Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Lucas 2.8-12
INTRODUÇÃO
A Bíblia nos fala que o primeiro
Adão havia sido criado conforme a imagem de Deus, e o Senhor disse
que essa criação era “muito
boa”, no entanto,
esse Adão era da terra, foi colocado em um jardim quando foi criado,
no entanto, a Bíblia nos fala de outro Adão, porém este que é o
Senhor do céu (1Co 15.47) – para este havia somente uma estrebaria
e uma manjedoura. Enquanto o primeiro Adão teve um jardim, o segundo
Adão que é Jesus, quando
nasceu, não teve lugar
para Ele na hospedaria.
A Escritura também
nos diz que em sua
encarnação o Senhor
da glória (1Co 2.8)
“se esvaziou,
assumindo a forma de servo, e [foi] feito à semelhança de homens”
(Fl 2.7). Jesus nasceu da descendência de Abraão e foi vestido no
corpo de um infante. Todos os adjetivos e exclamações em nossa
língua nunca poderiam dizer o suficiente sobre essa realidade. O
nascimento mais notável da história aconteceu sob as mais obscuras
e indescritíveis circunstâncias humildes que se possa imaginar,
Jesus nasceu no local onde os animais daqueles que ficam em um abrigo
público foram mantidos. Ninguém naquela sonolenta aldeia de Belém
percebeu o significado do que tinha acontecido, a não ser, até
certo ponto, os pais da criança. Quando um menino nascia os músicos
da região se reuniam para celebrar esse nascimento, no entanto,
quando Jesus nasceu em um estábulo em Belém essa cerimônia não
teve lugar. Mas isso estava prestes a mudar; O silêncio sobre o
nascimento do Salvador seria quebrado em uma forma mais
sobrenaturalmente dramática. Se não houve música aqui da terra é
bom pensar que os coros celestiais substituíram os músicos
terrestres, que os anjos cantaram para Jesus canções que teria sido
impossível entoar por bocas humanas.
Os céus desceram à terra para
anunciar o nascimento do Salvador, no entanto, essa anunciação não
foi dada aos religiosos de sua época, mas a pobres pastores que
guardavam o seu rebanho durante a noite.
Por que a notícia do nascimento
de Jesus foi aos pastores e não aos religiosos da época?
1 – DESDE O SEU NASCIMENTO JESUS SE IDENTIFICOU COM
OS HUMILDES DESTE MUNDO (Lc 2.8-11).
Se o anúncio do nascimento de
Jesus tivesse sido parte de uma campanha de relações-públicas
humanamente planejado, ele teria sido tratado de forma muito
diferente. O anúncio teria como alvo os poderosos e influentes em
Israel: o Sumo
Sacerdote, os membros do Sinédrio, os sacerdotes, os levitas,
escribas, saduceus e fariseus.
Em vez disso, Deus escolheu revelar essa gloriosa verdade em primeiro
lugar, aos pastores que cuidavam do seu rebanho na calada da noite.
É desses pastores, que cuidavam
do rebanho nas cercanias de Belém, que a história do Natal fala
agora. Sobre os mesmos campos em que no passado Davi pastoreava os
rebanhos do pai, e sob o mesmo céu estrelado, sob o qual Davi se
edificava (Sl 8), os pastores talvez entoassem os salmos de Davi,
fortalecendo assim o seu anseio pelo Filho de Davi. Deve ser
plausível a suposição de que aqui em Belém aquela expectativa
estava particularmente viva, pelo menos entre aqueles que esperavam
pela redenção.
Diante disso, podemos destacar
algumas considerações importantes:
1o
– Os pastores eram uma classe desprezada.
Todos os dias no templo, pela manhã e à tarde, oferecia-se um
cordeiro sem mancha como sacrifício a Deus. Para assegurar-se de que
não houvesse a falta destes cordeiros perfeitos, as autoridades do
templo tinham seus próprios rebanhos, e sabemos que estes pastavam
perto de Belém. Provavelmente estes pastores eram funcionários do
templo. No entanto, os pastores eram desprezados pelos bons ortodoxos
de seus dias. Virtualmente não podiam cumprir com todos os detalhes
da Lei cerimonial; não podiam observar todas as meticulosas lavagens
de mãos, as normas e as regulamentações. O cuidado de seus
rebanhos os absorvia e os ortodoxos os consideravam como pessoas
inferiores. Não desfrutavam de boa reputação naqueles dias. Não
eram considerados fidedignos e não lhes era permitido dar testemunho
nos tribunais. Eles eram considerados plebe que desconhece a lei.
Eram, inclusive, privados da honra dos direitos civis.
No
entanto, eles eram úteis para sua religião, mas inúteis para
servi-la no templo.
Eram usados pelos religiosos, mas negligenciados pelos mesmos. Eram
úteis para os religiosos mas inúteis e não podiam estar no templo.
Essa é a incoerência da religião formal; dos observadores de
preceitos, dos teólogos nominais, dos que desconhecem o Deus que se
revela nas Escrituras.
Isso aponta para uma grande
incoerência que ainda se vê nas igrejas de forma geral. Exigem-se
certas práticas e compromissos que acabam sendo impraticáveis por
vários tipos de pessoas. Não necessariamente por estes serem
relaxados religiosamente, mas pelas próprias exigências de suas
vidas, trabalhos e contexto em geral. Quando a religião torna-se
complicada demais, excluem-se automaticamente muitas pessoas; embora
ainda precisando delas. Leia Colossenses 2.16-23. Nesse texto Paulo
deixa claro o que estamos falando aqui.
2o
– As Boas Novas a respeito do Cordeiro de Deus é dada aos
pastores. Apesar
dos religiosos os desprezarem, Deus
não os desprezou, pelo contrário, foram eles que receberam a mais
bela visita angelical anunciando o nascimento do Cordeiro de Deus.
É belo pensar que os pastores
que cuidavam dos cordeiros do templo foram os primeiros a ver o
Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo
1.29). Já vimos que quando nascia um menino os músicos da região
se congregavam para saudá-lo com música singela, agora a música
para Este Menino não é entoada pelos homens, mas é entoada pelos
anjos, pois este que nascera era o Cordeiro de Deus. O Salvador do
mundo. É algo maravilhoso que a história nos conte que o primeiro
anúncio de Deus foi aos pastores considerados inúteis para os
religiosos, mas honrados por Deus para receberem tais notícias.
O Senhor não se revela aos
poderosos, mas aos humildes. Ele não se revela aos que são
religiosos, mas aos que temem a Deus. Deus pode até falar pela boca
de um líder sem compromisso com Ele, como lemos em Mateus 7.22,23:
“Muitos me dirão naquele
dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu
nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas
maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci;
apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.
O mesmo vemos em João 11.49-51:
“Depois os principais dos
sacerdotes e os fariseus formaram conselho, e diziam: Que faremos?
Porquanto este homem faz muitos sinais. Se o deixamos assim, todos
crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a
nação. E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes
disse: Vós nada sabeis, nem considerais que nos convém que um homem
morra pelo povo, e que não pereça toda a nação. Ora ele não
disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano,
profetizou que Jesus devia morrer pela nação”.
Assim como falou pela boca de uma
jumenta com Balaão (Nm 22.27-30), assim como usou a própria boca de
Balaão, mas Deus não tem compromisso com esse tipo de pessoa. É
melhor sermos irracionais como a jumenta de Balaão do que ser
profeta cego que não contempla a glória de Deus. É melhor sermos
pastores que cuidam com diligência do rebanho do Senhor do que ser
um líder religioso preconceituoso que anda longe das ovelhas do
Senhor.
A escolha de Deus de pastores
para receber o anúncio do nascimento de seu Filho
está de acordo com a profecia do Antigo Testamento sobre o
ministério do Messias. Isaías 61.1 profeticamente se
cumpriu pela boca do
próprio Messias:
“O Espírito do Senhor está
sobre mim, porque o Senhor me ungiu para anunciar a boa nova aos
pobres; enviou-me a curar os quebrantados do coração, a proclamar
liberdade aos cativos e a liberdade aos prisioneiros”.
Depois de ler essa passagem na
sinagoga de Nazaré, Jesus declarou: “Hoje
se cumpriu esta
Escritura em vossos
ouvidos”
(Lc 4.21). O ministério do Messias não seria o farisaico (Lc 5.32)
- especialmente os líderes religiosos (Jo 7.48), ou o
autossuficiente rico (Lc 18.24). Em vez disso, Ele buscaria os
pobres, os humildes, os aflitos, os excluídos da sociedade (cf.
Lucas 1.52; 1Co 1.26). Ao longo de seu ministério Jesus atraiu essas
pessoas que foram quebradas
pelos seus
pecados
e se humilharam em arrependimento (cf. Lc 7.37,38;18.13,14,19.8-10).
3o
– Jesus nasceu em um mundo em trevas (Lc 2.8,9).
Observe algo interessante, não foi sobre o Jesus menino e nem mesmo
diante de Maria e José que resplandeceu a luz celestial. A
estrebaria continuou escura e em sua constituição normal. Contudo
lá fora, no campo, na direção do deserto, onde os pastores de
ovelhas estavam acampados junto aos rebanhos, um dos mensageiros
angelicais cumpriu um alto mandato de arauto. O céu está repleto
daquilo que a terra deixa de lhe oferecer! A terra se cala. Como nos
fala João: “Ele veio
para os seus, mas os seus não o receberam”
(Jo 1.11). Todos dormem na noite profunda. O céu, porém, celebra um
grandioso e eterno dia!
A luz raia e rasga a noite! O
anúncio da vinda do Cordeiro de Deus não foi de dia, mas a noite.
Não foi enquanto todos andavam de um lado para outro, mas enquanto
todos dormiam. A luz só é necessária nas trevas, em densa
escuridão, no sono do descaso, foi isso que vimos aqui nesse texto.
A luz brilhou para os desprezados
dos religiosos. A luz brilhou para os que guardavam as ovelhas do
Senhor – eram ovelhas para o sacrifício diário. A luz brilhou
para aqueles que estavam proibidos de estarem no templo. O sumo
sacerdote não viu, os sacerdotes não perceberam, os levitas não se
deram conta do ocorrido, os fariseus e os doutores da lei ficaram em
densas trevas. Mas a luz brilhou para os que estavam cuidando do
rebanho do Senhor.
4o
– O Supremo Pastor veio cuidar das Suas ovelhas (Jo 10.11-14; 1Pe
5.4). Apesar
de os pastores estarem perto do fundo da escada social; serem
considerados ignorantes e não qualificados, cada vez mais visto como
pessoas não confiáveis, personagens desagradáveis e desonestas,
tanto que eles não foram autorizados a testemunhar em tribunal;
apesar de tudo isso, Jesus se identifica como Pastor de nossas almas.
É interessante observar que os dois personagens mais importantes
para os judeus, Moisés e Davi, foram pastores em algum momento de
suas vidas ((Êx 3.1; 1Sm 16.11, 17.34,35). Além disso, o Antigo
Testamento refere-se metaforicamente a Deus como o “pastor
de Israel”
(Sl 80.1 cf. 23.1; Is 40.11), Enquanto Jesus descreveu-se como o “Bom
Pastor”
(João 10.11, 14; cf. Hb 13.20; 1Pe 2.25; 5.4).
Um
dos salmos mais lidos e conhecidos da Bíblia, creio que seja o Salmo
23. Este Salmo nos mostra o relato de uma ovelha a respeito do
cuidado do Bom Pastor para com ela. Quando identificamos essas
características em Deus é que podemos compreender o que o apóstolo
Paulo quis dizer em 1Co 1.27-31:
“Mas
Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias;
e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as
fortes; e Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis,
e as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma
carne se glorie perante ele. Mas vós sois dele, em Jesus Cristo, o
qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e
santificação, e redenção; para que, como está escrito: Aquele
que se gloria glorie-se no Senhor”.
2
– O CONTEÚDO DA MENSAGEM DOS ANJOS (Lc 2.10-12).
O resplendor da glória de Deus
através do anjo foi algo que trouxe grande temor aos pastores. O
anjo se apresenta de forma completamente diferente da que se
apresentou a Zacarias no templo e a Maria em Nazaré, mesmo assim
eles ficaram temerosos, imagine os pastores que nem no templo podiam
entrar? O esplendor do Senhor, a doxa
= glória, que envolvia esse anjo iluminou também os pastores. A
glória do Senhor resplandeceu sobre esses homens simples e
rejeitados. O medo que eles sentiram era a resposta normal sempre que
alguém na Escritura que encontrou um anjo (cf. Dn 8.15-18;
10.7-9,16,17; Mt 28.2-4; Lc 1.12, 26-30) ou viu a glória de Deus
manifestado (Is 6.1-5; Ez 1.28; 3.23; Mt 17.5,6; Mc 4.41; 5.33; At
9.4; Ap 1.17). Creio que não seria diferente com nenhum de nós.
Vamos analisar o teor da mensagem
do anjo.
1o
– O anjo acalma o coração dos pastores (Lc 2.9,10).
O medo tomou seus corações, mas imediatamente o anjo lhes acalma. O
anjo diz que lhes trazia boa notícia.
A boa notícia (Evangelho) que o anjo proclamou é para todas as
pessoas. Laos
(pessoas no grego) refere-se primeiro a Israel (1.68; 7.16; 19.47;
21.23; 22.66; 23.5, 14), pois “a
salvação vem dos judeus”
(Jo 4.22; cf. Rm 1.16). Mas a promessa da salvação não é somente
para eles. Depois de louvar a Deus ao ver o menino Jesus no templo,
Simeão disse: “Porque
os meus olhos viram a tua salvação, que preparaste na presença de
todos os povos: luz
para revelação aos gentios,
e para glória do teu povo Israel”
(Lc 2.30-32). Significativamente, laos
no versículo 31 é plural, ao mesmo tempo que é singular no
versículo 32. As palavras de Simeão refletir a verdade expressa na
profecia de Isaías: (Is
60.1-3; cf. Is 9.2; 42.6; 49.6-9; 51.4).
2o
– Nasceu o Salvador que é Cristo o Senhor (Lc 2.11).
Como disse João: “E
o Verbo se fez carne e habitou entre nós”
(Jo 1.14). Estava se cumprindo naquela noite o que o profeta Isaías
havia profetizado cerca de setecentos anos antes: “Porque
um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre
os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro,
Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”
(Is 9.6).
1) Ele nasceu.
O nascimento é sempre a primeira realidade de um ser humano. Esse
Redentor “nasceu”. Ele nasceu, Ele
não apareceu como esse anjo que o anuncia com as vestimentas de luz
da glória de Deus. Não, esse Salvador tornou-se nosso irmão de
sangue, osso dos nossos ossos, carne de nossa carne, para que
soubesse como nos sentimos neste pobre corpo carnal, e viesse a ser
nosso misericordioso sumo sacerdote, para expiar nosso pecado e nos
atrair para o alto como membros de seu corpo, de sua carne e seus
ossos (Ef 5.30).
2) Para vós, diz o anjo.
Essa é a mais gloriosa palavra em toda a primeira pregação de
Natal. “Para vós”, diz o anjo, “para vós”, para os humanos,
não foi para os anjos que
Ele nasceu, o
Supremo Senhor se tornou
ser humano. Como disse
Lutero: “Os
anjos não precisam do Redentor, e os demônios
não o querem. Ele veio por nossa causa, nós é que precisamos
dele”.
3) Hoje!
O Redentor, que é de eternidade a eternidade, entrou no tempo. A
palavra “hoje” define seu nascimento como fato histórico. A
encarnação do Filho de Deus não é um pensamento, uma ideia, um
produto da fantasia que se construiu em personalidades ansiosas e
esperançosas, mas um fato histórico que provocou um efeito imenso.
Desde aquele “hoje”
passaram-se séculos, mas será que a palavra do anjo não continua
sempre ressoando em nosso coração, como se fosse hoje? A história
de nosso Redentor, por mais verdadeira e real que tenha sido no
tempo, não é como a história de outras pessoas, pertencente apenas
ao tempo. Aqui o passado se torna presente, porque essa história
pertence à eternidade e se renova incessantemente, prolongando-se
todas as vezes que seu poder animador é experimentado por um coração
humano.
A tríplice descrição desse
menino dada pelo anjo:
1) Ele é o Salvador
– O anjo prefaciou sua descrição tríplice do Menino
recém-nascido dizendo aos pastores que Aquele de quem ele falava
tinha nascido para eles. Jesus é o Salvador de os judeus e gentios;
individualmente, Ele é o Salvador de todos os que creem nEle (João
3.16). O anjo não deu nome terreno da Criança; Salvador, Cristo e
Senhor são todos os títulos. Mas desde que o nome “Jesus”
significa “o Senhor é salvação”, seu significado é abarcado
pelo termo Salvador.
2) Ele é o Cristo
– é um título exaltado para um bebê nascido em tais
circunstâncias humildes. Ele é o
Cristo, i. é, o Ungido,
em hebraico o “Messias” (Dn 9.25,26), também significa “ungido”;
uma pessoa colocada em um alto cargo e digno de exaltação e honra.
Jesus foi ungido pela primeira vez no sentido de que Ele é o Rei
designado por Deus, o “Rei
dos reis” (Ap 17.14;
19.16), que vai sentar-se no trono de Davi e reinará para sempre,
como Gabriel disse à
Maria (Lc 1.32,33). Ele também foi ungido para ser o grande Sumo
Sacerdote (Hb 3.1)
para o seu povo; o mediador entre eles e Deus (1Tm. 2.5), que
intercede por eles (Hb 7.25.). Finalmente, Jesus foi ungido como um
profeta,
porta-voz do final dos tempos (Hb1.1,2).
3) Ele é o Senhor
– no sentido humano é um termo de respeito e estima, dado a alguém
em uma posição de liderança e autoridade. Este
título era dado aos
proprietários de escravos; kurios
(Senhor) e doulos
(escravos) foram conectados. Mas, neste contexto, Senhor não é uma
mera designação humana elevada; é um título divino. Dizer
que esta criança é o Senhor quer dizer que Ele é Deus.
Quando usado em referência a Jesus Cristo, kurios
(Senhor) transmite tudo o que está implícito no tetragrama YHWH
(Yahweh que a Septuaginta traduz kurios)
- o nome de Deus (cf. Ex. 3.14,15). A confissão mais fundamental e
básico do cristianismo é, “Jesus é o Senhor” (1Co 12.3).
Ninguém que não afirma plena divindade de Cristo e sua igualdade
com Deus, o Pai pode ser salvo, pois, como Ele advertiu os judeus,
“porque
se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados”
(Jo 8.24).
3o
– Um sinal de humildade (Lc 2.12).
Os pastores recebem a notícia de que nascera o Salvador do mundo,
isso por si só já era algo esplêndido, mas que esse Salvador
estava em uma manjedoura? Isso sim era surpreendente. Uma admirável
troca: o servo
(no caso, o anjo do Senhor) vem na “glória de seu Senhor”, a
saber, em esplendor de luz sobrenatural, a ponto de as pessoas se
atemorizarem (v. 9), mas o Senhor em si vem como um bebê de fraldas
na manjedoura. De fato, se o anjo do Senhor não o tivesse dito
pessoalmente – como os pobres pastores poderiam ter crido e
acolhido essa mensagem?!
O Salvador do mundo não está em
um palácio, mas em uma manjedoura. O herdeiro do trono de Davi
possuía uma estrebaria como salão real, uma manjedoura como trono,
feno e palha como lugar de repouso e duas pessoas desabrigadas como
séquito.
CONCLUSÃO
É preciso ler a narrativa de
Natal sem o brilho poético e aconchegante, a fim de captar o
realismo rude, terreno, com que aqui se apresenta a narrativa. O
evangelista não fala do doce menino de cabelo cacheado, da
estrebaria limpinha e dos probos pastores, mas de um casal exausto,
da miséria de uma jovem mãe que tem de dar à luz seu filho em
lugar estranho e precário sem qualquer ajuda, de uma criança que
enxerga a luz do mundo em uma estrebaria suja, e de cuja chegada
inicialmente ninguém, exceto alguns pastores proletários, tomou
conhecimento. Isso sim é o verdadeiro sentido do Natal!
Pense nisso!
Bibliografia:
1 – Barclay, William.
Comentário do Novo Testamento, Lucas.
2 – Champlin, R. N. O Novo
Testamento Interpretado, versículo por versículo, volume 2, Lucas e
João. Editora Candeia, São Paulo, SP, 1995.
3 – Davidson, F. O Novo
Comentário da Bíblia, volume 2. Edições Vida Nova, São Paulo,
SP, 1987.
4 – Hale, Broadus David.
Introdução ao Estudo do Novo Testamento, Editora Juerp, Rio de
Janeiro, RJ, 1986.
5 – Keener, Craig S. Comentário
Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento. Edições Vida Nova,
São Paulo, SP, 2017.
6 – Lopes, Hernandes Dias.
Lucas, Jesus, o homem perfeito. Comentário Expositivo Hagnos.
Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017.
7 – MacArthur, John. Comentário
do Novo Testamento, Lucas.
8 – Manual Bíblico SBB.
Barueri, SP, 3a edição, 2018.
9 – Morris, Leon L. Lucas,
Introdução e Comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São
Paulo, SP, 1986.
10 – Rienecker, Fritz.
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança. Editora Esperança,
Curitiba, PR, 2005.
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