sábado, 24 de abril de 2010

Deus tem Inimigos?














Por Jorge Fernandes Isah

É interessante que afirmamos o tempo todo ser satanás e o réprobo inimigos de Deus. Damos tanta atenção a alguns aspectos que existe uma legião de crentes capaz de considerar o diabo como um inimigo de Deus, estando no mesmo pé de igualdade, à Sua altura; quase como se fosse um “Deus”. Mas biblicamente, o que nos é dito? Eles são rivais? De certo modo, é verdade. Mas Deus tem inimigos? Sob qual ponto de vista Ele tem inimigos?

A palavra inimigo quer dizer:

1) Segundo o Priberan: adj. s. m. 1. Hostil, contrário a. 2. Que aborrece ou quer mal. 3. Que milita em facção oposta. 4. Com quem se anda em guerra. s. m. 5. Pop. Diabo.

2) Segundo o Michaelis: adj (lat inimicu) 1. Que não é amigo. 2. Adverso, contrário, hostil. 3. Indisposto, malquistado. 4. Adversário. sup abs sint: inimicíssimo. sm 1. Pessoa que tem inimizade a alguém. 2. Nação, tropa, gente com quem se está em guerra. 3. O diabo, o demônio. 4. O que tem aversão a certas coisas.

Definido o termo, há dois aspectos a serem ponderados:
1) Num sentido, Deus tem inimigos, como a própria Bíblia afirma. Se considerarmos que satanás e os réprobos fazem oposição a Ele, desobedecendo-o, em rebeldia, entendemos que há inimizade entre eles. Como os desejos do diabo e dos ímpios serão sempre contrários aos divinos, podemos declarar que o Senhor tem inimigos. E, na verdade, Deus odeia tudo quanto eles fazem [logo, odeia-os também], porque suas ações são sempre antagônicas à santidade e perfeição divinas.

2) Em outro sentido, não há como sustentar a afirmação. Por que? Tanto o diabo como os réprobos foram criados com um propósito claro e definido. Como criaturas, estão sujeitos à vontade do Criador, e não são seres autônomos que podem fazer o que lhes “der na telha”, mas estão a cumprir rigorosamente todo o plano soberano de Deus, sem que nenhum dos seus atos e vontade estejam alheios a Ele, que os mantém sob o Seu serviço, às Suas ordens, como subordinados e completamente dependentes dEle. Portanto, o Senhor não tem inimigos, mas subalternos.

Parece algo conflituoso, mas não é. Veja bem: do ponto de vista de se oporem a Deus, de trabalharem contra, dando vazão à natureza rebelde, e assim desobedecê-lo, satanás e os réprobos são inimigos. Mas dentro do decreto eterno, onde todas as coisas, inclusive os anjos caídos e os ímpios, encontram-se na categoria de forjados, talhados e moldados pelo Criador para cumprirem Seus santos e perfeitos desígnios... sendo como tudo o mais criação e criaturas; sendo o poder delas proveniente, secundário e ordenado; sendo o Senhor Todo-Poderoso e não havendo “força” que possa confrontá-lo, nem impedi-lo de realizar qualquer dos seus propósitos... Deus não tem inimigos. Deve-se frisar que mesmo os atos pecaminosos e frontalmente contrários a Deus, executados pelas criaturas, foram por Ele determinados e ordenados antes da fundação do mundo.

Qual demônio ou mesmo legiões de demônios, homem ou elemento da natureza pode agir livremente e eficientemente impugná-lo? Quando digo livremente, estou a dizer a possibilidade de uma vontade neutra, sem coerção ou influências, o que, entre as criaturas, é impossível. Todos, sem exceção, até mesmo Adão e Eva no Éden estão sujeitos a algum tipo de constrangimento; quanto aos elementos da natureza, eles não têm vontade, logo, não lhes é possível fazer escolhas.

Deve-se entender que a natureza caída do homem exerce influência nele, e ele se opõe pela força da sua natureza, a qual o leva a escolher se rebelar. Com isso não quero dizer que o homem é escravo de sua natureza, no sentido de dominá-lo à força, mas o intelecto, as vontades e decisões trabalham em comum acordo, em sintonia, cumprindo o intento de se rebelar contra Deus assim como a natureza pecaminosa do homem quer fazê-lo.

Por eficiência, digo que se refere ao fato do homem se rebelar e levar a melhor contra Deus, tendo a mais insignificante e irrisória possibilidade de vitória. Ninguém pode derrotá-lo. Ainda que alguns achem possível, e o diabo, especialmente, parece disposto e empenhado em infligir-lhe um revés... Como isso aconteceria?

Criaturas não-eternas não podem vencer o Eterno. Criaturas não-infalíveis não podem vencer o Infalível. Criaturas não-soberanas não podem vencer o Soberano. Criaturas não-santas não podem vencer o Santo. Criaturas não-perfeitas não podem vencer o Perfeito. Em todos os aspectos, satanás e os réprobos já estão derrotados, antes mesmo da fundação do mundo; na verdade, foram criados para a perdição eterna, a derrocada inevitável, sem a menor chance de vitória.

Portanto, pode Deus ter inimigos? Sim e não. Não há nenhum paradoxo ou mistério nesta assertiva. Apenas são faces diferentes de uma mesma moeda, na qual Deus usa de uma linguagem antropomórfica para que entendamos a Sua relação como Criador com a obra de Suas mãos: anjos, homens e a natureza. No fundo, tudo se resume em: ainda que Deus tenha inimigos, eles nada podem fazer contra Ele, pois, na condição de servos, resta-lhes obedecê-lo ainda que na desobediência. Se quisesse, o Senhor já tê-los-ia destruído, assim como tudo o que criou e que pode ser chamado e colocado no rol de "inimigo".

Deus não tem inimigos pois não há ninguém, nem força alguma capaz de confrontá-lO; algo que possa, de alguma forma e alheio ao Seu controle, opor-se deliberadamente. Ou seja, nada se resolve sem a aquiescência divina; nenhum ato é possível independente dEle; mesmo o mal, o pecado, a rebeldia, a obstinação pecaminosa, todos foram traçados e estão diante dos Seus olhos eternamente.

E assim, quer por bem ou por mal, o homem, seja natural ou espiritual, glorifica-lo-á, assentindo ou não, na salvação ou condenação, pois toda a vontade decretiva divina se cumprirá inexorável e infalivelmente. Por que, no fim, toda a criação objetiva a glória de Deus.

E Ele é e será glorificado; ontem, hoje, sempre.

Fonte: KÁLAMOS

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