sexta-feira, 4 de junho de 2010

A liberdade da vontade


Por Paulo Brasil

Quem é o homem? A resposta a este questionamento tem construído caminhos que levam aos mais diversos destinos. Mas, ao orientarmos nossa atenção ao ponto final dessas estradas cometemos um grave erro, erro de método. Pois negligenciamos a verificação da autoria e dispensamos energia na refutação dos princípios, argumentos e conclusões vindos em nossa direção. A legitimidade da autoria facilita sobremaneira os passos do inquiridor. A existência de apenas duas possibilidades, Deus ou o homem, permite-nos a escolha sem percorrer os inconclusos e confusos devaneios do psicologismo. À frieza dos fatos, a análise comparativa aponta para uma vantagem infinita em favor do todo sábio Senhor, que afirma: “Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a sabedoria o entendimento dos entendidos. Onde está o sábio? Onde o escriba? Onde o questionador deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?” (1Co 1:19.20) .

Os espíritas, católicos e a multidão de apóstatas que estão alicerçados sobre a areia das teorizações humanas que proclamem suas mentiras, bradem contra o Santo, o Juiz de toda terra, pois não lhes tarda o juízo inclemente. No regozijo soberbo da aclamação pelas multidões não está a garantia da verdade, afirmo-lhes a eternidade o provará.

Nosso Senhor Deus não tem ânimo dobre, Nele não há sim e não ao mesmo tempo. Logo nos sobrevém o aviso aos que têm a predisposição da exaltação pessoal: não retiraremos das Sagradas Letras o sim e o não nesta questão. Apenas uma única verdade emanará do Senhor, mesmo que para isto caiam mil à minha direita, outros mil à minha esquerda, pois sei, que ela virá como a alva, clareando mais e mais até ser dia perfeito.

O tempo urge e não nos detenhamos na avaliação dos valores e motivos dos homens com suas verdades de plantão. As astúcias de satanás não lograrão êxito em nossa semeadura. Novamente, clamo ao Altíssimo que a peregrinação sensata através das Escrituras seja nossa semeadura, e que ao final com cestos fartos cheguemos às respostas vindas do Senhor, afago celeste para nossas almas e solidez espiritual para nossas mentes. Que nos envie luz para nossas mentes sombrias e fugazes.

Necessário é retroagirmos no tempo, chegarmos ao tempo quando não havia tempo, nele a Triunidade Santa se contemplava, se comunicava e se conhecia. Havia vida, vontade e virtudes e nenhum mal por lá era encontrado. Deste cenário, surge o ato do Criador, vindo à existência os céus e a terra, ecoando pela imensidão do universo: Haja luz, e houve luz. Um clarão perpassou por toda a extensão criada, astros, estrelas, tudo foi iluminado, chegando aos quatro cantos de toda criação. A luz foi separada das trevas, pois elas não se podem confundir. Pelo poder de sua palavra, estavam, com todo o esplendor, criadas todas as coisas, as conhecidas, as que não conhecemos e aquelas que um dia viremos a conhecer.

Ali foram criados e seriam provados homem e mulher. Um teste divino para garantir-lhes a santidade eterna. Desfrutavam da comunhão plena com o Triuno Deus, senhor de todo o universo. Minha pobre mente limita-se apenas a balbuciar: inimaginável.

Todas as sugestões que ousam definir particularidades antes do pecado, são apenas sugestões. Sabemos que nossos pais, dotados de atributos divinos, receberam as bênçãos do Senhor para representá-Lo ante toda a criação. (Gn 1.26-28).

Contemplando a obra de suas mãos, o Criador, deleita-se e declara: é muito bom. Devemos nos perguntar, porque aqui vemos esperança, vemos a eternidade: O que seria muito bom para Aquele que pode todas as coisas? Muito bom para Aquele que é todo santo? Um dia O veremos, ao enxugar nossas lágrimas, O ouviremos: muito bom. Emanam das páginas sagradas a mais singela formosura, a mais cândida paz, é possível ouvir o cântico dos pássaros que em revoada cruzavam o céu antecipando o alvorecer daquele dia muito bom.

Um salto na leitura e chegamos ao cap. 3. Estupefatos, estamos diante de uma linguagem ameaçadora que trazem palavras novas: maldita (14); inimizade (15); sofrimentos, dores (16); maldita é a terra, fadiga (17); e ao antecipar a transitoriedade do homem: “durante os dias de tua vida”, prolata a sentença santa contra a desobediência: voltarás ao pó da terra (19). Os cânticos de paz, a comunhão com Deus, as bem-aventuranças oferecidas a Adão foram-lhes retiradas. Nosso pai sucumbiu diante da provação, escolheu livremente a morte. Expulso pessoalmente pelo Senhor (23), jamais voltaria à condição usufruída antes do pecado. Além da natureza corrompida pelo pecado, foi lançado em um ambiente também corrompido pelo pecado, sua opção pela morte incluiu a todos nós. O paradoxo da liberdade nos tornou escravos da morte, estamos livres para praticar o pecado. Construída estava sob a sentença divina a eterna impossibilidade do homem, agora pecador, retornar por si só, a desfrutar dos benefícios e privilégios da comunhão com o Senhor.

A mais profunda mudança foi operada naquela natureza santa criada por Deus, a perda da condição original, mesmo que preservados os atributos divinos, a morte passou a fazer parte da natureza humana, todo o ser foi afetado, intelecto, sentimentos e vontade.

A possibilidade de pecar, foi transformada na impossibilidade de não pecar. O que vemos, e aquilo que não vemos está corrompido e pronto para praticar o mal. Não é necessário que venha a praticá-lo em toda plenitude, apenas nele há o arcabouço da capacidade de realizá-lo. Este é o homem que conhecemos, vindos do varão e da varoa, nascidos da carne, esta é a geração de Adão.

Todos os nascidos de Adão, por natureza, são inimigos de Deus. Caim, o primeiro nascido, oferece-nos o registro ideal da extensão do pecado de seu pai. Em Gênesis 4 lemos que Caim irou-se contra Deus. E o Senhor questionando a Caim, nos oferece uma descrição da vontade do homem após o pecado: “Porventura se procederes bem, não se há de levantar o teu semblante? e se não procederes bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar.” Em Caim aprendemos que a descendência de Adão não mais é possuidora da capacidade de enfrentar e vencer o pecado. A condição vivida por Adão, submissão ao pecado, passou para todos. Caim não domina o pecado, conforme a orientação do Senhor, pelo contrário, sucumbe a ele como seu pai o fez, consumando sua vontade pecaminosa.

Tomemos a seqüência de eventos, a partir do pecado de Adão, para nos convencermos da completa incapacidade do homem reagir livre de sua natureza pecaminosa. Primeiro o homem cede à tentação e peca; depois sua natureza humana é afetada pelo pecado, e o homem, ao ouvir a voz do Senhor, teme-O e esconde-se; depois é lançado fora do ambiente original perdendo todos privilégios, segue para um mundo afetado pelo pecado; depois manifesta sentimentos de inimizade contra Deus, e por fim sua vontade demonstra a servidão ao pecado, ao ser incapaz de vencer o pecado. E mais há, o Senhor nos confirma a condição do coração do homem ao trazer o dilúvio sobre toda a terra: “Viu o Senhor que era grande a maldade do homem na terra, e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era má continuamente”. (Gn 6:5) E ainda, temos o referendo pessoal do Apóstolo Paulo: “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito, o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está.” (Rm 7.18).

Quem é o homem? Nossa peregrinação através da Escrituras, trouxe-nos até este ponto, não podemos após a colheita furtarmo-nos a resposta: o homem de Adão até nosso dias, gerados pela carne, é uma criatura de Deus que está sob a maldição da morte, e sua vontade é livre apenas em direção ao pecado e a morte, e que nenhum bem, segundo Deus, é capaz de realizar; que não pode libertar-se de sua natureza pecaminosa.

Caso assim não fosse, como entender a graça, a misericórdia, a bondade do Senhor? Que sentido haveria na santidade, na justiça? Olhemos em nossa volta, contemplemos o mundo construído pelo homem, há um cenário mais desolador? A beleza que ainda resta na criação está sendo tomada pela usura, pelo pecado. Sim, nossa observação e nossos corações se acomodam a triste realidade que todos estão inseridos. Todos precisam quedar-se a verdade de Deus.

Exaltemos ao nosso Deus e meditemos em suas palavras para que venham com mais vigor Sua benignidade: "porque sem mim nada podeis fazer". Jo 15:5

Concluímos assim, não porque o desejássemos, não por ouvir nossas próprias vozes ou atendermos aos nossos corações, mas simplesmente deixamo-nos conduzir pelos ensinos do Mestre. Foram textos simples, de fácil compreensão, afago celeste para nossas almas e solidez espiritual para nossas mentes. Muito mais tem a Escritura para confirmar tal veredicto, mas espero no Senhor que nossa colheita seja suficiente para alimento e engrandecimento do Senhor, pois na sua habitação continua a vida, vontade e virtudes e nenhum mal por lá é encontrado. E que palavras que rejeitem tal testemunho, colocando o homem como um ser intrinsecamente bom, que se encontra em processo de aperfeiçoamento e melhoria, sirvam como combustível para manter acesas as chamas da condenação eterna.

Ao Rei eterno imortal honra, louvor e glória para todo o sempre.

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