sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sola Fide: Nosso Único Recurso


Por Michael Horton

Os reformadores disseram que não é o suficiente dizer que somos salvos somente pela graça, mesmo porque muitos estudiosos medievais tinham essa opinião, incluindo o mentor do próprio Lutero. Roma via a graça mais como uma substância do que como uma atitude de favor por parte de Deus. Em outras palavras, a graça era como água derramada na alma. Ela ajudava crente em seu crescimento para a salvação. O propósito da graça era transformar um pecador em um santo, uma má pessoa em uma boa pessoa, um rebelde em um filho ou filha obediente.

Os reformadores procuraram nas Escrituras e perceberam a falta de um ingrediente na noção medieval da graça. Havia, sem dúvida alguma, muitas passagens que falavam da graça nos transformando e nos conformando à imagem de Cristo. Mas havia outras passagens, também, que usavam uma palavra grega que significa "declarar justo", não "tornar justo". O problema era que a Bíblia em latim, que todos usavam, traduzia o primeiro significado de forma incorreta, combinando as duas palavras em grego em uma única. Erasmo e outros humanistas da Renascença "puseram o ovo que Lutero chocou" ao removerem os erros de tradução.


Segundo as Escrituras, Deus declara uma pessoa justa antes que essa pessoa realmente comece a se tornar justa. Portanto, a declaração não ocorre em resposta a qualquer avanço espiritual ou moral dentro do indivíduo, mas é uma imputação da justiça perfeita que Deus exige de imediato de todos aqueles que estão unidos a Cristo pela fé somente. Quando uma pessoa confia em Cristo, naquele momento ele ou ela é coberto por Sua santidade perfeita, de modo que, mesmo o crente ainda sendo pecador, ele ou ela é julgado por Deus como irrepreensível.

Esta doutrina apostólica, proclamada a Abraão e à sua prole, tem, mais uma vez, enfrentado tempos difíceis na história da igreja. A maioria dos cristãos de hoje não apenas não ouvem sobre a doutrina da justificação somente pela graça, através da fé somente, mas muitos não podem nem mesmo explicá-la. Embora a justificação seja a doutrina pela qual, de acordo com os reformadores evangélicos "a igreja permanece de pé ou cai", mesmo assim tem sido desafiada. Finney declarou abertamente: "A doutrina de uma justiça imputada é um outro evangelho. Pois é impossível e absurdo que os pecadores sejam judicialmente pronunciados justos. A doutrina de uma justiça imputada é fundada sobre uma suposição falsa e sem sentido, onde a expiação, ao invés da obediência do próprio pecador, representa a base de sua justificação, o que tem sido uma triste razão de tropeço para muitos."

Em nossa própria época, Clark Pinnock pergunta por que nós não podemos mesmo abraçar a noção do purgatório:

“Não posso negar que a maioria dos crentes termina sua vida terrena imperfeitamente santificada e longe de ser completa. [A maioria? Que tal todos!] Não posso negar a sabedoria na possibilidade de se concluir o que falta e alcançar a maturidade após a morte. Obviamente, os evangélicos não pensaram muito bem sobre isso. [Nós pensamos: E isso se chama Reforma.] Me parece que já temos a possibilidade de uma doutrina do purgatório. Nosso pensamento Wesleyano e Arminiano precisa ser estendido neste sentido. Não é a doutrina do purgatório exigida por nossa doutrina da santidade?”

Russell Spittler, teólogo pentecostal no Fuller Seminary, reflete sobre frase de Lutero sobre a justificação: simul iustus et peccator, (simultaneamente justo e pecador): "Mas pode isto realmente ser verdade – justo e pecador simultaneamente? Eu gostaria que fosse assim. Seria isto correto: ‘Eu não preciso trabalhar para ser. Eu já fui declarado justo’. Sem nenhum suor? Isto me parece errado. Ouço exigências morais nas Escrituras. Simul iustus et peccator? Espero que isto seja verdade! Eu simplesmente temo que não seja.”

A ênfase wesleyana sempre foi um desafio à fé evangélica neste ponto, e mesmo em seus melhores momentos Wesley insistiu neste foco do Evangelho. Na medida em que os construtores de consenso institucional e abades dos mosteiros evangélicos tentaram incorporar o Arminianismo sob o rótulo de "evangélico", nessa mesma medida, me parece, ele deixa de ser evangélico de fato.

Michael Horton
Reformation Essentials - Five Pillars of the Reformation


Um comentário:

  1. Olá gente minha,

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