sábado, 17 de dezembro de 2022

A PARÁBOLA DA FIGUEIRA INFRUTÍFERA - Lucas 13.6-9

Por Pr Silas Figueira

Texto base: Lucas 13.9-6

INTRODUÇÂO

Matthew Henry diz que esta parábola tem o propósito de reforçar aquela palavra de advertência que veio imediatamente antes: “Se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis; a não ser que mudeis o vosso comportamento, sereis destruídos, como uma figueira estéril; a não ser que gereis frutos, sereis cortados”. [1] Podemos dizer que Jesus está concluindo o seu sermão a respeito do arrependimento com esta ilustração. Esta parábola começa com um plantio e termina com uma ameaça de arrancar o que fora plantado. [2] Uma parábola simples, mas que não deixou dúvidas do que Jesus estava falando.

Quais as lições que podemos tirar dessa parábola para as nossas vidas.

1 – A FIGUEIRA SIMBLOLIZA ISRAEL (Lc 13.6,7).

Era um costume na Palestina antiga, assim como hoje, plantar figueiras e outras árvores nas vinhas. Era um meio de utilizar cada pedaço disponível de boa terra. A figueira aqui, como em todo o simbolismo bíblico, refere-se a Israel. [3] Havia em Israel árvores que eram comuns (figueiras e figos são mencionados mais de cinquenta vezes nas Escrituras), em condições favoráveis as figueiras podem atingir uma altura de quase sete metros. Além de fornecer frutas, figueiras foram uma excelente fonte de sombra (cf. Jo 1.48).

Diante desse quadro, podemos tirar três lições aqui:

1º - Em primeiro lugar, Israel recebeu privilégios especiais de Deus. John C. Ryle diz que do coração ao qual Deus outorgou privilégios espirituais Ele espera receber retorno proporcional [4]. Foi o que ocorreu com a nação de Isael. A nação recebeu de Deus o mais alto privilégio entre todas as nações. O comentário de que Deus plantou Israel como “figueira” em sua vinha expressa que Israel não se tornou povo de Deus por via natural, mas que, como uma árvore plantada de maneira especial, foi chamado para um relacionamento extraordinário com Deus por meio de atos singulares de Deus (Dt 7.6-8; Sl 80.9,15). Quando, pois, a figueira foi plantada na vinha de seu proprietário, ela obteve um privilégio especial. Israel desfrutou do privilégio de ser povo de Deus durante todo o curso de sua história.[5] Eles haviam sido separados das outras nações pela lei e ordenanças de Moisés, bem como pela situação de sua própria terra. Haviam recebido revelações que Deus não concedera a nenhum outro povo. É razoável pensar que que haveria em Israel mais fé, arrependimento, devoção e santidade do que entre os pagãos [6]. No entanto, não foi isso que ocorreu. Jesus enfrentou da parte dos líderes judeus a mais dura incredulidade, além de, no fim do seu ministério, a morte por parte deles.

2º - Em segundo lugar, Israel tornou-se uma nação estéril. A figueira na Palestina dá fruto dez meses em cada ano, de forma que quase em qualquer tempo o dono pode encontrar fruto nela [7], no entanto essa figueira da parábola estava estéril. Jesus coloca o cenário com uma figueira numa vinha (e, portanto, em solo fértil). Faz três anos que o dono vem procurando fruto, o que parece indicar uma árvore bem-estabelecida. A falta de dar frutos em três anos parece um mal sinal. Seria improvável que tal árvore desse fruto no futuro. Destarte, o dono dá a ordem: pode cortá-la. Além de não dar frutos, estava ocupando terreno que doutra forma poderia ser produtivo. [8]

3º - Em terceiro lugar, o dono da figueira veio procurar fruto.  Embora a figueira estivesse na vinha, ela não tinha outro propósito a não ser dar fruto. Da mesma forma, Israel só tinha uma razão para ocupar o primeiro ou qualquer outro lugar: cumprir a missão que lhe fora dada por Deus. Visto que a figueira era infrutífera, não teria o direito de existir; e visto que Israel se recusava a cumprir sua missão determinada por Deus, não tinha o direito de continuar.[9] Esta árvore também nos traz à memória a bondade especial de Deus para com Israel (Is 5.1-7; Rm 9.1-5) e sua paciência com eles. Deus esperou três anos durante o ministério de Jesus aqui na Terra, mas a nação não produziu frutos. Assim, esperou mais cerca de quarenta anos antes de permitir que os exércitos romanos destruíssem Jerusalém e o templo; e, durante esses anos, a Igreja testemunhou com poder a mensagem do evangelho. Por fim, a árvore foi cortada. [10]  

Da mesma forma que Israel era a videira de Deus, plantada por Deus, cuidada por Deus, assim nós somos a figueira de Deus, plantada e cultivada por ele. Ocupamos uma posição especialmente favorecida. Deus separou Israel dentre as nações. Protegeu, abençoou e deu sua lei, suas promessas, seus milagres e seus profetas. De igual modo, a nós, ele nos deu sua Palavra, o evangelho, o seu Espírito, a sua presença, o seu poder. Ele espera de nós frutos espirituais. Ele não se contenta com folhas. Ele quer frutos.[11]

A igreja atual não é estéril, muito pelo contrário, alguns ministérios têm dado muito fruto, mas o grande problema que tenho visto é que o fruto que está sendo produzindo é um fruto que não serve para consumo, pelo menos, não para Deus. A figueira (igreja) não está sendo adubada com a Palavra de Deus, mas com outras coisas. Quando olhamos para a igreja vemos que ela tem sido adubada com teologia liberal, teologia inclusiva, teologia da missão integral, evangelho da prosperidade, com o relativismo teológico... adubos esses que fazem com que a igreja gere frutos impróprio para o consumo. São frutos venenosos. São frutos amargos cheio de pecado. Que não servem para Deus e nem para os que amam ao Senhor, mas tem servido de alimento para os que não querem um relacionamento de santidade com Deus e observam com afinco a Sua Palavra. Em muitos ministérios o alimento não tem sido pastagens verdejantes, mas lavagem para porcos.

2 – A INTERCESSÃO DO VINHATEIRO (Lc 13.7-9).

Para entendermos melhor a profundidade dessa intercessão precisamos conhecer o contexto histórico. No livro de Levítico 19.23-25 lemos: “E, quando tiverdes entrado na terra, e plantardes toda a árvore de comer, ser-vos-á incircunciso o seu fruto; três anos vos será incircunciso; dele não se comerá. Porém no quarto ano todo o seu fruto será santo para dar louvores ao Senhor. E no quinto ano comereis o seu fruto, para que vos faça aumentar a sua produção. Eu sou o Senhor vosso Deus”.

Leis da Árvore Frutífera Incircuncisa. Por três anos, o fruto de uma árvore frutífera não podia ser consumido pelos filhos de Israel. Portanto, não podia ser vendido. Se alguém comesse de tal fruto, seria açoitado com quarenta açoites menos um (nos dias do segundo templo). No quarto ano, o fruto era colhido e dedicado a Yahweh, como oferta pacífica (de agradecimento). Somente no quinto ano seu fruto podia ser colhido e comido. Nesse ano, a árvore era desnudada de seu fruto, ficando assim completa a circuncisão da árvore. Dali por diante, o fruto daquela árvore pertencia ao proprietário, para uso próprio ou para comercialização. [12]

O dono da vinha não viria procurar do fruto impuro para consumo, mas provavelmente veio buscar no quarto ano para oferecer a oferta ao Senhor, no entanto, em ano nenhum ela havia produzido fruto. Pelos cálculos já haviam se passado entre sete a oito anos e a figueira continuava improdutiva.

Com isso em mente, podemos destacar algumas lições importantes para nós.

1º - Em primeiro lugar, a figueira aqui um é símbolo de julgamento (Lc 13.7). Os profetas do Antigo Testamento usavam com frequência a figueira como símbolo de julgamento (Is 34.4; Jr 29.17; Os 2.12, 9.10; Jl 1.7; Mq 7.1). A figueira funciona de forma semelhante nessa parábola, na verdade funciona enfaticamente assim, pois Lucas a coloca de forma proeminente no ponto mais importante da sentença e fala três vezes se sua falta de produtividade (vv. 6,7,9). [13]

A sentença que lhe foi dada: Corta-a. Note que nenhuma outra coisa deve ser esperada com relação a árvores estéreis além de serem cortadas. Assim como a vinha infrutífera é derribada, e transformada em pasto (Is 5.5,6), as árvores infrutíferas na vinha são retiradas e se secam, João 15.6. [14] O dono da vinha na parábola simboliza Deus Pai; o vinhateiro simboliza Cristo ou o Espírito Santo – Ele é o homem que poda as videiras e cuida da vinha. [15]

2º - Em segundo lugar a interseção do vinhateiro (Lc 13.8,9). Os pronunciamentos de julgamento são, geralmente, acompanhados de uma segunda chance. [16] Cristo é o grande Intercessor; Ele vive sempre intercedendo. Os ministros são intercessores; aqueles que cuidam da vinha devem interceder por ela. Devemos orar pelas pessoas para as quais pregamos, porque devemos nos entregar à Palavra de Deus e à oração.[17] Por causa da intercessão de Cristo, Deus nos trata com misericórdia e não nos julga consoante os nossos pecados. Ele nos dá mais uma chance. Oferece-nos mais uma oportunidade. Pedro e João Marcos poderiam testemunhar como Deus lhes concedeu uma segunda chance![18]

3º - Em segundo lugar, a paciência do dono da vinha tem um limite (Lc 13.9). Deus é muito paciente. Entretanto, sua paciência não dura para sempre. Um dia – somente Deus sabe quando esse dia chegará – a oportunidade de salvação será tirada. O procrastinador morrerá em seus pecados e se perderá para sempre. [19] Onde falta arrependimento, o juízo é inevitável. Depois do investimento, se a figueira ainda não der frutos, o machado do juízo decepará seu tronco e arrancará suas raízes. Sua morte será inevitável; sua condenação, inexorável. Sua ruína será total. Qual é a nossa condição? Deus está vendo em nós frutos? [20]

CONCLUSÃO

Deus procura frutos. Não aceitará substitutos, e a hora de arrepender-se é agora. Da próxima vez que ficar sabendo de outra tragédia que tirou muitas vidas, pergunte a si mesmo: “Estou só ocupando espaço neste mundo ou produzindo frutos para a glória de Deus?” [21]

A Bíblia exorta os pecadores: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar; invocai-o enquanto está perto” (Is 55.6). Jesus advertiu que a geração, “Por um pouco de tempo estou convosco, e depois vou para aquele que me enviou” (Jo 7.33); “Eu retiro-me, e buscar-me-eis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, não podeis vós vir” (Jo 8.21). Para aqueles que vivem em tempo emprestado “agora é o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação” (2Co 6.2), antes que seu tempo acabe e seu destino eterno seja selado. Hoje é o dia da sua salvação em Cristo Jesus!

Pense nisso!

Bibliografia:

1 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 633.

2 – Kenneth Bailey. As Parábolas de Lucas, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, p. 154.

3 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 437.

4 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 234.

5 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 291. 

6 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 234.

7 – Kenneth Bailey. As Parábolas de Lucas, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1985, p. 155.

8 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 209.

9 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 437.

10 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 292.  

11 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 420.

12 – Champin, R. N. O Antigo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2001, p. 554.

13 – Edwards, James R. O Comentário de Lucas, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP, 2019, p. 502.

14 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 634.

15 – Childers, Charles L. Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006, p. 438.

16 – Neale, David A. Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ, 2015, p. 139.

17 – Henry, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2008, p. 634.

18 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 421.

19 – Neale, David A. Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ, 2015, p. 139.

20 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 421.

21 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 292. 

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