Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Lucas 3.21-23a
INTRODUÇÃO
O Evangelho de Lucas
nos apresenta Jesus quando recém-nascido (Lc 2.11-16), com oito dias vida (Lc
2.21), com quarenta dias de vida (Lc 2.22-24), com doze anos (Lc 2.41-52) e com
trinta anos (Lc 3.23). Agora aos trinta anos Jesus se apresenta perante João
Batista, no Jordão, para ser batizado por ele. Mateus registra que João se opôs
em batizar Jesus pois João não se via digno de tal atitude (Mt 3.13,14), no
entanto, Jesus lhe diz que deveria se cumprir toda a justiça, sendo assim o
batiza.
Jesus veio “da
Galileia” (assim diz Mateus). Marcos é um pouco mais definido ao dizer “de
Nazaré da Galileia”. João acrescenta que nesse tempo João Batista batizava “em
Betânia, doutro lado do Jordão” (1.28).
A relação entre Jesus e
João Batista compara-se à de dois astros, um seguindo o outro em diversas fases
de sua trajetória. O anúncio do nascimento de ambos, o nascimento em si, o
começo da atuação pública, sua morte, sucedem-se um ao outro em pouco tempo. Apesar disso ocorreu somente um único
encontro direto entre esses dois homens, intimamente tão próximos por causa
da relevância de sua trajetória de vida, do batismo de Jesus no rio Jordão.
O ministério público de
Jesus começa aqui; a expressão “apareceu publicamente” (Mt 3. 13) é a mesma
usada em conexão com o princípio da obra de João Batista (Mt 3.1). Jesus veio
ao Jordão com o propósito específico de ser batizado por João.
O batismo de Jesus nos
apresenta lições preciosas que precisamos destacar e aplicar em nossas vidas.
Vejamos:
1
– NO BATISMO JESUS APROVA O BATISMO DE JOÃO (Lc 3.21).
Quando Jesus vai até o
Jordão para ser batizado por João, o Senhor está testificando o seu batismo.
Jesus está deixando claro que o batismo que João estava realizando procedia de
Deus. Que João Batista era um profeta enviado da parte de Deus para preparar o
caminho do Messias (Jo 1.29-34). Apesar de João Batista ter tido uma carreira
de pouca duração, foi de grande impacto.
Qual a diferença entre
o batismo de João e o batismo de Jesus?
O batismo de João era a
preparação para a vinda de Jesus, o Messias prometido. Por isso que no batismo
de João, nenhuma fórmula batismal é usada no ato do batismo, João dizia apenas
assim: “E eu, em verdade, vos batizo com
água, para o arrependimento” (Mt 3.11). João não invocava algum “nome”
sobre a pessoa que estava sendo batizada; o seu foco era o arrependimento.
No batismo que Jesus
ordenou há uma fórmula batismal – em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Lembrando que o batismo cristão
também inclui o arrependimento, que é o fator principal e necessário, no
entanto, também simboliza a nossa união e identificação com Jesus em sua morte,
sepultamento e ressurreição.
O que é lamentável hoje
é que muitas pessoas estão negligenciando o batismo ordenado por Jesus. Alguns
o idolatram, outros o subestimam e outros ainda o desonram.
2
– NO BATISMO JESUS SE IDENTIFICA COM OS PECADORES (Lc 3.21).
O batismo de João
atraiu muitos israelitas para ouvi-lo e serem batizados por ele. Mas João quando
viu que Jesus havia ido para ser batizado por ele, diz a Jesus: “Eu é que tenho necessidade de ser batizado
por ti, e tu vens a mim?” (Mt 3.14). Portanto, João tinha convicção de que
Jesus não tinha necessidade do perdão dos pecados, não precisava tornar-se
justo, ele já é justo, a saber, justo a partir de si mesmo.
Contudo, Jesus não
desiste de assumir o batismo da conversão e do perdão dos pecados, apesar dEle
não ter nenhum pecado.
Por
que Jesus deixou-se batizar? O batismo de João
significava o juízo sobre a pessoa culpada. Jesus tinha necessidade de um tal
juízo? Não! No entanto, Ele submeteu-se ao batismo, não somente exteriormente,
como a uma cerimônia, ou para nos dar um exemplo de que também precisamos
deixar-nos batizar. Jesus sabia que precisava realizar e construir o que esse
batismo representava. Por isso responde a João Batista: “Convém cumprir toda a justiça”.
Jesus estava aqui se
identificando com os pecadores. Com cada um de nós.
“Porque
não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas;
porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”
(Hb 4.15 ACF)
Quem conviveu com
Cristo pôde testemunhar que nenhum pecado se achou nele, nem mesmo no seu
falar; ninguém jamais poderia acusá-lo de pecado algum, a não ser sob falsas
acusações (1Pe 2.22).
Jesus veio à terra não
só para estar ao nosso lado, mas em nosso lugar! Ele foi nosso representante,
fiador e substituto; fez-se pecado por nós! (2Co 5.21). Por isso ele desce à
mesma água com os pecadores. Iguala-se aos pecadores (Fp 2).
Como lemos em 1Pe
2.22-25:
“O
qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o
injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se
àquele que julga justamente; levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados
sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a
justiça; e pelas suas feridas fostes sarados. Porque éreis como ovelhas
desgarradas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas”.
Assim como Jesus se
identificou com os pecadores no batismo de João, nós devemos nos identificar
com Ele quando descemos às águas batismais. Como nos fala Paulo em Filipenses
2.5-8:
“De
sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que,
sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas
esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos
homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente
até à morte, e morte de cruz”.
3
– NO BATISMO JESUS É IDENTICICADO COMO FILHO DE DEUS (Lc 3.22).
O Pai afirma sua
filiação e declara que em Jesus e na sua obra ele tem o seu prazer. A pomba deu
o sinal do término do julgamento após o dilúvio na época de Noé. A pomba agora
dá o sinal da vinda do Espírito Santo sobre Jesus, abrindo-nos a porta da
graça.
Os céus precisaram se
abrir não para que Jesus pudesse ouvir a voz do Pai, mas para que João Batista
a ouvisse, equipando-o para ser uma testemunha mais idônea das coisas que viu e
ouviu (cf. Jo 1.33,34).
Vemos nesse texto a
Trindade Santa sendo revelada. Quando o Filho se identifica com seu povo no
batismo, o céu se abre, o Espírito Santo desce e o Pai fala. Assim o Pai, o
Filho e o Espírito Santo cooperam entre si para levar a efeito a salvação do
homem.
“Este
é o meu Filho, o Amado, em quem tenho prazer”. Não se pode
imaginar um sinal e selo de aprovação mais gloriosos.
Jesus
é singular! É único, e é impossível que seja
comparado a qualquer anjo, profeta, santo ou falso deus. Ele é a chave para se
compreender o real sentido da vida (Jo 14.6). O Pai confirma que Jesus é Seu
Filho, no entanto muitas pessoas têm negado a sua divindade, ou, quando não
negam a sua divindade, o negam como o único Salvador pessoal. São vários os
motivos que levam uma pessoa a negar a Cristo, e podem ser:
- Vergonha - (Mc 8.38)
- Medo - (Jo 18.27)
- Incredulidade - (Jo
6.64)
- Seguir a maioria
(ceticismo) - (At 3.14)
- Estar enganado, seguindo
falsas doutrinas (Mt 24.11)
- Achar que é duro
seguir a Cristo e Seus ensinamentos (Jo 6.66)
- Não querer negar a si
mesmo (Lucas 9:23)
- Inconstância (Ef
4.14)
Rejeitar o amor de
Jesus é uma decisão pessoal de quem é assertivo nessa escolha ou daqueles que
simplesmente são indiferentes a Ele na sua caminhada. Ou seja, ficar em cima do
muro, já mostra uma decisão tomada.
Jesus é o Filho de Deus ainda que muitos o neguem, que o maldizem, que blasfemem seu nome. No fim todos terão que reconhecer quem Ele é como nos fala Paulo em Fl 2.9-11: “Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”.
4
– NO BATISMO JESUS É REVESITIDO DE PODER PARA EXERCER O SEU MINSTÉRIO (Lc 3.22).
A fim de produzir essa
redenção vicária, o Espírito Santo, com todo o seu poder que capacita (Is 11.2;
48.16; 61.1-3; Zc 4.6; Lc 4.18,19), desceu sobre Jesus, capacitando-o (em consonância
com sua natureza humana) para a tarefa que ele tomara sobre si.
Em Mateus 4.1 nos diz: “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao
deserto, para ser tentado pelo diabo”.
Para a execução de sua
tarefa infinitamente difícil, era mister que o Mediador fosse ungido pelo
Espírito Santo, pois deve-se ter em mente que o Filho de Deus era também o
Filho do homem. A segunda pessoa da Trindade, sendo verdadeiramente divina,
possui duas naturezas: a divina e a humana. A natureza divina não necessita de
fortalecimento, porém a natureza humana, sim. Portanto, todas as qualificações
necessárias foram conferidas ao Mediador quando, em seu batismo, o Espírito
Santo, simbolizado pela forma de uma pomba, desceu sobre ele em plena medida.
Assim como Jesus foi
revestido de poder do alto para exercer o seu ministério, o Espírito foi
derramado sobre a igreja para que possamos testemunhar da fé em Seu Nome (Jo
14.15-18; At 1.8, Atos 4.31).
É impossível
realizarmos a obra de Deus sem a presença do Espírito Santo em nós. É o
Espírito Santo que nos guia (At 16.6-10), é Ele que nos dá intrepidez para
pregarmos o Evangelho (At 4.29-31), é através dEle que podemos testemunhar em
nosso viver diário (Ef 5.18... casamento, pais e filhos, servos e senhores e
armadura espiritual).
5
– NO BATISMO JESUS MOSTRA A NECESSIDADE DA ORAÇÃO (Lc 3.21).
Lucas é o único dos
três relatos dos evangelistas que acrescenta uma palavra muito importante à
frase “quando Jesus foi batizado: e
estando a orar”. Como é extremamente significativo esse orar de Jesus ao
sair da água. Lucas nos dirige a atenção
para importantes ocasiões em que Jesus orava (cf. Lc 5.16; 6.12; 9.18,29; 10.21;
11.1; 22.31,32,41,44,45; 23.34,46).
Jesus não só ensinou a
respeito da oração, como Ele mesmo foi um homem de oração. Por sete vezes Lucas
mostra Jesus em oração antes de cada momento decisivo do seu ministério. Esse
destaque à oração faz que Lucas seja chamado por alguns comentaristas de “o
evangelho da oração”.
Por que o céu se abriu?
É porque Jesus estava orando! Quando Jesus orou, o Espírito desceu. Quando Deus
deu o Espírito à igreja? Quando a igreja estava orando! Onde há oração, há
demonstração do Espírito Santo.
Os discípulos
entenderam o quanto era necessário orar, e orar de forma correta:
“E
aconteceu que, estando ele a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um
dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos
seus discípulos” (Lc 11.1).
Em Tiago 5.17,18 nos
diz: “Elias era homem sujeito às mesmas
paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis
meses, não choveu sobre a terra. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra
produziu o seu fruto”.
Através da oração nós
entramos na sala do trono e falamos com o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Na oração nós entendemos que antes de pedirmos o pão de cada dia devemos
entender que deve ser feita a vontade de Deus assim na terra como no céu (Mt
6.9-11). A oração nos dá discernimento!
6
– NO BATISMO JESUS MOSTRA MATURIDADE PARA O SERVIÇO (Lc 3.23).
Somente
Lucas nos informa que Jesus tinha 30 anos quando iniciou o seu ministério. Essa
era a idade que os levitas começavam o seu serviço, como lemos em Nm 4.46,47:
“Todos os que deles foram contados,
que contaram Moisés e Arão, e os príncipes de Israel, dos levitas, segundo as
suas famílias, segundo a casa de seus pais; da idade de trinta anos para cima,
até aos cinquenta, todo aquele que entrava a executar o ministério da
administração, e o ministério das cargas na tenda da congregação”.
Foi
também com essa idade que José tornou-se o “primeiro ministro” do Egito (Gn
41.46), e que Davi chegou ao posto de rei (2Sm 5.4). Portanto, não causa
estranheza que Jesus tenha começado (implícito “seu ministério”) com essa
idade. Esta era evidentemente considerada a idade em que um homem era
plenamente maduro.
Durante
trinta anos, Jesus provavelmente viveu como carpinteiro na cidade de Nazaré.
Desde a infância, entretanto, tinha consciência da sua missão. Mas agora era
tempo de agir, era tempo de iniciar o seu ministério. Seu batismo foi o selo
dessa decisão.
Jesus
é um exemplo à aparte de maturidade. Como vimos, Ele, desde a infância, já
sabia do seu chamado. Mas o que me incomoda é vermos crentes antigos na igreja
que continuam agindo com imaturidade juvenil. Temos visto uma igreja imatura,
mundana e inconsequente em relação ao testemunho diário. Uma igreja muito
parecida com a igreja de Corinto. Igreja esta que o apóstolo os chama de
crianças na fé:
“E eu, irmãos, não vos pude falar
como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos
criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora
podeis, porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e
dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?” (1Co
3.1-3).
A
maturidade e imaturidade não têm a ver, necessariamente, com a questão da
idade, da origem, da condição social.
Na
Bíblia, a maturidade está associada à doutrina da santificação.
A
santificação é aquela doutrina que fala da transformação de nossas vidas, de
uma nova mentalidade, ligada à Cristo e à vontade de Deus. Trata-se da ideia de
nos negarmos a nós mesmos – e isso é altamente contraintuitivo e vai na
contramão da ideia de controle que o mundo sugere para maturidade – tomarmos nossa
cruz e crucificarmos este mundo com Cristo. Está ligada ao abandono do pecado,
à mortificarmos os feitos do corpo, à renúncia dos vícios e hábitos ruins, dos
traços de nossa personalidade que nos arrastam para pensamentos e práticas de
nossa velha natureza.
A
maturidade cristã está associada à ideia de crescimento espiritual, ou
crescimento nas coisas da fé, à fome de Deus, ao desejo de desfrutar de mais
comunhão com Deus. Está ligada a andar no Espírito, a viver no Espírito, a
cogitar das coisas do Espírito, a adorar em Espírito e em verdade, a produzir o
fruto do Espírito, está ligada ao desejo de crescimento e desenvolvimento tanto
no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo como na obediência.
A
maturidade na Bíblia também está ligada também à ideia de peregrinação, de
jornada, de caminhada, de boa ventura.
As tribulações, as provas, as lutas, os dramas e até algumas das nossas
derrotas podem nos levar à maturidade, ao refinamento da fé, ao crescimento e
compreensão melhor das coisas (2Co 12.6-10).
Maturidade
está ligada à plenitude e alegria em Deus, ao regozijo, ao louvor e adoração
sinceros.
Maturidade
está ligada à virtude da humildade, do senso de proporção e lugar; de
contentamento, mansidão e sabedoria. Está ligada a serviço. “Quem quer ser grande,
sirva” – disse o Senhor Jesus aos seus discípulos. A maturidade está ligada ao
amor ao próximo e às boas obras, como diz Tiago em sua epístola.
O
alvo do cristão deve ser o de crescer nas coisas da fé. De apropriar-se das
coisas da fé e torna-las suas. O alvo do cristão deve ser o de provar e ver que
o Senhor é bom, deve ser o de ser transformado, de glória em glória, na própria
imagem do Senhor, pelo Espírito.
Você
é maduro na fé?
CONCLUSÃO
Através
do batismo de Jesus nós podemos tirar lições preciosas para nossas vidas. Por
isso devemos olhar para esse texto e pedir ao Senhor que nos capacite a viver
de tal forma que o Seu nome seja exaltado em nossas vidas.
Pense
nisso!
Bibliografia:
1 – Hendriksen, Wiliam. Comentário do Novo Testamento Mateus, Vol. 1, Editora Cultura Cristã, 2001.
2 – Hendriksen, Wiliam. Comentário do Novo Testamento Lucas, Vol. 1, Editora Cultura Cristã, 2003.
3
– Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus, o homem perfeito, Ed. Hagnos, 2017.
4
– Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mindo Cristão e Edições
Vida Nova, 1986.
5
– Rienecker, Fritz. Evangelho de Mateus, Comentário Esperança, Ed. Esperança,
1998.
6
– Rienecker, Fritz. Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Esperança,
2005.
7
– Santos, Tiago. Uma chamada à maturidade
https://voltemosaoevangelho.com/blog/2016/02/uma-chamada-a-maturidade/,
acessado em 10/10/2020.
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