Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Lucas 1.26-38
INTRODUÇÃO
O texto que lemos nos fala que o
mesmo anjo que trouxe as boas novas a Zacarias, agora está em Nazaré
em uma cidade da Galileia. É interessante destacar que o que texto
chama de cidade é, na verdade, um lugarejo. Nazaré não estava em
qualquer uma das principais rotas de comércio, ela se quer é citada
no Antigo Testamento, nos apócrifos ou nos escritos históricos de
Josefo. Foi longe dos centros importantes da cultura e da religião
judaica, em uma região mal vista pelos judeus (Jo 1.45,46) que o
anjo Gabriel foi enviado. Além disso, Galileia, região onde Nazaré
estava localizada, era conhecida como “Galileia
dos gentios” (Is
9.1; Mt 4.15), por causa de sua proximidade com regiões dos gentios.
Essa região tinha como vizinhos a Fenícia, a Síria e Samaria.
Portanto, a Galileia estava em constante contato com a influências e
ideias não judaicas. Outro detalhe que merece destaque é que a
Galileia tinha sido subjugada sucessivamente pelos assírios, pelos
babilônicos, pelos gregos da Síria e pelos romanos; assim, estava
sob grande influência gentílica e pagã – daí o termo usado por
Isaías: “a Galileia dos gentios”. A Galileia era um território,
podemos dizer, aberto a novas ideias.
A escolha de Nazaré por Deus
para ser local da notícia do nascimento de Jesus revela que Ele é o
Salvador do mundo, e não dos poderosos, das elites, muito menos de
uma só nação, mas de todos “aqueles
que são chamados, tanto judeus como gregos”
(1Co 1.24; cf. Is 11.10; 42.6; Lucas 2.32; Atos 10. 34,35; 13.48,49;
Rm 15.9-12).
Como observado, a aparição de
Gabriel a Zacarias tinha quebrado quatrocentos anos de silêncio,
período esse em que o Senhor não se comunicou com o Seu povo
através de profetas. Surpreendentemente, apenas um pouco mais tarde,
no sexto mês (de gravidez de Isabel ou Elisabete), o anjo Gabriel
foi mais uma vez enviado por Deus com a revelação de que seria
agora o anúncio do nascimento do Salvador, o Senhor Jesus Cristo. O
nascimento de Jesus foi profetizado desde o Jardim do Éden (Gn
3.15). Os patriarcas apontaram para esse dia. Os profetas descreveram
esse acontecimento. Deus, através da Sua soberania, preparou o mundo
para que o Salvador viesse ao mundo (Gl 4.4). O Anjo agora não se
apresenta a outro sacerdote, mas a uma jovem israelita. Não acontece
no templo, mas em Nazaré da Galileia, cerca de 75 km de Jerusalém;
não ao queimar do incenso no altar, mas na singela habitação da
jovem Maria. Antes o anjo anuncia o nascimento de João a um casal
avançado em idade, mas agora anuncia o nascimento do Salvador a uma
virgem.
Quais as lições que podemos
tirar desse texto para nós hoje?
1 – DEUS ESCOLHE UMA VIRGEM
CASADA PARA SER MÃE DO SALVADOR (Lc 1.26,27).
Se havia loucura da parte de Deus
escolher um casal idoso para gerar o precursor do Salvador, mais
loucura há agora em escolher uma virgem, compromissada (casada) para
ser a mãe do Salvador. Mas como Deus não trabalha na lógica humana
tudo é possível.
Isso mais uma vez nos mostra que
o Senhor em Sua soberania escolhe quem Ele quer para realizar a Sua
obra. Observe que o contexto é de milagres, tanto na vida de um
casal idoso, quanto na casa de uma jovem judia. A grande questão
aqui que podemos observar é que todos eles temiam ao Senhor, andavam
em Seus caminhos e estavam dispostos a obedecê-lo até o fim. Quão
diferente hoje de muitas pessoas que não tem perseverança como
Zacarias e Elisabete e nem a coragem de Maria.
O que podemos saber a respeito de
Maria?
1o
– Ela era virgem.
Ela é descrita em primeiro lugar, como uma virgem. Parthenos
(virgem) refere-se a uma pessoa que nunca teve relações sexuais, e
esta palavra nunca seria usado para descrever uma mulher casada. Na
prática judaica, as meninas eram, geralmente, envolvidas com a idade
de doze ou treze anos e casava-se no final de um período de noivado
de um ano. Por isso que, apesar de Maria estar “casada” (noiva)
com José, eles não estavam juntos ainda. Não havia tido as
núpcias.
Em Isaías 7.14 nos diz:
“Portanto o mesmo
Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem (almah) conceberá, e
dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel”.
A concepção virginal é um dos maiores milagres das Escrituras,
pois se fosse possível criar um feto usando apenas o óvulo de uma
mulher, essa criança seria uma filha, e não um filho. A
partenogênese
(desenvolvimento de um ser vivo a partir de um óvulo não fecundado)
em humanos, mesmo
que fosse biologicamente possível, só poderia resultar
geneticamente em uma criança do sexo feminino, uma vez que as
mulheres não têm o cromossomo Y necessário para produzir uma
criança do sexo masculino.
Apenas um homem pode dar o
cromossomo que, junto com o da mulher, torna possível o nascimento
de um filho. Este cromossomo, com outros que formaram a pessoa
teantrópica
de Jesus Cristo (totalmente Deus e totalmente homem), foi dado pelo
Espírito Santo.
2o
– Ela estava desposada com José.
Maria estava comprometida com José. O compromisso durava um ano, e
era tão sério como o matrimônio. Só podia ser dissolvido pelo
divórcio. Se o homem que estava comprometido com uma mulher morria,
perante a lei ela era viúva. Utilizava-se a estranha frase: “uma
virgem viúva”. O compromisso criava um vínculo que só a morte
podia romper. O noivado era completado depois de negociações
realizadas pelo representante do noivo e depois de pago o dote ao pai
da moça. Depois de assumido o noivado, o noivo podia reclamar a
noiva a qualquer momento. O aspecto legal do casamento estava
incluído no compromisso de casamento; o casamento propriamente dito
era apenas um reconhecimento do compromisso que já fora
estabelecido.
O Senhor havia providenciado a
união dos dois porque seu propósito era conceder à virgem um
protetor e vigia que haveria de defender o nascimento estranho das
fofocas e assegurar à criança o direito à cidadania em Israel. A
Bíblia descreve José como um homem justo (Mt 1.19). Observe que o
anjo Gabriel apareceu a Maria, mas não a José. Imediatamente depois
da visita do anjo a Maria, ela foi ao encontro de sua prima
Elisabete, na Judeia, e ali ficou três meses, até o nascimento de
João Batista. Ao retornar a Nazaré, sua gravidez era notória.
Maria não compartilha com José o fato miraculoso, pelo menos a
Bíblia não registra isso, e José sendo justo e não querendo
infamá-la, resolveu divorciar-se sem alarde. José prefere sofrer o
dano a expor Maria ao opróbrio público. José é identificado como
um homem justo não só por não querer expor Maria, mas acima de
tudo por dar ouvidos a voz de Deus e recebê-la como esposa (Mt
1.19-25).
O anjo aparece a Maria para lhe
dar a notícia do nascimento de João e lhe dizer que ela ficaria
grávida através da ação do Espírito; mas se observar nunca mais
nos é dito que o anjo tornou lhe aparecer. Dali em diante o Senhor
se revela somente a José (Mt 1.20; Mt 2.13,19-23).
José é um grande exemplo para
todos nós, pois no momento em que ouviu a palavra do Senhor que lhe
revelada a respeito da situação de Maria, imediatamente obedeceu ao
Senhor e recebeu Maria por esposa. Ele creu e obedeceu!
Diferentemente de alguns que até creem, mas não põe em prática a
Palavra de Deus.
3o
– Deus escolhe os desprezados deste mundo para manifestar a sua
graça (1Co 1.25-31).
O Senhor escolhe pessoas desprezadas e não as que querem receber
honras. Ele escolhe as que nada são para confundir as que pensam que
são. O precursor de Salvador era filho de sacerdotes, mas nunca
exerceu o sacerdócio. O Rei dos reis e Senhor dos senhores nasce em
uma família pobre, num lugarejo desconhecido e tem como profissão
ser carpinteiro.
No mundo greco-romano as mulheres
não tinham nenhum valor. Entre os judeus as mulheres eram bem menos
desprezadas, mas não recebiam devidas horas que só passou a existir
depois da vinda de Cristo. Agora observe que a proclamação da
maravilhosa origem de Cristo da “virgem” já é profetizada no
paraíso em Gn 3.15. Essa promessa, que fala da semente da mulher, e
não da semente do homem, exclui o homem expressamente dessa geração.
Nas genealogias do AT os israelitas se apegavam com tanta intensidade
à ascendência masculina que, com exceção dessa promessa (Gn
3.15), em lugar algum se fala entre eles de outra coisa que não da
semente do homem.
Uma leitura mais detalhada no
Evangelho de Lucas podemos observar alguns detalhes:
1o
– O
Evangelho dos gentios – É
evidente que Lucas escreveu principalmente para os gentios. Teófilo
era um gentio, como o autor, e não há no Evangelho nada que um
gentio não possa captar ou compreender.
2o
– O Evangelho das mulheres
– O lugar das mulheres na Palestina era baixo. Na oração matinal
judaica o homem agradece a Deus por não tê-lo feito “gentio,
escravo ou mulher”. Mas Lucas em seu Evangelho dá um lugar muito
especial à mulher. O relato do nascimento é dado do ponto de vista
de Maria.
3o
– O evangelho universal
– Mas a característica mais proeminente de Lucas é que seu
evangelho é universal. Caem todas as barreiras; Jesus é para todos
os homens sem distinção.
2 – MARIA NÃO ACOLHE A
MENSAGEM DE DEUS COM INCREDULIDADE (Lc 1.28-30).
Maria, diferente de Zacarias, não
acolhe o mensageiro divino com incredulidade, e sim com fé. No caso
de Zacarias, ele ouviu a promessa de que sua esposa, a idosa Isabel
(Elisabete), lhe daria à luz o “precursor” do Messias, e ele
duvidou. Maria, no entanto, ouviu a mais estranha mensagem, de que
ela daria à luz o próprio Messias, o “Filho de Deus”, mesmo
virgem, e – estava pronta para crer! O sacerdote precisa carregar a
mensagem celestial mudo para sua casa, e somente depois que seu filho
nasce ele reencontra a fala. Maria, por sua vez, está imediatamente
repleta de bendita alegria e se apressa para ter com Isabel, a fim de
anunciar sua felicidade com louvor e gratidão.
Esse é o contraste entre a
velha e a nova aliança.
Observamos, que não deixa de ocorrer a mais íntima relação de
parentesco entre a velha e a nova alianças. Ambas as proclamações
são trazidas pelo mesmo anjo! Na segunda proclamação o anjo até
mesmo aponta para a primeira. Um é filho tardio do idoso casal de
sacerdotes, que já ultrapassou “a sua época”, o outro é o
primogênito de uma virgem. O nascido tardio é enchido do Espírito
Santo no ventre materno, o segundo é gerado e nascido pela
sobrepujante atuação de Deus na virgem pelo poder do Espírito
Santo.
A mensagem do anjo a Maria nos
traz algumas lições importantes:
1o
– O anjo honra Maria em sua saudação (Lc 1.28).
Maria
deve ser honrada por todos nós.
Em se tratando de Maria, a tendência das pessoas é cair em um de
dois extremos. Ou a exaltam acima de Jesus (Lc 1.32), ou a ignoram e
não lhe dão a consideração que merece (Lc 1.48). Maria era cheia
do Espírito Santo, Elisabete a chamou de “a mãe do Senhor” (Lc
1.43), o que é motivo suficiente para honrá-la. Honrar não é
adorar. Maria, podemos definir como um porta-joias, ela não era a
joia. A joia de grande valor foi gerado em seu ventre, Jesus Cristo,
o nosso Salvador. Maria seria a mãe de Jesus homem e não de Jesus
Deus, por isso que é errado chamá-la de “mãe de Deus”, como
fazem os católicos. A saudação do anjo Gabriel descrevia o seu
caráter. O Senhor olhou dos altos céus e escolheu essa jovem, pois
ela era a pessoa certa para ser a mãe do Salvador. Ela temia ao
Senhor. Era humilde.
Maria é um dos grandes exemplos
de fidelidade, coragem e intrepidez encontrados em toda a Bíblia.
Ela abriu mão de seu casamento, de sua honra, de sua reputação e
de sua vida por amor a Deus e a Sua Palavra. Ela creu no que o anjo
havia lhe revelado e foi até o fim em seu posicionamento. Isso é um
exemplo para todos nós. Por isso devemos honrá-la.
2o
– A surpresa de Maria com esta saudação (Lc 1.29).
O temor de Maria não é de incredulidade como Zacarias, mas de
êxtase diante da revelação. A surpresa de Maria diante de tal
saudação revela a sua humildade e honestidade diante de Deus. Por
certo, jamais esperou receber favores especiais do céu. Não possuía
nada de singular que justificasse tais coisas. Se fosse, de fato,
diferente das outras moças judias, como alguns teólogos afirmam, é
possível que tivesse dito: “Já era tempo! Estava te esperando!”
Mas foi tudo surpresa para ela.
Observe que o texto nos diz que
“vendo-o ela,
turbou-se muito com essas palavras.
Os versículos 29, 34, 37 e 38
expressam
os diversos estágios da experiência espiritual de Maria. O
versículo 29 nos mostra Maria perturbada,
com medo.
Espanto diante de tal saudação. Depois no versículo 34 a vemos
perplexa,
ela perde o medo e dá atenção ao que se está sendo dito. Logo
após (v. 37) vemos Maria sendo consolada
através das palavras do anjo mostrando para ela que para Deus não
há impossível e lhe revela o que Deus havia feito com Isabel. E por
fim, no versículo 38 vemos a entrega
de Maria a vontade de Deus. Podemos dizer que houve um crescimento
espiritual e uma maturidade ímpar no coração de Maria.
No entanto, quão diferente tem
sido na vida de muitos jovens em nossas igrejas, isso sem falar de
crentes mais velhos também. Na atual igreja, infelizmente, não há
maturidade espiritual. A maioria dos crentes são imaturos,
inconsequentes, refletem a visão do mundo atual. Se veem vitimadas
ou se veem merecedoras de tudo o tempo todo. Pensam que são melhores
que as outras pessoas e que Deus tem por obrigação abençoá-las. É
uma geração de cristãos que pensam que podem mandar em Deus assim
como mandam em seus pais (diferente de Maria e José que se
sujeitaram a vontade de Deus). Gente com uma visão distorcida do que
é ser cristão, segundo a Bíblia. Mas o mais triste é que tais
crentes aprendem e vivem assim por causa de uma liderança que lhes
ensina a serem assim. Muitos aprendem a dizer que são príncipes e
princesas de Deus; que podem e devem reivindicar as bênçãos; que o
Senhor morreu para que elas fossem ricas; tivessem de tudo de bom e
do melhor desta terra… Aí quando vem as lutas e as adversidades se
desviam se fazendo de vítimas, de pobres coitadas. Essa geração é
a da semente lançada entre pedras e espinhos:
“A semente que caiu no meio
de pedras representa a pessoa que ouve a mensagem a respeito do reino
e a aceita imediatamente e com muita alegria. Mas, como não tem
raiz, não dura muito tempo. Assim que encontra dificuldades ou que é
perseguida por causa da mensagem, abandona a sua fé. A semente que
caiu no meio de espinhos representa a pessoa que ouve a mensagem a
respeito do reino mas é sufocada pelas preocupações com as coisas
desta vida e pela ilusão das riquezas. Essa pessoa não produz
nenhum fruto” (Mt
13.20-22).
Esta tem sido uma geração
infantilizada, no entanto, o propósito de Deus para os cristãos
está em Efésios 4.12-14: “…com
o propósito de aperfeiçoar os santos para a obra do ministério,
para que o Corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos
a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à
maturidade, atingindo a medida da estatura da plenitude de Cristo. O
objetivo é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado
para o outro pelas ondas teológicas, nem jogados para cá e para lá
por todo vento de doutrina e pela malícia de certas pessoas que
induzem os incautos ao erro”.
3 – O ANJO DESCREVE A
CRIANÇA QUE SERÁ GERADA EM SEU VENTRE (Lc 1.30-33).
O anjo diz para Maria que ela
achou graça diante de
Deus, isso
quer dizer que ela alcançou um favor especial que Deus está lhe
proporcionando. Não há nada de especial nela no sentido de que ela
alcançou essa graça por méritos próprios. Ela era uma crente
fiel, mas não santa sem pecados como muitos afirmam. Buscando
acalmá-la, Gabriel disse para a jovem assustada, “Não tenhas
medo, Maria”. Sua explicação, pois achaste graça diante de Deus,
assegurou a Maria que ela não tinha nada a temer; Gabriel tinha
chegado a ela com uma mensagem de bênção, não de julgamento.
A partir daquela saudação ele
passa descrever porque veio até ela. Ele lhe diz que ela seria a mãe
do Salvador, lhe diz qual será o seu nome e passa descrevê-lo. O
anjo passa a detalhar para Maria as características singulares de
seu filho.
1o
– Ele é o salvador do mundo (Lc 1.31).
Seu nome será Jesus, pois ele será o salvador do seu povo (Mt
1.21). Assim como Josué levou o seu povo para possuir a terra
prometida, assim será o Nosso Senhor irá nos levar para um novo céu
e uma nova terra. Tanto que Josué e Jesus são o mesmo nome. Um em
hebraico e outro em grego. O nome de Jesus foi revelado tanto a Maria
quanto a José (Mt 1.21).
2o
– Ele será grandemente exaltado (Lc 1.32).
João Batista seria grande diante do Senhor (Lc 1.15), mas Jesus é
grande de forma incomparável, pois Ele é o Deus encarnado, como
lemos em João 1.14: “E
o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória,
como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”.
Como vemos, Jesus é Deus de Deus, Luz de Luz, coigual, nele habita
toda plenitude de Deus. Ele é grande em de si mesmo; Sua grandeza é
intrínseca à sua própria natureza de Deus, e não é derivado de
qualquer fonte fora de si mesmo. Jesus Cristo é “muito
acima de todo governo e autoridade, poder e domínio, e de todo nome
que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro”
(Ef. 1.21).
Ser grande aos olhos do mundo é
ser uma pessoa de destaque, alguém financeiramente bem- sucedida, no
entanto, Jesus é chamado de grande, mas ao analisarmos sua vida
vemos que Ele não se enquadra nessas qualificações. Ele nasce em
uma família pobre, quando nasce é posto em uma manjedoura, vive em
uma cidade desconhecida, até aos trinta anos vive no anonimato,
quando inicia o seu ministério é perseguido e, por fim, é morto em
uma cruz. Pela lógica do mundo, Jesus foi um malsucedido. No
entanto, o apóstolo Paulo declara que Jesus, sendo Deus, não julgou
como usurpação o ser igual a Deus, antes se esvaziou, assumindo a
forma de servo, e se humilhou até a morte, e morte de cruz, pelo que
Deus Pai o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de
todo nome (Fl 2.6-11).
3o
– Ele é o Filho do Altíssimo (Lc 1.32a, 35).
Jesus é o cumprimento profético (Is 7.14 conf. Mt 1.23).
Aquele que estava para vir ao mundo era o Filho de Deus. Este seria o
Emanuel descrito por Isaías. O Deus Conosco tão aguardado pela
nação de Israel. Ele é chamado Filho de Deus porque nasceu de
Maria, não porque Ele foi gerado na eternidade como dizia Ário. Ele
não é a primeira criação de Deus como dizem alguns. Devemos tomar
cuidado para não entrarmos por esse caminho que nos afasta de Deus.
Veja o que nos fala Jo 1.1-3: “No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era
Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas
por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez”.
Ele foi gerado no ventre de Maria
pelo Espírito Santo. De acordo com Mt 1.20 “to
gennomenon” é
derivado de “gennao”,
não “que há de nascer”, mas “que é gerado” (gennao
significa gerar). Aquile que está sendo gerado em Maria é chamado o
santo, não um ente santo, provavelmente para que entenda que a
criança não será primeiramente santificada pela graça, como as
pessoas santas do AT e NT. Na verdade ela é, desde o primeiro
instante em que é gerada, isto é, aquile que não tem máculas de
pecados (Dn 9.24), que não tem pecado.
A encarnação foi o começo de
uma nova criação. O Espírito Santo, o agente original da criação,
voltaria a se tornar um agente da criação, desta vez no ventre de
Maria. Não há a menor sugestão neste texto ou em qualquer outro
lugar na Escritura da atividade sexual humana envolvida na concepção
do Senhor Jesus Cristo.
4o
– Ele é o Rei Eterno (Lc 1.32,33).
O Senhor havia feito uma aliança com Davi (2Sm 7) e iria cumpri-la
na Pessoa de Jesus. Por isso que Jesus é chamado de Filho de Davi.
Esta criança seria o Deus
encarnado, perfeitamente justo em tudo o que Ele pensou, disse e fez.
Ele morreria como um sacrifício sem pecado, oferecendo-se como um
substituto para os pecadores, oferecendo Sua morte expiatória para
salvá-los de seus pecados. Mas isso não é o fim da história. Ele
não permaneceria morto, mas subiria para reinar. O ponto culminante
da obra de Cristo virá quando o Senhor Deus dá o trono de seu pai
Davi; e Ele reinará sobre a casa de Jacó para sempre, e seu reino
não terá fim. Como observado acima, o Senhor Jesus Cristo era o
legítimo herdeiro do trono de seu pai Davi através de seu pai
legal, José. Palavras de Gabriel enfatizam tanto o caráter judaico
do reino de Cristo, pois Ele governará sobre a casa de Jacó (Is
65.17-19; Sf 3.11-13; Zc 14.16-21, assim como o resto da humanidade;
cf. Dn 7.14, 27), e sua eternidade, desde então. Seu reino não terá
fim (Ap 11.15).
Seu reino não é terreno ou
político, mas espiritual, um reino da graça e da verdade
estabelecida no coração de todos aqueles que têm o Deus de Jacó
como refúgio.
A concepção de Cristo no ventre
de Maria, como o texto deixa claro, foi obra do Espírito Santo. A
Bíblia também nos fala que o novo nascimento é obra da ação do
Espírito Santo em nós. A Bíblia nos fala que nós estávamos
mortos em delitos e em pecados, mas o Senhor nos deu vida (Ef
2.1-10).
4 – A SOBERANIA DIVINA (Lc
1.36-38).
O nascimento virginal de Jesus
Cristo é fundamental para o cristianismo, já que é a única
maneira de explicar como ele poderia ser o homem-Deus. Para negar o
nascimento virginal, então, é negar a verdade bíblica de que Jesus
Cristo é Deus (cf. Jo 1.1; 10:30; 20.28; Rm 9.5; Fp 2.6; Cl 2.9; Tt
2.13; Hb 1.8; 2Pe 1.2; 1Jo 5.20) e homem (cf. Jo 1.14; Rm 1.3; Gl
4.4; Fl 2.7,8; 1Tm 2.5; Hb 2.14; 1Jo 4. 2; 2Jo 7), e afirmar uma
outra, um falso Jesus (2Co 11.4). Pois se Jesus teve um pai humano,
ele era apenas um homem. E se Ele era apenas um homem, Ele não
poderia ser o Salvador. E se Jesus não é o Salvador, não há
Evangelho, não há salvação, não há ressurreição, não há
esperança para além desta vida. Como Paulo observa:
“E, se Cristo não
ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos
pecados. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais
miseráveis de todos os homens”
(1Co 15.17,19).
Podemos assim “comer e beber,
pois amanhã morreremos” (1Co 15.32). As implicações graves de
ver Jesus como um mero homem levou Paulo a pronunciar uma maldição
sobre aqueles que propagam esta mentira satânica (Gl 1.8,9).
A anjo Gabriel para confirmar que
o que havia lhe falado era de fato assim, lhe diz duas coisas:
1o
– Que havia outro milagre a caminho (Lc 1.36).
O anjo encoraja Maria lhe contando de algo que iria, certamente,
alegrar o seu coração. Sua prima que todos conheciam como estéril
estava grávida na sua velhice e já estava no seu sexto mês de
gravidez. O milagre que ocorreu para Elisabete (Isabel) foi uma
gravidez na velhice, e não a concepção virginal de que Maria
experimentaria. No entanto, a concepção de Isabel era um sinal de
Deus a Maria que ele ainda era capaz de realizar milagres, que Ele
poderia fazer o humanamente impossível (cf. Jr 32.17, 27; Mt
19.26.). Deus deu o sinal, não porque Maria duvidava as palavras do
anjo, mas para fornecer uma âncora (cf. Hb. 6.19) para a sua fé.
2o
– O anjo lhe afirma que para Deus não há impossível (Lc 1.37).
O que é impossível para o homem é possível para Deus. As
promessas de Deus são fiéis e verdadeiras. Uma coisa a dizer que
algo que vai acontecer, outra bem diferente é fazer acontecer. O que
Maria ouviu e percebeu era algo humanamente impossível. Portanto,
Gabriel lembrou que por causa do poder ilimitado de Deus, nada é
impossível para Ele. A prova Gabriel ofereceu, como mencionado
acima, foi a concepção de João de Isabel.
3o
– Diante de tudo que Maria ouviu ela se submete a vontade de Deus
(Lc 1.38). Sua
resposta humilde demonstrou submissão voluntária ao que o Senhor
estava por realizar em sua vida. Viu-se como nada mais do que a Sua
vontade, ela se colocou como uma escrava humilde, e respondeu
dizendo: “Faça-se
em mim segundo a tua palavra”.
Ela não perguntou sobre José, que, obviamente, saberia que o bebê
não era dele. Maria teria, assim, que enfrentar o estigma da
maternidade solteira e a aparência de ter adulterado, correndo o
risco de punição que era a morte por apedrejamento (Dt 22.13-21; Lv
20.10; cf. Jo 8.3-5). Mas, na humilde, fé obediente Maria
voluntariamente confiava em Deus e abriu mão de sua vida, reputação
e casamento (cf. Mt 1.19-25).
Dramático encontro de Maria com
o anjo Gabriel terminou com este curto, posfácio simples: E
o anjo ausentou-se dela.
Sua missão cumprida, Gabriel voltou para a presença de Deus. O
Deus-homem estava indo para nascer; o Filho unigênito de Deus,
Jesus, quem salvará o seu povo dos seus pecados, o divino Redentor,
o rei divino que reinará sobre um reino que vai durar para sempre.
CONCLUSÃO
Deus ainda está fazendo seu
trabalho hoje, se não for através de milagres visíveis, então
espiritualmente através do seu povo que confia nele (Is 26.3; cf. Pv
29.25). Obedecer à Sua Palavra (Sl 119.17, 67, 101; Mt 7.24; Lc
11.28; Tg 1.25), e submeter humildemente como escravos obedientes à
Sua vontade (Js 24.24; Sl 119.35; Ec 12.13; Fp 2.12,13).
Quantas pessoas hoje, que se
dizem cristãs, estão dispostas a abrir mão de sua vontade para que
a vontade de Deus prevaleça em suas vidas?
Bibliografia:
1 – Barclay, William.
Comentário do Novo Testamento, Lucas.
2 – Champlin, R. N. O Novo
Testamento Interpretado, versículo por versículo, volume 2, Lucas e
João. Editora Candeia, São Paulo, SP, 1995.
3 – Davidson, F. O Novo
Comentário da Bíblia, volume 2. Edições Vida Nova, São Paulo,
SP, 1987.
4 – Keener, Craig S. Comentário
Histórico-Cultural da Bíblia, Novo Testamento. Edições Vida Nova,
São Paulo, SP, 2017.
5 – Lopes, Hernandes Dias.
Lucas, Jesus, o homem perfeito. Comentário Expositivo Hagnos.
Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017.
6 – Lopes, Hernandes Dias.
Mateus, Jesus, o Rei dos reis. Comentário Expositivo Hagnos. Editora
Hagnos, São Paulo, SP, 2019.
7 – MacArthur, John. Comentário
do Novo Testamento, Lucas.
8 – Manual Bíblico SBB.
Barueri, SP, 3a edição, 2018.
9 – Morris, Leon L. Lucas,
Introdução e Comentário. Edições Vida Nova e Mundo Cristão, São
Paulo, SP, 1986.
10 – Rienecker, Fritz.
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança. Editora Esperança,
Curitiba, PR, 2005.
11 – Rienecker, Fritz.
Evangelho de Mateus, Comentário Esperança. Editora Esperança,
Curitiba, PR, 2017.
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