sábado, 11 de dezembro de 2010

Davi e o envelhecer: guerreiros não duram para sempre.



Por Alan Brizotti


As pessoas quando envelhecem tendem a ser desumanizadas pela sociedade. É o caso de artistas, celebridades, executivos, líderes eclesiásticos. Confunde-se a vocação com a pessoa. Muitos líderes eclesiásticos são descartados quando a idade chega. Ignorados e esquecidos, sofrem de uma solidão ministerial absurda que os leva a questionar até mesmo se valeu à pena ter lutado tanto.

O choque de gerações acirra ainda mais essa crise. Muitos “meninos” que ainda não andaram sequer a primeira milha se julgam superiores a tudo e a todos. Millôr Fernandes, no álbum do fotógrafo gaúcho Robinson Achutti, escreveu:

“Qualquer idiota pode ser jovem. Em poucos anos se consegue isso. Mas caras jovens são fotograficamente aflitivas. Não têm biografia. Chapas sem emulsão. Lisas. Pois é preciso muito tempo para envelhecer. E muito talento. O supremo talento da sobrevivência” .

Davi também passou por isso, e pode nos ensinar muito. Observemos dois textos de dois momentos diferentes da vida de Davi: Em I Samuel 18.7, o guerreiro – e jovem – Davi é celebrado nas canções: “As mulheres, dançando, cantavam umas para as outras, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares”. Em II Samuel 21.16 e 17, o velho Davi está em mais uma das muitas guerras contra os filisteus e quase é assassinado:

“E Isbi-Benobe, que era dos filhos do gigante, cuja lança de bronze pesava trezentos siclos, e que cingia uma espada nova, intentou matar a Davi. Porém Abisai, filho de Zeruia, o socorreu, e feriu o filisteu e o matou. Então os homens de Davi lhe juraram, dizendo: Nunca mais sairás conosco à peleja, para que não apagues a lâmpada de Israel”.

Fico imaginando como deve ter sido difícil para Davi. A dor do velho guerreiro. Não mais o cabelo vermelho, os músculos; agora, a face enrugada, a pele flácida, o cabelo branco denunciam que o guerreiro se foi. Mas o que era para ser frustração, vira excelência (Sl. 92. 12-14). Surge um Davi melhor! Um cantor com muito mais experiência. Ele não era só mais um guerreiro – ele era a “lâmpada de Israel” . Os salmos mantinham a lâmpada acesa.

Nosso problema no século XXI é que ainda buscamos os guerreiros e não as lâmpadas. Deus procura por pessoas que não deixem sua luz se apagar. Pessoas que saibam, como dizia um pensador antigo, que “se a chama que está em ti se apagar, as pessoas ao teu lado morrerão de frio” . Minha oração é para que as gerações mais novas não se percam na escuridão pós-moderna, pois as lâmpadas ainda estão acesas!

Davi é isso! Simplesmente fascinante. Nenhum personagem bíblico causa tanto impacto em nós quanto ele. Davi não é descrito operando grandes milagres como Moisés e Elias não têm a fé de Abraão, muito menos a famosa paciência de Jó. Ele não tem a teologia elaborada de um Paulo, não conhece os mistérios como Daniel. Davi é exatamente como Deus queria que ele fosse. Por isso ele fascina tanto. Por isso sua história não envelhece. Davi é nosso. Nosso irmão de caminhada. Quando peco, e a crise me invade, Davi é meu confidente, companheiro e amigo. Quando preciso de conselhos, sei a quem escutar. Quando o coração se aflige, há sempre um salmo de Davi por perto .

Fonte: Genizah

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