quinta-feira, 27 de julho de 2017

NENHUMA IMAGEM DE ESCULTURA


Por Timothy Keller

Quando pensamos que Deus tem que agir conforme o nosso querer Ele não passa de um ídolo para nós. Ou, mais especificamente, o Deus que apoia os nossos planos, segundo o que nós achamos melhor para o mundo e a nossa história, esse Deus não passa de uma criação nossa, um deus falso. Nesse modo de agir, Deus é o nosso “parceiro”, alguém com quem nos relacionamos desde que ele faça o que queremos. Se ele quiser agir de outra maneira, nosso desejo é “despedi-lo” ou “hostilizá-lo”, como faríamos com um assistente pessoal ou um conhecido insubordinado ou incompetente.

Elisabeth Elliot no epílogo do livro Através dos portais do esplendor, escrito em 1996, em que relata a morte de cinco missionários, dentre eles o seu esposo Jim Elliot, ela relata que eles queriam alcançar o então isolado e hostil povo waorani da floresta amazônica. No entanto, eles foram mortos por esses índios, deixando para trás muitas viúvas e órfãos. Elizabeth Elliot desafia os pontos de vista secular e tradicional a respeito de Deus e do sofrimento como algo simples e ingênuo. Ela alerta contra a tentativa de “descobrir um raio de sol entre as nuvens escuras” que justifique os acontecimentos.

Elisabeth escreve:

Sabemos que, na história da igreja cristã, repetidamente o sangue dos mártires foi sua semente. Somos tentados a pressupor uma equação simples aqui. Cinco homens morreram. Isso resultará num número “x” de waoranis cristãos. Talvez sim. Talvez não... Deus é Deus. Se eu exigisse que Ele aja de modo a satisfazer a minha ideia de justiça, estarei destronando-o do meu coração. Esse é o mesmo espírito que provocou: “... se és Filho de Deus, desce da cruz” (Mt 27.40). Existe descrença, até mesmo rebelião no coração que afirma: “Deus não tinha o direito de fazer isso com os cinco homens, a não ser que...”.

O tema recorrente em toda a obra de Elliot é que confiar em Deus quando não o entendemos significa tratá-lo como Deus, e não como outro ser humano. É tratá-lo como glorioso, infinitamente superior a nós em bondade e sabedoria. Mas, como Jesus diz, a glória de Deus nunca foi revelada de maneira mais esplendorosa do que na cruz (Jo 12.23,32). Ali vemos que Deus é tão infinito e integralmente justo que Cristo precisou morrer pelo pecado, mas também que Deus é tão absolutamente amoroso que Jesus se mostrou disposto e feliz em morrer. Isso é sabedoria consumada, o fato de que o amor e justiça de Deus, aspectos aparentemente contraditórios, tenham sido cumpridos ao mesmo tempo. Portanto, confiar na sabedoria de Deus durante o sofrimento, mesmo quando ficamos sem entender nada, é lembrar da glória e do significado da cruz.

Vemos então que um dos propósitos do sofrimento é glorificar a Deus tratando-o como o Deus infinito, soberano, totalmente sábio e, mesmo assim, encarnado e sofredor, que ele é. Isso glorifica Deus aos olhos de Deus; é o comportamento mais apropriado que podemos ter.  E se nos comportarmos da forma apropriada com relação a Deus e às nossas almas, encontraremos, como Elisabeth Elliot afirma, o descanso que não está firmado em circunstâncias. 

Fonte: 

Keller, Timothy. Caminhando com Deus em mia a dor e ao sofrimento. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2016, p. 189-193.           

sábado, 22 de julho de 2017

PERCORRENDO O CAMINHO DO MILAGRE ATRAVÉS DE NAAMÃ


Por Pr. Silas Figueira

Texto base: 2 Reis 5.1-19

INTRODUÇÃO

Ao lermos a história de Naamã nós nos deparamos com um homem respeitado e temido por todos na Síria. No entanto, apesar de toda sua autoridade e prestígio como comandante do exército do rei Ben-Hadade II e, por exercer esse cargo, ele era o segundo no poder, Naamã era um homem condenado, pois sob seu uniforme escondia-se o corpo de um leproso. Havia como nos diz o versículo primeiro, um “porém” na sua história de sucesso.

Naamã tinha um inimigo pessoal mais poderoso que todos os exércitos que ele havia enfrentado: a lepra. Por causa dessa doença ele vivia isolado dentro de sua própria casa.

Hanseníase, lepra, morfeia, mal de Hansen ou mal de Lázaro é uma doença infecciosa causada pelo bacilo Mycobacterium leprae (também conhecida como bacilo-de-hansen) que causa danos severos a nervos e à pele. A denominação hanseníase deve-se ao descobridor do microrganismo causador da doença, Dr. Gerhard Hansen. O termo lepra está em desuso por sua conotação negativa histórica.

A hanseníase é uma doença contagiosa, que passa de uma pessoa doente, que não esteja em tratamento, para outra. Demora de dois a cinco anos, em geral, para aparecerem os primeiros sintomas. O portador de hanseníase apresenta sinais e sintomas dermatológicos e neurológicos que facilitam o diagnóstico. Pode atingir crianças, adultos e idosos de todas as classes sociais, desde que tenham um contato intenso e prolongado com bacilo. Pode causar incapacidade ou deformidades quando não tratada ou tratada tardiamente, mas tem cura.

A escrava israelita que Naamã havia levado para sua casa era temente a Deus e se compadeceu de sua situação. Ela ousou testemunhar para sua senhora que havia um profeta em Samaria que poderia curar o seu senhor. Deus usou uma escrava para ser profetiza e missionária em terra estrangeira, testemunhando do Deus de Israel. Deus ainda hoje usa as coisas “loucas” para confundir as sábias (1Co 1.26-29). O Senhor usa todos aqueles que temem o Seu nome para que, em todo lugar, testemunhem a sua fé e o nome do Senhor seja exaltado.

Por onde você tem andado você tem testemunhado do Senhor? As pessoas têm visto em seus lábios a Palavra do Senhor ou você tem se calado tendo a oportunidade de testemunhar? Essa menina, apesar de ser uma escrava, não deixou de ser serva e boca do Deus Altíssimo em terra estranha. Assim como Daniel e seus quatro amigos posteriormente iriam testemunhar do Senhor lá na Babilônia, nós encontramos esta menina testemunhando na Síria. Muitas vezes será nos momentos de maior adversidade em nossa vida que o Senhor será exaltado através do nosso testemunho. 

Deus levou esta menina para lá para usá-la para alcançar Naamã e sua família. O Senhor tem os seus escolhidos e vai buscá-los onde eles se encontram. Mas para alcança-lo o Senhor permitiu que uma doença extremamente humilhante o atingisse.

Como disse Jó: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42.2).

Esse texto não só nos fala a respeito de um homem que alcançou a cura de sua enfermidade, esse texto nos mostra os caminhos percorridos por Naamã que o Senhor traçou para que ele alcançasse também a salvação.

A PRIMEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE O SENHOR MOSTROU A NAAMÃ CINCO IDEIAS ERRADAS QUE ELE TINHA PARA ALCANÇAR A BÊNÇÃO.

Naamã quando ouve de sua esposa o testemunho da criada ele imediatamente crê na possibilidade do milagre. Devido a isso, ele vai até o seu rei e conta-lhe a respeito da sua doença e da possibilidade da cura em Israel. Só que o general Naamã cometeu cinco erros que muitos cometem ainda hoje.

1º - O primeiro erro: achar que a influência e autoridade reivindicam a bênção do Senhor (2Rs 5.5). Observe que Naamã vai para Israel com uma carta dada pelo rei da Síria. Em outras palavras o rei da Síria estava servindo de intermediário diante do rei de Israel para providenciar um encontro do seu general com o profeta Eliseu.

Creio que para Naamã desse jeito não haveria como o profeta não o receber, afinal de contas ele vinha em nome do rei da Síria e estava sendo intermediado pelo próprio rei de Israel. Era recebê-lo ou recebê-lo. Não havia meio termo, pois afinal de contas quem estava ali era o General Naamã.

O Senhor não olha para as nossas patentes e títulos pendurados em nossas paredes. O Senhor age em nossas vidas pela sua misericórdia graça, Ele não é influenciado pelo que somos diante dos homens.

Veja o que o apóstolo Paulo nos fala em Romanos 9.15-18:

“Pois ele diz a Moisés: "Terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia e terei compaixão de quem eu quiser ter compaixão". Portanto, isso não depende do desejo ou do esforço humano, mas da misericórdia de Deus. Pois a Escritura diz ao faraó: "Eu o levantei exatamente com este propósito: mostrar em você o meu poder, e para que o meu nome seja proclamado em toda a terra". Portanto, Deus tem misericórdia de quem ele quer, e endurece a quem ele quer”.

Naamã podia ser general, ter carta do rei da Síria, poderia ser enviado ao profeta Eliseu por intermédio do rei de Israel, mas nada disso valia diante do Rei dos reis e do Senhor dos Senhores. Como disse Isaías:

“Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam” (Isaías 64.6 – NVI).

2º - O segundo erro: achar que o dinheiro compra tudo, até as bênçãos de Deus (2Rs 5.5). O rei da Síria respondeu: "Vá. Eu lhe darei uma carta que você entregará ao rei de Israel". Então Naamã partiu, levando consigo trezentos e cinquenta quilos de prata, setenta e dois quilos de ouro e dez mudas de roupas finas (NVI).

Naamã achou que podia pagar pela bênção de Deus assim como ele fazia com os deuses da Síria. Na verdade o dinheiro era para os falsos profetas que diziam ser portadores das bênçãos de seus deuses.

Hoje a coisa mais comum são as pessoas acharem a mesma coisa, pois afinal de contas o pastor fulano disse que se deve dar uma oferta de sacrifício para que a bênção seja alcançada. Aí você liga a TV e o que mais vê é isso. E isso vai desde oferta alçada a venda de objetos consagrados. É um sincretismo religioso nefasto que temos visto em muitas ditas igrejas por aí.

A palavra sincretismo tem origem na ilha de Creta, vem dos cretenses. Em Creta, cada uma das numerosas cidades queria ser a mais autônoma possível em relação às demais. Somente quando estavam em guerra contra um inimigo comum, os cretenses, que preferiam a independência, se uniam, tornando-se assim syn-cretenses (syn-cretismo). Nessa ilha havia todo tipo de cultos, filosofias e linhas de pensamento.

No entanto o Senhor Jesus deixou bem claro uma palavra a respeito disso que me parece que foi arrancada da Bíblia de muitos líderes por aí, que nos diz assim:

“À medida que seguirdes, pregai que está próximo o reino dos céus. Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai” (Mateus 107,8 – ARA).

3º - O terceiro erro: achar que o agir de Deus deve ser da minha maneira (2Rs 5.9-11). O grande problema de Naamã era que ele tinha uma ideia dos profetas dos deuses sírios. Ele achava que o profeta Eliseu viria até ele e agiria da mesma forma.

Esse problema de Naamã tem sido o problema de muitos de nós em achar que o Senhor tem que agir conosco sempre da mesma maneira. Entenda uma coisa: Deus age com cada um de uma forma. Isso porque envolve questões emocionais, espirituais, psicológicas. O “porquê” daquela situação que muitas pessoas desconhecem, mas que não foge do conhecimento de Deus. 

Não é porque Ele operou um milagre de um jeito que Ele fará sempre da mesma maneira.

Observe os milagres na Bíblia e você verá que o Senhor agiu de várias maneiras. Por isso que é importante contar sobre a bênção recebida, mas não fazer dela o referencial de como o Senhor irá agir com você ou com os outros.

Veja que assim como as pessoas pensaram em relação à morte de Lázaro, da mesma forma que pensamos hoje:

“Mas alguns objetaram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer que este não morresse?” (João 11.37 – ARA).

Não pensamos assim também muitas vezes? Só que o Senhor não age assim como queremos ou pensamos. Mas Ele age segundo o Seu querer.

4º - O quarto erro: não querer obedecer à ordem de Deus (2Rs 5.12). Naamã queria o milagre, mas não quis se sujeitar a ordem do profeta. Assim eu não quero. Desse jeito não vou fazer. “Nem que a vaca tussa!”.

Esse é o grande problema da maioria das pessoas. Elas querem a cura, mas não por em prática o obedecer as Escrituras. Querem a bênção, mas não o Senhor da bênção. Porque obedecer significa se sujeitar a vontade do Senhor. Mas isso muitos não querem.

Assim não! Desse jeito eu não quero!

Os anos passam, mas o homem continua o mesmo. Querem ser agraciados por Deus, mas não querem se sujeitar a Sua vontade.

5º - O quinto erro: achar que a bênção está nas mudanças sociais (1Rs 5.7). “Por acaso sou Deus, capaz de conceder vida ou morte?” Em outras palavras: “Não venha querendo que eu faça o que somente Deus pode fazer!”.

A cura de Naamã não estava nas mãos do rei de Israel. Não estava na política, ou nos médicos que haviam estudado nas melhores faculdades da época.

O mundo ocidental inteiro precisa ouvir essa exclamação do rei de Israel. Ao depararmos com o sofrimento, achamos que a solução está nas mudanças políticas, na técnica psicológica e terapêutica ou nos avanços tecnológicos. Mas a escuridão do mundo é profunda demais para ser dissipada por coisas dessa natureza. Em nossa arrogância, cometemos o erro de acreditar que temos a capacidade de controlar e derrotar a escuridão por meio do conhecimento [1].

O rei de Israel disse que ele não tinha tal autoridade e poder, mas tem gente que acha que a solução dos seus problemas está nas mãos das autoridades constituídas.

Eu não estou desmerecendo os médicos, os hospitais e tais melhorias, muito pelo contrário; eu sei da importância delas. No entanto a nossa vida está nas mãos do Senhor.
   
A SEGUNDA LIÇÃO QUE APRENDO QUE É O PRÓPRIO SENHOR QUE TRAÇA O CAMINHO DO MILAGRE NA VIDA DE NAAMÃ.

1º - Levando uma serva Sua para dentro da casa de Naamã. Quando Naamã invade Israel e leva cativa aquela menina ele não podia imaginar que o Deus de Israel estava providenciando aquele episódio. Isso não foi uma coincidência, mas uma providência. Era o cuidado de Deus para com Naamã, mesmo antes de ele o conhecer e servi-Lo.

Veja a história de José quando foi vendido e levado para o Egito. Veja o que ele fala para os seus irmãos:

Cheguem mais perto, disse José a seus irmãos. Quando eles se aproximaram, disse-lhes: Eu sou José, seu irmão, aquele que vocês venderam ao Egito! Agora, não se aflijam nem se recriminem por terem me vendido para cá, pois foi para salvar vidas que Deus me enviou adiante de vocês. Já houve dois anos de fome na terra, e nos próximos cinco anos não haverá cultivo nem colheita. Mas Deus me enviou à frente de vocês para lhes preservar um remanescente nesta terra e para salvar-lhes as vidas com grande livramento. Assim, não foram vocês que me mandaram para cá, mas sim o próprio Deus. Ele me tornou ministro do faraó, e me fez administrador de todo o palácio e governador de todo o Egito. José, porém, lhes disse: Não tenham medo. Estaria eu no lugar de Deus? Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos. Por isso, não tenham medo. Eu sustentarei vocês e seus filhos. E assim os tranquilizou e lhes falou amavelmente. (Gênesis 45.4-8; 50.19-21 – NVI).

A história de José assim como dessa menina é mais uma prova de que o Senhor tem o domínio da história e que Ele a dirige segundo os seus propósitos. Por isso que na vida do crente não existe coincidência, mas providência.

2º - Fazendo com que o próprio Naamã desse crédito ao seu testemunho. A esposa de Naamã ao ouvir o testemunho da menina transmite ao seu marido, que por sua vez procura se informar se de fato era assim. Ao descobrir que havia um profeta em Israel foi para lá a fim de encontrar a cura.
Essa menina poderia ter se calado, mas ela foi dirigida por Deus para trazer uma palavra de esperança para aquela família. 

3º - Fazendo com que Naamã se prontificasse em buscar a cura. Imediatamente Naamã procurou ir para Israel e se encontrar com Eliseu. Quando Deus move os corações às pessoas não questionam o Seu agir, mas buscam logo fazer o que o Senhor orienta. 

A TERCEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE O CAMINHO DO MILAGRE EXIGIU DE NAAMÃ POSICIONAMENTO.

Uma coisa é Deus querer abençoar, outra é nós nos posicionarmos para recebermos a bênção. Há muitos anos eu e minha esposa estávamos orando para que o Senhor nos desse um carro, pois estava muito difícil para nós levar a nossa filha para a escolha e, principalmente minha esposa, ir para as escolas que ela dava aula. Assim, começamos a orar pedindo um carro. Mas, de repente, minha esposa me disse que era para pararmos de orar. Então lhe perguntei por que, e ela me disse que o motivo era simples: nem eu e nem ela sabíamos dirigir. Aí mudamos o modo de orar, passando a pedir a Deus condições de tirarmos a carteira de habilitação. Antes de a carteira chegar já tínhamos comprado um belo fusca 69 verde.

Por isso eu lhes afirmo que tem que haver um posicionamento por parte de cada um de nós para recebermos o que o Senhor tem para cada um de nós. Para Naamã o Senhor exigiu quatro coisas:

1º - Naamã teve que se humilhar (2Rs 5.10-12). Naamã estava acostumado com todos lhe servindo e dar ordens e todos lhe obedecerem, mas quando ele vai até o profeta a coisa é totalmente diferente. Aparentemente o profeta não se importou com a figura ilustre que estava à sua porta. Simplesmente o manda ir mergulhar sete vezes no rio Jordão que ele ficaria curado, e ponto final.

O arrogante Naamã não aceitou tal ideia. Quem o profeta pensava que estava ali?! Quem era ele para falar assim com ele?!

A Bíblia é muito clara quando nos diz que “embora esteja nas alturas, o Senhor olha para os humildes, e de longe reconhece os arrogantes” Salmos 138.6. O Senhor contemplou a arrogância de Naamã e lhe mostrou que ele não era nada, apesar de pensar que era alguma coisa. E Tiago também nos diz que “Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes” (Tiago 4.6 – NVI).

Antes de abençoar Naamã o Senhor teve que tratar dessa arrogância que o general do exército Sírio tinha.

Naamã tinha que se despir na frente dos seus servos, tinha que se expor, iria mostrar a sua enfermidade para todos ali. Isso era muito humilhante para ele; mas era exatamente isso que o Senhor queria quebrar nele, essa arrogância. Essa superioridade em demasia. O pensar que era alguma coisa.

O Senhor muitas vezes faz isso com a gente. Louvado seja o nome dEle por isso!

2º - Naamã teve que ouvir conselhos (2Rs 5.13,14). Os seus soldados foram usados por Deus para quebrar o orgulho de Naamã e fazê-lo cair em si diante do que Eliseu lhe havia mandado fazer.

Já diz um ditado antigo: Quem não ouve conselhos ouve: “ah coitado!”.

Tem gente que diz que se conselho fosse bom não se dava, se vendia. Quem tem esse pensamento só quebra a cara na vida. Por isso dê ouvidos ao que a Bíblia nos ensina.

Provérbio 11.14 nos diz assim: “Não havendo sábios conselhos, o povo cai, mas na multidão de conselhos há segurança” (ACF).

Provérbios 19.20: “Ouve o conselho, e recebe a correção, para que no fim sejas sábio” (ACF).

Naamã ouviu o conselho de seus servos, por isso ele alcançou a cura de sua enfermidade.

3º - Naamã teve que obedecer. Ouvir é uma coisa, praticar o que se aconselha é outra coisa. Há uma distância muito grande entre ouvir e obedecer. Eliseu lhe deu uma instrução aparentemente simples, mas não era o que Naamã queria ouvir.

Obedecer é muitas vezes ir de encontro àquilo que não queremos fazer. É lutar com a nossa vontade em prol de um bem maior. No caso de Naamã a sua cura.

Muitas pessoas perdem a bênção, ou melhor, deixam de ganhar, porque se negam a obedecer ao que a Bíblia nos diz para fazermos. Ser cristão é mais que frequentar a igreja, é ser praticante da Palavra. Como nos fala Tiago:

“Sejam praticantes da palavra, e não apenas ouvintes, enganando-se a si mesmos. Aquele que ouve a palavra, mas não a põe em prática, é semelhante a um homem que olha a sua face num espelho e, depois de olhar para si mesmo, sai e logo esquece a sua aparência. Mas o homem que observa atentamente a lei perfeita que traz a liberdade, e persevera na prática dessa lei, não esquecendo o que ouviu mas praticando-o, será feliz naquilo que fizer” (Tiago 1.22-25 – NVI). 

4º - Naamã teve de entender que o Senhor abençoa onde quer, quando quer e se Ele quiser. O arrogante Naamã teve que se sujeitar a vontade de Deus e não aos seus caprichos, caso contrário deixaria a bênção que foi buscar escapar.

Naamã não é em nada diferente de muitos de nós. Aliás, Naamã é o retrato vivo de muitas pessoas hoje em dia. Gente que pensa que Deus está à sua disposição e que deve abençoá-lo da sua maneira e onde a pessoa quiser.

A QUARTA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE O SENHOR CUROU MUITO MAIS QUE A DOENÇA FÍSICA DE NAAMÃ.

O Senhor não curou somente a lepra de Naamã, o Senhor sempre vai além da cura física, pois Ele olha outras enfermidades que nós não detectamos em nossas vidas. Todo milagre que não trás transformação, quebrantamento e uma nova postura diante do Senhor são questionáveis. A cura não pode ser um fim em si mesmo. Ela nos leva além. Ela tem que gerar na pessoa temor e tremor. Ela trás um crescimento espiritual.

1º - O Senhor o curou da sua arrogância (2Rs 5.15,16). Aquele que chegou a casa do profeta Eliseu cheio de si, agora está diante do profeta lhe pedindo, por favor. Quanta diferença! Deus curou Naamã da sua arrogância, da sua empáfia, do seu EU. Há pessoas que aprendem, como no caso de Naamã, mas já há outros que, infelizmente, não. Nem passando pelo que Naamã passou.

2º - O Senhor o curou da sua cegueira espiritual (2Rs 5.15-17). Naamã passou a ver o que antes era impossível devido a sua arrogância. Ele passou a ver que só o Senhor é Deus e fora dEle não há salvação. Ele abandonou os seus deuses que antes servia e passou a adorar ao único Deus criador dos céus e da terra, o Deus de Israel.

3º - E Senhor lhe deu a vida eterna (2Rs 5.18,19). Vá em paz! Muitas vezes somos obrigados a fazer coisas que não agradam ao Senhor, como no caso de Naamã que tinha que entrar no templo de Rimom, deus dos Sírios. Mas Naamã justificou por que tal atitude.

Naamã saiu da Síria em busca da cura e voltou transformado pelo Senhor. Saiu perdido, mas voltou pelo caminho da graça. Saiu morto e retornou de posse da vida eterna. Saiu em trevas, mas voltou em luz.

Ninguém que tenha tido um encontro real com o Senhor pode andar como andava outrora. Veja por exemplo os magos que foram visitar Jesus ainda menino. Quando eles encontram o Senhor eles são advertidos por divina revelação para retornarem por outro caminho (Mateus 2.12). Ninguém que tenha tido um encontro real com o Senhor volta a andar como andava. Como nos fala Paulo em 2 Coríntios 5.17:

“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.

CONCLUSÃO

Alguém já disse que no sofrimento não existe lugar para o ego. Naamã aprendeu isso não no sofrimento, mas na cura. Pois enquanto estava doente do corpo ele também estava doente da alma e do espírito. No entanto, no momento que se viu curado pela graça do Senhor voltou com o coração totalmente transformado.

O Senhor operou uma cura completa e não apenas superficial. Embora seja essa cura que a maioria dos pregadores oferece aos seus ouvintes. Por isso, as pessoas saem desses cultos tão enfermas quanto entraram. Talvez com a cura do corpo, mas sem ver o real sentido da vida, que é a vida eterna em cristo Jesus.

Naamã alcançou o pleno milagre em todos os sentidos. A cura física, da alma e do espírito.

E você já alcançou esse milagre?

Pense nisso!

Fonte:

1 – Keller, Timothy. Caminhando Com Deus em Meio à Dor e ao Sofrimento. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2016: p.96. 

domingo, 16 de julho de 2017

JÓ E A FÉ NOSSA DE CADA DIA


Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Jó 1.1,8;2.3

INTRODUÃO

Quando lemos a história de Jó nós deparamos com algo muito maior que uma questão de alguém bom passando por uma crise; nós nos deparamos com uma guerra cósmica. Nós nos deparamos com Satanás questionando o próprio Deus. A acusação feita por Satanás de que Jó ama a Deus só porque ele tem tudo e nada lhe falta é uma forma de ferir o caráter e integridade de Deus:

“Acaso não puseste uma cerca em volta dele, da família dele e de tudo o que ele possui? Tu mesmo tens abençoado tudo o que ele faz, de modo que todos os seus rebanhos estão espalhados por toda a terra. Mas estende a tua mão e fere tudo o que ele tem, e com certeza ele te amaldiçoará na tua face” (Jó 1:10,11 NVI).

Com isso Satanás, sem nenhum escrúpulo, ataca o caráter divino. Satanás está dizendo que o Senhor não é digno de ser amado em si mesmo, que as pessoas o seguem somente porque ganham algo com isso ou estão sendo “subornadas” para agir assim.

Por isso, quando lemos o livro de Jó devemos entender que o livro não fala de sofrimento, mas de fé. É a história de um homem que foi escolhido por Deus para passar por uma experiência penosa e estarrecedora através da tribulação. Sua reação apresenta uma mensagem que se aplica não somente a pessoas em sofrimento, mas a toda pessoa que vive na terra. É a história de todos nós. É a nossa fidelidade colocada à prova, seja na tribulação ou na bonança. Pois fidelidade a Deus independe de termos algo ou não, de estarmos com saúde ou doente. Fidelidade a Deus é na verdade um casamento, onde fazemos um juramento ao nosso cônjuge no altar diante do juiz e das testemunhas. É servir a Deus pelo o que Ele é e não pelo o que Ele dá e faz. Essa é a mensagem de Jó.

Quando lemos esses dois primeiros capítulos de Jó aprendemos algumas lições preciosas para as nossas vidas.

A PRIMEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE A FÉ NÃO É POR CONTRATO: FAÇA O BEM E SERÁ ABENÇOADO; FAÇA O MAL E SERÁ PUNIDO (Jó 1.1-5,8,2.3).

Quem dá testemunho de Jó é o próprio Deus diante dos santos anjos e de Satanás. O Senhor fala de Jó como um homem íntegro em sua fé. O Senhor o abençoava por ele ser um homem fiel, mas a fidelidade de Jó independia de ter ou não o que possuía e de ser ou não abençoado por Deus. Jó não havia feito um contrato com Deus: se me abençoar eu te sirvo, se não me abençoar eu lhe abandono. Jó não agia assim, embora muitas pessoas ajam assim com Deus nos dias hoje. 

1º - Em primeiro, lugar Jó era um homem que temia ao Senhor (Jó 1.1). Temer ao Senhor significa respeitá-lo por seu caráter, seus atos e suas palavras. Esse temor não é medo que faz o escravo encolher-se diante de seu senhor, mas sim a reverência amorosa de um filho diante do pai, um respeito que conduz à obediência [1]. Temor é o amor posto em prática através da reverência. Jó temia a Deus por O amava.

2º - Em segundo lugar, Jó era um homem de caráter (Jó 1.1). O texto nos diz que Jó era um homem integro e reto. Isso não quer dizer que ele não tinha pecado, mas que procurava andar de forma a glorificar a Deus diante da sua família e da sociedade em que vivia. A palavra “íntegro” quer dizer completo, pleno, sem hipocrisia ou duplicidade. Como nos diz Tiago 1.7,8:

“Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa; homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos” (ARA).

Jó era um homem em quem se podia confiar. Nele não havia maldade, ele era um homem sincero.  Etimologicamente, a palavra sincero vem de sincera, que é a junção de duas outras palavras do latim, “sine cera” e foi inicialmente utilizada pelos romanos. Isso porque os artesãos ao fabricarem vasos de barro, muitos se rachavam e para esconder tais defeitos, era usando para tal uma cera especial. “Sine cera” queria dizer “sem cera”, que era a qualidade esperada de um vaso perfeito, muito fino, que deixava ver através de suas paredes aquilo que guardava dentro de si. O vocábulo sincero evoluiu e passou a ter um significado muito elevado. Sincero, é aquele que é franco, leal, verdadeiro, que não oculta, que não usa disfarces, malícias ou dissimulações. Aquele que é sincero, como acontecia com o vaso, deixa ver através de suas palavras aquilo que está guardado em seu coração, sem nada temer nem ocultar. Jó era assim.

3º - Em terceiro lugar, Jó era rico, mas seu coração não estava na riqueza (Jó 1.3,21). Jesus já nos alertou que nós não podemos servir a dois senhores: “A Deus e as riquezas” ou “mamom” (Mt 6.24). A riqueza tem sido buscada muito hoje em muitas igrejas. As pessoas vão ao culto buscar uma bênção e não adorar a Deus. O lugar onde mamom tem sido mais adorado tem sido nas igrejas onde se prega o Evangelho da Prosperidade. Lá não existe mensagem de salvação, mas mensagem de enriquecimento, cura e libertação. As pessoas não saem com seus nomes escritos no Livro da Vida, mas com a certeza de que serão ricas e bem sucedidas nesta vida. Para estes pregadores a vida no provir não existe. Para eles o céu é aqui e agora.

Jó temia a Deus independentemente de ser rico ou não.

4º - Em quarto lugar, Jó ensinava o temor ao Senhor aos seus filhos (Jó 1.5,6). Jó era exemplo fora e dentro de casa. Ele não era crente somente diante dos homens, mas também diante da sua família. Jó não era como Naamã que era herói na sociedade, mas dentro de casa todos sabiam que ele era leproso. A integridade de Jó era vista por seus familiares. Jó levantava altares dentro de seu lar. Ele intercedia pelos seus filhos e os fazia se voltar para Deus em todo tempo. Ele orava pelos filhos e com os filhos.

A SEGUNDA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE NINGUÉM ESTÁ LIVRE DAS ADVERSIDADES E CALAMIDADES DA VIDA (Jó 1.13-21; 2.4-7).

Jó, da noite para o dia perdeu todos os seus bens, todos os seus filhos e, algum tempo depois, a sua saúde. Jó ficou falido, desprovido da companhia dos filhos e por fim, ficou extremamente doente. E para piorar sua esposa desejou a sua morte e seus amigos o acusavam de pecado.

Quando as calamidades e adversidades vêm sobre uma pessoa boa sempre surge àquela velha pergunta: “Por que coisas ruins acontecem com pessoas boas?”

1º - Em primeiro lugar, é bom deixar claro que a única pessoa boa que esteve nessa terra foi o Senhor Jesus e, mesmo assim, sofreu mais que todos nós juntos. Ele morreu pelos nossos pecados, levou sobre si as nossas culpas, se tornou maldito em nosso lugar para que hoje nós fôssemos benditos do Senhor. Como nos diz Isaías:

“Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de tristeza e familiarizado com o sofrimento. Como alguém de quem os homens escondem o rosto, foi desprezado, e nós não o tínhamos em estima” (Isaías 53.3 – NVI).

2º - Em segundo lugar, coisas ruins acontecem com todas as pessoas, independente de serem boas ou não. O mundo é um lugar extremamente perigoso, basta lermos o Salmo 91 que veremos isso. Devido ao pecado, o homem mostrou a sua carranca maldosa e tem gerado o mal uns aos outros. Somos maus por natureza. Uns de forma mais intensa, outros menos, mas ninguém é bom, ninguém merece o Céu. Como disse o apóstolo Paulo: “Não há nenhum justo, nem um sequer; não há ninguém que entenda, ninguém que busque a Deus” (Romanos 3.10,11).

O mundo é um lugar perigosíssimo para se viver. Veja os noticiários de quantos assaltos, balas perdidas, sequestros, mortes e torturas. Isso sem contar com os nossos governantes que nos roubam e os juízes que julgam por causas próprias.

3º - E em terceiro lugar, nós temos um terrível adversário que é o diabo. Este tem como único objetivo trazer destruição ao ser humano. Ele só sabe fazer três coisas: “matar, roubar e destruir”; não há nele bondade alguma. Ele é um ser totalmente destituído de luz. Totalmente destituído de graça, mas se mostra como portador de luz e graça. Quem lhe dá ouvidos acaba com a vida destruída e está caminhando a passos largos para o inferno.

Ele é mentiroso desde o princípio, seduziu um terço dos anjos e enganou nossos primeiros pais e continua fazendo isso até hoje. Tentou o próprio Senhor Jesus no deserto, mas louvado seja o Senhor que o venceu, tanto no deserto quanto na cruz.

Observe o texto que quem tocou em Jó foi Satanás e não o Senhor. Foi o diabo que colocou em dúvida a integridade de Jó e não o Senhor. 

A TERCEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE SATANÁS SÓ PODE NOS TOCAR COM A PERMISSÃO DIVINA (Jó 1.12; 2.6).

Nas palavras de Martinho Lutero, “Satanás é um cachorro na coleira de Deus”.

Por mais estranho que pareça, Deus permite que o diabo nos toque. Muitas vezes nós não sabemos por que o Senhor permite isso, mas para tudo a um propósito divino nisso. No caso de Jó era para mostrar para o próprio diabo que é possível sim servir a Deus em meio às adversidades e calamidades da vida. Mas a pergunta insiste: “Por que Deus permite que Satanás nos toque?” Nós não temos todas as respostas, mas podemos enumerar algumas.

1º - Deus permite que Satanás nos toque para o nosso crescimento espiritual. As adversidades provocadas por Satanás em nossas vidas servem como um purificador da nossa fé. Assim como o ouro precisa passar pelo fogo para tirar as impurezas do mesmo modo, o Senhor deixa o diabo nos tocar para purificar a nossa fé. Para termos uma fé sadia, bem firmada e não uma fé trôpega.

Uma fé sadia é uma fé firmada em valores esternos e não em coisas passageiras. O apóstolo Paulo escrevendo aos Filipenses 4.10-13 diz assim:

“Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor porque, agora, uma vez mais, renovastes a meu favor o vosso cuidado; o qual também já tínheis antes, mas vos faltava oportunidade. Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece”

A fé nos leva crescer e deixar a meninices espirituais. A fé madura nos faz aprender e por em prática o aprendizado. É essa fé que o Senhor quer de cada um de nós. 

2º - Deus permite que Satanás nos toque para não nos esquecermos que estamos em guerra. O Reverendo Hernandes Dias Lopes diz que a vida não é colônia de férias. Paulo escrevendo aos Efésios 6.10-18 nos diz que devemos estar revestidos de toda armadura de Deus para podermos ficar atentos contra as ciladas do diabo. Porque a qualquer momento pode vir o dia mal.

O diabo arma ciladas. Esta palavra no grego é metodeia de onde vem a palavra método. Para cada pessoa, ele usa uma estratégia diferente. Ele ousa mudar os métodos.

Por isso que o Senhor nos leva para o campo de batalha espiritual para nos treinar para vencermos o diabo e seus ardis. Para aprendermos a usar o escudo da fé, e entendermos que a vida espiritual está acima da nossa compreensão. Se há uma guerra aqui na terra, saiba que também há uma peleja também no céu.

Em segunda Coríntios 2.11 Paulo nos diz: “para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não lhe ignoramos os desígnios”.

Há dois erros que muitos cristãos cometem quando se trata de batalha espiritual. Um é superestimar Satanás, o outro é subestimar Satanás. Com o diabo não se brinca, mas não devemos temê-lo, pois ele já foi vencido na cruz do calvário por nosso Senhor Jesus Cristo. Veja o que Tiago 4.7 nos fala: 

“Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”.

A nossa vitória está na nossa sujeição a Deus e não na nossa própria força.

3º - Deus permite que Satanás nos toque para firmar a nossa fé. Satanás insinuou que Jó só servia a Deus porque tinha tudo de bom e de melhor, que se tudo lhe fosse tirado ele blasfemaria diante de sua face (Jó 1.11). Essa mesma insinuação continua hoje. Para o diabo Jó amava mais o dinheiro que a Deus, mais a sua família que a Deus, mais a sua saúde que a Deus, mais a sua reputação que a Deus. E nós? Quem nós amamos mais? Não que Deus não saiba, mas nós precisamos saber quem nós amamos mais.

Em que e em quem a nossa fé está firmada? Jesus nos deixou um sério alerta em Mateus 10.34-38:

“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria casa. Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim” (ARA).

A nossa fé está no Senhor e só a Ele devemos amar mais que todas as coisas.

4º - Deus permite que satanás nos toque porque Ele quer nos mostrar quem são os nossos verdadeiros amigos na hora da prova. Amigo não é aquele que concorda com a gente em tudo, mas é aquele que ousa discordar de nós também. Amigo é aquele que, por amor, nos aconselha, nos mostra onde estamos errando e está do nosso lado nos tempos bons e nos tempos maus.

Amigos de Jó há muitos por aí. Gente que está ao nosso lado nos dias bons, mas nos dias maus são verdadeiros acusadores de pecados que não cometemos. É na adversidade que conhecemos os nossos verdadeiros amigos.

5º - Deus permite que Satanás nos toque porque Ele quer que o conheçamos não na teoria, mas na prática (Jó 42.5,6). Há muitas pessoas que foram criadas desde a infância na igreja, mas nunca tiveram uma experiência real com o Senhor. A vida cristã é mais que guardar a Lei do Senhor, é uma vida de intimidade com Deus.

Em nossas igrejas hoje há muitas pessoas piedosas, mas que não conhece a Deus como Ele é. E é através de uma experiência muitas vezes amarga que descobrimos quem é o Senhor. Como disse Timothy Keller:

“Na teoria, eu sempre soube que Jesus é tudo que alguém precisa para seguir adiante. Mas ninguém sabe de verdade que Jesus é tudo do que a pessoa precisa até que Jesus seja a única coisa que lhe resta”.

6º - Deus permite que Satanás nos toque por causa do pecado. Como dizem os neopentecostais: tem gente que dá legalidade ao diabo. Há muitas pessoas brincando com o pecado e depois sofrem as suas consequências. O Senhor permite que o diabo venha e toque porque tal pessoa está em desobediência.

Não brinque com o pecado. Não brinque com as coisas de Deus. Não brinque com o sagrado. Não profane o templo do Espírito Santo que é você.

QUARTA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE PODEMOS PASSAR POR VÁRIAS PROVAÇÕES, MAS SEM PECAR (Jó 1.22; 2.10c).

O pecado é uma opção. Diante das provas da vida nós temos dois caminhos: o da fidelidade ou o da infidelidade a Deus. Em Apocalipse 16.8-11 nos diz que diante do sofrimento que está por vir os homens blasfemarão o nome do Senhor:

“O quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe dado queimar os homens com fogo. Com efeito, os homens se queimaram com o intenso calor, e blasfemaram o nome de Deus, que tem autoridade sobre estes flagelos, e nem se arrependeram para lhe darem glória. Derramou o quinto a sua taça sobre o trono da besta, cujo reino se tornou em trevas, e os homens remordiam a língua por causa da dor que sentiam e blasfemaram o Deus do céu por causa das angústias e das úlceras que sofriam; e não se arrependeram de suas obras”.

Jó andou totalmente na contramão de tudo isso. Diante da dor e da calamidade ele não pecou, mas se arrependeu no pó e na cinza (Jó 42.6).

Timothy Keller diz que às vezes, o objetivo do sofrimento é disciplinar e corrigir padrões errados (como no caso de Jonas, castigado pela tempestade); às vezes, seu objetivo é não é corrigir erros passados, mas prevenir erros futuros (como no caso de José vendido como escravo); outras vezes, o único propósito é nos levar a amar Deus com mais fervor simplesmente por quem Ele é, e, assim, encontrarmos paz e liberdade absolutas [2].

Quando se tem essa maturidade espiritual nós não caímos na tentação do pecado. Podemos não entender o que está acontecendo, mas não nos deixamos levar pela situação. Por isso eu quero deixar três conselhos quando você estiver diante de uma situação como a de Jó ou semelhante a esta.

1º - Cale a boca. É isso mesmo, cale a sua boca. Pensar você até pode, mas não abra a sua boca para falar contra Deus. Isso é muito comum, mas não faça tal coisa. você pode minar a fé de alguém com essa atitude (Sl 73.13,14).

Uma vez eu fui a um velório de um senhor. A filha do falecido alisava o rosto do pai morto e dizia assim: “Que pecado Deus cometeu contigo!”. “Ele não podia ter feito isso”. Ao ver isso eu lhe disse que Deus não peca e que se Ele o levou é porque Ele tem toda autoridade sobre tudo. Ela podia até chorar pela perda do pai, mas não tinha o direito de pecar contra o Senhor.

2º - Busque ao Senhor em oração (Sl 73.16,17). Meu irmão, na hora da adversidade vá orar. Vá buscar a face do Senhor, pode ser que Ele lhe revele o porquê de tudo isso. Mas independentemente dele lhe revelar ou não, através da oração o Senhor acalma o nosso coração e ameniza a dor.

3º - Repreenda a voz do diabo em seu ouvido. O diabo é como o vírus do herpes que ataca quando a imunidade do corpo está baixa, da mesma forma o diabo é oportunista diante da nossa baixa imunidade espiritual. Por isso repreenda a sua voz tentando nos desestabilizar diante da crise.

A voz do diabo na vida de Jó foi a sua mulher e os seus amigos, mas ele não se deixou levar por eles em momento algum. Por isso vigie e lute contra isso.

CONCLUSÃO

O que Jó passou só nos mostra que a vida é muito dura e estamos sujeitos a tudo nesta vida. Quando lemos o livro de Jó devemos entender que o livro não fala de sofrimento, mas de fé. É a história de um homem que foi escolhido por Deus para passar por uma experiência penosa e estarrecedora através da tribulação. Sua reação apresenta uma mensagem que se aplica não somente a pessoas em sofrimento, mas a toda pessoa que vive na terra. É a história de todos nós. É a nossa fidelidade colocada à prova, seja na tribulação ou na bonança. Pois fidelidade a Deus independe de termos algo ou não, de estarmos com saúde ou doente. Fidelidade a Deus é na verdade um casamento, onde fazemos um juramento ao nosso cônjuge no altar diante do juiz e das testemunhas. É servir a Deus pelo o que Ele é e não pelo o que Ele dá e faz. Essa é a mensagem de Jó.

Pense nisso!

Fonte:

1 – Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo – Volume III, Poéticos. Editora Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 8.
2 – Keller, Timothy. Caminhando Com Deus em Meio à Dor e ao Sofrimento. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2016: p.62.