sexta-feira, 4 de junho de 2010

Um pouco de teonomia & justiça social


Por Jorge Fernandes Isah

Há algum tempo que não assisto noticiários de tv, nem ouço rádios ou leio jornais. Parecerá que estou alienando-me, vivendo à margem do meu tempo, e precindindo de informações que me tornariam capacitado a participar de qualquer "papo" na fila do banco ou na sala de espera do consultório dentário. Não posso deixar de assumir que boa parte da minha aversão aos noticiários se deve ao cansaço com as "caras" dos apresentadores, seja o casal Bonner, a Padrão ou o Casoy; com o mesmo tom de voz dos radialistas, ou com as manchetes repetitivas dos periódicos. As notícias parecem saídas do túnel do tempo, revelando o mofo e a poeira, como se estivessem prontinhas, apenas aguardando para serem anunciadas.

Mas seria leviano se este fosse o único motivo. Não é. No fundo, as notícias têm me deixado triste, com uma tristeza que me leva as vezes à melancolia, outras, à ira. A fonte é uma só: a injustiça, o abandono da verdade e da moral bíblicas. E o que vemos são inversões de valores, com a desculpa de se favorecer e privilegiar o homem, quando o homem está sendo consumido e destruído por si mesmo. A origem é capitaneada pela falsa premissa de que ele tudo pode, tudo merece, tudo lhe pertence; e, para isso, a verdade e o absoluto têm de se moldarem ao novo padrão exigido: o patamar quase supremo do hedonismo humanista, onde a idéia máxima de prazer inflinge-lhe novas feridas, sem nenhuma chance de cura. Todos os caminhos subsistem por ele, mas ele não se sustenta em nenhum deles, chegando invariavelmente onde jamais pensou em estar: o assombroso abismo.

O homem acredita-se senhor do seu nariz sem sequer conhecer anatomia; mas o empenho impetrado em rejeitar Cristo, o submete à maior de todas as loucuras: a desesperança que nenhum delírio pode solapar. Cristo, quando muito, torna-se um exemplo a mais, entre tantos, do que o homem pode ser ao se esforçar. Mas não é preciso dedicar-se, pois qualquer homem é melhor do que a moral cristã, ao ponto em que a indiferença da moral o levará fatalmente a imoralidade. É claro que estamos falando do ponto de vista intelectual; na prática, o que acontece é a imoralidade no trato com os outros, e a exigência moral no trato de outrem consigo mesmo; resultando sempre em um padrão de imoralidade, o que afinal de contas é a hipocrisia.

Acontece que sem Cristo, em qualquer época e lugar, poderemos chamar esse momento de "Idade das Trevas", pois o homem estará à própria sorte, sem freios, entregue ao máximo de iniquidade e injustiça que se pode obter em termos... humanos.

O que temos visto no mundo? O padrão moral divino está sendo relativizado, abandonado, e posto sob o olhar humanista e, com isso, a justiça está moribunda, agonizante, em vias de morrer. Pois se a moral bíblica, a qual nos foi entregue pelo próprio Deus, deixar de ser o escopo para se fazer a justiça, o que teremos é a mais pura, maquiavélica e sórdida injustiça, nos moldes dos movimentos tirânicos e dos governos totalitários surgidos na história, emergidos das profundezas do inferno, e que fizeram valer a máxima de que o mal, quando acalentado pelo homem, não tem limites em sua capacidade destrutiva.

A nova ordem surge com a "onipresença" e "onipotência" do Estado, o novo guardião da (i)moralidade. Para isso, abolir-se-á o sentido de culpa e inocência, de moral e ética, de certo e errado, para serem todos condicionados ao ditames corrompidos e malignos que o Estado impõe à população. De tal forma que suas ações são claramente objetiváveis: trazer o caos, a insegurança, a desestabilização social, para suprimir qualquer idéia de moral bíblica, e assim forjar o seu próprio conceito de moral, sempre atrelado e alimentado pelo dogma da perenidade governamental. Por esse, e outros fatores, podemos considerar que já estamos na "Idade das Trevas", onde a justiça baseia-se unicamente naquilo que o Estado moderno considera justo [segundo as diretrizes ilegítimas do agir arbitrário]. De dentro dele surgem organismos que o alimentam e são nutridos por ele: partidos, fundações, ong's, movimentos cívis, etc, com o intuito de perpetuar-lhe o poder. E, com isso, o controle sobre cada indivíduo... ao menos a pretensão de tê-lo.

Por que há tantas leis, e leis que regulamentam as primeiras, e leis complementares que regulamentam as segundas, e tantos mecanismos jurídicos para regulamentar princípios nitidamente desorientados em seu não-cumprimento? O objetivo é um só: criar a idéia de ordem social desnecessária na desordem oportuna, onde o alicerce moral é destruido por força de um congestionamento legal pelo qual o arbítrio do Estado se faz indispensável. Seria o mesmo que produzir um engarrafamento de trânsito para que a ambulância [o Estado] passasse. Contudo, ela também está paralisada pela obstrução; e o que era anormal [o transtorno sistêmico] se torna normal [o transtorno inevitável]; facilitando a introdução do absurdo, da readequação ao absurdo, como suficiente para normatizar a insensatez, a irracionalidade e o disparate como o axioma a proteger o tolo. Suas diretrizes serão mexidas ou readaptadas conforme os interesses desgraçadamente malignos.

Assim, Deus deixa de ser o legislador para que o Estado ocupe o seu lugar e legisle para si mesmo, produzindo leis e mais leis que o sustentem e mantenham a sua vontade irretocada, ao invés dele se sujeitar não à vontade do povo [uma falácia conceitual] mas de Deus. Em nome do bem-estar comum, promovendo a justiça, como prerrogativa divina estabelecida na Lei Moral.

O Estado é um devorador contumaz e assaz e, para isso, é necessário controlar tudo, seja a educação, a família, a igreja, a ciência, etc; moldando o homem à imagem daquilo que o Estado quer [os planejadores e ideológos por trás da "máquina"], produzindo injustiça, injustiça, sempre mais injustiça.

O que era considerado imoral passará a ser moral a partir de uma lei ou decreto, e o que era moral se tornará imoral a partir da mesma lei ou decreto, de uma "canetada" burocrática.

O exemplo mais claro são as leis que discriminalizam o aborto, a pederastia, a pedofilia [já existem projetos mundo afora que tencionam acabar com este crime; e até um partido político já existe na Holanda para defender os "direitos" de pedófilos legitimarem suas perversões], e se chegar ao ponto em que roubar ou matar não serão considerados crimes, bastando a "boa vontade" do Estado em promulgá-las.

Por isso a convicção de que se deve combater os valores cristãos, principalmente nas igrejas, entre os crentes [que ingenua e ignorantemente têm o bem por mal e o mal por bem]; e ao serem relativizados ou acolhidos como morais, levar-nos-á a ser manipulados e controlados, não pela perfeição, santidade e sabedoria divinas presentes na Lei Moral, mas pela legislação do Estado usurpador, imoral e demoníaco.

A relativização da justiça acarretará, como já acontece, com a magistratura legislando, a legislatura magistrando, o executivo legislando, magistrando e intermediando a (in)justiça, sempre segundo a mente caída deste século, segundo o príncipe das trevas, ao qual o humanismo e suas várias vertentes [inclusive teológicas] estão a serviço.

Enquanto a Lei Moral não for reconhecida como o código máximo e perfeito para a implementação da justiça no mundo, estaremos colaborando e fomentando a injustiça e valores antibíblicos. Cabe aos crentes orar por um mundo melhor. Por governos melhores. Por leis em conformidade com o padrão divino. Cabe-nos proclamar o Evangelho de Cristo, suficiente para trazer paz tanto a eleitos como a ímpios. Mas, também, cabe-nos participar ativamente da vida social, política, econômica, sendo luz em meio à escuridão, a fim de que esses postos não sejam ocupados pelos agentes do mal, e, desta forma, como instrumentos de Deus, restringir-se a injustiça.

Para que a justiça prevaleça.

Nota: 1- Ao invés de se buscar uma "justiça social" segundo o padrão revolucionário marxista, os cristãos deviam buscá-la na Escritura, através da Lei Moral. Deus deu-no-la, não o manifesto comunista de Marx, a teologia da libertação ou a missão integral.

2- Esta tentativa visa ordenar, ainda que sem o conhecimento necessário, alguns pensamentos que tenho sobre a validade e aplicabilidade da Lei Moral para os nossos dias. Há opositores que dirão ser impossível. Digo, porém, que impossível é qualquer tentativa de se aplicar a justiça à margem da Lei Moral. Ela é o padrão definitivo e perfeito da vontade absoluta de Deus para os homens; que pela queda ficaram impossibilitados de estabelecer e até mesmo compreender o conceito de justiça.

3- Ainda que possa parecer, este não é um texto reconstrucionista, no sentido de que eu acredite na livre-vontade do homem em se submeter à Lei Moral, para todos vivermos num mundo de completa paz. Apenas considero que o cristão deve levar à prática, através de providências concretas, o estabelecimento da Lei Moral como o padrão de justiça, e, assim, trazer paz aos que querem paz, e punição aos que se opõem a ela.

4- O fato de não ver, ler e ouvir noticiários diários não implica em indiferença intelectual. Prefiro selecionar minhas fontes, e de certa forma, diversificá-las. Qualquer um poderia saber o que acontece hoje, lendo o jornal de cinquenta, cem anos atrás. Pode ser um exagero, mas não tão distante da realidade.

Fonte:KÁLAMOS

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