Texto base: Lucas 12.49-59
INTRODUÇÃO
Jesus não mudou de
assunto aqui; Ele simplesmente entrou em uma nova seção de seu discurso. A
partir do versículo 14 Ele está discutindo o perigo de uma atenção egoísta às
coisas deste mundo. Agora Ele vai em frente para dizer que a sua vinda à Terra
não foi planejada para suavizar o caminho para o gozo do bem-estar deste mundo.
Pelo contrário, a sua vinda traria, inevitavelmente, divisão e conflito.1
O Evangelho divide toda a
humanidade em duas categorias, tanto para o tempo presente quanto para a
eternidade: os salvos e os perdidos; os remidos e os não-redimidos; aqueles que
vão passar a eternidade no céu, e aqueles que vão passa-la no inferno. Jesus deixou
bem claro que existe o caminho estreito que leva ao céu e o caminho largo que
leva ao inferno, a porta estreita que leva ao céu e a porta larga que leva ao
inferno (Mt 7.13,14). Jesus mesmo disse que Ele era o caminho a verdade e a
vida e que ninguém poderia ir ao Pai a não ser por Ele (Jo 14.6). Não
existe um meio termo, uma terceira via, meios humanos para chegarmos a Deus. Por
isso que o Evangelho não é palatável para o homem natural (1Co 2.14).
No entanto, andam pregando
um evangelho relativista, com uma mensagem que oculta esses fatos que Jesus não
deixou de falar abertamente com os seus discípulos. Como disse o Reverendo
Hernandes D. Lopes “O cristianismo nunca será popular. O mundo odiou a Cristo e
vai odiar seus discípulos, pois um cristão é uma pessoa que crê na verdade
absoluta, mas vive num mundo de relativismo. A Palavra de Deus é a verdade e
rege nossa fé e nossa conduta. O mundo, porém, repudia os preceitos de Deus e
escarnece deles. Por isso, não fomos chamados para ser populares, mas para
sermos fiéis. Nosso papel não é agradar o mundo, mas levar a ele a mensagem da
salvação em Cristo”.2 Como bem disse A. W. Tozer: “Não devemos
imaginar que fomos comissionados para tornar Cristo aceitável aos homens de
negócio, à imprensa, ao mundo dos esportes ou à educação moderna. Não somos
diplomatas,
mas profetas, e nossa mensagem não é um acordo, mas um ultimato”.3
Pensando nisso, nós
podemos tirar algumas lições desse texto para nós hoje.
1 – A CERTEZA DO JULGAMENTO
VINDOURO (Lc 12.49-53).
Embora Jesus tenha vindo
para salvar os perdidos, a missão de Jesus foi também um juízo; Ele veio para
lançar fogo sobre a terra. O tema escatológico (doutrina acerca das coisas que
hão de suceder depois do fim do mundo) começado em 12.35 continua na presente
passagem com referência a “fogo”, “batismo” e “divisão na família”, o cerne da
comunidade social humana.4 David Neale diz que essa passagem é o
centro apocalíptico do Evangelho.5
Vamos analisar esses três
fatos que Jesus destacou aqui.
1º - Em primeiro lugar, o
fogo do julgamento (Lc 12.49). Jesus veio trazer fogo
sobre a terra e estava desejoso de que ele já estivesse a arder. Esse é o fogo
do julgamento contra o pecado. E o fogo da santidade de Deus que não suporta aquilo
que é impuro.6
Hendriksen diz que o fogo
de que Jesus fala com toda probabilidade se refere ao juízo de Deus sobre os
pecados de seu povo. Esse juízo se realizará no Calvário. E Jesus mesmo quem
fará satisfação à justiça de Deus e suportará o castigo.7 Nesse caso
não se trata mais do povo judaico, mas de toda a humanidade, representada pelo
termo “terra”.8
O povo judeu estava familiarizado
com as previsões do Antigo Testamento de um julgamento de Deus com fogo, mas
eles acreditavam que o julgamento cairia sobre os gentios. Eles não esperavam
que a vinda do Messias traria julgamento sobre eles. Mas Jesus veio para salvar
somente os pecadores perdidos que se arrependem e creem, e julgar aqueles que
se recusam a fazê-lo, seja judeu ou gentio. “Eu vim a este mundo para juízo,
a fim de que os que não veem vejam, e os que veem sejam cegos” (Jo 9.39;
cf. 5.22-30).
O julgamento contra o pecado
começou quando Jesus levou sobre si os nossos pecados, mas no fim dos tempos
esse julgamento recairá sobre a humanidade perdida. Já não haverá remissão para
ela. O Senhor é o justo Juiz que julgará com equidade todos os que não se
arrependeram.
2º - Em segundo lugar, o
batismo do sacrifício (Lc 12.50). As palavras batismo e
ser batizado são aqui provavelmente usadas em um sentido figurado: Jesus está
para ser “esmagado” pela agonia. Ele será mergulhado num dilúvio de horrível
sofrimento. Jesus veio com o fim de tomar sobre si o fardo da ira
de Deus que resulta do pecado de seu povo e sofrer as agonias do inferno – o
inferno do Calvário.9 Antes julgar os
incrédulos do seu pecado, o próprio Cristo foi julgado por Deus em nosso lugar.
Isso aconteceu na cruz, quando Ele “nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se
maldição por nós” (Gl 3.13; cf. Is 53.5,6,11,12; Rm 4.25; 2Co 5.21; 1Pe 2.24).
Champlim diz que a pessoa
é inteiramente imersa por ocasião do batismo, e assim também, o ser inteiro de
Jesus haveria de sofrer, sendo envolvido por todos os lados pelo sofrimento e
pela morte.10 Ele, sendo santo, foi feito pecado. Sendo
bendito, fez-se maldição. Sendo imaculado, bebeu sozinho o cálice amargo da ira
de Deus contra o nosso pecado. Ele foi traspassado pelas nossas transgressões e
moído pelos nossos pecados. Levou sobre si nossos pecados e morreu a nossa
morte.11
3º - Em terceiro lugar, a
divisão na família (Lc 12.51-53). Lucas começou seu livro
anunciando paz na terra (Lc 2.14), mas agora Jesus fala que veio lançar fogo
sobre a terra (Lc 12.49). Na verdade, Jesus concede paz aos que creem nele,
confessam o seu nome e são justificados (Rm 5.1), mas essa confissão de fé se transforma
numa declaração de guerra contra a família e os amigos.12
Fritz Rienecker é
enfático em afirmar que a exigência de Jesus a respeito da entrega total a Ele
acenderá uma guerra interior até mesmo na comunhão humana mais íntima, na
família, a saber, causando uma discórdia capaz de romper os mais estreitos
laços quando houver impedimento no seguir a Jesus.13 Jesus usou o
texto de Miquéias 7.6 para ilustrar o que estava dizendo: “Porque o filho
despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os
inimigos do homem são os da sua própria casa”.
À pergunta de se achamos
que Jesus veio trazer paz, a maioria de nós responderia “Sim” sem hesitação.
Mas o Não de Jesus é enfático. Há, é claro, um sentido em que realmente traz a
paz, aquela profunda paz com Deus que leva à paz verdadeira com os homens. Mas
noutro sentido, sua mensagem é divisiva. A cruz é um desafio aos homens. Jesus
conclama os Seus seguidores a tomar sua própria cruz enquanto O seguem (Lc 9.23ss.;
14.27). Quando os homens não ficam à altura deste desafio, não incomumente
tornam-se críticos dos que o aceitam. As divisões que assim surgem podem
percorrer famílias inteiras.14 Devemos entender que o parentesco na
nova comunidade é baseado na obediência à Palavra de Deus: “Minha mãe e meus
irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a praticam” (Lc 8.21). E,
afinal, uma questão de lealdade. A abnegação, o carregar de sua cruz e o ato de
seguir Jesus são a “base para a lealdade cristã”.15
Jamais nos permitamos ser
desmotivados por aqueles que acusam o Evangelho de ser a causa de contendas e divisões
na terra. Não é o Evangelho e sim o corrupto coração do homem que deve receber
a culpa. Não é o glorioso remédio de Deus que se encontra em deficiência, e sim
a natureza enferma da raça de Adão, que, à semelhança de uma criança
voluntariosa, rejeita o remédio que Deus providenciou para a cura. Enquanto existirem
homens e mulheres que recusam arrepender-se e existirem outros que se arrependem
e creem, haverá divisões.16 Não temos como fugir disso, a não ser
que neguemos a fé.
2 – O PERIGO DA FALTA DE
DISCERNIMENTO (Lc 12.54-56).
A severidade e a
veemência do Mestre nestes versículos parecem indicar que algumas das pessoas
mostravam desagrado ou hostilidade em relação ao que Ele vinha dizendo. Talvez,
mais uma vez, os fariseus estivessem incitando a oposição contra os seus
ensinos.17
Com isso em mente,
podemos destacar duas coisas:
1º - Em primeiro lugar, o
discernimento das coisas secundárias (Lc 12.54,55).
Depois que Jesus anunciou a seus discípulos a ruptura na família, da qual já
visualizara os primeiros indícios e experimentara também em sua própria
família, no final ele dirige-se outra vez “às multidões”. Jesus fala primeiramente
dos sinais climáticos de fenômenos naturais: chuva e brilho do sol. Em vista
desses sinais os camponeses consideram-se bons profetas do tempo, e de fato não
são enganados pelos indícios. Contudo não colocam essa percepção de que o ser
humano foi dotado a serviço de um interesse superior.18
2º - Em segundo lugar, a
falta de discernimento das coisas essenciais (Lc 12.56).
Mas aqueles que eram tão sábios para ler os sinais do céu não podiam, ou não
queriam, ler os sinais dos tempos. Se tivessem podido fazê-lo teriam visto que
o Reino de Deus se aproximava. Alguém como João Batista e como Jesus surge,
vive e morre, e esse povo moralmente ignorante não entende em absoluto o que
isso significa! Jesus caracteriza essa contradição em seu modo de agir por meio
da palavra “Vós hipócritas!” Não lhes falta o olho, e sim a vontade de usá-lo.19
Muitas pessoas conseguem
discernir as estações, mas são totalmente displicentes em discernir o tempo da
vinda de Cristo. Muitas pessoas vivem como se o Senhor não estivesse preparando
o mundo para o Seu retorno. Discernem se irá chover, se irá fazer sol, mas não
discernem o tempo escatológico que se aproxima. Guerras, rumores de guerras,
terremotos, fome, esfriamento do amor... leia 1Tm 4.1,2; 2Tm 3.1-13.
3 – A NECESIDADE DE
DILIGÊNCIA (Lc 12.57-59).
Jesus conclui seu ensino
contando uma parábola para mostrar a necessidade urgente e imperativa de se
preparar para o encontro com o juiz de vivos e de mortos. Estamos a caminho da
eternidade. Teremos de prestar contas da nossa vida. Nossas palavras, ações,
omissões e pensamentos serão julgados naquele grande dia. Compareceremos
perante o Tribunal de Deus. Somos devedores à lei de Deus. Pecamos contra a
santidade de Deus. Não podemos comparecer a esse tribunal sem estarmos em paz
com Deus. Precisamos ser reconciliados com Deus antes daquele grande dia. É consumada
loucura deixar para a última hora esse ajuste de contas.20
Destaquemos três pontos
aqui:
1º - Em primeiro lugar, cada
pessoa deve examinar a sua vida (Lc 12.57). Jesus os chamou
para julgar o que é certo, examinando suas vidas com referência ao pecado. Robertson
diz que sem a presença e o ensinamento de Jesus, eles tinham luz suficiente
para dizer o que é certo e, assim, não tinham desculpas, como argumenta Paulo
em Romanos 1-3.21
2º - Em segundo lugar, faça
as pazes com Deus enquanto há tempo (Lc 12.58).
Ao
meirinho, “o fiscal, o que cobra as multas, o que executa as punições”, essa
expressão é somente encontrada aqui em Lucas.
Isto é apenas bom senso.
Reconcilie-se antes de chegar ao tribunal, pois é certo que não encontrará
clemência lá, apenas a plena força de uma lei violada. Qualquer acordo, em
vista disso, é clemência, e a busca desse acordo é sabedoria. É óbvio que aqui
é o adversário quem está do lado da lei, e que o outro é o transgressor. Na
ilustração dada, as opções são reconciliação ou prisão; e só um tolo escolheria
esta última. Em outras palavras Jesus está dizendo: “Por que vocês não podem
ser suficientemente sábios para se humilharem e se reconciliarem com Deus – se
converterem – em vez de se arriscarem às inevitáveis consequências de irem ao
Julgamento como incorrigíveis adversários de Deus?”.22 Todo
homem tem uma causa perdida na presença de Deus; e se for sábio fará as pazes
com Deus enquanto houver tempo.
3º - Em terceiro lugar,
depois do julgamento não há acordo (Lc 12.59). O Archon (magistrado)
foi o oficial que conduziu a audiência preliminar. Se ele encontrou motivos
suficientes para prosseguir com o caso, ele iria entregá-lo ao juiz que, se ele
encontrou o acusado culpado, seria enviado ao oficial responsável pela prisão,
e o oficial iria joga-lo na prisão. Se isso acontecesse, Jesus advertiu, ele
não sairá de lá até que ele tinha pago o último centavo.
O criminoso na prisão tem
a esperança da libertação. Há sempre uma chance de que, de alguma forma, ele
possa pagar o derradeiro ceitil. Mas não há tal esperança para o pecador no
inferno. Estas almas totalmente arruinadas não poderão jamais pagar a menor
parte de suas dívidas inestimáveis.23
Por isso, o tempo de se
reconciliar com Deus é hoje, pois, amanhã, pode ser muito tarde. Como diz o
hino da Harpa Cristã número 570: A Última Hora.
CONCLUSÃO
O Senhor Jesus mais uma
vez alerta aos seus ouvintes que o julgamento contra o pecado irá acontecer.
Ele levará sobre si o pecados de todos os que se arrependerem, mas os que não
se arrependerem serão lançados no inferno. Jesus não deixou de alertar aos seus
ouvintes desse fato, no entanto, em muitos púlpitos hoje não se fala a esse
respeito ou nunca foi falado. Por isso, esse é o alerta que o Senhor está nos
dando hoje.
Pense nisso!
Bibliografia:
1 – Childers, Charles L.
Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006,
p. 433.
2 – Lopes, Hernandes Dias. COMO PREGAR UMA VERDADE
ABSOLUTA NUM MUNDO DE RELATIVISMO? https://www.facebook.com/hernandesdiaslopes/posts/como-pregar-uma-verdade-absoluta-num-mundo-de-relativismoo-cristianismo-nunca-se/532209750153421/,
acessado em 16/11/22.
3 – Figueira, Silas;
Castor, Cláudia. AS SETE PALAVRAS DA CRUZ: O Último Sermão do Monte (p. 8).
Edição do Kindle.
4 – Edwards, James A. O Comentário
de Lucas, Ed. Shedd, Sto Amaro, SP, 2019, p. 490.
6 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito,
Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 409.
7 – Hendriksen, William.
Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 206.
8 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 286.
9 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 2, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2003, p. 207.
10 – Champlin, R. N. O
Novo Testamento Interpretado, versículo por versículo, Lucas, Vol. 2, Ed.
Hagnos, São Paulo, SP, 2005, p. 133.
11 – Lopes, Hernandes Dias.
Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 410.
12 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo
André, SP, 2007, p. 290.
13 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 287.
14 – Morris, Leon L.
Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São
Paulo, SP, 1986, p. 207.
15 – Neale, David A.
Lucas, 9 – 24, Novo Comentário Beacon, Ed. Central Gospel, Rio de Janeiro, RJ,
2015, p. 134.
16 – Ryle, J. C. Meditações
no Evangelho de Lucas, Ed. FIEL, São José dos Campos, SP, 2002, p. 228.
18 – Rienecker, Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba,
PA, 2005. p. 288.
19 – Ibidem, p. 288.
20 – Lopes, Hernandes
Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, SP, 2017, p. 411.
21 – A. T. Robertson.
Comentário de Lucas, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2013, p. 245.
22 – Childers, Charles L.
Comentário Bíblico Beacon, Lucas, vol. 6, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ, 2006,
p. 435.
23 – Ibidem, p. 436.
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