Por Pr. Silas Figueira
Texto Base: Lucas 1.67-80
INTRODUÇÃO
A explosão de louvor e adoração
de Zacarias foi motivado pelos acontecimentos surpreendentes que
tinham acabado de acontecer. Resumidamente, cerca de nove meses
antes, o anjo Gabriel apareceu a Zacarias enquanto ele estava
ministrando no templo. Gabriel fez o anúncio surpreendente de que
Zacarias e Isabel, que era estéril e de idade avançada seria fértil
e teriam um filho, não obstante, eles não teriam apenas um filho,
mas eles seriam pais do precursor do Messias. Quando a resposta
cética de Zacarias revelou a sua falta de fé, ele se tornou, pela
palavra de Gabriel, surdo e incapaz de falar. Mas Isabel ficou
grávida, assim como Deus havia prometido pelo anjo Gabriel. Oito
dias depois que ela deu à luz seu filho, Zacarias foi perguntado
qual seria o seu nome. Quando escreveu enfaticamente: “Seu
nome é João”
(Lc 1.63, Cf. v 13) diz que
“E logo a boca se lhe abriu, e a língua se lhe soltou; e falava,
louvando a Deus” (Lc
1.64 ). Benedictus
é a sua primeira palavra Zacarias em latim no versículo 68 e é uma
expressão de adoração.
Mas a canção de Zacarias não
era meramente um reflexo de sua alegria, compreensível em se tornar
pai quando toda a esperança parecia ter há muito desaparecida. Ele,
cheio do Espírito Santo, expressa que a redenção que Deus havia
prometido no Antigo Testamento estava prestes a ser realizada. O
filho de Zacarias, João, seria o precursor anunciando a vinda do
Messias. Deus, o Senhor da história, havia se lembrado do seu povo e
o Messias prometido estava as portas.
Quais as lições que podemos
tirar desse texto para nós hoje?
1 – O CÂNTICO DE ZACARIAS
FOI UMA PROFECIA (Lc 1.67).
O cântico de Zacarias não é
somente um louvor diante de tudo que ocorreu em sua vida e na vida de
sua esposa. Zacarias é tomado pelo Espírito Santo e então
profetizou (Lc 1.67). Zacarias ficou cheio do Espírito Santo assim
como sua esposa Isabel (Lc 1.41) e seu filho João (1.15) antes dele.
O verbo traduzido profetizou (prophēteuō)
significa “falar por diante”, “proclamar e expor a Palavra de
Deus”. Zacarias foi preenchido com e inspirado pelo Espírito
Santo, para profetizar a própria Palavra de Deus.
Podemos destacar duas coisas
aqui:
1o
– Porque Zacarias foi cheio do Espírito Santo.
Isso ocorre após Zacarias fazer tudo o que o Senhor havia
determinado que ele fizesse. Depois que ele circuncisa João e lhe dá
o nome, antes disso ele continuou surdo e mudo. Aprendemos aqui que
na maioria das vezes a bênção de Deus em nossas vidas é
condicional.
Isso explica porque muitos de nós não obtêm nada de bom das
promessas de Deus, simplesmente porque não obedecem ao Senhor até o
fim. Muitas crentes têm agido como Saul diante das ordens recebidas
da parte de Deus através de Sua Palavra, obedecem só em parte e não
assumem seus erros. Veja o que nos fala a palavra a respeito da
desobediência de Saul e as suas consequências (1Sm 15.1-3,9,19-26).
Observe
o texto de Lucas 1.20: “E
eis que ficarás mudo, e não poderás falar até ao dia em que estas
coisas aconteçam; porquanto não creste nas minhas palavras, que a
seu tempo se hão de cumprir”.
Até que estas coisas aconteçam. Que coisas? O nascimento de João,
sua circuncisão e o recebimento de seu nome. Aí Zacarias teve a sua
língua e ouvidos desobstruídos e pode falar e profetizar cheio do
Espírito Santo. Isso, mais uma vez repito, é uma condicional!
2o
– Zacarias cheio do Espírito Santo profetiza (Lc 1.67a).
O sacerdote Zacarias se torna um profeta no momento que é cheio do
Espírito Santo. Essa palavra confirma o que lemos em 2Pe 1.20,21:
“Sabendo
primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de
particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por
vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram
inspirados pelo Espírito Santo”.
É interessante destacar que essa foi a última profecia do Antigo
Testamento e a primeira do Novo Testamento. Seu filho João foi o
último profeta do Antigo Testamento e o primeiro do Novo Testamento.
Todo cristão cheio do Espírito
Santo tem que ser voz profética neste mundo. A Palavra de Deus está
em nossos lábios. Somos portadores de boas-novas. Temos o fruto do
Espírito em nossas vidas, como nos fala o salmo 1.3 que diz: “Pois
será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá
o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto
fizer prosperará”.
E Gálatas 5.22: “Mas
o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fé, mansidão, temperança”.
Não podemos se dizer crentes
cheios do Espírito e sermos iguais a uma figueira somente cheia de
folhas (Mc 11.12-14). No entanto, o que mais temos visto por aí são
pessoas somente cheia de folhas.
Você tem sido profeta de Deus?
Você está cheio de folhas ou cheio de frutos?
2 – O CONTEÚDO PROFÉTICO
DO CÂNTICO DE ZACARIAS SOBRE O MESSIAS (Lc 1.68-79).
O cântico profético de Zacarias
mostra que o Senhor não esqueceu de Sua aliança com a casa de Davi
e que chegou o tempo de seu cumprimento. Tanto que a palavra
“Bendito”
significa essencialmente “Louvado”.
Zacarias louva o Senhor pela sua graça derramada sobre o seu povo e
pela vinda do Messias.
O Senhor, pela boca de Zacarias,
nos apresenta um quadro do significado da vinda de Jesus Cristo ao
mundo.
1o
– O Senhor visitou e libertou o Seu povo (Lc 1.68).
Zacarias bendiz ao Senhor por ter visitado e remido o Seu povo. O
Senhor não só fez uma visita, mas agiu com misericórdia sobre ele
o libertando. Tanto que a palavra “visitar”
significa “olhar
para”. O conceito de
Deus visitando o seu povo, seja para julgamento (cf. Ex 32.34; Jó
35.15). Ou para a bênção (cf. Rute 1.6; 1Sm 2.21; Jr 29.10) é um
tema Antigo Testamento familiar. O céu tinha descido à terra; o
sobrenatural invadira o natural; Deus estava trabalhando o seu plano
eterno.
A palavra “remiu”
significa “libertar
mediante o pagamento de um resgate”.
O Senhor olhou com misericórdia para o seu povo e se “lembrou”
para remi-lo de seus pecados. O Senhor veio ao mundo para libertar
os cativos (Lc 4.19) e salvar àqueles que eram prisioneiros do
pecado, do diabo e da morte. Esse alto preço só poderia ser pago
pelo Senhor Jesus (Ef 1.7; 1Pe 1.18-21).
2o
– A batalha é vencida pelo Messias (Lc 1.69-75).
Vemos nessa passagem uma descrição de uma batalha. O inimigo se
lentou, mas com a intervenção divina o inimigo de seu povo foi
abatido.
Zacarias descreve um Salvador
poderoso, um libertador forte. A sua associação deste Salvador com
a casa de Davi deixa clara duas coisas: a primeira que o Salvador é
o Messias prometido a tanto tempo; e a segunda, que Ele se identifica
com o Filho não nascido de Maria, que Isabel, com a ajuda do
Espírito Santo, já o tinha identificado como “meu Salvador” (Lc
1.43).
Como este Salvador é descrito?
a) Como uma promessa feita por
Deus pelos Seus santos profetas (Lc 1.70).
O fato histórico que estava tendo início era o cumprimento de tudo
que o Senhor desde o princípio do mundo. Vemos que a primeira
profecia dada sobre a vinda do Salvador foi proferida pelo próprio
Deus em Gênesis 3.15: “E
porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua
semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.
Quando o Jesus ressuscitou falou a respeito de tudo que sobre Ele
havia sido falado (Lc 24.25,26,44,45).
Deus havia prometido que o
Salvador seria do povo de Israel (Gn 12.13), da tribo de Judá (Gn
49.10), da família de Davi (2Sm 7.12-16), nascido em Belém, a
cidade de Davi (Mq 5.2). Tanto Maria (Lc 1.27) quanto José (Mt 1.20)
eram da linhagem de Davi.
Como nos fala em Jó 42.2: “Bem
sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado”
(ARA).
b) Como um Libertador
misericordioso (Lc 1.71,72).
Não podemos afirmar se Zacarias estava entendendo em que contexto o
Salvador viria. Os judeus esperavam um libertador político e social
que os livrasse de Roma, mas tal coisa não ocorreu, por isso, Jesus
foi uma decepção para muitos dos seus discípulos (Lc 24.21, At
1.5) Mas o Espírito que inspirou as palavras de Zacarias não
tencionava esse significado limitado. Havia uma guerra a ser vendida,
mas não física, mas espiritual. Quem seria destronado seria Satanás
que age na mente humana. Não seria uma vitória regional, mas uma
vitória a nível mundial e geracional.
Vemos isto de forma clara quando
o Senhor Jesus vai para a terra dos Gadarenos e liberta um homem
possesso por uma legião (Mc 5.1-20, conf. 8.26-39). Vemos aqui uma
batalha e a ação de Jesus em usar de misericórdia para com o
possesso. Como está escrito em Atos 10.38: “Como
Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o
qual andou fazendo bem, e curando a todos os oprimidos do diabo,
porque Deus era com ele”.
Deus aqui está usando de Sua misericórdia para com um oprimido do
diabo.
Misericórdia aqui falada por
Zacarias tem o mesmo sentido que “bondade”.
A bondade para com a geração atual e para com a futura. Não
somente para os judeus, mas para com todos em toda a parte da terra.
Tanto judeus como para com os gentios que recebessem Jesus como
Salvador pessoal.
Conforme diz a Escritura:
“Todo o que
nele crê jamais será decepcionado”. Portanto, não há distinção
entre judeus e gentios, pois o mesmo Senhor é Senhor de todos e
abençoa ricamente todos os que o invocam. Porque: “Todo aquele que
invocar o Nome do Senhor será salvo!”
(Rm 10.11-13).
Entenda que esse possesso
gadereno não era judeu, mas um gentio. Ele representava todos os que
são oprimidos pelo diabo e cativos do pecado. Como disse Paulo aos
Colossenses: “O qual
nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do
Filho do seu amor. Havendo riscado a cédula que era contra nós nas
suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a
tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os
principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em
si mesmo” (Cl 1.13,
2.14.15).
Essa guerra vai além da nossa
compreensão!
c) Para o servirmos em amor
(Lc 1.73-75). O autor
de Hebreus nos fala assim: “Porque,
quando Deus fez a promessa a Abraão, como não tinha outro maior por
quem jurasse, jurou por si mesmo, dizendo: Certamente,
abençoando te abençoarei, e multiplicando te multiplicarei”
(Hb 6.13,14).
O juramento feito a Abraão
estava se cumprindo na pessoa do Messias que estava por vir. Sua
fidelidade em cumprir as Suas promessas e em honrar Seu juramento
estavam se realizando. Agora libertos o serviremos. A liberdade que o
Senhor nos trouxe foi para que o servíssemos em amor, santidade e
justiça. Fomos libertos de nossos pecados e agora, libertos, podemos
adorar ao Senhor com os nossos corações regenerados.
Observe o versículo de Lc
1.74,75: “De
conceder-nos que, libertados da mão de nossos inimigos, o
serviríamos sem temor, em santidade e justiça perante ele, todos os
dias da nossa vida”.
O inimigo aqui é o pecado, ele é que nos aprisiona e nos impede de
servirmos ao Senhor em santidade todos os dias.
Os versículos 73-75 foram
chamados de “O
Evangelho de Deus concede…”,
e podemos destacar três coisas que ele nos concede:
1 – Libertação – v. 74.
2 – Dedicação, o
servíssemos
– v. 74.
3
– Disposição – santidade
e justiça –
v. 75.
4
– Duração – todos
os dias da nossa vida
– v. 75.
Esse Evangelho preanunciado é o
que temos que viver hoje. Ele não mudou. A porta continua estreita e
o caminho da salvação continua estreito também. Qualquer tentativa
de mudá-lo não passa de mera ação de Satanás para enganar as
pessoas.
3 – JOÃO NÃO SERÁ
SACERDOTE, MAS PROFETA DO ALTÍSSIMO (Lc 1.76-80).
Para o israelita autêntico, um
profeta é algo muito especial. Os profetas eram os personagens mais
destacados na verdadeira história de Israel. Neles, Israel (o que
luta com Deus) parece ter chegado à sua verdadeira vocação. Os
profetas constituíam um testemunho vivo de que Deus estava com seu
povo. E agora, há quanto tempo não havia surgido um profeta!
Quatrocentos anos haviam transcorrido desde Malaquias. Ainda que
desde então os “profetas” eram lidos todos os sábados nas
sinagogas criadas depois do exílio babilônico (At 13.27), isso não
substituía a atuação viva da personalidade profética. Mas agora,
Deus visitara o Seu povo novamente enviado-os um profeta. Este que
seria o último profeta no Antigo Testamento e o primeiro do Novo
Testamento.
O hino de Zacarias prosseguiu
durante oito versículos antes que ele mencionasse o seu próprio
filho. O seu espírito sacerdotal e profético definiu as
prioridades. Zacarias enalteceu a grande salvação de seu povo que
viria do Messias. Mas, agora, Zacarias volta o olhar para João ainda
bebê.
O Senhor revela a Zacarias quem
seria o seu filho João e qual papel que ele exerceria na vida de
Israel.
1o
– João Batista seria profeta do Altíssimo (Lc 1.76a).
Zacarias viu-o como o profeta e o precursor que prepararia o caminho
do Senhor. “E
tu, ó menino”
- Zacarias não diz: “tu, meu filho”, mas “tu, ó menino”.
Até mesmo o sentimento de pai desaparece diante da obra que ele vê
sendo realizada através de João. “E
tu, ó menino, terás uma posição importante na salvação
manifesta, serás chamado profeta do Altíssimo”.
A criancinha é chamada somente de profeta do Altíssimo (Heb. El
Elyon)
e não filho
do Altíssimo (v. 32)! Isso precisa ser bem observado! A palavra
“profeta do Altíssimo” reproduz o conteúdo dos v. 16 e 17.
2o
– João seria o precursor do Messias (Lc 1.76b).
O ministério de João era preparar o caminho para a vinda do Senhor.
Como nos fala a Palavra de Deus: “Voz
do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no
ermo vereda a nosso Deus”
(Is 40.3, conf. Ml 3.1,2). Quando um rei ia visitar uma província
ele enviava uma pessoa avisar de sua vinda e as estradas eram
preparadas para que o rei passasse.
Como João prepararia o caminho
do Senhor?
1 – O preparo para a vinda
do reino foi feito por meio da proclamação de advertência e da
necessidade de arrependimento.
João advertiu os fariseus e os saduceus: “Já
está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que
não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo”
(Mt 3.10). Multidões
escutavam o apelo de João: “Arrependei-vos, porque está próximo
o reino dos céus”
(Mt 3.2). Os que atendiam ao chamado e se arrependiam se tornavam um
povo preparado produzindo “frutos
dignos de arrependimento”
(Mt 3.8). Muitos foram batizados por João no rio Jordão. Uma
geração de víboras rejeitou a mensagem, ao passo que outros
permitiram que o mensageiro de Deus os preparasse.
João
Batista veio com a disposição e o poder de Elias (Lc 1.17). Em
nenhum lugar isso é mais claro do que na descrição de Lucas
3.18,19: “Assim,
pois, com muitas outras exortações anunciava o evangelho ao povo;
mas Herodes, o tetrarca, sendo repreendido por ele, por causa de
Herodias, mulher de seu irmão, e por todas as maldades que o mesmo
Herodes havia feito”.
O preparo para o reino espiritual que estava por vir exigia uma obra
de escavação. Os vales tinham de ser preenchidos, e os montes
tinham de ser rebaixados. Assim como Elias fez o que pôde para tirar
a idolatria, o assassínio e a desonestidade (1 Reis 18, 19), também
João opôs-se aos pecados da nação e os desmascarou. Entre esses
pecados estavam “todas
as maldades que o mesmo Herodes havia feito”.
2 – O caminho do rei foi
preparado por João, mostrando especificamente a mudança que deve
ocorrer na vida dos homens.
João não só condenava o mal, mas salientava a mudança que Deus
espera das pessoas perdoadas. Os publicanos, os soldados e o povo em
geral perguntavam: “Que havemos, pois, de fazer?”. A Voz exigia
generosidade (Lc 3.11), honestidade (Lc 3.13) não-violência e
contentamento (Lc 3.14). A preparação feita por João foi para um
caminho de santidade, e o povo de Deus deve andar nesse caminho (Is
35.8-10).
3 – João preparava para o
reino vindouro referindo-se ao Rei do reino.
Não bastava advertir a nação judaica para que fugissem da ira de
Deus (Mateus 3), nem instruí-los com respeito ao procedimento
esperado por Deus (Lucas 3), mas era essencial que o Rei que estava
por vir fosse identificado. João tinha estado batizando em Betânia
e, no dia seguinte, quando viu Jesus se aproximar dele, exclamou:
“Eis
o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”
(Jo 1.29). Jesus era visto por João como aquele tipificado no
cordeiro pascal, e como aquele cordeiro que “foi levado ao
matadouro” pelo pecado do homem (Isaías 53).
Isso é convicção de quem é
Jesus e o que Ele veio realizar por nós. Você tem essa mesma
convicção?
3o
– João instruiria o povo sobre a salvação advinda do Messias (Lc
1.77-79).
O povo precisava saber que a salvação de Deus estava chegando
através do Seu Messias. João Batista teria essa função, despertar
o povo para tão grande salvação. Tanto que a palavra “remissão”
é o perdão dos pecados que o Senhor traria para os que o recebessem
como Senhor de suas vidas. João não tinha esse poder, mas viria
para mostrar quem poderia fazê-lo, o Messias Jesus (Jo 1.29).
Há
uma expressão interessante usada por Zacarias em sua profecia:
“Entranhas
da misericórdia”
(ACF). Essa
expressão dá a ideia de “intestino”.
Os antigos falavam de intestino, rins, no Antigo Testamento, assim
como nós hoje falamos “coração”, que aprendemos no Novo
Testamento, como sede das emoções. A ideia que o texto nos traz é
que a misericórdia do nosso Deus é intensa. Ela é algo que procede
do mais profundo do coração do nosso Deus. Ele está usando de uma
figura de linguagem para que possamos ter uma ideia do quanto essa
misericórdia era algo profundo, intenso e real.
A vinda do Messias viria para
ser o Sol da Justiça (Ml 4.2).
O Messias iluminará os que estão assentados em trevas e sombra da
morte (Lc 1.79). E isso aconteceu quando o Senhor deu início ao
ministério, como lemos em Mateus 4.13-17:
“E,
deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, cidade marítima, nos
confins de Zebulom e Naftali; para que se cumprisse o que foi dito
pelo profeta Isaías, que diz: A terra de Zebulom, e a terra de
Naftali, Junto ao caminho do mar, além do Jordão, A Galiléia das
nações; o povo, que estava assentado em trevas, Viu uma grande luz;
aos que estavam assentados na região e sombra da morte, A luz raiou.
Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos,
porque é chegado o reino dos céus”.
4 – JOÃO BATISTA, UM
PROFETA FORJADO NO DESERTO (Lc 1.80).
Tanto João quanto Jesus foram
“forjados” para o seu ministério no deserto. Longe de todos,
longe dos holofotes. Não frequentou a alta corte de Herodes, nem
comeu na mesa de Anás e Caifás, os sumo sacerdotes em sua época.
Nem usava finas roupas, mas vestia-se de peles de camelo. Sua vida no
deserto, suas roupas e até mesmo o seu alimento era um reflexo de
juízo e de como os sacerdotes do seu povo na verdade viviam.
João era um sacerdote, porém um
sacerdote que não concordava com a religiosidade dos sacerdotes de
então. João certamente podia se valer de boas roupas e de boa
comida, pois pela lei mosaica ele deveria se vestir com vestes
sacerdotais (Êx 28.4), e se alimentar de flor de farinha (Lv 2.1-3).
No entanto, usava destes recursos (veste de pelos de camelo e um
cinto de couro em torno de seus lombos e alimentava-se de gafanhotos
e de mel silvestre) para expor a hipocrisia dos corações e a
pobreza dos homens daquela época.
A roupa feita da pele de
camelo (animal considerado imundo pela lei, Lv11.4).
Causava um escândalo na mente religiosa daqueles dias, assim como
alimentar-se de gafanhotos era algo chocante. No entanto, o objetivo
de João era revelar aos religiosos da época como eles realmente
eram ou estavam. Mostrava o quão hostis eram os homens que se diziam
servos de Deus, o camelo é reconhecido pelo seu temperamento hostil,
além de ter a característica de não precisar beber água de
contínuo. Ao camelo basta beber água uma vez pelo período de 40 a
50 dias. Quando os homens olhavam para João enxergavam em suas
vestes o que eles mesmos eram. João bem como o Evangelho de Cristo
têm por objetivo revelar como somos diante de Deus.
Cinto de couro
– Usado em torno dos lombos, fazia aos homens lembrar a opressão
que o jugo causava nos bois que serviam como animais de carga. Não
havia como não se constranger olhando João daquela forma
paramentado. Eles se enxergavam rebeldes em função das vestes de
camelo, e se enxergavam também subjugados pelo pecado através do
cinto de couro que João usava em torno dos seus lombos.
Gafanhotos e mel silvestre
– O gafanhoto era tido como inseto símbolo da destruição (Jl
1.4), alimentar-se de gafanhotos era mostrar que o devorador é
devorado pelo Senhor, isto salienta o poder do Senhor (Lm 2.2). O mel
silvestre como alimento é o símbolo de Cristo como alimento, veja
Êxodo 16.31 onde o maná é descrito como tendo o sabor de mel.
Esse era João, moldado no
deserto, no entanto estava na presença de Deus. Hoje, infelizmente,
temos visto muitos pregadores mais preocupados com os holofotes do
que com a luz de Cristo. Querem reconhecimento do mundo, mas tem
pavor de deserto com Deus. Falam de um deus que não se revela nas
Escrituras para não serem mal interpretados. João por sua vez falou
de pecado, fogo do juízo e arrependimento. Não tinha medo do
deserto e nem de não ser aceito. Chamou os religiosos da sua época
de raça de víboras e foi decapitado por confrontar o pecado de
Herodes. O deserto forjou um profeta do Deus Altíssimo, já em
muitas igrejas hoje, infelizmente, temos visto anticristos à frente
dos púlpitos.
Que o Senhor tenha misericórdia
de nós e nos forje assim como forjou João Batista!
Pense Nisso!
Bibliografia:
1 – Barclay, William.
Comentário do Novo Testamento, Lucas.
2
– Bunting, Robert H. João Batista – Preparando o Caminho do
Senhor. https://www.estudosdabiblia.net/a13_15.htm.
Acessado em 06/12/2019.
3 – Champlin, R. N. O Novo
Testamento Interpretado, versículo por versículo, volume 2, Lucas e
João. Editora Candeia, São Paulo, SP, 1995.
4 – Davidson, F. O Novo
Comentário da Bíblia, volume 2. Edições Vida Nova, São Paulo,
SP, 1987.
5 – Keener, Craig S. Comentário
Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento. Edições Vida Nova,
São Paulo, SP, 2017.
6 – Lopes, Hernandes Dias.
Lucas, Jesus, o homem perfeito. Comentário Expositivo Hagnos.
Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017.
7 – MacArthur, John. Comentário
do Novo Testamento, Lucas.
8 – Manual Bíblico SBB.
Barueri, SP, 3a edição, 2018.
9 – Morris, Leon L. Lucas,
Introdução e Comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São
Paulo, SP, 1986.
10 – Pink, Arthur W. A Vida do
Profeta Elias. Editora Os Puritanos, São Paulo, SP, 2019.
11 – Rienecker, Fritz.
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança. Editora Esperança,
Curitiba, PR, 2005.
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