deus está vendo em
nós frutos? [20]
CONCLUSÃO
Deus procura frutos. Não
aceitará substitutos, e a hora de arrepender-se é agora. Da próxima vez que
ficar sabendo de outra tragédia que tirou muitas vidas, pergunte a si mesmo: “Estou
só ocupando espaço neste mundo ou produzindo frutos para a glória de Deus?” [21]
A Bíblia exorta os
pecadores: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar; invocai-o enquanto está
perto” (Is 55.6). Jesus advertiu que a geração, “Por um pouco de tempo estou
convosco, e depois vou para aquele que me enviou” (Jo 7.33); “Eu retiro-me, e
buscar-me-eis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, não podeis vós
vir” (Jo 8.21). Para aqueles que vivem em tempo emprestado “agora é o tempo
aceitável, eis aqui agora o dia da salvação” (2Co 6.2), antes que seu tempo
acabe e seu destino eterno seja selado. Hoje é o dia da sua salvação em Cristo
Jesus!
Pense nisso!
Bibliografia:
2 – Kenneth Bailey. As
Parábolas de Lucas, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, p. 154.
3 – Childers, Charles L.
Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006,
p. 437.
4 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL,
São José dos Campos, SP, 2002, p. 234.
5
– Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica
Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 291.
6 – Ryle, J. C.
Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p.
234.
7 – Kenneth Bailey. As
Parábolas de Lucas, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1985, p. 155.
8 – Morris, Leon L.
Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São
Paulo, SP, 1986, p. 209.
9 – Childers, Charles L.
Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006,
p. 437.
10 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 2007, p. 292.
11 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 420.
12 – Champin, R. N. O Antigo
Testamento Interpretado, versículo por versículo, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2001,
p. 554.
13 – Edwards,
James R. O Comentário de Lucas, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP, 2019, p. 502.
15 – Childers, Charles L.
Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006,
p. 438.
16 – Neale, David A.
Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ,
2015, p. 139.
17 – Henry, Matthew.
Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ,
2008, p. 634.
18 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 421.
19 – Neale, David A.
Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ,
2015, p. 139.
20 – Lopes,
Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP,
2017, p. 421.
21 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 2007, p. 292.
domingo, 4 de dezembro de 2022
UM CHAMADO AO ARREPENDIMENTO - Lucas 13.1-5
Por Pr Silas Figueira
Texto base: Lucas 13.1-5
INTRODUÇÃO
Entre o final do capítulo
12 e o princípio do capítulo 13 há uma dupla conexão: (a) temática: em
ambos é enfatizada a necessidade de conversão; (b) temporal: note “nesse
mesmo tempo” e, portanto, provavelmente durante a viagem final de Cristo para
Jerusalém. Jesus rejeitou a teologia defeituosa que vê a calamidade como o
julgamento de Deus sobre as pessoas particularmente perversos e ensinou que
todos os pecadores estão vivendo em tempo emprestado. Ele assim o fez, tanto
através da instrução direta e por meio de ilustrações.1 Foi durante esse
percurso de Jesus para Jerusalém que alguns comentaram ocorrido com Jesus. É interessante
salientar que nenhuma outra fonte registra os dois incidentes nos vs. 1 e 4;2
nem a chacina promovida por Pilatos e nem o incidente na torre de Siloé. Somente
Lucas registrou esse fato em seu Evangelho.
O Reverendo Hernandes D.
Lopes diz que as motivações de Pilatos nos são desconhecidas. As motivações das
pessoas que narraram esse fato a Jesus também nos são encobertas. Entretanto,
podemos pressupor três motivações possíveis. A primeira delas seria
colocar Jesus contra Pilatos. Como Jesus era galileu, portanto, pertencente à
jurisdição do tetrarca Herodes Antipas, o propósito desses informantes era que
Jesus se posicionasse politicamente diante desse massacre. A segunda
motivação seria alertar Jesus sobre as atrocidades cometidas por Pilatos contra
os galileus. Assim, o objeto dessa informação seria proteger Jesus de Pilatos,
em vez de empurrá-lo para uma nova crise. A terceira motivação seria
especular sobre a morte dos galileus, como se mais pecadores eles fossem. Essa
tendência era muito forte no imaginário do povo (Jo 9.1-12) e ainda hoje o é.3
É o famoso: “amigos de Jó”. É procurar pecado aonde não existe e tentar
justificar as tragédias naquilo que não há justificativa.
Vejamos o que esse texto
tem a nos ensinar.
1 – VIVEMOS EM UM MUNDO ONDE
ESTAMOS SUJEITOS A MUITOS MALES (Lc 13.1,4).
Vivemos em uma era
diferente de qualquer outro na história, uma era em que a mídia fornece de forma
instantânea o que está acontecendo em todo o mundo. A internet veio para revolucionar
os meios de comunicação. Notícias que levavam horas ou dias para ficarmos
sabendo, hoje, mediante as redes sociais, sabemos em instantes ou ao vivo. Hoje
está estampado diante dos nossos olhos as mais diversas notícias, desde
desastres provocados pelo homem, como guerras, terrorismo, genocídio, crimes,
motins e acidentes, além de crises social e econômica em todo o mundo, fazendo
com que as pessoas, em todos os lugares, passem a experimentar vicariamente toda
a dor, tristeza, sofrimento e morte que essas catástrofes trazem.
Isso só revela que a vida
neste planeta está amaldiçoada pelo pecado (Gn 3.17), e por isso, este mundo está
cheio de problemas, tristeza, dor e sofrimento. Isso é a mais evidente prova do
testemunho das Escrituras da consequência do pecado.
Mas mesmo sabendo disso,
vem sempre aquela pergunta: “Por que coisas ruins ocorrem com pessoas boas?”,
ou, “Por que Deus permite as tragédias?”. Essa pergunta é relativamente fácil
de responder, mas muito difícil de aceitar. Creio que a grande crise em aceitar
a resposta de Deus seja a falta de maturidade espiritual em muitas pessoas. Não
quero com isso amenizar a dor de quem passa pela crise, e que a pessoa deva fingir
que não está doendo. Eu quero dizer é que muitas pessoas acabam culpando Deus
pelas calamidades que muitas vezes causamos, ou são causadas por terceiros, ou que
são consequências do mundo perverso que vivemos.
Podemos responder esse
dilema da seguinte forma, do ponto de vista bíblico:
Em primeiro lugar,
Deus permite que coisas ruins aconteçam a seu povo para testar a validade de
sua fé ((1Pe 1.6,7; cf. Dt 8.2; Pv 17.3). “Em que vós grandemente vos alegrais,
ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco
contristados com várias tentações, para que a prova da vossa fé, muito mais
preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e
honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo” (1Pe 1.6,7).
Em segundo lugar,
Deus permite que coisas ruins aconteçam a seu povo para ensinar-lhes que eles não
dependem de si próprios, mas dos recursos divinos (2Co 1.8,9; cf. 12.7-10). “Porque
não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois
que fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que
até da vida desesperamos. Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte,
para que não confiássemos em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos” (2Co 1.8,9).
Em terceiro lugar,
Deus permite que coisas ruins aconteçam a seu povo para lembrá-los de sua
esperança celestial (Rm. 5.3-5; cf. 2Co 4.17,18). Como disse o Reverendo Augustus
Nicodemus: “O céu não é aqui”. “Porque a nossa leve e momentânea tribulação
produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas
coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são
temporais, e as que se não veem são eternas” (2Co 4.17,18).
Em quarto lugar,
Deus permite que coisas ruins aconteçam a seu povo para revelar quem eles
realmente amam (Gn 22.10-12; At 5.41; Rm 5 3,4; 1Pe 4.13). “E
estendeu Abraão a sua mão, e tomou o cutelo para imolar o seu filho; mas o anjo
do Senhor lhe bradou desde os céus, e disse: Abraão, Abraão! E ele disse: Eis-me
aqui. Então disse: Não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada;
porquanto agora sei que temes a Deus, e não me negaste o teu filho, o teu único
filho” (Gn 22.10-12).
Em quinto lugar,
Deus permite que coisas ruins aconteçam a seu povo para ensinar-lhes obediência
(Sl 119.67,71; Hb 12.5-11). “Antes de ser afligido andava errado; mas agora tenho
guardado a tua palavra. Foi-me bom ter sido afligido, para que
aprendesse os teus estatutos” (Sl 119.67,71).
Jesus rejeitou a teologia
defeituosa que vê a calamidade como o julgamento de Deus sobre as pessoas,
particularmente as que julgamos perversas, e ensinou que todos os pecadores
estão vivendo em um tempo que males ocorrem a todos. Ele assim o fez, tanto
através da instrução direta como por meio de ilustrações.
2 – AS CALAMIDADES NÃO
APONTAM PARA OS QUE SÃO MAIS PECADORES (Lc 13.1-5).
Jesus não condenou nem os
galileus nem Pilatos, nem considerou as razões porque os desastres naturais recaem
sobre alguns e não sobre outros. Sabendo que algumas pessoas interpretavam tais
tragédias como justiça retributiva (aqui se faz, aqui se paga), [no entanto],
Jesus afirmou aqui e no versículo 5 que não havia maior pecado por parte
daqueles que tinham passado pelo sofrimento. Mas o seu ponto, sem considerar a
causa da calamidade, era que seus ouvintes pereceriam como tinham perecido os
galileus, se permanecessem impenitentes.4 Jesus deixa claro que
existe uma tragédia muito maior, a falta de arrependimento pelos pecados e, devido
a dureza do coração, a impossibilidade de entrar na vida eterna. Essa sim é a grande
calamidade da vida, pois é para toda a eternidade.
Podemos destacar algumas lições
aqui:
1ª - As pessoas se
mostram mais propensas a conversar a respeito da morte dos outros do que a respeito
da sua própria morte5 (Lc 13.1,2,4).
E mais fácil especular sobre a vida dos outros do que enfrentar a nossa própria
realidade. E mais cômodo pensar que a tragédia que desaba sobre a cabeça dos
outros é um justo pagamento por seus erros do que enfrentar os nossos próprios
pecados. E mais fácil julgar os outros do que julgar a nós mesmos.6 J.
C Ryle diz que o estado de nossa própria alma deve ser nossa primeira
preocupação. É eminentemente verdadeiro que o cristianismo autêntico começa em
nosso próprio coração.7
Dois fatos merecem
destaque aqui:
1) As vítimas de um
massacre (Lc 13.1,2). Pôncio Pilatos, o governador romano, não se dava com os
judeus, pois desprezava suas convicções religiosas. Um exemplo dessa falta de
entendimento pode ser vista na ocasião em que Pilatos levou as insígnias romanas
para a cidade de Jerusalém, enfurecendo os líderes judeus, que se ofenderam com
a presença da imagem de César na Cidade Santa. O governador ameaçou matar os
que protestaram; estes, por sua vez, se declararam dispostos a morrer! Ao ver
sua determinação, Pilatos cedeu e transferiu as insígnias para Cesaréia, mas
esse não foi o fim do conflito.8 Pilatos novamente enfureceu os
judeus por tirar dinheiro de seu tesouro do templo para construir um aqueduto
para levar água para Jerusalém.9
William Hendriksen é da
opinião que o incidente registrado teria ocorrido em conexão com a Festa da
Dedicação, e que a razão pela qual Pilatos teria feito isso era que esses
homens da Galileia eram zelotes, membros de um partido nacionalista que pública
e agressivamente se opunham ao governo romano. Mas tudo isso não vai além de
teoria.10 O fato é que os galileus estavam em Jerusalém
oferecendo sacrifícios no Templo. E enquanto estavam ocupados com isso, Pilatos
enviou seus soldados para assassiná-los e, no processo, o sangue deles se
misturou com o sangue dos animais que eles estavam oferecendo como sacrifícios.11
Eles
foram massacrados impiedosamente. Pilatos matou-os, e matou-os com requinte de
crueldade e sacrilégio. Não apenas eles foram mortos violentamente, mas sua
religião foi profanada frontalmente. A grande pergunta é: essas pessoas
assassinadas eram mais pecadoras do que os demais galileus ou habitantes de
Jerusalém? O fato de serem vítimas de tamanha crueldade as colocava numa lista
de pecadores mais culpados? Aqueles que morrem em massacres são mais pecadores
do que aqueles que são poupados dos massacres?12 Spurgeon
é enfático ao dizer que devemos ter muito cuidado de não concluir
apressadamente e irrefletidamente sobre esses terríveis acidentes: que os que
os sofrem, os sofrem por culpa de seus pecados.13
2) As vítimas de
catástrofes naturais (Lc 13.4). Jesus passa, então, a falar numa outra desgraça
em Jerusalém, que também nos é conhecida somente através desta referência. Seus
ouvintes não devem supor que os dezoito que tinham morrido quando desabou a
torre de Siloé e os matou fossem mais culpados (lit. “devedores”; homens que
estão devendo obediência a Deus) do que outros. Mas seu fim é uma advertência
ao auditório de Jesus quanto à urgência do seu arrependimento.14
Ainda hoje, diante de
guerras sangrentas, terremotos e maremotos que vitimam milhares, e de atos
terroristas que ceifam tantas pessoas, o questionamento é ainda feito. Por que
alguns morrem e outros escapam? Será que aqueles que perecem são mais pecadores
e mais culpados? A resposta de Jesus é categórica: Não eram, eu vo-lo afirmo; se,
porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis (Lc 13.3,3).15
2º - Aqueles que perecem
em tais calamidades não são mais pecadores do que aqueles que sobrevivem (Lc
13.2,4). Jesus deixou claro que as tragédias que acontecem no
mundo nem sempre são castigo divino e que é errado assumir o papel de Deus e
julgar o semelhante. Os amigos de Jó cometeram esse erro ao dizer que as
aflições de Jó evidenciavam seus pecados. Ao aplicar essa abordagem às
tragédias em geral, será difícil explicar o sofrimento dos profetas, dos apóstolos
e do próprio Senhor Jesus Cristo.16 O mundo não está
dividido entre maiores pecadores e menores pecadores, entre mais culpados e
menos culpados. O mundo está povoado por pecadores culpados. Não importa como
se vive ou se morre, todos são pecadores e culpados aos olhos de Deus. Não
existem uns melhores ou mais merecedores do que outros.17
Como disse Spurgeon: “Por
que não pode acontecer a mim que muito prontamente e inesperadamente seja eu
cortado? Tenho eu um contrato de aluguel de minha vida? Tenho algum amparo
especial que me garante que não atravessarei inesperadamente os portais da
sepultura? Recebi um título de privilégio de longevidade? Fui coberto com uma
armadura tal que sou invulnerável às flechas da morte? Por que não irei morrer?”18
3 – O ARREPENDIMENTO É O
ÚNICO ESCAPE DA MAIOR TRAGÉDIA DA VIDA (Lc 13.3,5).
Cada pessoa no auditório
tinha o dever de examinar seu coração e vida, e fazer a si mesma a pergunta:
“Concretizou-se em minha vida uma mudança básica, de Satanás para Deus, das trevas
para a luz, do pecado para a santidade? Verdadeiramente me arrependi e tenho
realmente posto toda minha confiança em Deus, servindo-o de maneira exclusiva?
Em outros termos: Realmente me converti?” Se não, peça então a Deus poder para
você dar esse importante passo. Disse Jesus: “A menos que se convertam, vocês
também perecerão”.19
Arrependimento envolve
dois elementos.
1º - Em primeiro lugar,
os pecadores devem mudar sua mente sobre sua pecaminosidade.
Eles devem reconhecer que a lei de Deus é absolutamente santa e obrigatória
para eles, que eles a violaram e merecem punição eterna no inferno. Já os
pecadores arrependidos devem primeiro concordar que o diagnóstico de sua
condição é de miserável pecador, e que Deus é justo e santo, e que eles são impotentes
para livrar-se da morte eterna a não ser pela misericórdia de Deus.
2º - O segundo elemento
de arrependimento é afirmar que Jesus Cristo é o único Salvador
(Lc 24.47). Arrependimento não é meramente abandonando do pecado, mas também
voltar-se para Deus através de Cristo (1Ts 1.9,10).
Jesus deixa claro que o
pecado é pior do que um massacre e pior do que um desabamento. O massacre ou o
colapso de uma torre pode produzir morte física, mas o pecado causa a morte
eterna. Sem arrependimento, mesmo vivendo, os homens estão mortos e, sem
arrependimento, se morrerem na impiedade, perecerão eternamente. Oh, o pecado é
a maior tragédia, e a falta de arrependimento, a causa da maior desventura!20
CONCLUSÃO
Jesus prosseguiu mostrando
a conclusão lógica dessa argumentação: se Deus castiga os pecadores dessa
maneira, todos ali presentes precisavam arrepender-se, pois todos os seres
humanos são pecadores! A pergunta não é: “por que essas pessoas morreram?”, mas
sim: “que direito tinham de viver?” Ninguém é isento de pecado, de modo que
todos devem estar preparados.21
A grande questão da vida não
é saber como morreremos, mas sim, de saber como estamos vivendo. Porque vivendo
ou morrendo, sem Cristo estamos mortos eternamente e, morrendo com Cristo
viveremos eternamente em Sua presença.
Pense nisso!
Bibliografia:
1 – Hendriksen, William.
Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 220.
2 – Ash, Anthony
Lee. O Evangelho Segundo Lucas, Ed. Vida Cristã, São Paulo, SP, 1980, p. 220.
3 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 414.
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7 – Ryle, J. C.
Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p.
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8 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico
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17 – Lopes, Hernandes
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Olhe Para Cristo, vol. 2, Acidentes, não castigo, Projeto Spurgeon, 2011, p. 96.
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20 – Lopes, Hernandes
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21 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 2007, p. 291.