domingo, 16 de maio de 2021

A PARÁBOLA DO SEMEADOR

Por Pr. Silas Figueira

Texto base: Lucas 8.4-15

INTRODUÇÃO

Esta parábola encontra-se também em Mateus 13 e Marcos 4 sendo que esses dois evangelistas identificam a parábola com um lugar – além do mar da Galileia – enquanto Lucas foca a audiência vindo a Jesus “de várias cidades” (Lc 8.4). Jesus transformava de fato cada encontro em uma oportunidade para ensinar e, quando grandes multidões se reuniam, como aqui, ele, com frequência, ensinava em parábolas [1].

Antes de analisarmos a parábola do semeador devemos responder algumas perguntas:

Primeiro – Quem é o semeador? Lucas 8.1 nos diz: “E aconteceu, depois disto, que [Jesus] andava de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus”. O semeador dentro desse contexto é identificado como a pessoa de Jesus que estava iniciando seu ministério itinerante pregando de cidade em cidade e de aldeia em aldeia (Mt 13.37). Antes de sua ascensão Jesus deixou essa incumbência com a igreja (Mt 28.19,20; Mc 16.15,16 e Lc 24.46,47).

Segundo – Que semente é esta? A semente é a palavra de Deus, o Evangelho do Reino (Lc 8.11). A semente, que é a Palavra de Deus é boa, a dificuldade dela germinar é devido ao solo que ela cai. Dos quatro tipos de solos que a semente caiu, somente em um ela germinou e deu fruto. A semente quando germina produz frutos que nos são descritos em Gl 5.22,23.     

Terceiro – O que representam esses solos? Esses solos representam os tipos de solos encontrados na Palestina, mas também é uma representação do coração do homem. Jesus deixa claro que a questão não é a mensagem do Evangelho (a semente), nem é a habilidade ou metodologia daqueles que a proclamam. O fator determinante é a condição do coração do ouvinte. No livro de Provérbios lemos: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23).

É interessante destacarmos também que o semeador não lança a semente em qualquer terreno; ele quando lança suas sementes ele as lança em terreno preparado. Em terreno já limpo, afofado, adubado e com as covas prontas. Mas aqui, como se trata do terreno do coração, o semeador (a igreja) não conhece o estado do coração dos ouvintes. Ele não sabe se a terra é caminho pisado por pessoas, se é há pedregais, se há espinhos ou se é terra preparada para o plantio é um solo totalmente bom para receber a semente.  

Mas uma coisa nós sabemos, Jesus disse que quem prepara o campo para que a semente da Palavra germine é o próprio Pai. Como Ele nos fala em João 15.1: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. Quem lavra a terra do coração para que a boa semente germine é o próprio Deus. É Ele quem prepara o terreno, aduba o solo, faz as covas e faz com que a semente lançada dê muito fruto.        

Quarto – Por que Jesus ensinava por parábolas? As parábolas eram uma forma comum de ensino no judaísmo. A parábola é uma história baseada na experiência do povo, que dava para ilustrar, revelar e lembrar aos ouvintes preparados as verdades espirituais. Sem uma explicação, uma parábola pode significar qualquer coisa ou nada; é pouco mais do que um enigma. Ao apresentar seu ensino em parábolas, Jesus escondeu a verdade aos incrédulos e revelou apenas para seus fiéis seguidores (Lc 8.9,10 conf. Mt 13.13-15).

As parábolas exigem pensamento e seriedade espiritual. Separam o interessado sincero do ouvinte casual [2]. Os Evangelhos registram cerca de sessenta diferentes parábolas de Jesus, a maioria delas em Mateus (17) e Lucas (18), menos em Marcos (13) e nenhuma em João. A maioria das parábolas de Jesus tem a intenção de ensinar algo sobre o reino de Deus, o que ele ilustrava com episódios do dia a dia de pescaria e lavoura, do cuidado da casa e vida familiar, da natureza e banquetes. Elas confrontavam com frequência os ouvintes com o inesperado, confundindo-os e os forçando a perceber as coisas sob uma nova luz [3].

Os ensinamentos de Jesus em parábolas era um cumprimento profético como nos fala Mateus 13.13-16: “Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure. Mas, bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem” (Mt 13.13-16).   

Por que Jesus contou esta parábola? Porque a maioria daquelas pessoas que seguia a Cristo não produziria frutos dignos de arrependimento. O coração delas era uma espécie de solo pobre [4]. Apesar de ser uma multidão que o seguia, eram poucos os que se interessavam realmente pela verdade do Evangelho.

Jesus descreveu quatro tipos de solo – coração, sendo que três deles não produziram fruto. A prova da salvação encontra-se nos frutos, não apenas em ouvir a Palavra ou em professar a fé em Cristo. Jesus já havia deixado isso claro em seu “Sermão do Monte” (Lc 6.43-49; ver também Mt 7.20) [5].

Vejamos os quatro tipos de solos e a forma como eles reagiram em relação a semente lançada.

1 – O PRIMEIRO SOLO – O CORAÇÃO ENDURECIDO (Lc 8.4,5,12).

Jesus não estava se referindo a uma rua ou estrada, mas estava se referindo os caminhos batidos que separavam as tiras estreitas de terra cultivada. Os agricultores usaram esses caminhos para acessar seus campos arados, e os viajantes usou para viajar pelo interior (cf. Mt 12. 1.). Os caminhos não foram lavrados, e no clima seco, semiárido de Israel que se tornaria praticamente tão duro como concreto. A semente que caiu sobre esses caminhos não tinha nenhuma chance de penetrar no solo duro.

Quais são as características desse coração duro?

1º - Um coração duro a semente nele é pisada (Lc 8.5). A Palavra de Deus é pisada pelas pessoas que caminham por esses trilhos que se formam no coração. Essa semente de vida que o diabo teme é menosprezada por tais pessoas. [Esse é um] coração inquieto e perturbado com a passagem e tropel das coisas do mundo, umas que vão, outras que vêm, outras que atravessam e todas que passam e, neste coração, é pisada a palavra de Deus [6].

O coração pode ser endurecido por muitas coisas que nele passa. Há certas pessoas e influências que passam na vida de todos nós, criando esses trilhos de terra batida [7]. O que pode endurecer o coração de uma pessoa para não dar atenção a Palavra de Deus?

1 – Amigos e conhecidos. Pessoas que direta ou indiretamente nos influenciam para nos afastar de Deus e darmos a devida atenção a Sua mensagem. Pessoas que pisaram nosso coração no decorrer dos anos nos fazendo pessoas duras e indiferentes as coisas de Deus. Muitas dessas pessoas talvez oriundas de alguma igreja, mas que pelo seu mal testemunho nos influenciaram para longe de Deus e de Sua Palavra.

3 – Mágoas e ressentimentos. Se há algo que endurece um coração são as mágoas e os ressentimentos guardados em nossos corações no decorrer dos anos. Pessoas que passaram por nossas vidas e deixaram o nosso coração ferido e cheio de mazelas. Com isso a pessoa fica com o coração endurecido para novos relacionamentos, não se “afofa” para novas possibilidades, principalmente se o que “pisou seu coração” foi algo ocorrido dentro da igreja. Devido a isso as pessoas se fecham para Deus e Sua Palavra. Mas lembre-se de uma coisa: pessoas nos magoam, mas nós também magoamos as pessoas.  

3 – Pela cultura que estamos inseridos. Todos os dias somos bombardeados por “amigos” mas também pela mídia e pela sociedade que faz de tudo para nos afastar de Deus (a cultura de hoje zomba de Deus de seus servos). Aquilo que lemos e o que assistimos poderá afetar a nossa mente e emoções. Essa cultura é chamada na Bíblia de mundo e os que nele habitam e estão longe de Deus são chamados de anticristos (1Jo 2.15-18).

4 – Pelo pecado. Como disse Jesus em Mateus 15.19: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, fornicação, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias”. Um coração não regenerado é pisado pelo pecado, sendo assim, é um coração indiferente as coisas de Deus.

O solo se torna duro quando muitos pés transitam por ele. Aqueles que abrem seu coração para todo tipo de pessoas e influências estão em perigo de desenvolver um coração insensível [8].

2º - Um coração duro a semente nele é roubada pelo diabo (Lc 8.12). No versículo 5 o Senhor diz que as aves do céu a comeram. Essas aves representam o diabo que tira do coração das pessoas a Semente lançada. Isso nos desperta para algo que muitas vezes não atentamos: onde a Palavra de Deus é pregada o diabo irá se apresentar para “comer” a Semente lançada. Por isso que o culto é um campo de batalha.   

Lucas afirma que é o diabo (diábolos) que rouba a palavra ouvida dos corações, Mateus o designa de maligno (ponerós), Marcos o chama de Satanás (satanas). Nesta explicação a atividade do diabo é vista apenas em paralelo com a circunstância. Assim como a semente não acolhida serve de comida para os pássaros, assim a palavra de Deus não acolhida pelo ouvido do coração se apresenta como despojo para o diabo. Para frustrar a eficácia da palavra, o diabo a retira novamente, fazendo com que ela caia no esquecimento [9]. E como o diabo faz isso? Cegando o entendimento dos incrédulos (2Co 4.4).

Curiosamente, essas pessoas de coração duro muitas vezes não são ateus, mas altamente sérias e religiosas. Um bom exemplo foi os líderes religiosos judeus do tempo de Cristo. No entanto, suas mentes estavam fechadas para a verdade de Deus que eles odiavam, faziam oposição e, finalmente, mataram o próprio Messias que eles esperavam (cf. Mt 21.33-46).

2 – O SEGUNDO SOLO – O CORAÇÃO SUPERFICIAL (Lc 8.6,13).

O raso solo rochoso é alguém que faz uma profissão de fé superficial. Essas pessoas parecem à primeira vista, o oposto dos mais duros de coração representados pelo solo de beira de estrada. Longe de rejeitar a verdade quando a ouvem, eles inicialmente recebem a palavra com alegria. Sua euforia pode convencer muitos que sua conversão é real. Eles não são apenas interessados e receptivos, mas também exuberantes e alegres, mas não por muito tempo. O problema é que uma vez que estes não têm raiz firme eles apenas creem por algum tempo.

Podemos destacar três características do coração superficial:

1º - Um coração superficial age somente pela emoção. Lucas nos diz que tais pessoas recebem a Palavra com alegria. A emoção é um elemento importantíssimo na vida cristã, mas só ela não basta. Ela precisa proceder de um profundo entendimento da verdade e de uma sólida experiência cristã [10].

Como disse J. C. Ryle: “As lágrimas de alguns ouvintes do Evangelho e a extravagante alegria de outros não constituem evidências seguras da conversão. Podemos ser ardentes admiradores de certos pregadores favoritos e, assim mesmo, não permanecermos melhores do que os ouvintes comparados a semente que caiu sobre as pedras [11].

2º - Um coração superficial não tem profundidade e nem perseverança. O texto nos fala “mas, como não têm raiz, apenas creem por algum tempo”. Perseverança é a marca genuína fé salvadora. “Se vós permanecerdes na minha palavra”, Jesus disse a alguns que professavam a fé nEle, “verdadeiramente sereis meus discípulos” (Jo 8.31). Paulo escrevendo aos Colossenses diz que a prova de que eles foram reconciliados com Deus era se “permanecerdes fundados e firmes na fé” (Cl 1.23). O escritor de Hebreus lembrou seus leitores: “Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até o fim” (Hb 3.14; 4.14; Mt 24.13).

Essa semente cai sobre uma superfície excessivamente fina, assim a palavra anunciada não encontra nesses ouvintes uma incompreensão total, mas uma superficialidade de entendimento, pelo que a palavra não é profundamente refletida e guardada no coração [12].

3º - Um coração superficial não suporta o tempo da provação. O que torna evidente que a fé daqueles que são simbolizados pelo solo rochoso é a superficialidade e não a perseverança na hora da provação. O calor escaldante do sol revela que as plantas no solo rochoso não têm uma estrutura de raiz profunda. Por causa do que eles são incapazes de tirar os nutrientes e umidade do solo que eles precisam para sobreviver. Da mesma forma acontece com a fé superficial, quando vem a tentação (peirasmos – tentação), angústia e perseguição (Mt 13.21), essa falsa profissão de fé não perdura diante das provações.

Jesus falou que essa semente lançada sobre pedras não tinham umidade (Lc 8.6). A perseguição aprofunda as raízes do verdadeiro cristão, mas acaba por expor a superficialidade do falso cristão [13].

Hoje vemos muitas pessoas pregando saúde, prosperidade e sucesso. As pessoas abraçam imediatamente esse evangelho do lucro, das vantagens imediatas, mas elas não perseverarão, porque não têm raiz, não têm umidade, não suportam o sol, não permanecerão na congregação dos justos. Elas se escandalizarão e se desviarão. Muitas das pessoas que gritaram Hosanas quando Jesus entrou em Jerusalém gritaram crucifica-o na mesma semana. O apóstolo João diz que esses que se desviam não são dos nossos (1Jo 2.19); os salvos, porém, perseverarão (Jo 10.27,28) [14].

3 – O TERCEIRO SOLO – UM CORAÇÃO OCUPADO COM AS COISAS DESTA VIDA (Lc 8.7,14).

Devido à variada topografia e geologia da Palestina, parte dela, semiárida, a região era conhecida pela enorme variedade de espinhos, cardos e urzes. Mais de duzentas espécies de ervas indesejáveis tomavam conta das terras cultivadas, competindo com as plantações obtidas com tanto esforço. O agricultor tinha que lutar incessantemente para ter uma boa plantação e conservar seus campos livres de ervas estranhas. Essas ervas – espinhos, abrolhos, cardos e urzes – possuíam a horrível capacidade de se multiplicar demasiadamente, e sufocar a plantação de tal forma, que ela ficava mirrada e abafada. E, praticamente, não havia produção de fruto [15].

Os ouvintes que correspondem a esse tipo de solo não se opõem à proclamação da palavra com dura incompreensão nem com superficialidade de entendimento, mas existe neles uma discrepância do coração, uma dicotomia dos sentidos. Tendências pecaminosas secretas, como preocupações ou ambições de riqueza ou prazeres da vida preenchem o coração e não são eliminadas. A semente cresce nesse solo contaminado, mas não atinge a maturação porque os espinhos crescem viçosos com ela, sufocando as plantas [16].

O terreno espinhoso representa aqueles cujas vidas estão tão ocupadas que as coisas de Deus não têm lugar nelas. Devemos recordar sempre que as coisas que afogam os melhores não são más necessariamente. Pode ser que em si mesmas sejam muito boas. O pior inimigo do melhor é o bom [17].

Quais são as características de um coração ocupado?

1º - Um coração ocupado dá atenção demasiada as coisas deste mundo (Mt 13.22). Em Mateus lemos: “mas os cuidados deste mundo... sufocam a palavra, e ela fica infrutífera”. Esse ouvinte chegou a ouvir a Palavra, mas os cuidados do mundo prevaleceram. O mundo falou mais alto que o evangelho. As glórias do mundo tornaram-se mais fascinantes que as promessas da graça. A concupiscência dos olhos, a concupiscência da carne e a soberba da vida tomaram o lugar de Deus na vida desse ouvinte. Ele pode ser chamado de crente mundano. Ele quer servir a dois senhores. Quer agradar a Deus e ser amigo do mundo. Quer atravessar o oceano da vida com um pé na canoa do mundo e outro dentro da igreja [18].

2º - Um coração ocupado está ansioso demais com as preocupações da vida. Podemos falar de “preocupações corrosivas”, isto é, preocupações que devoram pouco a pouco a alma de uma pessoa. A preocupação não só desfibra a resistência à enfermidade, abreviando assim a vida, mas também impede que alguém se concentre nas bênçãos que Deus está constantemente provendo. Jesus disse muitas coisas preciosas sobre esse assunto (Lc 12.4-12, 22-34; cf. Mt 6.25-34; 10.19, 20, 28-31) [19]. Podemos chamar de ansiedade excessiva com os problemas da vida, sejam eles reais ou imaginários.

3º - Um coração ocupado é seduzido pelas riquezas (Lc 8.14). Paulo escreveu sobre essas pessoas, “Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína” (1Tm 6.9). O apóstolo João advertiu seus leitores:

“Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre” (1Jo 2.15-17).

Esse ouvinte dá mais valor à terra que ao céu, mais importância aos bens materiais do que à graça de Deus. O dinheiro é o seu deus. A fascinação da riqueza fala mais alto que a voz de Deus. O esforço para conseguir uma posição social, por meio de posses e segurança material traz ansiedade tal que sufoca as aspirações por Deus [20].

4º - Um coração ocupado está sufocado com os deleites da vida (Lc 8.14). O apóstolo Paulo disse que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos porque os homens serão “mais amigos dos deleites do que amigos de Deus” (2Tm 3.4).

Não há nada de errado em desfrutar das coisas que Deus nos oferece graciosamente (1Tm 6.17). A prioridade, no entanto, é a de “buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33). Aqueles que entendem o verdadeiro valor do Evangelho estão dispostos a abrir mão de tudo para possuir o Reino de Deus, isso era o que o Senhor estava mostrando para os seus discípulos (Mt 13.44-46).

5º - Um coração ocupado não produz frutos perfeitos (Lc 8.14). Quem tem um coração cheio de espinhos chega perto da salvação, mas, ainda assim, não produz “frutos perfeitos” [21]. Como um câncer que prolifera gradualmente mata o corpo, ou como um parasita destrutivo pouco a pouco destrói aquilo que o alimenta, assim esses “espinhos” lentamente, porém com constância, submergem a alma daquelas pessoas que lhe dão as boas-vindas. Tais indivíduos jamais amadurecem. Não chegam a produzir fruto “para a vida eterna” (Jo 4.36). “Demas me abandonou, porque se afeiçoou do presente mundo” (2Tm 4.10; cf. lJo 2.16) [22].

4 – QUARTO SOLO – UM CORAÇÃO FRUTÍFERO (Lc 8.8,15).

Em contraste com os primeiros três solos, a semente em boa terra produz salvação genuína. Este último solo representa aqueles que ouviram a palavra em um coração honesto e bom, sem duplicidade. Eles são aqueles que entendem a palavra (Mt 13.23), que a aceitam (Mc 4.20), e a obedecem (Lc 11.28; Jo 14.15, 21; 15.10). Ao contrário do solo de beira de estrada, onde a semente nunca penetra, o solo rochoso onde brota de forma breve, e o solo espinhoso onde é sufocada, o bom solo é devidamente preparado. A semente vai crescer em plantas maduras que dão fruto com a perseverança que marca a fé genuína.

Quais as características de um coração frutífero?

1º - Um coração frutífero guarda a Palavra (Lc 8.15). Como disse Davi: “Escondi a tua palavra no meu coração, para eu não pecar contra ti” (Sl 119.11). Essa parábola nos ensina a fazer três coisas: ouvir, receber e praticar. Nesses dias tão agitados, poucos são os que param a fim de ouvir a Palavra. Mais escasso são aqueles que meditam no que ouvem. Só os que ouvem e meditam podem colocar em prática a Palavra e dar frutos [23].  

2º - Um coração frutífero é perseverante (Lc 8.15). Eles não apenas retêm a palavra ouvida, mas permitem que ela amadureça. Os verdadeiros ouvintes, que conservam a palavra, evidenciam-se como persistentes, constante e fiéis na produção de frutos, de modo que haja frutos cada vez mais ricos [24]. O que distingue esse campo dos demais é que nele a semente não apenas nasce e cresce, mas o fruto vinga e cresce. Lucas diz que ele frutifica com perseverança. Jesus está descrevendo aqui o verdadeiro crente, porque fruto, ou seja, uma vida transformada, é a evidência da salvação (2Co 5.17; G1 5.19-23). A marca do verdadeiro crente é que ele produz fruto (Jo 15) [25].

3º - Os inimigos que impedem a frutificação. No coração endurecido, Satanás mesmo rouba a semente; no coração superficial, os enganos da carne através do falso sentimento religioso impedem a semente de crescer; no coração ocupado, as coisas do mundo impedem a semente de frutificar. Esses são os três grandes inimigos do cristão: o diabo, a carne e o mundo (Ef 2.1-3) [26].

Outro ponto importante que devemos destacar é que [muitas pessoas pensam que] o solo não pode ser responsabilizado pela constituição diversa do terreno. Por outro lado, não foi sem decisão consciente da vontade que o ouvinte veio a ter a forma atual de terreno em seu coração. Por isto, a responsabilidade do ouvinte permanece sempre e integralmente válida diante da palavra de Deus [27]. O solo representa o estado do coração de cada pessoa. Isso nos mostra mais uma vez que sem a graça de Deus ninguém alcançará a salvação.

CONCLUSÃO

O semeador saiu a semear a Palavra. A Palavra é boa e frutifica quando cai em um solo preparado para ela – a boa terra. Nesse solo a semente produz a cento por um. No entanto, devemos entender que o problema da não frutificação não está somente no solo ruim, mas também no tipo de semente que se tem plantado. Como disse John MacArthut: “alguns alteram a semente ou fabricam semente sintética. Tentam atualizar a mensagem, amenizam o escândalo da cruz, deixam as patres difíceis ou impopulares para lá. Muitos simplesmente substituem o evangelho por uma mensagem completamente diferente [28].

Vivemos dias que muitos “semeadores” estão semeando uma falsa semente. Há muitos semeadores que semeiam doutrinas de homens, e não a Palavra. Semeiam o que os homens querem ouvir, e não o que eles precisam ouvir. Semeiam o que agrada aos ouvidos, e não o que salva a alma. Essa semente pode parecer muito fértil, mas não produz fruto que permanece para a vida eterna.

Outros pregadores pregam palavras de Deus, e não a palavra de Deus. O diabo também pregou palavras de Deus, mas ele usou a Bíblia para tentar. Palavras de Deus na boca do diabo não são a palavra de Deus, mas palavra do diabo.

Quem tem ouvido para ouvir ouça a Palavra de Deus e viva através dela.

Pense nisso!

Bibliografia

1 – Edwards, James R. O Comentário de Lucas, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP, 2019, p. 310.

2 – Morris, Leon L. Lucas, Introdução e Comentário, Ed. Mundo Cristão e Edições Vida Nova, São Paulo, SP, 1986, p.142.

3 – Edwards, James R. O Comentário de Lucas, Ed. Sheed, Santo Amaro, SP, 2019, p. 311.

4 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 230.

5 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 258.

6 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 230.

7 – Keller, W. Phillip. Fruto do Espírito Santo, Ed. Betânia, Venda Nova, MG, 1981, p. 17.

8 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 230.

9 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 124.

10 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 233.

11 – Ryle, J. C. Meditação no Evangelho de Lucas, Ed. Fiel, São José dos Campos, SP, 2002, p. 121,122.

12 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 124.

13 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 259.

14 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 233,234.

15 – Keller, W. Phillip. Fruto do Espírito Santo, Ed. Betânia, Venda Nova, MG, 1981, p. 40,41.

16 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 125.

17 – Barclay, Willian. O Evangelho de Lucas, O Novo Testamento Comentado, p. 88.

18 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 235.

19 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 1, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 571.

20 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 236.

21 – Wiersbe, Warren W. Lucas, Novo Testamento 1, Comentário Bíblico Expositivo, Ed. Geográfica, Santo André, SP, 2007, p. 259.

22 – Hendriksen, William. Lucas, vol. 1, São Paulo, SP, Ed. Cultura Cristã, 2003, p. 571,572.

23 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 236,237.

24 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 125.

25 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 237.

26 – Lopes, Hernandes Dias. Lucas, Jesus o homem perfeito, Editora Hagnos, São Paulo, 2017, p. 237.

27 – Rienecker Fritz. O Evangelho de Lucas, Comentário Esperança, Ed. Evangélica Esperança, Curitiba, PA, 2005. p. 125.

28 – MacArthur, John. As Parábolas de Jesus, Ed. Thomas Nelson, Rio de Janeiro, RJ, 2018, p.55.

Recomendo a leitura do livro As Parábolas de Jesus comentadas por John MacArthur da Editora Thomas Nelson. 

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