sábado, 29 de maio de 2010

Como Questionar a Deus


Por John Piper

Romanos 9:19,20 afirma:

Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade? Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?

Paulo certamente estava insatisfeito com esta reação ao seu en­sinamento sobre Deus. Isso significa que é errado questionar o en­sino bíblico? Penso que não.

Paulo falava sobre assuntos polêmicos, e Pedro admitia que, às vezes, suas cartas eram difíceis de entender: "há certas coisas difí­ceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como tam­bém deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles" (2Pe 3:16). Paulo acrescenta: "Logo, tem ele [Deus] misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz" (Rm 9:18). A questão é que o próprio Deus decide se teremos um coração endu­recido ou não. "E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal". Deus teve misericórdia de Jacó e endu­receu a Esaú (Rm 9:11-13).

Ouvindo tal afirmação, alguém contesta: "De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade?" (v. 19) Ao que Paulo responde: "Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?!

"A palavra "discutir" (antapokrinomenos) aparece novamente no Novo Testamento, em Lucas 14:5,6. Jesus está mostrando aos in­térpretes da lei e aos fariseus que é legítimo realizar curas aos sába­dos, dizendo-lhes: "Qual de vós, se o filho ou o boi cair num poço, não o tirará logo, mesmo em dia de sábado? A isto nada puderam responder (antapokrithenai)".

Em que sentido eles não puderam "responder"? Não foram ca­pazes de apontar,qualquer erro, criticá-lo de forma legítima, ou realmente contradizê-lo. Assim, a palavra "responder" (ou discutir) provavelmente carrega o significado de "responder (ou discutir) com o objetivo de criticar, discordar ou corrigir".

Penso ser este o motivo da insatisfação de Paulo em Romanos 9:20. Deixando aberta a possibilidade de que um tipo diferente de questionamento seja aceitável, isto é, o questionamento humilde, que contribuía para uma melhor compreensão, e não para a censu­ra, a condenação ou a crítica do que está sendo dito.

Em Lucas 1:31, por exemplo, o anjo Gabriel veio à virgem Maria e disse: "Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus". Ela ficou maravilhada e perplexa, afinal, virgens não têm filhos. Poderia ter zombado ou contestado, mas, em vez disso, perguntou: "Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?" (Lc 1:34). Ela não disse que seria impossível; perguntou: "Como?"

Por outro lado, temos a visita de Gabriel a Zacarias, pai de João Batista. O anjo veio e lhe disse: "Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome de João" (Lc 1:13). Zacarias sabia que "Isabel era estéril" (Lc 1:7), e seu ceticismo provocou um tipo de questionamento diferente: "Como saberei isto?". Ele não queria saber como o anjo o faria, mas qual a certeza de que o faria.

Gabriel não gostou dessa reação e disse: "Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para falar-te e trazer-te estas boas novas. Todavia, ficarás mudo e não poderás falar até ao dia em que estas coisas venham a realizar-se; porquanto não acreditaste nas minhas palavras, as quais, a seu tempo, se cumprirão" (Lc 1:19,20).

Concluo, portanto, que um questionamento humilde sobre como e por que Deus faz o que faz é aceitável a Deus. Ele responde de maneira satisfatória a Maria: "Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra" (Lc 1:35). Isso não diminuiu o mistério, mas ajudou.

Não posso remover o mistério de Romanos 9. Há mais para compreendermos do que temos visto, e eu quero desencorajar sua busca por conhecer mais e mais o coração e a mente de Deus. Ape­nas faça isso com humildade e com o desejo de confirmar o que ele já disse, ainda que lhe cause perplexidade.

Não deixe suas orações tornarem-se ocasiões para retrucar, não critique Deus nem sinta-se indignado com ele. Muito em breve, essa curta vida de perplexidades terminará: "Agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, co­nheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido" (ICo 13:12). Seja honesto com Deus sobre as coisas que o descon­certam, mas ponha a mão sobre boca se a contestação surgir. E melhor permanecer em silêncio e esperar pela explicação a dizer que algo não pode acontecer. "Somente em Deus, ó minha alma, espera silenciosa, porque dele vem a minha esperança" (SI 62:5).

Pai, confessamos que somos os filhos e tu és o Pai. Somos os aprendizes e o Senhor, o mestre. Somos pecadores e falheis e o Senhor, santo e sábio. Ensina-nos a medir nossos pensamentos pelos teus e não por outro padrão qualquer. Humilha-nos sobtua mão forte. Não permitas que nos indignemos contra o Senhor, que te critiquemos ou nos desapontemos contigo: Faze-nos estremecer diante de tais insultos. Oh! Quão profundas sãotuas riquezas e tua sabedoria! Quão insondáveis são teusjuízos! Quão inescrutáveis são teus caminhos! Louvamos-te!

Em nome de Jesus. Amém

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