quarta-feira, 14 de outubro de 2020

O BATISMO DE JESUS, UM EXEMPLO PARA O SERVIÇO

Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Lucas 3.21-23a

INTRODUÇÃO

O Evangelho de Lucas nos apresenta Jesus quando recém-nascido (Lc 2.11-16), com oito dias vida (Lc 2.21), com quarenta dias de vida (Lc 2.22-24), com doze anos (Lc 2.41-52) e com trinta anos (Lc 3.23). Agora aos trinta anos Jesus se apresenta perante João Batista, no Jordão, para ser batizado por ele. Mateus registra que João se opôs em batizar Jesus pois João não se via digno de tal atitude (Mt 3.13,14), no entanto, Jesus lhe diz que deveria se cumprir toda a justiça, sendo assim o batiza.

Jesus veio “da Galileia” (assim diz Mateus). Marcos é um pouco mais definido ao dizer “de Nazaré da Galileia”. João acrescenta que nesse tempo João Batista batizava “em Betânia, doutro lado do Jordão” (1.28).

A relação entre Jesus e João Batista compara-se à de dois astros, um seguindo o outro em diversas fases de sua trajetória. O anúncio do nascimento de ambos, o nascimento em si, o começo da atuação pública, sua morte, sucedem-se um ao outro em pouco tempo. Apesar disso ocorreu somente um único encontro direto entre esses dois homens, intimamente tão próximos por causa da relevância de sua trajetória de vida, do batismo de Jesus no rio Jordão.

O ministério público de Jesus começa aqui; a expressão “apareceu publicamente” (Mt 3. 13) é a mesma usada em conexão com o princípio da obra de João Batista (Mt 3.1). Jesus veio ao Jordão com o propósito específico de ser batizado por João. 

O batismo de Jesus nos apresenta lições preciosas que precisamos destacar e aplicar em nossas vidas. Vejamos:

1 – NO BATISMO JESUS APROVA O BATISMO DE JOÃO (Lc 3.21).

Quando Jesus vai até o Jordão para ser batizado por João, o Senhor está testificando o seu batismo. Jesus está deixando claro que o batismo que João estava realizando procedia de Deus. Que João Batista era um profeta enviado da parte de Deus para preparar o caminho do Messias (Jo 1.29-34). Apesar de João Batista ter tido uma carreira de pouca duração, foi de grande impacto.

Qual a diferença entre o batismo de João e o batismo de Jesus?

O batismo de João era a preparação para a vinda de Jesus, o Messias prometido. Por isso que no batismo de João, nenhuma fórmula batismal é usada no ato do batismo, João dizia apenas assim: “E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento” (Mt 3.11). João não invocava algum “nome” sobre a pessoa que estava sendo batizada; o seu foco era o arrependimento.

No batismo que Jesus ordenou há uma fórmula batismal – em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Lembrando que o batismo cristão também inclui o arrependimento, que é o fator principal e necessário, no entanto, também simboliza a nossa união e identificação com Jesus em sua morte, sepultamento e ressurreição.

O que é lamentável hoje é que muitas pessoas estão negligenciando o batismo ordenado por Jesus. Alguns o idolatram, outros o subestimam e outros ainda o desonram.

2 – NO BATISMO JESUS SE IDENTIFICA COM OS PECADORES (Lc 3.21).

O batismo de João atraiu muitos israelitas para ouvi-lo e serem batizados por ele. Mas João quando viu que Jesus havia ido para ser batizado por ele, diz a Jesus: “Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mt 3.14). Portanto, João tinha convicção de que Jesus não tinha necessidade do perdão dos pecados, não precisava tornar-se justo, ele já é justo, a saber, justo a partir de si mesmo.

Contudo, Jesus não desiste de assumir o batismo da conversão e do perdão dos pecados, apesar dEle não ter nenhum pecado.

Por que Jesus deixou-se batizar? O batismo de João significava o juízo sobre a pessoa culpada. Jesus tinha necessidade de um tal juízo? Não! No entanto, Ele submeteu-se ao batismo, não somente exteriormente, como a uma cerimônia, ou para nos dar um exemplo de que também precisamos deixar-nos batizar. Jesus sabia que precisava realizar e construir o que esse batismo representava. Por isso responde a João Batista: “Convém cumprir toda a justiça”.

Jesus estava aqui se identificando com os pecadores. Com cada um de nós.

“Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado” (Hb 4.15 ACF)

Quem conviveu com Cristo pôde testemunhar que nenhum pecado se achou nele, nem mesmo no seu falar; ninguém jamais poderia acusá-lo de pecado algum, a não ser sob falsas acusações (1Pe 2.22).

Jesus veio à terra não só para estar ao nosso lado, mas em nosso lugar! Ele foi nosso representante, fiador e substituto; fez-se pecado por nós! (2Co 5.21). Por isso ele desce à mesma água com os pecadores. Iguala-se aos pecadores (Fp 2).

Como lemos em 1Pe 2.22-25:

“O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente; levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados. Porque éreis como ovelhas desgarradas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas”.

Assim como Jesus se identificou com os pecadores no batismo de João, nós devemos nos identificar com Ele quando descemos às águas batismais. Como nos fala Paulo em Filipenses 2.5-8:

“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz”.

3 – NO BATISMO JESUS É IDENTICICADO COMO FILHO DE DEUS (Lc 3.22).

O Pai afirma sua filiação e declara que em Jesus e na sua obra ele tem o seu prazer. A pomba deu o sinal do término do julgamento após o dilúvio na época de Noé. A pomba agora dá o sinal da vinda do Espírito Santo sobre Jesus, abrindo-nos a porta da graça.

Os céus precisaram se abrir não para que Jesus pudesse ouvir a voz do Pai, mas para que João Batista a ouvisse, equipando-o para ser uma testemunha mais idônea das coisas que viu e ouviu (cf. Jo 1.33,34).

Vemos nesse texto a Trindade Santa sendo revelada. Quando o Filho se identifica com seu povo no batismo, o céu se abre, o Espírito Santo desce e o Pai fala. Assim o Pai, o Filho e o Espírito Santo cooperam entre si para levar a efeito a salvação do homem.

“Este é o meu Filho, o Amado, em quem tenho prazer”. Não se pode imaginar um sinal e selo de aprovação mais gloriosos.

Jesus é singular! É único, e é impossível que seja comparado a qualquer anjo, profeta, santo ou falso deus. Ele é a chave para se compreender o real sentido da vida (Jo 14.6). O Pai confirma que Jesus é Seu Filho, no entanto muitas pessoas têm negado a sua divindade, ou, quando não negam a sua divindade, o negam como o único Salvador pessoal. São vários os motivos que levam uma pessoa a negar a Cristo, e podem ser:

- Vergonha - (Mc 8.38)

- Medo - (Jo 18.27)

- Incredulidade - (Jo 6.64)

- Seguir a maioria (ceticismo) - (At 3.14)

- Estar enganado, seguindo falsas doutrinas (Mt 24.11)

- Achar que é duro seguir a Cristo e Seus ensinamentos (Jo 6.66)

- Não querer negar a si mesmo (Lucas 9:23)

- Inconstância (Ef 4.14)

Rejeitar o amor de Jesus é uma decisão pessoal de quem é assertivo nessa escolha ou daqueles que simplesmente são indiferentes a Ele na sua caminhada. Ou seja, ficar em cima do muro, já mostra uma decisão tomada.

Jesus é o Filho de Deus ainda que muitos o neguem, que o maldizem, que blasfemem seu nome. No fim todos terão que reconhecer quem Ele é como nos fala Paulo em Fl 2.9-11: “Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”.

4 – NO BATISMO JESUS É REVESITIDO DE PODER PARA EXERCER O SEU MINSTÉRIO (Lc 3.22).

A fim de produzir essa redenção vicária, o Espírito Santo, com todo o seu poder que capacita (Is 11.2; 48.16; 61.1-3; Zc 4.6; Lc 4.18,19), desceu sobre Jesus, capacitando-o (em consonância com sua natureza humana) para a tarefa que ele tomara sobre si.

Em Mateus 4.1 nos diz: “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”.

Para a execução de sua tarefa infinitamente difícil, era mister que o Mediador fosse ungido pelo Espírito Santo, pois deve-se ter em mente que o Filho de Deus era também o Filho do homem. A segunda pessoa da Trindade, sendo verdadeiramente divina, possui duas naturezas: a divina e a humana. A natureza divina não necessita de fortalecimento, porém a natureza humana, sim. Portanto, todas as qualificações necessárias foram conferidas ao Mediador quando, em seu batismo, o Espírito Santo, simbolizado pela forma de uma pomba, desceu sobre ele em plena medida.

Assim como Jesus foi revestido de poder do alto para exercer o seu ministério, o Espírito foi derramado sobre a igreja para que possamos testemunhar da fé em Seu Nome (Jo 14.15-18; At 1.8, Atos 4.31).

É impossível realizarmos a obra de Deus sem a presença do Espírito Santo em nós. É o Espírito Santo que nos guia (At 16.6-10), é Ele que nos dá intrepidez para pregarmos o Evangelho (At 4.29-31), é através dEle que podemos testemunhar em nosso viver diário (Ef 5.18... casamento, pais e filhos, servos e senhores e armadura espiritual).

5 – NO BATISMO JESUS MOSTRA A NECESSIDADE DA ORAÇÃO (Lc 3.21).

Lucas é o único dos três relatos dos evangelistas que acrescenta uma palavra muito importante à frase “quando Jesus foi batizado: e estando a orar”. Como é extremamente significativo esse orar de Jesus ao sair da água.  Lucas nos dirige a atenção para importantes ocasiões em que Jesus orava (cf. Lc 5.16; 6.12; 9.18,29; 10.21; 11.1; 22.31,32,41,44,45; 23.34,46).

Jesus não só ensinou a respeito da oração, como Ele mesmo foi um homem de oração. Por sete vezes Lucas mostra Jesus em oração antes de cada momento decisivo do seu ministério. Esse destaque à oração faz que Lucas seja chamado por alguns comentaristas de “o evangelho da oração”.

Por que o céu se abriu? É porque Jesus estava orando! Quando Jesus orou, o Espírito desceu. Quando Deus deu o Espírito à igreja? Quando a igreja estava orando! Onde há oração, há demonstração do Espírito Santo.

Os discípulos entenderam o quanto era necessário orar, e orar de forma correta:

“E aconteceu que, estando ele a orar num certo lugar, quando acabou, lhe disse um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos” (Lc 11.1).

Em Tiago 5.17,18 nos diz: “Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse e, por três anos e seis meses, não choveu sobre a terra. E orou outra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto”.

Através da oração nós entramos na sala do trono e falamos com o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Na oração nós entendemos que antes de pedirmos o pão de cada dia devemos entender que deve ser feita a vontade de Deus assim na terra como no céu (Mt 6.9-11). A oração nos dá discernimento!

6 – NO BATISMO JESUS MOSTRA MATURIDADE PARA O SERVIÇO (Lc 3.23).

Somente Lucas nos informa que Jesus tinha 30 anos quando iniciou o seu ministério. Essa era a idade que os levitas começavam o seu serviço, como lemos em Nm 4.46,47:

“Todos os que deles foram contados, que contaram Moisés e Arão, e os príncipes de Israel, dos levitas, segundo as suas famílias, segundo a casa de seus pais; da idade de trinta anos para cima, até aos cinquenta, todo aquele que entrava a executar o ministério da administração, e o ministério das cargas na tenda da congregação”.

Foi também com essa idade que José tornou-se o “primeiro ministro” do Egito (Gn 41.46), e que Davi chegou ao posto de rei (2Sm 5.4). Portanto, não causa estranheza que Jesus tenha começado (implícito “seu ministério”) com essa idade. Esta era evidentemente considerada a idade em que um homem era plenamente maduro.

Durante trinta anos, Jesus provavelmente viveu como carpinteiro na cidade de Nazaré. Desde a infância, entretanto, tinha consciência da sua missão. Mas agora era tempo de agir, era tempo de iniciar o seu ministério. Seu batismo foi o selo dessa decisão.

Jesus é um exemplo à aparte de maturidade. Como vimos, Ele, desde a infância, já sabia do seu chamado. Mas o que me incomoda é vermos crentes antigos na igreja que continuam agindo com imaturidade juvenil. Temos visto uma igreja imatura, mundana e inconsequente em relação ao testemunho diário. Uma igreja muito parecida com a igreja de Corinto. Igreja esta que o apóstolo os chama de crianças na fé:

“E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis, porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?” (1Co 3.1-3).

A maturidade e imaturidade não têm a ver, necessariamente, com a questão da idade, da origem, da condição social.

Na Bíblia, a maturidade está associada à doutrina da santificação.

A santificação é aquela doutrina que fala da transformação de nossas vidas, de uma nova mentalidade, ligada à Cristo e à vontade de Deus. Trata-se da ideia de nos negarmos a nós mesmos – e isso é altamente contraintuitivo e vai na contramão da ideia de controle que o mundo sugere para maturidade – tomarmos nossa cruz e crucificarmos este mundo com Cristo. Está ligada ao abandono do pecado, à mortificarmos os feitos do corpo, à renúncia dos vícios e hábitos ruins, dos traços de nossa personalidade que nos arrastam para pensamentos e práticas de nossa velha natureza.

A maturidade cristã está associada à ideia de crescimento espiritual, ou crescimento nas coisas da fé, à fome de Deus, ao desejo de desfrutar de mais comunhão com Deus. Está ligada a andar no Espírito, a viver no Espírito, a cogitar das coisas do Espírito, a adorar em Espírito e em verdade, a produzir o fruto do Espírito, está ligada ao desejo de crescimento e desenvolvimento tanto no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo como na obediência.

A maturidade na Bíblia também está ligada também à ideia de peregrinação, de jornada, de caminhada, de boa ventura.  As tribulações, as provas, as lutas, os dramas e até algumas das nossas derrotas podem nos levar à maturidade, ao refinamento da fé, ao crescimento e compreensão melhor das coisas (2Co 12.6-10).

Maturidade está ligada à plenitude e alegria em Deus, ao regozijo, ao louvor e adoração sinceros.

Maturidade está ligada à virtude da humildade, do senso de proporção e lugar; de contentamento, mansidão e sabedoria. Está ligada a serviço. “Quem quer ser grande, sirva” – disse o Senhor Jesus aos seus discípulos. A maturidade está ligada ao amor ao próximo e às boas obras, como diz Tiago em sua epístola.

O alvo do cristão deve ser o de crescer nas coisas da fé. De apropriar-se das coisas da fé e torna-las suas. O alvo do cristão deve ser o de provar e ver que o Senhor é bom, deve ser o de ser transformado, de glória em glória, na própria imagem do Senhor, pelo Espírito.

Você é maduro na fé?

CONCLUSÃO

Através do batismo de Jesus nós podemos tirar lições preciosas para nossas vidas. Por isso devemos olhar para esse texto e pedir ao Senhor que nos capacite a viver de tal forma que o Seu nome seja exaltado em nossas vidas.

Pense nisso!

Bibliografia:

1 – Hendriksen, Wiliam. Comentário do Novo Testamento Mateus, Vol. 1, Editora Cultura Cristã, 2001.

2 – Hendriksen, Wiliam. Comentário do Novo Testamento Lucas, Vol. 1, Editora Cultura Cristã, 2003.

3 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus, o homem perfeito, Ed. Hagnos, 2017.

4 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mindo Cristão e Edições Vida Nova, 1986.

5 – Rienecker, Fritz. Evangelho de Mateus, Comentário Esperança, Ed. Esperança, 1998.

6 – Rienecker, Fritz. Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Esperança, 2005.

7 – Santos, Tiago. Uma chamada à maturidade https://voltemosaoevangelho.com/blog/2016/02/uma-chamada-a-maturidade/, acessado em 10/10/2020.

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