Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Lucas 5.1-11
INTRODUÇÃO
Lucas começa esse
capítulo dizendo: “E aconteceu que,
apertando-o a multidão, para ouvir a palavra de Deus, estava ele junto ao lago
de Genesaré”. Lucas, ao contrário dos outros evangelistas, nunca se refere
ao “mar da Galileia”, mas sempre de “ao lago”. A famosa extensão de água da
Galileia tem três nomes diferentes: Mar da Galileia, Mar do Tiberíades e Lago
do Genesaré. Tem uns vinte quilômetros de comprimento por treze de largura.
Descansa em uma depressão a uns duzentos metros sob o nível do mar. Este fato
lhe dá seu clima quase tropical.
Esse texto não tem
qualquer paralelo direto com outros textos sinóticos (Mateus e Marcos), pelo
que se deve considerar como peculiar de Lucas. Leon L. Morris diz que há uma possibilidade
de que Marcos tenha contado o incidente sem o milagre, mas é mais provável que
Lucas se refira a um incidente diferente [1].
Pedro era natural de
Betsaida, na época uma aldeia de pescadores não muito distante de Cafarnaum e
que ficava na região costeira do mar da Galileia (Jo 1.44). Alguns sugerem que
sua residência realmente fosse em Cafarnaum, e Betsaida apenas sua aldeia de
origem. Cerca de um ano antes, Pedro, André, Tiago e João conheceram Jesus (Jo
1.35-42) e o seguiram por algum tempo e, depois, retornaram ao seu negócio de
pesca. É nesse momento que Jesus os chama para o discipulado de tempo integral.
O chamado de Simão é
descrito nos evangelhos em três estágios sucessivos: (1) o encontro inicial com
Jesus (Jo 1.41) em que ele recebeu um novo nome: “Você é Simão, filho de João.
Será chamado Cefas (que traduzido é Pedro)”; (2) o chamado a abandonar tudo e
se tornar discípulo de Jesus (Mc 1.16-18; Lc 5.11), “de agora em diante você
será pescador de homens”, (3) o chamado ao apostolado (Lc 6.14) [2].
Aquele dia parecia ser
um dia comum para Pedro e seus sócios, exceto que estiveram trabalhado a noite
toda e nada haviam pescado. Uma noite ruim de trabalho como, certamente, já
havia acontecido outras vezes. Eles voltaram de uma noite frustrada sem nada
apanharem, sendo assim, não tinham nada a oferecer aos seus clientes. No
entanto, ao chegarem a praia encontram Jesus cercado por uma multidão querendo
ouvi-lo. Jesus então pede a Pedro para entrar em seu barco para poder ensinar
melhor a multidão.
Diante desse texto nós
podemos tirar cinco lições preciosas para as nossas vidas.
1
– ENCONTRAMOS UMA MULTIDÃO CARENTE DA PALAVRA DE DEUS (Lc 5.1-3).
O texto nos diz que a
multidão estava ávida por ouvir a Palavra de Deus. O Senhor não os deixou sem
ouvir os seus ensinamentos. O Senhor aproxima-se, então, dos quatro pescadores,
rodeado por uma multidão que o pressiona de modo tumultuado e até mesmo sem a
menor consideração, pois deseja escutar novamente esse extraordinário orador. O
Senhor entra em um dos barcos ancorados na margem, de propriedade de Simão,
pedindo-lhe que afaste o barco um pouco da terra. Jesus deseja encontrar um
lugar melhor para observar seus ouvintes durante a pregação.
O Senhor pede a Simão,
Ele não ordena. Com que precisão esse pedido humano e cordial (erotesen) é diferenciado da poderosa
palavra do v. 4, que ordena: “Faze-te ao
largo…”.
Pedro aqui ainda é
chamado de Simão. Ele ainda é designado com seu nome hebraico, pois ainda não
está no serviço de Jesus. Cabe constatar que Simão aparece nitidamente como
líder do empreendimento da pesca. É a ele que Jesus pede. É a ele que também
pode pedir. Afinal, não faz muito tempo que Jesus curou sua sogra da febre (Lc
4.38s). Jesus está à vontade para pedir e esperar que Pedro coloque o barco à
disposição do Senhor por tanto tempo até que Jesus conclua seu ensinamento [3].
Jesus faz do barco de
Pedro um púlpito, da praia um templo, e da água espelhada um amplificador de
som. Dali ele ensina a grande multidão, que bebia a largos sorvos seus
ensinamentos [4]. Jesus não falava como um estudioso do Antigo Testamento, ou
como um teólogo. O que ele falou não era especulação filosófica ou tradição
rabínica; Jesus era a voz de Deus aos ouvidos da multidão.
Jesus aproveitou a
oportunidade para ministrar a Palavra de Deus para aquelas pessoas. No entanto,
nos dias e hoje, nós temos vivenciado alguns extremos em nosso meio em relação
a ministração da palavra:
1)
Achar que devemos estar em todo e qualquer lugar para pregar a Palavra.
Usam o texto de Filipenses 1.18: “Mas que
importa? Contanto que Cristo seja
anunciado de toda a maneira, ou com fingimento ou em verdade, nisto me
regozijo, e me regozijarei ainda”. Com isso em mente, dizem que podem e devem
estar em bloco de carnaval gospel, show gospel, stand up gospel... Apresentam
música gospel em show de auditório com mulheres seminuas... Usam de estratégias no mínimo polêmicas
para anunciar a Cristo. Tem até “arrocha gospel”. Tenho certeza que Paulo
jamais se regozijaria com isto, pois ele mesmo disse:
“Porque
nós não estamos, como tantos outros, mercadejando a palavra de Deus; antes, em
Cristo é que falamos na presença de Deus, com sinceridade e da parte do próprio
Deus” (2Co 2.17).
“Pelo
que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não
desfalecemos; pelo contrário, rejeitamos as coisas que, por vergonhosas, se
ocultam, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus; antes, nos
recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela
manifestação da verdade” (2Co 4.1-2)
Isso
não passa de banalização do sagrado. Como disse Charles H.
Spurgeon: “Chegará um dia em que no lugar
dos pastores alimentando as ovelhas haverá palhaços entretendo os bodes”.
2)
Não testemunhar de Cristo em todo e em qualquer lugar.
Uma coisa é querer usar meios polêmicos para pregar a Palavra de Deus, outra,
completamente diferente é não testemunhar em “certos” ambientes. Para algumas pessoas o evangelho só deve ser
testemunhado na igreja, não fora dela. A fé para estas pessoas não é a vida em
Cristo é só o momento. Algumas pessoas acham que não devem se comportar como
cristãos em ambiente não cristão. É o famoso crente camaleão. É a história de um determinado pastor que foi
cumprimentado em seu local de trabalho por uma pessoa que o conhecia. A pessoa
o chamou de pastor. Ele a corrigiu e disse que ali ele não era pastor.
3)
Só pregar para as multidões. Já ouvi muitos casos de pastores
que não pregam para menos de quinhentas pessoas. São pregadores das multidões.
A. W. Tozer certa feita
disse: “Nunca preguei a grandes
multidões, pelo menos na minha própria igreja. Mas preguei um Cristo coerente.
Esse desejo de obter seguidores, de ser reconhecido, de ter reputação, não é
para os que estão vivendo a vida crucificada”.
Creio que alguns deveriam
aprender com o falecido A. W. Tozer a esse respeito, pois muitos desses que não
pregam para grupos pequenos, nem quando estão com as multidões pregam o
verdadeiro evangelho.
4)
Não pregar em lugares de pessoas simples. Para alguns
pregadores é uma desonra para eles pregar em lugares simples, para um auditório
“iletrado”. Tais pregadores não levam à sério a palavra de Paulo a Timóteo: “Que pregues a palavra, instes a tempo e
fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina”
(2Tm 4.2).
Jesus aproveitou a
oportunidade para pregar a palavra de Deus, pois diante dele havia um povo
ávido pela palavra. Jesus pregava no templo, nas sinagogas, nas ruas e praias,
para multidões e para uma só pessoa. Assim devemos fazer também.
J. Vernon McGee disse: “Todo púlpito é um barco de pesca, um lugar
para proclamar a Palavra de Deus e para tentar pegar peixes” [5].
2
– UMA ORDEM EXPRESSA A TRABALHADORES FRUSTRADOS (Lc 5.4,5).
Emprestar o barco para
Jesus ministrar a palavra para a multidão não foi difícil para Pedro, o difícil
foi aceitar uma ordem, no seu modo de pensar, absurda.
Depois de trabalharem a
noite toda sem nada apanharem, estavam exaustos, e agora Jesus lhe diz para ir
para o mar alto. Não era nem na praia, mas no mar alto. As redes não eram redes
pequenas usadas por indivíduos que pescavam a partir da costa ou em águas
rasas, mas grandes redes usadas para a pesca em águas mais profundas do lago.
Sentado em seu barco,
ouvindo a Palavra de Deus, Pedro constituía um “público cativo”. “A fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra
de Deus” (Rm 10.17). Em pouco tempo, Pedro teria de exercitar sua fé, e
Jesus o estava preparando para isso. Primeiro, pediu que Pedro “afastasse [o
barco] um pouco da praia”. Se Pedro não tivesse obedecido a essa primeira
ordem, aparentemente tão insignificante, jamais teria participado de um
milagre.
Os grandes milagres em
nossa vida ocorrem mediante a obediência as ordem de Deus. Sejam pequenos
pedidos ou pedidos, na nossa interpretação, absurdos. Devemos obedecer a Sua
Palavra.
O
senhor dá uma ordem direta a Pedro. Observe que o texto
diz: “E, quando acabou de falar, disse a
Simão...”. Abandone essa frustração e se lance em águas mais profundas. A
ordem foi dada a Pedro, o lançar a rede foi dada a todos.
A primeira resposta de
Pedro a ordem de Jesus foi: “Mestre,
havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos”. Pedro está dizendo para
Jesus que ele era experiente e perito pescador. A pesca era a sua
especialidade. Pedro está dominado por um realismo profundo. Ele “sabia” o que
estava falando. Pedro sabe por experiência a futilidade de pescar depois do pôr
do sol.
Jesus
começa a jornada de Pedro no discipulado desafiando à prática mais destemida de
sua profissão, e não chamando para de afastar dela.
Jesus não afirma seu senhorio no ponto mais fraco de Pedro, mas em seu ponto
mais forte – sua experiência profissional como pescador.
Assim
são muitos de nós. Por mais que não queiramos admitir, há muito de Pedro em
todos nós. Olhamos para o que temos controle e dizemos que
não há nada mais o que fazer. Desacreditamos na intervenção de Deus na
história. Pelo menos na nossa história. Falamos de milagres, mas muitas vezes
desacreditamos deles em nossa própria vida.
O servo de Eliseu é um
bom exemplo de vermos o que é aparente e não a mão de Deus para nos ajudar.
Veja o texto de 2Rs 6.15-17: “E o servo
do homem de Deus se levantou muito cedo e saiu, e eis que um exército tinha
cercado a cidade com cavalos e carros; então o seu servo lhe disse: Ai, meu
senhor! Que faremos? E ele disse: Não temas; porque mais são os que estão
conosco do que os que estão com eles. E orou Eliseu, e disse: Senhor, peço-te
que lhe abras os olhos, para que veja. E o Senhor abriu os olhos do moço, e
viu; e eis que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de
Eliseu”.
Andar por fé é crer nas
Escrituras e nas suas promessas. Ainda que elas não ocorram como esperamos, mas
isso não quer dizer que não pode vir a ocorrer.
A
palavra final de Pedro, contudo, não se baseia na sua experiência, por mais
razoável que esta seja, mas na autoridade de Jesus.
A forma como Pedro se dirige a Jesus, Mestre
(gr. epistates), já mostra um indício de sua fidelidade suprema.
“Mestre,
mas sobre a tua palavra, lançarei a rede” (Lc 5.5). O termo
traduzido por “Mestre”, é usado
apenas por Lucas e possui vários significados, sendo que todos se referem à
autoridade: comandante supremo, magistrado, governante de uma cidade,
presidente de uma sociedade. Mesmo sem entender tudo o que Jesus estava fazendo,
Pedro mostrou-se disposto a se sujeitar a sua autoridade. É importante lembrar,
também, que uma grande multidão os observava da praia [6]. Nem um milagre tem
um fim em si mesmo, sempre irá abençoar a muitos.
Aqui
Jesus não pede como fez no v. 3, mas ordena. Aqui é uma
ordem e ela é obedecida. Ainda que sua experiência lhe mostre o contrário,
Pedro vai para as águas profundas com seus amigos. Mas dessa vez, Jesus está no
barco.
Nós não fomos chamados
para discutir com Jesus, mas para obedece-lo. Faça como Pedro: “sobre a tua palavra, lançarei a rede”.
Mas não deixe Jesus na paria, leve-o com você. Com Jesus no barco tudo vai bem!
3
– A FÉ É HONRADA COM O MILAGRE (Lc 5.6,7).
Pedro obedece e lança
as redes e o milagre acontece.
Duas
coisas podemos destacar aqui: a onisciência e a onipotência de Jesus.
O Senhor sabia aonde estaria o cardume de peixes. Isso é um fato. Mas, de conformidade
com sua natureza divina, ele não só era onisciente, mas também onipotente.
Portanto, não podemos excluir a possibilidade de que ele não só soubesse que em
determinado momento esse enorme cardume de peixes se encontraria, mas que realmente
ele mesmo o fizesse dirigir-se àquele ponto! Com Deus não existe coincidência.
Existe Jesuscidência!
O
Senhor tem poder sobre a sua obra criada. Não existe lei da natureza. Existe a lei de Deus que a natureza tem que
obedecer.
Veja alguns exemplos. Na vida do profeta Jonas: Deus ordena
uma tempestade para assolar o barco em que estava Jonas (Jn 1.4). acalmou a
tempestade quando Jonas foi lançado ao mar (Jn 1.15). O Senhor envia um grande
peixe para que o tragasse e ele ficou três dias e três noites dentro de seu
ventre (Jn 1.17, 2.10 conf. Mt 12.40). Ordenou que o vomitasse na terra seca
(Jn 2.10). O Senhor fez nascer uma planta para fazer sombra sobre Jonas (Jn
4.6). O Senhor enviou um verme para matar a planta (Jn 4.7). O Senhor enviou um
vento calmoso e o sol para incomodar Jonas (Jn 4.8).
Na
vida do profeta Elias. Elias orou e não choveu e nem orvalho
caiu em Israel por três anos e meio (1Rs 17.1). Orou de novo e fogo desceu do
céu, Deus mandou chuva em abundância (1Rs 18.38,39,42-46). Deus sustentou Elias
com pão e carne levados por corvos (1Rs 17.6).
Isso sem contar as dez
pragas do Egito, o Mar Vermelho que se abiu, o maná que desceu por quarenta
anos no deserto, o Jordão que se abriu para Israel passar para tomar posse da
nova terra. As tempestades no mar que Jesus acalmou, a multiplicação de pães e
peixes para alimentar as multidões. Isso sem contar as curas que Jesus
realizou.
Se
a ordem de Jesus surpreendeu-os, o resultado os deixou absolutamente
estupefatos. Quando eles lançam as redes, para sua
surpresa eles encontraram uma grande quantidade de peixes. Nada em sua
experiência poderia tê-los preparado para algo tão inédito que era a capturas de
tantos peixes no meio do dia. “O não é
possível se tornou possível!”.
É interessante
observarmos que depois de sua ressurreição, o Senhor mais uma vez diz a Pedro e
seus companheiros onde lançar as redes para uma enorme captura de peixes (Jo
21.1-6).
Quando Deus criou o
homem, deu-lhe “domínio sobre os peixes
do mar”. Até certo ponto pelo menos, esse domínio foi perdido quando o
homem caiu. Em Cristo ele é restaurado (Gn 1.28; Mt 11.27; 28.18; Hb 2.5-8).
Muitas
pessoas querem justificar o milagre. O escritor e
comentarista bíblico William Barclay
disse que no Mar da Galileia existiam cardumes fabulosos que cobriam o mar como
um manto sólido de mais de meia hectare de superfície. O mais provável é que o
olho agudo de Jesus visse um e tenha parecido assim um milagre.
Necessitamos olhos que realmente vejam, disse ele. Para Barclay, o que havia
ocorrido ali não passava de algo natural. Não foi à toa que morreu negando a
fé.
Pedro não tenta
justificar o que havia ocorrido como fez William Barclay. Ele reconhece que
algo extraordinário acabara de acontecer. Pedro reconhece que havia ocorrido um
milagre e que ele estava diante do Deus encarnado.
Uma vez eu orei por uma
senhora que estava com câncer no pulmão. Foi feita a biópsia e radiografia. Alguns
dias depois eu fui ao INCA para conversar com o especialista. Chegando lá, o
médico me falou que ele era o melhor em sua especialidade e que a senhora
estava com câncer. Até aí ele não me havia falado nada demais. Mas depois disso
ele começou a se justificar dizendo que havia ocorrido algo inexplicável. O
câncer havia desaparecido e ele não sabia como explicar o que havia acontecido.
Meus irmãos, Deus ainda opera sinais e prodígios. Ele ainda faz milagres.
Creia.
Em Hebreus 11, que trata
da galeria dos heróis da fé, nos é mostrado duas categorias de pessoas: “os que foram honrados por Deus por sua fé,
e os que honraram a Deus com sua fé”. Pedro em sua vida aprendeu essas duas
coisas. Precisamos entender que cada um de nós deve viver assim também, sendo
honrados pela nossa fé ou honrado a Deus com a nossa fé.
4
– PEDRO E SEUS COMPANHEIROS SÃO IMPACTADOS DIANTE DO MILAGRE (Lc 5.8,9).
Diante do milagre Pedro
reage com essas palavras: “Senhor,
ausenta-te de mim, que sou um homem pecador”. Segundo o entendimento
daquela época, a confissão de Pedro (“Senhor, sou uma pessoa pecadora”)
expressa que sua vida até então transcorrera à margem da lei conforme explicada
pelos fariseus. Pedro não se sente “justo”, como ocorria com os fariseus,
motivo pelo qual se define como pecador. Pedro sabe que não é possível ver o
poder miraculoso de Deus nem ouvir a palavra de Jesus sem ter consciência do
pecado e da culpa! [7].
No entanto, Jesus não
se afasta de Pedro, porém o atrai ainda mais para si. Diz para ele não temer. O
mesmo Jesus que ordenara a Pedro lançar as redes ao mar, agora, pesca Pedro com
a rede da graça. O mesmo Jesus que manifestou seu poder na pesca maravilhosa,
agora, vai através de Pedro, fazer a mais gloriosa das pescarias, a pescaria de
homens [8].
A pesca milagrosa e o
chamado de Pedro começaram quando Jesus viu (v. 2) um barco como púlpito. O
complemento da fé ocorre quando Pedro viu (v. 8), por intermédio do milagre, o
Senhor por trás desse milagre [9].
“Senhor, ausenta-te de
mim, que sou um homem pecador”. Enquanto Pedro reage
dessa forma diante do milagre operado por Jesus, muitas pessoas hoje não
reconhecem a misericórdia e graça de Deus em suas vidas. A forma de reagir ao
sucesso é uma indicação do verdadeiro caráter.
Quem não consegue ver a
boa mão do Senhor nas pequenas coisas, nunca a verá nas grandes. Infelizmente
existem muitas pessoas que agem como Nabucodonosor:
“Falou
o rei, dizendo: Não é esta a grande babilônia que eu edifiquei para a casa
real, com a força do meu poder, e para glória da minha magnificência? Ainda
estava a palavra na boca do rei, quando caiu uma voz do céu: A ti se diz, ó rei
Nabucodonosor: Passou de ti o reino” (Dn 4.30,31).
Pedro e seus
companheiros reconheceram o milagre, e você tem visto o milagre de Deus todos
os dias em sua vida? Diante dos milagres você se vê melhor que os outros, ou um
pecador dependente da graça e misericórdia de Deus em sua vida como fez Pedro?
5
– DIANTE DO MILAGRE DEIXARAM TUDO E PASSARAM A SEGUIR A JESUS (Lc 5.10,11).
Aquela pescaria tinha
um significado muito maior. O Senhor os estava comissionando como discípulos de
tempo integral. O reconhecimento da culpa e indignidade não afastaram a pessoa
de Deus. Antes, esse reconhecimento, em um paradoxo de graça, atrai o indivíduo
para Deus.
No Salmo 51.17 Davi
escreveu: “Os sacrifícios para Deus são o
espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó
Deus”.
Por meio do profeta
Isaías, Deus declara: “Porque assim diz o
Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e
santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para
vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos”
(Is 57.15).
No seu momento de
profunda alienação, quando oprimido por sua pecaminosidade, Pedro, Tiago e João
procuraram fugir, Jesus estendeu a mão para puxá-los para Si mesmo. Este é o
momento glorioso de seu arrependimento. Ele fez o mesmo com Isaías, que, na
presença de Deus, amaldiçoou o seu próprio pecado e considerou-se indigno de estar
na presença do Santo. Mas o Senhor o procurou e o limpou para usá-lo como Seu
instrumento (Is 6.5-9).
O Senhor fala para
esses homens temerosos: “Não temas; de
agora em diante serás pescador de homens. E, levando os barcos para terra,
deixaram tudo, e o seguiram” (Lc 5.10,11). No auge de suas carreiras terrenas, tendo feito a maior captura de
peixes já vista nesse lago, eles abandonaram seus barcos, viraram as costas
para o seu negócio de pesca, deixaram tudo e seguiram Jesus (cf. Lc 9.23-25).
Eles passaram suas
vidas na captura de peixes vivos com o propósito de matá-los; agora eles iriam
passar o resto de suas vidas pescado homens
mortos para dar-lhes vida mediante a fé em Jesus (Ef 2.1-10).
Muitas pessoas pensam
que o chamado para o ministério se dá quando todas as coisas estão dando
errado. Quando todas as portas estão fechadas. Quando nada vai pra frente,
então entendem que Deus os está chamando para realizar a sua obra. Quem pensa
assim não entendeu nada do que significa seguir a Cristo.
No melhor momento de suas carreiras Pedro, Tiago e João deixaram tudo
para estarem com Jesus.
Tem muitas pessoas que
dizem que irão seguir a Cristo quando deixarem esse ou aquele vício. Quando as
coisas melhorarem. Quando os filhos crescerem. Quando tiverem tempo... As
desculpas são as mais variadas.
Mas veja o que Jesus
nos fala a esse respeito: “Portanto,
qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu
Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, eu o
negarei também diante de meu Pai, que está nos céus. Não cuideis que vim trazer
a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; porque eu vim pôr em dissensão o
homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e
assim os inimigos do homem serão os seus familiares. Quem ama o pai ou a mãe
mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que
a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não
é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por
amor de mim, achá-la-á” (Mt 10.32-39).
O melhor momento para
deixar tudo e seguir a Cristo é agora!
CONCLUSÃO
Diante da pesca
maravilhosa os discípulos deixaram tudo e passaram a seguir a Cristo. Foi uma
decisão para toda a vida. Foi uma decisão única. Foi uma decisão consciente.
Assim devemos proceder também. Devemos seguir a Cristo por amor ao que Ele é e
não pelo o que Ele dá e faz. No auge do sucesso os discípulos abriram mão do
ramo de pesca para serem o que o Senhor queria deles, serem pescadores de
homens.
Seguir a Cristo é abrir
mão de nossas vontades e sucessos para fazermos a vontade do Senhor. Nem todos
são chamados para deixarem seus empregos e servi-lo em tempo integral, mas
todos nós fomos chamados para servi-lo onde estivermos.
Pense nisso!
Bibliografia:
1 – Morris, Leon L.
Lucas, introdução e comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, 1986, p.
106.
2 – Bruce, F. F.
Organizador. Comentário Bíblico NVI, Ed. Vida, 2009, p. 1656.
3 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, 2005, p.
83.
4 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, São Paulo: Editora Hagnos, 2017, p. 140.
5 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, 2012,
p. 239.
6 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, 2012,
p. 239.
7 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, 2005, p.
84.
8 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, 2017, p. 143.
9 – Edwards. James R. O
Comentário de Lucas, Ed. Shedd, 2019, p. 217.
Excepcional estudo. Muito enriquededor.
ResponderExcluirPalavra desafiadora.
Graça e paz meus irmãos.
ExcluirFico feliz em saber que esse texto os abençoou.