domingo, 7 de fevereiro de 2021

O SERMÃO DO MONTE - UMA ANÁLISE EM LUCAS (parte 2)

Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Lucas 6.20-26

INTRODUÇÃO

Diferentemente de Mateus, Lucas registra somente quatro bem-aventuranças. Lucas as trata de forma mais resumida, mas não de menor importância. É importante destacarmos que o Sermão do Monte não é uma declaração de ética, e quem as aplica-las será salvo. Tentar aplicar os princípios deste sermão à parte da regeneração é fútil e impossível. Somente através da regeneração, com ajuda do Espírito Santo, poderemos viver o que o Senhor nos ordena aqui.

D. Martyn Lloyd-Jones disse que “o mundo atual está aguardando o aparecimento de crentes autênticos, e deles precisa desesperadamente. Nunca me canso de dizer que aquilo de que a Igreja mais necessita não é organizar campanhas de evangelização, a fim de atrair as pessoas que ainda estão do lado de fora, mas começar, ela mesma, a viver a vida cristã. Se a Igreja assim agisse, homens e mulheres haveriam de encher nossos templos” [1].

1 – O QUE SÃO AS BEM-AVENTURAÇAS?

Ao contrário de Mateus, que cita oito bem-aventuranças (Mt 5.3-11), Lucas traz somente quatro bem-aventuranças no início do sermão. A essas quatro bem-aventuranças são acrescentadas, em correspondência exata, quatro ais, que fazem parte do material exclusivo do presente evangelista. Por meio deles assinala-se uma inversão e revalorização de todas as correspondências terrenas no reino de Deus. A interpelação direta de pobres e ricos nas bem-aventuranças e nos ais dirige-se a todos os ouvintes, provavelmente porque havia entre eles representantes de ambas as classes [2].

1º - A finalidade das Bem-aventuranças. Observe aqui em Lucas que o Senhor ministra esse grande sermão depois de ter escolhido os doze apóstolos. A mensagem que seria ministrada ali por Jesus era algo muito diferente e mais profundo do que estavam acostumados a ouvir, seria algo revolucionário a todos.

Arthur W. Pink diz que o “Sermão do Monte” apresenta o Manifesto do Rei. Ele contém a “Constituição” do Seu reino. Ele anuncia as leis que haverão de governar a conduta deles. A autoridade do Rei fica evidenciada pelos Seus “Eu, porém, vos digo”, repetidos não menos do que catorze vezes neste “Sermão” em Mateus. O efeito que Suas palavras tiveram sobre os Seus ouvintes fica evidente nos versículos finais: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mateus 7.28,29) [3].

Nesses textos Ele apresenta como que a “plataforma de Seu Reino”, seu “programa de governo”, e os apóstolos teriam a incumbência de dar continuidade dessa mensagem. Esses valores devem ser observados ainda hoje pela igreja.

Literalmente Jesus toma as ideias pré-estabelecidas pelo mundo secular e as põem ao contrário. Jesus chamava felizes àqueles que o mundo considera desgraçados, e desgraçados aos considerados felizes. Imaginem a alguém que diga: “Felizes os pobres”, e “Ai dos ricos!”. Falar assim é pôr fim a todos os valores do mundo [4].

Por isso que a mensagem do Evangelho é revolucionária e inaceitável para o homem natural (1Co 2.14-16). Na verdade, a Igreja é uma “contra cultura”. Os valores por ela pregada entra em choque com tudo que o mundo ensina e vive. Na verdade, esses valores do Reino entra em choque com o nosso “EU”. Por isso que Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9.23-26).

Warren W. Wiersbe diz que o Sermão do Monte aplica-se à vida em nosso tempo e descreve o tipo de caráter piedoso que devemos ter como cristãos neste mundo. Fica claro que Cristo descreve uma conjuntura extremamente distinta daquela do reino glorioso, pois inclui fome, lágrimas, perseguição e falsos mestres [5].

2º - Bem-aventurados (beatitudes), é incompatível com a alegria do mundo. O grande problema do homem sempre será a busca da felicidade naquilo que é passageiro, no que é efêmero e fugaz. É o que a filosofia chama de hedonismo.

Hedonismo vem do grego Hedonê — nome uma deusa na mitologia grega que representa o prazer. Filha de Eros e Psique. Hedonê era a representação encarnada de uma vida prazerosa. O hedonismo é uma doutrina, ou filosofia de vida, que defende a busca por prazer como finalidade da vida humana. Buscar prazer é o que move as paixões, os desejos e todo o mecanismo da vida, sendo, portanto, na visão de hedonistas, a primeira e mais completa ponte para a finalidade última da vida: a felicidade.

A felicidade proposta por Jesus foge desse hedonismo que o mundo busca.

A palavra “bem-aventurado” vem do grego “makarios”, um adjetivo que basicamente significa feliz ou aquele que desfruta da felicidade celestial. A palavra vem da raiz makar, que significa ser feliz, mas não no sentido usual de felicidade, baseado em circunstâncias positivas [6]. A palavra makarios vem do hebraico asher que significa abençoado [7]. Uma pessoa bem-aventurada é uma pessoa que desfruta da felicidade celestial, daquilo que o mundo não tem pois anda na contramão da Sua vontade. É uma felicidade que não está baseada nas circunstâncias, mas no próprio Deus (Fl 4.4,10-13).

Como disse John Piper: “Essa é a base bíblica para o hedonismo cristão: Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nele”.

1 – AS QUATRO BEM-AVENTURANÇAS (Lc 6.20-23).

Analisemos as quatro bem-aventuranças:

1º - Bem-aventurados os pobres (Lc 6.20). Os pobres aqui são aquelas pessoas que vivem na total dependência de Deus. Aqui o texto não fala de pobreza material, mas de pobreza espiritual.

No grego existem duas palavras para designar “pobreza”: a primeira delas é penês – esta palavra é usada para descrever o homem que tem de trabalhar para ganhar a vida (autodiákonos). É aquele que não tem nada que lhe sobre. É o homem que não é rico, mas que também não padece necessidades. A segunda palavra é ptokós – descreve a pobreza absoluta e total daquele que está afundado na miséria. É ser pobre como um mendigo [8].

Jesus descreve que é bem-aventurado o homem que, diante de Deus, se vê como um mendigo. Essa pessoa então é uma pessoa feliz. Aqui está se falando do homem interior e não do exterior. É reconhecer que somos dependentes da graça e misericórdia de Deus todos os dias. Que de nós mesmos nada temos.  

E se alguém, na presença de Deus sentir alguma outra coisa qualquer, além da mais penúria de espírito, isso apenas significará, em última análise, que tal pessoa nunca esteve na presença do Senhor. Esse é o significado da primeira bem-aventurança [9].

A promessa aos desamparados espiritualmente é que deles é o reino de Deus. O presente tempo verbal indica que mais do que apenas as futuras bênçãos do reino futuro. Os crentes desfrutam agora as bênçãos do reino de “justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm. 14.17). O gozo do céu compensará amplamente as dificuldades da terra, como disse o apóstolo Paulo: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18).

“Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2Co 4.16-18).

2º - Bem-aventurado o tem fome (Lc 6.21a). O texto aqui nos fala a respeito da fome espiritual. Da fome de justiça. A ideia no grego nos fala de sentir uma fome profunda.

Em Mateus lemos: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mt 5.6). John Stott diz que a justiça tem três aspectos: legal, moral e social. A justiça legal trata da nossa justificação, um relacionamento adequado com Deus. A justiça moral trata da conduta que agrada a Deus, a justiça interior, de coração, de mente e de motivações. A justiça social refere-se à busca pela libertação do homem de toda opressão, junto com a promoção dos direitos civis, de justiça nos tribunais, da integridade nos negócios e da honra no lar e nos relacionamentos [10].

Devemos entender que a justiça aqui apresentada não é uma justiça utópica. Uma justiça que muitas vezes encontramos nos discursos comunistas. Estamos falando aqui da justiça vivida por cada cristão compromissado com o Reino de Deus. Por isso nós não podemos esperar essa mesma justiça do homem natural e nem nos tribunais onde impera a corrupção.

Infelizmente esta é uma dura realidade deste mundo: os mortos não têm apetite. O alimento de Deus não desperta nenhum apetite nos espiritualmente mortos. A fome é o primeiro sinal de que uma pessoa está viva. Quando Jesus ressuscitou a filha de Jairo mandou que lhe dessem de comer (Mc 5.43).

O Senhor conclui esta bem-aventurança dizendo que “sereis fartos”. Seremos fartos das promessas de Deus e do Pão da Vida que é Jesus (Jo 6.35). Em uma parábola narrada somente em Lucas, a do fariseu e o Publicano (Lc 18.9-17), Jesus nos deu uma comovente ilustração dessa fome espiritual. Note as palavras: “Mas o coletor, estando em pé, longe, nem mesmo ousava erguer seus olhos ao céu, porém batia em seu peito, dizendo: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador” (Lc 18.13). A fome aqui implícita é um anelo por misericórdia e perdão, por paz de mente e coração, pureza e santidade, comunhão com Deus [11].

Temos outro exemplo em outra parábola que Jesus contou, a parábola do filho pródigo (Lc 15.11-32). Quando o filho pródigo teve fome, queria alimentar-se com as bolotas jogadas aos porcos; mas quando estava morrendo de inanição, voltou para o seu pai. Só poderemos ser saciados da fome espiritual do alimento da mesa do Pai. Longe de Deus nós nunca seremos saciados da nossa fome.

3º - Bem-aventurados os que choram (Lc 6.21b). Esse “choro” espiritual é algo que, necessariamente, resulta no fato de ser alguém “pobre de espírito”. É aquela pessoa que está entristecido de seu próprio pecado. A palavra no grego utilizada aqui para chorar é panthoutes, que significa lamentar-se pelos mortos. Uma tristeza profunda.

O cristianismo começa com a consciência do pecado. Quão feliz é o homem que sente profunda dor por seu pecado, o homem que sente que seu coração se rompe ao dar-se conta do que fez com sua vida, contra Deus e Jesus, o homem que fica atônito ante o desastre que o seu pecado pôde ocasionar! [12]

O apóstolo Paulo em sua segunda carta aos Coríntios diz: “Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte” (2Co 7.10). É a tristeza pelo pecado que desemboca na felicidade verdadeira.

A recompensa prometida para os que choram o choro do pecado é que serão consolados, ou como disse Lucas: “porque haveis de rir”. Os consolados são os que se arrependem de seus pecados e alcançam o perdão de Deus (Lc 5.20). Um exemplo desse arrependimento e consolo encontramos na vida de Davi. Ele derramou lágrimas de solidão, rejeição, frustação, abatimento, decepção e fracasso. Tanto que escreveu no Salmo 32.1: “Bem-aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada”. Veja também o Salmo 51.

4º - Bem-aventurados os perseguidos (Lc 6.22,23). A bem-aventurança final é talvez a mais paradoxal e, do ponto de vista humano, mais incompreensível de todas. Os três primeiros descrevem como o pecador arrependido vê a si mesmo; a quarta descreve como o mundo o vê. O Senhor usou quatro verbos, de ódio, ostracismo, insulto e escárnio para resumir o sarcasmo, hostilidade e animosidade que será derramada sobre seus discípulos pelo mundo incrédulo. Esta quarta bem-aventurança indica que o trabalho dos três primeiros foi realizado.

Ao longo dos séculos, a igreja tem sofrido perseguição. Os crentes foram perseguidos em todos os lugares e em todos os tempos. Paulo disse: “Todo aquele que quiser viver piedosamente em Cristo será perseguido” (2Tm 3.12). Depois de ser apedrejado em Listra, Paulo encorajou os novos crentes, dizendo-lhes: “...através de muitas tribulações, nos importa entrar no Reino de Deus” (At 14.22). Escrevendo aos Filipenses, o apóstolo disse: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele” (Fl 1.29). Os judeus primitivos foram duramente perseguidos, tanto pelos judeus como pelos gentios [13]. O único crime dos cristãos era colocar a Cristo acima de César; e por esta lealdade suprema os cristãos morreram aos milhares e enfrentaram incríveis torturas.

Como podemos nos alegrar na perseguição?

Podemos nos alegrar nas perseguições, porque mediante elas temos a oportunidade de demonstrar nossa fidelidade a Cristo. Ninguém quer ser perseguido, mas é mediante as perseguições que nossa fé é demonstrada com mais vigor.

Podemos nos alegrar nas perseguições, porque mediante elas temos a oportunidade de deixar um legado de fé para os que vem depois de nós. Nos países que o comunismo e o islamismo governam, muitos dos nossos irmãos têm padecido afrontas, perdas dos bens materiais, a liberdade e a vida. Ainda hoje ecoa a voz do Senhor Jesus dizendo: “Saulo, Saulo porque me persegues?”.

Veja o que Tiago disse para a igreja: “Meus irmãos, tende por motivo de toda a alegria, o passardes por várias provações” (Tg 1.2-4).

Em filipenses 1.29 nos diz: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo, e não somente de crerdes nele”.

Vemos isso quando lemos Atos 6.40,41:

“E, chamando os apóstolos, e tendo-os açoitado, mandaram que não falassem no nome de Jesus, e os deixaram ir. Retiraram-se, pois, da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afronta pelo nome de Jesus”.

Isso não é sadismo, isso é gozo espiritual por terem sido dignos de padecer por amor a Cristo. Isso é maturidade espiritual.

“Folgai nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso galardão no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas” (Lc 6.23) – Jesus consola-os com a referência ao grande galardão no céu, que receberão em troca das injúrias por amor dele. Não se fala aqui de nenhum pensamento meritório. Deus sem dúvida concede a vida eterna, como gratidão ou graça por tribulações sofridas, porém não como mérito. O galardão, que é grande, já se encontra agora no céu, onde Deus o guardou em segurança (cf. Lc 18.22; 1Pe 1.4). [14].

2 – QUATRO AIS – OS QUE FICARÃO FORA DO REINO (Lc 6.24-26).

Esses quatro ais é um material exclusivo do Evangelho de Lucas. Esse ais formam um correlativo natural às bem-aventuranças. Esses ais é uma forma de pesar, de lástima, de lágrimas e compaixão, e não uma ameaça [15]. Observe o contraste: Bem-aventurado os pobres, ai de vós os ricos; bem-aventurado os que tem fome, ai de vós que estais fartos; bem-aventurados os que choram, ai de vós, os que agora rides; bem-aventurado os perseguidos, ais de vós quando todos os homens de vós disserem o bem.

Os quatro “ais” apresentam uma verdade em comum: quem tira o que deseja da vida paga por isso. Se deseja riqueza imediata, saciedade, riso e popularidade, pode conseguir essas coisas, mas há um preço: isso é tudo o que você vai receber. Jesus não disse que essas coisas são erradas. Disse que encontrar nelas toda a satisfação já é seu próprio julgamento [16].

Analisemos esses “ais”:

1º - Ai dos ricos (v. 24) – Esse ai não é dirigido aos discípulos, ele é dirigido aos “ricos” que estavam entre a multidão. Aos religiosos que o acompanhavam para fiscalizar os seus ensinamentos. Provavelmente os fariseus e os saduceus.

O primeiro “ai” não foi um pronunciado aos que são ricos materialmente. Ser rico em si não é pecado; Abraão, Jó, Nicodemos e José de Arimatéia eram ricos, e de acordo com Dt 8.18 Deus concede o poder de obter riqueza: “Antes te lembrarás do Senhor teu Deus, que ele é o que te dá força para adquirires riqueza”. Ser rico nunca foi e nunca será pecado, se essa riqueza foi adquirida de forma honesta, pois Deus dá prosperidade ao seu povo. 

Os ricos aqui são aqueles que se imaginam ser ricos no reino espiritual. São aquelas pessoas que pensam que os seus atos justos são suficientes para obter a salvação. Um bom exemplo é o fariseu na parábola do Fariseu e do publicano, onde “o fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho” (Lucas 18: 11-12).

A maldição pronunciada sobre eles é que eles estão recebendo o seu conforto de forma plena nesta vida. O que os espera na eternidade é o tormento, incessante do inferno (cf. Lc 16.25).

Mas esse texto também fala daquelas pessoas que tem posses, que têm funcionários e os exploram. Da riqueza adquirida de forma injusta e, muitas vezes, desonesta. Esses também irão responder diante do Senhor naquele grande dia. O Senhor condena quem tais coisas praticam (Tg 5.4-6; Jr 22.13,14; Cl 4.1).  

2º - Ai dos fartos (v. 25a). Jesus está falando a respeito dos que vivem na prática da injustiça e se fartam de maldade. Pessoas que estão cheios de justiça própria e não se sentem carentes da graça de Deus.

Aqui está a antítese da bem-aventurança dos que têm fome. Não da fome natural, mas da fome de justiça. Ao contrário daqueles que anseiam por uma justiça, os fartos de injustiça imaginam que eles têm tudo o que precisam, no entanto, eles não têm nada. A maldição pronunciada sobre eles é que eles serão eternamente famintos, experimentando a roer, a fome de uma alma perdida no inferno sem fim. Eles receberão a justiça divina, o justo juízo.

Vemos esta condenação do juízo vindouro em Tiago 5.1-6:

“Atendei, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos sobrevirão. As vossas riquezas estão corruptas, e as vossas roupagens, comidas de traça; o vosso ouro e a vossa prata foram gastos de ferrugens, e a sua ferrugem há de ser por testemunho contra vós mesmos e há de devorar, como fogo, as vossas carnes. Tesouros acumulastes nos últimos dias. Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes engordado o vosso coração, em dia de matança; tendes condenado e matado o justo, sem que ele vos faça resistência”.

Muitas vezes nós seremos injustiçados nesta vida, mas o justo Juiz há de julgar a nossa causa, nos dando, talvez não aqui, mas na glória, o gozo e paz que tanto anelamos. Mas os ímpios receberão a condenação eterna pelo mal que tem praticado.

Como disse Paulo aos Gálatas 6.7-10:

“Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido. Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé”.

3º - Ai dos que dos que riem (v. 25b). A risada de que se fala aqui é a risada maldosa, que odeia a justiça e triunfa sobre o justo. Eles não têm uma santa alegria. A alegria dos justos eles não conhecem. São pessoas que muitas vezes estão entre os religiosos, mas não tem compromisso com Deus.

Mas uma vez citando Tiago que nos diz:

“Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes? Antes, ele dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Alimpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai os corações. Senti as vossas misérias, e lamentai e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo em tristeza (Tg 4.4-9).

Os presunçosos estão satisfeitos com suas conquistas religiosas e sua moralidade superficial. Por isso que Tiago os chama de adúlteros e adúlteras. Essas pessoas vivem enganando e estão em adultério com o diabo. Elas pensam que alcançarão a eternidade com Deus vivendo dissolutamente em adultério e profanando o sagrado. Não que a salvação seja mediante as obras, mas quem é salvo demonstra sua salvação através do seu testemunho.

Veja o que o Senhor nos fala em Mateus 7.21-23:

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.

A dura realidade é que enquanto “muitos virão do oriente e do ocidente, e reclinar-se à mesa com Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus”, muitos que pensam que são “filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores” (Mt 8.11-12.). Em nítido contraste com a alegria eterna prometida aos verdadeiros discípulos, “naquele lugar (inferno) haverá choro e ranger de dentes” (Lc 13.28).

4º - Ai dos que são louvados (Lc 6.26; Mt 7.15-20). Quando todos nos louvarem é sinal de que há muito já sacrificamos alguns princípios. Um profeta verdadeiro é por demais incômodo para ser popular [17].

Quais são as principais características de um falso profeta:

a - Um falso profeta busca aplauso e aceitação. Vivemos um tempo em que muitos pregadores fazem de tudo para serem populares e aceitos por todos, nem que para isso deixem de pregar a respeito do pecado, pois, para eles, falar do pecado constrange os ouvintes. Diferentemente de Paulo quando esteve em Éfeso: “Como nada, que útil seja, deixei de vos anunciar, e ensinar publicamente e pelas casas” (At 20.20).   

b - Um falso profeta relativiza as Escrituras. Para um falso profeta, a Bíblia não é a Palavra de Deus. Para este, as Escrituras são falíveis e não devem servir como plena referência para o cristão.

c -  Um falso profeta prega o evangelho da confissão positiva. O falso profeta nega a possibilidade do sofrimento e anunciando um cristianismo desprovido da cruz.

d - Um falso profeta fala de Cristo, entretanto o nega. Prega sobre Cristo, mas não o conhece; fala em nome do Espírito Santo, sem contudo ter sido regenerado por ele.

e - Um falso profeta fala o que o povo quer ouvir. As pessoas terão prazer em ouvi-los porque falarão o que as pessoas gostam de ouvir. Como nos alertou Paulo em 2Tm 4.3-5: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério”.

A. W. Tozer em seu livro “A Vida Crucificada” diz que “o que a igreja precisa temer é tornar-se aceita na comunidade. Uma igreja aceita pela comunidade mundana jamais é uma igreja cheia do Espírito Santo. Uma igreja que esteja cheia do Espírito Santo, separada do mundo e andando com Deus, jamais será aceita por uma comunidade mundana” [18].

CONCLUSÃO

As multidões que acompanhavam Jesus viu muitos milagres operado por Ele, muitos corpos foram curados, no entanto, os seus ensinamentos atingiam as almas das pessoas.

Observar os seus ensinamentos e praticá-los é andar na contramão do que o mundo ensina e pratica, é viver uma contracultura, é ser o inverso do que o mundo ensina e pratica. Por isso, quando nós observamos os ensinamentos de Jesus chegamos a uma única conclusão: “sem a ajuda do Espírito Santo nós não conseguiremos atingir tais objetivos”. Só mediante a conversão e uma vida crucificada poderemos praticar o que nos foi dito até aqui.

Nós cristãos vivemos para agradar o nosso Senhor e não fazermos a nossa vontade. Temos que andar em Suas pisadas e praticar os seus ensinamentos para sermos conhecidos no mundo como servos de Deus.

Pense Nisso!

Bibliografia

1 – Lloyd-Jones, D. Martyn. Estudos no Sermão do Monte, Ed, Fiel, São Paulo, SP, 1984, p. 17.

2 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 100.

3 – Barclay, Willian. Comentário de Lucas, p. 68.

4 – Pink, A. W. Por Que Quatro Evangelhos, Tradução Hélio Kirchheim, p. 24.

5 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, 2012, p. 248.

6 – MacArthur, John. O Caminho da Felicidade, Ed. Cultura Cristã, São Paulo, SP, 2001, p. 33.

7 – Edwards, James R. O Comentário de Lucas, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP, 2019, p. 260.

8 – Lopes, Hernandes Dias. A Felicidade ao Seu Alcance – uma exposição das bem-aventuranças, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008, p. 22,23.

9 – Lloyd-Jones, D. Martyn. Estudos no Sermão do Monte, Ed, Fiel, São Paulo, SP, 1984, p. 40.

10 – Stott, John R. A Mensagem do Sermão do Monte, Ed. ABU, São Paulo, SP, 1986, p. 34,35.

11 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 1, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 460.

12 – Barclay, Willian. Comentário de Lucas, p. 106.

13 – Lopes, Hernandes Dias. A Felicidade ao Seu Alcance – uma exposição das bem-aventuranças, Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008, p. 122.

14 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 102.

15 – Morris, L. Leon. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 121.

16 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, 2012, p. 249.

17 – Morris, L. Leon. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p. 122.

18 – Tozer, A. W. A Vida Crucificada, Ed. Vida, São Paulo, SP, 2013, p. 106.

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