segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A Fé que Salva


O movimento histórico conhecido como a Reforma do Século 16 ocorreu há quase 500 anos, iniciado quando Martinho Lutero, em 31 de outubro de 1517, pregou 95 teses, ou declarações, na porta da catedral de Wittenberg, que pastoreava. Lutero foi um homem que atravessou uma profunda experiência de conversão, pela qual teve os olhos abertos à simplicidade dos ensinamentos contidos na Bíblia. Comparando esses ensinamentos com o que era pregado e praticado na igreja dos seus dias, Lutero encontrou diferenças marcantes. Ele verificou como, ao longo do tempo, distorções haviam sido introduzidas, de tal forma que o povo era conservado em ignorância espiritual, privado das verdades reveladas na Palavra de Deus que podem levar à salvação. Os reformadores (Lutero e os que se seguiram a ele) procuraram resgatar a mensagem que salva e que pode levar os homens de volta ao seu destino original, reconciliando pecadores com o Deus santo que rege os céus e a terra.

Os historiadores têm, normalmente, identificado quatro pilares da Reforma do Século 16. Quatro temas principais que dominaram os escritos e ensinamentos dos reformadores, por serem essenciais à propagação da sã doutrina. Esses “pilares” são normalmente identificados por palavras latinas, não tão difíceis de compreender: Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide e Solus Christus. Vamos identificar esses significados e ver a relação deles, um para com os outros, bem como a razão da Reforma ter se concentrado nesses temas.

Sola Scriptura, significando que somente as Escrituras providenciam a fonte do nosso conhecimento religioso, das coisas espirituais cujo conhecimento é essencial à compreensão da vida. Essa era uma ênfase necessária, pois a igreja havia incorporado muitas doutrinas que não procediam da Bíblia, mas meramente de tradições humanas. Questões tais como culto às imagens, a existência do purgatório, etc., faziam parte das doutrinas ensinadas ao povo. Os reformadores, investigaram e deram um sonoro “não” a esse ensino e à consideração da “tradição” como fonte de autoridade igual ou superior à Palavra de Deus. Eles consideraram, corretamente, que isso era mortal para a saúde espiritual de qualquer um e da própria igreja.

Sola Gratia, significando que somente a Graça de Deus é a origem da nossa salvação. Na época da reforma, e mesmo nos nossos dias a tendência humana é a de exaltar a habilidade humana de salvar-se a si mesmo. Os reformadores apontaram que a Bíblia indica sem sombra de dúvidas que somente a graça de Deus, o favor não merecido da parte dele, origina um meio de salvação. Estamos todos mortos em delitos e pecados e, conseqüentemente, nada podemos fazer para nossa própria salvação. A iniciativa, de providenciar um plano de salvação, é de Deus e dele procedem todas as providências, nesse sentido.

Sola Fide, significando que somente a Fé é o meio pelo qual nos apropriamos da salvação efetivada por Cristo Jesus para o seu povo. Se a iniciativa da salvação é a graça de Deus, a Fé representa a resposta a essa iniciativa. Essa ênfase, extraída da Bíblia, era muito necessária, pois enfatizava-se as ações humanas como forma de se adquirir a salvação. Vendiam-se indulgências – pedaços de papel que, segundo os vendedores, representavam uma espécie de passaporte para o céu. Quanto mais se contribuía, mais certeza se obtinha, diziam eles, do perdão de pecados – do próprio comprador ou de parentes ou amigos que desejava beneficiar. Lutero e os demais reformadores, não encontraram qualquer base para esses ensinamentos nas Escrituras. Eles identificaram a Fé como sendo a resposta humana, provocada pelo toque regenerador do Espírito Santo de Deus, no processo de salvação.
Solus Christus, significando que somente Cristo é a base da nossa salvação. Somos salvos somente pelos méritos e pelo sacrifício de Cristo e não com base em qualquer outra situação ou ação humana. Cristo é o nosso único intermediário – assim a Bíblia especifica – e isso contrasta com tudo o que se ensinava, e ainda se ensina, relacionado com a intermediação de Maria e de outros “santos”.

Além dos “quatro pilares”, acima explicados, adiciona-se normalmente mais um: Soli Deo GloriaGlória a Deus somente, significando o propósito da existência de nossas pessoas e de tudo o que temos ao nosso redor. Essa ênfase, igualmente bíblica, foi surgindo com o trabalho dos reformadores que se seguiram a Lutero, especialmente com o de João Calvino, que ensinou a doutrina da vocação – o chamado de Deus para que nos envolvamos em todos os aspectos da vida, sempre centralizando nossas ações na glória que é devida a Deus. Deus fez todas as coisas para sua própria glória e nos enquadramos em nossa finalidade e encontramos a felicidade quando abraçamos esse ensino em nossas vidas.

No meio desses pontos cardeais, dessas ênfases centrais nas doutrinas bíblicas, é interessante notarmos que Martinho Lutero considerava a questão da fé: Sola Fide – Somente a Fé, como sendo aquela ênfase crucial, que devia ser propagada e defendida a qualquer custo. Obviamente que, para ele, todas as demais eram importantes, mas com a questão da fé – como único e exclusivo meio pelo qual nos apropriamos da salvação – ele tinha um cuidado todo especial. Possivelmente isso ocorreu porque foi estudando a doutrina da fé que ele foi atingido pela contundência da mensagem divina de salvação. Lutero, atribulado porque estava acostumado a ouvir a pregação das indulgências, ou a validade de relíquias e amuletos, como meios de se tornar agradável a Deus, identificou-se como “um pecador perante Deus com a consciência atribulada”. Ele estudava a carta de Paulo aos Romanos, mais especificamente o capítulo 3, quando se deparou com a declaração: “o justo viverá pela fé”, no verso 28. Lutero escreveu o seguinte: “...então eu compreendi que a justiça de Deus é o fundamento de direito pelo qual, pela graça e pela misericórdia, ele nos justifica através da fé. Imediatamente eu me senti como se tivesse atravessado uma porta aberta e penetrado no paraíso”.

Assim, a justificação pela fé passou a ser uma das doutrinas centrais dos que abraçaram a fé reformada, que ficaram historicamente conhecidos como “protestantes”. Lutero escreveu, ainda: “esta doutrina é a principal e a angular. Somente ela gera, nutre, constrói, preserva e defende a igreja de Deus; sem ela a igreja de Deus não sobreviverá por uma hora”. O ensinamento bíblico, principalmente contido no terceiro capítulo de Romanos, sobre a justificação pela fé, não significa que nós somos considerados justos com base na fé. A base de nossa justificação é Cristo e o seu sacrifício na cruz, com a subseqüente vitória da morte, obtida em sua ressurreição. Somos salvos, portanto, pela Graça de Deus, por meio da fé, com base no trabalho de Cristo. Explicando o que é justificação, João Calvino nos ensina que ela “consiste no perdão dos pecados e na imputação da justiça de Cristo”. Uma das expressões que ele utiliza, é a de que os cristãos são “inseridos na justiça de Cristo”. Ou seja, não temos justiça própria, mas recebemos a justiça de Cristo sobre nós.

Na carta de Paulo aos Efésios (capítulo 2, versos 8 a 10), lemos: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. A fé, aqui mencionada, é essa fé que salva. Aprendemos, nestes versos, que somos salvos somente pela graça proveniente de um Deus soberano. A fé, é o meio – “mediante a fé”. Mas note que não temos qualquer razão ou motivo de nos orgulharmos de termos exercitados fé. Nem temos qualquer prerrogativa ou direitos perante Deus. Somente exercemos a fé, porque ela é dom de Deus. Ele é que nos concede esse meio de resposta ao seu toque salvador. Aprendemos, também, que a salvação não vem das obras – não podemos nos orgulhar, ou nos gloriar, das nossas ações, pois elas não levam à salvação. No entanto, somos instruídos sobre o verdadeiro relacionamento entre graça, fé e obras (ações). Não existe graça verdadeira, sem a respectiva fé que salva. Não existe fé salvadora, sem as evidências dessa salvação, dessa transformação de vida – as obras, as ações de mérito, representadas pelo cumprimento dos mandamentos e das diretrizes divinas contidas nas Escrituras e que existem “para que andemos nelas”.

Essa é a fé que salva. A fé que não é simplesmente uma manifestação mística em algumas coisas. Muitos têm fé sincera em objetos que não podem salvar – em ídolos, em ritos de umbanda, em espíritos desencarnados. Mesmo em sinceridade, essa fé leva à perdição. Somente a fé em Cristo Jesus é fé salvadora (Atos 4.12: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”). A fé que salva é conseqüência natural da graça. A fé que salva não é incompatível com as obras, mas as obras são uma conseqüência necessária a essa fé. Há quase 500 anos os reformadores entenderam isso e resgataram essa doutrina que não estava sendo ensinada e se encontrava velada debaixo do entulho de tradição humana que a havia soterrado. Você entende que essa fé é o único meio para a sua salvação?

O estranho batismo mórmon de Anne Frank


Entre as suas muitas doutrinas, digamos, exóticas, os mórmons têm no "batismo pelos mortos" um de seus dogmas mais sagrados, em que alguém indica um antepassado ou conhecido - ou mesmo desconhecido - já falecido e, mediante um ritual próprio da religião, esta pessoa é batizada no além como mórmon. Esta estranha cerimônia já provocou muitos problemas para os mórmons, principalmente em relação aos judeus que foram vítimas do holocausto nazista, como também envolvendo os próprios nazistas que o perpetraram, que teriam sido batizados como mórmons atendendo a este princípio fundamental de seu credo. Os mórmons estão tendo as suas doutrinas devassadas pela mídia norteamericana em razão de um dos principais pré-candidatos à presidência dos EUA nas eleições de 2012, Mitt Romney, ser um mórmon destacado. O artigo abaixo foi publicado originalmente no The New York Times, traduzido por Clara Allain, e reproduzido na Folha:

Anne Frank, mórmon?

MAUREEN DOWD DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Numa apresentação que fez no sábado à noite na Universidade George Washington, Bill Maher mergulhou de cabeça em um território que a imprensa vem tratando com cuidado máximo.

Roupa íntima mágica. Batismo de pessoas que já morreram. Casamentos celestiais. Planetas particulares. Racismo. Poligamia.

"Por qualquer critério que se queira julgar, o mormonismo é mais absurdo que qualquer outra religião", afirmou o comediante famoso por ser ateu e que desancou os "contos de fadas" de várias religiões em seu documentário "Religulous". "É uma religião fundada na ideia da poligamia. Os fiéis a chamam de 'O Princípio'. Soa como a Diretiva Principal de 'Star Trek'."

Bill Maher disse que prevê que a turma de Mitt Romney respondendo depois de Robert Jeffress, pastor batista texano que apóia Rick Perry, ter dito que o mormonismo é uma "seita" não cristã mais uma vez "passe por cima das diferenças entre cristãos e mórmons".

Maher tampouco foi condescendente com a religião na qual foi criado. Aludiu à Igreja Católica como "rede de pedofilia internacional".

Mas os ateus, assim como os católicos e os cristãos evangélicos, parecem desconfiar especialmente dos mórmons.

Numa pesquisa "Washington Post"/Centro Pew de Pesquisas divulgada na terça-feira, foi perguntado às pessoas que palavra lhes vinha à mente para descrever os candidatos republicanos. No caso de Herman Cain, foi "9-9-9"; no de Rick Perry, "Texas", e, no caso de Mitt Romney, foi "mórmon". No debate, na noite de terça-feira, Romney disse que é repugnante "escolhermos pessoas com base na religião delas".

No "New York Times", no domingo, Sheryl Gay Stolberg fez um relato da atuação de Romney como bispo em Boston, em muitos momentos dando orientação pastoral autoritária sobre todos os assuntos, desde o divórcio ao aborto.

Stolberg relatou que Romney que mais tarde se candidataria ao Senado, concorrendo como Teddy Kennedy, como defensor do direito ao aborto, e então mudaria de posição nas primárias presidenciais republicanas, passando a ser contra costumava aparecer no hospital sem ser anunciado, em seu papel de bispo.

"Em tom repreendedor", avisou a uma mulher casada, mãe de quatro filhos e que cogitava em interromper nova gravidez devido a um coágulo sanguíneo potencialmente perigoso, que não deveria pensar nessa hipótese.

Outro não crente famoso, Christopher Hitchens, escreveu na "Slate" na segunda-feira sobre "o sistema de crenças esdrúxulo e sinistro da LDS" _a sigla representa a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.

Sem falar em Joseph Smith, que Hitchens qualifica como "fraudador e mágico bem conhecido pelas autoridades do interior de Nova York", ele também questiona a prática mórmon de reunir arquivos sobre mortos e "incluí-los em sua igreja à custa de orações", como maneira de "'batizar' todo o mundo retroativamente, 'convertendo os mortos' ao mormonismo".

Hitchens observou que a LDS "obteve uma lista de pessoas mortas pela Solução Final dos nazistas" e começou "a converter aqueles judeus massacrados em membros honorários da LDS, também". Descreveu isso como "uma tentativa crassa de praticar um roubo em massa de identidades dos mortos".

Os mórmons chegaram a batizar Anne Frank.

Ernest Michel, o então presidente do Agrupamento Mundial de Judeus Sobreviventes do Holocausto, precisou de três anos para conseguir que os mórmons concordassem em parar de batizar vítimas do Holocausto à distância.

Os mórmons desistiram da empreitada em 1995, depois de Michel, como divulgou a Agência Telegráfica Judaica, "descobrir que sua mãe, seu pai, sua avó e seu melhor amigo de infância, todos de Mannheim, na Alemanha, tinham sido batizados postumamente".

Michel disse à agência de notícias: "Me deixou aflito o fato de meus pais, que foram assassinados como judeus em Auschwitz, serem incluídos numa lista como membros da religião mórmon".

Richard Bushman, mórmon que é professor emérito de história na Universidade Columbia, disse que depois "da confusão judaica", os mórmons "desistiram de fazer enormes esforços para coletar os nomes de todo o mundo que já viveu e batizar essas pessoas _até mesmo George Washington". Agora, disse ele, os mórmons o fazem para outros mórmons que levam ao templo o nome de um parente ou antepassado morto.

Bushman disse que "os mórmons acreditam que Cristo é o filho divino de Deus que pagou por nossos pecados, mas não acreditamos na Santíssima Trindade, no sentido de que há três em uma. Acreditamos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas distintas."

Kent Jackson, reitor associado de religião na Universidade Brigham Young, diz que, embora os mórmons sejam cristãos, "o mormonismo não faz parte da árvore familial cristã".

Os evangélicos e católicos céticos provavelmente não se sentirão reconfortados por saber que os mórmons pensam que, enquanto outros cristãos têm acesso a "apenas uma parte da verdade, o que Deus revelou a Joseph Smith é a verdade por inteiro", como diz Jackson. "Não hesitamos em dizer que evangélicos, católicos e protestantes podem ir ao céu, incluindo o pastor Jeffress. Apenas achamos que as maiores bênçãos do céu são dadas" aos mórmons.

Quanto aos planetas que casais mórmons devotos podem ganhar após a morte, Jackson diz que isso não passa de boato infundado. Mas, para Bushman, isso faz parte do "folclore mórmon" e se baseia na crença de que, se os humanos podem tornar-se semelhantes a Deus, e Deus é dono do universo inteiro, então talvez os mórmons ganhem a chance de mandar em um pouco desse universo.

Quando à peça de roupa especial que Mitt usa, "não diríamos que é uma 'roupa íntima mágica'", explica Bushman.

O objetivo dela é denotar "proteção moral", um sinal de que quem a traja é "membro de um grupo consagrado, como os sacerdotes de Israel na antiguidade".

E não é mais uma peça só. "Agora são duas peças", disse ele.

Os republicanos fizeram da religião uma parte da prova presidencial. Veremos agora se Mitt consegue passar nessa prova.

TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN

Avivamento ou Reforma?


Por Clóvis Gonçalves

Nós precisamos de um avivamento ou de uma reforma? A pergunta induz ao erro de pensarmos que as duas coisas são alternativas independentes ou até mutuamente excludentes. Mas reforma e avivamamento estão tão intimamente ligados que fica difícil estabelecer os limites entre eles e é impossível anelar por um sem querer experimentar a outra. Pois reforma começa com avivamento interior e avivamento sem reforma não é avivamento. Portanto, avivamento e reforma são quase que intercambiáveis.

Estou entre os que anseiam por um verdadeiro avivamento e estou ciente de que isso não se dará à parte de uma nova reforma. Podem ocorrer simultaneamente, ou então de forma sucessiva, mas certamente ocorrerão interligadas. O resultado de uma reforma é avivamento e o teste do verdadeiro avivamento é haver reforma. Pois avivamento da perspectiva de Deus é o céu invadindo a igreja e tornando-a consciente da presença do Senhor. Da perspectiva humana, reconhecer a presença de Deus é voltar ao primeiro amor por Jesus e consequentemente, à mudança de vida. Isso o que ocorreu nos dias de Lutero, e bem antes dele, nos dias do rei Josias.

Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, Na Alemanha. Era filho de um mineirador de prata, de classe média. Estudou para ser advogado, mas tornou-se monge agostiniano. Descobriu a justificação pela fé na Carta aos Romanos e isso o colocou em rota de colisão com a Igreja Romana e sua venda de indulgências. Em 31 de outubro de 1517, fixou as conhecidas 95 Teses na porta da Igreja em Witenberg, marcando o início do movimento que passaria à história como Reforma Protestante, da qual comemoramos hoje 394 anos.

Josias foi o 16º rei de Judá, neto Manassés e filho do ímpio Amon. Era de se esperar que um garoto colocado no trono aos oito anos de idade viesse a seguir o caminho mau de seus antecessores. Mas aos 16 anos “sendo ainda moço, começou a buscar o Deus de Davi, seu pai” e aos 20 “começou a purificar a Judá e a Jerusalém” (2Cr 34:3) expurgando o falso culto e reestabelendo a verdadeira adoração ao único Deus vivo e verdadeiro. Em comum, Josias e Lutero tem o encontro com um livro que estava perdido: a Bíblia Sagrada. Da experiência deles, tiramos lições para o avivamento e reforma necessários.

A reforma de Josias começou com a descoberta da Lei do Senhor. "E, tirando eles o dinheiro que se tinha trazido à casa do SENHOR, Hilquias, o sacerdote, achou o livro da lei do SENHOR, dada pela mão de Moisés" (2Cr 34:14). Não quero alegorizar, mas chama atenção que o livro estivesse escondido sob montes de dinheiro e vejo um paralelo com nossa época, em que o dinheiro tem levado muitos a esconder a Palavra do povo. Nos dias de Lutero, fazia-se o comércio de indulgências, arrecadando-se dinheiro para construir a basílica de São Pedro. E proibia-se o livre exame das escrituras.

O livro encontrado não foi exposto como uma relíquia, mas lido, inclusive aos ouvidos do rei. "Além disto, Safã, o escrivão, fez saber ao rei, dizendo: O sacerdote Hilquias entregou-me um livro. E Safã leu nele perante o rei" (2Cr 34:18). Nunca os crentes tiveram tanta disponibilidade de Bíblias como hoje. São traduções e versões para os mais variados gostos, sem contar as inúmeras Bíblias de Estudo e as disponíveis eletronicamente. Porém, a leitura devocional e o exame cuidadoso das Escrituras tem sido negligenciado. A formação espiritual de nosso povo é feito à base de louvores com a profundidade de um pires e chavões de vendilhões do templo.

Mas, se lida, a Escritura produz resultados e um deles é o quebrantamento do coração, o primeiro sinal do avivamento iminente. “Sucedeu que, ouvindo o rei as palavras da lei, rasgou as suas vestes” (2Cr 34:19). A Bíblia é a ferramenta que o Espírito utiliza para trazer convicção do pecado “porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4:12) e para levar ao arrependimento e confissão dos pecados “porque grande é o furor do SENHOR, que se derramou sobre nós; porquanto nossos pais não guardaram a palavra do SENHOR, para fazerem conforme a tudo quanto está escrito neste livro” (2Cr 34:21).

Lutero percebeu isso. Ele disse certa vez: “simplesmente ensinei, preguei, escrevi a Palavra de Deus; não fiz mais nada... a Palavra fez tudo”. Se os pregadores de hoje tão somente pregassem a Palavra de Deus, com ardor e fidelidade, o povo seria conduzido ao arrependimento e estaria pronto para o avivamento.

Uma vez a Bíblia redescoberta e lida, precisa ser obedecida. Primeiro, Josias proclamou a Palavra: “Então o rei mandou reunir todos os anciãos de Judá e Jerusalém. E o rei subiu à casa do SENHOR, com todos os homens de Judá, e os habitantes de Jerusalém, e os sacerdotes, e os levitas, e todo o povo, desde o maior até ao menor; e ele leu aos ouvidos deles todas as palavras do livro da aliança que fora achado na casa do SENHOR” (2Cr 34:29-30). Importante notar que a Palavra foi anunciada a todos, independente de classe social, ofício, sexo, faixa etária. E não deve passar despercebido que foram anunciadas “todas as palavras do livro”. Toda Escritura anunciada a todas as pessoas, este é o objetivo dos ministros do evangelho.

Com isso, o povo é levado a renovar a sua aliança com o Deus de seus pais. “E pôs-se o rei em pé em seu lugar, e fez aliança perante o SENHOR, para seguirem ao SENHOR, e para guardar os seus mandamentos, e os seus testemunhos, e os seus estatutos, com todo o seu coração, e com toda a sua alma, cumprindo as palavras da aliança, que estão escritas naquele livro. E fez com que todos quantos se achavam em Jerusalém e em Benjamim o firmassem; e os habitantes de Jerusalém fizeram conforme a aliança de Deus, o Deus de seus pais” (2Cr 34:31-32). O compromisso foi renovado. Tinham voltado ao primeiro amor, estavam dispostos a serem fiéis, e o foram, pelo menos durante o reinado de Josias.

Consequentemente, a verdadeira adoração foi purificada. Josias retirou do culto, tudo aquilo que estava errado. “E Josias tirou todas as abominações de todas as terras que eram dos filhos de Israel; e a todos quantos se achavam em Israel obrigou a que servissem ao SENHOR seu Deus. Enquanto ele viveu não se desviaram de seguir o SENHOR, o Deus de seus pais” (2Cr 34:33). Ao mesmo tempo, restaurou o que era certo e estava esquecido. “Então Josias celebrou a páscoa ao SENHOR em Jerusalém; e mataram o cordeiro da páscoa no décimo quarto dia do primeiro mês” (2Cr 35:1). Josias promoveu a maior limpeza em todo o reino, mas não fez apenas a destruição da idolatria, restabeleceu o verdadeiro culto a Deus, como Ele havia prescrito em Sua Palavra.

O que Deus fez nos dias de Josias e também nos dias de Lutero, pode fazer nos dias de hoje. Mas assim como Ele fez através de pessoas como Josias e Lutero, quer fazer através de nós. É claro que não precisa de nós, como não precisava de Josias e Lutero. Mas Ele decidiu não agir diretamente, mas através de instrumentos fracos como nós. Os passos que devemos dar estão bem delineados: primeiro, buscar a Deus em nossos corações, segundo ler e deixar-se influenciar por Sua Palavra e terceiro, estar disposto a obedecer a qualquer custo o que ele nos manda fazer. Quando isso for feito, o avivamento virá, ou talvez seja melhor dizer, já terá vindo.

Soli Deo Gloria

domingo, 30 de outubro de 2011

Ozzy Osbourne, a igreja emergente e o futuro


Por Maurício Zágari

Nos anos mais recentes surgiu no seio da Igreja de Jesus Cristo um movimento de prática de fé que se tornou conhecido como igreja emergente. Num resumo bem resumido e simplista, trata-se de uma forma de se fazer igreja sem que o fiel precise se separar das expressões culturais da sociedade secular. Assim, o cristão emergente, por exemplo, escuta músicas seculares; pode usar brincos, piercings e tatuagens; até mesmo fala palavrões sem o menor drama de consciência (atéd renega os pudores de praguejar no púlpito, como já vi). Atitudes como essas são vistas nesse contexto apenas como meras manifestações da cultura e, como tal, não constituiriam pecado, escândalo ou equívocos teológicos.

Cada vez mais a Igreja Emergente conquista novos adeptos, em especial entre os jovens, que ficam felizes por poder manter antigos hábitos e gostos pré-conversão e não ser ridicularizados pelos colegas não-cristãos por parecerem astronautas de uma subcultura evangélica. Para atender aos anseios desse nicho do universo cristão, têm surgido no Brasil e no exterior líderes extremamente carismáticos que, ao adotar linguagem, gostos, práticas e, principalmente, uma estética visual charmosa e sedutora (seja na linha da elegância ou do despojamento), conseguem arrebanhar um grande número de seguidores. Assim, esses líderes emergentes assumem uma aparência up-to-date, muitas vezes à base de um vestuário modernoso e cortes de cabelo e óculos moderninhos, ou barbas Los Hermanos – dependendo do estilo. Também elaboram um discurso que exerce magnetismo sobre as novas gerações. Por fim, investem pesado em tecnologia e redes sociais – para, por exemplo, produzir podcasts bem elaborados e fazer sua mensagem correr solta pelos Youtubes e Twitters da vida.

Historicamente, é facílimo explicar esse fenômeno. Quem se interessa um pouquinho que seja por História da Igreja sabe que o Corpo de Cristo sempre viveu num movimento pendular. Depois de nascer e crescer vendo as antigas gerações viver seguindo um modo de ser, pensar e agir, as gerações seguintes buscam vivenciar a fé de um modo oposto ao de seus pais. É como um pêndulo, que depois de se inclinar completamente para a esquerda se lança com toda a força para a direita… para tempos depois voltar com tudo para a esquerda. E depois a direita. E a esquerda. E assim por diante.

É fácil constatar isso ao longo dos vinte séculos de Igreja cristã: em contraposicao à opulência da igreja imperial romana ganharam espaço os movimentos monásticos. Depois, em reação à estagnação intelectual da Idade das Trevas surge o escolasticismo. Em resposta aos abusos do catolicismo romano do século XVI, vem Lutero com suas propostas de reforma. Depois, com o iluminismo do século das luzes, a Igreja busca fugir do transcendentarismo e se inclina tanto para o racionalismo e o pragmatismo que mergulha nas águas do liberalismo teológico – que, por sua vez, viria tempos depois a ser confrontado por pensadores neo-ortodoxos como Karl Barth. E quando a Igreja Protestante cai no formalismo, surgem os pietistas, os puritanos, os morávios, os metodistas: grupos sedentos por uma espiritualidade mais impoluta e menos enrijecida e engessada. Assim foi a caminhada da Igreja ao longo dos séculos: agindo e reagindo, em movimentos pendulares de repulsa ao que vinha antes. Sempre, é claro, com motivações nobres e sinceras, é importante ressaltar.

É quando chegamos ao final do século XX. A Igreja brasileira vivia então momentos de extremos e abusos. De um lado, havia uma igreja extremamente ascética, que repudiava como satânicas práticas como ouvir música secular (“do mundo”), usar adereços exagerados (brincos, piercings e tatuagens, principalmente), frequentar certos ambientes de lazer e usar vocabulários considerados mundanos (como palavrões, gírias e similares), entre outras coisas. Também havia uma igreja muito formalista, com cultos friamente litúrgicos, comportamentos sóbrios e respeito a uma hierarquia eclesiástica bem definida. Por fim, os neopentecostais tomavam conta da mídia e do imaginário popular, com suas práticas barulhentas, teologia de prosperidade e propostas quase espíritas. Em comum, todas essas facetas do movimento evangélico adotavam uma postura exclusivista, um vocabulário próprio (quase um dialeto), uma estética musical característica e visuais na maioria das vezes caricatos. Foi nesse contexto que brotou um grupo descontente, que reagiu a tudo isso e arremessou o pêndulo para o outro lado, fugindo de todos esses modelos. Nascia assim a Igreja emergente – primeiro nos Estados Unidos e, como é moda na colônia americana que somos, em breve esse modelo foi importado ao Brasil, que diante desse quadro todo recebeu a mensagem emergente com imensa alegria.

Os méritos

Essa forma de se fazer igreja tem seus méritos. Jesus vivia inserido na cultura de sua época e almoçava com publicanos, convivia com prostitutas, ia até aqueles que eram os proscritos da sociedade. Esse argumento é fiel ao relato da Bíblia e, por isso, justifica a imersão social dos cristãos na vida secular que o cerca. A criação de uma subcultura gospel também isola e caricaturiza os cristãos. As tintas emergentes embelezam então a igreja, na medida em que busca apresentar o cristão como um ser humano normal e não uma aberração social.

A aproximação da igreja emergente de aspectos belos da cultura popular também é louvável, afinal, a graça comum de Deus concede ao homem natural talentos que lhes permitem exaltar sentimentos profundos, realidades da alma, a obra das mãos do Criador. Sim, é possível se encantar com músicas do Teatro Mágico, óperas de Bizet, poesias de Vinícius de Moraes, vozes com a de Charles Aznavour – sem necessariamente estar pecando.

O maior triunfo da igreja emergente é, assim, aproximar o cristão do universo secular de modo que possa usufruir aquilo de bom que este lhe oferece ao mesmo tempo em que está próximo o suficiente para compartilhar com ele as boas-novas da salvação de uma maneira tal que não assuste o perdido com uma estética visual ou vocabular alienígena. Mas o movimento emergente oferece sérios riscos.

Os riscos

O grande perigo da igreja emergente é se tornar mais emergente do que igreja. Ou seja: estar tão próxima da sociedade secular que venha a flertar mais com o mundo do que com Cristo. Recentemente, um fato me levou a uma profunda reflexão sobre isso: o roqueiro Ozzy Osbourne veio ao Brasil. Para minha surpresa, vi um pastor, líder de jovens e consequentemente bastante influente em seus arraiais, comentar no twitter que tinha ficado triste por não poder ir ao show dele. Quero deixar claro que não entendo como pecado gostar de rock, até porque há bandas muito boas que usam esse estilo musical para pregar mensagens positivas, como Bloodgood, Tourniquet, White Cross e outras. No Brasil, a representante mais evidente do rock gospel é a excelente Oficina G3, que já me levou às lágrimas muitas vezes com suas letras pungentes. Esse não é o ponto. Como diz um irmão que é músico, não existe “dó maior endemoniado” ou “ré sustenido ungido”. Música é música e estilo é estilo. Mas temos que discernir os limites.

Eu ouvi muito rock ao longo de minha vida. Antes de minha conversão frequentei muito esse universo e tinha inclusive uma banda, a falecida A Corja. Fui a shows de grupos como Iron Maiden, Rolling Stones, Guns and Roses, AC/DC, Ratos de Porão e similares. Estive no primeiro Rock in Rio, em 1985, com 13 anos de idade, saltando, gritando e levantando a mão com os dedos indicador e mínimo em riste – sinal característico conhecido por devil´s horn, o chifre do diabo. E, por isso mesmo, conheço muito bem o que é isso e que tipo de filosofia cada banda transmite em suas letras e atitudes. Então ver um pastor, um sacerdote cristão, dizer que ficou triste por não ir ao show de Ozzy acendeu a luz vermelha.

Para quem não conhece, Ozzy Osbourne (essa simpática figura da foto acima) é o intérprete, por exemplo, de músicas como “Mr. Crowley”, uma ode a Alister Crowley – o fundador da Church of Satan, a Igreja de Satanás. Ou ainda “I like death”, em que o músico faz uma alusão explícita a ser um “anticristo”. E mais: “No place for angels”, em que Ozzy assume o personagem de um anjo caído e chama Jesus de “mentiroso”. Sem falar de “Rock´n Roll Rebel”, cuja letra é uma crítica ferrenha a ministros cristãos. E por aí vai. Dá para imaginar um pastor, um sacerdote, vibrando e cantando ao som de músicas que transmitem mensagens como essas? Isso, então, é sintomático.

Na ânsia por não serem ETs na sociedade, os emergentes correm o risco de brincar com fogo e se queimar. Suas críticas ferrenhas a hierarquias e liturgias apenas condenam formas e não acrescentam nada ao Corpo de Cristo além de desavenças. Há até os emergentes para quem a expressão “igreja” virou um palavrão. Suas igrejas são chamadas “comunidades”, embora… sejam igrejas, semântica à parte. O discurso inclusivista dos emergentes corre o risco de acabar apenas virando preconceito ao avesso: inclui-se o excluido, mas exclui-se o incluido que age de modo tradicional. Exaltam-se as expressões artísticas seculares ao mesmo tempo em que satanizam-se hierarquias e autoridades eclesiásticas. Defende-se a cultura e a estética populares atrás de um escudo de graça mas voltam-se todas as armas em direção a modelos de igreja que diferem do emergente – e, com isso, torna-se bem comum ver agressões verbais, ironias, sarcasmo e desprezo desses irmãos a outros legítimos irmãos em Cristo que não coadunam de suas visões. Assisti a algumas twitcams de emergentes e confesso que fiquei bastante chocado com a agressividade dirigida por eles a outros cristãos que não seguem seus modelos. E, com, isso, ferem o amor phileo proposto por Cristo. Desliguei essas transmissões no meio, entristecido que fiquei com uma prática tão distante da teoria.

Em defesa de uma não-segregação do mundo, muitos emergentes acabam segregando partes do Corpo. Eu mesmo pude perceber como companheiros fiéis do twitter deixaram de interagir comigo quando expressei pensamentos mais ortodoxos (em breve falarei mais sobre isso em novo post aqui no APENAS). Em defesa de uma aculturação dos cristãos, adota-se com normalidade palavrões até de púlpito, mas satanizam-se os jargões evangélicos. A coerência disso? Nenhuma. Na ânsia por se afastar pendularmente o mais distante possível dos modelos de vida cristã das décadas anteriores (a famigerada “tradição”), a igreja emergente corre o sério e grave risco de lançar-se para um extremo que pode causar muitos estragos. E que, convenhamos, não traz nenhum avanço para a causa de Cristo. Na gana por ser diferente da “antiga igreja tradicionalista”, o movimento emergente periga tornar-se apenas uma “nova igreja antitradicionalista”.

Que fique claro que há excelentes propostas dentro da igreja emergente. Muita gente vem conduzindo suas propostas dentro desse modelo com decoro bíblico. Porque, no final do dia, o modelo emergente é exatamente isso: apenas mais do mesmo. Apenas mais uma casca diferente dentro da qual corre a mesma seiva. Não melhor, não pior. Nas igrejas (perdoem-me, “comunidades”, não quis ofender) emergentes, pessoas são salvas, curadas, libertas e vivem vidas de fé genuínas, ajudando o próximo. Exatamente da mesma forma que acontece na mais ascética igrejinha pentecostal do interior ou na mais tradicionalista e litúrgica denominação reformada. A ação de Deus é a mesma.

Porém, o orgulho de ser diferente pode constituir pecado. O exagero ao ser diferente pode conduzir ao pecado. A aproximação do ambiente secular pode valorizar o pecado. A linha é tênue. E o pecado, nunca é demais lembrar, habita em qualquer modelo de igreja em que haja seres humanos.

Que os emergentes não caiam nas tentações iminentes que caminhar sobre a fronteira oferece. Só assim os historiadores do futuro poderão olhar para esse movimento dos nossos dias e avaliar que ele foi uma boa oscilação do pêndulo. Pois há uma grande chance de a igreja emergente entrar para a História como uma bela tentativa mas um retumbante fracasso.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Fonte: Apenas

A Reforma Protestante no Século XVI.


Por Florêncio Moreira de Ataídes

"O justo viverá pela sua fé"


O texto de Romanos 1:17 foi fundamental para que surgisse a Reforma Protestante no Século XVI.

Quando Martinho Lutero leu essa passagem das Escrituras foi convencido de que a nossa justificação não se dá através das boas obras, mas através da fé.

A Reforma Protestante foi um termo pejorativo empregado pelos católicos romanos à aqueles que protestaram contra o sistema religioso da época, mas esse termo foi assimilado e usado a partir do século XVI até nossos dias para designar os grandes fatos vividos pelos que desejavam e desejam pautar sua vida religiosa segundo a Bíblia.

Que foi a Reforma Protestante?

Dependendo do ponto de vista, poderíamos ter vários conceitos. No entanto, consideramos a Reforma como um movimento de retorno aos padrões bíblicos do Novo Testamento. Isso expressa a realidade da "Reforma Protestante", pois tudo que se fez tinha a finalidade de levar as pessoas a se aproximarem de Deus através de um relacionamento profundo com Ele.

Por que aconteceu a Reforma Protestante?

Alguns fatores contribuíram para que acontecesse a Reforma. Entre eles podemos destacar os seguintes:

a) As mudanças geográficas. O século XVI foi a era das grandes navegações realizadas pelas superpotências Portugal e Espanha e, consequentemente, das grandes descobertas. Com isso o mundo não se limitava mais à Europa, mas o novo mundo trouxe novos horizontes de conquista e expansão.

b) Mudanças políticas. Surgem as nações-estados. A Europa começa a se fragmentar em países independentes politicamente uns dos outros. Surgem países como a Inglaterra, França, Espanha, Portugal, etc. Com isso é natural o desejo de cada governante de sentir-se livre de um poder central e dominador que era o papado.

c) Mudanças intelectuais. Há grandes transformações intelectuais com o surgimento dos humanistas cristãos, os quais tiveram um interesse profundo pelo estudo das Escrituras Sagradas e das línguas originais e começaram a fazer uma comparação entre o Novo Testamento e o que a Igreja Católica Romana estava vivendo. Entre esses humanistas podemos destacar Desidério Erasmo ou Erasmo de Rotherdan que influenciou os reformadores com o seu Novo Testamento Grego.

d) Mudanças religiosas. O autoritarismo da Igreja católica romana era insustentável. O catolicismo não satisfazia os anseios espirituais do povo que buscava uma religião satisfatória e prática, que respondesse às suas indagações e expectativas.

Onde aconteceu a Reforma Protestante?

A Reforma aconteceu na Alemanha, mas logo, se espalhou para outros países como Inglaterra, Suíça, França, Escócia, etc. Em cada país podemos destacar um líder que levou avante este movimento.

Quando ocorreu a Reforma?

A partir do final do Século XII, começam a surgir alguns movimentos na Europa que pediam mudanças dentro da Igreja Católica Romana. Entre eles podemos destacar dois grupos:

Os valdenses com Pedro Valdo na Itália.

Os cataritas na França.

Também surgiram alguns homens que podemos considerá-los pré-reformadores como:

John Wycliff na Inglaterra, no século XIV, 1384

John Huss na Boêmia, no começo do século XV, 1415

Jerônimo Savanarola na Itália, no final do século XV, 1498

A Reforma Protestante, no entanto, só aconteceu no Século XVI na Alemanha, quando o frade agostiniano Martinho Lutero afixou as 95 teses nas portas da igreja do castelo de Wittenberg.

Era o dia 31 de outubro de 1517, véspera do dia de "todos os santos", quando milhares de peregrinos afluíam para Wittenberg para a comemoração do feriado do "dia todos os santos e finados", 01 e 02 de novembro.

Era costume pregar nos lugares públicos os avisos e comunicados. Lutero aproveitou a oportunidade e, através de suas teses, combatia as indulgências que eram vendidas por João Tetzel com a falsa promessa de muitos benefícios. Ele dizia que, se alguém comprasse uma indulgência para um parente falecido, "no momento em que a moeda tocasse no fundo do cofre a alma saltava do inferno e ia direto para o céu".

Quais foram os principais reformadores?

Na Alemanha, Martinho Lutero (1483/1546)

Na Suíça, Huldreich Zwínglio (1484/1531) e João Calvino (1509/1564)

Quais foram as principais obras de Lutero?

Lutero expressa suas ideias através de três obras. São elas:

a) A Liberdade Cristã. Nesse livro, pregou que somos livres em Cristo. Negou nessa obra que somente o papa pudesse interpretar as Escrituras, mas que podiam ser lidas e interpretada por qualquer crente sincero.

b) Apelo à Nobreza. Aqui Lutero faz um apelo para o povo se unir contra a Igreja Católica Romana.

c) Cativeiro Babilônico da Igreja. Afirmava que a Igreja estava vivendo num cativeiro, assim como o povo de Israel esteve na Babilônia escravizado.

Quais eram as principais doutrinas defendidas por Lutero?

a) Justificação pela fé. Baseado nos ensinos de Paulo, ele ensinava que o homem não é justificado pelas suas obras, mas pela fé em Jesus Cristo.

b) A infalibilidade da Bíblia. Ele considerava a Bíblia infalível e acima de toda e qualquer tradição religiosa. Enquanto a Igreja Católica Romana defendia a ideia de que o papa era infalível e a Bíblia era sujeita à sua interpretação, Lutero afirmava que A Bíblia estava acima do papa, pois ela é a Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo.

c) Sacerdócio de todos os crentes. Lutero negava o conceito que afirmava ter o papa poderes sobrenaturais como intermediário entre o povo e Deus. Ele defendia a ideia de que todo crente é um sacerdote e tem livre acesso à presença de Deus. Não precisamos de um intermediário, o único intermediário entre o homem e Deus é o Senhor Jesus Cristo.

Quais eram os princípios fundamentais da Reforma?

a) Supremacia das Escrituras sobre a tradição.

b) A supremacia da fé sobre as obras.

c) A supremacia do povo sobre o sacerdócio exclusivo.

Lutero foi vitorioso?

Sim. Apesar das tentativas para condenarem Lutero, o papa e o Imperador Carlos V não conseguiram. Quando foi convocado a comparecer ao concílio diante do imperador, ele expressou-se destemidamente da seguinte forma: "É impossível retratar-me, a não ser que me provem que estou laborando em erro, pelo testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente. Não posso confiar nas decisões de concílios e de Papas, pois é evidente que eles não somente têm errado, mas se têm contraditado uns aos outros. Minha consciência está alicerçada na Palavra de Deus. Assim Deus me ajude. Amém".

Uma das expressões mais profundas do sentimento de Lutero está no hino Castelo Forte que diz:

"Que a Palavra ficará, sabemos com certeza, e nada nos assustará, com Cristo por defesa; se temos de perder os filhos bens, mulher, embora a vida vá, por nós Jesus está, e dar-nos-á seu Reino".

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

5 coisas que se aprende do deserto de Jesus


Por Leandro Márcio Teixeira

Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. Chegando, então, o tentador, disse-lhe: Se tu és Filho de Deus manda que estas pedras se tornem em pães. Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e: eles te susterão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. Replicou-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. Novamente o Diabo o levou a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles; e disse-lhe: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares. Então ordenou-lhe Jesus: Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. Então o Diabo o deixou; e eis que vieram os anjos e o serviram. (Mateus 4:1-11)

Cinco coisas chamam a atenção neste texto. São elas:

1 – Se você é filho de Deus, Ele mesmo te enviará ao deserto. O versículo 1 diz que “foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto”. Às vezes podemos pensar que o inimigo nos levou até lá. A situação pode ser complicada, dolorosa, estar até mesmo no próprio vale da morte, mas tenha esta certeza: o seu Senhor é contigo. Esta é uma das diferenças entre os que crêem e os que não crêem: somos habitados por Deus – somos o Seu templo. O governo da nossa vida está inteiramente nas mãos do Senhor, mas para o bem. Sabemos, pela Bíblia, que mesmo a vida dos que não crêem está sob o controle do Pai. Contudo, são vasos da ira reservados para seu próprio fim. Não é assim conosco: Deus nos ama, e a obra de aperfeiçoamento que Ele começou não terminará até que sejamos como Cristo é. Acontece porque…

2 – O deserto é necessário. Se todas as coisas colaboram para o bem daqueles que amam a Deus, ir para o deserto é algo bom. Jesus foi para lá antes de iniciar o seu ministério terreno. Neste tempo, Ele ficou em oração e comunhão com seu Pai, preparando-se para a grande obra que viria a ser feita. Lembre-se, portanto, de consultar o Pai antes de qualquer empreitada, seja ela grande ou pequena. O Espírito Santo impeliu Jesus a um lugar onde ele pudesse ficar em contato maior com Deus Pai. Assim Ele impelirá cada um dos seus filhos, os quais são habitados por Ele, a buscá-lo cada vez mais. E às vezes isto significa que o Pai poderá colocá-lo em situações difíceis. Mas junto com a provação, ele dá também o livramento (1 Coríntios 10:13). E neste lugar…

3 – Você vai ser tentado. Para isto mesmo que Jesus foi ao deserto. Satanás estava lá, acompanhando de perto tudo o que estava acontecendo com Jesus. Então, as primeiras perguntas que ele fez foram para colocar dúvida acerca da identidade dEle: “Se tu és Filho de Deus…”. Tempos de provação podem fazer você duvidar de quem você é. É de suma importância que você confie na obra que nosso Senhor fez. Ele cumpriu toda a lei por você, pagou uma conta de morte que era sua, creditou a ti a vida eterna e reestabeleceu a comunicação entre você e o Pai. Como disse Jesus: “está consumado”(João 19.30). E também disse, falando das ovelhas do seu povo: “ninguém as arrebatará da minha mão”(João 10.28). A salvação do Senhor é muito firme. Curioso é que Satanás aparentemente sugere algo trivial, sem implicações espirituais: comida. Não há nenhum problema em pedir o alimento ao Senhor. Jesus até ensinou isto na oração-modelo do Pai Nosso. Contudo, Cristo não caiu na cilada. Ele sabia quem era. Assim, cada crente deve resistir às tentações, mantendo vigilância constante. Perceba também que, para tentá-lo…

4 – Satanás pode usar as próprias Escrituras de Deus na sua tentativa de engodo. Não dando certo sua primeira investida, e vendo que Jesus usou a Palavra, o Maligno procurou usar a mesma fonte que Cristo usou. Foi a mesma oferta de antes, só que usando a Bíblia! Que perigo! Pouco conhecimento pode fazer com que você abandone a Deus certo de que está indo ao seu encontro. Pode achar que está obedecendo ao Senhor, mas na verdade está o desafiando. Aqui reside uma grande falha de alguns crentes. O conhecimento raso da Palavra o torna vulnerável a qualquer vento de doutrina. Parece que o conhecimento bíblico de alguns se resume ao que eles escutam nas músicas evangélicas, que no geral, convenhamos, são fraquíssimas teologicamente. É como um soldado que pensa ter uma grande arma e, indo à frente da batalha, precisando usá-la, percebe que não passa de um canivete. Entretanto…

5 – A maneira que Jesus usou para se defender também foi citar as Escrituras. Não foram palavras de ordem, nem gritos, nem chavões, nem simpatias ou campanhas de sete, dez ou doze passos. A Palavra de Deus, dentro do contexto correto, em conformidade com a completude dela é que fez Satanás desistir de assediar Cristo. Resista ao inimigo e ele fugirá de vós (Tiago 4.7). No entanto, muitos tem medo da Teologia, ou a acham desnecessária. Bastam as experiências. Teologia não é somente para acadêmicos. Fazer teologia é estudar sistematicamente a Palavra, procurando entendê-la conforme a orientação do Espírito Santo. Ou seja, qualquer crente fiel faz teologia. Não estudá-la é coisa de crente preguiçoso e relapso. A voga da Teologia da Prosperidade e da Confissão Positiva, por exemplo, se deve à falta de compreensão de assuntos básicos da fé cristã.

Conclusão

Desertos são comuns na vida do cristão, como são também as tentações e provações. Mas somos instados pelo Senhor a resistir a elas, para que aprendamos e sejamos completos em tudo (Tiago 1.2-4).

Salva-nos, Senhor, nosso Deus, e congrega-nos dentre as nações, para que louvemos o teu santo nome, e nos gloriemos no teu louvor. (Salmos 106:47)
Fonte: NAPEC

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Sou a favor do aborto


Por Maurício Zágari

Acho muito curioso quando as mulheres que praticam abortos ou os indivíduos que defendem essa prática justificam-se usando o argumento de que “cada mulher é dona de seu próprio corpo” e, por isso, pode fazer o que quiser com ele. Esse é o argumento principal: já que o corpo é meu, tenho total soberania sobre ele. Isso incluiria o direito de aniquilar aquele ser humano que ali está alojado. Bem, existem algumas questões a serem consideradas sobre esse argumento.

Em primeiro lugar, biblicamente ninguém é dono de seu próprio corpo: seu dono é Deus, o autor da vida. Mas nao precisamos nem entrar pela teologia, até porque para um ateu esse argumento não tem nenhum valor, visto que não crê na Bíblia. Então caminhemos por outras veredas, como, por exemplo, o campo jurídico.

O argumento de que cada um é dono de seu próprio corpo mediante a lei é relativo. Quer ver? Quebre a lei. Cometa um crime. Você verá que quem vai decidir se seu corpo ficará trancafiado em uma cela por anos ou se ele terá o direito de continuar andando solto por aí será um juiz ou um júri – não você. Ou então complete 18 anos e veja se, salvo tendo você um bom pistolão, não será obrigado a levar seu corpo todos os dias, durante um ano, a um quartel, onde um militar qualquer vai obrigar seu corpo a fazer polichinelos e flexões, saltar obstáculos e coisas afins. Ou seja: mesmo que não estejamos falando em termos religiosos, a ideia de que seu corpo é propriedade exclusiva sua não passa de uma doce ilusão.

Tendo visto isso, chegamos à questão do aborto. Essa mesma ilusão leva milhares de mulheres a assassinar seus próprios filhos dentro de seus ventres, por achar que têm esse direito. A verdade, queira-se ou não, é que aquele indivíduo que está temporariamente dentro do corpo da mulher não faz parte do corpo dela. Nem de longe. Ou seja: mesmo que a teoria de que cada um seja proprietário de seu corpo fosse verdadeira, o ser humano que cresce dentro do organismo de uma grávida não faz parte do mesmo corpo. Ou seja, é apenas um inquilino, que está ali para se alimentar por nove meses até chegar a hora de enxergar a luz do sol. Por meio de um cordão umbilical, aquela pessoinha apenas se alimenta e se oxigena.

E é extremamente fácil provar que um feto não faz parte do corpo da mãe. Consideremos o DNA. Toda e qualquer célula do seu corpo, amigo leitor, carrega em si o mesmo DNA, ou seja, o mesmo código genético. Sejam células do cabelo, da bochecha, da pele, do duodeno ou do osso do calcanhar. Agora, compare o DNA de qualquer mãe com o DNA de seu filho e você descobrirá que são diferentes. O que prova que geneticamente o corpo da mãe e o corpo do filho são entidades essencialmente distintas.

Vamos além: tipo sanguíneo. O meu é A negativo. O de minha mãe não. Se o sangue de minha mãe correr dentro de minhas veias eu entro em colapso e morro. E isso ocorre porque o sangue que percorre meu corpo é diferente do de minha mãe, o que é mais uma prova de que somos entidades distintas.

Pensemos agora em um assunto não muito agradável, mas ilustrativo: amputações. Sempre que você amputa uma parte de seu corpo, alguma funcionalidade se perde. Se decepar a mão direita, sendo você destro, por exemplo, terá de reaprender a escrever. Se amputar uma de suas pernas dependerá de algum prótese ou muleta para poder caminhar. Já no caso do aborto, o corpo da mãe-hospedeira não perde nenhuma funcionalidade. Isto é, em termos meramente funcionais, a remoção da criança não altera em nada o funcionamento do organismo da mãe. Mais uma prova de que trata-se de um ser humano completamente independente.

Em resumo: abortar sob o argumento de que a mãe tem direito sobre seu próprio corpo é uma tremenda desculpa esfarrapada para desculpar o indesculpável. É uma justificativa capenga e sem o menor nexo religioso, jurídico ou biológico para justificar o injustificável. Por uma única razão: aquele corpinho que cresce lindamente dentro do corpo da mãe não faz parte do corpo dela, apenas extrai dela o que precisa até se tornar uma criatura autônoma. É um ser humano absolutamente à parte. Logo, a mãe não tem direito algum de assassiná-lo sob o argumento de que tem direito sobre seu próprio corpo.

Mas sou a favor do aborto

Porém, como eu disse no título deste artigo, sou a favor do aborto. Sou 100% a favor. Tornei-me a favor do aborto em 1996, quando Jesus me converteu. Mas, antes que você queira me apedrejar, preciso explicar que não estou me referindo ao abominável, desumano e bárbaro aborto de seres humanos. Me refiro a um aborto que tem de ser feito todos os dias, dia após dia, durante toda a vida. Pois dentro de meu corpo cresce uma entidade que não pertence a ele, um parasita que não compartilha do meu DNA, que não tem o mesmo sangue que eu mas que se alimenta de minhas fraquezas e paixões, crescendo mais e mais dentro de mim. E, se eu não fizer um aborto todos os dias, constantemente, extirpando de mim esse elemento maligno initerruptamente, ele vai acabar sugando de mim toda a vida e me condenando à morte.

Seu nome é pecado.

A entidade que cresce dentro de uma mulher é resultado de uma união, a união de dois seres que estabeleceram um relacionamento e isso gerou aquela vida. Já a entidade que cresce dentro de mim é resultado de uma separação, a separação de dois seres que tiveram uma quebra de relacionamento e isso gerou aquele parasita. Foi quando Adão rompeu seu cordão umbilical com Deus que isso fez com que todos os seus descendentes passassem a nascer com aquele tumor espiritual dentro de si. Um tumor maligno que envenena, distorce nossa natureza e nos tira a saúde espiritual que inicialmente o Senhor planejou para toda a humanidade.

O pecado, assim como um feto, começa pequeno, às vezes imperceptível, e, quanto mais de nossa natureza humana lhe concedemos, mais ele cresce, fortalecendo-se e agigantando-se. Contrariando minha natureza de filho de Deus. Tentando deformar-me e me transformar em algo de um aspecto quasimódico.

No caso do feto, é a mãe que lhe transmite todo tipo de elementos necessários ao seu desenvolvimento: nutrientes, oxigênio e tudo o mais que o fará crescer e viver. Já no caso do pecado, tudo de que ele precisa para crescer e sobreviver é que não o abortemos. Basta deixa-lo ali, tranquilo em seu canto, quietinho, pois o mero contato dele com nossa natureza humana já lhe dá todo alimento de que necessita. Só que, ao contrário da relação entre uma mãe e seu filho, em que ela é quem lhe transfere elementos, é o pecado quem transmite ao seu hospedeiro todo tipo de elementos nocivos: imoralidade sexual, fornicação, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a essas.

Se o feto que vive dentro de uma mulher não for abortado, crescerá tanto que um dia, após nove meses, deixará seu corpo. Mas, no caso do pecado, se ele não for abortado crescerá tanto que um dia poderá chegar ao ponto de se enraizar no seu organismo a tal ponto que tomará conta de sua vida. E, assim, assumirá o controle. Os braços do pecado crescerão por dentro dos seus, as pernas dele se desenvolverão por dentro das suas, o coração do pecado tomará lugar do seu e você começará a pensar com o cérebro do pecado. Como num filme de terror em que um parasita alienígena implantado no corpo de uma pessoa assume aos poucos sua identidade, assim é com o pecado: se não o abortarmos o quanto antes, em breve nossa natureza regenerada e justificada será substituída pela natureza pecaminosa. É o que 1 Tm 4.2 chama de consciência cauterizada.

Essa é a explicação para quando um obreiro frauda o imposto de renda ou a contabilidade de sua empresa. Ou quando um pastor abandona sua esposa. Ou quando uma mulher de Deus se rebela contra a autoridade de seu marido. Ou quando cristãos sinceros enveredam pela política partidária e se deixam corromper. Ou quando um conselho de uma igreja trabalha com caixa dois. Ou quando liderados conspiram contra seus líderes. Ou quando líderes enxergam os membros de sua igreja mais como dizimistas do que como almas. Ou quando um cristão não honra com sua palavra ou seus compromissos. Ou quando um pastor rouba. Ou quando um homem espiritual passa um cheque sem fundos. Ou quando um filho criado na igreja se rebela contra seus pais. Ou quando denominações evangélicas desqualificam outras denominações. Ou quando nosso sim deixa de ser sim e nosso não, não. Em qualquer um desses casos e muitos outros simplesmente aquele pecado maldito não foi abortado enquanto ainda era tempo.

A boa notícia

Mas há uma boa notícia: nunca é tarde para praticar esse aborto. Se você identifica que esse tumor maligno chamado pecado infiltrou-se de tal modo no organismo da sua alma a ponto de te afastar de Deus, há um local onde esse aborto pode ser praticado de forma legalizada e livre de efeitos colaterais.

Chama-se joelho.

Prostre-se. Humilhe-se. Suplique. Rasgue seu peito ante o Senhor e confesse a Ele tudo o que intoxica sua alma. E isso numa conversa franca e sem medos. Busque junto ao Espírito Santo a libertação desse pecado que tanto te envenena. Nunca é tarde demais para isso. Seja lá qual for o pecado que assola a sua vida, você pode neste exato instante submeter-se a uma cirurgia espiritual que vai eliminar totalmente esse parasita infeccioso. E estou falando isso para cristãos, pois muitos de nós que amamos de verdade a Cristo e ao Evangelho diversas vezes deixamos certos pecados crescerem em nós, alimentados por nossas fraquezas e paixões. E para expeli-los precisamos desesperadamente de Jesus.

Sou a favor do aborto do pecado. Foi para realizar esse aborto que Jesus se fez carne e veio até nós, para fazer aquilo que o anjo disse a José em Mateus 1.21: “Ele salvará o seu povo dos seus pecados”. Afinal, como o próprio Cristo afirmou, “Não necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos; eu não vim chamar justos, mas pecadores” (Mc 2.17). Ainda há tempo de buscar socorro junto ao médico dos médicos. Para aqueles que assim não fizerem, o próprio Cordeiro de Deus, que veio para tirar o pecado do mundo, dá, em Jo 8.21, o terrível diagnóstico: “Morrereis no vosso pecado”. Você, querido leitor, sabe exatamente qual é o pecado que tem infeccionado a sua alma. Mas a boa notícia é que a cura está à disposição. Cabe a você optar: morrer no pecado ou vê-lo abortado de sua alma. O que vai ser?

Paz a todos vocês que estão em Cristo!

Fonte: Apenas


O que é nossa "Velha natureza"?


Por R. C. Sproul

Nossa "velha natureza" é a nossa familiaridade com o pecado por causa de experiências passadas e o nosso conhecimento dele?

Quando a Bíblia fala de nossa "velha natureza," é fácil supor que ela se refira às memórias daquilo que se passou em nossa vida, nossos velhos padrões de comportamento. Penso que a expressão significa muito mais do que isso. O contraste entre velha e nova naturezas ao qual Paulo se refere freqüentemente nas Escrituras é muitas vezes apresentado em outros termos: velho homem e novo homem. A maneira geral com a qual o apóstolo descreve é o contraste entre carne e espírito.

Creio que quando Paulo fala de velho homem, ele está se referindo à natureza humana decaída que é o resultado direto do pecado original; isto é, pecado original não é o primeiro pecado cometido por Adão e Eva, mas a conseqüência dele. O fato é que somos seres decaídos e que nós, por causa dessa natureza decaída, nascemos num estado de separação de Deus. Estamos mortos para as coisas do Espírito. Paulo nos diz em Romanos que a mente da carne não pode agradar a Deus. Não temos nenhuma inclinação ou disposição para obedecer a Deus num sentido espiritual. Essa é a nossa velha natureza, nascemos desse jeito. Somos por natureza filhos da ira; estamos por natureza nesse estado de separação. E a partir dessa natureza que o Novo Testamento nos descreve como seres escravos dessa inclinação ou disposição para pecar.

Esse foi um debate que Jesus teve com os fariseus quando lhes disse que se eles continuassem com seus ensinamentos, eles seriam livres, e os fariseus ficaram indignados dizendo: "...jamais fomos escravos de alguém". Jesus lhes disse: "...todo o que comete pecado é escravo do pecado". Jesus lhes disse que eles eram escravos do pecado.

Paulo afirma que estamos debaixo do pecado, isto é, debaixo do peso dele, debaixo do seu fardo, porque a única disposição e inclinação que temos é a da carne. Não temos nenhuma inclinação natural para as coisas do Espírito até sermos nascidos do Espírito. Quando uma pessoa é regenerada, o Espírito de Deus vem e age sobre aquela pessoa e ele ou ela são uma nova pessoa. Aquele que está em Cristo é nova criatura. Eis que as velhas já passaram e todas as coisas se tornaram novas.

Isso não significa que a velha natureza pecaminosa, com sua disposição alheia a Deus esteja aniquilada. Para todos os propósitos e intenções ela foi destinada à morte. Sabemos que a batalha está ganha. Paulo diz que a velha natureza está morrendo diariamente, e que num certo sentido ela foi crucificada com Cristo na cruz. Não há nenhuma dúvida a respeito de sua destruição final e completa. Nesse meio tempo, vivemos essa luta diária entre o velho homem e o novo homem, a velha natureza e a nova natureza, o velho desejo pelo pecado e a nova inclinação que o Espírito de Deus fez nascer em nossos corações. Agora há uma sede e uma paixão por obediência que não havia lá antes.

Quem sentiu a presença de Deus nesta noite?


Por

Em onze de cada dez cultos pentecostais ouvimos a pergunta acima. Mas o que é sentir a presença de Deus? Será um arrepio? Será um choro? Ou um impulso para gritar? Ora, podemos resumir a presença do Altíssimo em manifestações sensoriais? Não, evidente que não! Mas também é evidente que a manifestação da presença do Senhor em partes das Sagradas Escrituras é sensorial, porém não devemos resumir a isso. A vaidade sempre bate na porta do nosso coração para dizer: "Olha, você é uma pessoal muito espiritual porque chorou na hora do louvor". Só que a voz da vaidade fala o que o coração corrompido quer ouvir.

Quando penso nesse assunto sempre gosto de lembrar 1 Reis 19. 11-13, que relato o encontro do profeta Elias com Deus em um momento de profunda melancolia:
O Senhor lhe disse: "Saia e fique no monte, na presença do Senhor, pois o Senhor vai passar". Então veio um vento fortíssimo que separou os montes e esmigalhou as rochas diante do Senhor, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Depois do terremoto houve um fogo, mas o Senhor não estava nele. E depois do fogo houve o murmúrio de uma brisa suave. Quando Elias ouviu, puxou a capa para cobrir o rosto, saiu e ficou à entrada da caverna. E uma voz lhe perguntou: "O que você está fazendo aqui, Elias? " [grifo meu]
A brisa suave representou a presença do Deus Todo-Poderoso. Vejam que o fortíssimo vento que quebrou rochas, onde Elias pensava encontrar Deus, ali Ele não estava. Deus estava no silêncio. Sim, Ele chegou com "uma voz mansa e delicada" (ARC e Almeida Fiel). É interessante como as traduções variam para descrever esse momento. Além das traduções já citadas (NVI, ARC e ACF) temos: "um sussurro calmo e suave" (NTLH), "um cicio tranquilo e suave" (ARA), "uma brisa suave começou a soprar" (The Message), "o ruído de uma leve brisa" (Bíblia de Jerusalém), "uma voz calma e suave" (Almeida Contemporânea), "uma voz mansa e suave" (Almeida Século XXI) e "uma voz dum suave silêncio" (Sociedade Bíblica Britânica e Tradução Brasileira). Todas as traduções refletem a variedade da expressão hebraica que literalmente significa a "quietude esmagada".

Nós, pentecostais, precisamos buscar Deus mais e mais no silêncio. Muitos pentecostais ainda confundem barulho com espiritualidade. A exegese malfeita de Atos 2 justifica toda espécie de bizarrice. Não custa lembrar as palavras do pastor pentecostal britânico Donald Bridge:
O subjetivista pensa constantemente que "Deus lhe manda" fazer coisas [...] Os subjetivistas são com frequência muito sinceros, muitos dedicados e dominados por um compromisso tal de obedecer a Deus que envergonham os cristãos mais prudentes. Entretanto, estão trilhando um caminho perigoso. Os ancestrais deles já o percorreram antes, e sempre com resultados desastrados a longo prazo. Sentimentos internos e inspirações especiais são, pela própria natureza, subjetivos. A Bíblia fornece nossa orientação objetiva. [1]
Então, podemos "sentir" a presença de Deus no mais completo silêncio, desde que o nosso coração esteja voltado para Ele.

Referências Bibliográficas:

[1] BRIDGE, Donald. Signs and Wonders Today. 1 ed. Leicester: Inter- Varsity Press, 1985. p 183. em: GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 2 ed. São Paulo: Vida Nova, 2010. p 901.