Por Pr Silas Figueira
Texto base: Lucas 11.29-36
INTRODUÇÃO
Durante todo o Seu ministério, o Senhor Jesus Cristo enfrentou a hostilidade e oposição, principalmente dos líderes da seita religiosa judaica; os escribas, fariseus e saduceus. Em Mateus 12.38 nos diz que os escribas e os fariseus tentaram colocar Jesus em dificuldades, pedindo que Ele lhes mostrasse algum sinal. O Mestre tinha acabado de lhes dar um maravilhoso sinal, ao libertar o endemoninhado cego e mudo. Mas eles procuravam alguma coisa ainda mais sensacional e espetacular. O texto de Lucas 11.16 indica que eles estavam pedindo “um sinal do céu” que provasse que Ele era o Messias [1]. Eles queriam um sinal do céu, algo como a chuva de maná no deserto (Êx 16.4s) ou a parada do sol e da lua (Js 10.13) ou a chuva de fogo do céu em Elias (1Rs 18.38). A exigência do sinal era tão-somente um pretexto para justificar sua incredulidade [2].
Jesus já tinha curado
enfermos, purificado leprosos e ressuscitado mortos, e eles ainda se mantinham
reféns de seu coração endurecido. Até mesmo quando Jesus estava dependurado no
madeiro, disseram-lhe: Desce da cruz e creremos em ti. O problema deles,
entretanto, não era evidência suficiente, mas cegueira incorrigível [3].
No relato de Marcos,
Jesus diz simplesmente: “a esta geração
não se lhe dará sinal algum” (Mc 8.12). Eles estavam tão cegos em seu ódio
contra Jesus, que eles não perceberam as oportunidades espirituais que estavam
perdendo.
Vejamos quais as lições
que podemos aprender com esse texto.
1
– JESUS NÃO SE SURPREENDEU COM A INCREDULIDADE DAQUELA GERAÇÃO (Lc 11.29).
Jesus não se
surpreendeu com a incredulidade daquelas pessoas, principalmente dos líderes judeus.
Não era por falta de sinais e prodígios que eles desacreditavam de Jesus, era
porque Jesus não fazia o que lhes agradava. Jesus colocava em xeque a
autoridade deles (Mt 7.28,29), e isso gerou no coração deles um ódio profundo
por Jesus.
Podemos destacar duas
lições aqui:
1º - Em primeiro lugar,
o problema dos líderes religiosos não era a falta de luz, mas a falta de visão.
Eles estavam cegos de ira e de inveja de Jesus. A luz estava em todos os
lugares. Ela brilhou de forma extraordinária nos milagres realizados por Jesus
(Jo 15.24; cf. Jo 5.36; 10.25,38; 14.11) e no ensino incomparável que Ele deu (cf.
Mt 7.28; Jo 7.46). Nada revela mais profundamente a maldade dos que o rejeitaram
do que a realidade de que a luz estava em toda parte, mas eles recusaram-se a
vê-la.
Há um velho ditado que
diz que “o pior cego é aquele que não quer ver”. Assim eram essas pessoas que
pediam um sinal a Jesus. E se Jesus lhes desse mais algum sinal eles
continuariam na incredulidade.
2º - Em segundo lugar,
aquela geração era maligna (Lc 11.29). Outro grande
problema que temos aqui é que aquela geração era maligna. Era uma geração de
incrédulos. Como lemos em Jo 12.37-40: “E, ainda que tinha
feito tantos sinais diante deles, não criam nele; para que se cumprisse a
palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? E a
quem foi revelado o braço do Senhor? Por isso não podiam crer, então Isaías
disse outra vez: Cegou-lhes os olhos, e endureceu-lhes o coração, A fim de que
não vejam com os olhos, e compreendam no coração, E se convertam, E eu os cure”.
O Senhor permitiu que eles permanecessem em sua incredulidade.
O uso da palavra genea (geração) indica que Jesus estava
se referindo à maioria das pessoas em Israel naquela época; tanto de galileus
(cf. Lc 9.41), quanto também dos judeus. A forma como Jesus caracteriza o povo
de Israel como ímpio é chocante. Afinal, Ele não estava falando dos pagãos que
adoravam ídolos ou ateus. A geração que Ele se referia era, pelos padrões
humanos normais, extremamente morais, religiosos e conscientes de Deus. O povo
judeu foi fanaticamente devotado a manter a lei de Deus e observar suas
tradições religiosas, como a vida de Paulo antes de sua conversão ilustra (cf.
Atos 22.3; Gl 1.14). Mas embora exteriormente parecesse ser justas,
interiormente, estavam cheios de maldade (Lc 11.39; Mt 23.25-28).
Algo que não podemos
deixar de observar nos dias de hoje. Vivemos um tempo de muita apostasia, de
muita incredulidade e de pouca fé. Uma geração de cristãos que espera muito de
Deus, mas que não quer lhe dar a devida adoração. Uma geração mimada que pisam
no sagrado e profanam o nome do Senhor. E não precisamos ir longe para vermos o
que está acontecendo, basta olharmos as redes sociais.
2
– JESUS DÁ TRÊS SINAIS AOS SEUS OPONENTES (Lc 11.31-36).
Jesus não se sujeita em
realizar o que seus adversários desejavam. Eles queriam que Jesus realizasse algum sinal
(milagre) extraordinário, mas Jesus diz que lhes dará três sinais, não sinais
miraculosos, mas sinais de condenação, pois aquela geração cega havia rejeitado
a luz do mundo (João 8.12; 9.5). Estes versículos revelam a realidade do
julgamento, e a razão para o julgamento.
1º - Primeiro, o sinal
do profeta Jonas (Lc 11.29,30,32). Quando Jonas foi
chamado a pregar em Nínive, ele tentou escapar do Deus de Israel abandonando a
terra de Israel: “Mas Jonas fugiu da
presença do Senhor, dirigindo-se para Társis” (Jn 1.3a). A história
demonstra que Deus não só está presente no templo de Israel, mas também
onipresente em todas as nações [4].
a) Os ninivitas se arrependeram com a mensagem de Jonas (Lc 11.32). Pessoas menos iluminadas obedeceram a uma pregação menos iluminada; porém pessoas muito mais iluminadas se negaram a obedecer à Luz do Mundo [5]. Ambos proclamaram julgamento e chamado para o arrependimento.
Jesus
diz que, no dia do juízo, os ninivitas se levantarão para condenar essa geração,
pois ouviram a pregação de Jonas e se arrependeram; no entanto, Jesus, sendo
maior do que Jonas, não foi ouvido por sua geração, que permaneceu incrédula e
perversa [6].
b) Jonas simboliza a ressurreição
de Jesus (Mt 12.40). “Pois,
como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o
Filho do homem três dias e três noites no seio da terra”. Para os
ninivitas, “o sinal” era claramente a
reaparição miraculosa do homem que se cria estar morto. Jonas tinha estado
dentro da baleia (Jn 1.17) antes de voltar à vida, por assim dizer. Para os
ninivitas o sinal foi o reaparecimento de um homem que aparentemente estivera
morto durante três dias. Para os homens dos dias de Jesus, o sinal seria o
reaparecimento do Filho do homem no terceiro dia após a Sua morte [7].
A
mensagem de Jonas impactou os ninivitas porque o profeta era um milagre de
alguém que estivera morto por três dias e havia voltado à vida. Assim a
mensagem de Jesus tem impacto sobre nossas vidas, pois Ele ressuscitou ao
terceiro dia (Jo 2.18,19), mas diferente de Jonas, Ele vive eternamente.
2º
- Segundo, o sinal de Salomão (Lc 11.31). A rainha do
sul, conhecido no Antigo Testamento como a Rainha de Sabá (1Rs 10.1-13), vai subir
com os homens desta geração no dia do julgamento e irá condená-los por
rejeitarem a mensagem de salvação.
Esta
rainha fez uma árdua jornada de várias semanas desde os confins da terra (Seba
foi localizado no sudoeste da Arábia, mais de mil quilômetros de Jerusalém),
seu propósito era ouvir a sabedoria de Salomão, enquanto a sabedoria de Jesus
era de fácil acesso para as pessoas de sua geração. Ela era uma idólatra pagã,
sem o conhecimento do verdadeiro Deus, enquanto eles estavam mergulhados no
Antigo Testamento. Eles foram convidados a vir a Jesus (Mt 11.28-30), enquanto que
não há nenhuma indicação de que ela tenha sido convidada para visitar Salomão.
No entanto, ela foi salva do seu pecado depois de crer no que Salomão disse a
ela sobre o Deus verdadeiro, enquanto que aquela geração rejeitou salvação do verdadeiro
Rei, infinitamente mais sábio e maior que Salomão. Essa é uma acusação grave
sobre aquela geração perversa.
Quando
Jonas pregou aos gentios de Nínive, eles se arrependeram e foram poupados.
Quando uma rainha gentia ouviu as palavras do rei Salomão, maravilhou-se e
creu. Se, com todos os seus privilégios, os judeus não se arrependessem, o povo
de Nínive e a rainha de Sabá testemunhariam contra eles no julgamento final. O
Senhor deu a Israel inúmeras oportunidades, mas ainda assim se recusaram a crer
(Lc 13.34, 35; Jo 12.35-41) [8].
Quantos
hoje têm tido a oportunidade de ouvir o Evangelho, mas o rejeitam ou dizem que
em outra ocasião tomarão a decisão por Cristo. As oportunidades têm sido dadas,
mas muitas pessoas continuam descrentes da mensagem de salvação que lhes tem
sido pregadas. No entanto, chegará um tempo em será tarde demais para
decidirem.
3º
- O terceiro sinal, a luz (Lc 11.33-36). A experiência
universal da luz e da escuridão no mundo físico fornece uma porta para a
compreensão do conceito de luz e escuridão no mundo espiritual. Aqui a luz é
uma metáfora para compreender a verdade revelada por Deus, já que a luz revela
(Ef 5.13), enquanto que as trevas escondem (1Co 4.5). A Palavra de Deus é uma
luz que brilha neste mundo escuro (SI 119.105; Pv 6.23). Mas não basta a luz
brilhar externamente, também deve penetrar em nossa vida, a fim de surtimos os
seus efeitos. “A entrada das tuas
palavras dá luz, dá entendimento aos simples” (SI 119.130) [9]
Jesus
ilustra esse assunto com três exemplos:
1) O perigo de esconder a luz (Lc
11.33). Seria inútil para alguém, depois de acender uma
lâmpada colocá-la em um porão ou escondê-la debaixo do alqueire (cesta para
medir grãos). Ninguém acende uma candeia e depois a coloca em lugar onde não
pode ser vista. Pelo contrário, é colocada onde sua luz pode ser vista com o
melhor proveito. No entanto, era exatamente o que os líderes judeus estavam
fazendo na esfera espiritual. Em vez de permitir que luz de Jesus iluminasse os
seus corações eles a estavam a obscurecendo.
Há
dois tipos de escuridão: (a) a da ignorância; e (b) a da incredulidade
obstinada. O segundo tipo, o que aqui está pauta, é muitíssimo mais perigoso.
Foi esse tipo de escuridão que reinou no coração dos que odiavam a Jesus [9].
3 – A luz ilumina a todos que ouvem
Jesus (Lc 11.36). Quando o coração tem uma configuração
correta, isto é, quando ele pertence à verdade e intenta a verdade, ele se
apropria da revelação da verdade divina e comunica essa luz com toda a
capacidade da alma [10]. Quando cremos em Jesus Cristo, nossos olhos são
abertos, a luz penetra nosso ser e nos tornamos filhos da luz (Jo 8.12; 2Co
4.3-6; Ef 5.8-14). É importante usar a luz e fixarmos nosso olhar na fé [11].
CONCLUSÃO
Quero concluir com as
palavras de Wiersbe que diz que cada um de nós é controlado pela luz ou pela
escuridão. O mais assustador é que algumas pessoas se endurecem de tal modo
contra o Senhor que não conseguem fazer distinção entre uma coisa e outra!
Acreditam que estão seguindo a luz quando, na verdade, seguem a escuridão. Os
escribas e fariseus afirmavam “ver a luz” ao estudar a Lei, mas na verdade
estavam vivendo em trevas (ver Jo 12.35-50) [12].
Pense nisso!
Bibliografia:
1 – Earle, Ralph. Comentário
Bíblico Beacon, Mateus, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 95.
2 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 170.
3 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p.
368.
4 – Neale, David A.
Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ,
2015, p. 105.
5 – Hendriksen,
William. Lucas, vol. 2, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 137.
6 – Lopes, Hernandes
Dias. Mateus, Jesus, o Rei dos reis, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2019, p. 369.
7 – Morris, Leon L.
Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São
Paulo, SP, 1986, p. 189.
8 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 2007, p. 281.
9 – Hendriksen,
William. Lucas, vol. 2, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 142.
10 – Rienecker, Fritz.
O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 170.
11 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 2007, p. 281.
12 – Ibidem, p. 282.
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