quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O que é Calvinismo?


Por B.B. Warfield

É algo muito estranho como parece difícil para algumas pessoas entenderem simplesmente o que é o Calvinismo. E mesmo assim o assunto em si não é assim tão complicado. É um assunto capaz de ser expresso em uma única frase; e isso, em um nível de compreensão para qualquer tipo de pessoa religiosa. Pelo fato do Calvinismo ser a religião em sua forma mais pura. Precisamos então compreender a religião na pureza de sua essência para entendermos o que é o Calvinismo.

Em que atitude de espírito e de coração pode a religião atingir plenamente seus direitos? Não seria em uma atitude de oração? Quando nós nos prostramos perante o Senhor, não meramente com nossos corpos, mas com nossas mentes e corações, nós assumimos uma postura que acima de qualquer outra, merece ser chamada de uma postura religiosa. E essa postura religiosa por eminência é obviamente uma demonstração de nossa total dependência e humildade. Aquele que se achegar a Deus em oração, não vem com um espírito de auto afirmação, mas em um espírito de total dependência e confiança. Ninguém se dirige a Deus em oração dizendo: “Senhor, mesmo sabendo que Eu sou o arquiteto da minha própria sorte e aquele que determina o meu próprio destino. Tu podes fazer algo para me ajudar para que eu me assegure de meus propósitos, os quais Eu mesmo determinei. Mas meu coração pertence somente a mim, e Tu não podes se intrometer; minha vontade é só minha e o Senhor não pode incliná-la. Quando Eu desejar a sua ajuda, Eu o chamarei para que o faças. Enquanto isso, o Senhor deve esperar as minhas vontades”. Homens e Mulheres podem até raciocinar dessa forma; mas essa não é a forma que eles oram.

Alguém até já fez isso, de verdade, uma vez dois homens foram ao templo para orar. E um deles ficou de pé e orou para ele mesmo (pode até ser que essa expressão “para ele mesmo” tenha um significado mais profundo...), “Deus, eu te agradeço por não ser como os outros homens.” Enquanto o outro falando bem baixinho disse, “Deus tenha misericórdia de mim pois sou um pecador.” Mesmo admitindo que o primeiro declara uma certa dependência de Deus; pois ele agradece a Deus por suas virtudes. Mas nós não temos dúvida sobre qual oração esta embasada em uma atitude verdadeiramente religiosa. Só um demonstrou isso com clareza e dedicação.

Todo homem assume uma atitude religiosa, quando ora. Mas muitos deles parecem “encaixotar” essa atitude exclusivamente em momentos de oração e a descartam de suas vidas assim que dizem amém, pois ao levantarem seus joelhos, tomam uma atitude totalmente diferente, se não no coração, pelo menos em suas mentes. Eles oram como se fossem unicamente dependentes da misericórdia de Deus em suas vidas, mas vivem, ou pelo menos pensam que vivem, como se Deus em certas áreas, depende-se de sua ajuda. O verdadeiro calvinista é o homem que está determinado a preservar essa atitude que ele tem em seus momentos de oração por todo seu proceder e com toda sua mente. Então, pode-se dizer, que esse é um homem que determinou em seu coração que religião me sua forma mais pura deve determinar seus pensamentos, sentimentos e atitudes, de forma totalitária. Essa é a base de uma forma especial de pensar, usando um raciocínio que pode ser chamado Calvinista; e da mesma forma ter uma atitude diferenciada frente ao mundo em que vivemos, pela razão a qual ele tem se tornado uma grande força regeneradora nesse mundo. Outros homens são calvinistas quando estão de joelhos; mas, Calvinista é aquele homem que está determinado em seu intelecto, e coração, e continuará em uma atitude de entrega e dependência continua, e somente essa atitude governará seus pensamentos, sentimentos e ações. Calvinismo é, então, um tipo de pensamento que traz a seu pleno direito a verdadeira atitude de dependência em Deus e humilde confiança em sua misericórdia como único caminho à salvação.

Existem então dois tipos de pensamento religioso nesse mundo se puderem de uma forma não muito própria usar o termo “religioso” para ambos. Existe a religião de fé e existe uma religião de obras. Calvinismo é a pura incorporação do primeiro tipo citado; aquilo que tem sido conhecido através da história como Pelagianismo é a pura incorporação do segundo tipo citado. Toda e qualquer outra forma de ensino “religioso” que se conhece no meio cristão são somente tentativas instáveis de se posicionar entre as duas idéias. No inicio do quinto século, esses dois tipos fundamentais entraram em conflito direto em uma memorável forma personificada nas pessoas de Agostinho e Pelágio. Ambos estavam verdadeiramente envolvidos em uma busca intensa para a melhora da vida de homens e mulheres. Porém Pelágio em suas exortações colocava o homem como total responsável em seus atos; eles eram capazes, declarava ele, de fazer tudo aquilo que Deus havia ordenado, de acordo com suas próprias forças, pois se isso não fosse verdade, Deus não o teria ordenado. Agostinho ao contrário apontava os seres humanos em suas fraquezas e total dependência de Deus; “Ele mesmo”, disse Agostinho, em seu fervoroso discurso, “Ele mesmo é o nosso poder”.O primeiro pregava a “religião” baseada em uma autodependência, já o segundo pregava uma religião de total dependência em Deus; o primeiro pregava uma “religião” de obras; o segundo, uma religião de fé. O primeiro não pode ser considerado religião, seus ensinos representam mero moralismo; o segundo ensina verdadeiramente aquilo que significa religião. Somente nessa proporção essa atitude de fé pode representar nosso pensamento, sentimentos e nossa vida de forma verdadeiramente religiosa. Calvinismo representa esse tipo de pensamento no qual se proclama o Reino.

“Existe um estado da mente”, (disse o Professor William James em sua palestra sobre “A Variedade de Experiências Religiosas”) “conhecido pelo homem religioso, mas para mais ninguém, na qual a vontade de nos afirmar e nos assegurar é demonstrada por uma vontade de fechar nossas bocas e nos tornarmos totalmente passivos frente as enxurradas de bênçãos vindas de Deus.” Ele está descrevendo o que ele considera ser um verdadeiro espírito religioso, que é contrário o que ele mesmo chama de “mero moralismo”.

“O moralista”, ele nos diz, “tem que prender a respiração e manter-se tenso”; pois as coisas só darão certo para ele quando ele mesmo conseguir. O homem religioso, ao contrário, encontra sua consolação na sua total falta de poder; sua confiança não está em si mesmo, mas em Deus; e “o momento de sua morte moral se torna seu nascimento espiritual”.

O analista psicológico conseguiu captar a exata distinção entre o moralismo e religião. É a distinção entre acreditar em nós mesmos e confiar em Deus. E quando nós retiramos toda a confiança em nós mesmos, e a confiança em Deus toma conta de nossas vidas de forma total e pura, então nós chegamos à essência do Calvinismo. Sob o nome de religião, nesse mesmo nível, o que o Professor James descreveu é sem dúvida Calvinismo.

Nós podemos usar o testemunho do Professor James, então, como testemunho que a religião em seu nível mais elevado, é o puro Calvinismo. Existem muitas formas de ensinos religiosos no mundo, que não são Calvinismo. Pelo fato, os ensinos, mesmo dentro da própria religião freqüentemente nos oferece “partículas de luz”. Não existe uma religião verdadeira no mundo, entretanto, que não é Calvinista – Calvinista em essência, Calvinista em suas implicações. Quando essas implicações são externadas e afirmadas, e a essência chega a seu verdadeiro propósito, nós obtemos dela o puro Calvinismo. Na proporção de nossa própria religiosidade, nessa proporção, então, somos nós Calvinistas? E quando a religião chega de forma total ao nosso pensamento, sentimento e agir, então nós seremos verdadeiramente Calvinistas. Por essa causa, aqueles que tem experimentado ao menos uma pequena amostra dessas coisas, amam com toda sua força aquilo que foi chamado pelos homens de “Calvinismo”, algumas vezes com uma aparência de contentamento; e porque eles se inclinam a essa idéia com entusiasmo. Não é mera expectativa de uma verdadeira religião no mundo: É a verdadeira religião no mundo, na total possibilidade que uma verdadeira religião no mundo tem de existir.

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