quarta-feira, 29 de junho de 2011

Minada a confiança em Deus


Por Thomas Ascol

A visão teísta relacional de Deus é uma visão que rouba o conforto e a confiança dos crentes. A compreensão tradicional de Deus dá peso total àquelas declarações bíblicas que o descrevem como "Senhor Deus Todo-Poderoso... Rei das nações!" (Ap 15.3), aquele que "governa as nações" (SI 22.28), "domina a fúria do mar" (SI 89.9) e "reinará para sempre" (Êx 15.18; cf. SI 93.1; 96.10; 9.1; 99.1; 146.10). A declaração inspirada de Nabucodonosor sobre o exercício meticuloso e irrestrito da providência de Deus não causa qualquer embaraço ao teísmo ortodoxo:

Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes? (Dn. 4.35)

O teísmo relacional rejeita o ensino sobre Deus e sua providência que esse versículo retrata, porque ele não se "encaixa" na "história bíblica" como ele a vê. Em vez de reconhecer Deus como o Governador sem rival do universo, os teístas da vontade livre querem retratá-lo como o "Jogador cósmico". Essa compreensão de Deus supostamente tece conforto e esperança nos crentes, mas ela de fato destrói o próprio fundamento que a Bíblia estabelece para confiarmos em Deus.

Sanders é totalmente direto ao expressar seu desejo de substituir Deus como Rei por Deus como aquele que "assume riscos". Deus assumiu um risco ao criar um mundo que ele povoou com criaturas dotadas de desejos livres. Ele fez isso em um esforço de realizar "o projeto divino", que "envolve a criação de outros significantes que são ontologicamente distintos de si mesmo e sobre os quais ele derrama seu cuidado amoroso na expectativa de que eles respondam em amor". Esse risco, argumenta Sanders, tem uma "grande chance de sucesso e pouca possibilidade de falha". De fato, "embora o pecado seja possível - por causa do tipo de mundo - ele simplesmente não era plausível em vista do bom ambiente que Deus estabeleceu e do amor que ele expressou".

Mas qualquer leitor honesto da história ou da Escritura demonstra que o "projeto divino", como Sanders o define, é um erro colossal. Jesus disse que somente uns "poucos" entrarão pela porta estreita e trilharão o caminho estreito do Deus amoroso (Mt 7.13,14), e análises missiológicas da história cristã certamente confirmam essa proclamação. Se o pecado e a degradação do mundo são resultado de uma ruptura altamente improvável da aventura criativa de baixo-risco de Deus, como se pode esperar que alguém confie nele para "projetos" futuros?

O teísmo relacional reduz Deus a um jogador cósmico - e esse jogador nem é vitorioso. Ele criou bilhões de portadores de sua imagem, apostando que eles escolheriam amá-lo e confiar nele. Isso era uma "coisa quase certa" por causa de seu amor e de sua provisão. Mas, em termos de uma completa análise quantitativa, sua aposta foi um fracasso. Desde a criação até o presente, o Deus relacional tem assumido riscos somente para experimentar repetidos fracassos. Tanto a Bíblia quanto a história estão cheias de registros de pessoas e "projetos" com os quais ele contou em vão.

Como esse deus pode ser confiável? Se aquilo que ele queria fazer tem falhado tão repetida e catastroficamente, por que devemos depender dele para cumprir suas promessas, por mais bem-intencionado ele tenha sido ao fazê-las? Eu preferiria arriscar todas as finanças de minha família em um bilhete de loteria a confiar minha alma a um apostador com um cartel de vitórias tão pequeno.

Boyd não vê esse problema e, de fato, argumenta que a posição do teísmo relacional o deixa mais confiável do que a posição clássica. Em vez de ver Deus governando meticulosamente todos os negócios da vida por seus santos e bons propósitos, Boyd prefere pensar no exercício da providência de Deus como uma espécie de RPG, no qual o autor cria um grande número de enredos que o leitor pode progressivamente selecionar conforme o desenvolvimento da aventura no decorrer do livro. De forma semelhante, "o Deus do possível é o autor de toda a espinha central da história da criação e oferece alternativas possíveis às suas criaturas humanas e angélicas", deixando, dessa forma, "vários lugares para que os indivíduos exerçam sua vontade livre".

Um Deus que conhece exaustivamente o futuro ou que o ordena não é digno de confiança, diz Boyd, porque aquela coisa ruim que ele sabe que acontecerá a você dentro de dois dias infalivelmente acontecerá, não importa o que você faça ou deixe de fazer. Ele reclama:
Como a crença nesse "Deus fiel" o ajudará? Por que você realmente está confiando em Deus? Por simplesmente saber desde toda a eternidade que um terrível evento vai acontecer a você daqui a dois dias? Que segurança há nisso? Como essa crença pode ajudá-lo?

É muito melhor, pondera Boyd, ter um deus que conhece esse evento não como algo inevitável, mas simplesmente como uma de muitas possibilidades que podem sobre vir a você daqui a dois dias. Nesse caso, Deus trabalha para encorajá-lo a criar um futuro que evite essa possibilidade má - especialmente "se você for uma pessoa que freqüentemente fala com Deus e o ouve" e "tem família e amigos que oram por você com uma base consistente". Nesses casos, você pode confiar em Deus "para evitar certas possibilidades futuras que ele vê que estão se aproximando".

Logicamente, o que Boyd falha em discutir é o motivo pelo qual alguém desejaria confiar nos cuidados de um deus cujas melhores intenções são frustradas repetidamente no decorrer da história. Além disso, um episódio extraído de sua própria experiência pastoral protesta contra essa teoria. Ele conta a história de "Suzana", uma jovem mulher que "cresceu em um maravilhoso lar cristão", que era uma "discípula piedosa e fervorosa de Jesus Cristo" desde a sua mocidade e há muito tempo tinha o desejo de ser missionária em Taiwan. Ela orava diariamente para que seu futuro marido, que deveria compartilhar desse desejo de fazer missão em Taiwan, "permanecesse fiel ao Senhor e conservasse puro o coração". Ela encontrou e namorou um homem assim por mais de três anos, enquanto estava na faculdade. Depois de meses de oração, encontros e conversas com seus pais, pastor e amigos, todos concordaram que "seu casamento era da vontade de Deus". A própria Suzana recebeu uma confirmação especial disso enquanto orava certo dia.

Pouco tempo depois do casamento, enquanto estava em uma escola de missionários, o marido de Suzana começou a adotar um padrão de adultério e abuso, e recusava-se a ser ajudado ou a arrepender-se. Quando ele pediu divórcio, ela estava grávida, "irada", "emocionalmente destruída e espiritualmente arrasada". Para ajudá-la a lidar com a devastação de sua provação, Boyd lhe ofereceu "um caminho alternativo para compreender a situação". Ele escreve: "Eu sugeri a ela que Deus estava tão arrependido pela confirmação que tinha dado a ela quanto pela decisão de fazer Saul rei de Israel (ISm 15.11, 35; veja também Gn 6.5, 6)". Mas por que Deus não trabalhou em Suzana para encorajá-la a criar um futuro que evitasse essa possibilidade? Certamente ela se encaixa no perfil apresentado por Boyd do tipo de pessoa que pode confiar no deus do teísmo relacional para fazer exatamente isso.

Como nós podemos confiar em Deus para "inspirar" seus filhos a tomarem certas decisões, quando ele mesmo é tão falível quanto nós porque não tem conhecimento exaustivo do futuro? É difícil ver como o teísmo relacionai não reduz Deus ao nível de um "homem do tempo" dos flashes de meteorologia dos jornais - alguém que, por ser um especialista em sua área, tem acesso a informações que não estão disponíveis a outras pessoas e que, por isso, está em melhor posição que os demais para fazer suposições sobre o futuro. Permanece a questão: por que nós deveríamos confiar nesse Deus?

Uma coisa é basear nosso picnic nas previsões do tempo. Se uma chuva inesperada arruinar o seu dia, você pode ficar desapontado e até mesmo frustrado com o meteorologista e com suas previsões, mas você reconhece que ele está apenas fazendo suposições sobre padrões meteorológicos. Você não espera que ele seja infalível. Contudo, nós temos expectativas muito mais elevadas em relação a Deus. Se ele nos inspira a ações das quais ele posteriormente se arrepende, então, em última instância, ele não é confiável.

A visão clássica de Deus nunca nos levará a essa conclusão. Se, ao contrário do que diz o teísmo relacional, Deus conhece o fim desde o começo (Is 46.10) e pensa e age por caminhos que são muito mais elevados que os nossos caminhos (Is 55.8,9), então nós podemos confiar nele para fazer todas as coisas - inclusive as coisas inexplicavelmente más - para o nosso bem (Rm 8.28). Remova o controle soberano de Deus sobre a vida e seu completo conhecimento do futuro e o próprio fundamento para confiar nele começa a ruir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário