Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Atos 12.1-24
INTRODUÇÃO
Depois do martírio de
Estêvão quando ele é apedrejado até a morte (At 7.59,60), começa a perseguição
à Igreja de Cristo (At 8.1-3). O diabo desde o princípio tentou exterminar a
Igreja, pois ela era e é a continuidade do ministério do Senhor Jesus (At 1.1).
Não pense você que os dias de refrigério para a Igreja chegaram, muito pelo
contrário, continuamos em guerra, principalmente em guerra pela Verdade.
Se em alguns países há
uma guerra declarada contra os cristãos, inclusive os levando à morte, nós,
aqui em nosso país, travamos uma outra guerra, a guerra por um Evangelho Puro e
Simples. Uma guerra contra as heresias que têm assolado a igreja brasileira. A
luta da Igreja só irá terminar quando o Senhor voltar para busca-la. Refrigério
só encontraremos no Céu. Enquanto estivermos aqui haverá lutas e perseguições.
O texto que lemos é um
exemplo de como a Igreja está em guerra, ele nos mostra como as forças das
trevas tem feito de tudo para destruí-la. Nesse texto de Atos 12 nós vemos que
Satanás atacava a Igreja em duas frentes: através da perseguição religiosa e
através da perseguição política.
Entenda uma coisa, a
nossa luta não é contra as pessoas, mas contra o diabo e as suas hordas como
nos fala Paulo em Efésios 6.10-12:
“Quanto
ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos
de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do
diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra
os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso,
contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes”.
A
primeira foi a perseguição religiosa – os judeus foram os
principais inimigos no início do cristianismo. Perseguiram Cristo e o levaram a
cruz. Doravante, queriam matar os seus seguidores. Já haviam apedrejado Estêvão
e encerrado os apóstolos em prisão duas vezes. E agora, rendidos à bajulação,
incentivavam Herodes a agir com mão de ferro para matar os líderes da igreja.
A
segunda foi a perseguição política – Herodes Agripa I já
havia prendido alguns cristãos para maltratá-los, já havia passado ao fio da
espada Tiago, irmão de João, e, agora, encerrara Pedro na prisão até o fim da
Festa da Páscoa para, então, sentenciá-lo à morte [1].
Esse Herodes que é citado
aqui era neto de Herodes, o Grande, que havia mandado matar as crianças de
Belém. Este Herodes não é o mesmo dos Evangelhos. O Herodes dos Evangelhos era
Herodes Antipas, que foi um dos filhos de Herodes, o Grande. O que mandou matar
João Batista e, posteriormente, participou do julgamento de Jesus. O Herodes
aqui aludido era filho de Aristóbulo e irmão de Herodias e sobrinho de Herodes
Antipas.
Quando Aristóbulo foi
assassinado no ano 7 a.C., ele foi levado a Roma onde manteve íntimos contatos
com a família imperial e era amigo íntimo de Gaio (Calígula), o qual, ao subir
ao poder, deu-lhe o título de “rei” no ano 37 d.C, a pedido de seu tio, Herodes
Antipas. Com o assassinato de Gaio (Calígula) em 41 d.C., Herodes Agripa I
ajudou na ascensão de Cláudio ao poder. Devido a isso, ele se volta contra o
tio e o com a ajuda do Imperador Cláudio, Antipas é deposto e exilado. Com
isso, Herodes Agripa I passa a reinar em lugar do tio e possuindo um território
tão grande quanto do seu avô.
Os Herodes eram de
descendência iduméia, ou seja, eram descendentes de Esaú. Mas por ser sua avó
Mariane, uma princesa judia da família dos macabeus, Herodes Agripa I poderia
alegar ascendência judaica. Tanto que diariamente ele oferecia sacrifícios no
templo em Jerusalém. Ele era tão bem quisto entre as autoridades judaicas que
lhe era permitido ler, em público, uma passagem da lei. Devido a isso, os
judeus o aceitavam como um dos seus. No entanto, ele não passava de um político
astuto que queria se beneficiar em seu cargo.
Vendo que a perseguição a
igreja trouxe alguns benefícios políticos diante das autoridades judaicas,
Herodes então manda prender também a Pedro, para, posteriormente, mandar
mata-lo. Diante de mais esse ocorrido a igreja então busca o Senhor
intercedendo pela vida do apóstolo.
Quais as lições que
podemos tirar desse episódio?
A
PRIMEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE QUANDO POLÍTICA E RELIGIÃO SE UNEM A IGREJA
SOFRE (At 12.1-4).
Observe que o texto nos
diz que quando Herodes prende alguns da igreja ele viu que isso agradava aos
judeus. O governo romano, na pessoa de Herodes, se une a religião judaica para
alcançar um “bem” comum. Devido a isso a igreja do Senhor Jesus passa sofrer
maiores perseguições, pois já não era local, mas regional. Houve uma união
entre o judaísmo e o Estado Romano com o intuito de destruir a Igreja. No
entanto essa perseguição mantinha a igreja saudável em sua essência, pois ser
cristão naquela época, pelo menos para a maioria, era sinônimo de fidelidade a
Cristo.
A igreja sofre quando a
política e a religião se unem por duas razões básicas.
1º - A primeira é por ela
ser perseguida pela sua fidelidade a Cristo.
A Igreja nos seus primórdios sempre se manteve fiel a Cristo. Mesmo sofrendo
grandes perseguições ela não abriu mão da sua fidelidade ao Senhor. Vemos isso
ao lermos a carta aos Hebreus onde o autor fortalece a fé dos cristãos que
estão sendo perseguidos:
“Lembrai-vos,
porém, dos dias anteriores, em que, depois de iluminados, sustentastes grande
luta e sofrimentos; ora expostos como em espetáculo, tanto de opróbrio quanto
de tribulações, ora tornando-vos coparticipantes com aqueles que desse modo
foram tratados. Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como
também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de
possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável. Não abandoneis, portanto,
a vossa confiança; ela tem grande galardão. Com efeito, tendes necessidade de
perseverança, para que, havendo feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa.
Porque, ainda dentro de pouco tempo, aquele que vem virá e não tardará;
todavia, o meu justo viverá pela fé; e: Se retroceder, nele não se compraz a
minha alma. Nós, porém, não somos dos que retrocedem para a perdição; somos,
entretanto, da fé, para a conservação da alma”
(Hb 10.32-39 – ARA).
A primeira carta de Pedro
também tem como finalidade o fortalecimento da fé dos cristãos que estavam
sendo perseguidos também. Veja:
“Pedro,
apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no
Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia, eleitos, segundo a presciência de
Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue
de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas. Amados, não estranheis o
fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma
coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na
medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também,
na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo,
sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da
glória e de Deus. Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou
malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como
cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome.
Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se
primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de
Deus? E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio,
sim, o pecador? Por isso, também os que sofrem segundo a vontade de Deus
encomendem a sua alma ao fiel Criador, na prática do bem”
(1Pe 1.1,2, 4.12-19 – ARA).
Observe o texto que Herodes
prende alguns da igreja, mas manda matar a Tiago, irmão de João. Jesus tinha
advertido Tiago e João, que lhe haviam pedido os melhores lugares no seu reino,
que eles beberiam de seu cálice e compartilhariam o seu batismo, ou seja,
participariam de seus sofrimentos. E foi isso o que aconteceu. Tiago é
decapitado enquanto que Pedro foi preso para ser morto também posteriormente.
Não sabemos porque o
Senhor permitiu a morte de Tiago e soltou Pedro da prisão. Uma coisa nós
podemos afirmar: Deus é Deus quando nos livra da morte e quando nos leva para a
Sua presença. A uns Deus livra da
morte; a outros, Deus livra na morte.
Em todo tempo ele é Deus. Como disse Paulo em Filipenses 1.21-23:
“Porquanto,
para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro. Entretanto, se o viver na carne
traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. Ora, de um e
outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o
que é incomparavelmente melhor”.
2º - A segunda é quando
ela se une a política para não ser perseguida.
Charles Swindoll em seu
livro A Igreja Desviada faz essa citação:
“No
início a igreja era uma comunidade de homens e mulheres centrada em Cristo
vivo. Então, a igreja mudou-se para a Grécia, onde se tornou uma filosofia. Em
seguida, mudou-se para Roma, onde tornou-se uma instituição. Depois, mudou-se
para a Europa, onde se tornou uma cultura. Por fim, mudou-se para o continente
americano, onde se tornou uma empresa” [2].
A igreja de Cristo
começou a passar por uma grande crise de identidade a partir da conversão do
Imperador romano Constantino. Conversão esta que é considerada o fato mais
emblemático na história do Cristianismo, depois dos relatos bíblicos. Como
decorrência desta "conversão" em 313, ele assinou um decreto,
conhecido como "Edito de Milão" ou "Edito da Tolerância",
no qual a religião surgida a partir dos ensinamentos de Jesus Cristo deixou
para trás os tempos de clandestinidade no Império Romano, (porém o
reconhecimento como a religião oficial do Império só viria a acontecer mais
tarde, com Teodósio). Além disso, a promulgação do Edito serviu como pontapé
inicial para a Igreja de Roma, aos poucos, alcançar a primazia religiosa que
sustenta até hoje.
A explicação oficial para
esta, suposta, conversão é que na noite anterior à uma das inúmeras batalhas
empreendidas pelo exército dirigido por Constantino, este teria sonhado com uma
cruz, na qual havia a seguinte inscrição:
“Sob
este símbolo vencerás!”
Na manhã seguinte, ele
ordenou que fosse pintada uma cruz em todos os escudos da soldadesca e a
batalha resultou numa esmagadora vitória do seu exército. A partir daquele
momento, Constantino, passou a se confessar cristão. Sendo esta a razão,
inclusive, para a cruz ter se tornado o símbolo do cristianismo.
A partir daí a igreja
deixou de ser perseguida e passou ser aceita como a religião do imperador. Com
isso a igreja passou momentos de refrigério, mas também começou a se unir ao
Império e a se afastar da cruz de Cristo e de Seus ensinamentos. Pois em pouco
tempo a igreja estava envolta com muitos misticismos, pois muitos pagãos foram
para a igreja, mas não abandonaram os seus costumes na adoração de seus deuses.
Com isso a igreja virou um sincretismo.
A igreja se afastou tanto
dos ensinamentos de Cristo que o Senhor levantou homens para tentar trazer a
igreja de volta aos trilhos. Por fim, no ano de 1517 Martinho Lutero escreve as
suas 95 teses contra a igreja oficial, pois tal igreja estava totalmente longe
das verdades bíblicas. Com isso surge então o que foi chamado de Reforma
Protestante. Tudo isso porque a Igreja virou uma instituição política e
religiosa. Tanto que o Vaticano é um país e o Papa um chefe de Estado.
A igreja hoje está
enfrentando uma grande crise, pelo menos a igreja brasileira, pois ela está envolvida
na política; seja na secular, seja na institucional.
Veja o absurdo de uma
notícia que circulou na internet que dizia o seguinte: “O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) deve receber em breve o pedido de
registro da 36º legenda brasileira. Trata-se de PRC (Partido Republicano
Cristão) que está sendo criado com ajuda da Assembleia de Deus, a maior igreja
evangélica do Brasil. Eles são 30% dos 42 milhões de fiéis, segundo o Censo
2010. Em um país onde o percentual de evangélicos sobe a cada ano, não será
difícil se coletar o número mínimo de assinaturas para formar um novo partido.
São necessárias 486 mil, equivalentes a 0,5% dos votos válidos na última
eleição para a Câmara” [3].
Não precisamos nos
prolongar nisso aqui. Basta olharmos os púlpitos de muitas igrejas por aí na
época das eleições. Os púlpitos tornam-se palanques onde candidatos fazem os
seus discursos, e o pior, os pastores fazem de suas igrejas curral eleitoral.
A
SEGUNDA LIÇÃO QUE APRENDO É QUE A PERSEGUIÇÃO FAZ COM QUE A IGREJA TENHA A MAIS
FERVENTE ORAÇÃO (At 12.5; At 4.23-31).
Diante do ocorrido a
igreja ora. Mesmo depois que Tiago havia morrido, a igreja continuou crendo que
Pedro poderia ser livre da prisão através da intervenção divina. A fé não pode
estar firmada em cima de circunstâncias, a fé deve estar firmada somente em
Deus que age além das circunstâncias.
Tanto que o autor da
carta aos Hebreus 11.6 nos diz:
“De
fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que
se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o
buscam”.
A arma do cristão é a
oração. Não há como vencermos o mundo, a carne e o diabo sem oração. John Stott
diz que havia duas comunidades, o mundo e a igreja, colocadas uma contra a
outra, cada qual fazendo uso de suas armas. De um lado estava a autoridade de
Herodes, o poder da espada e segurança da prisão. Do outro lado, a igreja se
voltou à oração, a única arma daqueles que não têm poder [4].
A igreja podia não ter
poder no sentido bélico, mas tinha o poder do alto. Eles criam no Senhor que
intervém.
As palavras “mas havia oração incessante a Deus por
parte da igreja a favor dele” constituem o ponto crítico desta história.
Não devemos subestimar o poder de uma igreja que ora! [5].
David H. Stern nos fala
de cinco pontos a respeito da oração: a oração precisa ser 1) intensa, não casual; 2) contínua (faziam-se; o tempo do verbo grego
implica atividade contínua; 3) a Deus
– em contato genuíno com o Deus vivo (o que é possível apenas por meio do
Senhor Jesus, Jo 14.6), não com repetições vazias (Mt 6.7) e nem com
incredulidade (Hb 11.6); 4) específica, não vaga (a favor dele); e 5) comunitária (feita pela comunidade) – o cristão não foi chamado para uma vida de
isolamento; nem mesmo as orações particulares devem ser autocentradas, mas
devem refletir a participação do Corpo de Cristo [6].
1º - A oração deve ser
intensa. A palavra grega usada em Atos 12.5 é ektenos, que significa “incessante, com
fervor”. É a mesma palavra usada para descrever a agonia de Jesus no Getsêmani
(Lc 22.44). Entenda uma coisa, a única arma que nós crentes temos é a oração,
tanto que Tiago em sua carta nos diz que se está
alguém entre vós sofrendo? Faça oração (Tg 5.13); e no versículo 17 e 18
ele nos dá o exemplo de Elias, que apesar de ser profeta, era homem como
qualquer um de nós, no entanto ele orou com insistência e não choveu por três
anos e seis meses e orou, de novo, e o céu deu chuva e a terra fez germinar
seus frutos.
2º - A oração deve ser
contínua. Eles não desistiram de orar. Certamente que
a igreja não havia esquecido as últimas duas prisões de Pedro, decretadas pelo
Sinédrio (At 4.3; 5.18). E, principalmente quanto à segunda prisão dos
apóstolos, quando um anjo do Senhor havia aberto as portas do cárcere,
libertando-os (At 5.19).
3º - A oração deve ser
dirigida a Deus. Você certamente vai dizer que isso é o
lógico. Mas quando falamos que a nossa oração deve ser dirigida a Deus é no
sentido de reconhecermos a Sua soberania e a Sua autoridade diante das
autoridades terrenas. Tem gente que pensa que seu problema é tão grande que nem
Deus tem poder para resolvê-lo. É saber que Aquele que está assentado no trono
é o único que pode intervir pelas nossas vidas (Ap 4.1-11; 5.13,14).
4º - A oração deve ser
específica. Os crentes estavam orando por Pedro,
para que o Senhor o livrasse. Não era uma oração vaga, mas uma oração a favor
dele. Não há causa perdida quando colocada diante de Deus em oração. Deus pode
tudo quando Ele quer, pois para Ele nada é impossível. Ele é o Deus que fez,
faz e fará maravilhas, quando quiser, onde quiser, com quem quiser, para louvor
de sua glória [7].
5º - A oração deve ser
comunitária. A igreja se reúne na casa de Maria, mãe
de João Marcos para clamar pela vida de Pedro. Provavelmente haviam outros
irmãos em outros lugares também fazendo a mesma oração. Mas o que queremos
dizer é que devemos orar juntos e não de forma isolada. Devemos, dentro do
possível, dividir as nossas dores para que juntos, como igreja unida, buscarmos
ao Senhor. Orar é unir-se ao Onipotente!
A
TERCEIRA LIÇÃO QUE APRENDO É O QUE ACONTECE QUANDO A IGREJA ORA (At 12.6-17).
A quantidade de escoltas
para manter Pedro preso é incrível. Herodes toma todo tipo de precaução para
evitar que Pedro escape. As esquadras que vigiam Pedro eram incomuns no Império
Romano, em que um grupo de quatro soldados faz rodízio em cada posto de
vigilância, cada grupo ficando de guarda por um período de três horas antes de
ser dispensado. Herodes designa quatro dessas escoltas, um total de dezesseis
soldados para a tarefa de vigiar Pedro. Talvez ele estivesse com medo de uma
fuga ou de um resgate; mas é bem provável que ele havia sabido do que havia
acontecido quando os apóstolos foram presos e de como eles haviam sumido de
dentro da prisão (At 5.17-25).
Pedro já estava na prisão
sete dias. Ele ficou durante o período da Festa da Páscoa. Durante todo esse
tempo a igreja permaneceu em oração, e Pedro permaneceu sereno, exatamente
naquele que seria a última noite da sua vida. Ele sabia que seria sentenciado à
morte no dia seguinte [8].
Diante desse quatro
podemos aprender algumas lições.
1ª – Não há cadeias que o
Senhor não abra para livrar os seus servos (At 12.6).
A situação de Pedro, dentro do natural, parecia sem esperança. Duas cadeias o
acorrentavam aos dois soldados que dormiam, um de cada lado dele; guardas em
frente a porta guardavam a prisão. No entanto, o que é isso para Aquele que
detém todo poder e autoridade?
O Senhor poderia ter
tirado Pedro assim que ele foi preso, mas o Senhor permitiu que ele continuasse
preso por sete dias. Creio que seja para nos mostrar que o agir é dele e no
tempo dele e não no nosso. Por isso que o seu livramento foi na última hora.
2ª – A oração do justo
pode muito em seus efeitos (At 12.7-11). De repente
aparece um anjo do Senhor – vemos aqui, mais uma vez, o ministério dos anjos
(Hb 1.14). Sendo que tudo isso ocorreu porque a igreja estava em oração.
Observe que o anjo quando
aparece resplandece uma luz em toda prisão, mas nenhum dos soldados percebeu a
presença desse ser angelical ali. Nem mesmo Pedro se deu conta da sua presença.
Foi necessário o anjo tocá-lo para que ele acordasse. A palavra empregada aqui
nesse texto dá a ideia de que o anjo lhe deu um tapa forte para que ele
despertasse do sono profundo que se encontrava. Uma igreja que ora faz toda a
diferença na terra, pois uma igreja que ora está ligada ao trono da graça.
Muitos milagres ocorrem
em nossas vidas e ficamos como quem sonha tal é a extensão do milagre.
Conta-se a história de
uma mulher crente, casada com um descrente. Esta, sempre insistia para que o
seu marido fosse à igreja. Ele não queria nem ouvir falar de Deus. Sempre ele
dizia: - meu deus é minha arma e meus dois cachorros. Sua esposa sempre antes
de dormir orava por ele pedindo ao Senhor que salvasse o seu marido. Ela sempre
lia o Salmo 61.1: “Ouve, ó Deus o meu clamor; atende à minha oração”. Um
determinado dia, entrou um ladrão em sua casa e ele ao ouvir os latidos dos
cachorros, atirou e matou o ladrão. Quando sua esposa apareceu, ele disse: Está
vendo? Os cachorros avisaram e minha arma atirou. Meu deus é minha arma e meus
cachorros. A mulher permaneceu orando todas as noites, pedindo que o Senhor
transformasse o seu marido. Numa certa noite, um ladrão entrou naquela casa,
sem que os cachorros percebessem. Ao chegar na sala, ele se deparou com uma
Bíblia aberta no Salmo 61. Ele pegou uma grande faca e estava determinado a
tirar a vida do casal para depois roubar-lhes os pertences, quando de repente
ele houve uma voz em oração que dizia - salva, Senhor, o meu esposo. Quando o
ladrão ia entrar no quarto, mais uma vez ele se deteve próximo à Bíblia aberta
e com a voz daquela mulher fiel em sua consciência: - salva senhor o meu
esposo. Ele ficou uma boa parte da noite com a faca na mão, mas sem forças para
entrar no quarto. De repente ele largou a faca em cima da mesinha, ao lado da
Bíblia e fugiu daquela casa. Ao amanhecer, ao acordar, o marido descrente
observou que sua casa havia sido invadida, pois a janela estava aberta. Foi
então que chamou a esposa e disse sobre o ocorrido e ainda viram aquela grande
faca em cima da mesinha da Bíblia. Foi então que aquele homem disse: - É
verdade, nem meus cachorros, nem minha arma impediram o ladrão de entrar aqui.
Sua esposa disse que eles estarem vivos foi uma providência divina, mas ele
insistiu que mesmo assim, seu deus era a arma e os cachorros.
Tempos depois, aquele
homem descrente, foi participar de uma guerrilha e foi abandonado quase morto à
beira de um rio. Apareceu um desconhecido que o levou para sua choupana, cuidou
dos seus ferimentos, até que ele ficou melhor. O descrente então deu o endereço
da sua esposa e o desconhecido foi chamá-la. Na hora da despedida o descrente
perguntou para o homem que havia cuidado dele, como poderia agradecer-lhe pela
generosidade em salvar-lhe a vida. O desconhecido disse: - agradeça a sua
mulher que orou por você, naquela noite que eu entrei em sua casa para matar
vocês. Eu era o ladrão e ouvir sua mulher orando e vi a Bíblia aberta. Não
consegui matá-los e hoje eu sou um homem convertido, e você um homem vivo,
graças às orações de sua mulher. Naquele momento, o marido descrente, que se
dizia ateu, se tornou um crente em Jesus Cristo. Quanto poder tem uma oração
sincera e perseverante.
3ª – A oração respondida
sempre irá surpreender a igreja (At 12.12-17).
Pedro imediatamente foi ao encontro dos seus amigos que estavam em oração por
ele. De acordo com a tradição posterior, foi na casa de Maria e seu filho João
Marcos que aconteceram a última ceia e o Pentecostes. Parece que era uma casa bem
espaçosa não só por causa do número de pessoas que podiam se reunir nela, mas
também porque tinha um pátio na frente e um portão externo pelo qual a pessoa
tinha aceso à casa [9].
Observe que Rode – Roseira em grego, ficou tão surpresa que
nem se quer lhe abriu o portão para que ele pudesse entrar. É irônico que o
povo que estava orando com fervor e persistência pela libertação de Pedro
pudesse considerar louca a pessoa que lhes informava que suas orações haviam
sido respondidas! A alegria simples de Rode brilha fortemente contra a escura
incredulidade da igreja [10].
Como nos fala o Salmo
126.1: “Quando o SENHOR restaurou a sorte
de Sião, ficamos como quem sonha”.
Há momentos que a
resposta das nossas orações parece um sonho diante de um grande pesadelo que
muitas vezes estamos enfrentando. Por isso não podemos esmorecer em nossas
orações. Deus sempre nos surpreende. Como nos fala Paulo em Efésios 3.20,21:
“Ora,
àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos
ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na
igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!”
A partir desse episódio,
Pedro não é mais citado no livro de Atos. Ele tem uma breve aparição no Concílio
de Jerusalém (At 15), mas a partir daí fica completamente ausente do relato do
livro de Atos daqui para frente.
QUARTA
LIÇÃO QUE APRENDO É QUE O SENHOR SEMPRE ENVERGONHA OS SEUS INIMIGOS (At
12.18-23).
O apóstolo Pedro, anos
mais tarde, escreveu sua primeira carta e, possivelmente, relembrando essa
experiência vivida na prisão, registrou:
“Porque
os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às
suas súplicas, mas o rosto do Senhor está contra aqueles que praticam males”
(1Pe 3.12).
Lutar contra Deus e
contra sua igreja é a mais consumada loucura. Ninguém jamais lutou contra o
Altíssimo e prevaleceu. Ninguém jamais perseguiu a igreja de Deus e logrou
êxito duradouro. Os inimigos de Deus podem parecer fortes, insolentes e vitoriosos,
mas eles cairão. Tornar-se-ão pó e serão reduzidos a nada [11].
Podemos tirar duas grandes lições desse texto:
1ª – Deus sempre
envergonha os seus inimigos (At 12.18,19). Diante do
ocorrido os soldados ficaram confusos e desesperados. O prisioneiro
simplesmente desapareceu. Sumiu como fumaça. E segundo a lei romana, se um
guarda deixasse um prisioneiro escapar, deveria receber o mesmo castigo que o
prisioneiro teria recebido, mesmo que fosse a pena de morte (At 16.27; At
27.42). E foi o que Herodes mandou fazer com esses soldados (At 12.19).
Depois disso,
provavelmente zangado, desgostoso e desapontado, Herodes deixou a Judéia (isto
é, Jerusalém) e foi para a outra capital provincial (Cesareia) e ficou por lá.
Ele achava que tinha sido envergonhado em Jerusalém, por isso nunca lá voltou
[12].
A Bíblia é bem clara quando nos diz em Provérbios
11.8:“O justo é libertado da angústia, e
o perverso a recebe em seu lugar”.
2ª – A soberba precipita
a ruína (At 12.20-23). Herodes tinha uma contenda antiga
com o povo de Tiro e Sidom já havia algum tempo. Os habitantes dessas duas cidades
portuárias da Fenícia eram rivais da Cesareia no comércio, mas dependiam das
colheitas de grãos de Israel para se alimentarem. Como bons políticos, eles
subornaram Blasto que era o principal oficial de Herodes para convencer o rei a
se encontrar com a delegação estrangeira. Esta era a oportunidade para o rei
orgulhoso como era demonstrar sua autoridade e glória e receber lisonjas.
De acordo com o
historiador judeu Josejo, a cena ocorreu durante uma festa em homenagem ao
imperador Cláudio e, nessa ocasião, Herodes vestia belíssimo traje de prata. Foi
no segundo dia da festa que Herodes entrou na arena ao romper do dia. Quando os
primeiros raios de sol tocaram seu manto, ele ficou todo iluminado pelo reflexo
da luz solar. Herodes começa então fazer o seu discurso, mas seu objetivo era
impressionar o povo. E conseguiu! Falaram ao ego do rei e lhe disseram que ele
era um deus, deixando-o absolutamente elevado.
Mas o texto nos diz que
Herodes não deu glória a Deus, de modo que essa cena toda não passou de
idolatria (Is 42.8; 48.11). Herodes que já era moralmente podre, tornou-se
fisicamente, tal qual uma madeira podre. Em vez de Pedro ser morto por Herodes,
Herodes é que foi morto pelo Deus de Pedro. O anjo que livrou Pedro da prisão
foi enviando para matar Herodes, assim como ele mandou matar os inocentes
soldados.
Segundo Josefo, Herodes
morreu cinco dias depois, no ano 44 d.C. com uma doença que atacou os seus
intestinos, sofrendo dores torturantes no ventre.
Nada disso impediu o
contínuo crescimento da Igreja ou a propagação do evangelho na Palestina e em
outras partes do mundo. Apesar da morte de Tiago, da prisão de Pedro e do
sofrimento de alguns irmãos, da atitude e morte de Herodes, a palavra de Deus
crescia e se multiplicava.
CONCLUSÃO
Quando a Igreja ora os
céus se movem a nosso favor, ainda que não pareça que esteja agindo assim. O nosso
Deus é o Justo Juiz, mas nem sempre julga a nossa causa de imediato, mas nem
por isso devemos duvidar do seu agir.
A Igreja deve orar em
todo tempo, para que no tempo pré-estabelecido pelo próprio Senhor Ele venha agir
em prol de seu povo. Como nos fala em Apocalipse 6.9-11:
“Quando
ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham
sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que
sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor,
santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre
a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram
que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número
dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram”.
Orar sem cessar essa é a
ordem que o Senhor nos dá.
Pense nisso!
Fonte:
2 – Swindoll, Charles. A Igreja Desviada – uma chamada urgente para uma nova reforma. Ed. Mundo Cristão, São Paulo, SP, 2012: p. 44.
3 – Aragão, Jarbas. Assembleia de Deus irá criar partido político. https://noticias.gospelprime.com.br/assembleia-de-deus-prc-partido-politico/, acessado em 09/09/2017.
4 – Stott, John. A Mensagem de Atos. Ed. ABU, São Paulo, SP, 2ª edição 2003, reimpressão 2010: p. 234
5 – Wiersbe, Warren W. Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, vol 5. Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2012: p. 587.
6 – Stern, David H. Comentário Judaico do Novo Testamento. Ed. Atos, Belo Horizonte, MG, 2008; p. 294.
7 – Lopes, Hernandes Dias. Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2012: p. 241.
8 – Ibid. p. 242.
9 – Gonzáles, Justo L. Atos, O Evangelho do Espírito Santo. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2011: p. 179.
10 – Stott, John. A Mensagem de Atos. Ed. ABU, São Paulo, SP, 2ª edição 2003, reimpressão 2010: p. 237.
11 – Lopes, Hernandes Dias. Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2012: p. 245.
12 – Horton, Stanley M. O Livro de Atos. Ed. Vida, Miami, Florida, 1983: p. 132.
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