Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Lucas 7.24--35
INTRODUÇÃO
Aquilo que pensamos a respeito de nós mesmos ou que os outros pensam de
nós não é tão importante quanto aquilo que Deus pensa. Jesus esperou até que os
mensageiros [de João] tivessem partido e, então, elogiou João publicamente por
seu ministério, revelando, ao mesmo tempo, o coração pecaminoso daqueles que
rejeitavam o ministério de João [1].
João Batista, com frequência, testemunhou de Jesus; agora, Jesus
testemunha de João [2]. Como disse J. C. Ryle, Jesus pleiteou a causa de seu
amigo ausente utilizando um linguagem forte e ardente. Ordenou seus ouvintes a
tirarem de sua mente as dúvidas a respeito desse homem piedoso [3].
Quando lemos as Escrituras, nós encontramos o Senhor testemunhando de
algumas pessoas: Gideão o Senhor o chamou de “homem valoroso” (Jz 6.12); Daniel foi chamado de “homem muito amado” (Dn 10.11); João
Batista “o maior profeta” (Lc 7.28); Herodes
Jesus o chamou de “raposa” (Lc 13.32).
Por isso mais uma vez repito: “Aquilo que
pensamos a respeito de nós mesmos ou que os outros pensam de nós não é tão
importante quanto aquilo que Deus pensa”. De que maneira Jesus
definiria você?
Sobre esse testemunho de Jesus a respeito de João que eu quero pensar com
você.
1 – JOÃO UM HOMEM
APROVADO POR JESUS (Lc 7.24-30).
Podemos destacar cinco características de João que o texto nos mostra.
1º
- João Batista não era um homem que se curvava diante das adversidades (Lc
7.24). A cana a que Jesus se
referia era comum nas margens dos rios do Oriente Próximo, incluindo as do
Jordão, onde João batizou. Eles eram leves e flexíveis, acenando para trás e
para frente com cada brisa. “Um caniço
agitado pelo vento” sugere uma pessoa instável, levada em seu julgamento
pelos ventos da opinião pública ou da desdita pessoal [4].
João Batista não era um caniço agitado pelo vento, que se curva diante
das adversidades. Era um homem incomum e inabalável. Ele preferiu ir para a
prisão com a consciência livre a ficar livre com a consciência prisioneira. Ele
preferiu a morte à conivência com o pecado do rei Herodes. O martírio é
preferível à apostasia! [5]. João Batista não era um homem de disposição instável,
de conduta fraca e covarde.
Sua prisão por reprovar o rei Herodes mostrou que ele não tinha medo dos
homens; e quanto à sua constância, apesar de parecer um pouco abalada pela
mensagem que ele enviou, não foi prejudicada por ela. Pois sua fé em Cristo não
podia deixar de permanecer inviolável, pois havia sido fundada em uma revelação
específica e na descida visível do Espírito Santo, acompanhada por uma voz do
céu, declarando que ele era o Filho de Deus.
Como nos fala Paulo em sua carta ao Efésios: “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por
todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam
fraudulosamente” (Ef 4.14).
João Batista não era um caniço balançado pelo jogo do vento, mas sim um
cedro sacudido pela tempestade [6]. Se alguma vez houve um homem com convicções
inabaláveis, foi João Batista.
2º
- João Batista não se deixou seduzir pelo poder e nem pelo luxo (Lc 7.25). João Batista não era um homem dos palácios, mas do
deserto. Ele não se importava com os trajes finos dos palacianos. Todos sabiam
que João usava uma roupa extremamente rústica - uma veste de pelos de camelo e
um cinto de couro (Mt 3.4). Tanto que a expressão “vestes delicadas” (malakos
em grego), só usado em outras duas passagens do Novo Testamento em Mt 11.8 e em
1Co 6.9, conota “suavidade” ou até
mesmo “efeminação” e pode ser um
termo irônico. Contrasta a roupa áspera que o profeta realmente vestia. A expressão
que se refere aos que estão “nos palácios reais” é uma alfinetada maliciosa no
homem que matinha João Batista na prisão [7].
João Batista também não era uma celebridade que desfrutava a amizade de
gente importante e os prazeres da riqueza [8]. João teve muitas oportunidades
para jogar com a multidão e ganhar a aprovação das autoridades. Ele era uma
figura tão poderosa e dominante que muitas pessoas pensavam que ele próprio
poderia ser o Messias (Lc 3.15), no entanto, ele nunca se utilizou dessa
popularidade para se promover e ser aceito por todos.
Diferentemente de alguns pastores que gostam dos holofotes e adoram andar
com pessoas influentes. Andam com políticos de má índole, gente que tem o nome
sujo por escândalos e desvio de verbas públicas. Esses pastores fazem questão
de saírem em fotos com esse tipo de gente só para dizer que também são
influentes. Gente assim envergonha o nome de João Batista que preferiu a prisão
e a morte a apoiar o pecado de Herodes.
Como falou o Reverendo Hernandes Dias Lopes: “João Batista era um homem
insubornável. Ele não viveu bajulando os poderosos, tecendo-lhes elogios a
despeito de seus pecados. Ao contrário, confrontou-os com firmeza granítica e
robustez hercúlea. Ele não vendeu sua consciência para alcançar o favor do rei.
Não buscou as glórias deste mundo para angariar favores efémeros, mas cumpriu
cabal e fielmente o seu ministério” [9].
3º
- João Batista, profeta e precursor do Messias (Lc 26,27). O povo reuniu-se no deserto para ver um profeta,
uma vez que todos concordavam que havia séculos que um profeta verdadeiro não
aparecia. Não é de admirar tamanha agitação. Jesus confirma o julgamento da
multidão e o ultrapassa – João não era apenas um profeta, era mais que um
profeta. Em que sentido? Neste: não só ele era como outros profetas do Antigo
Testamento, um porta-voz direto de Deus para chamar a nação ao arrependimento,
mas ele mesmo também foi o sujeito da profecia – aquele que, de acordo com a
Escritura, anunciaria o Dia do Senhor (Lc 7.27) [10].
João Batista não era apenas um profeta, mas sim um profeta cujo ministério
havia sido profetizado (Is 40.3 e Ml 3.1)! João Batista foi o último profeta do
Antigo Testamento e, como mensageiro de Deus, teve o privilégio de apresentar o
Messias a Israel [11].
A vida e o ministério de João Batista é a prova do que está escrito em
Isaías 55.10,11: “Porque, assim como
desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não tornam, mas regam a terra, e a
fazem produzir, e brotar, e dar semente ao semeador, e pão ao que come, assim
será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia,
antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei”.
4º
- João Batista era uma pessoa ímpar no Reino de Deus (Lc 7.28). João Batista se destaca como primeiro entre todos
os profetas por sua posição única no reino de Deus. Ele encerrou a antiga aliança e iniciou a nova. João merece ser
chamado o maior entre todos os profetas, porque ele foi o enviado de quem falou
Malaquias [12]. A partir de uma perspectiva terrena, o caráter e o chamado de
João fez dele o maior homem nascido entre os homens. Em qualidades superiores
como um ser humano, João era inigualável.
Mas fica uma pergunta: de que maneira o menor no reino de Deus é maior do
que João? Em termos de posição, não de caráter nem de ministério. João foi
arauto do Rei, anunciando o reino. Os cristãos de hoje são filhos do reino e
amigos do Rei (Jo 15.15). O ministério de João constituiu um divisor de águas,
tanto na história nacional de Israel quanto no plano redentor de Deus (Lc
16.16) [13].
Leon L. Morris diz que o menor no reino é maior, não por causa de
quaisquer qualidades que venha a possuir, mas, sim, porque pertence ao tempo do
cumprimento. Jesus não está subestimando a importância de João. Está colocando
a membrezia do reino na sua perspectiva apropriada [14].
Essa declaração deve ser explicada à luz de Lc 10.23, 24: “Felizes sãos os olhos que veem o que vocês
veem, pois eu lhes digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vocês
estão vendo, mas não viram; e ouvir o que vocês estão ouvindo, mas não ouviram”.
(NVI) O menor no reino era maior que João no sentido de ser mais altamente
privilegiado, porque o João encarcerado não estava em contato tão estreito com Jesus
como estava o menor dentre eles [15].
5º
- João Batista pregou com ousadia a vinda do Reino de Deus (Lc 7.29,30, Mt
3.1,2). Muitos do povo em geral
ouviram a mensagem de João, aceitaram-na e foram batizados por ele como prova
de seu arrependimento. Assim, “reconheceram
a justiça de Deus”, ou seja, concordaram com aquilo que Deus havia dito
sobre eles (SI 51.4). Os líderes religiosos, porém, se justificaram a si mesmos
(Lc 16.15) sem reconhecer a justiça de Deus e rejeitaram João e sua mensagem
[16].
O que ocorreu no tempo de João Batista continua ocorrendo nos dias de
hoje. O homem continua o mesmo, pois somos feitos do mesmo barro de Adão. Muitos
por orgulho, por se verem independentes e autossuficientes rejeitam a Deus. Mas
os humildes que olham para dentro de si e se veem dependentes de Deus, a estes
o Senhor se revela. Como escreveu Paulo: “Mas
Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus
escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus escolheu
as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar
as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele” (1Co 1.27-29).
2 – UMA DURA CRÍTICA
AOS QUE REJEITAM OS MENSAGEIROS DE DEUS (Lc 7.31-35).
A parábola das crianças teimosas com certeza consideram de maneira
especial os fariseus e escribas. Sua posição diante de João e Jesus
assemelha-se à de crianças inconstantes ao brincar. Tocam a flauta, mas ninguém
dança. Entoam um lamento fúnebre, porém ninguém golpeia o peito (Mt 11.17; Lc
7.32). Por meio dessa comparação Jesus afirma: seus contemporâneos são como as
crianças mal-humoradas que criticam maldosamente tudo o que Deus realizou através
de João e dele mesmo. No entanto, Deus enviou a essa geração João Batista e “o
Filho do Homem”, como últimos emissários antes da catástrofe final. Por causa
de seu modo de vida ascético, disseram de João Batista que ele teria um
demônio. Jesus, que tinha uma conduta não-ascética, foi chamado glutão e
beberrão, um amigo de coletores de impostos e pecadores (Lc 5.27-32; 15.1). A
pregação de arrependimento de João não lhes servia, e a pregação do evangelho
de Jesus tampouco lhes era simpática. Os contemporâneos daquela época eram tão
inconstantes e travessos que reclamavam de tudo o que Deus fazia por eles [17].
Com isso em mente podemos destacar duas coisas:
1º
- A infantilidade religiosa continua hoje. Muitas pessoas hoje estão agindo como os fariseus e escribas da Lei da
época de Jesus; nunca estão satisfeitos com o agir de Deus em suas vidas e na
História. Por mais que o Senhor faça e se revele, para tais pessoas nunca é o
suficiente. Por isso Jesus comparou aquela geração com pessoas imaturas
(crianças), que não se contentavam com coisa alguma. A infantilidade religiosa
perdura até hoje. A sociedade se modernizou, mas o ser humano é o mesmo. E
diante da pandemia que temos enfrentado nós temos visto isso de forma ainda
mais clara.
Observe que quando as crianças brincam, elas frequentemente imitam o
comportamento dos adultos. Aparentemente, as crianças nos dias de Jesus, muitas
vezes brincavam de duas coisas que refletiam os acontecimentos mais
significativos na vida social judaica: casamentos e funerais. Assim era João
Batista e Jesus. João simbolizava o funeral, a antiga Lei e Jesus a festa de
casamento, representando a graça.
João pregava uma mensagem severa de julgamento, e eles diziam: “Tem demônio!”. Jesus misturava-se com o
povo e pregava uma mensagem de salvação repleta de graça, e eles diziam: “Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo
de publicanos e pecadores!”; ou seja, não queriam nem o funeral nem o casamento,
pois nada lhes agradava [18].
Vivemos hoje dias tão difíceis que até para Jesus operar um milagre é
algo complicado. Antigamente Jesus multiplicava pão e peixe, hoje vivemos uma
geração (dentro da igreja e na sociedade), que, ou não comem uma coisa ou não
comem a outra, ou nenhuma as duas coisas; mas reclamam porque não existem mais
milagres hoje!
2º
- Os sábios, porém, não se deixam desanimar. A sabedoria é justificada por todos os seus
filhos. O verbo justificada quer dizer “declarada justa” ou “demonstrada como
sendo justa” ou “aceita como justa”. Aqueles que são realmente sábios (os
filhos da sabedoria), pronunciarão justo o caminho justo, seja ele ascético ou
social. Verão a sabedoria de Deus tanto em João quanto em Jesus. Não andarão
nos caminhos críticos dos homens que nunca se deixam contentar [19].
Quem quer evitar encarar a verdade sobre si mesmo sempre encontra algum
defeito no pastor. Essa é uma forma de “justificar-se”. Mas a sabedoria de Deus
não é frustrada por argumentos de “sábios e prudentes”. Antes, é demonstrada na
vida transformada dos que creem. Somente assim a verdadeira sabedoria é
“justificada” [20].
João e Jesus tinham cada um uma missão distinta a cumprir. Cada um tinha
sua tarefa. Jesus, que pessoalmente era e é a “sabedoria de Deus” (1Co 1.30),
levou a bom termo sua tarefa de forma perfeita; João a cumpriu em grande medida
de forma excelente. Então, os filhos da sabedoria são todos os que foram
suficientemente sábios a ponto de levar a sério e sinceramente a mensagem de
João e a de Jesus [21].
CONCLUSÃO
O maior testemunho que uma pessoa pode ter não é a que vem do si mesmos e
nem dos outros, mas de Deus. João Batista foi esse homem que recebeu de Jesus o
maior dos elogios. Mas aí fica a pergunta: como o Senhor tem visto você? O que
Ele pode falar a seu respeito? Você alguma vez já pensou a esse respeito?
Pense nisso!
Bibliografia
1 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico
Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 255.
2 – Carson, D. A. O Comentário de Mateus, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP,
2011, p. 313.
3 – Ryle, J. C. Meditação no Evangelho de Lucas, Ed. Fiel, São José dos
Campos, SP, 2002, p. 109.
4 – Carson, D. A. O Comentário de Mateus, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP,
2011, p. 313.
5 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos,
São Paulo, 2017, p. 215.
6 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Mateus, Comentário Esperança, Ed.
Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 125.
7 – Carson, D. A. O Comentário de Mateus, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP,
2011, p. 313, 314.
8 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico
Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 255.
9 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos,
São Paulo, 2017, p. 216.
10 – Carson, D. A. O Comentário de Mateus, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP,
2011, p. 314.
11 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico
Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 255.
12 – Rienecker, Fritz. O Evangelho de Mateus, Comentário Esperança, Ed.
Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 126.
13 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico
Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 255.
14 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e
Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 136.
15 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 1, São Paulo, SP, Ed. Cultura
Cristã, 2003, p. 533.
16 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico
Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 255.
17 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed.
Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005, p. 116.
18 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico
Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 255.
19 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e
Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 138.
20 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico
Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 255.
21 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 1, São Paulo, SP, Ed. Cultura
Cristã, 2003, p. 537.
Que Palavra Abençoada meu irmão! Deus lhe recompense por esse trabalho.
ResponderExcluirGraça e paz Mayko.
ExcluirObrigado. Fico feliz em saber que esta palavra o tenha edificado.
Que Deus o abençoe!
Fique na Paz!
Pr Silas Figueira