Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Lucas 3.19-20; Marcos 6.14-29
INTRODUÇÃO
Esse texto que lemos a
respeito da morte de João Batista está dentro da narrativa dos milagres que
Jesus estava operando e do envio dos doze apóstolos. Em Marcos 6.14,16 nos diz
que “ouviu isto o rei Herodes (porque o
nome de Jesus se tornara notório), e disse: João, o que batizava, ressuscitou
dentre os mortos, e por isso estas maravilhas operam nele. [...] Este é João,
que mandei degolar; ressuscitou dentre os mortos”.
Herodes ficou inquieto
com esses acontecimentos pois foi ele que havia mandado prender e, posteriormente,
matar João Batista. Herodes teve a oportunidade de conhecer João Batista, o
último profeta do Antigo Testamento, o precursor do Messias, como teve a honra de
conhecer o Messias encarnado e interroga-lo. No entanto, ele perdeu as duas
oportunidades de arrependimento e salvação que lhe foram dadas. João ele mandou
matar e Jesus ele consentiu que o matassem.
Existem pessoas em que
oportunidades ímpares lhes caem no colo por mais de uma vez e no entanto as
rejeitam.
Herodes
e sua família conturbada. Em muitas famílias o que reina é
a intriga a desconfiança e até mesmo a morte. Foi assim na família horodiana.
Esta família tem uma passagem sombria pela história. Era uma família cheia de
mentiras, assassinatos, traições e adultério. Herodes, o Grande foi um monarca
insano, desconfiado e inseguro. Ele casou-se dez vezes, matou esposas e filhos.
Mandou matar as crianças de Belém, pensando com isso, eliminar o infante Jesus,
rei dos judeus.
Herodes Antipas era o
filho mais novo de Herodes, o Grande (Mt 2.1). Ele era chamado de rei, mesmo
que o seu título oficial era “tetrarca” (Lc 3.19), governador de uma quarta parte
da nação. Quando Herodes, o Grande morreu, os romanos dividiram seu território
entre seus três filhos; e Antipas foi feito tetrarca da Peréia e Galileia, aos
dezesseis anos, de 4.a.C. até 39 d.C. [1]
Quais as lições que podemos tirar desse texto:
1
– HERODES, UM HOMEM ADÚLTERO E INCESTUOSO (MC 6.17-19).
O casamento desleal de
Herodes Antipas e Herodias forma o pano de fundo para a morte de João Batista
[2]. O conflito entre João Batista e Herodias começou quando João Batista
iniciou suas pregações sobre o arrependimento e a iminência do advento de
Cristo. Tal pregação provocou duas reações. Algumas pessoas responderam com
entusiasmo e perguntavam a João o que fariam, a fim de se prepararem para este
acontecimento (Lc 3.10-14). Quando, porém, Herodes soube que o profeta apontava
para pecados específicos, inclusive o seu relacionamento com Herodias, Lucas
diz que “acrescentou a todas as outras
(maldades) ainda esta, a de lançar João no cárcere” (Lc 3.19,20).
A razão de Herodias
ficar tão furiosa com João é porque ele havia apontado o pecado dela também,
por ter passado de um irmão para o outro.
Herodes Antipas era
casado com uma filha do rei Aretas, rei de Damasco. Divorciou-se dela para
casar-se com Herodias, mulher de seu meio irmão Filipe. Herodias era cunhada e
sobrinha de Herodes. Era filha de Aristóbulo, seu meio-irmão. Ao casar-se com
Herodias, Herodes cometeu pecado de adultério e incesto, violando assim a moral
e a decência (Lv 18.16, 20.21). O casamento de Herodes foi duramente condenado
por João Batista.
João Batista não era um
profeta da conveniência, mas voz de Deus quer no deserto quer no palácio.
Estava pronto a ser preso e a morrer, não a calar sua voz.
Muitas pessoas hoje,
assim como Herodes e sua esposa Herodias, têm banalizado o casamento. Para
muitos, o casamento não passa de uma ascensão social, um bom negócio, ou, uma
aliança déspota. Casamento por conveniência. Quantos relacionamentos
incestuosos tem sido denunciados nas redes sociais. Desde estupros a casamento
entre mãe e filha. Isso sem contar que alguns pastores liberais têm apoiado o
casamento entre pessoas do mesmo sexo. Para eles o que importa é o amor.
E quando Deus aponta
para tais casamentos e os condena, as pessoas envolvidas neste erro acham mais
fácil matar o mensageiro de Deus do que mudar o comportamento. Preferem tapar
os ouvidos ao que Deus tem falado a voltar-se para Deus com rogos e
arrependimento (Apocalipse 16.8-11).
2
– HERODES, UM HOMEM ACUSADO PELA PRÓPRIA CONSCIÊNCIA (MC 6.14-16,20).
Essa foi a resposta de
sua imaginação mórbida e doentia, influenciada por uma consciência acusadora. O
homem com a consciência pesada vive num estado de temor. Como Marcos mostra: “Porque
Herodes temia a João, sabendo que era homem justo e santo; e guardava-o com
segurança, e fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boa mente o ouvia” (Mc
6.20).
Quando Herodes, que
havia mandado decapitar João Batista, ouve o povo falar de Jesus, fica
aterrorizado pensando que o profeta havia ressuscitado, pois isto significaria,
na cabeça dele, que o próprio Deus havia tomado a defesa de sua vítima.
Ele pensava isso pois
ele sabia que João era um homem justo e santo!
Herodes
temia João Batista vivo, mas agora, o teme ainda mais morto.
Sua consciência está atormentada e ele não sabe como livrar-se dela. Ninguém
pode evitar viver consigo mesmo; e quando o ser interior torna-se o acusador, a
vida torna-se insuportável. Herodes, em vez de arrepender-se, endurece ainda
mais seu coração.
Adolf Pohl diz que nada
é mais perigoso que uma consciência pesada sem arrependimento. Herodes está
vivendo o conflito entre a consciência e a paixão.
Dois
aguilhões feriam a consciência de Herodes, o assassinato de João Batista e o
medo de haver ele ressuscitado. João Batista havia se
interposto no caminho do pecado de Herodes. Este, para agradar sua mulher e
acalmar sua consciência, colocou João na prisão e depois mandou decapitá-lo. Herodias temia o povo, Herodes temia a
João, mas este não temia nem a um nem a outro a não ser a Deus.
Com isso em mente,
podemos destacar duas coisas:
a) Herodes era um homem
supersticioso.
Herodes pensa que Jesus é João Batista que ressuscitou para perturbá-lo.
Ele está tão confuso acerca de Jesus quanto a multidão da Galileia. Sua crença
está desfocada. Sua teologia é mística e supersticiosa. E uma teologia cheia de
superstição traz tormento e não libertação.
A superstição é uma fé
baseada em sentimentos e opiniões. Não emana da Escritura. Ela varia de acordo
com o momento. Ela não oferece segurança nem paz.
Muitas igrejas hoje pregam
um evangelho supersticioso. Um evangelho de mandingas, um evangelho do medo. Um
evangelho que aprisiona. Um evangelho opressor.
Muitas igrejas hoje estão mais parecidas com centro espírita do que com
igreja evangélica. Até mesmo a coreografia que esboçam é semelhante a esses
lugares.
Crentes que creem mais
no diabo do que poder de Deus. Depositam sua fé em figas e amuletos, mas não
nas promessas de Deus. Isso ocorre porque ouvem uma teologia sincrética,
híbrida e sem profundidade teológica. Tais pessoas não foram libertas por
Cristo, continuam prisioneiras de Satanás.
Herodes era escravo na
sua consciência e do seu pecado. Teve a oportunidade de mudar, mas optou em
matar o seu mensageiro e o próprio Salvador.
Se você estivesse no
lugar de Herodes o que você faria?
b) Herodes um homem
conflituoso.
Herodes teme João, gosta ouvi-lo, respeita-o, mas prende-o. A voz de Herodias falava mais alto que a
voz da sua consciência. Ele não foi corajoso o suficiente para obedecer à
palavra de João, mas agora se sente escravo da sua própria palavra e manda
matar um homem inocente.
Não basta admirar e
gostar de ouvir grandes pregadores. Herodes fez isso, mas pereceu. Herodes e
Herodias estavam tão determinados a continuar na prática do pecado que taparam
os ouvidos à voz da consciência e mais tarde silenciaram o profeta, mandando
degolá-lo. Herodes silenciou João, mas não conseguiu silenciar sua própria
consciência culpada.
Em nossas igrejas
existem muitas pessoas como Herodes. Gostam de ouvir um bom sermão, mas não os
coloca em prática. Existem muitos “amigos do evangelho” em nossas igrejas. No
entanto são pessoas que não querem nenhum compromisso com Deus. Tornam-se até
frequentadores da igrejas, mas não querem assumir nenhum compromisso com Jesus.
Podem até assumir algum compromisso com a instituição que frequentam, mas não com
Deus. Pessoas assim dão mais ouvidos ao que as pessoas falam e pensam a seu
respeito (Herodias da vida) do que o que Deus tem falado. Na hora de decidir a
quem ouvir, ficam com os amigos, e abandonam a Deus.
Quem você tem dado
ouvidos?
3
– HERODES, FESTEJA A VIDA, MAS CONDENA À MORTE (Mc 6.21-28).
Herodes festeja com
seus convivas e se embebeda. As festas reais eram extravagantes tanto na
demonstração de riqueza quanto na provisão de prazeres. Homens, mulheres, luxo,
mundanismo, bebidas, músicas profanas e danças, pecados e Satanás com seus
emissários… Observe que Marcos utiliza a designação “rei”, que era como Herodes
desejava ser chamado, mas na realidade ele era apenas um tetrarca, o governador
de uma quarta parte de sua nação. O Império pertencia a Roma e não a ele [3].
Tudo estava presente,
menos o temor de Deus. Esse é o retrato da sociedade mundana, sem Deus,
transviada e perdida.
Essa perversão fazia
parte da vida luxuosa de Herodes e também da sua vida familiar.
a) Herodes era um homem
manipulado pela esposa (Mc 6.19,22-28). Herodes
Antipas é uma casa dividida contra si mesmo [4]. Enquanto Herodes intentava
preservar a vida de João Batista, Herodias esperou pacientemente por uma
oportunidade de mata-lo. O caráter malicioso desses dois nos trazem à memória
Acabe e Jezabel (1Rs 18-21).
Herodias
sentiu que o único local onde sua certidão de casamento poderia ser escrita com
segurança seria no verso da sentença de morte de João Batista
[5].
Observe
o que nos fala Marcos 6.19,20: “E Herodias o espiava, e queria matá-lo, mas não podia. Porque Herodes
temia a João, sabendo que era homem justo e santo; e guardava-o com segurança,
e fazia muitas coisas, atendendo-o, e de boa mente o ouvia”.
Herodias sabia que
Herodes temia a João e de boa mente o ouvia. Diante disso, era uma questão de
tempo para Herodes dar ouvidos a João Batista e deixá-la. Como disse Paulo aos
Romanos 10.17: “De sorte que a fé é pelo
ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus”.
Quando o Espírito Santo
entra no coração de alguém gera vida e fé, com isso vem a transformação de
vida. Há o rompimento com o pecado. Isso Herodias não queria, ela não estava disposta
a perder o que havia conquistado.
Herodias finalmente
encontrou um meio estratégico de manipular o “rei” Herodes. Agora ela tinha a
oportunidade de pôr em ação o seu plano. O aniversário do “rei”. As festas
reais eram sempre extravagantes, tanto em sua ostentação quanto nos
entretenimentos.
Os judeus não permitiam
que as mulheres dançassem diante de um grupo de homens, e a maioria das mães
gentias teria proibido uma filha fazer o que a enteada de Herodes fez. Herodias
no entanto, sabendo da vulgaridade de Herodes (pois havia se casado com a
mulher de seu irmão), e sabendo que com a dança ele cobiçaria a sua enteada,
fez com que a menina entrasse na festa e dançasse para o “rei” [6]. E foi isso
que aconteceu. Alguns comentaristas acreditam que essa menina era ainda
adolescente. Se for assim, Herodes era adúltero, incestuoso e pedófilo.
Muitas mulheres em
troca de luxo e fama (o ex-marido de Herodias era um homem rico, mas não tinha
poder), entram em um relacionamento errado e abraçam de vez o pecado. Tudo em
troca de dinheiro, fama e status. Ainda que para isso exponham os filhos e os
use para o seu bel prazer.
Quantas esposas
manipulam os maridos para se beneficiarem. Usam de malícia, impiedade e
oportunismo. A mulher tem o poder de edificar e de derrubar um lar: “Toda mulher sábia edifica a sua casa; mas a
tola a derruba com as próprias mãos” (Pv 14.1).
Ester
entra na presença do rei para salvar uma nação, Herodias usa a filha para matar
um homem justo.
b) Herodes fez uma
promessa inconsequente (Mc 6.22-29). Bêbado e seduzido,
fez promessas irrefletidas à filha de Herodias. Os historiadores dizem que o
nome dessa menina era Salomé (que tudo indica era maliciosa também), ela
representa apenas a extensão do desejo de Herodias, um joguete complacente em
um jogo de intriga e poder.
“Disse
então o rei à menina: Pede-me o que quiseres, e eu to darei. E jurou-lhe,
dizendo: Tudo o que me pedires te darei, até metade do meu reino”
(Marcos 6.22,23).
Que reino? Herodes não
tinha reino nenhum. Ele era apenas um tetrarca. Mas eis que vem o pedido da
menina depois de consultar a mãe: “E,
saindo ela, perguntou a sua mãe: Que pedirei? E ela disse: A cabeça de João o
Batista. E, entrando logo, apressadamente, pediu ao rei, dizendo: Quero que
imediatamente me dês num prato a cabeça de João o Batista” (Marcos
6.24,25).
Para manter sua palavra
manda decapitar o homem a quem respeitava e temia. Herodes era um homem que
agia por impulso e falava antes de pensar.
Sua
festa de aniversário tornou-se numa festa macabra.
O bolo de aniversário não veio coberto de velas, mas coberto de sangue com a
cabeça do maior homem dentre os nascidos de mulher, o precursor do Messias.
Faltou a Herodes coragem moral para temer a Deus e quebrar seus votos
insensatos. Mas por orgulho atendeu ao pedido de uma mulher vingativa e de
convivas fúteis.
Herodes
foi vítima de suas escolhas. Ele seduziu a mulher de seu irmão
e trouxe para junto de si uma cobra.
O salário do pecado é a
morte (Rm 6.23), e um abismo chama outro abismo (Sl 42.7).
Devemos aprender a
nunca fazer promessas quando estamos muito felizes e também muito tristes.
4
– HERODES, UM HOMEM QUE PERDEU A OPORTUNIDADE DA SALVAÇÃO DUAS VEZES.
Herodes perdeu a
oportunidade de salvação a não dar ouvidos ao que João Batista lhe falava e
abandonado o pecado, e diante de Jesus, no dia de seu julgamento. Herodes
estava curioso em conhecer Jesus, mas não em aceitá-lo como seu salvador (Lc
23.8-12).
Herodes simplesmente
viveu no pecado. Não ouviu o profeta, prendeu o profeta, matou o profeta e
endureceu ainda mais o coração. Jesus o
chamou de raposa. Jesus esteve com ele face a face, mas ele zombou de Jesus
(Lc 23.8-12). Foi exilado e morreu na escuridão em que sempre viveu. No ano 39
d.C., Herodes Agripa (At 12.1), seu sobrinho, o denunciou ao imperador
romano Calígula, e ele foi deposto e banido para um exílio perpétuo em Lyon, na
Gália, onde morreu.
Pode ser que demore,
mas ninguém ficará impune diante do Justo Juiz. Talvez não ocorra em nosso
tempo, mas no tempo de Deus irá acontecer.
CONCLUSÃO
O pecado não compensa.
O prazer do pecado produz tormento eterno. Mas, o sofrimento por causa de
Cristo não ficará sem recompensa no tempo e na eternidade. Herodes estava no
trono e João na prisão. Hoje, o nome de Herodes está coberto de poeira e
opróbrio, mas o nome de João Batista ainda inspira milhões de corações.
John Charles Ryle diz
que fatos como esses, relembram-nos que as melhores coisas do verdadeiro
cristão ainda estão por vir. Seu descanso, sua coroa, sua recompensa estão
todos do outro lado da sepultura. Aqui neste mundo nós andamos por fé e não por
vista. Aqui semeamos, trabalhamos, lutamos e sofremos perseguições. Mas esta
vida não é tudo. Haverá uma recompensa. Há uma gloriosa colheita por vir. Há um
descanso para o povo de Deus. O que nem um olho viu nem ouvido ouviu é que Deus
preparou para aqueles que o amam.
Pense nisso!
Bibliografia:
1 – Lopes, Hernandes
Dias. Marcos, o evangelho dos milagres, Editora Hagnos, 2006, pag. 298.
2 – Erwardes, R.
Edwards. O Comentário de Marcos, Ed. Shedd, 2018, pag. 240.
3 – Wiersbe, Warren W.
Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, 2012, pag. 169.
4 – Erwardes, R.
Edwards. O Comentário de Marcos, Ed. Shedd, 2018, pag. 241.
5 – Erwardes, R. Edwards. O Comentário de Marcos, Ed. Shedd, 2018, pag. 241.
6 – Keener, Graig s.
Comentário Histórico-Cultural da Bíblia – NT, Ed. Vida Nova, 2017, pag.162.
Nenhum comentário:
Postar um comentário