Por Pr. Silas Figueira
“E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2.16,17)
Quando nossos primeiros pais desobedeceram a ordem de Deus (Gn 3), a humanidade sofreu graves consequências. A queda trouxe morte espiritual e, como consequência, a ruína e a destruição. E uma das maneiras de vermos isto é quando vemos os homens dizendo que são independentes Deus, e que não precisam dEle para reger as suas vidas, apesar de todo caos ao nosso redor. Como disse John Stott: “não há nada que afasta tanto as pessoas de Cristo quando a sua incapacidade de ver que precisam dele, ou o fato de se recusarem a admitir isso” [1].
O que antes era harmônico transformou-se num caos, devido ao pecado. As consequências da queda foram danosas não somente para o homem mas também para a natureza: “E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos, e cardos também, te produzirá; e comerás a erva do campo” Gn (3.17,18). De alguma forma, devido ao pecado, o cosmos foi abalado também. Tanto que a palavra cosmético vem da palavra cosmos - ordem, conveniência, organização, ordem do universo - por isso que o inverso de cosmos é caos. Assim como as mulheres usam cosméticos para melhorar a aparência, a humanidade, como um todo, tem usado “cosméticos” – boas obras, justiça própria - para esconder a feiura espiritual que se encontra. Em outras palavras, são mortos espirituais maquiados com suas justiças, mas que aos olhos de Deus não passa de trapo de imundícia, como nos fala Isaías: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam” (Is 64.6).
Devido a isso, o homem está sob a ira de Deus, por isso precisa de salvação. Como nos fala Paulo aos Efésios 2.1-3: “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência; entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também”.
No momento que houve o pecado original, desencadeou-se uma série de males que foram contagiando a humanidade. Dentre muitos, eu quero destacar duas em particular: a idolatria e a perversão sexual.
1 – IDOLATRIA – Em uma definição básica, idolatria é tudo aquilo que toma o lugar de Deus no coração das pessoas. A idolatria vai muito além de se prostrar diante de uma imagem de escultura. A questão é muito mais complexa.
A idolatria é a rejeição a Deus, como nos fala Paulo: “Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis” (Rm 1.20-23).
No livro de Sabedoria, apesar de ser um livro apócrifo o que está registrado aqui é extremamente verdadeiro, nos diz: “Tudo está numa confusão completa – sangue, homicídio, furto, fraude, corrupção, deslealdade, revolta, perjúrio, perseguição dos bons, esquecimento dos benefícios, contaminação das almas, perversão dos sexos, instabilidade das uniões, adultérios e impudicícias – porque o culto de inomináveis ídolos é o começo, a causa e o fim de todo o mal. (Seus adeptos) incitam o prazer até a loucura, ou fazem vaticínios falsos, ou vivem na injustiça, ou, sem escrúpulo, juram falso, porque, confiando em ídolos inanimados, esperam não ser punidos por má-fé” (Sabedoria, 14.25-29).
Quando os homens rejeitam a verdade, abraçam a mentira em seu lugar. Diante disso, o erro assegura presença na mente das pessoas. Os homens rejeitam o conhecimento de Deus deixando de glorifica-lo e deixando de agradar-lhe.
Mas como o homem é por natureza um ser religioso, no momento que se afasta de Deus, este homem irá colocar no lugar de Deus outro deus. Irá criar sua própria religião com suas divindades e sistema de culto. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos, como disse Paulo, ou seja, em sua pretensa sabedoria os homens rejeitaram o conhecimento de Deus e mudaram a glória do Deus incorruptível em imagem de homens, aves, quadrúpedes e répteis. Isso sim é loucura e a mais baixa degradação que uma pessoa longe de Deus pode chegar.
A idolatria é algo tão danoso que os homens reduzem Deus a duas pernas, depois a quatro patas, e finalmente a rastejar sobre o ventre. E em todo tempo eles se dizem sábios [2].
2 – PERVERSÃO SEXUAL – Da idolatria para a imoralidade sexual é passo. John Stott diz: “A história do mundo confirma que a tendência da idolatria é acabar em imoralidade. Uma falsa imagem de Deus leva a um falso conceito quanto ao sexo. O sexo ilícito leva à degradação das pessoas como seres humanos” [3].
Como disse o filósofo indiano Jiddu Krishnamurti: “Não é sinal de saúde estar bem-adaptado a uma sociedade profundamente doente”. No entanto, os homens estão bem-adaptados a esta sociedade doente. E por que estão bem-adaptados? Porque eles não se veem doentes, se veem sãos. Pelo menos os homens sem Deus estão se vendo assim.
“Por isso também Deus os entregou às concupiscências de seus corações, à imundícia, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro” (Rm 1.24-27).
A Bíblia sempre condenou o homossexualismo e o lesbianismo, no entanto, por vivermos em uma sociedade adoentada pelo pecado, a degradação humana não parou por aí. No início da década de 90 a sigla GLS se popularizou no Brasil como referência ao público homossexual, tendo como significado: gays, lésbicas e simpatizantes – pessoas heterossexuais solidárias com a causa.
Com o passar dos anos, remodelações foram realizadas e novas siglas foram surgindo, dando voz a outras vertentes dentro do movimento em prol dos direitos homossexuais perante a sociedade. Então, a sigla já passou por diversas mudanças, e no final das contas, não existe um certo ou errado, mas a vontade de que todos se sintam representados. Abaixo segue algumas explicações LGBTQI+:
L – Lésbicas: Mulheres que se sentem atraídas fisicamente e/ou emocionalmente por outras mulheres.
G – Gays: Homens que se sentem atraídos fisicamente e/ou emocionalmente por outros homens.
B – Bissexuais: Pessoas que se sentem atraídas fisicamente e/ou emocionalmente por ambos os gêneros.
T – Transgênero: Pessoas em que não se identificam com seu sexo biológico, podendo ser homens ou mulheres transsexuais, além dos não binários, que é quando não há identificação com nenhum dos gêneros.
Q – Queer: Pessoa em que não se identifica com nenhum dos gêneros e não seguem o padrão binário (feminino ou masculino) imposto socialmente.
I – Interssexuais: Pessoas que nascem com características que não se enquadram propriamente aos gêneros feminino ou masculino, podendo ser relativas a anomalias cromossômicas, harmônicas ou genital.
+ : engloba todas as outras orientações sexuais, identidades e expressões de gênero.
Observem que eles se viram obrigados a colocarem um + (mais), pois a coisa descambou de tal maneira que creio que não há limites para o imaginário humano. Tanto que já temos:
Transracial – pessoas que nasceram em raça, no entanto, dizem que são de outra raça. A ativista americana Rachel Dolezal, que se passou por negra durante vários anos e foi protagonista de um intenso debate sobre raça e identidade após ter revelada sua origem caucasiana, afirma que a ideia de raça é uma mentira e se classifica como “transracial”.
Transdeficiente – Uma pessoa que nasce com o corpo saudável, mas que diz deveria ser deficiente. Teve um caso de um homem que cortou o próprio braço, pois, segundo ele, ele se via como um amputado. Teve o caso de uma mulher que pôs soda cáustica nos olhos, pois se sentia como uma pessoa cega.
Transbebê – Um homem pôs um anúncio no jornal querendo uma baba para ele, pois ele se sentia como uma criança.
A questão é: Onde irá parar essa insanidade cultural? Estamos caminhando a passos largos para a transespécie, onde cada um pode ser qualquer coisa, menos gente imagem e semelhança de Deus.
O pior de tudo isso é que muitos líderes cristãos, que deveriam ser voz profética censurando o pecado do mundo, estão transformando o cristianismo em uma mesa de debates. Ou seja, os princípios cristãos que nunca deveriam ser relativizados a pretexto de uma postura de “tolerância” e entendimento com os “diferentes” estão sendo relativizados. Há um movimento hoje que se esforça neste sentido, diz que devemos ter “novos diálogos”, lutam por um evangelho inclusivo, e por uma igreja sensível que se amolda e se acultura ao contexto e valores sociais vigentes.
No entanto, veja o que a Bíblia nos fala:
“E não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as” (Ef 5.11).
“Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus” (Tg 4.4).
“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1Jo 2.15,16).
Portanto, à luz da Bíblia, podemos dizer que este discurso não passa de um discurso estético, politicamente correto. Dizer que a igreja tem necessidade dialogar com a sociedade sobre esse tema LGBTQI+, inclusive sobre o aborto, novas configurações familiares, teologia negra, feminismo, “direitos humanos” ..., como se fosse possível luz e trevas entrarem em acordo e firmarem consenso. Como se os fundamentos cristãos pudessem ser adequados a partir do entendimento comum entre as partes. Biblicamente isso é impossível. O argumento utilizado é quase sempre o “amor”. Para eles o “amor” é a única doutrina, uma vez que tudo mais pode ser reinterpretado. Esta é uma tentativa diabólica de fazer a igreja “relevante” perante a sociedade, de produzir uma nova teologia a partir das ruas, de criar uma hermenêutica com base no pensamento de certas minorias, e reimaginar a igreja. Isso nada mais é que parte de um esforço bem articulado para levar adiante um processo de desconstrução não só da igreja, mas da própria sociedade, que passa pela quebra de paradigmas e conduz para um novo código moral que se contrapõe ao padrão divino ensinado nas Escrituras; é a criação de um novo deus, um novo evangelho, uma nova sociedade e uma nova religião.
Este “diálogo” é falácia maligna, é estratégia das trevas. Deus não deixou sua igreja na Terra para se entender com o mundo, senão para fazer discípulos de Cristo que venham a fazer jus ao nome cristão. A luz não comunga com as trevas, antes revela e condena suas obras más e desnuda o pecado; por isso os salvos são odiados (Mateus 24.9 – leia o contexto).
A verdadeira igreja é a noiva do Cordeiro que se preserva santa e irrepreensível (Ef 5.27; Ap 19.7). Ela não precisa ser reimaginada, deve ser igreja conforme o modelo bíblico, e capacitar os santos para cumprir seu papel de Sal e Luz. Igreja que busca consenso com o mundo não é igreja, é amante do diabo [4].
1 – Stott, John. A Mensagem de Romanos. Editora ABU, 4ª reimpressão 2009, pag. 71.
2 – Lopes, Hernandes Dias. Romanos, o evangelho segundo Paulo. Editora Hagnos, 2010, pag. 86.
3 – Stott, John. A Mensagem de Romanos. Editora ABU, 4ª reimpressão 2009, pag. 83.
4 – Monteiro, Cleber. NOIVA DE CRISTO, OU AMANTE DO DIABO? Acionado em 28/07/2020. https://pastorcleber.blogspot.com/2018/04/noiva-de-cristo-ou-amante-do-diabo.html