Por Pr Silas Figueira
Texto base: Lucas 13.9-6
INTRODUÇÂO
Matthew Henry diz que esta
parábola tem o propósito de reforçar aquela palavra de advertência que veio
imediatamente antes: “Se vos não arrependerdes, todos de igual modo
perecereis; a não ser que mudeis o vosso comportamento, sereis destruídos, como
uma figueira estéril; a não ser que gereis frutos, sereis cortados”. [1] Podemos
dizer que Jesus está concluindo o seu sermão a respeito do arrependimento com
esta ilustração. Esta parábola começa com um plantio e termina com uma ameaça
de arrancar o que fora plantado. [2] Uma parábola simples, mas que não deixou dúvidas
do que Jesus estava falando.
Quais as lições que
podemos tirar dessa parábola para as nossas vidas.
1 – A FIGUEIRA SIMBLOLIZA
ISRAEL (Lc 13.6,7).
Era um costume na
Palestina antiga, assim como hoje, plantar figueiras e outras árvores nas
vinhas. Era um meio de utilizar cada pedaço disponível de boa terra. A figueira
aqui, como em todo o simbolismo bíblico, refere-se a Israel. [3] Havia em
Israel árvores que eram comuns (figueiras e figos são mencionados mais de cinquenta
vezes nas Escrituras), em condições favoráveis as figueiras podem atingir uma
altura de quase sete metros. Além de fornecer frutas, figueiras foram uma
excelente fonte de sombra (cf. Jo 1.48).
Diante desse quadro,
podemos tirar três lições aqui:
1º - Em primeiro lugar,
Israel recebeu privilégios especiais de Deus. John C. Ryle diz
que do coração ao qual Deus outorgou privilégios espirituais Ele espera receber
retorno proporcional [4]. Foi o que ocorreu com a nação de Isael. A nação
recebeu de Deus o mais alto privilégio entre todas as nações. O
comentário de que Deus plantou Israel como “figueira” em sua vinha expressa que
Israel não se tornou povo de Deus por via natural, mas que, como uma árvore
plantada de maneira especial, foi chamado para um relacionamento extraordinário
com Deus por meio de atos singulares de Deus (Dt 7.6-8; Sl 80.9,15). Quando,
pois, a figueira foi plantada na vinha de seu proprietário, ela obteve um
privilégio especial. Israel desfrutou do privilégio de ser povo de Deus durante
todo o curso de sua história.[5] Eles haviam sido
separados das outras nações pela lei e ordenanças de Moisés, bem como pela
situação de sua própria terra. Haviam recebido revelações que Deus não
concedera a nenhum outro povo. É razoável pensar que que haveria em Israel mais
fé, arrependimento, devoção e santidade do que entre os pagãos [6]. No entanto,
não foi isso que ocorreu. Jesus enfrentou da parte dos líderes judeus a mais dura
incredulidade, além de, no fim do seu ministério, a morte por parte deles.
2º - Em segundo lugar, Israel
tornou-se uma nação estéril. A figueira na Palestina dá fruto
dez meses em cada ano, de forma que quase em qualquer tempo o dono pode encontrar
fruto nela [7], no entanto essa figueira da parábola estava estéril. Jesus
coloca o cenário com uma figueira numa vinha (e, portanto, em solo fértil). Faz
três anos que o dono vem procurando fruto, o que parece indicar uma árvore
bem-estabelecida. A falta de dar frutos em três anos parece um mal sinal. Seria
improvável que tal árvore desse fruto no futuro. Destarte, o dono dá a ordem:
pode cortá-la. Além de não dar frutos, estava ocupando terreno que doutra forma
poderia ser produtivo. [8]
3º - Em terceiro lugar, o
dono da figueira veio procurar fruto. Embora a figueira estivesse na vinha, ela não
tinha outro propósito a não ser dar fruto. Da mesma forma, Israel só tinha uma razão
para ocupar o primeiro ou qualquer outro lugar: cumprir a missão que lhe fora dada
por Deus. Visto que a figueira era infrutífera, não teria o direito de existir;
e visto que Israel se recusava a cumprir sua missão determinada por Deus, não
tinha o direito de continuar.[9] Esta árvore também nos traz à memória a
bondade especial de Deus para com Israel (Is 5.1-7; Rm 9.1-5) e sua paciência
com eles. Deus esperou três anos durante o ministério de Jesus aqui na Terra,
mas a nação não produziu frutos. Assim, esperou mais cerca de quarenta anos
antes de permitir que os exércitos romanos destruíssem Jerusalém e o templo; e,
durante esses anos, a Igreja testemunhou com poder a mensagem do evangelho. Por
fim, a árvore foi cortada. [10]
Da mesma forma que Israel
era a videira de Deus, plantada por Deus, cuidada por Deus, assim nós somos a
figueira de Deus, plantada e cultivada por ele. Ocupamos uma posição
especialmente favorecida. Deus separou Israel dentre as nações. Protegeu,
abençoou e deu sua lei, suas promessas, seus milagres e seus profetas. De igual
modo, a nós, ele nos deu sua Palavra, o evangelho, o seu Espírito, a sua
presença, o seu poder. Ele espera de nós frutos espirituais. Ele não se
contenta com folhas. Ele quer frutos.[11]
A igreja atual não é
estéril, muito pelo contrário, alguns ministérios têm dado muito fruto, mas o
grande problema que tenho visto é que o fruto que está sendo produzindo é um
fruto que não serve para consumo, pelo menos, não para Deus. A figueira
(igreja) não está sendo adubada com a Palavra de Deus, mas com outras coisas.
Quando olhamos para a igreja vemos que ela tem sido adubada com teologia
liberal, teologia inclusiva, teologia da missão integral, evangelho da
prosperidade, com o relativismo teológico... adubos esses que fazem com que a
igreja gere frutos impróprio para o consumo. São frutos venenosos. São frutos
amargos cheio de pecado. Que não servem para Deus e nem para os que amam ao
Senhor, mas tem servido de alimento para os que não querem um relacionamento de
santidade com Deus e observam com afinco a Sua Palavra. Em muitos ministérios o
alimento não tem sido pastagens verdejantes, mas lavagem para porcos.
2 – A INTERCESSÃO DO
VINHATEIRO (Lc 13.7-9).
Para entendermos melhor a
profundidade dessa intercessão precisamos conhecer o contexto histórico. No livro
de Levítico 19.23-25 lemos: “E, quando tiverdes entrado na terra, e
plantardes toda a árvore de comer, ser-vos-á incircunciso o seu fruto; três
anos vos será incircunciso; dele não se comerá. Porém no quarto ano todo o seu
fruto será santo para dar louvores ao Senhor. E no quinto ano comereis o seu
fruto, para que vos faça aumentar a sua produção. Eu sou o Senhor vosso Deus”.
Leis da Árvore Frutífera
Incircuncisa. Por três anos, o fruto de uma árvore
frutífera não podia ser consumido pelos filhos de Israel. Portanto, não podia
ser vendido. Se alguém comesse de tal fruto, seria açoitado com quarenta
açoites menos um (nos dias do segundo templo). No quarto ano, o fruto era
colhido e dedicado a Yahweh, como oferta pacífica (de agradecimento). Somente
no quinto ano seu fruto podia ser colhido e comido. Nesse ano, a árvore era
desnudada de seu fruto, ficando assim completa a circuncisão da árvore. Dali
por diante, o fruto daquela árvore pertencia ao proprietário, para uso próprio
ou para comercialização. [12]
O dono da vinha não viria
procurar do fruto impuro para consumo, mas provavelmente veio buscar no quarto
ano para oferecer a oferta ao Senhor, no entanto, em ano nenhum ela havia
produzido fruto. Pelos cálculos já haviam se passado entre sete a oito anos e a
figueira continuava improdutiva.
Com isso em mente,
podemos destacar algumas lições importantes para nós.
1º - Em primeiro lugar, a
figueira aqui um é símbolo de julgamento (Lc 13.7).
Os profetas do Antigo Testamento usavam com frequência a figueira como símbolo
de julgamento (Is 34.4; Jr 29.17; Os 2.12, 9.10; Jl 1.7; Mq 7.1). A figueira
funciona de forma semelhante nessa parábola, na verdade funciona enfaticamente assim,
pois Lucas a coloca de forma proeminente no ponto mais importante da sentença e
fala três vezes se sua falta de produtividade (vv. 6,7,9). [13]
A sentença que lhe foi
dada: Corta-a. Note que nenhuma outra coisa deve ser esperada com
relação a árvores estéreis além de serem cortadas. Assim como a vinha
infrutífera é derribada, e transformada em pasto (Is 5.5,6), as árvores
infrutíferas na vinha são retiradas e se secam, João 15.6. [14] O dono da vinha
na parábola simboliza Deus Pai; o vinhateiro simboliza Cristo ou o Espírito
Santo – Ele é o homem que poda as videiras e cuida da vinha. [15]
2º - Em segundo lugar a
interseção do vinhateiro (Lc 13.8,9). Os pronunciamentos de
julgamento são, geralmente, acompanhados de uma segunda chance. [16] Cristo é o
grande Intercessor; Ele vive sempre intercedendo. Os ministros são intercessores;
aqueles que cuidam da vinha devem interceder por ela. Devemos orar pelas
pessoas para as quais pregamos, porque devemos nos entregar à Palavra de Deus e
à oração.[17] Por causa da intercessão de Cristo, Deus nos trata com
misericórdia e não nos julga consoante os nossos pecados. Ele nos dá mais uma
chance. Oferece-nos mais uma oportunidade. Pedro e João Marcos poderiam
testemunhar como Deus lhes concedeu uma segunda chance![18]
3º - Em segundo lugar, a paciência
do dono da vinha tem um limite (Lc 13.9). Deus é muito paciente.
Entretanto, sua paciência não dura para sempre. Um dia – somente Deus sabe
quando esse dia chegará – a oportunidade de salvação será tirada. O
procrastinador morrerá em seus pecados e se perderá para sempre. [19] Onde
falta arrependimento, o juízo é inevitável. Depois do investimento, se a
figueira ainda não der frutos, o machado do juízo decepará
seu tronco e arrancará suas raízes. Sua morte será inevitável; sua condenação,
inexorável. Sua ruína será total. Qual é a nossa condição? Deus está vendo em
nós frutos? [20]
CONCLUSÃO
Deus procura frutos. Não
aceitará substitutos, e a hora de arrepender-se é agora. Da próxima vez que
ficar sabendo de outra tragédia que tirou muitas vidas, pergunte a si mesmo: “Estou
só ocupando espaço neste mundo ou produzindo frutos para a glória de Deus?” [21]
A Bíblia exorta os
pecadores: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar; invocai-o enquanto está
perto” (Is 55.6). Jesus advertiu que a geração, “Por um pouco de tempo estou
convosco, e depois vou para aquele que me enviou” (Jo 7.33); “Eu retiro-me, e
buscar-me-eis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, não podeis vós
vir” (Jo 8.21). Para aqueles que vivem em tempo emprestado “agora é o tempo
aceitável, eis aqui agora o dia da salvação” (2Co 6.2), antes que seu tempo
acabe e seu destino eterno seja selado. Hoje é o dia da sua salvação em Cristo
Jesus!
Pense nisso!
Bibliografia:
2 – Kenneth Bailey. As
Parábolas de Lucas, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, p. 154.
3 – Childers, Charles L.
Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006,
p. 437.
4 – Ryle, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL,
São José dos Campos, SP, 2002, p. 234.
5
– Rienecker, Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica
Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 291.
6 – Ryle, J. C.
Meditações no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p.
234.
7 – Kenneth Bailey. As
Parábolas de Lucas, Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1985, p. 155.
8 – Morris, Leon L.
Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São
Paulo, SP, 1986, p. 209.
9 – Childers, Charles L.
Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006,
p. 437.
10 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 2007, p. 292.
11 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 420.
12 – Champin, R. N. O Antigo
Testamento Interpretado, versículo por versículo, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2001,
p. 554.
13 – Edwards,
James R. O Comentário de Lucas, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP, 2019, p. 502.
15 – Childers, Charles L.
Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006,
p. 438.
16 – Neale, David A.
Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ,
2015, p. 139.
17 – Henry, Matthew.
Comentário Bíblico Novo Testamento Mateus a João, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ,
2008, p. 634.
18 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 421.
19 – Neale, David A.
Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ,
2015, p. 139.
20 – Lopes,
Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP,
2017, p. 421.
21 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 2007, p. 292.
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