Por Pr Silas Figueira
Texto base: Lucas 11.20-28
INTRUDUÇÃO
Após Jesus expulsar um
demônio de um homem que o deixava mudo e cego, os fariseus (Mt 12.24) e os
escribas (Mc 3.22) começaram a blasfemar e dizer que Jesus fazia tais prodígios
pelo poder de Belzebu, o príncipe dos demônios – Satanás. Em sua defesa Jesus
lhes pergunta por quem expulsava os seus filhos? Com essa pergunta o Senhor
deixava exposta a incoerência deles. Se expulsar demônios provava que alguém
estava em aliança com Satanás, então os exorcistas que atuavam entre eles
estavam em aliança com Belzebu também! Esses exorcistas eram rabinos, fariseus,
escribas e seus discípulos. Como explicar isso então? Com isso, Jesus os
encurrala em seus próprios argumentos.
Jesus continua o
diálogo dizendo que se Ele expulsava demônios pelo dedo de Deus era chegado a
eles o reino de Deus. Leon Morris diz que a presença do reino deve ser vista, não
em bons conselhos nem em práticas piedosas, mas, sim, no poder que expulsa as
forças do mal [1].
Quais as lições que
podemos tirar desse texto para nós hoje?
1
– A AUTORIDADE DE JESUS SOBRE OS DEMÔNIOS ERA A PROVA DA CHEGADA DO REINO DE
DEUS (Lc 11.20-23).
Longe de aceitar a
perversa e blasfema acusação dos escribas, Jesus mostra a libertação dos
cativos pelo dedo de Deus como uma prova irrefutável da triunfal chegada do reino
de Deus sobre eles (11.20) [2]. Jesus expulsava os demônios pelo poder do Espírito
Santo (cf. Mt 12.28). Basta que Jesus levante o dedo, e Satanás solta a sua
presa. Esse modo de falar simboliza o reino e a supremacia incondicionais sobre
Satanás. Neste caso, porém, o reino de Deus chega já na pessoa de Jesus [3].
Quando Jesus usou a
expressão “dedo de Deus”, Ele estava
reportando ao que aconteceu em Êxodo 8.19, quando os magos de Faraó reconheceram
o poder de Deus agindo através de Moisés. No entanto, os líderes religiosos
judeus não reconheciam o poder de Deus exibido pelo Senhor Jesus Cristo. Nada
poderia demonstrar mais claramente a sua condição de morte espiritual. A
incredulidade era tanta que eles não perceberam o tempo da visitação de Deus em
suas vidas.
Com isso em mente,
podemos destacar três fatos importantes:
1º - Em primeiro lugar,
Jesus destaca que Satanás é um adversário forte (Lc 11.21).
Aqui Jesus compara Satanás a um homem forte totalmente armado. Jesus deixa
claro que a nossa luta é contra um adversário poderoso. Em momento algum o
Senhor disse que o diabo é um ser fraco, pelo contrário, ele é um ser ardiloso,
como nos alertou o apóstolo Paulo (2Co 2.10,11).
Jesus mostra Satanás como
o valente que guarda sua casa armado.
Sua casa aqui simboliza o homem sob o seu poder. Satanás até então estava em
paz, pois ainda não havia se manifestado o reino de Deus.
2º - Em segundo lugar,
Jesus destaca que Satanás é um adversário derrotado (Lc 11.22).
Jesus é o mais valente que ataca e domina o valente, tira-lhe toda a armadura
em que ele confiava e distribui seus despojos. Satanás e suas hostes demoníacas
são impotentes para impedir o Senhor Jesus de resgatar almas do reino das
trevas (Cl 1.13,14). Jesus demonstrou claramente o Seu poder curando o mal que
estava sobre este homem, e também outras doenças que eram resultado da ação de
Satanás sobre a raça humana em pecado. Jesus foi além, Ele venceu a morte “aniquilando o que tinha o império da morte,
isto é, o diabo” (Hb 2.14). Ninguém além de Jesus poderia tão completamente
“destruir as obras do diabo” (1Jo 3.8).
3º - Em terceiro lugar,
Jesus alerta acerca da neutralidade (Lc 11.23).
Na guerra entre Deus e Satanás, entre o céu e o inferno, entre o bem e o mal,
entre a verdade e o erro, ninguém é neutro. Não podemos tentar agir como
Pilatos que lavou as suas mãos quando tinha que tomar uma decisão a respeito de
Jesus (Mt 27.19,24). Não é necessário se opor abertamente a Cristo atacando a
Sua divindade, Sua Palavra, o Evangelho ou mesmo Sua Igreja para ser contra
Ele; é suficiente apenas não tomar uma decisão sobre Ele. Não tomar decisão
nenhuma já é uma decisão tomada.
Há duas forças
espirituais agindo no mundo, e devemos escolher uma delas. Satanás espalha e destrói,
mas Jesus Cristo junta e constrói. Devemos fazer uma escolha e, se optarmos por
não escolher um lado, já teremos decidido ficar contra o Senhor [4]. Saiba de
uma coisa: “O muro pertence ao diabo”.
2
– O PERIGO DA CASA VAZIA (Lc 11.24-26).
Quando um homem se vê livre
de um espírito maligno, mas não põe nada no seu lugar, está passando grave
perigo moral. Ninguém pode viver por muito tempo tendo um vácuo moral na sua
vida. O reino de Deus não provoca semelhante vácuo moral num homem. Significa
uma vitória tão grande sobre o mal que o mal é substituído pelo bem e por Deus
[5].
Podemos destacar
algumas lições do que Jesus falou a respeito da casa adornada e vazia.
1º - Em primeiro lugar,
existe muita libertação superficial (Lc 11.24,25).
Jesus trata aqui de um homem que foi libertado de um espírito imundo, mas
deixou de comprometer-se com Deus. O demônio que saiu do homem ainda o chama de
“minha casa”. O demônio saiu, mas o Espírito Santo não entrou. A vida tornou-se
melhor, mas a transformação não aconteceu [6]. É o que podemos chamar de
evangelho social. Moralmente este homem melhorou, mas por pouco tempo. Não
aconteceu uma conversão genuína a Cristo, mas uma mudança superficial. Ele não
é trigo, ele continua joio.
2º - Em segundo lugar,
uma casa adornada, mas vazia, ainda é moradia do diabo (Lc 11.25).
É uma verdade fundamental que a alma de um homem não pode ficar vazia. Não
adianta os demônios saírem se a alma do homem liberto não for preenchida pela
presença do Espírito Santo. Ela continuará vazia. Esta foi a crítica que Jesus
fez aos exorcistas de sua época. Eles expulsavam o demônio, mas não preenchia a
alma liberta com a presença de Deus. Jesus quando expulsava demônios os proibia
de retornarem (Mc 9.25), pois a pessoa liberta se convertia a Cristo (Mc
5.18-20).
O evangelho social tem
feito isso com as pessoas – pois não há conversão –, elas aparentemente têm
melhorado, mas estão vazias da presença do Espírito Santo em suas vidas. São
frequentadoras da igreja, mas andam descompromissadas com a verdade do
Evangelho. Muitos vivem de forma dissoluta não testemunhando uma fé genuína.
Como disse Champlin: “Nenhuma
verdadeira santidade existe ali para barrar a porta; nenhuma espiritualidade
positiva existe para guardar o portão. A reforma é superficial sujeita a
reversão imediata” [7].
3º - Em terceiro lugar,
o último estado é pior que o primeiro (Lc 11.26).
“Porquanto se, depois de terem escapado
das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo,
forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado
pior do que o primeiro. Deste
modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao
seu próprio vômito, e a porca lavada ao espojadouro de lama” (2Pe
2.20,22).
Vivemos hoje o perigo
da igreja adornada e vazia. O perigo de uma igreja que tem perdido os seus
valores judaico-cristãos. Uma igreja que tem feito aliança com o mundo para
agradar as pessoas do mundo. É o que chamamos de liberalismo teológico. E temos
visto isso acontecer em todas as denominações.
Vivemos em uma época
extremamente relativista. Essa forma de pensamento pós-modernista pressupõe
apenas uma coisa: negar a existência da verdade. É um pensamento filosófico que
nega o pensamento absoluto e exalta que tudo depende do ponto de vista. E isso
tem ocorrido em relação às Escrituras dentro da igreja. A presença do
politicamente correto nas igrejas vem com a relativização dos “valores morais”
presentes na Bíblia Sagrada, para agradar a audiência, por isso tantas igrejas
têm abraçado a ideia de “igreja inclusiva”. E isso é só o começo.
Para você ter apenas
uma ideia do que está acontecendo por aí. Um determinado líder afirmou que
muitas igrejas aceitam gays, mas pedem para que eles se abstenham das relações
homoafetivas. Na igreja que ele pastoreia, disse ele, não será necessário
abandonar tal prática. A Igreja desse indivíduo anunciou a novidade utilizando
a bandeira LGBTQ+ que é representada pelo arco-íris. Isso é só uma gota no mar
lamacento que estamos vendo entrando na igreja hoje. Judas em sua carta chama
esses líderes de “Ondas impetuosas do
mar, que escumam as suas mesmas abominações” (Jd 1.13).
3
– A VERDADEIRA LIBERTAÇÃO (Lc 11.27,28).
Somente Lucas nos conta
acerca desta exclamação espontânea de uma mulher que estava entre a multidão.
Parece que aquela senhora pensava quão maravilhoso seria ter um filho como
Jesus, e pronunciou uma bem-aventurança sobre aquela que O deu à luz. Suas
palavras envolvem um reconhecimento do Seu messiado e são parcialmente uma
saudação a Jesus [8].
Com isso, podemos
destacar duas coisas:
1º - Em primeiro lugar,
Jesus foi exaltado em meio à blasfêmia dos líderes religiosos. Esta
mulher dentre a multidão estava, sem dúvida, dominada pela sabedoria e pelo
poder que se manifestavam nas palavras e obras de Jesus. Ela podia ser uma
daquelas que haviam experimentado a cura da possessão demoníaca que Jesus
acabara de discutir [9]. O louvor da mulher certamente representou uma bela
honraria num instante em que os hierarcas do país já o condenavam como herege
supostamente aliado ao diabo [10].
Vivemos uma época em
muitas pessoas têm blasfemado o nome do Senhor, difamado a Sua Igreja e
menosprezado a Sua Palavra. Mas nós, como seus servos, devemos fazer como esta
mulher, exaltar o Senhor por tudo que Ele representa em nossas vidas, e isso
deve ser feito não em oculto, mas diante daqueles que O blasfemam. Isso se chama
testemunho.
2º - Em segundo lugar, Jesus
deixou claro qual é a verdadeira bem-aventurança.
A maior bênção é ouvir as Palavras de Jesus e organizar a vida de acordo com
elas. Portanto, mesmo para a própria Maria, a relação de discípula é mais
abençoada do que a de mãe [11].
Essa bem-aventurança
está em harmonia com o Salmo 128.1 que diz: “Bem-aventurado
aquele que teme ao SENHOR e anda nos seus caminhos”. E também com os
ensinamentos de Jesus: “Todo aquele,
pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem
prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha” (Mt 7.24).
Você é um
bem-aventurado?
CONCLUSÃO
Os tempos podem não ser
os mais favoráveis para a igreja, mas é nessa hora que devemos levantar a
bandeira do verdadeiro Evangelho e mostrar ao mundo que o Nosso Redentor Vive e
que temos uma aliança com Ele. Que a nossa aliança não é com o relativismo e
muito menos com a teologia liberal. Somos sim, fundamentalistas, pois estamos
fundamentados na verdade do Evangelho e não negociamos a nossa fé para agradar
o mundo.
Pense nisso!
Bibliografia:
1 – Morris, Leon L. Lucas,
Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP,
1986, p. 187.
2 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p.
361.
3 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 168.
4 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 2007, p. 280.
5 – Morris, Leon L.
Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São
Paulo, SP, 1986, p. 188.
6 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p.
364.
7 – Champlin, R. N. O
Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, vol. 2, Ed. Hagnos,
São Paulo, SP, 2005, p. 118.
8 – Morris, Leon L.
Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São
Paulo, SP, 1986, p. 189.
9 – Childers, Charles
L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ,
2006, p. 419.
10 – Rienecker, Fritz.
O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 169.
11 – Childers, Charles
L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ,
2006, p. 419.
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