segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Deus manda, o Diabo obedece


Por Maurício Zágari

O início do livro de Jó nos mostra uma situação muito estranha. Em um primeiro olhar, temos a sensação de que o Senhor está engajado numa barganha com Satanás acerca da vida do “homem íntegro e justo; [que] temia a Deus e evitava fazer o mal” (Jó 1.1). Parece uma espécie de aposta, de desafio. Que esquisito. Como podemos entender isso? O que o relato desse diálogo entre o Senhor e o Diabo nos ensina? Se conseguirmos enxergar além, vamos perceber que Deus na verdade não barganhou em momento algum com Satanás, mas só deu papo para o inimigo e permitiu que ele afligisse Jó por uma razão bem específica, que veremos no último parágrafo deste texto.

É um enorme equívoco achar que Deus e Satanás estão numa batalha em pé de igualdade. Entenda: a única relação dos demônios com o Criador é no sentido de obedecer e implorar ao Senhor. Do mesmo modo que eu e você, como criaturas, dependemos da permissão do Pai para tudo, todo e qualquer ser espiritual tem de seguir o mesmo protocolo. Sim, Satanás é obrigado, em tudo, a dizer ao Todo-poderoso: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus”. Ele não tem escolha. Então o que esse trecho de Jó mostra não é um Deus que barganha com o Diabo, mas um Diabo que está submisso em tudo a Deus e tem necessariamente de obedecer-lhe – embora de muita má vontade, é verdade. Mas se o Senhor manda, o Diabo só pode dizer “amém” – as forças espirituais da maldade jamais moverão uma palha sequer se o Todo-poderoso não permitir.

Para tomar qualquer iniciativa, Satanás precisa que Deus conceda-lhe o direito. Veja que em Jó 1.12 o Senhor diz a Satanás: “Pois bem, tudo o que ele possui está nas suas mãos; apenas não toque nele”. Deus usa o verbo no imperativo, isto é, trata-se de uma ordem, algo que vem de cima para baixo: “Não toque”. Em nenhum momento há uma barganha: há uma concessão. E que vem não para satisfazer Satanás, mas para cumprir os propósitos divinos. Logo, do mesmo modo que Deus endureceu o faraó no Êxodo, usou Nabucodonosor, Ciro, Dario e outros incrédulos para realizar a sua soberana vontade, também só permite ao Diabo fazer suas diabruras se elas, no grande esquema das coisas, atenderem ao que o Senhor deseja. Nesse sentido, o Inimigo é como uma caneta que o Pai usa para escrever a História da eternidade. E canetas não têm autonomia, poder ou autoridade: são instrumentos usados para atender os desejos de quem os maneja.

As palavras de Cristo em Mt 4.10 (a tentação de Jesus no deserto) são absolutamente reveladoras: “Jesus lhe disse: Retire-se, Satanás!”. Perceba o que está acontecendo aqui. Jesus simplesmente dá uma ordem. E o que o Diabo faz quando Cristo diz “retire-se” é: “Então o Diabo o deixou”. Não há luta, não há barulho, não há disputa. Jesus diz e o Diabo simplesmente e subordinadamente obedece. A história se repete em Marcos 5, no episódio do endemoninhado gadareno. Quando aquela legião de demônios se vê diante do Rei dos Reis o que ela faz? “E implorava a Jesus, com insistência, que não os mandasse sair daquela região. Uma grande manada de porcos estava pastando numa colina próxima. Os demônios imploraram a Jesus: ‘Manda-nos para os porcos, para que entremos neles’” (Mc 5.10-12). Os demônios imploraram. Segundo o dicionário, isso significa que eles suplicaram, pediram encarecidamente e humildemente.

O livro de Jó nos antecipa o que veríamos séculos depois se cumprir em Cristo: a supremacia de Deus sobre o Diabo. Jesus lida com Satanás e os demônios sempre como um leão trataria um rato ou uma águia trataria uma serpente. Mateus 8.16 diz a respeito de Cristo: “Ao anoitecer foram trazidos a ele muitos endemoninhados, e ele expulsou os espíritos com uma palavra”. Repare, uma única palavra! Jesus não se rebaixava a ficar conversando com demônios se não houvesse propósito para isso. Com uma única palavra os mandava embora.

A Bíblia é sobre Cristo. O evangelho é sobre Cristo. Nossa vida é sobre Cristo. Se você reparar que está gastando muito do seu tempo lendo sobre demônios, falando sobre eles e se preocupando com eles é sinal de que suas prioridades na vida de fé precisam ser reavaliadas. Cristianismo é sobre viver com Cristo e amar o próximo e não sobre ficar gastando horas e horas com demônios. Ao final do livro de Jó, vemos o resultado de tudo o que o Diabo lhe causou: “Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram” (Jó 42.5), disse o patriarca ao Senhor. Não, não houve barganha entre Deus e Satanás. Houve, isso sim, a mão do Pai em ação para fazer seu filho amado crescer em intimidade consigo: o sofrimento de Jó fez com que ele deixasse de ser apenas um homem que cumpria a lei de um Legislador para se tornar um filho que tinha intimidade com um Pai.

Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício Zágari

Fonte: Apenas

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Ao caos, Jesus disse: Haja luz de vida!


Por Flávio Santos

João 1.1-18

Jesus estava com Deus e era Deus e, assim, a criação é obra de suas mãos em coautoria com Deus. Como Criador, Jesus resolutamente, decidiu resolver o problema da criação que, pela desobediência, voltou ao caos inicial: sem forma e vazia! Sem a imagem e semelhança de Deus.

Jesus resolveu o problema da criação pela encarnação: O verbo se fez carne!

Jesus encarnou-se para iluminar os que estão no caos: sem forma e vazios. Cristo iluminou a humanidade com a Sua luz de vida. A vida de Cristo trouxe luz às trevas da humanidade. Nas trevas o homem não conhece a glória de Cristo. Mas a partir do momento que a criação recebe a Sua luz cumpre-se o que Pedro disse: Deus nos tirou do império das trevas e nos trouxe para o reino do Filho do seu amor. 1Pe 2.9

Na encarnação do Verbo, Deus disse ao nosso caos: Haja luz de vida! A luz de Cristo nos ilumina de pelo menos três maneiras: Ilumina o nosso coração, mostrando quem somos, sem as máscaras e os disfarces que usamos; Ilumina o nosso caminho, mostrando estrada da vontade de Deus para as nossas vidas; e ilumina os céus, para que vejamos a Glória de Deus.

Siga a Jesus! Pois como ele mesmo disse: Eu Sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida; Jo 8.12

Jesus encarnou-se para converter o coração dos filhos ao Pai. Jesus veio para ser recebido pelos filhos da promessa do Pai: o povo de Israel, mas os seus não O receberam. Não tiveram fé para entender a Sua encarnação. Os filhos naturais não quiseram se tornar filhos convertidos. Por isso, outros que creram foram adotados por Deus, no Jesus encarnado.

A adoção por meio da encarnação se dá por meio de alguns passos: Primeiro, receber o Verbo Encarnado. Segundo, crer no Nome de Jesus; aqui o nome significa tudo que Jesus é. Terceiro, nascer de Deus, ou seja, experimentar o novo nascimento.

Jesus encarnou-se para que os homens vivessem na dinâmica da graça. O Verbo de Deus é glorioso. Cheio de graça e de verdade. Sua encarnação trouxe a nós a graça de viver na dinâmica da graça. Receber de sua plenitude graça por graça. Graça em vez de graça. Graça em lugar de graça. Uma sucessão de graça.

Viver na dinâmica da graça é ser levado de graça em graça, ainda que a graça seja cheia de espinhos; é viver na verdade libertadora de Deus; é viver na revelação de Deus na face de Jesus Cristo; é viver na encarnação do verbo!

Haja encarnação! Haja Luz! Haja vida! Haja adoção! Haja graça! Haja

Fonte: NAPEC

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

MANIFESTO DA OPBCB CONTRA O MINISTÉRIO PASTORAL FEMININO



Por Pr. Luiz Antônio Ferraz

Os opressores do meu povo são crianças, e mulheres dominam sobre ele; ah, povo meu! Os que te guiam te enganam, e destroem o caminho das tuas veredas. Isaías 3.12

INTRODUÇÃO

Vozes a favor do ministério pastoral feminino têm sido ouvidas nos arraiais batistas. Chegou até as igrejas, atingiu a denominação, contagiou o presbiterato.

Nós da OPBCB decidimos gritar, bradar bem alto para que, mesmo que discordem de nós, ainda assim ouvirão nossas vozes.

Oponentes afirmam que não há na revelação divina nenhuma passagem bíblica que demonstre de forma inequívoca a proibição do ministério pastoral feminino. Ora, a defesa do ministério pastoral feminino poderia parecer questão secundária de pequena importância, mas o que se verifica é que a autoridade das Escrituras está sendo questionada, porque não se acredita mais na inspiração verbal plenária das Escrituras, e atribui-se ao texto bíblico apenas um valor histórico e cultural. Quem concorda com isso, certamente nega a própria vontade de Deus, e suas palavras fazem coro com as palavras de Satanás: ”É assim que Deus disse…?” (Gn 3.1).

A aceitação do ministério pastoral feminino não é simplesmente uma mudança na eclesiologia da Igreja, mas um ataque às Escrituras Sagradas, proveniente de liberais (aqueles que negam abertamente a sua inspiração), e de grupos carismáticos (aqueles que colocam a experiência humana acima da revelação divina).

A aprovação de mulheres para o ministério pastoral feminino está fundamentada numa dessas duas premissas: liberalismo e experiência.

Para os liberais não faz diferença que os vocábulos gregos, que se referem ao ministério pastoral, estejam no gênero masculino, porque eles negam a inspiração verbal plenária das Escrituras.

Para os carismáticos, a experiência suplanta as normas bíblicas. Por causa do suposto sucesso1 de muitas pastoras, medido principalmente pelo crescimento numérico de suas igrejas, os carismáticos têm aceitado a ordenação de mulheres sem um exame meticuloso das Escrituras, considerando o sucesso como sinal de aprovação divina, não levando em conta o que diz a Palavra de Deus.

Neste manifesto não pretendemos explanar tudo o que a Bíblia tem a dizer sobre o assunto, mas vamos expor o suficiente para demonstrar, por meio de argumentação sólida e bíblica, que a aceitação do ministério pastoral feminino é contrária aos ensinamentos bíblicos.

Para tanto apresentamos este Manifesto classificado em quatro tópicos. No primeiro tópico apresentaremos os argumentos filosóficos, no segundo os argumentos teológicos, no terceiro os gramaticais, e no quarto os argumentos históricos.

Com esse manifesto, pequeno no tamanho, mas sólido no conteúdo, esperamos contribuir para a causa de Cristo e ajudar aqueles que têm amor à verdade e velam pela pureza do Evangelho.

Vamos aos argumentos!

I - ARGUMENTAÇÃO FILOSÓFICA

Existe uma linha de argumentação a favor do ministério pastoral feminino, que em nosso modo de ver, é um truque para desviar o foco. Em vez de apresentarem argumentos teológicos, baseados na Bíblia, são apresentados elementos filosóficos confusos, e isso, é claro, porque não há argumentos bíblicos a favor da poimengineia2.

Estamos nos referindo aos vocábulos para se referir aos taboritas e utraquistas que foram utilizados numa argumentação afirmando que nem os contrários nem os favoráveis ao ministério pastoral feminino baseiam suas premissas em fundamento bíblico, mas em preferência pessoal, deixando essa questão aberta.

Esse tipo de argumentação não traz solução, antes lança mais confusão ao debate. Obviamente quem se utiliza dessa argumentação são aqueles que defendem o ministério pastoral feminino, porque esse método procura minar o que já está estabelecido e solidificado ao longo dos tempos3, para depois, numa ocasião oportuna, conferir o golpe fatal, buscando as mudanças que se pretende, incluindo nelas as novidades da modernidade teológica.

Esse método chega a ser desonesto, porque toda mudança pretendida no seio de Igreja, sendo ela boa e amparada em sólido alicerce bíblico, não há porque rejeitá-la; haverá boa aceitação dela. Mas quando uma proposta encontra rejeição, não sendo esta rejeição resultado de mero capricho ou preferência pessoal, mas embasada em forte argumentação bíblica, Satanás procura minar tais argumentos, para que a mudança se perpetue. Esse é o método usado por Satanás para inserir heresias na igreja. Ele procura remover “os antigos limites” (Pv 22.28; 23.10) estabelecidos, porque não há como inserir novos costumes na liturgia da igreja,sem primeiro remover os antigos. Portanto a discussão que lança mão desse recurso (taboritas e utraquistas) está a serviço de Satanás, pois o papel dele não é trazer solução, mas lançar confusão.

Vejamos o que se diz a respeito dos taboritas e utraquistas.

1. TABORITAS E UTRAQUISTAS

Alguns debatedores, querendo demonstrar erudição, com intuito de fazer calar os mais simples, veicularam matéria em O Jornal Batista4, onde foi utilizado dois termos para distinguir os que são a favor e os que são contra o ministério pastoral feminino. Esses termos são “taboritas” e “utraquistas”.

TABORITAS: São aqueles que são contra o ministério pastoral feminino porque dizem que A BÍBLIA NÃO AUTORIZA DE FORMA EXPRESSA, i.é., ipsis literis, a consagração de mulheres ao ministério pastoral.

UTRAQUISTAS: São aqueles que são a favor do ministério pastoral feminino porque partem do pressuposto de que A BÍBLIA NÃO PROIBE EXPRESSAMENTE a consagração de mulheres para o exercício do ministério pastoral5.

Nesse sentido os taboritas estão de certo modo corretos, quando afirmam que não há autorização expressa a favor do ministério pastoral feminino, mas erram os utraquistas quando afirmam que não há proibição expressa.

Com esses argumentos querem nos classificar como taboritas, porque estaríamos apoiando nossa posição na falta de declaração expressa ou expressão positiva, enquanto nossos contrários estariam se apoiando na falta de proibição expressa. Usando uma linguagem mais compreensível, está sendo dito que aqueles que são contra o ministério pastoral feminino, defendem essa posição porque Deus não ordenou na Bíblia a consagração de mulheres, e os favoráveis ao ministério pastoral feminino, defendem o ministério pastoral feminino porque Deus não proibiu na Bíblia a sua realização. Portanto, segundo os taboritas, tudo o que Deus não ordenou, expressamente na Bíblia, não deve ser feito, e, para os utraquistas, tudo o que Deus não proibiu, expressamente na Bíblia, pode ser feito.

Seguindo essa linha argumentativa somos rotulados de taboritas. Embora seja verdade que não há declaração expressa a favor da ordenação de mulheres, o mesmo não pode ser dito em relação à proibição6, e por isso, recusamos esse qualificativo, pois entendemos que aquilo que Deus já proibiu não necessita de autorização expressa, pois aquilo que Ele definitivamente proibiu jamais terá sua autorização. Isso seria um disparate, pois Deus nunca irá dizer “FAÇA” para aquilo que Ele já proibiu e deixou claro que NÃO deve ser feito. É por isso que não há nenhuma passagem favorável à ordenação de mulheres, porque há passagens suficientes contrárias a ela.

É na proibição, não na ausência de expressão favorável, que apoiamos nossa argumentação; essa se constitui a base de nossa defesa, pois aquilo que Deus PROIBIU é aquilo que Ele ORDENOU. E isso nos basta!

A tabela a seguir esclarece esse assunto.
TABORITAS Apoiam-se na ausência de permissão expressa a favor do ministério pastoral feminino.
UTRAQUISTAS Apoiam-se na ausência de proibição expressa contra o ministério pastoral feminino.
OPBCB Apoiam-se na existência de proibição contra o ministério pastoral feminino.

Por defender essa posição somos rotulados de taboritas, mas recusamos esse rótulo, pois isso seria o mesmo que dizer que nossa argumentação estaria baseada no vazio, na falta de autorização expressa, e, portanto, sem a autoridade da Bíblia, o que não é verdade. Autoridade bíblica existe, o que não há é autorização expressa, portanto, não nos apoiamos no taborismo, mas em Deus que revelou sua vontade de forma clara quanto a este assunto. Disso se conclui que somos contrários ao ministério pastoral feminino não porque nos apoiamos naquilo que não está autorizado, mas naquilo que está proibido.

Por fim, queremos dizer que essa linha de argumentação (taboritas e utraquistas) pode ser muito interessante, mas é um caminho sofismático que ilude e engana, pois não leva a conclusão nenhuma, antes induz a dúvidas ainda maiores. Por isso vamos abandoná-lo aqui, e recorrer à nossa fonte de autoridade, que é a Bíblia: ”A Lei e ao Testemunho! se eles não falarem segundo esta palavra, nunca lhes raiará a alva” (Is 8.20).

2. PROIBIÇÃO BÍBLICA CONTRA O MINISTÉRIO PASTORAL FEMININO

Encontramos na Bíblia passagens do Novo Testamento que impõem restrições ao ministério pastoral feminino. Tais passagens não proíbem expressamente o exercício do ministério pastoral feminino, mas proíbem o exercício da liderança feminina, quando associada ao uso de autoridade. Ao vetar à mulher o exercício de liderança com autoridade, por inferência, a Bíblia também lhe veta o exercício do ministério pastoral, porque não existe ministério pastoral sem o uso da autoridade.

Nossos oponentes não ignoram a existência dessas passagens, e para fugir delas, apresentam argumentos frágeis que não se sustentam quando analisados com acuidade e precisão bíblica. A alegação deles é que tais passagens são culturais e não tem validade para os nossos dias. No próximo tópico, onde abordaremos essa questão sob o ponto de vista bíblico e teológico, iremos demonstrar a fragilidade de tal alegação.

II - ARGUMENTAÇÃO TEOLÓGICA

As passagens bíblicas que proíbem o ministério pastoral feminino, que se alega serem de natureza cultural, são as seguintes: 1Co 11.3-16; 1Co 14.33-36; 1Tm 2.11-14.

1Co 11.3-16: ”3Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo. 4Todo o homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça.5Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada. 6Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu. 7O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem. 8Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem.9Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. 10Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos. 11Todavia, nem o homem é sem a mulher, nem a mulher sem o homem, no Senhor. 12Porque, como a mulher provém do homem, assim também o homem provém da mulher, mas tudo vem de Deus. Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta?” 14Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido? 15Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu. 16Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus.”.

1ª Coríntios 14.33-36: “33Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.34As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. 35E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja. 36Porventura saiu dentre vós a palavra de Deus? Ou veio ela somente para vós?”.

1ª Timóteo 2.11-14: “11A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. 12Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. 13Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. 14E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.”.

1. ESSAS PASSAGENS NÃO SÃO CULTURAIS

As passagens citadas contem a prova de que a proibição de Paulo não é de natureza cultural. Há nessas passagens diversos motivos, e com eles iremos provar que Paulo não exige a submissão da mulher e as proíbe de falar com autoridade (de homem ou de pastor) na igreja, com base em argumentos culturais, mas em argumentos teológicos.

A insubmissão da mulher estava ocorrendo na Igreja de Corinto. Elas haviam recebido o dom de profetizar, porque a promessa da vinda do Espírito Santo não estava mais restrita aos profetas do Antigo Testamento, mas repousaria sobre homens, mulheres e crianças (At 2.17).

No exercício do dom de línguas e de profecia as mulheres estavam extrapolando, e muitas delas estavam profetizando e falando em línguas com a mesma autoridade dos homens.

A passagem de 1ª Coríntios 14.33-36, onde diz que mulher deve ficar calada, tem sido deturpada por posições extremadas, que proíbem as mulheres de pregar, de ensinar, de orar e até de falar no culto público. Mas o que Paulo tinha em mente quando escreveu esse texto deve ser interpretado em harmonia com 1Tm 2.11-14, ou seja a mulher não pode ensinar, falar, profetizar ou pregar, com a mesma autoridade de homem, pois isso seria insubordinação, porque ela deve estar submissa à autoridade de seu marido.

Se for isto o que Paulo pretendia – e cremos que seja – porque ele usou o verbo calar? Isso fez Paulo para manter a coerência do contexto, pois nos versículos anteriores (26 a 32) ele usa o verbo calar para ordenar aos que falavam em línguas e aos que profetizavam que se calassem (28,30). Paulo ordena que eles se calem porque estavam utilizando o dom que haviam recebido de forma incorreta.

Em seguida Paulo se dirige às mulheres e lhes ordena que fiquem caladas na igreja. Novamente Paulo corrige o uso incorreto dos dons. Ele não está transmitindo uma norma geral para toda a igreja, na qual as mulheres estariam proibidas de se manifestarem publicamente, pois isso entraria em conflito com outras passagens onde as mulheres são citadas como mestras e profetizas. Paulo ordena que elas permaneçam em silêncio para corrigir o abuso no qual elas estavam incorrendo, pelo uso dos dons com a mesma autoridade de homem.

De que forma as mulheres estavam falando em línguas ou profetizando com a mesma autoridade de homem? As mulheres da Igreja de Corinto decidiram tirar o véu, que era o sinal de que estavam sob a autoridade masculina, e começaram a profetizar no culto público. Com tal atitude elas estavam negando a autoridade do marido, e Paulo combate isso dizendo que o marido é o cabeça da mulher.

No capítulo 14 da epístola aos Coríntios, Paulo não estava proibindo as mulheres de falarem em línguas ou profetizarem, mas de falarem em línguas sem interpretação ou sem o uso do véu. Isso está de acordo com o que ele ensina no contexto anterior em 1Co 11.3-16.

Para corrigir os que falavam em línguas sem interpretação, Paulo manda que se calem. Para corrigir o excesso de profecias, Paulo ordena que falem dois ou três, e ordena aos demais profetas que se calem. Para corrigir as mulheres que falavam em línguas ou profetizavam com autoridade de homem, ou seja, sem o véu, Paulo ordena que se calem ou que usem o véu. Desse modo 1Co 14.33-36: deve ser entendido à luz do contexto de 1Co 11.3-16.

Prosseguindo eu seu argumento Paulo reafirma a autoridade masculina comparando a submissão da mulher ao marido com a submissão do Filho ao Pai. Veremos isso no próximo item.

2. DEUS É A CABEÇA DE CRISTO

Jesus Cristo voluntariamente se sujeitou à autoridade do Pai. Foi nesse sentido que Paulo afirmou que “…Deus [é] a cabeça de Cristo. (1Co 11.3). Esta subordinação não implica em inferioridade, mas em autoridade. O Filho em nada é inferior ao Pai, ”Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30), mas sujeitou-se na encarnação, à autoridade do Pai: ”…meu Pai é maior do que eu” (Jo 14.28).

Do mesmo modo deveriam as mulheres ser submissas aos seus maridos, porque isso não implica em inferioridade das mulheres, pois a função da mulher como ajudadora do homem (do marido) não significa que ela tenha menos valor. Homem e mulher são iguais em valor. A diferença aqui mencionada é de autoridade e não de valor. Assim como o Pai tinha maior autoridade do que o Filho (Jo 14.28), mas o Filho não era inferior ao Pai, assim as mulheres devem submeter-se à autoridade do homem, porque elas estão proibidas de exercerem “…autoridade sobre o marido…” (1Tm 2.12), porque o homem foi criado primeiro e recebeu essa autoridade de Deus: “…porque primeiro foi formado Adão, depois Eva.” (1Tm 2.13).

O que está em foco nessa passagem não é a superioridade de Deus e do homem ou a inferioridade de Cristo e da mulher, mas a primazia do Pai sobre o Filho7 e do homem sobre a mulher porque é ”…o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo.” (1Co 11.3).

3. A MULHER É A GLÓRIA DO HOMEM

O que Paulo quer dizer quando afirma que “O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do homem” (1Co 11.7)?

Adão foi criado por Deus, por isso ele é a glória de Deus, porque foi criado à sua imagem, e deve então refletir a glória de Deus. A mulher foi criada a partir do homem, portanto a glória do homem está nela, porque ela foi criada à imagem do homem. Quando a mulher é submissa ela honra seu marido (Pv 12.4). Nesse sentido ela é a glória do homem.

Porque a mulher é a glória do homem? Porque a mulher não pode liderar sobre o homem? “8Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. 9Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. 10Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos” (1Co 11.7-10).

A conclusão a que chegamos é que o homem recebeu de Deus autoridade sobre a mulher, não porque ele é superior à mulher, mas porque ele foi criado primeiro. Não foi o homem que Deus criou para ser auxiliar da mulher, mas a mulher que foi criada para ser auxiliadora do homem.

4. O USO DO VÉU

Paulo afirma que é indecente para a mulher orar com a cabeça descoberta (1Co 11.13). Temos aqui um costume e um princípio. O uso do véu é um costume que caiu em desuso, mas por meio desse costume havia um princípio que não perdeu sua validade – o princípio da autoridade do homem sobre a mulher.

Costumes não são permanentes, princípios são; por isso, devem ser observados sempre em todas as épocas. Enquanto um costume é cultural, geográfico e temporal, um princípio divino é de natureza universal, e aplica-se a todos os povos e culturas. Portanto, Paulo cita um costume (o uso do véu), mas recorre a um princípio (a submissão da mulher) estabelecido na criação, e esse princípio não somente foi estabelecido no tempo (na criação), mas também foi e está estabelecido na genética humana, na diferenciação (tanto na genética quanto na aparência) do sexo masculino do feminino. Paulo demonstra isso citando a LEI DA NATUREZA (1Co 11.14,15) ou, na linguagem científica, a lei da genética, que faz com que a mulher tenha cabelo crescido, enquanto homens tem barba e pelos por todo o corpo.

5. O COSTUME DAS IGREJAS

Paulo combate a insubordinação das mulheres da Igreja de Corinto dizendo que elas estavam sendo contenciosas, e que as outras igrejas não tinham esse costume: “Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus.” (1Co 11.16). Ele afirma que elas estavam criando confusão na igreja, e que isso não deveria ocorrer na Igreja de Corinto, porque nas demais igrejas dos santos havia a paz de Deus: “Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos” (1Co 14.33). Isto demonstra com claridade que Paulo não estava ordenando um costume cultural apenas para a Igreja de Corinto, pois a proibição à mulher de falar com autoridade era uma regra ordenada a todas as igrejas dos santos, e Paulo ordena à Igreja de Corinto que também observe essa norma.

6. COMO ORDENA A LEI

Paulo cita a Lei para proibir a mulher de exercer autoridade na igreja. Tal proibição não é resultado de um costume da época de Paulo, mas é o resultado de uma ordenança da Lei: “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei” (1Co 14.34).

A qual Lei Paulo se refere? A LEI DA CRIAÇÃO. Isso fica claro na Epístola de Paulo a Timóteo quando ele proíbe a mulher de falar com autoridade na igreja. Em 1Tm 2.12 Paulo usa a sua autoridade apostólica para determinar a proibição, e no verso seguinte ele informa o motivo de tal proibição. Em 1Tm 2.13 a preposição explicativa “porque” liga o verso 13 ao 12. Portanto a mulher é proibida de falar com autoridade na igreja “porque primeiro foi formado Adão, depois Eva” (1Tm 2.13). Notamos aqui que a proibição de Paulo não se baseia no costume ou na cultura da época, mas na criação.

7. A SUBMISSÃO DA MULHER

Os defensores do ministério pastoral feminino alegam que a submissão da mulher ao marido foi uma maldição que Deus colocou sobre a mulher, como resultado da queda no pecado, e que essa maldição foi cancelada no primeiro advento de Cristo. Eles citam Gálatas 3.28 para justificar esse pensamento, e dizem que em Cristo todos – homens e mulheres – são iguais, portanto “…não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. “ (Gl 3.28).8

Um exame sem preconceitos claramente comprova que a submissão da mulher ao seu marido não foi estabelecida na queda, mas antes dela. Paulo diz que a submissão foi estabelecida na criação, e explica isso dizendo que o homem tem autoridade sobre a mulher porque ele foi criado primeiro: ”8 Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. 9 Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem.” (1Co 11.8,9).

A mulher foi criada para ser ajudadora do seu marido (Gn 2.18), e nessa qualidade deve ser-lhe submissa. Quando Deus criou Adão e Eva, podemos ver em Gênesis 1.28, que Ele abençoou cada um deles com uma benção: “E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai …” (Gn 1.28).

(1) Frutificai: esta benção foi dada à mulher, pois ela se cumpre quando a mulher dá à luz.

(2) Sujeitai-a e dominai: Esta benção foi dada a Adão. Ele tinha a incumbência de dominar os animais, e a mulher deveria ajudá-lo como auxiliadora.

A queda no pecado ocorreu porque a mulher usurpou o papel que cabia exclusivamente ao seu marido. Adão submeteu-se passivamente e deixou que a mulher controlasse as circunstâncias. Houve uma inversão de papeis, a mulher tomou o controle e o homem lhe foi submisso.

Como consequência as duas ordens dadas por Deus foram afetadas. A benção concedida à mulher de dar à luz foi amaldiçoada com dores de parto: “…multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição com dor darás à luz filhos” (Gn 3.16), e o homem que se omitiu em seu trabalho, doravante teria que realizá-lo “no suor do teu rosto” (Gn 3.19).

A submissão da mulher ao marido que já havia sido estabelecida antes da queda, que era uma submissão voluntária9 e sadia, passou a ser doentia: “…e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará” (Gn 3.16).

O domínio do homem sobre a mulher e sobre a criação passou a ser com pesar, porque ele desprezou a autoridade recebida de Deus, e a transferiu à sua mulher. Ele não perdeu a autoridade na queda, nem o dever de ser o provedor do lar, assim como a mulher não perdeu o poder de dar à luz, mas doravante ela daria à luz com dores, e Adão exerceria seu domínio com pesar e proveria o sustento do lar com suor e fadiga: “E a Adão disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher….” (Gn 3.17). É por isso que Paulo, em 1Tm 2.11-15 associa a submissão da mulher com o seu poder de dar à luz. Eva não ficou satisfeita com a benção de dar à luz, ela quis a benção de Adão, ou seja, ela quis dominar, e Adão simplesmente desprezou a sua benção, quando transferiu sua autoridade à sua mulher.

8. SUBMISSÃO DO FILHO AO PAI

O primeiro advento de Cristo não cancelou o domínio masculino nem a submissão da mulher ao seu marido. Os apóstolos Paulo e Pedro nada dizem nesse sentido. Pelo contrário, eles os recomendam, porque a sujeição da mulher simboliza a subordinação do Filho ao Pai. Tanto Paulo como Pedro dão orientações para que a submissão da mulher ao marido, que se tornou doentia por causa do pecado, volte a ser sadia, como deveria ser, e como era antes da queda, por isso Paulo ordena às mulheres que sejam sujeitas “como ao Senhor” (Ef 5.22) e como a “igreja está sujeita a Cristo” (Ef 5.24), e aos maridos que amem suas mulheres “como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). Não há cancelamento aqui, nem do domínio nem da submissão, o que há é uma recomendação para que o domínio seja amoroso, e a submissão seja voluntária (Cl 3.19; 1Pe 3.7).

Essa relação de submissão do Filho ao Pai não terminará nem mesmo na Eternidade, pois lemos nas Escrituras que “…o mesmo Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou…” (1Co 15.28). Se ela será preservada na relação do Pai com o Filho, porque a submissão da mulher ao marido deveria ser cancelada, como alegam os defensores do ministério pastoral feminino? Isso destruiria o simbolismo, de sua relação com o Filho, que Deus deseja transmitir na relação entre marido e mulher. Mulheres que querem ser pastoras, não somente se rebelam contra a Palavra de Deus, mas também destrói a figura da sujeição da Igreja a Cristo, como esposa e esposo. Esta figura irá perdurar pelos séculos vindouros, quando o Esposo receberá a Igreja como esposa (Ap 21.2).

9. A MULHER NÃO PODE EXERCER AUTORIDADE

De acordo com 1Tm 2.12 a mulher está proibida de ensinar e usar de autoridade na Igreja: “Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio”. Essa proibição de ensinar as Escrituras com autoridade na Igreja (com a mesma autoridade de pastor), consequentemente a proíbe de ser ordenada pastora.10

É verdade que a palavra poimen (pastor) não aparece em nenhum dos textos nos quais Paulo proíbe a mulher de exercer autoridade. Em nenhum texto Paulo proíbe expressamente a mulher de ser pastora, mas ele a proíbe de ensinar com autoridade de homem. Ora, uma das qualidades que ser requer dos pastores é que eles sejam aptos para ensinar (1Tm 3.2). Nesse caso como uma mulher poderia ser pastora e estar apta para ensinar, se ela está proibida de ensinar com a mesma autoridade de homem, e, portanto com a mesma autoridade de pastor? Como uma mulher pastora poderia exercer o ministério pastoral sem exercer autoridade de pastor?

Deve ficar claro aqui que a OPBCB não é contra a mulher ensinar ou pregar. Mulheres podem orar (1Co 11.5,13). Mulheres podem ensinar outras mulheres (Tt 2.4). Mulheres podem ensinar homens, pois Priscila ensinou teologia para Apolo (At 18.24-26). Mulheres também podem profetizar como fizeram as quatro filhas de Filipe (At 21.8,9).11 Entretanto nem Priscila nem as filhas de Filipe eram pastoras. Elas ensinaram e profetizaram, mas não o fizeram como pastoras.

Examinando o ministério pastoral feminino sob o aspecto prático, teríamos o seguinte problema. Como fica a situação de um casal na Igreja, no qual a esposa é pastora e o marido um simples membro. Ele deve obedecê-la na Igreja, e ela obedecê-lo em casa? Quer dizer então que, se concordarmos com essa situação, quando a mulher está em casa ela perde o status de pastora? Em casa ela é apenas esposa, e deve obedecer a seu marido, mas na Igreja, é ela quem comanda, pois é a pastora de seu marido, e, por isso, ele deve sujeitar-se a ela? Isto é absurdo!

Diz o texto que a mulher que deseja aprender deve perguntar em casa ao seu marido: ”E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.” (1Co 14.35). Se a mulher for pastora, quem deve perguntar em casa, a esposa ou o marido?

10. ADÃO NÃO FOI ENGANADO

Em 1Tm 2.14 Paulo recorre à queda para informar que Adão não foi enganado: “E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão”. De onde Paulo extrai essa informação? Da própria Escritura; a própria Eva diz que foi enganada (Gn 3.13). Os argumentos de Paulo não se baseiam em acontecimentos e costumes de sua época, mas em acontecimentos que ocorreram no Jardim do Éden. Ele usa a queda para ilustrar como as responsabilidades de cada um (Adão e Eva), quando invertidas contribuíram para a queda no pecado. Satanás conseguiu subverter a ordem da criação. Ele convenceu Eva a decidir por sua própria conta, não debaixo da autoridade de seu marido, e Adão, negligenciando seu papel de cabeça, concordou com isso, o que resultou na queda.

Paulo usa sua autoridade apostólica para dizer que a mulher não pode ensinar na igreja, com autoridade como se ela fosse a cabeça, porque esta é uma prerrogativa que Deus concedeu ao homem, e ele cita o primeiro casal como exemplo, mostrando que quando essa ordem foi invertida ela culminou na queda da raça humana no pecado.

Portanto a introdução do ministério pastoral feminino na Igreja é na verdade, outra investida de Satanás, para conduzir a Igreja à destruição. É certo que a Igreja jamais será destruída (Mt 16.18), mas isso poderá trazer juízo sobre ela.

11. A MULHER NÃO RECEBEU CHAMADO PARA O MINISTÉRIO PASTORAL

Paulo ordenou a Tito que consagre presbíteros de cidade em cidade (Tt 1.5). Em cada cidade ele deveria ordenar um homem ao presbitério, pois em sua lista de qualificações para o exercício do presbitério, Paulo exige que os candidatos sejam homens, pois se refere a eles como “marido de uma mulher” (Tt 1.6). Não há mulheres na lista de qualificações de Paulo, porque a mulher não recebeu chamado para o pastorado. Este ofício lhe foi proibido. É verdade que a proibição contra o ministério pastoral feminino não é explícita, mas está implícita na proibição da mulher de exercer autoridade na igreja. A mulher não recebeu autoridade (nem chamado) para esse ofício, e isso está patente no chamado que Deus fez exclusivamente para homens. Deus chamou somente homens, e se Ele quisesse mulheres no ministério pastoral feminino Ele as teria chamado e isso estaria registrado na Bíblia

Se Deus chamou mulheres para o ministério pastoral feminino no tempo apostólico porque não encontramos nenhum registro bíblico desse chamado? A resposta a essa pergunta é que Deus não chamou mulheres para o ministério pastoral feminino. E se Ele não as chamou no tempo apostólico, também não as tem chamado nos dias atuais.

III - ARGUMENTAÇÃO GRAMATICAL

1. AS QUALIFICAÇÕES DOS PASTORES

Em 1Tm 3.1-7 Paulo descreve as qualificações do bispo (episkopos), semelhante a pastor (poimen) ou ancião (presbuteros). O bispo deve ser MARIDO de uma mulher. A tradução literal desse texto, conforme aparece no original, escrito em grego, seria que o bispo deve ser “macho de uma mulher” (γυναικος ανδρα), portanto o termo grego é masculino e refere-se a um homem. Não existe a expressão “MARIDA DE UMA MULHER” a não ser nas relações entre lésbicas.

2. A CITAÇÃO DA SENHORA ELEITA

Em Tito 2.3 há uma expressão que os defensores do ministério pastoral feminino, associam com a segunda Epístola de João, e usam para defender sua posição: ”O ancião à senhora eleita…” (2Jo 1). Em Tito 2.3 lemos “As mulheres idosas…” (Tt 2.3). O vocábulo grego é presbitis (πρεσβυτις), traduzido por “ancião” ou “idoso”. Em Tito Paulo cita “mulheres presbitis”, ou seja “mulheres idosas”. Alguns dos defensores do ministério pastoral feminino querem ver aqui o que não existe. Dizem que o título de presbítero está sendo atribuído às mulheres, e alegam que João em sua epístola quando se dirigiu à senhora eleita, estava se dirigindo a uma presbítera ou pastora. Uma leitura natural do texto, sem deturpações, há de demonstrar que a senhora eleita era apenas uma mulher anônima, cujos filhos crentes andavam na verdade. Era provavelmente uma senhora influente cujo nome João ocultou a fim de protegê-la da perseguição.

3. O GÊNERO MASCULINO DAS PALAVRAS

Todas as palavras traduzidas por “pastor”, “bispo”, “presbítero”, e “diácono”, e os pronomes a elas associados, estão no gênero masculino sem nenhuma exceção no texto original. Portanto ao defender o ministério pastoral feminino coloca-se em dúvida a inspiração verbal das Escrituras. Isso não é novidade, porque se prolifera o número de pastores batistas que não mais acreditam na inspiração verbal-plenária, na inspiração de cada palavra da Bíblia, em número, gênero e grau. Eles creem (se é que de fato creem) na inspiração apenas de conceitos, não de palavras, portanto para eles tanto faz se a palavra está no masculino ou no feminino. Mas nunca devemos nos esquecer que foi o próprio Senhor Jesus quem disse que ”…nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido.” (Mt 5.18).

IV - ARGUMENTAÇÃO HISTÓRICA

Os fatos históricos claramente demonstram a falácia do ministério pastoral feminino.

1. NÃO HÁ MULHERES NA LIDERANÇA DE ISRAEL

O Senhor escolheu doze homens para serem os cabeças das tribos de Israel. Ele assim estabeleceu o modelo de liderança. Quando esse modelo foi violado, resultou em destruição. Quando a nação de Israel se submeteu à liderança feminina, foi duramente repreendida por Deus: ”Os opressores do meu povo são crianças, e mulheres dominam sobre ele; ah, povo meu! Os que te guiam te enganam, e destroem o caminho das tuas veredas.” (Is 3.12). Vejamos mais dois exemplos:

1. Jezabel a rainha megera que cultuava Baal;

2. Atalia uma rainha sórdida e assassina. Ela era tão má e cruel que quando morreu o ”povo da terra se alegrou, e a cidade ficou em paz…” (2Cr 23.21).

Seria uma coincidência o fato de muitas mulheres, que foram ordenadas pastoras, quando são questionadas, se ofendem e passam a agredir com palavras apresentando comportamento semelhante ao de Jezabel e de Atalia? Testemunhos nos dão conta de “pastoras” que não aceitam a rejeição e se rebelam, manifestando conduta incompatível e espírito com ausência de mansidão.

2. NÃO HÁ MULHERES ENTRE OS DOZE APÓSTOLOS

Jesus Cristo escolheu somente homens para serem apóstolos. Assim como fez com Israel, Deus estabeleceu o mesmo modelo de liderança masculina na igreja. Não lemos no Novo Testamento que uma mulher tenha liderado alguma igreja. Também nenhuma mulher fundou uma igreja. Elas foram excelentes ajudadoras. Elas se alegravam em ajudar, e não se sentiam diminuídas; nunca quiseram sobrepujar os homens, e nunca quiseram ultrapassar aquilo que Deus determinou.

3. NÃO HÁ MULHERES ENTRE OS ESCRITORES DA BÍBLIA

A Bíblia foi escrita por cerca de 40 autores, mas entre eles não há nenhuma mulher. Se a mulher é igual ao homem, na forma como querem os defensores do ministério pastoral feminino, não seria isso uma injustiça da parte de Deus?

4. NÃO HÁ PRECEDENTES NA HISTÓRIA DA IGREJA

Paulo ordenou apenas homens ao presbitério (At 14.23); nenhuma mulher foi chamada para acompanhar Paulo e Barnabé (At 13.1-3); o Espírito Santo constituiu bispos e não bispas (At 20.28); em Filipo haviam bispos e diáconos, não havia bispas e diaconisas (Fp 1.1); Paulo não ensinou ordenação de mulheres (1Tm 3.1-5); a consagração ao ministério era realizado por intermédio do presbitério, que era composto de homens (1Tm 4.14; 5.17,22); em Creta, onde haviam muita imoralidade (inclusive homossexualismo e lesbianismo), apenas homens foram prescritos para o presbitério (Tt 1.5). Pedro não menciona mulheres presbíteras em suas cartas (1Pe 5.1-4); Tiago não incluiu as mulheres entre os presbíteros, para fazerem orações de fé (Tg 5.14). Hebreus também não menciona mulheres entre os pastores (Hb 13.7,17).

Que dizer da história da igreja? Durante séculos nunca se ouviu falar em mulheres no ministério. Isso é uma questão recente. Esta polêmica não vem de um contexto teológico, mas político-social dos Estados Unidos, na virada do século 19 (ela teve seu berço no meio evangélico em 1848 com a convenção de mulheres na capela da Igreja Metodista Wesleiana, em Seneca Fall, New York, nos EUA).

Será que a Igreja, que é considerada coluna e baluarte da verdade (1Tm 3.15), errou por 19 séculos, durante os quais se omitiu quanto a ordenação de mulheres? Depois de 19 séculos, teria a Igreja recebido uma nova revelação divina, através da qual, sua visão, antes entenebrecida pelo preconceito, teria sido aberta para enxergar e apoiar o ministério de mulheres? Deus permitiria tal injustiça contra as mulheres por 19 séculos? Por que Deus não fez esta revelação logo no início da era cristã? Por que Ele tardou 19 séculos para fazer justiça?

5. ARGUMENTO DO TEMPO E DO ESPAÇO

Certamente que e ação de ordenar mulheres ao ministério pastoral, partiu dos homens, que “pressionados” pelo movimento feminista tão forte na Europa, associados ao pensamento liberal racionalistas de teólogos, e de pastores totalmente afastados da Bíblia e da obediência a ela, não tiveram nenhuma dificuldades em ordenar mulheres ao pastorado. Exemplo disso, é que foi preciso que se passassem quase dois mil anos para que isto acontecesse, mais precisamente na Europa, na Alemanha, isto deu-se na década de oitenta do século passado, em uma igreja Luterana. Este mau exemplo atingiu outros países da Europa e também a América do Norte, chegando a América Latina, e consequentemente ao Brasil. No Brasil não temos como precisar, se em uma Igreja tradicional histórica, ou no movimento neopentecostal, tudo indica que foi concomitante, que mulheres foram ordenadas ao ministério feminista, e então, partiram de pastoras, para bispas e apóstolas, seguindo o rastro dos homens. A conclusão deste argumento, é que podemos lançar por terra a tese de que mulheres hoje sejam vocacionadas por Deus para o ministério pastoral, que esperou quase dois mil anos, para vocacioná-las, e autorizar aos pastores que as ordenassem. Ora Deus não muda de opinião, não muda a sua Santa Palavra.

CONCLUSÃO

Considerando tudo o que foi dito acima, nós os pastores da ORDEM DOS PASTORES BATISTAS CLÁSSICOS DO BRASIL – OPBCB vimos a público, através deste Manifesto, protestar contra o ministério pastoral feminino, por considerá-lo um ato de desobediência à Palavra de Deus e uma afronta à classe ministerial, de exclusividade varonil.

Assinam este documento em nome da ORDEM DOS PASTORES BATISTAS CLÁSSICOS DO BRASIL os seguintes pastores da COMISSÃO DE REDAÇÃO DO MANIFESTO SOBRE O MINISTÉRIO PASTORAL FEMININO.

SÃO PAULO, 06 DE MAIO DE 2013.

RELATOR: PASTOR LUIZ ANTONIO FERRAZ

MEMBROS:

PASTOR CARLOS ALBERTO TEÓFILO FIRME

PASTOR HELCIAS RODRIGUES DE SOUZA

PASTOR MESSIAS JOSÉ DOS SANTOS

PELA ORDEM: PASTOR WAGNER ANTONIO DE ARAÚJO, PRESIDENTE
________________________________________
1 O verdadeiro êxito (êxito é melhor que sucesso) é resultado da obediência à Palavra de Deus: “Não se aparte da tua boca o livro desta lei …tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e serás bem sucedido” (Js 1.8).

2 O termo poimengineia vem de poimen (pastor) + gine (mulher), portanto “mulher pastora”. Termo cunhado para se referir ao ministério pastoral feminino.

3 A ausência do ministério pastoral feminino está solidificada na história da igreja. Isso é coisa recente, pois não há registro que alguma mulher tenha exercido este ministério.

4 O Jornal Batista, nº 26 de 27/06/2010, p. 14.

5 Para uma abordagem mais detalhada sobre o significado desses vocábulos consulte o link http://opbcb.org/porque-pensamos-como-pensamos/, em nosso Blog, pois não pretendemos exaurir essa discussão nesse manifesto, apenas os citaremos superficialmente.

6 Na verdade não há nenhuma proibição expressa na Bíblia contra o ministério pastoral feminino, mas não podemos dizer que não há proibição. Não há proibição expressa, mas proibição há. Uma proibição expressa seria algo como “Não ordenarás mulheres ao ministério” ou “A mulher não pode exercer o ministério pastoral”.

7 Jesus receberá do Pai a preeminência de todas as coisas porque Ele é o primogênito da criação: “15 O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação. 16…tudo foi criado por ele e para ele. 17 E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. 18 E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência.” (Cl 1.15-18). Entre os hebreus o primogênito tinha direito a uma porção dobrada da herança pelo simples fato de ter nascido primeiro (Dt 21.17). O homem recebeu autoridade sobre a mulher porque foi criado primeiro (1Tm 2.13) e a mulher foi criada para ele (1Co 11.9), assim como tudo foi criado para Cristo, para que em tudo tenha a preeminência.

8 Este versículo, usado dessa maneira incorreta, fora do seu contexto, demonstra como eles constroem seus argumentos com o uso indevido de passagens. A passagem em questão não está se referindo a ministérios, pois a Bíblia mesmo esclarece que há diferenças de ministérios (1Co 12.5), mas se refere ao valor que tem o homem e mulher redimidos por Deus e comprados pelo mesmo preço (1Co 6.20), e que compartilham da mesma “graça da vida…” (1Pe 3.7).

9 O vocábulo grego usado em Ef 5.22, Cl 3.18 e 1Pe 3.1 traduzido para sujeição é “hypotasso”, está na voz passiva, e isto significa que a submissão da mulher deve ser uma ação voluntária da esposa. Ela que deve se sujeitar de boa vontade e com alegria, do mesmo modo que a igreja deve submeter-se a Cristo.

10 Essa proibição estende-se ao ministério diaconal, ou seja, a mulher também não pode ser diaconisa.

11 Hoje não temos profetas. Os profetas de hoje são os pastores que profetizam quando pregam a Palavra. Portanto se a mulher pode profetizar então ela pode pregar, porque a profecia era um tipo de pregação (1Co 14.1), mas ela não pode pregar na qualidade de pastora.

Fonte: OPBCB

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Ensaios sobre a Igreja na pós-modernidade: a “Igreja Emergente”


Por Jonas Ayres

Infelizmente, são poucos os cristãos que conseguem conciliar a ortodoxia cristã com a propagação da mensagem do Evangelho para a sociedade pós-moderna. Sob a alegação que a mensagem apregoada pela igreja do horizonte moderno é muito intolerante e “fundamentalista”, passamos a encarar uma era de extremos no contexto eclesiástico. Em um dos lados da corda está o movimento da Igreja Emergente, que enfatiza sobremodo o pragmatismo, deixando de lado a teologia cristã e ajustando-a ao pensamento pós-moderno, criando assim a “Ortodoxia Generosa”[1]. A leitura do livro “Ortodoxia Generosa” de McLaren deixa muito claro ao leitor que o autor é (ou deseja ser) extremamente generoso com todo e qualquer credo existente no mundo[2], menos com o cristianismo tradicional, taxado pelo autor de exclusivista, fundamentalista e intolerante.

A origem deste movimento é recente, conforme Daniel (2007, p.29), a Igreja Emergente:

Nasceu no final do século XX, mas floresceu no início do século XXI. Trata-se de um movimento que prega a necessidade de uma nova compreensão do Evangelho e da Espiritualidade, e de uma nova teologia com uma nova abordagem da Bíblia. Um de seus mais famosos proponentes é o pastor americano Dan Kimball, que lançou em 2003 o livro The Emerging Church: Vintage Christianity for New Generations (Zondervan).[3]

E continua esclarecendo o início do movimento bem como indicando os principais divulgadores:

Apesar de Dan Kimball ter sido o primeiro a lançar um livro apresentando claramente a proposta da Igreja Emergente, não foi ele o criador do termo para designar o movimento. O título “emergente” surgiu dois anos antes do livro de Kimball e é invenção dos pastores Doug Pagitt e Brian McLaren, como este mesmo conta em seu livro Uma Ortodoxia Generosa – a Igreja em tempos de Pós-modernidade (Zondervan, EUA, 2004 e Editora Palavra, 2007).

Acaudilhados principalmente por Brian McLaren, os emergentes crescem a largos passos acusando o cristianismo “tradicional” de ser institucionalizado demais, rígido demais, ultrapassado, exclusivista ao extremo e fechado.

Dentre as características marcantes do Movimento Emergente, é possível destacar o seu espírito de protesto contra o cristianismo institucionalizado ou denominacional. Os Emergentes acreditam que o modelo de igreja comum está ultrapassado e não consegue atender as demandas do pós-modernismo. Interessante é notar que esta aversão é justamente pelo cristianismo tradicional defender a verdade absoluta, elemento que os pós-modernos têm aferro. Abominam também o conceito de hierarquia nas igrejas, julgando-os anti-bíblicos; nas Igrejas Emergentes, a figura de pastores, bispos, presbíteros praticamente não se encontram.

No aspecto teológico, os Emergentes têm verdadeira repulsa às Teologias Sistemáticas (livros ou disciplina em si) e apologética tradicional. Acreditam que as Sistemática nada mais fizeram que bitolar os crentes, sendo apenas um amontoado de textos bíblicos organizados de modo sistemático em torno das opiniões pessoais dos autores das mesmas; da mesma forma, julgam que a apologética cristã está atrasada e não deve permanecer defendendo a fé como vem fazendo no decorrer da história. Defender a fé nos dias de hoje (pós-modernismo), é ofensivo na mentalidade dos emergentes, tão pluralistas e inclusivistas[4].

O capítulo 6 do livro de Kimball (2008, p.87-100), intitulado “Nascido (Budista-Cristão-Wiccaniano-Muçulmano-Hétero-Gay) nos Estados Unidos”, mostra como os Emergente consideram os cristãos como errados em sua forma de pensar e como os emergentes são ultra-receptivos para com frentes de pensamento que divergem da verdadeira ortodoxia bíblica. Ao final do capítulo, Kimball praticamente tece – utilizando um fato real – uma apologia ao homossexualismo. Muito estranho para um cristão “clássico”, como menciona a capa da referida obra[5].

Os Emergentes julgam ser a melhor opção eclesiástica no atual contexto por defenderem que a sociedade atual é pós-cristã. Muitos que estão frequentando alguma igreja que tenha a filosofia emergente ou são pessoas “desingrejadas”, os quais outrora estiveram arrolados como membros de outra denominação, mas dada decepção de qualquer ordem migraram para este movimento, ou são pessoas das mais variadas índoles, que tem em comum a repulsa pelo modelo convencional de igreja e que se adaptam facilmente no meio Emergente, justamente por ser um meio já encharcado com o pós-modernismo.

Para o cristianismo verdadeiramente sóbrio e ortodoxo, a invasão da generosidade dos emergentes é um alerta a introdução do pós-modernismo no seio do cristianismo evangélico: “Não é de se admirar: a Igreja Emergente surgiu como um esforço deliberado para tornar o cristianismo mais apropriado a uma cultura pós-moderna (MACARTHUR, 2007, p.46).

Como dito anteriormente, além de Brian McLaren, outro expoente do Movimento Emergente é Dan Kimball. É fácil notar que a obra-prima de Kimball quanto a este movimento, intitulada “A Igreja Emergente: cristianismo clássico para as novas gerações” é dúbia, confusa e generosa demais. Já no prefácio da referida obra é possível encontrar variações de pensamento muito profundas, entre Rick Warren e Brian McLaren. As opiniões de ambos são ambíguas característica do movimento (MEISTER, 2006, p.99).

Um livro cheio de figuras, ilustrações, sugestões de modelo de culto. Chama atenção a seguinte definição, em modo de diagrama, que traz a proposta pós-moderna para que a igreja seja bem sucedida num futuro breve (KIMBALL, 2008, p.19-20):

Primeira parte deste livro: Situa-se o contexto histórico para a compreensão da necessidade de mudança. Sem compreender a primeira parte, a segunda será apenas superficial (desconstruindo). Segunda parte deste livro: Idéias práticas para eventual implementação em sua igreja e ministérios. (reconstruindo).

Enquanto muitos estão preparando sermões e se mantendo ocupados com questões internas das igrejas, algo alarmante está acontecendo do lado de fora. O que antes era uma nação com uma cosmovisão judeu-cristã está rapidamente se tornando uma nação pós-cristã, não alcançada e sem experiência nem vínculo com a igreja. Gerações estão surgindo ao nosso redor sem nenhuma influência cristã. Então devemos repensar tudo o que estamos fazendo em nossos ministérios (destaque do autor).

Desconstruir, eis o caminho Emergente. É como se tudo que o Cristianismo Histórico fez seja anátema aos Emergentes. Posando de movimento “mente-aberta”, tornam-se exclusivistas no seu modo de pensar, levando os seus seguidores a pensar que de fato trata-se enfim da aurora da verdade.

Basta uma breve análise daquilo que o próprio McLaren afirma para perceber que o movimento é nocivo à saúde da igreja cristã. Fazendo menção em todo livro “Uma Ortodoxia Generosa” a uma gama variada de credos – e como os cristãos tradicionais são “bitolados” – McLaren se mostra bastante entusiasmado e receptivo com o pluralismo religioso que rege a pós-modernidade. Provavelmente, o maior atestado deste pluralismo irrestrito de McLaren seja o capítulo 15, intitulado “Por que sou católico”, onde o autor relata um insólito episódio (MCLAREN, 2007, p.243-244):

Um dia, minha caminhada matinal me levou até a Igreja Católica Romana Nossa Senhora da Paz, perto do meu hotel. Atrás da igreja havia uma enorme estátua de Maria cercada por um lindo jardim, que por sua vez estava cercado de pistas abarrotadas. Atraído por esse pequeno jardim de paz no meio do trânsito matinal caótico da área da baía, me vi sentado sobre um banco com a imagem de Maria me fazendo sombra, me olhando com um olhar gentil e seus braços estendidos em minha direção. (…) Que irônico, pensei, para um menino criado em família protestante estar sentado ali com lágrimas nos olhos, emocionado com Nossa Senhora da Paz (…). Naquele dia também me tornei, em certo sentido, um pouco mais católico.

É de se supor que McLaren tenha postura semelhante ao se deparar com a imagem de Buda, Shiva ou Osíris? Se a igreja migrar para este tipo de conduta ecumênica e irrestrita, poderemos jogar no lixo 500 anos de Reforma Protestante.

Outro livro de importância para a Igreja Emergente, de autoria de Brian McLaren é “A Igreja do outro lado”[6]. Tal livro mostra a aversão da Igreja Emergente pela Teologia Sistemática, Apologética Tradicional e organização eclesiástica.

Por fim, outro autor que influencia o modelo Emergente é Stanley J. Grenz, com seu livro “Pós Modernismo: um guia para entender a filosofia de nosso tempo”[7].

CRÍTICA À IGREJA EMERGENTE

Se o Movimento Emergente está crescendo a largos passos, o volume de páginas na internet, seja sites ou blogs, artigos e livros com as devidas criticas ao liberalismo extrapolado dos emergentes cresce praticamente na mesma proporção.

O problema não pode ser ignorado, pois o movimento emergente, carregado com a filosofia pós-moderna, avança com muita força, misturando algumas verdades com muitos sofismas. Vejamos as palavras a seguir (MACARTHUR, 2008, p.11) numa advertência sobre o risco deste movimento:

Hoje em dia, esse tipo de coisa [Igreja Emergente] goza de muita popularidade. McLaren foi o autor ou o co-autor de cerca de uma dúzia de livros, e seu total desprezo pela certeza é um tema ao qual ele volta repetidas vezes. Em 2003, a editora Zondervan e a organização Especialidades da Juventude trabalharam em conjunto para iniciar uma linha de produtos chamada Emergente/EJ. Publicam livros, DVDs e produtos de áudio num ritmo intenso e em abundância.

Os críticos do movimento apontam os erros mais evidentes dos Emergentes, alguns deles já apresentados de modo simples anteriormente. Enquanto alguns críticos são mais “amigáveis”, outros são mais explícitos nas palavras. Vejamos a seguinte declaração (LAHAYE, 2007):

Entre os falsos ensinos que brotam da Igreja Emergente encontra-se uma forma não tão sutil de ataque à autoridade da Bíblia – um claro sinal de apostasia. Eles não mais afirmam: “Assim diz o Senhor” (apesar do uso dessa expressão por mais de duas mil vezes na Bíblia), por temerem que isso ofenda aquelas pessoas que apregoam a igualdade de todas as opiniões quanto ao seu valor. A Palavra de Deus não é mais interpretada por aquilo que realmente diz; em vez disso, é interpretada por aquilo que diz para você, desconsiderando, assim, o fato de que a formação educacional e a experiência de vida de uma pessoa podem influenciar a maneira pela qual ela interpreta as Escrituras, a ponto de levá-la irrefletidamente a um significado nunca planejado por Deus para aquele texto.

E continua expressando sua reprovação e opinião particular sobre a Igreja Emergente:

Eu, particularmente, creio que eles [defensores do pós-modernismo emergente], na verdade, são hereges, apóstatas e lobos “disfarçados em ovelhas”. Devido ao fato do cristianismo liberal ter caído no vácuo do descrédito e das igrejas liberais terem ficado vazias, eles agora fazem uma tentativa de re-empacotar sua teologia sob a forma de pós-modernismo. Na realidade, a maior parte desses conceitos não passa daquilo que costuma ser chamado de modernismo ou liberalismo, ainda que expressos com uma terminologia pós-moderna.

Muitos se assustam ao ler opiniões como a citada acima, mas nunca se deve esquecer que, na história cristã, em praticamente 2.000 anos, inúmeras investidas contra a ortodoxia surgiram, muitas delas explicitamente contrárias aos padrões bíblicos e outras um pouco mais “amigáveis” e “agradáveis”.

No Movimento Emergente, outra característica muito marcante é a ênfase dada ao pragmatismo (ou ortopraxia); levando sempre em consideração o conceito popular de que se algo está crescendo, fazendo e acontecendo, por inferência esse algo é bom. Será? Por isso é sempre necessário avaliar os mais finos conceitos que regem um movimento (ainda mais quando tal reivindica ser cristão). Vejamos a opinião de um cristão bíblico que tem lutado muito contra as investidas emergentes (MACARTHUR, 2008, p.66):

Mas o que deve ser notado aqui é que, no sistema de McLaren, a ortodoxia realmente é uma questão de prática e não de crenças verdadeiras. Embora reconheça que esta idéia é “escandalosa”, apesar disso, ele a afirma como a mensagem central do seu livro [Uma Ortodoxia Generosa]. Francamente, é difícil ver essa perspectiva como outra coisa, senão como a velha e familiar incredulidade, arraigada numa rejeição dos ensinos claros das Escrituras. McLaren elevou as boas obras do próprio pecador acima da importância da fé fundamentada na verdade do Evangelho. Não devemos admirar que ele sinta grande afinidade com budistas e hinduístas. No campo final, muitas das idéias dele a respeito do papel da retidão e das boas obras no cristianismo não diferem fundamentalmente das idéias dessas religiões.

Por fim, vale lembrar que a Igreja Emergente no Brasil segue passos um pouco diferentes da igreja americana. Os Emergentes no Brasil estão aparecendo cada vez mais inseridos em igrejas novas ou velhas, mas que abriram as portas para a filosofia relativista da pós-modernidade. Como praticamente tudo que vem de fora encontra solo fértil na mentalidade espiritualista consumista do brasileiro, não é de se estranhar que esta moda ainda venha a se manifestar de modo intenso nos próximos anos.[8]

Focalizando a problemática que este movimento representa para os brasileiros, já é possível localizar boas obras cristãs escritas originalmente no contexto brasileiro contra modismos como a teologia da Igreja Emergente.

Para uma compreensão mais profunda sobre o perigo que este movimento representa para a igreja, a leitura do livro “A Sedução das Novas Teologias”, de Silas Daniel é muito proveitosa.[9]

No entanto, é preciso reconhecer que o Movimento Emergente está “chacoalhando” a igreja cristã tradicional, levando-a a repensar sobre sua verdadeira missão. É um fato que a grande maioria dos cristãos está muito satisfeita com a presença apenas nos cultos dominicais, levando a vida simplesmente amparada por uma mera religiosidade sem os frutos que Jesus espera da Sua igreja.

O aspecto prático do cristianismo e a missão no mundo precisam ser restauradas. O grande problema que a igreja terá que resolver é como levar a mensagem cristã para os pós-modernos sem ser influenciado pelo seu pensamento relativista. De fato é um grande desafio que não poderá ser enfrentado (e vencido) enquanto a igreja permanecer lacrada entre quatro paredes, dormindo em sua inércia. Levando em conta que tanto os Emergentes como as pessoas moldadas pela filosofia pós-moderna anseiam por algo mais prático, urge a necessidade de relembrar a necessidade do aspecto prático do cristianismo.

NOTAS

[1] “Ortodoxia Generosa” é também o nome de um livro de Brian McLaren, importante divulgador e defensor do movimento Emergente. Publicado no Brasil pela Editora Palavra (Brasília, 2007). O tom confuso do livro – adaptado ao contexto pós-moderno relativista e pluralista pode ser facilmente identificado na capa do mesmo, onde o autor diz “Por que sou um cristão missional, evangélico, pós-protestante, liberal/conservador, místico/poético, bíblico, carismático/contemplativo, fundamentalista/calvinista, anabatista/anglicano, metodista, católico, verde, encarnacional, deprimido-mas-esperançoso, emergente e inacabado”.

[2] Não afirmo que o diálogo entre as religiões não deve ocorrer, mas que adentrar no ecumenismo irrestrito que o pluralismo da pós-modernidade propõe pode levar o cristão à apostasia.

[3] Livro já publicado no Brasil com o título “A Igreja Emergente: Cristianismo clássico para as novas gerações”, São Paulo: Vida, 2008.

[4] Este pensamento não generoso de Brian McLaren para com a Teologia Sistemática e Apologética está muito explícito nas linhas dos livros “Uma Ortodoxia Generosa” e “A Igreja do Outro Lado”.

[5] O Homossexualismo é um fato na sociedade contemporânea. O homossexual deve ser respeitado como ser humano, sendo repulsiva toda e qualquer forma de violência contra o cidadão seja por palavras ou ações. Os homossexuais, assim como todo e qualquer cidadão, diante da lei têm seus direitos e deveres. Entretanto, perante as premissas bíblicas, tais práticas são consideradas pecaminosas, e a cultura secular não deve se infiltrar na igreja a ponto do cristianismo passar a encarar esta prática como normal e aceitável. Uma ditadura gay tenta ser implantada no mundo, sob o falso pressuposto de homofobia, onde o que de fato se observa é o levantar da bandeira heterofóbica por parte das militâncias homossexuais.

[6] Editora Palavra, Brasília, 2008.

[7] Edições Vida Nova, São Paulo, 2008.

[8] Recentemente alguns modelos de igreja foram importados para o Brasil (efeitos da globalização religiosa); uns ficaram, outros aos poucos caem no esquecimento (embora as feridas ainda marquem a igreja). Modas como “A Benção de Toronto”; “Avivamento de Pensacola” e “Igreja em Células no Governo dos 12 – G12” bagunçaram muito a eclesiologia brasileira.

[9] CPAD, Rio de Janeiro, 2007. Ler em especial os capítulos 2 e 5.

BIBLIOGRAFIA

DANIEL, Silas. A sedução das novas teologias. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

MACARTHUR, John. A guerra pela verdade. São José dos Campos: Editora Fiel, 2008.

MEISTER, Mauro. Igreja Emergente, a igreja do pós-modernismo? Uma avaliação provisória. in Revista Fides Reformata XI, n.º 1 (p.95-112). São Paulo, 2006

KIMBALL, Dan. A igreja emergente: cristianismo clássico para as novas gerações. São Paulo: Editora Vida, 2008.

MCLAREN, Brian D. Uma ortodoxia generosa. Brasília: Editora Palavra, 2007.

_____________. A Igreja do outro lado. Brasília: Editora Palavra, 2008.

GRENZ, Stanley J. Pós-modernismo: um guia para entender a filosofia de nosso tempo. São Paulo: Edições Vida Nova, 2008.

LAHAYE, Tim. A Igreja Emergente: a Laodicéia do século 21? Publicado originalmente na Revista Chamada da Meia-Noite, setembro de 2007. Texto consultado em www.chamada.com.br em 18/01/2010.

Fonte: NAPEC