quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Arrogância intelectual cristã

Por Ricardo Mamedes

Nos últimos dias tenho pensado muito, refletido longamente sobre esse sentimento de superioridade(latente) que atinge algumas pessoas , principalmente no campo do conhecimento humano - aqui, especificamente direcionado ao metier cristão. Ouso denominar esse sentimento espúrio de 'complexo da arrogância intelectual'. Tais pessoas acometidas por essa moléstia da alma são muito comuns na vida secularizada, nos meios acadêmicos, mas o 'câncer' também tem avançado lenta e gradualmente no meio cristão.

Alguns desses, cronicamente acometidos pela doença, se arrogam a donos do conhecimento divino, quase como se fossem porta-vozes de Deus. Não há nada que não saibam com irretorquível profundidade. Não há mistérios: tudo pode ser desvendado. Não há sequer uma bruma: Deus pode ser apreendido na Sua essência.

Por mais escabrosamente oculto que seja o resultado de um raciocínio na seara Divina, para eles a lógica é evidente. Embora não admitindo que estão com isso a exaurir Deus (como se isso fosse possível) desvendam-NO até esvaziá-LO; dissecam o Criador.

Esses gênios da racionalidade, virtuoses do conhecimento, ases do raciocínio, não encontram barreiras nem mesmo na insondável profundidade... Aliás, nada há que seja insondável para eles...

Não há antinomia ou paradoxo, mesmo em Deus, que lhes tolham os movimentos. Eis que eles continuam transbordantes de saber; importa que todos os obstáculos sejam transpostos, ainda que colocados em seu caminho por Ele.

Deus está desnudo; não Lhe cobre nem mesmo etéreo manto. Há deles que, malgrado exercitarem uma exterior humildade para com o Criador, ao mesmo tempo sugam tudo que Ele tem - e, inflados em seu ego, declaram a sua completude: eles se completam, são autossuficientes. Se há Deus, eu quase poderia afirmar que é à sua imagem e semelhança, e não ao contrário.

Parafraseando o filósofo Colin McGrin, os escritos desses tais podem ser definidos pelo termo "mindfuck", cuja tradução em português vou me abster de citar; termo aqui usado com o sentido negativo de manipulação intelectual e não com o sentido positivo de libertação da mente. Esses 'sábios' escrevem com a função de atordoar a mente, alterando os dados da realidade e manipulando informações (nem que seja mediante pressupostos urdidos por eles mesmos). Portanto, a mudança que se consegue, ou a 'conversão' do interlocutor, é fruto de um convencimento falso, fraudulento, via de manipulação.

Outra característica desses personagens é a pouca ou nenhuma paciência com aqueles que não têm a mesma profundidade de conhecimento, ou que não primam dos mesmos raciocínios, ou não adotam iguais premissas que as deles. No máximo tais interlocutores recebem respostas lacônicas ou eivadas de 'generosa condescendência'. Eles representam uma casta, uma malta, onde somente cabem os seus iguais.

Triste é ter de reconhecer que nos deparamos diuturnamente com esses cristãos, despidos de qualquer generosidade, voltados unicamente para o "seu" conhecimento (agnósticos?), completamente embriagados e inebriados pela própria profundidade intelectual, usando Cristo como degrau, ou desculpa, ou muleta, para a consecução dos seus fins recônditos, que pode ser reconhecimento próprio (deles para eles), ou alheio (dos outros para eles), ou, ainda, ambos.

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