Por Pr. Silas Figueira
Texto base: Lucas 5.33-39
INTRODUÇÃO
O homem é por natureza
um ser religioso, porque provém de Deus e para ele caminha, o homem só vive uma
vida plenamente humana se viver livremente sua relação com Deus. Isso é um fato
indiscutível, no entanto, quando a religião se torna algo maior que o Deus que
se adora, aí ela se torna perigosa. Quando os preceitos religiosos (as doutrinas,
mandamentos ou ensinamentos) viram uma obsessão, uma neurose, aí ela se torna
perigosa. Ela vira um fardo. E o fardo religioso é um dos mais difíceis
de carregar e de se deixar.
Quando
a religião se torna uma obrigação e não algo prazeroso temos que repensar nossa
religiosidade. Como disse o apóstolo Paulo aos Colossenses
2.21-23: “Não manuseie!” “Não prove!”
“Não toque!”? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se
baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência
de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com
o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne” (NVI).
O texto que lemos nos
mostra os discípulos de João, juntamente com os fariseus, questionando Jesus a
respeito da prática do jejum. Esse questionamento tinha um certo peso de
crítica, pois dentro da tradição judaica haviam três principais pilares: a oração, a caridade e o jejum. No
entanto, os discípulos de Jesus não praticavam o jejum [1]. E isso estava
trazendo um certo incômodo a esses religiosos.
A Lei determinava um
jejum durante o ano todo, devendo acontecer no dia da expiação (Lv 16.29-34;
23.26-32; Nm 29.7-11; cf. At 27.9). No entanto, no decorrer dos anos, os jejuns
começaram a se multiplicar, e essa prática do jejum fora dos princípios
estabelecido na Lei foi aos poucos virando uma tradição. E ela estava tão
enraizada nos religiosos que os que não a praticavam eram mal vistos por eles. Aliás,
a grande crise que Jesus enfrentou entre os fariseus foi a observância da
tradição dos anciãos como se fosse a Lei estabelecida por Deus.
Para responder a esse
questionamento Jesus fala a respeito do casamento, do remendo em roupas e do
vinho em odres. É sobre essa resposta de Jesus aos discípulos de João Batista e
aos fariseus que eu quero pensar com você.
Quais as lições que
podemos tirar desse texto para nós hoje, quando a religião se torna um fardo.
1
– A RELIGIÃO SE TORNA UM FARDO QUANDO NOS É IMPOSTA (Lc 5.33).
A religião – nesse caso
estamos falando do cristianismo – se torna um fardo quando não servimos pelo
prazer de servir, mas quando nos é imposta como se fosse uma obrigação.
Observe o que nos fala
o versículo de Lc 5.33: “Disseram-lhe,
então, eles: Por que jejuam os discípulos de João muitas vezes, e fazem
orações, como também os dos fariseus, mas os teus comem e bebem?”. O
discípulos de João Batista e os fariseus estavam inquietos com a vida religiosa que os discípulos de
Jesus viviam.
Para eles os discípulos
de Jesus eram pessoas sem compromisso com a religião e a Lei de Moisés. Na
verdade eles estavam questionando o próprio Jesus que tinha fama de comilão e
bebedor de vinho, como lemos em Mateus 11.18,19:
“Porquanto
veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do
homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo
dos publicanos e pecadores. Mas a sabedoria é justificada por seus filhos”.
A Lei determinava
somente um jejum durante o ano todo, devendo acontecer no dia da expiação (Lv
16.29-34; 23.26-32; Nm 29.7-11; cf. At 27.9). No entanto, no decorrer dos anos,
os jejuns (nem sempre totais) começaram a se multiplicar, e nós lemos a
respeito deles em outras ocasiões: do nascer ao pôr-do-sol (Jz 20.26; ISm
14.24; 2Sm 1.12; 3.35); por sete dias (ISm 31.13); três semanas (Dn 10.3);
quarenta dias (Êx 34.2, 28; Dt 9.9, 18; lRs 19.8); no quinto e sétimo mês (Zc
7.3-5); e mesmo no quarto, quinto, sétimo e décimo mês (Zc 8.19). O clímax era
a observância de um jejum “duas vezes por
semana” para orgulho dos fariseus (Lc 18.12) [2]. Eles costumavam jejuar às
segundas-feiras e as quintas-feiras regularmente.
Quando
preceitos humanos são inseridos no cristianismo e passa ser uma obrigação acima
do que a Bíblia ensina, isso se torna um peso. Por exemplo,
usos e costumes, que é muito comum vermos em muitas denominações religiosas. Que
vai desde uma mulher não poder usar uma calça comprida a homens não poderem
usar barba; desde não poder comer mortadela a não poder tomar refrigerante...
O cristão deve se
vestir e se portar com decência e ordem em todos os lugares, mas o que acontece
é que muitas pessoas e igrejas querem impor o que elas acham que seja essa decência e ordem. Vou lhe dar um pequeno
exemplo. Uma vez foi perguntado a um pastor que eu conhecia se o crente podia
ouvir músicas seculares (do mundo). Ele respondeu que não, só se fossem músicas
do Roberto Carlos. Aí podia. Meu filho foi em uma festa de quinze anos de uma
amiga da escola dele. O avô da menina que era pastor não deixou tocar músicas
seculares (do mundo), mas liberou tocar e dançar “Macarena”.
Eu penso que isso é
coar a mosca e engolir o camelo.
“Condutores
cegos! que coais um mosquito e engolis um camelo. Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o
interior está cheio de rapina e de intemperança. Fariseu cego! limpa primeiro o
interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo”
(Mt 23.24-26).
Quando o cristianismo é
imposto (ou qualquer outra religião), se torna um peso. A pessoa pratica por
obrigação e não pelo prazer de servir. Devido
a essas obrigatoriedades infundadas que nós encontramos em muitas religiões os
radicais extremados ou os que não vivem se forma coerente a fé que confessam.
Sempre devemos ficar
com a Bíblia e nos seus ensinamentos. Veja o que o apóstolo Paulo nos fala a
respeito em 1Co 6.12:
“Todas
as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me
são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas”.
É aquela história que
temos visto por aí, quando alguém pergunta para a outra pessoa porque ela não pratica
tal coisa, e a resposta que geralmente dão é porque a sua religião não lhes
permite; com essa resposta a pessoa está dizendo que se a sua religião não
proibisse ela iria fazer tudo aquilo. Para a pessoa que pensa assim, o seu
cristianismo (ou qualquer outra religião) é um peso. É uma religião de usos e
costumes e de proibições. Não algo prazeroso.
2
– A RELIGIÃO SE TONA UM FARDO QUANDO É PRATICADA SEM ENTENDIMENTO (Lc 5.34,35).
Jesus disse que seus
discípulos não jejuavam porque o noivo ainda
estava com eles. Ou seja, Jesus era o noivo e os discípulos os amigos do noivo.
Eles estavam em festa.
Jesus aqui compara sua
bendita presença na terra com uma festa de núpcias. Repetidas vezes a Escritura
compara a relação entre Yahweh e seu povo, ou entre Cristo e sua igreja, com o vínculo
de amor existente entre o noivo e a noiva (Is 50.1 ss.; 54.1 ss.; 62.5; Jr
2.32; 31.32; Os 2.1ss.; Mt 25.1ss.; Jó 3.29; 2Co 11.2; Ef 5.32; Ap 19.7; 21.9)
[3].
As festas de casamento
dos judeus durava uma semana e eram ocasiões de grande alegria e celebração. Ao
usar essa imagem, Jesus estava dizendo a seus críticos: “Eu vim para fazer da vida uma festa de casamento, não um funeral”.
Mas Jesus deixou claro que, um dia, ele lhes seria “tirado”, uma indicação de sua rejeição e morte; mas enquanto isso
não acontecia, havia motivos de sobra para alegria, pois os pecadores estavam
se arrependendo [4].
Os
seus questionadores não conseguiam entender que o tempo do jejum havia acabado.
Lemos a seguinte doutrina judaica em Maimonides: “Todo jejum há de cessar nos dias do Messias, e não haverá outros dias
bons e dias de alegria iguais àqueles, como está escrito em Zc 8.19”.
“Assim
diz o Senhor dos Exércitos: O jejum do quarto, e o jejum do quinto, e o jejum
do sétimo, e o jejum do décimo mês será para a casa de Judá gozo, alegria, e
festividades solenes; amai, pois, a verdade e a paz”
(Zc 8.19).
É nesse sentido que
Jesus, contrariando seus interrogadores, se denomina de “noivo”, chamando o
tempo de sua presença entre os seus de tempo de alegria nupcial. Ao perguntar
se os companheiros do noivo podem ser induzidos a jejuar enquanto o noivo ainda
estiver com eles, o Senhor diz que jejuar não combina com a alegria nupcial [5].
A
religião judaica havia transformado a vida num fardo pesado e os ritos sagrados
em instrumentos de tristeza e opressão. Os fariseus jejuavam para
mostrar sua piedade, os discípulos de João para mostrar sua tristeza pelo
pecado. A palavra aramaica para “jejuar”
tem o sentido de “estar de luto”. Os
judeus quando jejuavam e ficavam tristes tinham a intenção de conseguir algo de
Deus: “Por que jejuamos nós, e tu não
atentas para isso?” (Is 58.3). E os hipócritas jejuavam para serem vistos
pelos outros (Mt 6.16).
É
bom destacar que Jesus não estava contra o jejum.
Ele mesmo jejuou quarenta dias e ratificou o jejum voluntário (Mt 9.15). Moisés
jejuou quarenta dias no Horebe. Patriarcas, profetas, reis e sacerdotes
jejuaram. Deus ordenou o jejum como um importante exercício devocional. Jesus e
os apóstolos jejuaram. A Igreja de Deus ao longo dos séculos tem jejuado. Mas
Jesus denunciou o jejum dos hipócritas que desfiguravam o rosto com o fim de
parecer aos homens que jejuavam (Mt 6.16). O jejum dos escribas e fariseus era
um ritual para a sua própria exibição e não a expressão de um coração
quebrantado [6].
Observe o que Jesus
falou aqui no versículo 35: “Dias virão,
porém, em que o esposo lhes será tirado, e então, naqueles dias, jejuarão”.
Com referência a “dias virão”,
seguido de “então, aqueles dias” de
Lucas, Jesus está dizendo que sua morte violenta que se aproximava significará
dias de luto para os discípulos. Então, naquela ocasião em particular, o jejum
como expressão de dor estará em vigor e ocorrerá. João 16.16-22 indica que o luto
não será de longa duração [7].
“Um
pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; porquanto vou para
o Pai. Então alguns dos seus discípulos disseram uns aos outros: Que é isto que
nos diz? Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e:
Porquanto vou para o Pai? Diziam, pois: Que quer dizer isto: Um pouco? Não
sabemos o que diz. Conheceu, pois, Jesus que o queriam interrogar, e
disse-lhes: Indagais entre vós acerca disto que disse: Um pouco, e não me
vereis, e outra vez um pouco, e ver-me-eis? Na verdade, na verdade vos digo que
vós chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará, e vós estareis tristes,
mas a vossa tristeza se converterá em alegria. A mulher, quando está para dar à
luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz
a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem
no mundo. Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas outra vez
vos verei, e o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém vo-la
tirará”.
Por
desconhecerem a presença do Messias entre eles, o jejum que praticavam era um
jejum sem entendimento. A Bíblia é muito clara quando nos
diz que o nosso culto deve ser um culto racional (Rm 12.1). Paulo está nos
dizendo que o culto não é simplesmente um formalismo, mas a vida em total
entrega a Deus.
O cristianismo tem que
abarcar a totalidade da vida do indivíduo, se não for assim, não passa de um
fardo moral e religioso. E isso vai desde o jejum a ir aos cultos na igreja.
Tudo será um peso.
O
cristianismo é uma festa de celebração. Como disse Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor, outra vez
vos digo, alegrai-vos” (Fl 4.4). O Noivo esteve entre nós, foi para cruz,
morreu em nosso lugar, mas ressuscitou ao terceiro dia, enviou o Espírito Santo
para estar conosco; o Noivo voltará para buscar a Sua noiva que é a Sua Igreja,
e estaremos com Ele para todo o sempre. Por isso quem conhece o que é realmente
o cristianismo não vive um peso religioso, mas um fardo leve.
Hoje, celebramos a
alegria da salvação, mas um dia entraremos na Casa do Pai, na glória celeste, e
então, essa festa nunca vai acabar. Estaremos para sempre com Ele.
William Barclay conta
que havia um criminoso japonês que se chamava Tockichi Ishii. Era um homem
bestial, em quem não se manifestava a mais mínima piedade. Em sua carreira
criminal tinha assassinado brutalmente homens, mulheres e meninos. Finalmente
foi capturado e encarcerado. Duas mulheres canadenses visitaram a prisão. Nem
sequer se pôde conseguir que falasse com elas, limitando-se a olhar com uma
expressão bestial. Quando terminou a visita destas duas mulheres, deixaram-lhe
uma Bíblia com a débil esperança de que a lesse em algum momento. E Ishii leu
aquela Bíblia e a história da crucificação fez dele um homem novo.
Pouco tempo depois,
quando o verdugo precisou levar aquele homem ao patíbulo, não encontrou o ser brutal
e bárbaro que esperava, e sim a um homem radiante, sorridente, porque Ishii, o
assassino tinha nascido de novo. O sinal visível daquele novo nascimento era um
rosto iluminado pelo gozo. A vida que se vive em Cristo não pode ser senão uma
vida cheia de gozo [8]. Porque o Evangelho não é o guardar regras e preceitos,
o Evangelho é a Pessoa maravilha do nosso Senhor e Salvador Jesus em nossas
vidas.
3
– A RELIGIÃO SE TORNA UM FARDO QUANDO CARREGAMOS O QUE DEUS NÃO DISSE PARA
CARREGARMOS (Lc 5.34).
Jesus disse: “Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é
leve” (Mt 11.30). Se o fardo é leve, por que parece que está tão pesado?
Quando Jesus disse que
o fardo dele é leve, é óbvio que entendemos o que ele disse, porém, não é tão
fácil sentir essa leveza. Pense se não é assim: tudo o que envolve a vida
religiosa, as orações, os cultos, os trabalhos, as obrigações morais, e também
as restrições que nos impomos, é sentido como um fardo, e não exatamente como
um fardo leve.
Enquanto o cristianismo
for apenas uma das áreas de nossa vida, enquanto ele for colocado no mesmo
patamar de importância de outras coisas, mesmo como a família ou a igreja, tudo
o que o envolve não será para nós nada mais que obrigações que cumprimos com
muito esforço.
Quando os mandamentos
de Deus se tornam penosos para nós?
1 – Quando a religião
impõe exigências que não tem nada a ver com Deus.
A religião coloca sobre nós exigências que nem o próprio Deus requer. O
resultado é que a carga religiosa se torna mais pesada do que deveria ser.
Muitas exigências dentro das igrejas não têm nada a ver com Deus. São meros
mecanismos humanos de afirmação do poder religioso. Observe o que Jesus falou a
respeito dos escribas e fariseus em Mateus 23.4:
“Pois
atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens;
eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los”.
Eu conheço um pastor
que faz parte de uma igreja que é proibido os membros terem televisão, no
entanto, esse pastor tem uma tv escondida dentro de seu guarda roupas.
2 – Quando a religião
desenvolve um sistema para agradar a Deus na base da causa e efeito.
A isso podemos chamar de barganha e não de culto. A vida cristã não é um toma-
lá-dá-cá. Não é uma negociata. Não quero com isso descartar a lei da semeadura
que Paulo nos alerta em Gálatas 6.7: “O
que o homem planta, colhe”. Uma das grandes verdades bíblicas é que temos
um Deus que é muito mais amoroso do que guardador da lei. Ele é muito mais
guardador de rebanhos do que guardador de livros. Ele é muito mais guardador de
vidas do que guardador de preceitos. Então obedecemos a Deus não por medo, mas
porque descobrimos um cuidado dele para com a nossa vida.
3 – Quando olhamos para
Deus muito mais como um Juiz do que como um Pai. Obedecemos ao Senhor não porque é uma
imposição ou obrigação, mas porque temos um pai que deseja o nosso bem e nos
alerta com amor sobre os riscos que podemos correr. Infelizmente vemos o Senhor
como um juiz austero e duro que passa leis que nos são impostas, e não como um
pai amoroso que deseja o nosso melhor.
4 – Quando criamos
mecanismos de defesa que desenvolvemos em nós mesmos.
Quando nos protegemos daquilo que somos fracos acabamos exigindo mais dos
outros. Por exemplo, o que ora muito e trabalha pouco é impaciente com o que
trabalha muito e não ora e vice-versa. Os nossos níveis de exigências se tornam
cada vez mais intolerantes e nos tornamos menos misericordiosos. O resultado
disso é que os nossos relacionamentos se tornam cada vez mais problemáticos,
pesados e por isso muitos dizem que é difícil servir a Deus.
De fato, é apenas isso
que sobra para o homem religioso que não toma a decisão de tudo viver em
Cristo: um fardo de obrigações morais e religiosas que precisam ser cumpridas
com muita dificuldade.
Mas quando andamos no
aminho inverso e não vemos o cristianismo como uma via de obrigações podemos
falar como Paulo falou em Gálatas 2.20: “Já
estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a
vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se
entregou a si mesmo por mim”.
4
– A RELIGIÃO SE TORNA UM FARDO QUANDO NÃO SE VIVE EM NOVIDADE DE VIDA EM CRISTO
JESUS (Lc 5.36-38).
Jesus usou três figuras
para responder aos seus inquisidores. A primeira foi a respeito da festa de
casamento e agora ele usa a figura do remendo novo em tecido velho e do vinho
novo em odres velhos.
O significado da
parábola do remendo novo em pano velho e vinho novo em odres velhos diz
respeito ao contraste entre a Lei Mosaica (AT) e a Nova Aliança (NT). Essa
parábola fala que as velhas formas cerimoniais da Lei Mosaica são inadequadas à
Nova Aliança em Cristo, à mensagem do Evangelho da graça.
Quais são as lições que
essas figuras nos ensinam?
1º - Em primeiro lugar,
a vida cristã não é um remendo ou reforma do que está velho, mas algo
totalmente novo (Lc 5.36). Um remendo novo num
pano velho abre uma fissura ainda maior. Se se põe um remendo de lã,
não-encolhido, numa roupa que já viu melhores dias, o resultado será que,
quando essa peça não-encolhida se molha e encolhe, rasgará as bordas da
costura. O remendo que deveria consertar a ruptura original, agora produz uma
ruptura ainda maior.
O cristianismo não é
uma reforma do judaísmo nem um remendo das práticas judaicas. A vida cristã não
é apenas um verniz, uma caiação de uma estrutura rota, mas uma nova vida, algo
radicalmente novo.
O vestido velho era o
antigo sistema da lei e os velhos costumes do povo judeu. A salvação que Cristo
oferece são as vestes alvas e a justiça de Cristo, o linho finíssimo. Em Cristo
todas as coisas são feitas novas (2Co 5.17). A vida cristã não é uma mistura do
velho com o novo. É algo completamente novo. O evangelho transforma e liberta.
O Evangelho é a palavra de vida; o judaísmo com seus preceitos legalistas era
letra morta. O evangelho liberta, o legalismo mata; o evangelho salva, o
legalismo faz perecer.
2º - Em segundo lugar,
a vida cristã não pode ser acondicionada numa estrutura velha e arcaica (Lc
5.37-39). Os odres eram recipientes feitos de
pele de animais, era geralmente feito da pele de cabra ou de ovelha. Por causa
da elasticidade do couro, as pessoas utilizam esse material no processo de
fermentação do vinho. O vinho novo era colocado em odres; mas à medida que ele
fosse fermentando, a pressão aumentava e esticava os odres. Um odre velho já
havia sido dilatado ao máximo e não possuía mais a elasticidade necessária para
um novo processo de fermentação. Um vinho novo posto em um odre velho seria
desperdício.
Tudo isso significa que
os rituais da Antiga Aliança apenas apontavam para a Nova Aliança. Eles
cumpriram seu papel e cessaram. Tentar continuá-los após a chegada do Messias
seria como usar remendo novo em pano velho; ou colocar vinho novo em odres
velhos.
O cristianismo requer
novos métodos e novas estruturas. Não podemos ter o coração duro como os odres
ressecados pelo tempo. Precisamos manter nosso coração aberto à mensagem
transformadora do evangelho.
5
– HÁ PESSOAS QUE SE ACOSTUMAM COM O FARDO PESADO (Lc 5.39).
Não são todas as
pessoas que conseguem se adaptar a liberdade em Cristo. Ser livre implica em
responsabilidades e nem todos têm condições de vivê-la de forma plena. Os
doutores da Lei na época de Cristo questionavam a doutrina de Jesus. Para eles
o Evangelho era algo inadmissível. Tanto que os judaizantes tentaram implantar
ao Evangelho que Paulo pregava preceitos da Lei e a circuncisão, que, segundo
eles, quem não o fizesse não poderia ser salvo (At 15.5).
O sistema legal é muito
mais confortável porque é mais fácil oferecer o exterior a Deus, pelas práticas
religiosas, do que render-lhe o interior, o coração. Quem se acostumou com o
vinho velho, não gosta do novo. É espumante e borbulhante demais para ele. A
nova natureza do Espírito traz consigo agitação. Quem prossegue nos trilhos
antigos, fica desconfortavelmente incomodado. As pessoas preferem descansar
tranquilamente nas práticas devotas exteriores [9].
CONCLUSÃO
Vimos que essa parábola
foi motivada devido a um questionamento acerca do jejum. Então em outras
palavras, de forma mais específica, Jesus responde aos discípulos de João
Batista e os fariseus que o jejum cerimonial ou qualquer outra prática mosaica
observada por eles e pelos fariseus, nada tinham a ver com o Evangelho. O
Evangelho é nova vida. É vida no Espírito. É novidade de vida que só em Cristo
podemos alcançar.
É o que o Senhor disse
para Nicodemos: é o nascer de novo. É algo que não nos é imposto, mas vivido
com alegria, pois o que nos move é o Espírito Santo. Como disse o apóstolo
Paulo aos Filipenses 2.13: “Porque Deus é
o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”.
Pense nisso!
Bibliografia
1 – Edwards, James R. O
Comentário de Marcos, Santo Amaro, SP, Ed. Sheed, 2018, p. 125.
2 – Hendriksen,
William. Marcos, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 131.
3 – Hendriksen,
William. Lucas, vol. 1, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 418.
4 – Wiersbe, Warren W.
Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, 2012,
p. 243.
5 – Rieneckerp Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, 2005. p.
92.
6 – Lopes, Hernandes
Dias. Marcos, O Evangelho dos Milagres, São Paulo, Editora Hagnos, 2006, p.
141.
7 – Hendriksen,
William. Lucas, vol. 1, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 419.
8 – Barclay, William.
Marcos, Comentário do Novo Testamento, p. 65.
9 – Rienecker Fritz. O
Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, 2005. p.
94.
Vi tantas verdades das escrituras e pensei que a explanação permaneceria congruente. Mas, vivem deitando vinho novo em odres velhos e remendo novo em vestes velhas. Lamentável!
ResponderExcluirGraça e paz. Você poderia ser mais específico?
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