Por Pastor
Lamarque
Uma reflexão sobre a vulgarização do casamento
pastoral batista
O sociólogo
polonês Zygmunt Bauman é um dos intelectuais mais respeitados e produtivos da
atualidade. Ele já escreveu mais de 50 livros, esmiuçando em alguns deles os
aspectos diversos da “modernidade líquida”, que é o seu conceito fundamental. É
assim que ele se refere ao momento da História em que vivemos. Bauman acentua que
os tempos são “líquidos” porque tudo muda rapidamente. Nada é feito para durar,
para ser “sólido”. Dessa visão resulta, entre outras coisas, a obsessão pelo
corpo ideal, o culto às celebridades, o endividamento familiar e até a
instabilidade dos relacionamentos amorosos. O casamento torna-se mais “flexível”,
é uma incerteza, pois nos tempos líquidos, nada é para durar.
O
casamento líquido é um relacionamento que vai somente “até o segundo aviso”. É
uma relação a partir do padrão dos bens de consumo: mantenho enquanto ele me
trouxer satisfação e o substituo por outros que me prometam ainda maior felicidade.
É o amor descartável, com um aspecto de eliminação imediata e que anda sempre
em busca de uma outra relação amorosa.
Parece-me
que esta é uma filosofia de vida atraente para alguns pastores batistas. É
estarrecedor como no solo batista o casamento pastoral tem sido tratado com
enorme vulgaridade. Pastores estão colocando os seus casamentos em liquidação.
Divorciam-se, tornam a casar-se e se não sentirem-se felizes, descartam a
segunda esposa e entram para um novo relacionamento, sem qualquer
constrangimento. E o agravante é que mesmo vivendo esta liquidação conjugal,
querem continuar no ministério pastoral batista, dirigir uma igreja, ensinar a
Palavra de Deus a um rebanho pouco esclarecido, ocupar cargos de liderança denominacional
e ainda manterem-se filiados a Ordem dos Pastores Batistas. Para estes homens,
o ministério pastoral tornou-se o lugar mais seguro para cometerem seus pecados,
sem serem penalizados, pois sempre encontram outros, que apadrinham as suas barbáries.
O divórcio é uma experiência inconveniente ao exercício do ministério
pastoral. Não é impossível, mas, inconveniente, pois o casamento nas Escrituras
é monogâmico, por toda vida, só podendo ser desfeito pela morte ou pela
infidelidade conjugal. O divórcio não é o ideal de Deus para a experiência
humana, muito menos para o casamento de um pastor. Ele é uma contingência da
condição pecadora do homem (Mateus 19.18). Por sua própria natureza, o divórcio
já é constrangedor, doloroso, penoso e pastores divorciados precisam dar um
tempo para reconsiderar suas fraquezas, a vocação e o ministério. Devem em humildade,
sujeitar-se a uma mentoria bíblica, conduzida por homens tementes a Deus, cheios
da Graça Divina, que não espezinhem sobre o pecado alheio.
Não sou
fundamentalista ou intransigente quanto ao retorno de pastores divorciados para
o ministério. Penso que podemos analisar caso a caso à Luz das Escrituras. É
exaustivo, polêmico, mas, viável, quando ocorrer mentoriamento e acompanhamento.
Nosso problema é que quando o pastor enfrento
do divórcio, ele se isola ou é isolado. É uma espécie de “lepra”, com toda a sua complexidade.
Ele caminha narrando a sua versão da queda, sem confrontação. Há falta de
humildade diante do seu próprio pecado. E nestas condições, sem confissão e arrependimento,
fica cada vez mais distante o processo de restauração bíblica. A estrutura
corporativa, por outro lado, não tem uma prática eficaz no pastoreio de pastores.
Talvez seja também uma oportunidade de nós repensarmos nosso comportamento
institucional diante do pastor caído.
Mas, o
comportamento pastoral diante da vulgarização do casamento merece nossa total
reprovação. É asqueroso demais o quadro desenhado em nosso território batista. Tenho
a sensação que muitos já perderam a vergonha. A consciência sadia, conduzida pelo
Espírito Santo, foi desprezada já há muito tempo. Nossos profetas se desviaram da
Palavra de Deus, para viverem segundo os desejos do seu coração e o curso deste
mundo. Eles acreditam que o ministério pastoral ainda é o melhor lugar do mundo
para cometerem seus pecados e permanecerem impunes.
Esse
impulso que muitos pastores têm de transgredir, de substituir, de acelerar, de
divorciar, de adulterar, de manter relacionamentos amorosos enquanto ele trouxer
satisfação e substituí-lo por outros que prometam ainda maior felicidade, precisa
ser denunciado à Luz das Escrituras Sagradas. Se não batalharmos contra este pecado,
nós estamos coniventes com esta transgressão. Concluo parafraseando Albert
Camus: “Compreendi que não bastava denunciar o pecado. Era preciso dar a vida
para combatê-lo”.
Fonte: O Jornal Batista
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