Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Lucas 5.12-15
INTRODUÇÃO
Aqui vemos Jesus
tocando um intocável. Os leprosos eram proibidos de viver em sociedade, devido
ao grau de contaminação que a lepra tinha, por causa disso eles eram expulsos da
sociedade humana; tocá-los, e até aproximar-se deles, era quebrar a Lei. Mateus
narrando esse acontecimento nos diz que “ao
descer ele do monte, grandes multidões o acompanharam” (Mt 8.1). O estado
de perplexidade registrado nos versículos imediatamente precedentes (Mt 7.28,29)
justifica o fato de o povo não ter abandonado Jesus imediatamente, quando o
sermão do monte foi encerrado. Ao descerem do monte, eles continuaram a
segui-lo e a cercá-lo, e é bem provável que tenham se juntado a outros que
ainda não o haviam ouvido falar. Observe o plural: “grandes multidões”. Contudo, exatamente quando e onde ocorreu esse
milagre não é declarado nos Evangelhos, nem mesmo em Marcos 1.40 nem aqui em
Lucas 5.12.
A cura do leproso deve
ter acontecido nas cercanias de Cafarnaum ou na própria Cafarnaum. O texto
grego descreve de forma palpável a surpresa causada pelo imprevisto e terrível
aspecto. O enfermo estava lá sem que alguém o tivesse visto aproximar-se. Com
certeza isso era uma surpresa, afinal ele havia transgredido os preceitos da
lei. A expressão grega pleres lepras (cheio de lepra), que pode ser
traduzido por “coberto de lepra de alto a
baixo”, é um termo técnico médico. A lepra já havia atingido o último
estágio. Completamente sem esperança, o infeliz estava entregue à morte. O
expulso buscava a Jesus, provavelmente porque já havia ouvido muito acerca
dele, a fim de obter dele ajuda e cura [1].
Quais lições podemos
tirar desse texto para nós hoje?
1
– AS CONSEQUÊNCIAS DA LEPRA (Lc 5.12).
“Lepra” se referia a
várias doenças de pele, as quais hoje já têm outros nomes e tratamentos. A
maioria delas era contagiosa por isso os doentes deviam ficar isolados da
comunidade e da religião, devido a isso, eles não podiam frequentar nem
sinagogas e nem o templo.
O
que é a lepra – doença de Hansen. Essa doença é causada
pela bactéria Mycobacteruim leprae, descoberto
pelo cientista norueguês Gerhard Henrick Armauer Hansen (1841–1912). É uma
doença infecciosa crônica causada por um bacilo que gravita nos nervos
periféricos e nas áreas mais frescas do corpo. A pele, como a região mais
fresca do corpo, é usualmente afetada primeiro e de forma mais relevante pela
lepra. As partes afetadas ficam insensíveis e, devido a isso, muitas feridas
não são tratadas. Suas condições são discutidas em dois extensos capítulos de
Levítico 13 – 14 que parecem um manual antigo de dermatologia. O termo tsaraath cobre outras doenças de pele
além da hanseníase, incluindo feridas purulenta (Lv 13.18), queimadura (Lv
13,24), coceira, frieira e problema no couro cabeludo. Naquela época, a lepra
abrangia alergias de pele em geral, das quais os rabinos tinham relacionado 72,
tanto de curáveis quanto incuráveis. [2].
Sabe-se hoje que a
lepra (hanseníase) não é altamente contagiosa, uma vez que 90 a 95 por cento da
raça humana está imune a ela. Exatamente como a doença é transmitida não se sabe
ao certo, mas as pessoas que vivem em contato próximo com pessoas com
hanseníase não tratada tinham um risco maior de se infectar.
Lucas, o médico,
descreve em Lc 5.12 esse doente como um homem que estava “cheio de lepra” (pleres lepras), isto é, que se
encontrava no último estágio da doença. Como médico, Lucas sabia desse caso
totalmente sem esperança, marcado pela morte iminente. Apesar de Jesus ter
curado muitos leprosos, apenas dois casos são mencionados explicitamente no
evangelho de Lucas. Esse caso que estamos analisando e em Lc 17 (a cura dos dez
leprosos).
Em Israel os leprosos
eram assunto da mais extrema repulsa. A lepra era a pior enfermidade em três
sentidos:
1)
No aspecto físico: Pústulas esbranquiçadas corroíam a
carne, um membro após outro era atingido e, por fim, até os ossos eram
carcomidos. Febre alta com insônia e pesadelos atormentava terrivelmente o
enfermo. Era certo que a doença levava à morte. Por causa dessa total falta de
esperança, o doente era igual a um cadáver vivo. Se porventura, por uma causa qualquer, acontecia uma cura,
essa equivalia ao reavivamento de um morto.
2)
No aspecto social: Pela natureza altamente contagiante da
doença, o enfermo era isolado de sua família e excluído do convívio com as
pessoas, ficando limitado apenas à companhia de outros infectados, igualmente
infelizes. Via de regra os leprosos viviam em grupos, a certa distância de
locais habitados (2Rs 7.3; Lc 17.12). As pessoas colocavam comida para eles em
locais combinados. Quando se aproximavam, todos fugiam apavorados. Essa mais
terrível de todas as enfermidades era chamada de “tirano de todas as doenças”. Os leprosos andavam sem cobrir a
cabeça, ocultando o queixo. Deviam rasgar suas vestes e tinham a obrigação de
se anunciar quando alguém se aproximava, exclamando: “Impuro, impuro!”. Ou
seja, estou pesteado, envenenado, contagioso, sou um excluído, fique longe! –
Não bastava que o doente tivesse lepra, ainda tinha de anunciar em voz alta sua
condição lastimável (cf. Lv 13.45s). Em gratidão pelo lastimoso aviso,
costumava-se enviar comida para os leprosos até seu lugar solitário. Contudo,
quando o leproso se aproximava de um povoado humano qualquer, era apedrejado
sem escrúpulos.
3)
No aspecto religioso: A lepra tornava a pessoa impura no
sentido levítico. A impureza do leproso superava qualquer tipo de impureza
perante a lei. Pois não apenas tornava impuro tudo o que tocasse, mas a mera
presença dele já bastava para contaminar tudo naquele local, mesmo sem contato
físico. “Quando um leproso entra numa casa, no mesmo instante em que entra nela
todos os utensílios dentro dela ficam impuros, até a viga mais alta”. Como
sinal de sua impureza, “ele deve”, assim exige a lei, “rasgar suas roupas,
deixar crescer o cabelo sem cuidados e ocultar sua barba…” Por causa dessa
impureza toda especial, a lepra também era um motivo pelo qual a esposa podia divorciar-se.
O mais terrível era que a lepra se
apresentava como um castigo direto de Deus, mais precisamente como castigo
por difamação (Sl 101.5), orgulho (2Rs 5.1; 2Cr 26.16,19), derramamento de
sangue (2Sm 3.29), perjúrio (2Rs 5.23,27), lascívia (Gn 12.17), etc. Essa era a
situação terrível para o leproso, que ele tinha de considerar-se como alguém
amaldiçoado por Deus, deserdado por Deus. Enquanto a doença durava, persistia
sobre ele a sentença condenatória. Como na maioria dos casos a doença acabava
na morte horrível, uma pessoa assim infeliz morria nas trevas do desespero
total, repelido eternamente por Deus, destinado a ir ao encontro da condenação
e do inferno eternos. Ao tormento temporal seguia-se o tormento eterno [3].
Essa era uma interpretação errada, mas prevalecia naquela época e perdura na
mente de muitos hoje. Se uma pessoa fica enferma e, de acordo com a
enfermidade, ela está sendo castigada por Deus. Os amigos de Jó pensavam assim
e temos muitas pessoas que pensam o mesmo hoje.
2
– A LEPRA É UM SÍMBLOLO DO PECADO.
Os milagres que Jesus
realizava sempre tinham um paralelo com alguma lição que o Senhor queria
ensinar. As curas e os milagres não eram um fim em si mesmo.
Lucas nos diz: “E aconteceu que, quando estava numa
daquelas cidades, eis que um homem cheio de lepra, vendo a Jesus, prostrou-se
sobre o rosto, e rogou-lhe, dizendo: Senhor, se quiseres, bem podes limpar-me”
(Lc 5.12). Lucas não compôs as histórias subsequentes em ordem cronológica, mas
segundo um critério determinado. Os relatos do capítulo 5 revelam de forma
flagrante essa peculiaridade.
Esse milagre da cura
desse leproso tem uma ligação direta com milagre da pesca maravilhosa e o chamado
de Pedro para ser discípulo de Cristo. Por causa de sua pecaminosidade, Pedro
pensava que fosse indigno da comunhão com Jesus (Lc 5.8), assim como a
sociedade tem repulsa do estado calamitoso de uma pessoa leprosa, Pedro, diante
de Jesus se sentia assim. Por isso a
lepra é um simbolismo do pecado. No entanto, tanto um quanto o outro o
Senhor tem poder para purificar.
A lepra era um símbolo
da ira de Deus contra o pecado. Os rabinos consideravam a lepra um castigo de
Deus. Ela foi infligida por Deus para punir rebelião (Miriã), mentira (Geazi) e
orgulho (Uzias). Mas nem todos que estavam debaixo dessa enfermidade estavam
debaixo da ira de Deus como muitos pensavam.
O
pecado e a lepra – A lepra acomete finas raízes
nervosas, o que faz com que a pessoa passe a não ter mais sensibilidade naquela
região do corpo que está afetada. É o que o pecado faz com aqueles que dele
estão cativos: se tornam insensíveis à verdade, parecem cauterizados, não
sentem mais a presença de Deus. O pecado (lepra espiritual), deixa marcas
espirituais terríveis, gerando separação entre a pessoa e Deus, por isso Jesus
veio para nos curar das marcas deixadas pela lepra do pecado.
O
pecado é a falta de conformidade com a lei de Deus, em estado, disposição ou
conduta. Romanos 6.23 nos diz: “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a
vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor”.
A
lepra era um símbolo do pecado e como tal, possui várias características:
Em
primeiro lugar, a lepra é mais profunda que a pele (Lv 13.3).
A lepra não era apenas uma doença dermatológica. Ela não ataca meramente a
pele, mas, também, o sangue, a carne e os ossos, até o paciente começar a perder
as extremidades do corpo.
Semelhantemente, o
pecado não é algo superficial. Ele procede do coração e contamina todo o corpo.
O homem está em estado de depravação total, ou seja, todos os seus sentidos e
faculdades foram afetados pelo pecado. O pecado atinge a mente, o coração e a
vontade. Ele atinge os pensamentos, as palavras, os desejos, a consciência e a
alma.
Em
segundo lugar, a lepra separa. Além do sofrimento
infligido por tal doença, a pessoa deveria ficar isolada da comunidade.
Assim é o pecado. Ele
separa o homem de Deus (Is 59.2), do próximo (ódio, mágoas e ressentimentos) e
de si mesmo (complexos, culpa e achatada autoestima).
Em
terceiro lugar, a lepra insensibiliza. A área afetada perdia
completamente a sensibilidade. De forma semelhante, o pecado anestesia e
calcifica o coração, cauteriza a consciência e mortifica a alma. Como a lepra, o
pecado é progressivo.
Em
quarto lugar, a lepra deixa marcas. A lepra degenera,
deforma, deixa terríveis marcas e cicatrizes. Quando a lepra atinge seu último
estágio, o doente começa a perder os dedos, o nariz, os lábios, as orelhas. A
lepra atinge os olhos, os ouvidos e os sentidos.
O pecado também deixa
marcas no corpo (doenças), na alma (culpa, medo), na família (divórcio,
violência).
Em
quinto lugar, a lepra contamina. A lepra é contagiosa,
ela se espalha. O leproso precisava ser isolado, do contrário ele transmitiria
a doença para outras pessoas.
O pecado também é
contagioso. Um pouco de fermento leveda toda a massa (1Co 5.6). Uma maçã podre
num cesto apodrece as outras. Davi nos ensina a não andarmos no conselho dos
ímpios, a não nos determos no caminho dos pecadores nem nos assentarmos na roda
dos escarnecedores (Sl 1.1).
Em
sexto lugar, a lepra deixa a pessoa impura. A lepra era
uma doença física e social. Ela deixava o doente impuro. O leproso era banido
do lar, da cidade, do templo, da sinagoga, do culto. Ele deveria carregar um
sino no pescoço e gritar sempre que alguém se aproximasse: Imundo! Imundo!
O pecado também deixa o
homem impuro. A nossa justiça aos olhos de Deus não passa de trapos de
imundícia (Is 64.6). Nós somos como o imundo.
Em
sétimo lugar, a lepra mata. A lepra era uma doença que ia
deformando e destruindo as pessoas aos poucos. Elas iam perdendo os membros do
corpo, ficando chagadas, malcheirosas e acabavam morrendo na total solidão. Um
leproso era como um morto-vivo.
O pecado mata. O
salário do pecado é a morte (Rm 6.23). O pecado é o pior de todos os males. Ele
é pior que a lepra. A lepra só atinge alguns, o pecado atingiu a todos; a lepra
só destrói o corpo, o pecado destrói o corpo e a alma; a lepra não pode separar
o homem de Deus, mas o pecado o separa de Deus no tempo e na eternidade [4].
A grande crise da “lepra espiritual” é que muitas pessoas
tentam escondê-la com maquiagem das boas obras. Alguns leprosos espirituais estão totalmente desfigurados e, devido a
isso, nós facilmente os identificamos. No entanto, algumas dessas deformidades espirituais não estão à
vista de todos. Por isso é mais fácil escondê-las. Talvez você esconda dos seus
familiares e amigos mais íntimos, mas aos olhos de Deus “não há criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas
estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar” (Hb 4.13).
O problema não é termos
um problema, mas não admitirmos que temos um problema. É olharmos para os
outros e fazermos comparações quando deveríamos olhar para nós mesmos e nos
vermos tal qual o outro é. Um bom exemplo disso é a parábola do fariseu e do
publicano que nos fala de “uns que
confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros”
(Lc 18.9-17).
3
– O LEPROSO SE APROXIMA DE JESUS CRENDO NO MILAGRE (Lc 5.12).
Esse milagre nos ensina
que jamais devemos perder a esperança. Por maior que seja nosso problema, por
mais grave que seja a circunstância, por mais tenebrosos que sejam nossos
sentimentos, Jesus pode reverter a situação [5].
Vamos analisar como
este homem se aproxima de Jesus, mesmo correndo risco de ser apedrejado pela
multidão.
1º)
Ele se aproxima de forma humilde. Lucas nos diz que
esse homem “prostrou-se sobre o rosto, e
rogou-lhe, dizendo: Senhor, se quiseres, bem podes limpar-me” (Lc 5.12). Ele
suportou a sua doença por muitos anos, pois a evolução da lepra se dá de forma
lenta e progressiva. Aquele homem tinha tudo para ficar lamentando a sua má
sorte, reclamando, blasfemando contra o céu e contra Deus.
É perfeitamente normal
que pessoas passando por dificuldades enormes, como aquela enfermidade, tenham
questionamentos que não são facilmente respondidos. Quem, em uma situação
parecida, não se perguntaria, “por que eu?” Porém, Mesmo que não compreendesse
os motivos de estar vivendo toda aquela tragédia, ele escolheu agir.
Não ficou se
lamentando, nem com pena de si mesmo! Mas tomou a iniciativa, e partiu para um
encontro com o seu Criador. Ninguém teria as respostas para as suas dores, a
não ser aquele que tudo sabe e que tudo conhece.
Quando ele se aproxima
de Jesus ele não faz como muitos tem feito hoje: “EU DETERMINO”, “EU TOMO
POSSE”, “EU REIVINDICO” A CURA. Ele simplesmente se humilha perante o Todo
Poderoso e lhe implora a bênção.
2º)
Ele reconhece a deidade de Jesus e o adora. Mateus nos
diz: “E, eis que veio um leproso, e o adorou, dizendo: Senhor, se quiseres, podes tornar-me
limpo” (Mt 8.2).
Mateus, Marcos e Lucas,
são unânimes em registrar que o homem acometido de lepra aproximou-se de Jesus,
curvando-se, em uma atitude de humildade e adoração.
Ele reconheceu que
Jesus era Deus, e que tinha poder para curá-lo. Ele não chegou a Deus, cheio de
exigência, mas demonstrou reverência e obediência, sabendo da grandeza daquele
que diante dele estava.
O leproso não se
dirigiu a Jesus com questionamentos, do tipo, “por que eu?”, “por que estou
passando por isso?”, “eu não merecia tamanho sofrimento…”, “sempre fui tão
bonzinho…”.
3º)
Roga por misericórdia reconhecendo o poder curador de Jesus.
Lucas nos diz que esse homem “prostrou-se
sobre o rosto, e rogou-lhe, dizendo:
Senhor, se quiseres, bem podes limpar-me” (Lc 5.12).
Em um aparente
contrassenso, nem mesmo pela sua cura ele pediu. A frase “se quiseres, podes tornar-me limpo”, constitui-se muito mais na
expressão do desejo de ser perdoado, do que de ter uma enfermidade física
curada.
A palavra “limpo”, no
original em Hebraico, é טָהוֹר “tahor”, que possui uma ligação muito forte com
o conceito de pureza espiritual. Os Judeus acreditavam que a lepra estava
intimamente ligada com a prática de pecado. Aquele homem pede que o Senhor o
purifique de seus pecados.
4
– JESUS SE COMPADECE DO LEPROSO (Lc 5.13).
Ao contrário da
população que expulsava e até apedrejava uma pessoa leprosa, Jesus não expulsa
aquele impuro e nem o apedreja. Jesus faz o que outros não fariam, Jesus lhe dá
atenção.
1)
Jesus olha com misericórdia para este homem. Marcos narra
assim: “E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e
disse-lhe: Quero, sê limpo” (Mc 1.41). Jesus não considerava ninguém indigno,
fosse ele leproso, ou cego, surdo, paralítico, etc. Ele veio ao mundo para
ajudar, curar e salvar. O julgamento duro e grosseiro daqueles que relacionavam
as aflições físicas individuais com os pecados individuais da pessoa afligida –
como, por exemplo, um leproso físico, teria de ser também um leproso moral –,
foi condenado por Jesus em termos muito claros (Lc 13.1-5; Jo 9.1-7) [6].
2)
Jesus estende a mão e o abraça (Lc 5.13). “E Ele, estendendo a mão, tocou-lhe”. Os relatos dos três
evangelistas coincidem textualmente em um detalhe que deve ter causado uma
impressão muito viva nas testemunhas e foi preservado de forma literal: Ele estendeu a mão e o abraçou. A
natureza contagiosa da lepra era de conhecimento geral. Pela lei, o contato com
o leproso tornava a pessoa impura. Jesus, porém, não apenas tocou no leproso,
mas o abraçou firmemente com a mão, pois a palavra que Almeida traduziu com “tocar” significa cingir, envolver e abraçar
(Mc 10.13,16; 1Jo 5.18) [7].
3)
Jesus determina a cura (Lc 5.13). “E ele, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, sê limpo. E logo a
lepra desapareceu dele”. Os espectadores podem ter imaginado horrorizados
que, neste toque, o puro ficou impuro. Entretanto, o puro purificou o impuro e
o envolveu na imensa bondade de Deus. “Já
nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1).
O puro toca o impuro
sem ficar contaminado pela impureza. A cura não foi a crediário, em doses
homeopáticas, mas instantânea, imediata e eficaz. A pele do homem foi
completamente regenerada. Sua carne ficou sã. Suas cartilagens carcomidas pela
doença retornaram ao estado original. Tudo se fez novo no corpo daquele homem
já sentenciado à morte [8].
5
– A ABRANGÊNCIA DA CURA (Lc 5.14).
O que ocorreu com esse
homem foi muito mais que uma cura física. Ela abrangeu áreas muito mais
profundas em sua vida. Podemos destacar três áreas em que este homem foi
curado.
1)
A primeira cura foi a física. Como já comentamos, a
lepra era uma doença incurável e com forte componente de segregação. Um leproso
não podia viver em família nem em sociedade. Estava sentenciado a morrer só ou
entre outros leprosos. Seu corpo ia aos poucos apodrecendo com um mau cheiro
insuportável. Mas mediante a misericórdia do Senhor este homem alcançou a cura
de todos esses males. Ele foi restaurado à sociedade. Restaurado a sua família.
Aos seus entes queridos.
2)
A segunda cura foi a emocional. Quando Jesus abraçou
aquele homem estava lhe mostrando que ele tinha valor e dignidade. Apesar da
horrenda imagem diante de Jesus e daquela multidão, Jesus o acolhe e lhe dá
aquilo que a muito tempo ele não tinha, atenção e um abraço fraterno. Mais que
uma cura física, aquele homem recebe a cura para sua alma sofrida pelo
abandono. A compaixão de Jesus lhe restaurou a vida física e emocional.
3)
A terceira cura foi a espiritual. “E logo ficou purificado da
lepra” (Mt 8.3). Quando Jesus tocou o leproso, contraiu a contaminação
dele, mas também transmitiu sua saúde! Não foi exatamente isso o que fez por
nós na cruz, quando se fez pecado por nós? “Àquele
que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos
justiça de Deus” (2Co 5.21).
No momento em que
recebemos o Senhor Jesus os nossos pecados são perdoados e alcançamos vida
eterna. Nossa alma é restaurada. Passamos a ter comunhão plena com o nosso
Deus. Saímos da morte para a vida (Ef 2.1-8). Em Isaías lemos também:
“Verdadeiramente
ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e
nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido
por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniquidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados” (Isaías 53.4,5).
6
– UM TESTEMUNHO EFICAZ (Lc 5.14).
Jesus lhe dá uma ordem
expressa: “Mas vai, disse, mostra-te ao
sacerdote, e oferece pela tua purificação, o que Moisés determinou para que
lhes sirva de testemunho”.
Aquele que lhe disse
que você não podia mais viver em sociedade será o que irá lhe liberar para
retornar ao sua vida social, familiar e religiosa.
Após o exame e a
comprovação da cura tinha que se oferecer um sacrifício no templo em Jerusalém
(Lv 14.10,21s). Por isso Jesus acrescenta: e
oferece pela tua purificação o que Moisés determinou.
O homem curado não se
calou diante do ocorrido com ele, apesar de Jesus ter-lhe ordenado que não
contasse a ninguém, como lemos em Marcos 1.44,45: “E disse-lhe: “Olha, não digas nada a ninguém; porém vai,
mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou,
para lhes servir de testemunho. Mas, tendo ele saído, começou a apregoar muitas
coisas, e a divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já não podia entrar
publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas
as partes iam ter com ele”
Aquele homem não se
conteve diante do ocorrido com ele. Isso é uma grande lição para nós, pois
muitas vezes nos calamos quando deveríamos falar para o mundo o que Jesus tem
feito por nós.
Diante desse acontecido
a fama de Jesus correu ainda mais. Mas mesmo diante de tanta fama, Jesus se
retirava para os desertos, e ali orava (Lc 5.16). Jesus não permitiu que a fama
e as necessidades das pessoas tirassem dele a comunhão com o Pai. Isso também é
um grande exemplo para nós. Muitas vezes nos tornamos escravos do trabalho e,
por consequência, escravos deste mundo quando não oramos, quando não temos
horas de solidão com Deus, quando não levamos uma vida de oração como Jesus.
CONCLUSÃO
A história desse pobre
homem tem sido a história de muitas pessoas hoje. Quantas pessoas estão doentes
emocionalmente, fisicamente e pior, espiritualmente. Como já falamos, o pecado
é pior que a lepra, pois enquanto uma nos afasta das pessoas, o pecado nos afasta
de Deus e nos leva para o inferno.
Há muitas pessoas
buscando a cura física, mas não se veem doentes pelo pecado. A lepra espiritual não lhes permite sentir
em suas almas a ausência de Deus e o quanto Ele é o único que pode lhes dar a
salvação mediante o sacrifício de Jesus na cruz.
Pense nisso!
Bibliografia
1 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, 2005, p.
87.
2 – Edwards, James R. O
Comentário de Lucas, Santo Amaro, SP, Ed. Sheed, 2019, p. 222.
3 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Mateus, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, 1998, p.
82.
4 – Lopes, Hernandes
Dias. Marcos, O Evangelho dos Miagres, São Paulo, Editora Hagnos, 2006, p. 107,
108.
5 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, São Paulo, Editora Hagnos, 2017, p. 147.
6 –Hendriksen, William.
Marcos, Comentário do Novo Testamento, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2003,
p. 55.
7 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, 2005, p.
87.
8 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, São Paulo, Editora Hagnos, 2017, p. 149.
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