domingo, 17 de novembro de 2019

A ALEGRIA DA COMUNHÃO - MARIA VISITA ISABEL



Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Lucas 1.39-45

INTRODUÇÃO

Como esta passagem se abre, Maria tinha acabado de receber do anjo Gabriel a mais surpreendente inimaginável anúncio, algo incompreensível que qualquer ser humano jamais ouvira falar. A mensagem que Maria ouviu do anjo era que ela seria a mãe do Messias; o Filho de Deus encarnado; o Senhor Jesus Cristo. Maria tinha respondido em humilde, obediência, submissão e fé (Lc 1.38), confiando que Deus faria o que ele tinha dito.

Embora Maria não tenha pedido um sinal, Deus, sabendo o quão surpreendente era essa mensagem, deu-lhe um de sinal. O sinal, comunicado por Gabriel, foi outro milagre da concepção, desta vez envolvendo sua parenta mais velha Isabel (Elisabete). O registro do evangelho de Lucas abre com as histórias desses dois milagres, um envolvendo uma estéril, uma mulher mais velha passada a idade fértil, e o outro, uma jovem virgem, solteira no início da adolescência. A criança do primeiro seria o precursor do Messias, João Batista; o segundo seria o próprio Messias, o Senhor Jesus Cristo.

Desde então, ela tinha certeza, pela fé, de que seria mãe. Pela transbordante emoção do coração ela anseia por outro ser humano ao qual possa contar e comunicar tudo. Maria anseia por comunhão. A verdadeira vida em Deus busca por comunhão. Ao ouvir que Isabel também estava grávida, Maria partiu numa viagem de quatro a cinco dias, saindo de Nazaré e indo ao sul, até uma cidade que ficava na região montanhosa da Judeia. Maria percorre cerca de 130 km a pé por um caminho acidentado e perigoso, e, de acordo com os costumes dos judeus, era impróprio, ou pelo menos, incomum que uma mulher solteira ou noiva viajasse sozinha. A Bíblia não nos diz como Maria conseguiu viajar dessa forma. Não sabemos se ela conseguiu autorização com seus pais ou com José, já que estava desposada com ele. De uma coisa podemos dizer com toda certeza, foi a mão de Deus sobre ela que fez com que ela conseguisse essa autorização e ser guardada dos perigos em todo o seu trajeto.

O tema principal desses textos é alegria, e há três pessoas alegrando-se no Senhor: Isabel, João e Maria. Vamos analisar esse texto para entender o que ele tem a nos ensinar.

1 – A ALEGRIA DA COMUNHÃO É A BUSCA DO “EU” A UM “TU” CONFIÁVEL (Lc 1.39).

Quanto mais Maria derrama o coração perante o Senhor, tanto mais repleto de alegria ele fica. Ela precisa de alguém ao qual consiga conversar sobre tudo que estava por acontecer. Em casa, no entanto, ela estava sozinha. Ela não fora acometida de mudez, como Zacarias, mas, na verdade, sua situação “não era muito melhor”! O delicado sentimento da virgem percebia a ameaça da perspectiva de imprevisível incompreensão e vergonha. Nessa situação não é bom estar sozinha. A solidão poderia até mesmo se tornar um perigo para ela, tão logo viessem tempos de tribulação. A comunhão de almas crentes com frequência é o único remédio para pessoas atribuladas. Já a solidão muitas vezes é um solo fértil para diversas plantas venenosas da dúvida e do desânimo.

Com isso em mente, podemos destacar três coisas:

1o – Nem tudo que o Senhor nos fala podemos compartilhar com qualquer pessoa. As pessoas que estavam em redor de Maria, provavelmente não iriam entendê-la! Ela não teria nada além de mal-entendidos e equívocos, e talvez até mesmo escárnio e zombaria. Isso não é diferente de nós hoje também. Quantas pessoas resolvem se posicionar de forma firme diante do que a Palavra de Deus fala e, sem sombra de dúvidas, irão se levantar pessoas para chamá-las de fanáticas, de fariseus, de retrógradas. Como disse Paulo a Timóteo: “E na verdade todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2Tm 3.12).

Isso me lembra um episódio que aconteceu com Billy Graham depois de uma campanha evangelística. Uma pessoa lhe disse que a forma como ele pregava e dirigia o seu trabalho estavam atrasados uns cinquenta anos. Ele então respondeu que estava triste com isso, ele queria estivesse atrasado dois mil anos, ou seja, ele queria que seu trabalho evangelístico estivesse como na época de Jesus e dos apóstolos.

2o – São poucas pessoas que estão dispostas obedecer ao Senhor, devido as suas consequências. A maioria das pessoas quer o bônus, mas não quer assumir o ônus. Em outras palavras, a maioria das pessoas quer somente os benefícios e não assumir as consequências das suas escolhas. Maria quando tomou para si essa incumbência dada pelo Senhor, ela assumiu as consequências. A Bíblia não nos relata a atitude das outras pessoas, somente a atitude de José, mas podemos imaginar a situação embaraçosa que Maria se encontrava e a reação da família e da comunidade em que ela estava inserida.

Infelizmente, as pessoas estão mais preocupadas com que as outras pessoas vão dizer a seu respeito do que tomar uma decisão correta pela obra de Deus. As consequências são reais, em todas elas sofreremos retaliações, acusações, sejam elas reais ou não. Hoje, por exemplo, se uma pessoa se converte em um país muçulmano será perseguida e morta, na Coreia do Norte é a mesma coisa; mas isso não é diferente quando uma pessoa resolve seguir a Cristo quando está inserido dentro de uma família que seguem outra religião. Vou além, até dentro de uma família que segue um cristianismo nominal. Maria assumiu o risco pela fé e foi vitoriosa.

3o – A comunhão com pessoas da mesma fé renova as nossas forças. É bem provável que o anjo Gabriel quando falou de Isabel para Maria teve a intenção de lhe mostrar duas coisas: a primeira que ela estava vivenciando um milagre compartilhado e, segundo, ela tinha alguém que iria lhe compreender diante do que ela estava passando. Essas duas mulheres estavam ligadas intimamente à história do Messias.

Entenda uma coisa, Maria era apenas uma menina que tinha no máximo quatorze anos. Ela era uma criança ou quando muito, uma adolescente. A ideia que se tem é que Maria era uma mulher adulta e experiente. Não era. Ela quando foi ter com Isabel, na verdade, ela precisava de ajuda para tentar entender tudo o que estava acontecendo. Isabel e Zacarias seriam as melhores companhias para Maria naquele momento. A experiência de fé de Isabel e Zacarias, a perseverança deles, fidelidade a Deus e vida piedosa fortaleceria ainda mais Maria e o que ela enfrentaria posteriormente.

Quando as lutas forem grandes não vá para a internet se expôr, procure gente de carne e osso, procure pessoas da mesma fé, gente adulta e experiente na fé para lhe aconselhar e lhe acolher. Cuidado com quem você se abre, nem todos são o que parecem. Mas Deus pela sua infinita misericórdia põe pessoas para nos ajudar. Pode ser até alguém da internet, mas no privado e não para todos darem as suas opiniões pessoais.

2 – A ALEGRIA DA COMUNHÃO VEM NA SAUDAÇÃO E NA RECIPROCIDADE (Lc 1.40-45).

Como eram distintas as duas que se saúdam: Maria, a jovem virgem, pouco considerada, da desprezada Nazaré, enquanto Isabel era a idosa esposa do sacerdote! Depois de chegar lá Maria entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel (Lc 1.41,44). Ao contrário do breve, casual, até mesmo os cumprimentos irreverentes comum hoje em dia, uma saudação no Antigo Oriente Médio era um evento social ampliado, envolvendo um longo diálogo (Êx 18.7-9).
Veja o que Jesus falou para os seus discípulos quando os enviou a evangelizar:

Portanto, ide! Eis que Eu vos envio como cordeiros para o meio dos lobos. Não leveis bolsa, nem mochila de viagem, nem sandálias; e a ninguém saudeis longamente pelo caminho” (Lc 10.3,4)

Isabel ao ouvir a saudação de Maria a bendiz entre as mulheres e o fruto de seu ventre. Isabel não exalta Maria acima das mulheres, mas a chama de bendita entre as mulheres. Maria não é exaltada além do que ela é, nem é tratada aquém do que ela representa.

A alegria de Isabel ao ver Maria não era só por serem parentes, mas devido as experiências que ambas estravam tendo. O kairós (tempo) de Deus estava acontecendo na vida dessas duas servas de Deus. Uma carregava em seu ventre o precursor do Messias e a outra o Messias. Um apontaria o Caminho e o outro seria o Caminho, a Verdade e a Vida.

Essa saudação e reciprocidade causaram três coisas:

1o – A saudação de Maria enche Isabel e João do Espírito Santo (Lc 1.41,44). Não havia em Maria nenhum poder ou dom especial, mas em seu ventre estava o nosso Salvador. Maria era o porta-joias com a joia mais preciosa do mundo. Maria estava cheia do Espírito Santo e carregava em seu ventre Aquele que aos trinta e três anos morreria pelos nossos pecados.

João Batista mesmo antes de seu nascimento alegra-se em Jesus Cristo e fez o mesmo durante o seu ministério, como nos diz em Jo 3.29,30:

Aquele que tem a esposa é o esposo; mas o amigo do esposo, que lhe assiste e o ouve, alegra-se muito com a voz do esposo. Assim, pois, já este meu gozo está cumprido. É necessário que ele cresça e que eu diminua”.

Isso traz uma grande lição para todos nós. Será que a nossa presença nos lugares em estamos, seja em nosso lar, na escola, no trabalho ou quem sabe no laser têm feito diferença nas pessoas? Será que as pessoas ao nosso redor conseguem ver em nossas vidas o agir do Espírito Santo ou não estamos fazendo diferença alguma onde estamos? Será que temos sido canal de bênçãos sobre a vida das outras pessoas?

Qual tem sido o fruto dos nossos lábios? A Bíblia fala que a boca fala do que está cheio o coração (Mt 12.34). John Charles Ryle disse certa feita: “A alegria compartilhada se multiplica. A tristeza se expande ao ser ocultada; a alegria, ao ser repartida”.

2o – A saudação de Isabel enfatiza o fruto do ventre de Maria (Lc 1.42b,43). Isabel reconhece que aquela que estava diante dela tinha em seu ventre o “Seu Senhor”. Há uma inversão de valores hoje em relação a Maria. Entre os católicos ela têm sido adorada como uma corredentora. Como intercessora e até como Rainha do Céu. No entanto, Isabel reconhece Maria como uma mulher bendita entre as mulheres, mas dá ênfase ao Filho de seu ventre.

Temos que tomar como exemplo essa saudação de Isabel. Devemos honrar as pessoas com a honra devida, mas somente adorar o Senhor Jesus. Uma pessoa pode ser muito abençoadora e devemos honrá-la, mas devemos tomar muito cuidado para não acharmos que tal pessoa tem algum poder especial dado por Deus. No meio secular as pessoas têm o hábito de serem fãs de certas celebridades e no meio evangélico isso não tem sido muito diferente. Alguns anos atrás isso ocorreu com Paul Washer. Ele repreendeu igreja que o aplaudiu!

3o – Isabel reconhece que Maria é bem-aventurada pela confiança na Palavra de Deus (Lc 1.45). Isabel sabe que o fruto de seu corpo também será grande perante o Senhor, porém ela reconhece com alegria que o fruto do ventre de Maria precisa ser exaltado acima de todas as pessoas abençoadas. Por essa razão, ela cumprimenta a mui ditosa mãe, Maria, como a mais ditosa, isto é, a mais abençoada dentre todos os humanos. Isabel, a venerável e idosa curva-se humildemente diante de seu Senhor. Não apenas diante de seu Senhor, mas igualmente diante da mãe dele, essa serva juvenil e humilde! Depreendemos isso das palavras: “E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?” Com total ausência de inveja ela que, afinal, também é abençoada consegue alegrar-se com aquela que foi abençoada com graça maior! Cheia de bendita submissão, ela concede a honra a Maria, como se a mãe de um rei tivesse chegado a um de seus mais ínfimos súditos.

Bem-aventurada a que creu”, continua Isabel. Essa é a primeira bem-aventurança do NT, raiz e soma de todas as subsequentes. Ao que parece, Isabel pensa com dor na incredulidade de seu marido, e como o Senhor o puniu por isso. Com que diferença Zacarias havia entrado em casa naquela ocasião! Em contrapartida, que saudação jovial Maria traz ao chegar agora até ela, como uma criança feliz. Sim, bem-aventurado aquele que crê! Essa é a norma, a constituição da nova aliança: “Quem crer será bem-aventurado.”

Que grande lição para nós temos aqui. Isabel louva a Deus pela bênção na vida de Maria e glorifica a Deus por isso. Isabel não a inveja, mas exalta ao Senhor por ver Maria abençoada, e ela mesma sabe que está abençoada também. No entanto, quantas vezes as pessoas invejam umas as outras por verem as outras pessoas abençoadas, mas não conseguem ver a bênção sobre si mesmas. Há muitas pessoas como o salmista Asafe (Sl 73). Asafe entrou no templo e teve os seus olhos abertos, mas existem muitas pessoas em nosso meio que permanecem cegas. Infelizmente.

CONCLUSÃO

Aprendemos nesse texto que precisamos compartilhar as bênçãos recebidas com outras pessoas da mesma fé. No momento que o Senhor nos comissiona para Sua obra, precisamos estar na companhia de pessoas que pensem como nós, que tenham a mesma alegria e disposição para o trabalho.

Estar com as pessoas erradas só irão nos entristecer, ou até, quem sabe, nos enfraquecer na fé. Por isso devemos saber com quem nós nos relacionamos. Com quem compartilhamos os nossos sonhos e realizações. Nem todos entendem o agir de Deus, até os que se encontram na comunidade da fé pensam diferente, imagine fora do nosso arraial. Por isso, busque estar em boas companhias. Gente que te aconselhe com conselhos de Deus. Gente que vê a bênção sobre você e lhe incentive e não lhe inveje e tente te enfraquecer na fé.

Tome cuidado com quem você anda. Até o diabo se transforma em anjo de luz!

Pense nisso!

Bibliografia:

1 – Barclay, William. Comentário do Novo Testamento, Lucas.

2 – Champlin, R. N. O Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, volume 2, Lucas e João. Editora Candeia, São Paulo, SP, 1995.

3 – Davidson, F. O Novo Comentário da Bíblia, volume 2. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1987.

4 – Keener, Craig S. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento. Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 2017.

5 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus, o homem perfeito. Comentário Expositivo Hagnos. Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017.

6 – MacArthur, John. Comentário do Novo Testamento, Lucas.

7 – Manual Bíblico SBB. Barueri, SP, 3a edição, 2018.

8 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São Paulo, SP, 1986.

9 – Rienecker, Fritz. Evangelho de Lucas, Comentário Esperança. Editora Esperança, Curitiba, PR, 2005.

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