domingo, 20 de setembro de 2009

Calvino - Inimigo Público Número 1


Por Adalberto A. R. Taques

Em uma recente série de posts de um blog, tenho visto ataques desconjuntados a teologia de Calvino. Recém chegado ao mundo dos blogs, esse em especial serviu-me de inspiração para começar a postar. Considerei o posicionamento de seu autor que empresta seu nome ao blog de uma sobriedade incomum em nossos dias. Me afeiçoei aos ataques embasados e bem humorados à teologia da prosperidade. Mas agora, para minha surpresa, me deparo com uma perseguição passional ao Reformador.

Sei que o blogueiro não é o primeiro, e nem será o derradeiro, mas não deixa de ser incomodos os ataques tão saturados como os dele. Calvino, por esse tipo de miopia, parece resumir-se a doutrina da predestinação (chamada provocativamente de teoria predestinista). Pondero se alguém como o Reformador deveria ser lembrado apenas pelo que discorreu sobre esse tema. Creio que não, por uma questão de lucidez e justiça. Não há um correto entendimento da doutrina da predestinação em Calvino sem uma ampla consideração aos seus demais escritos. E também esse tema não é o cerne do pensamento do Reformador. Para visualizar Calvino, homem falível e pecador como todos, mas de uma magnitude assemelhada por poucos na história, seria preciso considera-lo em seu histórico, tanto em sua formação como em seu ministério. Considerar sua produção doutrinária em suas cartas, comentários e demais tratados. Analizar o complexo das Institutas da Religião Cristã começando pelas sequentes edições e sua organização. Ter em mente o efeito causado pelo que veio a ser chamado sistema calvinista no cenário de seus dias e nos séculos seguintes.

É estranho que Calvino sofra uma perseguição solitária quanto a doutrina da predestinação. Lutero, seu antecessor, volumetricamente tratou mais desse tema em suas cartas que o colega francês, mas pouco é lembrado por isso. Também quase não se fala de Agostinho pelo seu firme posicionamento contra Pelágio. É provavel que Calvino seja martirizado em razão de suas profundas e lógicas afirmações à dupla predestinação - tanto para salvação e quanto para perdição eterna. Mas, ainda assim, seria de bom tom que os ataques fossem compartilhados com outros teólogos da história. Creio, ao que tudo indica, que a intensão conspiratória é fazer parecer que Calvino inventou a predestinação.

Creio que no que se trata de predestinação, um assunto tão inflamado para muitos, não existe campo neutro em nem um outro lugar. Sou franco e direto ao afirmar que o Calvinismo ao meu ver é muito mais fidedigno em sua exposição bíblica que o arminianismo, o semi-pelagianismo, e o pelagianismo. Estes sim têm como dívida histórica a obrigação de se posicionarem com franqueza. Afirmem nitidamente seu parecer de que Deus fez quase tudo, nada, ou quase nada pelo homem. Assumam que de um lado querem ter algum mérito em sua salvação, e, de outro, querem absolver Deus do que possa parecer uma condenação injusta. Mas Deus não divide a sua glória, e não precisa de advogados. Ele é o soberano Juiz de toda a Terra. Ele (graciosamente) já respondeu sobre esse assunto quando falava ao seu servo Jó: Quem primeiro me deu a mim, para que eu haja de retribuir-lhe? Pois o que está debaixo de todos os céus é meu. (Jó 41.11). Em suma, Ele não deve nada a ninguém, pois tudo é dele. Que Deus conceda graça aos arminianos, pelagianos e semi-pelagianos, para entenderem e afirmarem como Jó, que Deus é soberano, que Ele tudo pode, e só não pode ser frustrado em nenhum de seus planos (Jó 42.2).

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