Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Lucas 8.22-25
INTRODUÇÃO
Esse episódio nós encontramos nos três evangelhos
sinóticos (Mt 8.23-27; Mc 4.35-41 e Lc 8.22-25), sendo que no Evangelho de
Marcos essa passagem tem mais detalhes que em Mateus e Lucas. Analisaremos esse
texto fazendo um paralelo com os outros textos citados.
Algumas
considerações:
D. A. Carson diz que a autoridade de Jesus sobre a
natureza é demonstrada. Ele pode ter menos abrigo que os animais e as aves da
natureza (Mt 8.20), todavia, ele é o mestre da natureza [1]. Ele tem o controle
sobre todas as coisas, até sobre aquilo que mais nos apavora.
Isso demonstra que não existe “lei da natureza”, o que
existe é um Deus Todo-poderoso que a natureza tem que seguir as suas leis. Por
isso Jesus acalma a tempestade, cura os enfermos, ressuscita os mortos... isso
se chama “milagre”, pois procede de um Deus Todo-poderoso e que tem toda
supremacia. Aquele que tem o controle sobre todas as coisas.
Quando Jesus terminou de contar as “parábolas do
reino” (Mt 13.1-52), é possível que os discípulos tenham se sentido verdadeiros
alunos pós-graduados da Escola da Fé! Compreendiam mistérios obscuros aos
escribas e rabinos e até aos profetas do Antigo Testamento. O que não
perceberam (e como somos parecidos com eles!) é que antes de se tornar
confiável, a fé deve ser testada. Uma coisa é aprender uma nova verdade
espiritual, outra bem diferente é colocá-la em prática na vida diária [2]. Têm
muitas pessoas hoje que tem uma fé intelectualizada, mas não uma fé prática.
Tem tudo muito bem esquematizado na cabeça, mas não na prática.
Por isso que esse incidente notável realça a
importância vital de distinguir entre o dom da fé original – fé para a salvação
–, e o andar pela fé, ou vida de fé que vem subsequentemente. A fé que
recebemos tem que ser desenvolvida, pois andar por fé não é andar pelo que
vemos, mas pelo que não vemos. Como nos fala Paulo em Romanos 8.24: “Porque em esperança fomos salvos. Ora a
esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o esperará?”.
E em 2Co 4.18 ele diz: “Não atentando nós
nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são
temporais, e as que se não veem são eternas”.
Observamos em Lucas que este evento aconteceu..., num daqueles dias (Lc
8.22). Isso indica que a sequência dos eventos em Lucas não é cronológica, ele
não estava seguindo uma sequência de tempo, mas estava arrumando seu material
tematicamente. O relato de Marcos revela que este incidente ocorreu na noite do
mesmo dia em que Jesus ensinou várias parábolas, incluindo a dos solos (Mc
4.35).
É interessante observarmos que Marcos fala da
travessia de vários barcos, bem como da despedida das multidões que foram
instruídas por Ele (Mc 4.35,36). Certamente esses barcos eram de outros
discípulos que o acompanhavam e, provavelmente, dos setenta discípulos que
foram enviados por Ele posteriormente em certa ocasião.
O texto de Marcos nos informa que Jesus estava no
barco com os apóstolos e estava dormindo sobre uma almofada (Mc 4.38), Mateus e
Lucas só dizem que Jesus havia adormecido. Jesus estava fadigado. Tão cansado
que adormeceu. Vemos aqui que não há nenhuma dúvida de Sua humanidade. Mas no
momento em que Ele se levanta e acalma a tempestade os discípulos questionam
quem é Ele. JESUS ERA HOMEM E NO ENTANTO GLORIOSAMENTE DEUS. Jesus foi 100%
homem e 100% Deus. Deus e homem, duas naturezas, sem se misturar, e, no entanto,
residentes na mesma pessoa. Dentro da teologia essa doutrina é chamada de
“União Hipostálica”.
Esse episódio ocorreu no Mar da Galileia, um lago de
águas doces, de 21 quilômetros de comprimento por quatorze de largura, a 220
metros abaixo do nível do Mar Mediterrâneo e é cercado por três montanhas, que
têm até trezentos metros de altura. Os ventos gelados do Monte Hermom (2.790m),
coberto de neve durante todo o ano, algumas vezes, descem ventos fortes com
fúria que batem nas outras montanhas e assim caindo sobre o lago provocam ondas
e terríveis tempestades.
Analisemos o texto e algumas lições que podemos tirar
dele:
1 – MESMO COM JESUS
EM NOSSO BARCO AS TEMPESTADES VEM (Lc 8.23,24).
Não é porque Jesus está em nosso barco que estamos
isentos das tempestades da vida. As mesmas lutas que um descrente enfrenta, nós
cristãos também enfrentamos. A única diferença é que temos a companhia do
Senhor conosco que nos conforta, nos consola e podemos lhe pedir socorro.
As tempestades da vida não anulam o cuidado amoroso de
Jesus. Não haveria o arco-íris sem a tempestade, nem o dom das lágrimas sem a
dor. Só conseguimos enxergar a majestade dos montes quando estamos no vale. Só
enxergamos o brilho das estrelas quando a noite está trevosa É das profundezas
da nossa angústia que nos erguemos para as maiores conquistas da vida [3].
Enquanto Jesus dormia se levantou grande tempestade de
vento. O termo que Mateus traz é como se fosse um maremoto. “E eis que
sobreveio no mar uma grande tempestade, de sorte que o barco era varrido pelas
ondas” (Mt 8.24). Não um vento forte simplesmente, mas um vendo que os
discípulos pensaram que fossem morrer no mar. Isso nos mostra que uma pequena
brisa pode transformar-se em um tufão (At 27.13-15). Não é por Jesus estar em
nosso barco que não seremos atingidos pelas tempestades da vida, mas com Ele no
barco temos esperança que chegaremos do outro lado do mar. O problema não são as
tempestades da vida, mas como reagimos diante delas.
Com isso em mente, podemos destacar algumas lições
sobre esse assunto:
1º - Existem quatro tipos de tempestades.
1 – As naturais - a tempestade que
Paulo enfrentou é uma delas (At 27), e os discípulos também enfrentaram algumas
durante o ministério de Jesus. Essas tempestades podem ser comparadas as
dificuldades que a vida nos oferece; uma enfermidade, uma crise familiar, uma
dificuldade financeira.
2 – As que nós
provocamos - Jonas é um bom exemplo disso. Quando somos causadores de males para nós
mesmos e para outras pessoas. Quando deixamos de obedecer a voz de Deus e
passamos a seguir à nossa próprias vontade, as consequências são calamitosas.
Existem pessoas que são experts em provocar tempestades. Temos como exemplo
disso Ló sobrinho de Abraão. Ló só trouxe dor de cabeça para Abraão (Gn
13.1-12, 14.1-17; Abraão intercede por Ló (Gn 18.17-33).
3 - As que procedem
do diabo - São as tentações da vida. Aquelas tempestades que
vemos que não são naturais, que sentimos que há algo errado, que não procede de
Deus, mas tem a mão do diabo nisso. Jó passou por esse temporal.
4 - As que procedem
de Deus - Um bom exemplo é o de Abraão quando vai oferecer Isaque em sacrifício;
diz-nos o texto em Gênesis 22.1 que o Senhor pôs Abraão à prova. A provação
procede de Deus, a tentação procede do diabo. A provação é para o nosso
crescimento espiritual a tentação é para nossa queda. São as provas da vida que
Deus permite o nosso crescimento espiritual.
Mas as quatro tem
algo em comum: todas elas são inesperadas. Elas não avisam quando virão.
Elas chegam como um ladrão de forma inesperada. Elas não mandam recado. As
tempestades da vida são: um acidente, uma enfermidade, uma crise financeira, um
casamento abalado, uma crise familiar, um desemprego e porque não dizer uma
crise espiritual.
Com isso aprendemos que quando a tempestade chegar ela
não deveria nos surpreender, pois afinal de contas ela sempre vem. Na
tempestade não devemos perguntar: “Porque
eu”, como muitos fazem pensando ser melhores que os outros, mas dizer: “Socorre-me Senhor!”, reconhecendo a
nossa dependência de Deus. Essa é a
diferença.
2º - Elas sempre são perigosas. Os três
evangelistas mostram isso de forma muito clara. Veja: Mateus diz que o barco
era varrido pelas ondas (Mt 8.24). Marcos diz que se levantou grande temporal
de vento, e as ondas se arremessavam contra o barco, de modo que já o mesmo
estava a encher-se de água (Mc 4.37). Lucas diz que sobreveio uma tempestade de
vento no lago, correndo eles o risco de soçobrar (Lc 8.23) [4].
Por mais brandas que elas possam parecer elas sempre
são perigosas, pois a situação pode se agravar. É o caso de uma pessoa que
conheço que foi no dermatologista levar o filho que estava com uma pequena
verruga no pé, chegando lá a dermatologista lhes disse que aquela verruga na
verdade era um câncer. Foi algo pequeno que se agigantou.
3º - Elas sempre revelam quatro tipos de pessoas. Se há algo
revelador na vida são as tempestades. Elas revelam como verdadeiramente somos,
pois na bonança não temos que revelar a nossa fé, mas na tempestade ela é
fundamental.
Vejamos as quatro tipos de pessoas que podemos
encontrar na hora da tempestade:
1 – Os que começam a agir para resolver a situação,
mas não oram. Já tentam resolver logo o problema de forma impensada,
ou melhor, sem a direção do Espírito Santo. Logo pegam na lata para tirar a
água do barco.
2 – Os que oram, mas não agem. São pessoas muito
espirituais, mas que não saem disso. Não tomam a iniciativa de agir. Muitas
pessoas estão como Moisés diante do Mar Vermelho, estão clamando a Deus, mas
não entendem que o período de clamar já havia passado e agora é hora de agir: “Então disse o Senhor a Moisés: Por que
clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem” (Êx 14.15). São os que
não pegam na lata para tirar a água, pois estão ocupados orando.
3 – Os que duvidam. Por isso nem oram e nem agem, pois
são incrédulos. Os que não fazem nada, só murmuram e por isso
criticam os que agem e os que oram. É aquele tipo de pessoa que só sabe dizer
que havia avisado; que o barco vai afundar mesmo, que não tem jeito mesmo. São
como a Hiena Hardy o tempo todo
dizendo: “Oh, céus! Oh, vida! Oh, azar!
Isso não vai dar certo!” (A série “Lipy e Hardy” produzida em 1962 por
Hanna-Barbera – William Hanna e Joseph Barbera).
4 – Os que oram e agem e não vivem se lamentando. São pessoas que
veem na tempestade a possibilidade de crescerem na fé. São pessoas que fazem da
tempestade uma oportunidade para ajudar outros a vencerem-na. É o caso de Paulo
(Fl 4.10-13), de Neemias (Ne 1 e 2).
2 – NÃO IMPORTA
QUAIS SEJAM AS CIRCUNSTÊNCIAS, JESUS ESTÁ EM NOSSO BARCO (Lc 8.24).
Os discípulos estavam desesperados com a tempestade,
tão desesperados que a impressão que temos é que por um momento eles haviam se
esquecido de Jesus. É quando eles observam que Jesus estava dormindo em meio
aos fortes ventos e no chacoalhar do barco em pleno mar; é quando eles resolvem
chamá-lo, não para acalmar o mar e o vento, mas para ajudá-los na navegação, a
tirar água do barco. Tanto que eles ficaram surpresos quando Jesus acalma a
tempestade e perguntam: “Quem é este, que
até aos ventos e à água manda, e lhe obedecem?” (Lc 8.25).
Com isso em mente, podemos destacar três coisas
importantes para nosso crescimento espiritual:
1º - A grande questão não é saber que Jesus está no
barco, mas é saber que Ele tem todo poder para acalmar a tempestade e força do
vento. Há pessoas que veem os seus problemas maiores que Deus. Acham que o
Senhor não pode intervir na situação que estão enfrentando. Algumas pessoas
pensam que seus problemas são tão grandes que até para Deus é difícil resolver,
isso quando não pensam que é impossível.
Aqui que está a grande questão. Muitos servem a Deus,
mas o veem limitado, enclausurado dentro dos guetos teológicos. Tem gente que
fala da soberania de Deus, mas não o veem como soberano em seus problemas.
Limitam o seu poder e o seu agir ao tempo dos apóstolos, dos profetas, ou mais
longe ainda, no período do deserto com Moisés. Eu sei que o Senhor age quando
quer e sempre com um propósito definido no Seu agir. Por isso meu irmão não o
limite, deixe Deus ser Deus em sua vida.
2º - As tempestades da vida muitas vezes revelam as
nossas crises. Ninguém está livre de passar por crises diante das
lutas da vida, principalmente quando somos cristãos. As crises mais comuns que
enfrentamos são:
a) Achar que por
sermos crentes em Jesus não iremos passar pelas tempestades, ou quando muito,
ela será breve. Achar que a doença, que crise financeira, que a morte nunca
chegará em nossa casa. Isso é uma grande ilusão e uma falsa teologia.
b) Muitos entram em
crise com o aparente descaso (sono) de Jesus. A impressão que nos passa é que o
Senhor não se importa, não está vendo. Como nos fala Habacuque: “Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não
me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás?” (Hc 1.2). Veja o
que o Senhor nos fala a respeito da insistência na oração e da resposta de Deus
a oração dos seus servos: “E Deus não
fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que
tardio para com eles? Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Quando porém
vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lc 18.7,8).
c) Diante das
tempestades da vida muitos ficam apavorados. A tempestade provoca medo, porque
ela é maior do que nós. Infelizmente, diante das tempestades da vida, muitas
passam mais tempo criticando a Deus do que lhe pedindo ajuda. Às vezes, é mais
fácil reclamar de Deus do que depositar nossa ansiedade aos seus pés e
descansar na sua providência. Como nos fala o apóstolo Pedro em sua primeira
carta: “Lançando sobre ele toda a vossa
ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1Pe 5.7).
Por que Deus permite isso na vida do cristão? Ele
permite isso para que venhamos crescer na fé. Para que possamos entender que
vivemos em um mundo que as lutas são reais para todos, seja crente seja ou um
não crente, todos nós passaremos por tempestades (Mt 7.24-27).
3º - Devemos entender que Seu aparente sono não é
descaso à nossa crise. O texto nos diz que Jesus estava dormindo, mas não
era o sono do descaso, mas era um sono de um “homem” cansado. No entanto, não
quer dizer que Ele não estava a par do que iria acontecer e do que estava
acontecendo.
Hernandes Dias
Lopes diz que “talvez o maior drama dos
discípulos não tenha sido a tempestade, mas o fato de Jesus estar dormindo
durante a tempestade” [5]. Essa é, muitas vezes, a nossa crise também. Onde
Jesus está que não percebe a crise que estamos enfrentando? Onde Jesus está que
não intervém quando mais precisamos? Onde Jesus está quando as tempestades
veem? Tanto que a pergunta dos discípulos foi: “Mestre, não te importa que pereçamos?”.
Eu quero lhe dizer que Ele está em nosso barco, que
Ele se importa com você e comigo sim. Ele não está dormindo o sono do descaso,
mas permitindo a tempestade para olharmos para Ele. Se não houvesse a
tempestade, provavelmente os discípulos se quer se lembrariam que Jesus estava
ali. Por isso que o autor de Eclesiastes nos diz: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete,
pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em
consideração” (Ec 7.2).
3º - Quando clamamos Ele vem e acalma a tempestade. Entenda que há
duas tempestades: Uma interna e outra
externa. A principal é a interna. Primeiro Jesus acalma o nosso coração;
tanto que o Senhor disse para os seus discípulos: “Não se turbe o vosso coração...” (Jo 14.1). Há duas maneiras de o
Senhor tratar as nossas tempestades: uma é terminando com elas, a outra é nos
preparando para enfrentá-la até o fim. Uma se chama substituição, a outra se
chama transformação. De uma forma ou de outra há o agir de Deus em
nosso problema.
3 – O SENHOR SEMPRE
NOS SURPREENDE NAS TEMPESTADES (Lc 8.24,25).
Independentemente da fé dos discípulos o Senhor agiu
socorrendo-os. Os discípulos o chamam não para acalmar a tempestade como já
falamos, mas o Senhor criador dos céus e da terra sempre faz muito mais que do
esperamos. Como nos diz Paulo em Efésios 3.20,21:
“Ora,
àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos
ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na
igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém!”
Através desse ocorrido o Senhor aproveitou para
mostrar para os seus discípulos que Ele era mais que um profeta, um operador de
milagres na vida das pessoas ou um mestre por natureza; mas o Deus encarnado
que veio para lhes trazer vida e paz em meio às tempestades da vida.
Nesse episódio podemos tirar algumas lições que o
Senhor deixou para os seus discípulos:
1º - Os maiores problemas humanos encontram-se dentro
de cada um, não nas circunstâncias ao nosso redor. Por isso que o
Senhor os repreendeu por sua falta de fé. O Senhor os chamou de “Homens de
pequena fé”, “Tímidos” – literalmente “covardes”.
Eles já haviam visto tantas coisas que o Senhor havia operado, mas mesmo assim
continuavam incrédulos. Continuavam com uma fé deficiente.
O tempo parece que não ajuda no amadurecimento de
algumas pessoas. Parece que o tempo passa e a pessoa não cresce na fé, pelo
contrário continuam pigmeus na fé. Davi quando enfrentou o gigante Golias não o
temeu porque havia enfrentado gigantes tão perigosos quanto aquele gigante
incircunciso. A experiência de Davi o ajudou a ver o quanto Deus o ajudaria
mais uma vez, por isso não se acovardou (1Sm 17.31-37).
Meu irmão nossas experiências passadas com o Senhor é
para o nosso crescimento e não para o nosso encolhimento. O Deus que agiu ontem
irá agir hoje e irá agir amanhã.
2º - Quando clamamos por Jesus ele nos atende ainda
que sejamos tímidos na fé (Lc 8.25). O Senhor nos socorre por sua misericórdia e
não pela nossa muita fé. Se dependesse dela, confesso que há muito já teríamos
perecido.
Alguns anos atrás eu tive uma experiência que me
marcou profundamente. Eu tenho um casal de filhos e quando eles eram pequenos
eles estavam brincando dentro de casa. Um correndo atrás do outro, quando de
repente minha filha mais velha se esconde no banheiro e fecha a porta. Nisso o
meu filho leva a mão para impedi-la de fechá-la. Não deu outra, ele prendeu o
dedo na porta e arrancou a unha. Imagine um menino de três anos com o dedo
esmagado e com a unha pendurada. No meu impulso de pai eu impus as minhas mãos
sobre a sua cabeça e gritei: “Em nome de Jesus dor deixa ele!”. Meu filho olha
para mim em seguida e diz: “Pai, passou!” Passou? Perguntei espantado. Passou
disse ele. Levei-o ao hospital e enquanto aguardava atendimento ele dormiu
tranquilamente em meu colo. Quando a médica o atendeu viu que não havia
quebrado o seu dedinho, mas que a unha iria cair, mas que eu ficasse tranquilo
que nasceria outra em breve. Assim aconteceu.
Isso é só uma amostra do que eu tenho visto nesses
anos que tenho de crente em Jesus e fora o que já vi em meu ministério. E olha
que eu sou Batista Reformado, eu não sou pentecostal e nem neopentecostal, pois
são esses que atestam tantos milagres.
3º - As experiência nos fazem crescer na fé (Lc 8.25). “Quem é este, que até aos ventos e à água
manda, e lhe obedecem?" As tempestades são pedagógicas, elas sempre
têm algo a nos ensinar a respeito do nosso Deus. Aprendemos mais nelas do que
quando não estamos passando por elas. Foi através desse episódio tremendo que
os discípulos descobriram o quanto o Senhor Jesus era muito mais do que eles
imaginavam. O Senhor se revelou na tempestade não na bonança.
A falta de fé vem por não conhecermos o nosso Deus
como Ele realmente é. Foi isso que aconteceu com os discípulos naquela noite.
Tanto que quando passa o medo da morte eles são acometidos por outro temor; o
temor diante da deidade de Jesus.
Entenda uma coisa, não há como crescermos na fé sem
passarmos pelas tempestades da vida. Nossa fé não irá desenvolver dentro do
marasmo existencial, mas nas tormentas que a vida oferece.
4º - Nas bênçãos que o Senhor nos proporciona, outros
são abençoados também. Quando o mar se acalma os outros barcos também
desfrutaram da bonança. A bênção do Senhor vem com tanta abundância que outros
são abençoados também. Veja o que Paulo nos fala a respeito de um crente dentro
de casa e o que acontece com os outros membros da família que não são crentes (1Co
7.14); estamos falando aqui de “santificação conjugal”, santificação familiar e
não de santificação espiritual produzida pela salvação de um homem. O ponto
aqui é que você, que foi regenerado, vai exercer um efeito positivo na medida
em que sua presença naquele ambiente íntimo, na casa, no casamento... é
sustentado pela graça e o poder de Deus para uma nova vida, e a benção de Deus
que flui através dessa nova vida, irá atenuar o mal, que num casamento entre
incrédulos seria pleno. Ou seja, haverá um efeito santificador num sentido
temporal, num sentido terreno sobre o seu cônjuge descrente.
Quantas pessoas estão sendo abençoadas através de nós
crentes em Jesus e nem se quer sabem que essas bênçãos procedem de Deus para
eles através de cada um de nós.
CONCLUSÃO
Há uma frase muito comum em nosso meio que diz: “Com
Jesus no barco tudo vai bem”. Isso é uma grande realidade, mas se nós o
chamarmos para nos socorrer e não deixá-lo de lado achando que podemos resolver
o nossos problemas sozinhos, ou, na pior das hipóteses, achar que Ele não tem
poder para resolvê-lo. Isso é falta de fé. Isso é ser tímido e duvidar. Meu
irmão se você está passando pela tempestade clame por Jesus e Ele, com certeza,
lhe socorrerá.
Pense nisso!
Bibliografia:
1 – Carson, D.A. O Comentário de Mateus, Ed. Shedd,
Sto Amaro, São Paulo, SP, 2011, p. 258.
2 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1,
Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 260.
3 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem
perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 245.
4 – Ibidem, p. 246.
5 – Ibidem, p. 248.
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