quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO - Lucas 16.19-31

Por Pr Silas Figueira

Texto base: Lucas 16.19-31

INTRODUÇÃO

Ninguém que leva a Bíblia a sério pode duvidar da existência do céu. Mas o inferno é negado por muitos e pregado por poucos. Muitos dos que professam crer na autoridade das Escrituras evitam falar sobre o inferno, outros expressam dúvidas de que mais do que alguns pecadores irão lá. E há aqueles que negam a sua existência totalmente, em contradição direta com o ensinamento do Senhor Jesus Cristo. Jesus, no entanto, falou mais sobre o inferno do que ninguém, e afirmou solenemente a sua existência como o lugar do eterno tormento (cf. Mt 5.22, 29,30; 7.19; 8.12; 10.28; 13.40, 42, 50; 18.8,9; 22.13; 23.15, 33; 24.51; 25.30, 41; Mc 9.43, 45, 47,48; Lucas 12.5; 13.28; Jo 15.6).

Hernandes Dias Lopes nos fala que há uma coisa notável acerca desta passagem das Escrituras: ela é fácil de entender. Podemos discordar dela, negar sua veracidade, ou desprezar seus ensinamentos, mas só uma coisa não se pode fazer: negar sua clareza. E continua:

 A verdade básica é que a vida é mais do que simplesmente viver, e a morte é mais do que simplesmente morrer. Há muitas especulações sobre o que acontece depois da morte. Há um profundo mistério acerca da morte, e milhões de pessoas recorrem aos médiuns para tentar falar com os mortos.

Jesus neste texto abre a cortina, levanta a ponta do véu e nos mostra o que vem depois da morte: o seio de Abraão (16.22) ou o inferno (16.23). Esta parábola fala-nos a respeito de dois homens: o rico e o Lázaro. A parábola está dividida em dois atos. O primeiro deles é o que acontece do lado de cá da sepultura. O segundo deles é o que acontece do lado de lá da sepultura. [1] 

Charles L. Childers destaca que muitos afirmam que esta história é o relato de um acontecimento real e não simplesmente uma parábola. Estes entendem que a frase um homem rico, indica uma pessoa histórica. Quer a parábola seja uma história verdadeira ou não, uma coisa é certa: Jesus deu um relato do que poderia acontecer. [2]

Champlin diz que alguns fazem objeção ao vocábulo “parábola”, quando aplicado a esta narrativa; porém, posto que as parábolas são usadas como símbolos de realidades espirituais, na realidade pouca diferença faz se usarmos ou não este termo no caso em foco. Não haveríamos de dizer que as palavras de Jesus, revestidas na forma de parábolas, são reflexos menos reais das realidades espirituais do que aquelas suas afirmações feitas sem tal simbolismo. [3] John C. Ryle diz que em um aspecto, esta parábola é singular nas Escrituras. É a única passagem da Bíblia que descreve a experiência do incrédulo após a morte. Por essa razão, assim como as demais, a parábola merece atenção especial. [4] 

Esta parábola pode ser dividida convenientemente em duas partes bem desiguais. Na primeira parte (vs. 19-22) somos confrontados com “o homem rico” e “o pobre mendigo” nesta vida; na segunda (vs. 23-31) os vemos novamente, mas então na vida além desta. [5]

Na vida, um é rico e o outro pobre; na morte, um é sepultado e o outro, como indigente, talvez não tenha tido um sepultamento digno; na eternidade, um está no céu e o outro no inferno. [6]

Analisemos o texto para um melhor entendimento sobre este assunto.

1 – O CONTRASTE DA VIDA DESSES DOIS HOMENS EM VIDA (Lc 16.19-21).

A história desses dois homens é marcada por contrastes extremos na vida e reversões chocantes após a morte. Jesus nesta parábola destaca duas realidades da vida desses dois homens. Um extremamente rico, e o outro, extremamente pobre. Um vivia abastado, o outro, no entanto, em profunda miséria. O homem rico estava dentro da casa, o pobre homem do lado de fora. O pobre homem não tinha comida, o homem rico tinha toda a comida que ele poderia comer. O pobre homem era uma pessoa sofrida, o homem rico estava satisfeito.

Pensando nisso, analisemos a vida desses dois personagens. 

Em primeiro lugar, a vida do homem rico (Lc 16.19). Tratava-se, de fato, de um homem rico, uma vez que usava roupas caras e oferecia banquetes fartos todos os dias. A palavra que melhor descreve esse estilo de vida é “ostentação”. Esse homem era, sem dúvida, um dos “ricos e famosos”, admirado e invejado. [7] Charles L. Childers destaca que este homem tinha em abundância tudo que o mundo podia oferecer para facilitar o conforto, o esplendor ou a felicidade mundana. Suas roupas eram de príncipe; sua casa era um palácio; suas refeições eram banquetes. [8]

Vestia-se de púrpura e linho finíssimo. Esta tintura púrpura era obtida do peixe púrpura, uma espécie de mexilhão ou murex. Era muito caro, e usado como manto pelos ricos e príncipes (púrpura real). Eles tinham três tons de púrpura (violeta intenso, escarlate ou carmesim intenso, azul profundo (Mc 15.17,20; Ap 18.12). O linho finíssimo, também conhecido como linho de Bisso ou o egípcio (também da índia e Acaia) é uma fibra de linho amarelada, da qual se extraía o linho fino, para roupas de baixo. Era usado para envolver múmias. “Havia alguns linhos egípcios, tão finos, que eram chamados de ar entrelaçado. [9] 

No versículo 20 e 21 nos diz que “Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; e desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico...”. O texto nos mostra que este homem não era somente rico, mas ele não se importava com a situação daquele que estava à sua porta. Não se condoía de sua doença e nem com a fome que ele passava. O problema desse homem não era ser rico, mas ser ganancioso e sem misericórdia para com o próximo. 

Diferentemente de Jó que “fazia de olhos para o cego, e de pés para o coxo. Dos necessitados era pai, e as causas de que eu não tinha conhecimento inquiria com diligência” (Jó 29.15,16), este homem rico agia de forma inversa. Ele não se importava com ninguém, a não ser consigo mesmo e em estar saciado de bens.

Em segundo lugar, a vida de Lázaro (Lc 16.20,21). Esta é a única personagem que recebe um nome nas parábolas de Jesus. A miséria absoluta de Lázaro pode ser vista em quatro fatos dramáticos apontados no texto: 1) era mendigo; 2) estava com fome; 3) estava coberto de chagas; 4) os cães lambiam suas úlceras. [10] Eugene Peterson diz que Lázaro é invisível. Ninguém enxerga Lázaro. Em sua invisibilidade, ele compartilha do destino dos pobres, dos doentes, dos explorados e de todos os “infelizes da terra”. [11]

O nome que Jesus deu ao pobre homem, Lázaro, é significativo. Lázaro é a tradução grega do nome hebraico comum Eleazar, que significa, “a quem Deus tem ajudado”. É um nome apropriado, pois simboliza a única maneira que ele pôde entrar no céu, mediante a infinita graça de Deus. Em contraste com o seu estilo de vida extravagante do homem rico, Lázaro vivia na total miséria. O termo usado aqui para descrevê-lo é “ptōchos” (pobre), essa palavra descreve uma pessoa no estado na mais extrema pobreza (por exemplo, Mc 12.42-44).

Charles L. Childers diz que ele era a incorporação da pobreza, doença, e necessidade, assim como o rico o era da riqueza, prazer e saúde. Lázaro era, sem dúvida, colocado à porta do homem rico pelos seus amigos. Ali ele esperava comer as migalhas, ou pedaços de pão que se usavam para limpar os dedos e se atiravam aos cães debaixo da mesa. Mas este conforto lhe era evidentemente negado. O rico não tinha misericórdia nem compaixão. Os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. Estes provavelmente não eram os cães do homem rico. Eram cachorros selvagens sem donos, que perambulavam pelas ruas e comiam os restos que eram jogados ali. [12]

David A. Neale destaca que: 

O maior segmento da população era a classe camponesa. Esta, geralmente, não era tão afortunada. A população camponesa consistia, em sua maioria, de agricultores de subsistência e operários, para quem a existência cotidiana era uma luta contra a necessidade e a fome.

Além dessas classes, havia aqueles que eram considerados marginalizados. Eles eram os impuros, os aleijados e cegos, os cronicamente enfermos e os destituídos. Lázaro era das mais desesperadamente empobrecidas de todas essas classes. Para aqueles que faziam parte do público de Jesus, essa história de riqueza desperdiçada e de necessidade desesperadora teria sido uma dolorosa reflexão sobre a realidade da vida cotidiana deles. [13] 

“...desejava alimentar-se das migalhas...”. As migalhas que caíam da mesa do rico era o refugo que era jogado fora do portão, incluindo os pedaços de pão que o rico usava como guardanapos, segundo era o costume da época. Era uma comida própria para os cães que percorriam as ruas, mas era ansiosamente rebuscada por esse homem que vivia na mais abjeta pobreza que se possa imaginar, diz Champlin. [14]

Os cães vinham lamber suas chagas. James R. Edwards citando Bailay, diz que o cão vira-lata faz mais por Lázaro que o homem rico. [15] Os cães dão a Lázaro o conforto do azeite e vinho (Lc 10.34), que é negado pelo homem rico. Do que sabemos acerca dos cães do Oriente, podemos até afirmar que eles foram os seus agentes funerários, o seu cortejo e a sua sepultura. Com um estremecimento de nojo nos afastamos, dizendo: “Que tragédia!” [16]

2 – O CONTRASTE DA VIDA DESSES DOIS HOMENS NA MORTE (Lc 16.22).

O extremo contraste entre os dois homens na vida continuou em morte. Enquanto eles estavam vivos, o homem rico tinha tratado os pobres, o sofrimento, o homem que jazia ao seu portão, como se ele já estivesse morto. Mas então tudo mudou. O pobre homem morreu, doente, desamparado e morrendo de fome. Não houve enterro, funeral, ou honra terrena na morte, mas a honra veio do céu como seu corpo foi levado pelos anjos para o seio de Abraão.

O rico também morreu, mas ao contrário do pobre homem, ele foi sepultado e, sem dúvida, um homem assim teria sido homenageado com um funeral elaborado. Todos os seus recursos, dinheiro, amigos, privilégio e prestígio não podiam comprar-lhe mais um dia de vida; suas riquezas não conseguiram impedir a inevitabilidade da morte. E, pior, para ele não há anjos chegando para levá-lo para o céu. 

O texto não traz nenhuma informação acerca da situação religiosa de um ou de outro. Mas Lázaro era evidentemente um fiel servo de Deus, pois, quando morreu, os anjos o levaram para o seio de Abraão. [17] O rico, por sua vez, por causa de seu estilo de vida, fazia do prazer o seu deus. [18] Rienecker diz que, para Lázaro, a morte trouxe o fim de seu sofrimento terreno, e, para o rico, o fim de sua felicidade na terra. [19] John C. Ryle corroborando com esse pensamento disse “morreu o mendigo, e findaram-se todas as suas necessidades físicas. Morreu também o rico, e todos os seus deleites acabaram para sempre. [20]

Com isso em mente, podemos destacar duas lições:

Em primeiro lugar, a morte física vem para todos. Se há algo que é democrático é a morte. Ela vem para todos. Uns talvez morram com muito conforto, outros não, mas quando ela chega leva a todos. Na morte não há rico e nem há pobre, ela nos nivela.

Como disse Matthew Henry:

A morte é o destino comum dos ricos e dos pobres, dos piedosos e dos ímpios; eles estão sob esta sentença. Um morreu em toda a sua plenitude, e o outro na amargura de sua alma; mas eles juntamente jazem no pó, Jó 21.26. A morte não beneficia nem o rico por suas riquezas, nem o pobre por sua pobreza. Os santos morrem para que possam ter as suas dores terminadas, e assim possam entrar em seu gozo. Os pecadores morrem, para que possam prestar contas. Cabe tanto aos ricos como aos pobres se prepararem para a morte, porque ela aguarda a ambos. [21]

James I. Packer diz que a única coisa certa que temos na vida é a morte. O escapismo que leva o homem a fechar os olhos para a perspectiva da morte é tão estúpido quanto neurótico e desmoralizante. [22]   

Em segundo lugar, a morte espiritual é uma realidade. A morte física não se compara a morte eterna. Assim como a vida eterna é uma realidade, a morte eterna também é. A Bíblia a chama de “segunda morte” (Ap 21.8). Lugar de tormento. Lugar longe de Deus.

John C. Ryle destaca que 

A certeza e a eternidade do castigo vindouro dos ímpios são verdades que temos de sustentar e nunca abandonar. Desde o dia em que Satanás disse a Eva: “É certo que não morrereis”, nunca faltou homens que negassem a verdade de Deus. Não sejamos enganados. Existe o inferno para aqueles que não se arrependerem, bem como o céu para os crentes. Existe uma ira vindoura para “os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus” (2Ts 1.8). Dessa ira precisamos fugir a tempo, escondendo-nos naquele grande lugar de refúgio, o Senhor Jesus Cristo. Se, após a morte, os homens estiverem em tormentos no inferno, isto acontece não porque não havia uma maneira de escapar. [23]

3 – O CONTRASTE DA VIDA DESSES DOIS HOMENS NA ETERNIDADE (Lc 16.22-31). 

Esta é a única certeza da vida, nascemos e morremos. A vida que levamos e as escolhas que fazemos definirá nosso destino eterno. Ou iremos para o céu, ou iremos para o inferno. Não existe um meio termo, um caminho alternativo que nos leve para um terceiro lugar. Não há uma segunda chance para mudarmos nossas escolhas feitas em vida. Como disse o autor de Hebreus “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9.27).

A morte ocorre quando o espírito deixa o corpo (Tg 2.26). Esse não é o fim, mas sim o começo de uma nova existência em outro mundo. Para o cristão, significa estar na presença do Senhor (2Co 5.1-8; Fp 1.21). Para o incrédulo, significa estar longe da presença de Deus e em meio ao tormento. [24] Depois da morte, o contraste no destino destes dois homens continuou, mas agora a situação está invertida. Vejamos. 

Em primeiro lugar, Lázaro alcança a vida eterna (Lc 16.22). A frase seio de Abraão só aparece aqui na Bíblia. Não é, como alguns acreditam, um termo técnico para a morada dos santos do Antigo Testamento até depois da morte de Cristo fez expiação pelos seus pecados. Apenas indica que quando o pobre homem morreu, ele foi imediatamente para o lado de Abraão na morada dos justos. Leon Morris diz que a expressão não é comum, mas claramente denota a felicidade. [25] 

William Hendriksen destaca que o fato de Lázaro ter sido levado pelos anjos para o seio de Abraão certamente prova que ele honrara seu nome. Enquanto estava na terra, pusera sua confiança em Deus como seu Ajudador e agora Deus ordena aos anjos que levem sua alma para o Paraíso. Aquele que anelara receber as migalhas e sobras agora está reclinado à mesa celestial, onde se celebra um banquete. [26]

Em segundo lugar, o rico alcança a morte eterna (Lc 16.22b-31). Aquele que viveu aqui sem Deus, depois da morte, abriu os olhos e estava no inferno, um lugar de tormentos. Se isso não bastasse, das chamas do inferno, ainda conseguia ver Lázaro e notar sua felicidade. Enquanto Lázaro repousava no seio de Abraão, o rico não teve repouso nenhum no inferno. [27] John MacArthur chama-nos a atenção de que a indicação de que um homem rico seria excluído do céu deve ter escandalizado os fariseus; especialmente a ideia desagradável de que, a um mendigo que comia restos da mesa do homem rico, era garantido um lugar de honra próximo a Abraão. [27]

Charles L. Childers destaca que o rico:

No Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos. Ali não havia nenhum sono da alma, nenhum estado intermediário. Ele morreu, e imediatamente estava no inferno, enquanto Lázaro foi levado imediatamente para o céu pelos anjos. Este homem rico sem coração fechou os olhos para as suas riquezas terrenas e abriu os olhos no inferno. A palavra Hades é um termo amplo, equivalente “à terra dos espíritos que partiram” ou “mundo futuro”. Portanto nem sempre se refere a um lugar de punição. Mas nesta parábola era inquestionavelmente um local de punição; o rico abriu os olhos em tormentos. Observe que a palavra está no plural. O fogo era apenas uma das muitas causas de sofrimento para o homem perdido. Havia memória, consciência, raciocínio, a capacidade de enxergar o lugar bem-aventurado de Lázaro, e muito mais. [29]

Champlin diz que o vocábulo grego aqui traduzido por “inferno” não é a geena (a prisão dos perdidos), e, sim, o hades, isto é, o mundo invisível dos mortos. [30] 

Está bem claro que a grande verdade aqui enfatizada é esta: uma vez que uma pessoa tenha morrido, sua alma tendo se separado de seu corpo, sua condição, seja de bem-aventurança ou de condenação, está fixada para sempre. Não existe aquilo que se chama uma “segunda” chance. Portanto, as oportunidades para ajudar os que estão em necessidade e em geral de viver uma vida frutífera para a glória de Deus, têm de ser aproveitadas agora. [31]

Em terceiro lugar, não existe arrependidos no inferno. O homem rico não despertou santo. A morte não transforma um pecador num santo. Quem morre na impiedade passa toda a eternidade na impiedade. [32]

Em Lucas 13.27,28 nos diz acerca das pessoas no inferno:

“Digo-vos que não vos conheço nem sei de onde vós sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais a iniquidade. Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas no reino de Deus, e vós lançados fora”.

No inferno não há ninguém que tenha se arrependido de seus pecados, pelo contrário, eles estão cada vez com ódio de Deus e dos salvos que estão na glória eterna. Ali haverá choro e ranger de dentes, o grau máximo de dor e indignação. E aquilo que é a sua causa, e que contribui com ela, é uma visão da felicidade daqueles que são salvos: Quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas no Reino de Deus; e vós lançados fora. Observe que os santos do Antigo Testamento estão no Reino de Deus; estes foram beneficiados pelo Messias que morreu e ressuscitou, porque eles viram o seu dia à distância e isto refletiu a consolação sobre eles. A visão da glória dos santos será um grande agravo da infelicidade do pecador; eles então verão o Reino de Deus de longe, e nele contemplarão os profetas a quem odiaram e desprezaram, e eles mesmos, embora estivessem certos de entrarem no reino, serão lançados fora. Esta é a principal razão pela qual rangerão os dentes, Salmos 112.10. [33]

John C. Ryle nos diz que o Senhor Jesus nos mostrou com clareza que, depois de morto, o rico estava “no inferno” atormentado em chamas. Ele nos apresentou a terrível figura do intenso desejo do rico por água para refrescar a sua língua; apresentou também a horrível figura do “abismo” existente entre o rico e Abraão, um abismo que não poderia ser ultrapassado. Em toda a Bíblia, existem poucas passagens tão apavorantes quanto essa. E Aquele que proferiu essas palavras, não esqueçamos, é rico em misericórdia! [34]

Através desse texto, nós temos um vislumbre do que possa ser o inferno. Vejamos o que o texto tem a nos ensinar.

1 – O inferno é um lugar de tormento (Lc 16.233a). A palavra “tormento” é usada quatro vezes neste relato e se refere a uma dor definida. É a mesma palavra usada para a condenação temida pelos espíritos malignos (Mc 5.7) e para os julgamentos que Deus enviará sobre o mundo impenitente (Ap 9.5; 11.10; 20.10). Se o inferno é a prisão eterna dos condenados, o Hades é a cadeia temporária, e o sofrimento em ambos é extremamente real. [35] O inferno é descrito como um lugar onde as chamas são inextinguíveis, de fogo que não se apaga, de fumaça que sobe pelos séculos dos séculos.

2 – O inferno é um lugar onde não há consolo (Lc 16.23-25). A extensão da agonia do homem rico é poderosamente ilustrada, pois ele que antes não considerava qualquer prazer demasiado extravagante implora o menor benefício. [36]

Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te... Não foi solicitado que o rico se lembrasse de um crime ou de uma vida de vícios. Era apenas uma vida de indulgência egoísta, uma vida tão cheia de preocupações egocêntricas que não havia espaço nem tempo para os outros, nem para Deus. Agora, este é consolado, e tu, atormentado, destaca Charles L. Childers. [37]

3 – O inferno revela o que a pessoa tem de pior. Leon Morris diz que A atitude do rico para com o grande patriarca é deferencial, pois o chama de Pai Abraão, e as palavras da sua petição são suficientemente humildes. Mas há uma nota de arrogância inconsciente na sua atitude para com Lázaro, porque supõe que aquele pobre pode ser mandado para lhe prestar um serviço (a não ser que suas palavras queiram dizer que estava disposto a aceitar o mínimo alívio, seja qual for a sua proveniência). Não percebeu que os valores da terra já não são aplicáveis. [38] O inferno potencializa o que o ser humano tem de pior. No caso do homem rico, a sua arrogância.

Seu apelo por Abraão para enviar Lázaro indica que sua visão do mendigo não tinha mudado. Ele ainda via Lázaro como alguém tão humilde e insignificante, que se alguém tivesse que ser selecionado para deixar o céu e vir para o inferno para lhe trazer água, deveria ser Lázaro. Sua atitude inalterada e impenitente ilustra a realidade de que o inferno não é corretivo, mas punitivo.

4 – O inferno é um lugar de onde não se pode sair (Lc 16.26). O inferno é definido na Bíblia como uma prisão de algemas eternas (Jd 6,13). Não haverá chance de arrependimento no inferno. Será uma prisão eterna. Será o castigo eterno. Há um abismo intransponível que separa o inferno do céu. Há um caráter de irreversibilidade da sorte de uma pessoa depois da morte. [39]

5 – O inferno é um lugar de lembranças das oportunidades perdidas (Lc 16.27,28). Pela primeira vez na história, o rico demonstra algum interesse noutras pessoas (mas não pensa nos pobres; fica só no assunto dos seus). Pede que seus cinco irmãos sejam advertidos quanto aquilo que os aguarda. [40] Este espírito missionário, este interesse pela salvação de sua família, deveria ter vindo mais cedo – quando ele ainda estava com eles. [41]

6 – O inferno só pode ser evitado se crermos no testemunho das Escrituras (Lc 16.28-30). Se não ouvem a Moisés e aos Profetas (ou seja, o Antigo Testamento), eles não ficarão convencidos, ainda que ressuscite alguém dentre os mortos, como a ressurreição de Lázaro, irmão de Maria e marta não convenceu os doutores da lei, pelo contrário, intentaram matá-lo também (Jo 12.10,11), e do próprio Senhor. A incredulidade está no coração, não é uma questão intelectual e nem moral, nenhuma quantidade de provas mediante milagres pode transformar a incredulidade em fé (Jo 12.37). Só a Palavra de Deus tem o poder de fazê-lo (Hb 4.12; 1Pe 1.23). 

Fritz Rienecker destaca que na verdade a situação real é que quem não crê em Moisés e os profetas também não poderá ser persuadido por meio da ressurreição de um morto. O testemunho da Escritura reveste-se de tanta relevância e validade plena que sozinho já é suficiente para produzir uma conversão. Um sinal milagroso que age sobre os sentidos de forma alguma é comparável ao testemunho extraordinário da Escritura. [42]

John MacArthur nesta mesma linha de pensamento fala a respeito da suficiência singular das Escrituras para superar a incredulidade. Ele diz que o Evangelho em si mesmo é poder de Deus para a salvação (Rm 1.16). Como, no fundo, a incredulidade é um problema espiritual, e não intelectual, nenhum montante de evidências jamais transformará incredulidade em fé. Mas a Palavra de Deus revelada tem o poder inerente de transformar (Jo 6.63; Hb 4.12; Tg 1.18; 1Pe 1.23). [43] 

Por isso, o tempo de se arrepender é agora. O tempo de evangelizar é agora. O tempo de ajudar alguém é agora. No inferno, os ímpios são inteiramente responsáveis por não terem ouvido as advertências das Escrituras (16.27-31). [44]

7 – O inferno é eterno. O castigo dos ímpios mortos no inferno é descrito em toda a Escritura como “fogo eterno” (Mt 25.41), “fogo que nunca se apagará” (Mt 3.12), “vergonha e desprezo eterno” (Dn 12.2), um lugar “onde... o fogo nunca se apaga” (Mc 9.44-49), um lugar de “tormentas” e “chamas” (Lc 16.23-24), “eterna perdição” (2Ts 1.9), um lugar de tormento com “fogo e enxofre” onde “a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre” (Ap 14.10,11) e um “lago de fogo e enxofre” onde os ímpios “de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre” (Ap 20.10).

A punição dos ímpios no inferno é tão duradoura quanto a felicidade dos justos no céu. O próprio Jesus indica que a punição no inferno é tão eterna quanto a vida no céu (Mt 25.46). Os ímpios estão sempre sujeitos à fúria e à ira de Deus. Os que estão no inferno reconhecerão a perfeita justiça de Deus (Sl 76.10). Aqueles que estão no inferno saberão que o seu castigo é justo e que são de fato culpados (Dt 32.3-5). Sim, o inferno é real. Sim, o inferno é um lugar de tormento e castigo que dura para sempre, ou seja, não tem fim. Louve a Deus que, por meio de Jesus, podemos escapar deste destino eterno (Jo 3.16, 18, 36).

CONCLUSÃO 

Devemos nos lembrar de que o homem rico não foi condenado simplesmente por ser rico, assim como Lázaro não foi salvo simplesmente por ser pobre. Abraão foi um homem extremamente rico, no entanto, não estava no tormento do Hades. O homem rico depositou toda a confiança em suas riquezas e não creu no Senhor. Nas palavras de C. S. Lewis: “O caminho mais seguro para o inferno é gradual: declive suave, macio debaixo dos pés, sem curvas fechadas, sem marcos nem placas”. [45] “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc 8.36).

Hernandes Dias Lopes diz que a doutrina do inferno não é uma verdade popular. Não agrada aos ouvidos. Choca as pessoas mais sensíveis. O ser humano não gosta de ouvir sobre o inferno. Contudo, pior do que ouvir sobre o inferno é ser lançado nele. [46] 

Pense nisso! 

Bibliografia:

1 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 484.

2 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 459.

3 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 161.

4 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 271.

5 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 335.

6 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 484.

7 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 312.

8 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 459.

9 – Robertson, A. T. Comentário de Lucas, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2013, p. 293.

10 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 485.

11 – Peterson, Eugene. A Linguagem de Deus, Ed. Mundo Cristão, São Paulo, SP, 2011, p.124.

12 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 459.

13 – Neale, David A. Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ, 2015, p. 185.

14 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 162.

15 – Edwards, James R. O Comentário de Lucas, Ed. Shedd, Sto Amaro, SP, 2019, p. 594.

16 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 486

17 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 238.

18 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 485.

19 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 346.

20 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 273.

21 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 667.

22 – Shedd, Russel, Pieratt, Alan – Editores. Packer, James I. Imortalidade, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1992, p. 116.

23 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 273.

24 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 313.

25 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 238.

26 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 338.

27 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 487.

28 – MacArthur, John. Comentário Bíblico MacArthur, Gênesis a Apocalipse, Ed. Thomas Nelson, Rio de Janeiro, RJ, 2019, p. 1275.

29 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 460.

30 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 163.

31 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 339.

32 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 484.

33 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 639.

34 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 273.

35 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 313.

36 – Ash, Anthony Lee. O Evangelho Segundo Lucas, Ed. Vida Cristã, São Paulo, SP, 1980, p. 250.

37 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 460.

38 – 36 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 238.

39 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 488.

40 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 239.

41 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 461.

42 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 347

43 – MacArthur, John. Comentário Bíblico MacArthur, Gênesis a Apocalipse, Ed. Thomas Nelson, Rio de Janeiro, RJ, 2019, p. 1275.

44 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 489.

45 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 314.

46 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 491.

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

A CONTROVÉRSIA DE JESUS COM OS FARISEUS - Lc 16.14-18

Por Pr Silas Figueira

Texto base: Lucas 16.14-18

INTRODUÇÃO 

Estes fariseus avarentos foram rápidos para perceber que as palavras de Jesus, a respeito do uso prudente do dinheiro, se aplicavam a eles. Eles tinham ouvido, sem comentar, as três parábolas, que se referiam diretamente a eles (a Ovelha Perdida, a Dracma Perdida, o Filho Pródigo). Mas agora eles não ficam em silêncio, quando ouvem a quarta parábola, dita aos discípulos. Aparentemente, eles não proferiram palavras, mas seus rostos foram eloquentes, com desdém. [1] Leon Morris diz que os fariseus cobiçosos gostavam de disfarçar seu pecado e ver seu dinheiro como evidência da bênção de Deus sobre suas atividades. [2]

Aliás, esse pensamento tem sido muito comum em nossos dias. Muitos líderes cristãos avaliam as bênçãos de Deus na vida de uma pessoa pelos bens materiais que ela possui. Muitos líderes estão pregando o Evangelho da Prosperidade. Essa falsa teologia entrou no Brasil e se instalou em muitos ministérios. Quem prega essa falsa teologia desconhece a vida de Jesus, dos apóstolos e a própria história da Igreja. 

Mas vamos ao texto e ver e destacar algumas lições aqui: 

1 – JESUS REVELA A HIPOCRISIA DOS FARISEUS (Lc 16.14,15). 

É uma verdade paradoxal ver que aqueles que são os mais perigosos inimigos de Deus não são os que se opõem abertamente Ele, mas sim aqueles que por fora parecem ser os mais dedicados a Ele. Muitos supunham que os doutores da lei eram os mais piedosos, especialmente porque eles se identificavam com o Deus das Escrituras. Mas, na realidade, as suas adorações eram falsas. Eles não adoravam a Deus, mas a mamom. Como diz um antigo adágio: “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”.

Em primeiro lugar, os fariseus eram avarentos (Lc 16.14a). Os fariseus eram motivados pela ganância, avareza e cobiça. As mesmas coisas que motivaram Judas a trair Jesus (cf. Jo 12.5-6). O adjetivo philarguros deriva de duas palavras: phileo, “amar”, ou “ter afeição por”, e arguros, “prata”, ou seja, amor ao dinheiro, avareza. Como nos fala no livro de Eclesiastes 5.10: “Quem amar o dinheiro jamais dele se fartará; e quem amar a abundância nunca se fartará da renda; também isto é vaidade”.

Paulo escrevendo a Timóteo o alertou a respeito desse perigo.

Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1Tm 6.9,10). 

Em segundo lugar, eles zombavam da verdade (Lc 16.14b). Estes fariseus avarentos não podiam suportar que alguém tocasse neste ponto. Esta era a sua Dalila, a sua querida concupiscência; por isto eles zombavam de Jesus, exemykterizon auton - eles fungaram seus narizes para ele, ou tentaram assoar os seus narizes diante dele como um gesto ofensivo. [3]

O discurso de Jesus atingiu como flecha a hipocrisia deles. Jesus arranca-lhes a máscara e diz que Deus conhece o coração avarento deles. A religião deles era apenas uma fachada. A espiritualidade deles era uma propaganda enganosa. Pareciam muito piedosos diante dos outros, mas eram reprovados diante de Deus. Jesus, põe de ponta cabeça os valores mesquinhos dos fariseus, dizendo que aquilo que é elevado entre os homens (o que eles avidamente buscavam) é abominação diante de Deus. [4]

Charles L. Childers observa que o egoísta pervertido passará a ridicularizar quando não tiver argumentos para defender a sua conduta. Visto que os fariseus eram notoriamente ambiciosos, eles sofreram uma dupla “ferroada” através da denúncia de Jesus: ferroada de consciência e ferroada de uma reputação ferida. E natural que sentissem que nestes dois assuntos os ensinos de Jesus eram dirigidos diretamente a eles, como sem dúvida eram - ao menos em parte. [5] Sua reação agressiva e hostil, significava que eles eram falsos adoradores, sem capacidade para receber e responder à verdade. Eles estavam cegos espiritualmente (2Co 4.4), mortos em seus pecados (Ef 2.1), e incapaz de compreender e aceitar as coisas de Deus (1 Co 2.14). Mas escondidos atras do verniz da religião.

Em terceiro lugar, o coração deles era abominável diante de Deus (Lc 16.15). Esta acusação de Jesus aos fariseus é um resumo sucinto de toda a religião falsa. O judaísmo farisaico foi um sistema de obras justiça; de autojustificação; de tentar fazer-se aceitável a Deus, tentando ganhar a salvação através de boas obras. Através da manutenção de certos padrões éticos e legais, e realizando rituais e cerimônias religiosas. Não há dúvida de que eles tinham um zelo pela ideia de Deus (Rm 10.2). Mas zelo divorciada do conhecimento da verdade é inútil.

Davi quando quis trazer a arca para Jerusalém estava muito bem-intencionado, no entanto usou meios errados para fazer isso. Trouxe a arca em um carro e não pelos ombros dos levitas da família de Coate. O resultado foi a morte de Uzá (2Sm 6). Você pode ser muito zeloso pelas coisas de Deus, mas se seu zelo for fora da Palavra irá gerar morte.

Em quarto lugar, o julgamento de Jesus é certo, porque Deus conhece os corações. Como lemos em Jeremias 17.9,10: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Eu, o Senhor, esquadrinho o coração e provo os rins; e isto para dar a cada um segundo os seus caminhos e segundo o fruto das suas ações”. A fachada externa de piedade e santidade dos fariseus podia ter enganado os homens, mas não a Deus, pois, em Sua onisciência, sabia o que estava em seus corações. “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!” Jesus advertiu: “Porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda imundícia. Então, vocês, também, por fora parecem justos aos homens, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade” (Mt 23.27,28).

William Hendiksen é enfático quando diz que Jesus sabendo exatamente o que estava acontecendo, desmascarou esses hipócritas. O que ele lhes disse equivale a isto: Vocês são as pessoas que se apresentam diante dos homens como se estivessem vivendo em harmonia com a santa lei de Deus. Mas sua justiça não passa de fachada. Por dentro vocês são exatamente o contrário do que querem que as pessoas creiam que são. Não obstante, Deus os conhece bem. Ele sabe que sua religião é fingida. Porque, o que os homens veem e admiram em vocês é uma abominação aos olhos de Deus. [6]

2 – JESUS VEIO CUMPRIR A LEI (Lc 16.16-18).

Jesus conclui seu ensino mostrando aos fariseus que o evangelho não era um ataque à lei, mas uma consumação da lei. A lei e os profetas, ou seja, o Antigo Testamento, vigoraram até João. Este veio como a dobradiça entre a antiga e a nova dispensação. Ele preparou o caminho do Messias, para quem apontou como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Desde então, vem sendo anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem se esforça para entrar nele. [7] Leon Morris enfatiza que A vinda de Jesus marcava uma linha divisória. Até então, a revelação de Deus tinha sido feita na lei (a rigor: os livros de Gênesis até Deuteronômio) e os profetas. A expressão combinada representa a totalidade do Antigo Testamento. Operava bem até aos tempos de João Batista. Agora, com a vinda de Jesus vem sendo anunciado o evangelho do reino de Deus. [8]

Fritz Rienecker enfatiza também que a menção de que a velha ordem do reino de Deus cessou com João Batista facilmente poderia levar à opinião equivocada de que assim a lei teria sido abolida. Jesus não veio para dissolver a lei, mas para consumá-la (Mt 5.18). Paulo enfatiza que a lei não foi anulada pela fé, mas confirmada (Rm 3.31). [9]

Com isso em mente, devemos tirar algumas dúvidas em relação a Lei.

Em primeiro lugar, existem a lei civil ou judicial, a lei cerimonial e a lei moral. Deus proferiu e revelou diversas determinações e deveres para o homem, em diferentes épocas na história.  Sua vontade para o homem, constitui a sua Lei e ela representa o que é de melhor para os seus. Quando estudamos a Lei de Deus, mais detalhadamente, devemos, entretanto, discernir os diversos aspectos, apresentados na Bíblia, desta lei.  Como devemos classificá-la e entendê-la? Muitos mal-entendidos e doutrinas erradas podem ser evitadas, se compreendermos que a Palavra de Deus apresenta os seguintes aspectos da lei:

1 – A Lei Civil ou Judicial – Representa a legislação dada à sociedade ou ao estado de Israel, por ex.: os crimes contra a propriedade e suas respectivas punições.

2 – A Lei Religiosa ou Cerimonial – Esta representa a legislação levítica do Velho Testamento, por ex.: os sacrifícios e todo aquele simbolismo cerimonial.

3 – A Lei Moral – Representa a vontade de Deus para com o homem, no que diz respeito ao seu comportamento e seus deveres principais. [10]

Em segundo lugar, Jesus veio cumprir toda a Lei. “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir” (Mt 5.17). O Antigo Testamento traz a revelação da lei e dos profetas, e o Novo Testamento apresenta Jesus e o evangelho. Não há conflito nem contradição entre a antiga e a nova dispensações. Jesus não veio para deitar por terra a lei e os profetas. Veio para cumprir tudo que a lei simbolizava e tudo o que os profetas disseram. A lei é a promessa; Jesus é o cumprimento da promessa. A lei era a sombra; Jesus é a realidade. Jesus não veio para desautorizar a lei, mas para cumpri-la. Não veio para refutar os profetas, mas para ser a essência de tudo o que eles disseram. Jesus cumpriu a lei em seu nascimento, em seus ensinamentos e em sua morte e ressurreição. [11]

Em terceiro lugar, Jesus não aboliu a lei moral. A lei judicial e a lei cerimonial eram, única e exclusivamente, para o povo judeu, mas a lei moral é para todo o povo de Deus. Era no Antigo Testamento, continua no Novo Testamento. A lei moral permanece como reguladora da ética do reino. Essa lei é eterna e jamais passará. O apóstolo Paulo diz: A lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo (1Tm 1.8). E dá seu testemunho: No tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus (Rm 7.22). J. C. Ryle destaca que a parte cerimonial da Lei era uma figura de seu próprio evangelho e seria cumprida literalmente. Sua parte moral era uma revelação da eterna mente de Deus e seria perpetuamente ordenada aos crentes. [12]

Em quarto lugar, Jesus, então, dá um exemplo do caráter permanente da lei moral (Lc 16.18). Sabemos que o casamento e o divórcio eram questões contestadas na época de Jesus. Sabemos também que Jesus defendia um padrão de casamento que, ao nosso conhecimento, nenhum rabi judeu defendia. Não é de surpreender que Lucas inclua o ensino de Jesus sobre essa questão em particular no versículo 18 como exemplo da validade duradoura da lei [moral]. [13]

Por exemplo, o famoso rabino Hillel que viveu na última metade do primeiro século antes de Cristo, e por isso durante o reinado do rei Herodes I, ensinou que um esposo tinha o direito de divorciar-se de sua esposa se ela lhe servisse comida que estivesse ligeiramente queimada; e o rabino Akiba (que viveu cerca do ano 110 d.C.) ainda permitia que um esposo se divorciasse de sua esposa se encontrasse uma mulher mais bela. [14]

Jesus, então, dá um exemplo do caráter permanente da lei moral, em oposição às tentativas de evasão dos fariseus, citando a questão do divórcio e do novo casamento (16.18). [15]

Em quinto lugar, Jesus deixa claro que a entrada no Reino de Deus é com esforço (Lc 16.16b). Enquanto a salvação não é de nenhuma maneira um esforço puramente humano, o verdadeiro arrependimento, no entanto, envolve à vontade atuando na abnegação. “Se alguém quer vir após mim”, Jesus declarou solenemente, “negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23; 14.26,27), uma vez que “quem quiser salvar a sua vida a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, ele é o único que vai salvá-lo” (Lc 9.24). Há uma luta monumental na alma humana pecaminosa para esmagar orgulho e auto vontade e chegar ao arrependimento.

CONCLUSÃO 

A questão que Jesus destaca aqui é a verdade. A religião falsa condena. Ele não salva, e deve ser exposta para o que seus seguidores, advertidos da condenação, possam ter a verdadeira compreensão da palavra de Deus. Dizer a verdade sobre os mentirosos e enganadores é um ato de misericórdia que se deve fazer. Jesus confrontou os fariseus para que eles pudessem se arrepender, e para que as pessoas que os seguiam pudessem vê-los como eles realmente eram. Essa ainda é a responsabilidade daqueles cujos olhos foram abertos para compreender a glória da verdade divina (cf. Lc 20.45-47).

Pense nisso!

Bibliografia:

1 –Robertson, A. T. Comentário de Lucas, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2013, p. 292.

2 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 235.

3 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 663.

4 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 479.

5 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 458.

6 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 324.

7 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 479.

8 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 236.

9 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curi-tiba, PA, 2005, p. 342.

10 – Portela, Solano. Os Três Aspectos da Lei de Deus, https://solanoportela.net/palestras/tres_aspectos.htm#:~:text=A%20Lei%20Religiosa%20ou%20Cerimonial,comportamento%20e%20seus%20deveres%20principais., acessado em 31/10/2023.

11 – Lopes, Hernandes Dias. Mateus, o Rei dos reis, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2019, p. 192.

12 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 271.

13 – Edwards, James R. O Comentário de Lucas, Ed. Shedd, Sto Amaro, SP, 2019, p. 590.

14 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 325.

15 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 480.

sábado, 2 de dezembro de 2023

A PARÁBOLA DO ADMINISTRADOR INFIEL - Lucas 16.1-13

Por Pr Silas Figueira

Texto base: Lucas 16.1-13

INTRODUÇÃO

A parábola do administrador injusto foi, em todas as épocas, uma das mais difíceis passagens do evangelho para os intérpretes. Os inimigos do cristianismo até mesmo utilizaram-na constantemente como arma de ataque para explicitar a falta de moral com que Jesus instrui seus ouvintes neste momento. [1] Kenneth Bailay disse que a aparente incongruência de uma história que louva um patife, tem sido um aparente embaraço para a igreja, pelo menos desde que Juliano, o Apóstata, usou está parábola para asseverar a inferioridade da fé cristã e de seu fundador. [2] Leon Morris nesta mesma linha de pensamento, diz que esta é notoriamente uma das mais difíceis de todas as parábolas quanto à sua interpretação. O problema que jaz à raiz é o elogio ao administrador, que é claramente desonesto [3].

Concordo com John Charles Ryle quando disse que “esta é uma passagem bastante difícil. [...] A deficiência não está nas Escrituras, e sim em nossa frágil capacidade de entender. Se não aprendermos qualquer outra lição desta passagem, aprendamos pelo menos a humildade”. E conclui seu pensamento dizendo: “o administrador é um exemplo a ser evitado e não um modelo a ser seguido”. [4]

Quais as lições que podemos extrair desse texto?

1 – NENHUM ERRO FICA OCULTO PARA SEMPRE (Lc 16.1-3).

Há uma frase que diz “Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar todas por todo o tempo”. Chegará uma hora em que o erro será desmascarado. Talvez nem todas as pessoas ficarão sabendo, mas de qualquer forma será desmascarado. Foi isso que ocorreu com o mordomo infiel.

Podemos destacar três lições aqui:

Em primeiro lugar, houve uma denúncia (Lc 16.1). O administrador foi acusado (diabolos em grego). O rico fazendeiro, que confiou a administração de seus negócios a seu mordomo, é informado de que este, no exercício de seu trabalho, estava defraudando os seus bens. [5] Um administrador (mordomo) era um servo de confiança, geralmente alguém nascido na residência, que era o chefe do gerenciamento e da distribuição das provisões dom lar. Essa pessoa provia comida a todos os outros servos, gerenciando, dessa forma, os recursos de seu mestre para o bem-estar dos outros. [6]

Wiersbe lembra que o mais importante para o mordomo é servir ao senhor fielmente (1Co 4.2). Ao ver as riquezas a seu redor, o mordomo deve lembrar que pertencem ao senhor e que não são propriedade particular dele, de modo que devem ser usadas de maneira a agradar e beneficiar o senhor. [7] Temos como exemplo José que foi mordomo na casa de Potifar (Gn 39.1-4).

Certamente foi aplicado nesta denúncia o que está registrado em Deuteronômio 19.15: “Uma só testemunha não é suficiente para condenar uma pessoa de algum crime ou delito. Qualquer acusação necessita ser confirmada pelo depoimento de duas ou três testemunhas idôneas”.

Preste atenção: Testemunhas idôneas. Eu faço questão de destacar isto, porque muitas vezes algumas pessoas são caluniadas por pessoas de má índole.   

Em segundo lugar, houve um confronto (Lc 16.2). A natureza do seu cargo tornou fácil para ele desviar montantes para seus próprios propósitos. O senhor evidentemente pensou que a acusação era bem fundamentada, pois informou o mordomo que estava demitido e mandou-o preparar uma prestação final de contas. [8] Willian Hendriksen destaca que o administrador designado por ele não era um escravo, mas um homem livre. Por conseguinte, quando esse homem perde seu trabalho, o castigo que recebe não é o que se daria a um escravo. [9]

O confronto foi feito em cima de provas e não de boatos. Devemos tomar muito cuidado para não sairmos acusando pessoas sem provas e, principalmente, por ouvir falar. Nem sempre o que ouvimos é a verdade.

Em terceiro lugar, este homem enfrentou um dilema (Lc 16.3). Neste ínterim, o administrador teve tempo para excogitar um plano de ação. A perda da administração significava a perda do seu meio de vida. Pensou por momentos em trabalhar na terra, mas abandonou a ideia por causa das suas limitações físicas. Pensou em mendigar, mas ficou com vergonha (cf. Eclesiástico 40.28, “é melhor morrer do que mendigar”). [10]

Ele era, em termos contemporâneos, um trabalhador de colarinho branco, e não era capaz de árduo trabalho manual. Além disso, ele, sem dúvida, viu esse trabalho como abaixo de sua dignidade. A outra alternativa era igualmente inaceitável. Se o trabalho manual era abaixo dele, quanto mais teria sido uma vergonha mendigar? O futuro parecia sombrio, e ele não via saída de seu dilema.

Jesus está relatando a vida do homem natural, do não regenerado. Esse homem tem medo das consequências do seu erro, mas não teve nenhum temor na hora de roubar o seu senhor. Pessoas assim estão em nosso meio. Parecem honestas, até a hora que são desmascaradas. E esse tipo de gente está em todas as esferas da sociedade, desde as grandes corporações, até no meio religioso.

Há uma cena no filme “Corajosos” [11] muito interessante. Fala a respeito de CARÁTER E INTEGRIDADE. Javier Martinez é latino e trabalha em uma empresa, e eles fazem um teste para contratar um novo supervisor. Chegaria 17 engradados, mas o chefe queria que colocasse 16 somente no relatório. Javier Martinez vai para casa e pensa sobre o assunto. A esposa diz que precisa muito do dinheiro e talvez não seja errado. Mas Javier decidi fazer a coisa certa. Ele agradece o emprego, mas diz que não pode fazer o que ele pediu. Seria uma desonra para Deus e sua família. Ele ganhou o cargo pois o chefe buscava alguém que pudesse confiar. Ele recebe o elogio: parabéns pela sua integridade. O outro funcionário diz: “Depois de 6 candidatos eu estava ficando desanimado”.

Essa é a atitude de um verdadeiro cristão e não a atitude do mordomo infiel. Citando mais uma vez John C. Ryle: “o administrador é um exemplo a ser evitado e não um modelo a ser seguido”. [12]

2 – O MORDOMO TOMA UMA DECISÃO OUSADA (Lc 16.4-7).

Lucas mostra vividamente os esforços tanto físicos como mentais do administrador para garantir o seu futuro. [13] O homem decidiu usar as poucas horas que lhe restavam no escritório para ganhar a amizade de alguns devedores do seu patrão, de forma que após a sua demissão tivesse amigos que o acolhessem. [14]

Em primeiro lugar, ele teve um lampejo de como resolver o seu problema (Lc 16.4-7). Depois de ponderar várias possibilidades, o homem encontrou uma saída para garantir sua segurança no futuro. Chamou os devedores e deu a eles um desconto generoso em sua dívida. A parábola apenas menciona dois devedores como símbolo do que ele fez com os demais. Ao primeiro, que devia cem cados de azeite, ou seja, 4 mil litros, ele deu um desconto de 50% e baixou a dívida para 50%. Ao segundo, que devia cem coros de trigo, ou seja, 4 mil litros, deu um desconto de 20% e baixou para 80%. [15]

Mesmo que foi desonesto em diminuir o valor dos débitos daqueles que deviam a seu senhor, com certeza, ao agir dessa maneira, conquistou muitos amigos. Agindo com impiedade, pensou no futuro. Demonstrando ignomínia em suas providências, fez o bem a si mesmo. Não ficou parado, em indolência, vendo-se levado à pobreza, sem lutar contra isso. Maquinou, planejou e com ousadia executou seus planos. O resultado seria que, ao ser mandado embora daquele emprego, teria outro já garantido. [16]

Craig A. Evans destaca que o ex-mordomo, abrindo mão de suas comissões que lhe eram devidas, contempla agora um futuro menos trevoso, mais promissor. Se entendermos a parábola dessa maneira, tornar-se-á muito mais fácil entender a razão por que Jesus viu na ação do mordomo infiel um exemplo a ser imitado por seus discípulos. Esses, à semelhança do mordomo infiel, deveriam reconhecer a vantagem de abrir mão de um pouco agora, para que um dia, no futuro, se possa ganhar muito mais. [17]

William Hendriksen nos chama a atenção para o fato de que os devedores, provavelmente, pensaram que o administrador convencera o proprietário a fazer a redução das contas. A redução da conta - às vezes devido a condições desfavoráveis do clima que afetavam as colheitas - era algo comum. [18]

Craig S. Keener destaca a esperteza desse administrador, dizendo que todas as trocas de valores requeriam somente pequenas marcas nos papéis, feitas pelos próprios clientes (para não incriminar o administrador, não mais autorizado). [19]

Em segundo lugar, também somos mordomos nosso tempo (Ef 5.15-17). Wiersbe destaca que:

A expressão “remir o tempo” é um termo comercial, que significa “adquirir oportunidades”. O tempo é a eternidade, transformada em pequenas porções de minutos preciosos e confiada a nós. Pode ser usada com sabedoria ou com negligência. A principal lição dessa narrativa é que o mordomo, por mais desonesto que tenha sido, usou a oportunidade com sabedoria e se preparou para o futuro. Para ele, a vida deixou de ser “divertimento” e se tornou um “investimento”.

Como cristãos, também somos mordomos das habilidades e dos dons que Deus nos deu (1Pe 4.10), e devemos usá-los para servir aos semelhantes. O ladrão diz: “o que é seu é meu, dê-me cá!” O egoísta diz: “o que é meu, é meu, fico com tudo!”, mas o cristão deve dizer: “o que é meu é uma dádiva de Deus, vou compartilhá-la!”. Somos mordomos e devemos usar nossas habilidades para ganhar os perdidos, encorajar outros cristãos e suprir as necessidades dos aflitos.

Por fim, o povo de Deus é mordomo do evangelho (1Ts 2.4). Deus confiou-nos o tesouro de sua verdade (2Co 4.7), e é preciso guardar esse tesouro (1Tm 6.20) e investi-lo na vida de outros (2Tm 2.2). O inimigo deseja roubar esse tesouro da igreja (Jd 3, 4), que, portanto, precisa manter-se vigilante e ter coragem.

Assim como o mordomo da história, um dia teremos de prestar contas da forma de administrar nossos bens (Rm 14.10-12; 2Co 5.10). Quem tiver sido fiel receberá elogios e recompensas do Senhor (Mt 25.21; 1Co 4.5); mas quem tiver sido infiel será salvo e entrará no céu, mas perderá as bênçãos (1Co 3.13-15). [20]

3 – O SENHOR ELOGIA A ESPERTEZA DO ADMINISTRADOR (Lc 16.8).

O procedimento do administrador não visava permanecer oculto ao patrão. Isso não teria acrescentado nada ao seu intuito. Este fato precisaria vir a público durante o acerto de contas ligado à entrega do cargo, por meio dos documentos de débito alterados. Sob essa premissa é que se noticia na parábola o louvor do patrão. O senhor, que elogia o administrador, certamente não é Jesus, mas o patrão do administrador, mencionado em Lc 16.3,5. Sem as palavras de elogio do rico latifundiário faltaria a característica principal da parábola. [21]

 Com isso em mente, podemos destacar algumas lições aqui.

Em primeiro lugar, o senhor admira a sagacidade do mordomo. E preciso ressaltar que o senhor louvou o administrador (agora despedido), não por ser tão desonesto, mas por ser tão astuto, tão sagaz, tão esperto. Em outros termos, por preparar “seu ninho”, por preocupar-se em ver abastecidas suas necessidades materiais por um longo tempo no futuro, talvez pelo resto de sua vida. [22]

Em segundo lugar, devemos ser mais atentos ao lidar com as pessoas. Jesus mesmo nos alertou quando disse: “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10.16).

Charles L. Childers diz que o senhor que elogiou o mordomo na história era o dono dos bens na história, é claro, e não Jesus. Embora o homem rico tivesse sido roubado, ele admirou esta demonstração incomum de prudência, de lidar com o dinheiro para fazer amigos. [23] Isso mostra que os filhos do mundo são mais hábeis na sua própria geração do que os filhos da luz. Ou seja, se os filhos da luz usassem a mesma destreza para as coisas certas que os filhos do mundo usam para as coisas erradas, o reino de Deus avançaria com muito mais vigor. [24]

4 – O CONSELHO DE JESUS AOS DISCÍPULOS (Lc 16.9).

Jesus não está dizendo que devamos ter a mente mundana ou ser desonestos. Está afirmando o fato óbvio de que nas questões do mundo os mundanos com frequência demonstram mais sagacidade ou astúcia do que os filhos de Deus demonstram nos assuntos que afetam sua salvação eterna. [25]

Com isso em mente, podemos destacar algumas lições.

Em primeiro lugar, devemos usar as oportunidades com sabedoria (Lc 16.9). Um dia desses, a vida terminará, e não será mais possível ganhar nem gastar dinheiro. Assim, enquanto há oportunidade, deve-se investir o dinheiro em “fazer amigos” para o Senhor. Isso quer dizer ganhar para Cristo pessoas que, um dia, nos receberão de braços abertos no céu. Mais cedo ou mais tarde, a vida e os recursos terminarão, de modo que convém usá-los com sabedoria. É triste ver como a riqueza de Deus está sendo desperdiçada por cristãos que vivem como se Jesus jamais tivesse morrido e como se o julgamento jamais fosse chegar. [26]

Craig A. Evans é enfático em dizer que enquanto os seguidores de Jesus estiverem na terra, deverão fazer uso dos recursos deste mundo, para que se mantenham a si mesmos e à obra da igreja. Todavia, quando estes recursos se exaurirem e a obra daquela vida terminar, os seguidores de Cristo podem esperar ser recebidos num lar eterno, não temporário, um lar cujos recursos são infinitos. [27]

Em segundo lugar, Jesus alerta para o bom uso do dinheiro. Jesus conhece o poder maligno no dinheiro, mas os servos de Deus devem usá-lo, para o reino de Deus. Eles o usam com prudência, e é apropriado fazer amigos com o seu uso. [28]

Matthew Henry destaca algo muito interessante quando diz que: 

As coisas deste mundo são as riquezas da injustiça, ou a falsa riqueza, não só por serem frequentemente conseguidas através de fraudes e injustiças, mas porque aqueles que confiam nelas em busca de satisfação e felicidade certamente serão enganados; pois as riquezas são coisas perecíveis, e desapontarão aqueles que depositarem nelas as suas expectativas.

Embora não possamos confiar nestas riquezas de injustiça quando se trata de nossa felicidade, elas podem e devem ser usadas em subserviência à nossa busca daquilo que é a nossa felicidade. Embora não possamos encontrar a verdadeira satisfação nelas, podemos fazer amigos com elas, não por meio de compra ou mérito, mas por recomendação. Dessa forma podemos fazer de Deus e de Cristo nossos amigos através delas, fazer dos anjos e dos santos nossos amigos, e fazer dos pobres nossos amigos. Isto é algo muito desejável: sermos favorecidos na prestação de contas e no estado futuro. [29] 

A herança do passado deve ser usada com sabedoria no presente, a fim de garantir dividendos espirituais no futuro. Todos devemos ter o desejo de chegar ao céu e de encontrar pessoas que creram em Cristo porque investimos na pregação do evangelho ao redor do mundo, começando em casa. [30]

5 – JESUS FAZ UM ALERTA A RESPEITO DA FIDELIDADE (Lc 16.10-13).

Estas palavras de Jesus indicam claramente que ele não aprovava e nem sequer justificava a desonestidade e a infidelidade do mordomo da parábola. [31] A fidelidade não é acidental: surge daquilo que um homem é de fio a pavio. O que o homem faz com as pequenas coisas da vida, faz também nas coisas grandes. Sua fidelidade ou sua desonestidade aparece a cada passo. A vida é uma unidade. [32]

Com isso em mente, podemos aprender algumas lições aqui.

Em primeiro lugar, quem não é fiel no pouco não o será no muito (Lc 16.10). Alguns afirmam que se tivessem mais dinheiro eles dariam mais. Mas a verdade é que as circunstâncias não determinam a nossa fidelidade. Alguns, como a viúva pobre, descrito em Lucas 21.1-4, não tinha praticamente nada para dar, e, no entanto, deu tudo; outros que têm tudo, não dão nada. A questão não é financeira, mas a integridade e o caráter espiritual. Aqueles que são fiéis com o pouco que eles têm, serão fiéis se tiverem muito; aqueles que são injustos, orgulhosos, indulgentes no uso do pouco, serão também se tiverem muito. O fator determinante não é o quanto as pessoas possuem, mas o quão forte é a sua fidelidade para com Deus.

Champlin diz que “o pouco”, no que devemos ser fiéis, é uma alusão ao dinheiro e outras questões afins, mas também tem aplicação espiritual. A fidelidade depende não da quantia que é entregue a alguém, mas do senso de responsabilidade. Aquele que sente isso no pouco, também o sentirá no muito, e vice-versa. [33]

Em segundo lugar, o que está em jogo aqui é o nosso caráter (Lc 16.11,12). O caráter não é determinado por algo externo a si mesmo, como uma recompensa, mas é uma disposição única e consciente, independentemente de recompensa. [34] Leon Morris diz que Jesus contrasta as riquezas de origem injusta, as terrestres, com a verdadeira riqueza, a riqueza celestial que somente Deus pode dar. De acordo com o princípio definido no versículo anterior, o homem que emprega seu dinheiro da maneira errada revela-se indigno de tratar de coisas mais importantes. Não deve ficar surpreendido se Deus as afasta dele. [35]

Concordo com Wierbe quando diz que os infiéis no uso do dinheiro também se mostram infiéis no uso das “verdadeiras riquezas” do reino de Deus. Não é possível ser ortodoxos na teologia e, ao mesmo tempo, heréticos no uso dos recursos financeiros. [36] Quem não consegue ser fiel com o alheio, ou seja, com os bens materiais, que são temporais e não nos pertencem, uma vez que nada trouxemos para este mundo e nada dele levaremos, não pode receber as verdadeiras riquezas, que são espirituais e eternas. [37]

Em terceiro lugar, Jesus mostra que é impossível servir a dois senhores (Lc 16.13). É imediatamente evidente que Jesus aqui está reiterando as palavras que usou no Sermão do Monte (Mt 6.24). E por que não? Um dito tão precioso é digno de repetição. Além disso, a passagem se harmoniza nitidamente com o contexto em ambos os lugares. Simplesmente significa que é psicologicamente impossível que alguém dê sua sincera devoção a dois senhores. O objeto da devoção será ou Deus ou mamom. Não pode ser ambos. [38]

Jesus refere-se aqui a servir como um escravo. Os escravos, ao contrário dos trabalhadores modernos, não tinham a opção de trabalhar em um segundo emprego, para uma segunda entidade patronal. Eles eram propriedade de um senhor que tinha o controle singular e absoluto sobre eles. Esse tipo de serviço exclusivo não poderia ser prestado a dois senhores ao mesmo tempo.

Da mesma forma, uma pessoa não pode ser, ao mesmo tempo, escravo de Deus e das riquezas materiais. Eles não podem ser corregentes no mesmo coração, pois onde as riquezas manter o domínio do coração, Deus perdeu a sua autoridade. Aqueles que amam o dinheiro vai desprezar e se ressente do que Deus exige deles a respeito dele. Mas aqueles que o amam a Deus vai escolher honrá-lo por não fazer da riqueza terrena seu mestre. Em vez de usá-la para satisfazer egoisticamente seus desejos, eles vão procurar gerir o dinheiro que o Senhor confiou a eles, para a salvação das almas para a glória de Deus.

CONCLUSÃO 

David A. Neale destaca que integridade e lealdade a Deus são questões que estão no coração do uso da riqueza na vida dos crentes. A lealdade é primariamente uma questão de relacionamento. Quando a lealdade é dedicada aos bens materiais, o relacionamento fiel a Deus é subvertido. Até comparar o serviço ao dinheiro como serviço a Deus enfatiza o poder ofuscante do materialismo. O seu poder é tão grande que os bens materiais conseguem competir com os afetos da pessoa, e até com respeito à grandeza de Deus, assim como aconteceu com o filho pródigo e com o administrador desonesto. [39] Assim aconteceu com Judas Iscariotes que estava ali ouvindo todos esses ensinamentos do Senhor Jesus.

Isso serve de alerta para todos nós!

Pense nisso!

Bibliografia:

1 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 331.

2 – Bailey, Kenneth. As Parábolas de Lucas, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1985, p. 199.

3 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 231.

4 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 267.

5 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 474.

6 – MacArthur, John. Comentário John MacArthur, Gênesis a Apocalipse, Ed. Thomas Nelson, Rio de janeiro, RJ, 2019, p. 1273.

7 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo An-dré, SP, 2007, p. 309.

8 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 232.

9 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 315.

10 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 232.

11 – CORAJOSOS. Direção: Alex Kendrick. Produção de Sherwood Pictures. Estados Unidos:  2011.

12 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 267.

13 – Ash, Anthony Lee. O Evangelho Segundo Lucas, Ed. Vida Cristã, São Paulo, SP, 1980, p. 243.

14 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 457.

15 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 475.

16 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 267.

17 – Evans, Craig A. O Novo Comentário Bíblico Contemporâneo, Lucas, Ed. Vida, São Paulo, SP, 1996, p. 272.

18 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 317.

19 – Keener, Craig S. Coemntário Histórico-Cultural da Bíblia, Novo testamento, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2017, p. 262

20 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 310.

21 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 336.

22 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 318.

23 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 457.

24 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 476.

25 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 318.

26 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 310.

27 – Evans, Craig A. O Novo Comentário Bíblico Contemporâneo, Lucas, Ed. Vida, São Paulo, SP, 1996, p. 273.

28 – Robertson, A. T. Comentário de Lucas, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2013, p. 290.

29 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 662.

30 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 311.

31 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 321.

32 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 235.

33 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 160.

34 – Edwards, James R. O Comentário de Lucas, Ed. Shedd, Sto Amaro, SP, 2019, p. 581.

35 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 235.

36 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo An-dré, SP, 2007, p. 311.

37 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 478.

38 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 322.

39 – Neale, David A. Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ, 2015, p. 182.