terça-feira, 27 de março de 2012

Bíblia não é papo de botequim


Por Bispo Walter McAlister

Existem assuntos que claramente cabem numa boa conversa de botequim. São esquentados. Não exigem muito conhecimento. São uma questão de gosto ou de opiniões formadas com muito pouco fundamento: Flamengo ou Vasco, PT ou DEM, globalização ou protecionismo, torresmo ou vegetarianismo, surf ou xadrez, chocolate ou baunilha.

Blogs não são botequins. São fóruns que existem, muitos deles, para que um teólogo, filósofo ou apologista contribuam com os seus pensamentos a um diálogo, em torno de assuntos de maior ou menor importância. Minha sobrinha tem um blog para mães chamado “Potencial Gestante”, por exemplo. Há blogs que tratam de inúmeros assuntos (política, saúde, consumo, criação de cachorros ou cavalos, e por aí vai), acrescentando informação e opiniões, influenciando e debatendo.

Mas teologia não é futebol, nem tampouco política. Teologia é a busca da Verdade contida nas Sagradas Letras. Tratar teologia requer ponderação, estudo, temor a Deus, um espírito voluntário, humildade pedagógica e amor pelas coisas de Deus, acima de tudo. Teologia requer um coração que considera a Bíblia uma autoridade à qual devamos nos submeter. A busca das verdades contidas nas suas páginas não é uma questão de se educar para afiar seus argumentos. É uma peregrinação por lugares sagrados. É um processo que nos faz ficar antenados à própria voz de quem nos criou.

Tenho aberto o assunto da eleição divina aqui no blog. Confesso que, em pouco tempo, me conscientizei do fato de não ser um fórum no qual poderei expor a doutrina com a clareza e riqueza que ela merece. É bíblica? Não há a menor dúvida quanto a isso. Como funciona? Quais são os critérios que Deus emprega ao eleger uns para a salvação? Bom, eu teria que ser Deus para responder isso. Sei que não há maldade no Senhor. Ele não é um Deus cruel. Ele não brinca com a sua criação. E não é menos misericordioso do que nós. Sim, muitos chegam a dizer, “como pode Deus…..?”. Chegamos ao absurdo de tentar interpelar Deus. “Se o que as Escrituras dizem tem mérito, então Deus é um monstro”, alguns chegam a ousar dizer. Que insensatez, meu Deus! Que arrogância! Nós, que somos o barro, apontamos um dedo de pó ao oleiro e o acusamos? Quanta jactância! Absurda atitude!

E então começam as farpas, as frases de efeito. A conversa de botequim “pega fogo”. Os “achólogos” se exaltam. Acusamos uns aos outros de loucos, irresponsáveis, idiotas, obtusos, radicais, frouxos e coisas piores. Para dizer a verdade, pecamos. Pecamos muito. Pecamos por falta de saber dividir bem a Palavra da Verdade, pois não somos obreiros aprovados. Aliás, vou até lembrar as palavras exatas de Paulo, como registradas em 1 Timóteo 2.15: “Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a palavra da verdade”.

Muitas das discussões que giram em torno do assunto da soberania de Deus, da sua eleição divina, são francamente vergonhosas. Com bravata, ânimos exaltados e uma parcela ínfima de conhecimento, muitos desfilam a sua vergonha e a sua absoluta ignorância das Escrituras. Não são obreiros aprovados. Entenda… tudo o que falamos, falamos perante a face de Deus. Todo debate acontece perante a face de Deus. E quando discursamos em torno da Bíblia, estamos tratando da PALAVRA DA VERDADE. Sua opinião, preferência e sensibilidade são irrelevantes. O seu fel é uma afronta a Aquele que sopra as Escrituras, pois “TODA Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm 3.16a).

O próprio apóstolo, ao falar para o seu discípulo e Bispo de Éfeso, criado na disciplina das Sagradas Letras pela sua mãe e avó, o admoestou: “Reflita no que estou dizendo, pois o Senhor lhe dará entendimento em tudo.” (2 Tm 2.7).

As discussões que ouço não são fruto de reflexão. Nem tampouco me parecem fruto de leitura. São baseados no que alguém disse, no que alguém pregou, no que alguém opinou. E agora, com o peito cheio de ar quente, esbravejamos o nosso repúdio desinformado e irrefletido, ofendendo e fazendo pouco de pessoas que procuram mergulhar na Palavra da Verdade.  Mas… não fazemos isso para nos promover ou nos elevar acima dos demais. Não fazemos isso para achar um gancho pelo qual podemos nos considerar como superiores aos “ignorantes brutalizados e biblicamente analfabetos”. Se procuramos aprender, é porque amamos a verdade – A Verdade. Se o fazemos, é porque sentimos que. ao trilhar pelos caminhos do Senhor, acharemos paz para as nossas almas cansadas. Tomamos o jugo e aprendemos dele, que é manso de espírito.

Há calvinistas arrogantes? Claro. Assim como qualquer postura teológica tem os seus arrogantes. Pois gostam de ir para os “botequins” teológicos para dar uma safanada na cabeça dos que “nada entendem”. Que vergonha. Os jovens que acabam abraçando essaconvicção, e que ainda não entendem como a vida do próximo é preciosa, querem mostrar acima de tudo e do amor ao próximo que estão certos.

Meu Deus! A verdade nos liberta, não nos dá razão. Ter razão é vaidade. Quem quer “ter razão” está num projeto de vanglória e despreza o seu irmão. Creio que o meu tratamento deste assunto deve acabar por aqui. Mas eu seria omisso se não apontasse para recursos preciosos para os que querem se aprofundar no que é bom e edifica. 

Um dos livros que ajudará quem quiser realmente entender o Calvinismo é Vivendo para a Glória de Deus, de Joel Beeke (Editora Fiel). Outro, maior ainda, é A Glória da Graça de Deus, editado por Franklin Ferreira (Editora Fiel). Quero deixar bem claro aqui que não tenho vínculo com a Fiel. Mas são livros que recomendo simplesmente porque são ótimos para o real entendimento.

Sei que os botequins teológicos continuarão a ferver com os “achólogos” de plantão – obreiros ainda não aprovados, pois não sabem “manejar a palavra da verdade”, mas que, nem por isso, se inflamam por argumentos apaixonados e humanistas. O divino não é desumano. Mas o humano não é divino, tampouco.

Fica aqui o meu apelo. Aos que imaginavam que eu iria dirimir todas as suas dúvidas sobre o Calvinismo, peço copiosas desculpas. Não é possível fazê-lo num blog. Livros servem para isso  blogs não. Espero ter, no mínimo, mostrado o que está em jogo. Espero ter provocado os que honestamente querem entender o assunto. Então, sou calvinista? Não inteiramente. Tenho diferenças pontuais com muitas das afirmações de Calvino. Sou reformado? Sim. Acima de tudo, sou um Cristão, um que ama a verdade e A Verdade. Quero chegar ao Céu e levar todos que puder comigo. Não quero ofender, além da ofensa que já acompanha a proclamação da verdade. Procuro conciliar e arrazoar. É o meu compromisso aqui. Se algum mérito houver no que disse, fique comigo, pois é assim que continuarei a tratar os assuntos neste blog.

Que Deus tenha misericórdia de todos nós. Amém.

Na paz
+W.

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